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[Saint Seiya] Prisão das Asas - Parte 17, escrita por Nemui

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Autora: Nemui
Fandom: Saint Seiya
Gênero: drama, aventura
Classificação: 16 anos
Status: Completa
Resumo: A vida de Hyoga se transforma quando entra em contato com um mundo completamente diferente do seu.


“Acorde, amigo.”

Abrindo os olhos, Hyoga quase saltou para o lado quando viu o seu clone, sorrindo.

“Você, o impostor!”

“Espere, não faça barulho. Eu vim aqui para fazer uma proposta.”

“Mas do que está falando?”

“Falo do senhor Prometeu. Você me conhece, cavaleiro. Sou eu, o prisioneiro que queria fugir. Prometeu me soltou! Ele deu-me liberdade e poder em troca desses serviços que faço para ele. Ele é o caminho para a sua liberdade! Não precisará mais ser escravo daquele homofalco imbecil. Não deseja isso?”

Enojado, Hyoga virou-se para o lado, pensando em voltar a dormir.

“É verdade que quero a minha liberdade. Mas não tenho a menor intenção de negociar com um deus como Prometeu. Suma da minha frente.”

Rindo, o falso Hyoga queimou o cosmos.

“Infelizmente não é possível. Só há lugar para um Hyoga neste mundo, amigo.”

Percebendo que sua vida terminaria ali, Hyoga fechou os olhos com força, esperando pelo ataque. No entanto, ouviu uma voz aliada no lugar.

“Você não vai matá-lo!”

Surpreso, sentou-se para ver Shun de pé, queimando o cosmos.

“Shun?”

“Eu sabia que não podia ser você, Hyoga. Eu darei um jeito nisso.”

“Você é que pensa, seu cavaleiro miserável!”

Invocando uma poderosa tempestade, Shun atacou-o, atraindo a atenção dos homofalcos, que logo vieram. Shun sorriu e dirigiu-se até Hyoga após matar o impostor.

“Você está bem, Hyoga? Vou soltá-lo daí.”

“Espere”, interrompeu Evan. “Ele é o meu escravo e está no meio de um castigo. Você não pode interromper, Andrômeda. Além do mais, você entrou no território proibido de Athena. Por ser um humano, devemos prendê-lo como prisioneiro.”

Myles, que não possuía qualquer desavença com o cavaleiro de Andrômeda, não ignorou suas obrigações como líder.

“Ele tem razão, Andrômeda. Preciso prendê-lo pela segurança dos homofalcos.”

Calmamente, Shun tirou um envelope do bolso, contendo uma carta de Athena.

“Estão enganados. Tenho a permissão da deusa para entrar e sair desta cidade quando julgar necessário. Nela, Athena reconhece meu caráter e afirma que minha presença não trará qualquer prejuízo aos homofalcos. Se quiserem reclamar de mim, façam ao Santuário, que eles julgarão se minha conduta é correta ou não.”

Myles pegou a carta e leu, verificando a legitimidade do selo de Athena. Charis, atraída com o cosmos, chegou correndo e foi até Shun, sorrindo.

“Shun! Você veio!”

“Olá, Charis.”

“Mas o que significa isto?”, perguntou Evan, irritado. “Athena jurou que obedeceria às leis homofalcas!”

Shun dirigiu-se até Hyoga e soltou-lhe as amarras. Em seguida fitou os homofalcos, resoluto.

“Deveriam consultar seus arquivos com mais cuidado. Athena jurou que obedeceria às leis homofalcas, enquanto vocês respeitassem a luz sagrada do cristal. Agora que o cristal foi quebrado, a proteção desta cidade fica ao encargo de cavaleiros de Athena. Com esta ordem e com o auxílio de Hyoga, vocês combaterão as forças de Prometeu.”

O vozerio de revolta dos homofalcos fez com que Myles elevasse sua voz, impondo sua autoridade de líder.

“Já chega, todos! Voltem para as suas casas! Eu vou cuidar disso como líder. Evan, Shun, Hyoga, venham para a minha casa. Você também, Charis, já que é filha de Ájax. Quanto ao resto, queimem esse impostor miserável!”

Ainda sem acreditar na presença do amigo, Hyoga recebeu a ajuda. Shun colocou-o nas costas, sorrindo.

“Shun… Mas o que está acontecendo…?”

“Relaxe, Hyoga. Deixe o resto comigo. Saori não agüenta mais ter um de seus cavaleiros como escravo, está disposta a intervir na cidade dos homofalcos para ajudá-lo.”

“Mas eu não quero isso.”

“Por que não?”

“Fui eu que causei minha própria desgraça. Não posso arrastar você e os outros nessa confusão, Shun. Não posso prejudicar ninguém com meus erros.”

“Nós somos amigos. Não seja egoísta, Hyoga.”

Seguindo Myles, Shun carregou Hyoga até a casa e lá o colocou no sofá, deixando o cobertor sobre ele. Evan sentou-se à mesa, assim como Myles e Charis. Shun permaneceu de pé, ao lado do amigo. Myles estava visivelmente irritado, mas procurava ser educado com o cavaleiro.

“Muito bem, precisamos ouvir sua história desde o começo, cavaleiro de Andrômeda. Conte-nos tudo que sabe.”

“Antes de tudo, estou preocupado com o bem-estar do Hyoga. Ele poderia morrer naquele estado, preso a uma árvore no meio da noite. Sem o cosmos, fica completamente indefeso e vulnerável à morte. Se Hyoga morrer por culpa dos homofalcos, garanto que nós, os cavaleiros de Athena, tomaremos sua atitude como uma ofensiva e não hesitaremos a atacá-los de volta.”

“Eu concordo com o que disse”, respondeu Myles. “Evan, você foi longe demais desta vez. Hyoga poderia ter morrido.”

“Que ele morra”, respondeu. “Eu quero que todos os humanos morram. Hyoga, você, cavaleiro… Todos. Eu não tenho medo de dizer isso na sua frente.”

“Você pode querer, mas qualquer atitude do tipo será vista como uma ofensa à nossa deusa, já que Hyoga é um cavaleiro consagrado no Santuário. E se você matá-lo… Eu mesmo virei para vingá-lo, Evan. Hyoga é um valioso companheiro de batalhas para mim, além de amigo. Se insistir em torturá-lo dessa forma… Terei de responder à altura.”

“É o meu direito. Hyoga aceita ser o meu escravo, de acordo com o resultado da batalha que tivemos. Você deve respeitar as leis homofalcas enquanto estiver aqui, garoto.”

“Então lutaremos, você e eu. Se eu perder, deixarei que me tome como escravo também. Mas se eu vencer, terá de libertar o Hyoga.”

“Não sou idiota”, respondeu Evan. “É claro que não posso vencê-lo, já que você é um dos cavaleiros mais poderosos do Santuário. Prefiro manter o traste desse jeito.”

“Seu covarde, deveria agir com justiça!”

“Eu sou um homofalco justo às leis. Às leis homofalcas!! Você não pode me dizer o que fazer, Andrômeda!”

“Espere”, interveio Myles. “Não estamos aqui para discutir a alforria do Hyoga. Cavaleiro de Athena, explique o que aconteceu para você vir parar aqui.”

Diferente de sua personalidade tão gentil, Shun não estava com humor para ceder favores aos homofalcos. A imagem de Hyoga ferido e maltratado subira-lhe à cabeça, e agora ele não pensava em outra coisa a não ser livrar do sofrimento o amigo.

“Não, eu recuso. Considero o tratamento a Hyoga uma ofensa absurda à honra dos cavaleiros de Athena. Não vou dizer quais são minhas intenções enquanto Hyoga não tiver um tratamento mais justo. Eu exijo a alforria dele.”

“Não posso dar”, retrucou Evan. “Ele é meu escravo de direito. Você nem tinha o direito de desamarrá-lo da árvore!”

“Vamos fazer um acordo, então”, interpôs Myles, desesperado para terminar com aquela discussão e iniciar a conversa de verdade. “Vou limitar o castigo diário que Hyoga poderá receber para dez chicotadas. Evan deverá respeitá-lo e permitir que ele descanse à noite em sua própria residência. Em compensação, quero a colaboração do cavaleiro de Andrômeda.”

“Eu ainda prefiro que ele seja alforriado.”

“Eu estou de acordo”, respondeu Evan, emburrado. “Dez são o suficiente para mim.”

“Eu também”, respondeu Hyoga.

Olhando para o amigo, Shun imaginou se Hyoga não estaria apoiando mais a Evan do que a ele. Hyoga sorriu-lhe.

“Isso já diminuiria bem os castigos, Shun.”

“Se isso é pouco, nem quero imaginar como é normalmente, Hyoga. Ainda acho que deveríamos pressionar mais.”

“Menos que isso eu não aceito”, acrescentou Evan. “Se você recusar, Andrômeda, não entraremos num acordo.”

Sem alternativa, Shun assentiu com a cabeça.

“Está bem, aceitos essas condições.”

Aliviado por ver que finalmente entraram num acordo, Myles suspirou.

“Bem, agora você pode contar-nos?”

“Sim. Como você informou Athena por correspondência, ficamos sabendo sobre o ataque que reduziu a população homofalca pela metade. Infelizmente, Prometeu decidiu atacar enquanto Hyoga estava em missão. Além disso, eu também tenho contato com Charis.”

“Charis?”

A atenção subitamente voltou-se à garota, que se encolheu na cadeira.

“Não se preocupem, não é pelo Arsen. Hyoga tem treinado o cosmos dela intensamente, tornando-a muito habilidosa. Como Charis está recebendo um treino semelhante ao dos cavaleiros, já tem capacidade para comunicar-se através do cosmos. Isso só aconteceu recentemente, nos últimos dias, quando Hyoga decidiu treinar o cosmos dela de forma mais agressiva. Por essa razão, com a ajuda do meu próprio cosmos, consigo comunicar-me com ela em tempo real.”

Surpreso, Hyoga fitou Charis, que ficou ainda mais vermelha. Shun sorriu e aproximou-se da garota.

“Por causa de Charis, soube do ataque de Éolo e do clone do Hyoga durante a festividade esportiva dos homofalcos. Resolvi investigar por conta própria, mas precisaria de autorização da deusa. Mas eu soube também que o cristal tinha sido destruído. Sendo assim, Athena não fica mais presa à lei homofalca, pois vocês não têm como controlar a entrada e a saída de humanos. Tal responsabilidade Athena tem o direito de assumir. Com isso, não foi difícil conseguir esta permissão. Além dela, também tenho isto.”

Tirando outro envelope do bolso, Shun entregou-o a Myles, que o leu. Em seguida, fitou o cavaleiro, incrédulo.

“Isto é…”

“É a ordem que dá liberdade a Hyoga para tomar decisões no lugar de Athena aqui, nesta cidade. A partir de agora, os poderes dele como cavaleiro de Athena serão ampliados, e ele pode até prender ou matar homofalcos se assim o desejar, independente do que o líder dos homofalcos pense.”

“Eu não posso aceitar uma coisa dessas!”

“Espere. Leia os detalhes. A liberdade de Hyoga ainda está limitada pela obediência às leis homofalcas e ao segundo julgamento de Athena. Ou seja, se Athena achar que ele tomou uma decisão errada, será punido devidamente pelo Santuário. Suas decisões, portanto, devem ser tomadas apenas em benefício de Athena e, conseqüentemente, dos homofalcos.”

“Isso não deixa de ser uma repressão da deusa! Não podemos aceitar uma coisa dessas!”

“Não é uma repressão”, respondeu Shun, calmamente. “É uma forma de controlar melhor o que se passa nesta terra. Ficamos preocupados com o ataque que acabou com metade da população e o que Hyoga deteve. Nós, cavaleiros de Athena, temos a obrigação de protegê-los contra as forças de Prometeu.”

Irritado, Evan levantou-se.

“Não fale como se fôssemos um bando de homens fracos, garoto. Homofalcos são guerreiros!”

“Guerreiros que não têm a coragem de enfrentar-me pela alforria do Hyoga.”

“Já disse que não tenho interesse em tal luta!”

“Já chega”, interrompeu Myles. “Andrômeda, Athena acaba de deixar-nos numa situação difícil. Perdemos muitas pessoas, estamos constantemente sendo ameaçados pelos servos de Prometeu. Colocar tais imposições sobre nós pode ser facilmente considerado um ato de covardia.”

“Juro em nome de Athena que não pensamos em nenhum momento subjugar os homofalcos.”

Apoiando o amigo, Hyoga complementou.

“E se Athena resolvesse subjugar os homofalcos… Eu a trairia.”

Imediatamente, os olhares voltaram-se a ele.

“Se ela agisse de forma injusta, eu seria o primeiro a levantar-me em defesa deles. Pois foi com a devida palavra dela que jurei proteção aos homofalcos. Mesmo que eu perca a vida, mesmo estando na atual situação, continuarei fiel às minhas palavras.”

Myles levantou-se e serviu-se de um copo de vinho.

“Se não continuar assim, morrerá sob a lei homofalca… Muito bem. Charis, como futura líder dos homofalcos, qual é a sua opinião?”

A garota ponderou um pouco, antes de responder.

“Depois de os guerreiros de Prometeu forem derrotados pelos cavaleiros de Athena, nós ficaremos sob o domínio direto do Santuário. Pensando em longo prazo, pode ser ruim aos homofalcos. Vendo desse ponto de vista, não posso concordar com a proposta de Shun sem a promessa de Athena retirar os poderes do mestre, digo, de Hyoga, após o conflito e cancelar a permissão de Shun para circular nas ruas homofalcas.”

“Isso não é problema”, respondeu Shun. “Afinal, nosso objetivo é unicamente destruir os seguidores de Prometeu. Não desejamos causar problemas aos habitantes locais.”

“Eu concordo com Charis”, disse Myles. “Se vocês aceitam o retorno à situação atual após a derrota de Prometeu, aceitaremos as condições propostas por Athena.”

Shun sorriu e assentiu com a cabeça.

“Eu já esperava por isso. Nós aceitamos.”

“Muito bem. E o que aconteceu agora, de noite?”

“Eu estava em casa, quando vi o clone do Hyoga, de relance. Achei estranho, pois atualmente ele não está com nenhuma missão fora da cidade dos homofalcos. Decidi segui-lo utilizando a permissão que Athena me deu e vim parar aqui. Isso é tudo o que sei.”

“E até quando pretende permanecer aqui?”

“Hyoga é o responsável por aqui. Vou ficar até certificar-me das condições que ele tem com os homofalcos. Como pude ver, são bem severas. Ficarei até julgar que ele tem um tratamento aceitável, ou seja, quero ver se a situação dele como escravo não está matando-o. Se tudo estiver certo, ficarei durante uma semana. Depois disso, voltarei para Kohotek, deixado os homofalcos com ele.”

Revoltado, Evan cruzou os braços.

“Não me agrada ter um humano cavaleiro, bisbilhotando por aí.”

“Também não me agrada ver meu amigo sendo humilhado por alguém.”

“Já chega”, interrompeu Myles. “Já brigamos demais. Vamos voltar para as nossas casas e esfriar a cabeça.”

Concordando, Shun, Hyoga e Charis voltaram para casa, onde o cavaleiro de Andrômeda se alojou. Deixando as formalidades de lado, Charis cedeu sua cama para que ele dormisse e resolveu ir dormir em sua antiga casa, que ainda não tinha sido devidamente consertada. No entanto, seu quarto estava em condições para passar a noite.

Shun ajudou Hyoga a deitar-se e depois se sentou na cama, suspirando.

“Você não me disse que a situação estava tão difícil.”

“É que Evan estava empolgado com o casamento com Aure. Foi um dos castigos mais severos que tive desde que virei escravo. Mas agora a situação vai melhorar. Obrigado, Shun.”

“Agradeça a Saori. Foi ela quem me enviou a permissão, há pouco tempo. Disse-me que, se houvesse algo, deveria intervir e ampliar seus poderes aqui.”

“Obrigado, amigo. Não tenho tido tempo para investigar os servos de Prometeu por causa de Charis e de Evan.”

“Por falar nela, está fazendo um trabalho incrível, Hyoga.”

“Ela tem talento inigualável com o cosmos, Shun. Além disso, é esforçada e tem força de vontade. Será uma guerreira e tanto no futuro. Fiquei surpreso quando disse que ela pode comunicar-se por cosmos.”

“Eu ajudo bastante, porque Charis não alcança Kohotek sozinha. Mesmo assim, é bem precoce para um discípulo. Ela poderia treinar para ser da categoria ouro, se quisesse.”

“Tem razão. Que orgulho seria. Bem, é a decisão dela. E Kohotek, como está?”

“Cheia de pessoas felizes. Agora peguei fluência em russo, consigo lidar melhor com os moradores. Lidei com alguns bandidos locais, muitos caçadores.”

“Normal, principalmente nesta época do ano.”

“E… Acho que não estarei mais sozinho nos próximos anos.”

Fitando o amigo, Hyoga perguntou, sem se levantar da cama:

“Como assim?”

“O pai de June abandonou-a ainda muito cedo, já lhe contei isso.”

“Sim.”

“Então, ela voltou à Inglaterra para reconciliar-se com ele e cuidar de sua saúde, já que estava doente. Há alguns dias, soube que ele morreu, já fazia dois meses. Como ficou sozinha, June procurou-me em casa. Queria que eu fosse para a ilha de Andrômeda para começar tudo de novo.”

“Shun, você não tem a obrigação de ficar aqui só por causa de minha mãe. Deve seguir com sua vida.”

“Eu sei, mas promessa é promessa. E posso ter uma vida muito saudável em Kohotek, isso eu lhe garanto. O fato é que June não ficou satisfeita com a minha resposta e disse que eu era o único que lhe havia restado. Afinal, todos que participaram de sua vida morreram. Ela estava disposta a esperar anos por minha decisão. Em resposta, simplesmente lhe disse: então por que não espera em Kohotek?”

“E ela aceitou.”

“Ela não respondeu, mas ficou em casa. Dormimos juntos, como se já estivéssemos casados. Quando saí, disse que esperaria. Sinto o cosmos dela daqui, esperando por mim. Não sei por que, mas… Sinto-me calmo quando estico o meu cosmos e vejo que ela ainda está lá. É uma sensação de paz que jamais tinha experimentado.”

“Paz… Fico feliz por você.”

“Estou pensando em estabilizar, achar um discípulo aqui mesmo na Sibéria, ficar com June, se ela concordar. É errado um cavaleiro agir de forma tão egoísta?”

“Você não pode chamar um sujeito mais afortunado de egoísta, Shun. Se coisas boas acontecem, você deve agarrá-las. Só lamento não poder estar quando você reformar a velha cabana, já que precisará aumentá-la. É ótimo saber que ela abrigará uma família feliz em seu interior, em vez de um cara frustrado como eu.”

“Acho que as coisas também melhorarão para você, Hyoga, eu tenho fé. Você merece.”

“Algumas pessoas, Shun, devem ser sacrificadas pelo bem dos outros. Meu perfil encaixa-se nesse tipo. Você, Shiryu e Seiya, não. Mas pessoas que já perderam todas as chances de ser felizes devem viver para o sacrifício.”

“Não diga isso. Sempre podemos recomeçar, Hyoga. Você tem uma discípula tão dedicada, um pequeno filho adotivo para cuidar. Quem sabe… você consiga redescobrir a felicidade com eles.”

Hyoga não respondeu, e Shun também não disse mais nada. Permaneceram um longo tempo acordados, imaginando o que o destino lhes reservava.

——————————————-

A presença de Shun poderia ser de grande ajuda no treinamento de Charis, já que o amigo não tinha o limite de cosmos que Hyoga. Parados de frente um ao outro no campo de treino, Shun e Charis aguardavam a autorização de Hyoga para começarem a treinar.

“Lute com tudo o que tem, Charis. Quero que tente derrotar Shun, por mais difícil que seja. Lembre-se de que a luta levará horas, não se esqueça de pensar na estratégia da luta também.”

“Entendi, mestre.”

“Podem começar.”

Charis queimou o cosmos e movimentou-se lateralmente, estudando a postura de batalha de Shun, que era diferente de seu mestre. Lutara contra ele no Santuário, mas naquela ocasião, enfrentara diversos inimigos simultaneamente, não lhe restando tempo para analisá-los separadamente.

Notando que ela assumia uma postura mais defensiva, Shun avançou e atacou, forçando-a a defender-se e a contra-atacar. Aos poucos, ele ajustava o ritmo de luta a um nível comparável ao dela, atacando com o cosmos e não dando tempo para descansos.

Como sempre, Myles acompanhava uma parte do treino, período em que Hyoga tinha direito a uma hora de cosmos livre. Quando chegou naquela manhã, no entanto, Hyoga não quis ter tal momento, já que Shun se encarregara de treinar Charis em luta. Evan, que se mostrara desconfiado de Shun desde o primeiro momento, também surgiu no campo para ver, surpreendendo todos.

Por estarem concentrados na luta, Charis e Shun pouco se importaram com a presença de Evan, que pela primeira vez assistia ao treino de perto. Permaneceu calado de início, mas Myles insistiu em iniciar um diálogo, sorridente.

“O que me diz, Evan? Ainda acha que Hyoga é um péssimo professor?”

A verdade era que o cosmos de Charis desenvolvera-se tão bem que em breve alcançaria o nível de um cavaleiro de bronze. Comparada aos soldados homofalcos, mostrava-se tão forte quanto muitos veteranos que treinaram sob o comando de Evan.

“Ela está treinando há dois anos?”

“Sim, antes não sabia nada de cosmos. Agora, pode até lutar contra os nossos soldados.”

Notando que Charis começava a costumar-se com seu ritmo, Shun empregou mais velocidade e força em seus ataques, aumentando a dificuldade. Sem desistir, a garota tentava elevar o seu cosmos e alcançá-lo com seus golpes de gelo, embora lhe parecesse impossível. Vendo o esforço da garota, Evan sentiu-se invejoso por tal nível ser alcançado por uma simples criança, enquanto seus soldados mantinham um nível bem mais baixo.

“É filha de Ájax, é o que se espera de uma futura líder.”

Myles riu, irritando-o mais ainda.

“Você não quer admitir quem entre vocês é superior, Evan. É claro que um cavaleiro de Athena do nível de Hyoga, que lutou contra os guerreiros mais fortes do mundo, pode fazer muito mais por Charis do que você, com seu batalhão de discípulos. Ele concentra todo o esforço nela, colocando-a acima de tudo. Na verdade, ele deseja a alforria apenas para ter tempo integral de treino.”

“Cale-se, Myles, suas palavras me deixam aborrecido. Eu não duvido da competência de Charis, a filha de Ájax. Ela está indo bem e deve ir bem, já que será a nossa líder.”

“Heh. Você é orgulhoso. Mas essa é também a sua força. Por outro lado, a força desse cavaleiro é venerável. Mesmo sendo quem é, ajoelha-se diante de nós e deixa que o subjuguemos, só para manter sua palavra viva. Eu garanto, muitos guerreiros prefeririam morrer no lugar dele.”

“Ele só está sendo quem deveria ser.”

“Não seja tão duro com ele, Evan. Eu acredito que nem todos os humanos desejam o mal aos homofalcos.”

“Myles, é um erro um líder pensar dessa forma. Somos poucos, devemos nos proteger.”

“Eu sei. Mas ele é o nosso aliado, não é?”

Cansado da conversa, o homofalco abriu as asas e voou, indo embora. Shun golpeara Charis no estômago, tão forte que a garota caiu no chão e agora recebia mais ataques. Mesmo assim, conseguiu levantar-se e prosseguir com a batalha. Vendo que o treino demoraria, Myles também abriu as asas e voou, deixando-os.

O treino durou até a hora do almoço, quando Charis não conseguia mais manter-se de pé. Shun sorriu e aproximou-se, oferecendo-lhe ajuda para levantar-se.

“Consegue ficar de pé?”

Charis aceitou e levantou-se, ofegante. Olhou para Hyoga, que os observava com os braços cruzados.

“Como fui, mestre?”

Hyoga assentiu, aprovando o resultado.

“Foi um bom treino, Charis. Acho que serviu para melhorar sua velocidade. Você ainda hesita um pouco na escolha dos ataques. Isso pode prejudicar sua performance, então quero que melhore isso. Para a tarde, quero que treine as asas. Utilize o cosmos para melhorar o desempenho de suas asas durante o vôo, de forma a fortalecê-las. Faça isso até que eu volte para casa, entendeu?”

Ao tocar no assunto das asas, Charis mostrou-se um pouco desanimada, mas simplesmente concordou.

“Sim, mestre, treinarei assim.”

“Muito bem, com isso, encerramos o treino.”

“Certo. Voltamos para casa?”

“Vamos. Como Shun está aqui, tirei um pouco das estufas para preparar um almoço diferenciado. Quer algo especial?”

“Aquela sopa que você faz no inverno. Se não for difícil para você, mestre. Está ferido.”

“Eu não me importo”, voltou-se Hyoga em direção para casa. “Será sopa, então. Pode pegar cenouras e batatas nas estufas, Charis?”

“Claro, mestre!”

Charis saiu correndo, e Shun caminhou ao seu lado, sorrindo.

“Você mudou, Hyoga.”

“Mudei?”

“É. Antes tratava Charis de um jeito mais formal, agora… É quase como se fossem uma família.”

“Isso é porque ela pediu para treinar essa dualidade de comportamento, que é necessária a um líder. Ele precisa ser firme e formal em determinados momentos, mas gentil e atenciosa em outros. Quem fazia isso para ela era Ájax, mas ele morreu no ataque.”

“Por isso você assumiu essa posição? Mas Hyoga, não vai contra tudo o que Camus lhe ensinou?”

“Pois é. E contra tudo o que sou, também. Mas depois eu pensei: talvez seja uma forma de eu crescer também. Sempre tive problemas para controlar meus sentimentos, talvez esse seja o caminho para superar minhas próprias dificuldades.”

“Mas é raro ver um mestre tratar um discípulo tão bem.”

“Eu sei. É porque priorizamos a distância dos outros guerreiros, para minimizar o dano, caso viremos inimigos. Mas pode ser que isso seja pior. Manter o mesmo tipo de relacionamento o tempo todo funde os dois momentos, o formal e o informal. E se colocássemos ambos em forte contraste, o que ocorreria? Foi pensando nisso que mudei meu comportamento.”

“Entendo. Bem, você sabe melhor do que ninguém o que está fazendo, Hyoga. Tenho certeza de que dará certo.”

“Não tenho certeza. Só estou colocando em mente que não estou treinando Charis para ser uma amazona, mas sim, a líder dos homofalcos. Algumas adaptações são necessárias.

“Tem razão. Bem, vamos comer e relaxar um pouco. Depois disso, quero patrulhar a área e ver se descubro algo de Prometeu.”

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