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[Saint Seiya ] A Primeira Visita ao Templo, escrita por Anita

Capítulos: único
Autora: Anita
Fandom: Saint Seiya
Classificação: livre
Gêneros: drama.
Status: completa
Resumo: Ikki de Fênix, Shun de Andrômeda, Saori Kido. Ikki pede a Shun para acompanhá-lo na visita de ano novo ao templo, onde pretende dissuadi-lo de ir a uma missão arriscada.

Notas: Iniciais:
História escrita para a Semana Ikki de Fênix, um desafio promovido pela comunidade Saint Seiya Super Fics Journal.


Olho Azul Apresenta:
A Primeira Visita ao Templo


  Ikki desligou o telefone após encerrar a ligação e foi tomar um banho. Aquele seria um dia importante e precisava dar o melhor de si em sua empreitada de convencer o irmão.

  Quando enfim estava pronto, caminhou até a entrada do condomínio onde morava. Lá se encontrou com uma mulher chamada Oda. Ela morava no mesmo lugar e sempre usava um vestido branco, prendendo os cabelos negros em um coque. A verdade era que Ikki devia fazer sucesso entre as mulheres do condomínio, pois todas sempre pareciam esperá-lo em algum lugar para falar com ele.

  Após uma rápida conversa com ela, o rapaz se despediu e partiu em direção ao templo próximo.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

- Shun! – Ikki ergueu a mão para seu irmão.

  Seu irmão continuava com a mesma aparência de sempre, pensou com um sorriso de satisfação enquanto ele se aproximava por entre as pessoas que já se encontravam no templo. Era o primeiro dia de ano e todos da região pareciam reunidos para fazer o tradicional hatsumode. Neste ano, mais que nunca, Ikki queria estar com o irmão quando pedisse por ele.

- Hoje você não veio com a June? – perguntou para o irmão, que apenas balançou a cabeça em resposta, com alguma reticência.

  Os dois seguiram até o chozuya, para começarem a se purificar antes de tudo, lavando suas mãos. Shun lhe sorriu quando terminou e deixou a pequena caneca de volta onde encontrara. Então, Ikki apontou para a passagem que os levaria até a antessala onde fariam seus pedidos de ano novo.  

  Após jogarem as moedas no altar, os dois tocaram o sino, baixaram as cabeças bem fundo duas vezes, bateram as palmas também duas vezes e juntaram as mãos para fazer suas orações. Enquanto o fazia, Ikki pensou na presença do irmão a seu lado com algum conforto e, em suas preces, pediu por sua segurança acima de tudo. Ao terminar, baixou a cabeça mais uma vez e aguardou por Shun, observando-o com nostalgia até que terminasse ele próprio.

- Você sabe que não gosto deste tumulto dos templos, né? – disse, enquanto desciam até a parte principal do lugar.

  Shun assentiu sem demonstrar especial atenção naquela conversa.

- Apenas te chamei hoje, pois queria pedir que os deuses o protegessem e o ajudassem a tomar a decisão certa. Shun, você sabe que não precisa ir.

  O mais novo baixou a cabeça em resposta, era como se soubesse que fazia algo errado, mas não pudesse fazer nada para evitar.

- Essa missão que você se arrumou... sabe a opinião de todos. Não convém a nós, cavaleiros de Athena, nos envolvermos em assuntos políticos. Você pode acreditar que há um deus por trás de toda essa guerra sei lá onde, mas não há provas. Por que não aguarda até os espiões da Saori saberem mais? Até mais pessoas poderem acompanhá-lo? – Ao perceber que o irmão permanecia em silêncio, Ikki prosseguiu: - Pessoas morrem em guerra, eu sei que é urgente, mas e se for mesmo um deus? O que você fará sozinho? Sabe que sempre o protegerei, mas... eu sinto que desta vez... Shun, apenas não vá.

  Ikki falava a verdade. Era uma sensação estranha, como se Shun estivesse caminhando para a própria morte. Era tal como se ele sequer ainda estivesse ali do seu lado.

  De repente, teve a sensação de uma imagem acontecer bem na sua frente. Uma mulher loira chorava copiosamente e caía de joelhos no chão, abraçando o próprio estômago.

  Aquela visão apenas cooperava para seu mau pressentimento.

- Shun...

  Ao notar a expressão constrita do jovem, Ikki decidiu mudar o assunto. Havia falhado em seu objetivo principal; ao menos poderia aproveitar o dia com aquele que mais amava antes de sua partida.

  E foi fácil escolher um tópico para melhorar o clima entre os irmãos: bastava ignorar algo que notara desde que avistara Shun. Olhando para um grupo de pessoas, ele estendeu o dedo indicador para alguém que tentava se ocultar ali.

  Um pouco surpreso, Shun olhou para a moça que surgia dali e se aproximava com embaraço.

- Não é incrível como eu sempre sei onde você está? – proclamou Ikki para a mesma. – Não seria melhor declarar seus sentimentos por mim em vez de invadir a nossa reunião familiar, Saori?

  Agora, o rapaz mais novo também parecia sem jeito.

- Que tal compensar os danos, - continuou Ikki, - proibindo Shun de ir?

  Saori baixou a cabeça sem esconder a tristeza do olhar e respondeu:

- Bem que eu gostaria de fazê-lo, mas já é tarde demais.
- Vamos comer takoyaki daquela barraca? – Shun apontou na direção do que falava.

  Ikki assentiu e levou a mão para o bolso. Bem quando percebia não estar com sua carteira – por alguma razão, só havia trazido consigo o dinheiro da oferenda –, Saori se ofereceu pagar, entregando uma nota de mil ienes para o mais novo comprar duas embalagens.

  O casal caminhou até um canto do festival enquanto aguardava e se sentou em um dos banquinhos de madeira. As pessoas continuavam a chegar para a tradicional visita ao templo e o burburinho que causavam preencheu o silêncio entre os dois por um tempo.

- Com está, Ikki? – de repente, Saori perguntou. - Digo, no lugar onde está morando. Eles te tratam bem lá?
- Tá tudo bem. A verdade é que em tratam bem demais, sempre aparecem lá em casa pra perguntar se preciso de ajuda. Apenas sinto falta do meu irmão, gostaria que pudéssemos morar juntos de novo. – Baixou os olhos e, não se importando se ela ainda podia ouvi-lo, prosseguiu em tom mais baixo: - Hoje, quando o vi, parecia fazer uma vida inteira.

  Nesse momento, notou que Shun havia retornado com duas embalagens plásticas cheias de bolinhas de polvo molhadas no molho escuro e com pequenos flocos enfeitando. Os três passaram a comer em silêncio, por que Ikki agradeceu.

  Parecia impossível convencer o irmão a não ir, por isso, queria aproveitar ao máximo aquele último momento com ele. Sabia não estar agindo dentro de seu natural. Sentia que normalmente apenas deixaria que o outro fizesse o que queria, que sempre estaria a seu lado para protegê-lo do pior. Contudo, o mau pressentimento permanecia dentro de Ikki e, quanto mais tempo passava com o caçula, maior era a sensação de que Shun poderia desaparecer a qualquer momento. Pensar assim, travou sua garganta. Então, enfim, decidiu interromper o silêncio.

- Como está o takoyaki? – perguntou, olhando com carinho para o irmão.
- Está ótimo! – este respondeu, comendo com vontade tal qual uma criança.

  Ikki sorriu satisfeito e disse:

- Então agradeça à senhorita Saori. – Quando ele o fez, Ikki prosseguiu: - Queria que tivéssemos tempo de te levar a um lugar, Shun. Eles fazem os melhores takoyakis, você ia adorar.
- Oh, parece bom! – Shun lhe exibiu um sorriso aberto, levantando-se entusiasmado. – Queria poder conhecer. O senhor fala de lá todo ano.

  Foi quando Ikki franziu a testa. Logo, Shun pareceu perceber o que dissera e tampou a própria boca rapidamente. Mas, assim como uma vida não podia ser trazida de volta, as palavras também não podiam ser retiradas uma vez ditas.

  Enfim, Ikki notava que o garoto assustado à sua frente, com quem passara toda a manhã, não era seu irmão, mas uma criança de aproximadamente onze anos e de cabelo bem loiro.

  Nesse momento, Saori ocupou seu campo de visão e, rapidamente, o embalou em um abraço forte, reconfortante. Custou-lhe a entender por que ele se sentia confortado.

- Shun... – balbuciou com o rosto apertado contra o ombro da mulher. – Onde está o Shun? – Agora o dizia de forma mais agressiva, mas sem romper o abraço.
- Eu sinto muito. – Saori baixou o rosto ao topo de sua cabeça, acariciando seus cabelos como se pudesse acalmá-lo assim.
- E quem é ele!?

  Ikki se afastou e apontou para a criança loira, que os olhava com os olhos vermelhos, esbugalhados.

- Desculpa, senhorita Saori, - dizia o menino.
- Não se preocupe, Shunta. Pode ir até o carro e buscar o Tatsumi pra mim? Você se lembra de onde estacionamos, né?

  O garoto assentiu e se preparou para correr, mas Ikki o agarrou antes que desse o primeiro impulso. Shunta olhou ainda mais assustado para ele e então para a deusa.

- Disse que ele se chama... Shunta? – A voz de Ikki saía embargada e seus olhos pareciam pesados, irritados.

  Ao se ouvir pronunciar esse nome, o cavaleiro voltou a ter a visão de mais cedo.

  A mulher loira, - sua cunhada June, agora que reconhecia - caía de joelhos no chão, enquanto chorava e abraçava o próprio estômago. Ela mal parecia a mesma amazona de que ele se lembrava.

  Desta vez, também podia ouvir o que ela lamuriava: “O que farei com ele? O que faço este bebê?” E apertava mais ainda a própria barriga. Ikki notou que não falava isso para ele, mas para um caixão cheio de flores brancas. “Leve-o com você, Shun! Tome-o de mim! Shunta... ele não ficará bem comigo. Como eu posso cuidar sozinha de uma criança?

  Ikki lembrou-se de que se levantara nesse momento e caminhara até a moça para lhe desferir um soco no rosto. Mesmo não tendo forças diante do próprio luto, fizera a mulher cair de costas no chão. Contudo, June apenas olhara de onde havia sido arremessada, não havia mais a histeria de antes ou qualquer emoção em seu rosto. Nem surpresa, nem arrependimento. “Você fique com ele, então,” disse-lhe. “Nós já até demos um nome, mas faça o que quiser quando ele nascer.”

- Tio...?

  Os olhos do cavaleiro se refocaram no presente quando a voz do garoto loiro ecoou em seus ouvidos.

- Você que é o Shunta... – murmurou, ainda sem controlar as próprias emoções. Hoje entendia o que era o olhar que June lhe lançara naquele dia. Tal qual a reunião das cores formava o branco, a mistura de emoções formara a inexpressividade que ele também devia estar exibindo.

  O garoto assentiu:

- Minha mãe diz que foi você quem a ajudou. Que ela conseguiu me ter graças a você quando meu pai... O senhor se lembra agora? O senhor se lembra... sobre meu pai?

  Não importava o quanto olhasse para Saori para evitar a resposta à indagação. Nem mesmo a deusa conseguiria consertar tudo. Não se podia trazer uma vida de volta.

- Eu sinto muito, Shunta, - balbuciou Ikki, levando sua mão à cabeça.

  Era muita informação voltando agora que a névoa se levantava de sua mente. A forma como ele deixara Shun ir àquela missão, a forma como o vira perder a vida em seus braços quando o resgatara tarde demais com apoio de menos... Como ligara para ele naquela manhã e nunca percebera que falara com o sobrinho no lugar. Como vinha ligando ano após ano na mesma data.

- Eu gosto de sair com o senhor e ouvir sobre como meu pai era. Minha mãe mal fala dele... – O garoto segurou em seu braço. - Eu... quero continuar a ver o senhor, tio!
- Shunta, outro dia voltamos para vermos nossa sorte. – Saori segurou o ombro do menino e o puxou suavemente para longe. - Vamos para o carro. É melhor levar seu tio de volta ao hospital; lá as enfermeiras o medicarão para acalmá-lo.

  Era verdade, ele não morava em um condomínio... Ikki assentiu, sem poder contestar aquele tom resignado que lhe era dirigido.

  Já no carro, a deusa ofereceu-lhe o ombro. Não obstante a dor que sentia na cabeça, ele recusou.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Ao chegarem ao hospital, Shunta fora pedido para voltar para casa com Tatsumi, mas concordara com alguma resistência. Na entrada, A enfermeira Oda os recebeu já alertada por telefone sobre a recaída que Ikki havia sofrido. Apesar da situação, ela apenas perguntou como fora tudo no templo naquele ano.

  Quando chegaram ao quarto, ela lhe entregou um copo plástico com comprimidos coloridos e o deixou a sós com Saori. Ikki olhou para as cores dentro do copo e sacudiu-o levemente, tentando ignorar o tremor involuntário de sua mão.

- O que acontece depois que os tomo?
- Você... – Saori mordeu o lábio inferior. – Você só fica dormindo ou um pouco alheio. Não se preocupe, sempre estamos aqui para te visitar, o Shunta também. Agora tome logo os remédios antes que tenha algum problema, Ikki. Já está ficando muito pálido.

  Ele decidiu não pensar em como não tinha qualquer lembrança de dias diferentes do primeiro do ano.

- Se eu sempre fico assim, por que hoje foi diferente? Todo ano novo, eu...

  Saori continuou por ele:

- Todo ano, você liga para a casa da June e convida Shun para fazerem juntos a primeira visita ao templo. No início, ela até ia te encontrar e inventava alguma desculpa sobre Shun não poder ir, aí vocês conversam sobre o que fazer para impedi-lo de viajar. June se sente em débito contigo até hoje, sobre como você insistiu que ela tivesse o filho e se responsabilizasse por ele, mas é bem difícil para ela encarar todo ano esse momento.
- Eu sempre...
- Você sempre parece buscar teorias de como poderia ter feito diferente no passado. Sobre o Shunta, uma vez foi ele quem atendeu e você o assustou um pouco, mas ele acabou insistindo em ir. Eu me ofereci para acompanhá-lo.
- Por quê? Não creio que as contas deste lugar sejam de graça; já fez mais que devia, Saori. E foi Shun quem arrumou aquela missão que o matou, você ficou contra, não foi?

  Ela assentiu.

- Não é por culpa, é só que... é a única vez no ano em que posso realmente vê-lo novamente. E às vezes conversamos bastante. Quando Shunta era pequeno, ele nos arrastava para uns lugares divertidos também. Claro que com o tempo você percebia que Shun não podia ser um menino todo sujo. – Ela riu por um momento, até parar como que cansada demais para isso. Então, pareceu fixar o olhar nas mãos de Ikki.

  Ele tentou esconder ao menos a que tremia mais. Todavia, Saori caminhou até a cama e pegou o copo plástico, levando-o agora até a boca do cavaleiro. Mesmo temeroso de quando ficaria lúcido mais uma vez, Ikki aceitou tomar os remédios. Ele estava cansado, sua cabeça doía e a vista parecia turva. Precisava dormir e não conseguiria de outra forma.

  Quando terminou de engolir um segundo copo com água, sentiu o toque quente dos lábios de Saori contra os seus. Uma lágrima dela caiu em sua bochecha. E a moça se afastou, sem deixar transparecer qualquer embaraço.

  Ikki abriu a boca algumas vezes até conseguir emitir algum som.

- E-eu sinto m-muito... – tartamudeou, tentando mantê-la em seu campo de visão. O que era difícil em razão da fatiga que o tomava.
- Não, Ikki. – Ela beijou sua bochecha. – Eu é que agradeço por mais este dia num passado em que eu ainda tinha comigo meus dois queridos cavaleiros. – E beijou sua testa antes de se afastar. Então, mostrou-lhe a palma da mão e a balançou levemente. – Acho que até ano que vem, né? Mas eu te vejo antes disso, prometo. Virei todas as vezes que eu puder. Sempre. – E sorriu fraco.

  Ikki não percebeu se ela havia saído ou se ele estava apenas sonhando com o som da porta abrir e fechar. Sua vista havia escurecido por completo, seu corpo ficara dormente.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Shunta acordou cedo naquela manhã, apesar de haver ficado até tarde assistindo os programas musicais de fim de ano na televisão. Enfim, seu telefone estava tocando. Ele correu até o aparelho e o atendeu sem conter a animação na voz. Sabia que era seu tio, todo ano ele ligava mais ou menos àquela hora.

- Feliz ano novo, Shun, - disse do outro lado da linha.
- Obrigado, - respondeu Shunta sem hesitação, como aprendera a fazer.
- Será que podemos nos encontrar no templo perto aqui de casa? Sei que está ocupado arrumando suas coisas para a viagem, mas eu queria me despedir. Não se atrase ou o templo vai estar entupido de gente...

FIM!

Anita, 26/12/2012

Notas da Autora:

Primeiramente, tenho que agradecer à Elly van Houten por ter me inspirado. A ideia saiu assim mesmo, de uma conversa boba sobre como eu queria fazer uma fic em que Ikki se encontrasse num templo para o hatsumode e fazer um anúncio para o Shun. Enquanto nós simulávamos anúncios “importantes”, a ideia para esta história piscou na minha mente.

Decidi nesta história usar os nomes padrões para as coisas em japonês mesmo. Ultimamente andei numa onde de tradução, mas por mais que chamasse takoyaki de bolinho de polvo, eu não conseguia ver um takoyaki quando escrevia isso e sim um bolinho de bacalhau, rs. Aliás, takoyaki é muito bom, se algum dia puderem, experimentem! E cuidado pra não queimar a língua, literalmente. Se já comeram, comam mais! Preciso parar de pôr takoyaki nas minhas fics, né?

Hatsumode é essa primeira visita do ano ao templo, onde eles fazem os desejos de ano novo. Há quem visite um templo budista e um xintoísta até, mas pelo que observo o japonês normal só vai a um e o xintoísta é o mais legal, rs.

O Shunta é um personagem original que eu já tinha usado antes em mais duas fics que têm a mesma história de fundo, mas elas não se relacionam. Eu só achei que se encaixaria legal e não tive trabalho de criar outro personagem, dar nome. *psicótica*

Agora ao que interessa, o que acharam??? Esta fic encerrou meu desafio das semanas e quinzenas temáticas e fico feliz que não tenha sido uma história só por fazer em se tratando de meu personagem favorito. Não deixem de comentar!

Até a próxima! :D

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