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[Sailor Moon] Quando o Inesperado Acontece - Capítulo 1, escrita por Ilana Sam

Título: Quando o Inesperado Acontece
Capítulos: 1 2 3
Autor: Ilana Sam
Fandom: não informado
Gênero: Drama, Romance
Status: completo
Classificação: não informada
Resumo: Serena não consegue entender os motivos de Darien ter terminado o namoro com ela. Embora inconformada, tenta seguir em frente, com o apoio de suas amigas. Pensa que se conseguir romper os próprios receios irá se superar, mas logo irá descobrir o que realmente precisa para amadurecer.


Quando o Inesperado Acontece

 
Capítulo 01 – O Poder da Negação


Não... Não podia ser... Mais que a palavra, era o significado que trazia. Parecia um vazio, uma ausência de qualquer sentido que pudesse ter.

Negar afasta qualquer um da realidade e a negação tem um efeito momentâneo de te refugiar enquanto você não quiser cair na real. Acordar!

Mal podia acreditar. Minha cabeça estava confusa, como se ainda não tivesse assimilado o que ouvi. Depois que encontrei Darien na rua.

Por acaso, foi por acaso, sempre por acaso. Era o destino? Onde quer que estivéssemos... nos encontrávamos. Como duas almas gêmeas destinadas a ficar juntas pela vida inteira... como se um conhecesse o outro desde sempre... Mesmo na época em que não nos suportávamos... Talvez simplesmente não sabíamos...

Tudo tão rápido. Aquela maneira inusitada da descoberta de identidades, as lutas com as guerreiras, o trágico combate de Amy, Rei, Lita e Mina, o retorno de Darien e sua partida logo em seguida e minha última batalha. Saí vitoriosa, mas sei que não foi uma conquista só minha.

Mesmo com aquelas semanas em branco, todos sem memória, foi sinestesia total. Aquela impressão de conhecer todos não saía da minha mente. Mas não foi só impressão. Tudo com final feliz...

Lágrimas, sabia que viriam. Droga, eu era mesmo uma chorona. Boba, gulosa e uma tremenda chorona. Ia mal na escola, tirava péssimas notas, lutava sem coragem alguma a espera de uma performance de última hora. Por isso, Darien terminou comigo.

Não, não era verdade. Eu queria que fosse, como eu gostaria do fundo do meu coração que fosse por meus motivos. Mas não podia esperar que tivesse que ser do meu jeito. E mais uma negação acabava de entrar na minha lista.

Passamos poucas semanas juntos. Ele, meu namorado e eu, sua namorada. Nos víamos todos os dias, combinando ou não. Ele é tão lindo, inteligente, elegante e muito mais. O oposto de mim. Conhecia até o apartamento dele, faltava ele ir até a minha casa, conversar com os meus pais...

Mais lágrimas caíram de meus olhos e tive que encostar minhas mãos para limpar meu rosto que estava molhado. Não era o meu jeito de ser. Digo, não foi por mim. Ele disse com todas as letras que não sentia mais nada por mim... É assim que tinha que ser?

Ele evitou me olhar nos olhos, manteve a cabeça baixa, encostado contra a parede. Eu queria acreditar que simplesmente não fosse verdade. Tínhamos o tempo todo pela frente... Mas fiquei parada ali, como uma estátua ouvindo o que mais pareceu um ultimato.

Procurei sair discretamente do apartamento e me enfiei na primeira cabine telefônica que vi quarteirões depois de sair do apartamento do Darien. Não, eu não iria chorar na frente dele, parecer fraca, mas foi difícil segurar o choro, achei que não fosse conseguir.

 E se não o tivesse encontrado na rua naquela fatídico dia? O que poderia ter acontecido? “Pior que negar, é adiar Serena”, pensei. E mais lágrimas saíram, mais pareciam lágrimas de sangue...

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Porque? Fiquei pensativo sem encontrar resposta aparente ao que acabava de perguntar. Então, resolvi deixar o livro sobre a mesa e me levantei indo em direção à sacada do apartamento. Não faltava muito para concluir os assuntos da faculdade, tinha adiantado o que era necessário e o que faltava iria concluir depois.

Olhei ao redor da cidade. Não haviam muitos carros na avenida, apenas o foco de luz pela cidade denunciando os rumores noturnos em Tóquio. Uma brisa leve soprou em minha direção e pude perceber a proximidade da madrugada. Eu já estava acostumado.

Desde que meus pais morreram, tive que amadurecer cedo. Passei a ficar sozinho a maior parte do tempo. Entretanto, os estudos me deram uma ocupação, pelo menos em parte. Sempre fiz amigos com facilidade, mas o único com quem podia contar era o Andrew. Estava cansado de quem se aproximava de mim apenas por interesse.

Eu sou o que qualquer pessoa gostaria de ser, mas as aparências enganam, pois as coisas não eram tão simples assim. Enquanto continuo minha rotina como se nada de mais estivesse acontecendo, por outro lado me preocupo com aqueles malditos lapsos de memória.

“Porque?”, voltei a me perguntar. Aquela imagem não foi apenas um componente do pesadelo, mas um mau pressentimento.

Não consegui proteger a Serena. Ela desapareceu em meio aos destroços e por mais que me esforçasse, não pude encontrá-la. E a única alternativa que tive foi me lamentar profundamente. Uma voz me dizia que nossa união resultaria em graves consequências, colocaria em risco sua própria vida.

Decidi terminar com Serena sem dar maiores explicações. Tenho consciência de que fui duro, mas foi preciso fazer isso. Nunca me perdoaria se algo acontecesse com ela.



Voltei para o interior da sala, fechando a janela atrás de mim. É difícil encontrá-la sem poder sequer lhe dirigir a palavra. Cerrei um dos punhos, esmurrando-o contra a parede. O que poderia fazer?

Respirei ofegante sem saber o que pensar diante da situação. Contudo, eis que uma ideia atravessou meus pensamentos. Desvendar o mistério acerca desta história. Não sabia como começar, mas precisava descobrir uma forma o mais rápido possível.

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Olhar para meu quarto, minhas coisas e meus alfazeres, inclusive como Sailor Moon. Tudo parecia tão sem graça, não tinha vontade para nada. Em pleno amanhecer, estava de pijama em pé próximo da cama. E acordada. Dormi menos que de costume. Eu mesma sabia que isto era uma coisa incomum.

Observei Rini, que dormia tranquila. Devia estar tendo um sonho bom, pois parecia risonha. Bem diferente de outras noites em que me acordava dizendo que teve mais um pesadelo, mas nunca me dizia o que tinha lhe assustado tanto.

Difícil aceitar que não iria me arrumar para encontrar o Darien pela manhã. Eu tinha começado até a acordar um pouco mais cedo só pelo prazer de vê-lo. Mais uma vez, negava, negava e negava.

E como negava.

Tinha começado a namorar com ele e nosso relacionamento não durou sequer um mês. Os encontros pela manhã... as saídas nos finais de semana... A falta da sua companhia me dava um vazio tão grande. Darien era seguro de si mesmo, mas naquele dia me pareceu muito estranho...

Decidi tomar um banho antes do café. Troquei o pijama pela toalha e soltei meu penteado. No banheiro, dei de cara com o espelho. Fiquei olhando minhas feições me dando conta de que mesmo triste, precisava continuar minha vida. Dei um longo suspiro.

Entrei na banheira e fiquei mergulhada lá um tempo. Sabia que logo mais teria reunião com as meninas no templo. É, eu era a última a chegar atrasada ainda avisada, pois me esquecia dos horários dos encontros, mas como não tinha nada para fazer depois da aula, ia direto para a reunião. Bom... na verdade, torcia para encontrar o Darien pelo caminho até o templo... mas ultimamente nada, nem sua sombra.

Volta e meia, lembrei dos meus poderes como princesa. Sempre combatia como Sailor Moon, mas usava meus poderes como Princesa da Lua em raras exceções. Será que poderia utilizá-los para ajudar a Rini? Como? Usar o cristal de prata em sua energia total resultaria em... seria pior para mim, mas precisava descobrir de onde veio e seus motivos para estar aqui no planeta, o que ninguém sabia. Acredito que a própria Rini estava com medo e... cheia de dúvidas.

Embora tenha me reunido com as meninas várias vezes, nunca falei tal ideia. Daí metia coisas que não tinha nada a ver, até ouvir os gritos da Rey: “Cala a boca, preguiçosa!” Eu hein!
Amy tinha informações pouco precisas sobre o inimigo e não sabia a localização exata do esconderijo. Lita, que já aparentava ter mais experiência em batalhas, desconfiava de algo que aumentava a energia deles. Mina verificou evidências pós-batalhas, mas não conseguiu descobrir pista alguma. Rey notava uma presença maligna sempre minutos antes de entrarmos no campo de batalha.

Sugeriu procurar as quatros irmãs, que acabaram de ser livrar do poder do mal do Reino Lunar Negro. Talvez poderíamos esclarecer esse mistério...

Dei outro mergulho novamente. Precisava saber a opinião das meninas sobre usar o cristal de prata para descobrir o segredo que Rini carregava e que até agora ainda não tinha sido desvendado.

Notei a presença de uma sombra perto da banheira e me ergui num sobressalto. Era a Rini que havia entrado no banheiro sem bater na porta. Brigava antes, mas decidi nem me aborrecer mais.

- Você tá demorando muito no banho Serena. - disse, esfregando os olhos. Tinha acabado de acordar.

- Que nada, você é que reclama demais. - ela adorava me irritar. E estava conseguindo.

- Sua idiota! - e me deu a língua!

- E você é uma mal educada! - bem que ela podia esperar um pouco.

- Nem sei porque ainda moro aqui. Do jeito que é, por isso que o Darien não gosta mais de você! - e saiu correndo sem bater a porta.

Dei meu banho por terminado. Vesti a primeira roupa que encontrei pela frente: calça azul, uma blusa feminina cor de rosa com a manga um pouco abaixo do cotovelo e um par de sandálias de cor branca com um saltinho. Saí sem tomar café da manhã. Ninguém sequer me viu sair, ainda estava cedo. Fiquei com a pergunta martelando na minha cabeça:

Rini teria razão? Ou me disse aquilo só para me chatear?

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Deixei meu carro no apartamento e caminhei até o salão de jogos. Não ficava a muitas quadras dali...

Voltava a pensar naquele sonho. Sei que uma voz, bastante familiar a mim, me dirigia a palavra, mas ainda não tinha conseguido identificar quem era. Seria alguém que conhecia? E se fosse alguém do Reino Lunar? Embora tivesse lembranças de vida passada, não me lembrava de qualquer evidência que identificasse a fisionomia e, muito menos, o mentor daquelas visões.



Precisava investigar mais, para chegar ao provável inimigo. Não poderia questionar as meninas, muito menos a Serena, já que não tenho opção. Manter distância dela, sem sequer saber a causa, somente as consequências, era demais.

Melhor investigar por conta própria. A partir das visões que causavam aquelas malditas dores de cabeça, pior ainda o significado atribuído.

Virei à esquina e continuei andando... estava próximo do prédio em que Andrew trabalha. Era incrível como apreciava jogos. Sempre me falava dos últimos lançamentos, mas particularmente não gostava de passar horas em frente a máquinas de fliperama. Na verdade, não gostava de jogos virtuais. Contudo, deixava meu amigo falar sobre o assunto, era importante para ele.

Quando cheguei à porta, esbarrei levemente em uma sombra que saía em direção contrária. Parecia que não tinha me visto, pois abriu a porta bruscamente e não deu tempo me afastar para dar passagem. Olhei melhor e reparei que o vulto tinha feições femininas. Tão delicadas... por pouco, não caiu em cima de mim, pois colocou as mãos em meus ombros. Aquele penteado... só podia ser... Serena.

Tudo em uma fração de segundos... Ergueu a cabeça e parecia não acreditar no que estava vendo, mas era como se esperasse.

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Não acredito! Estava tão apressada ao empurrar a porta que nem me dei conta que uma pessoa estava por entrar. Aquele perfume... era ele. Perdi um pouco o equilíbrio, só não dei de cara no chão porque me apoiei em seus ombros.

- Darien... - mal pude controlar a emoção que sentia.

- Não fique perto de mim. - disse com a voz baixa e aparentemente rouca.

- Precisamos conversar! Será que você não entende? - queria esclarecer as coisas.

- Não temos mais nada para conversar Serena. Preciso repetir que não sinto mais nada por você? Me deixa em paz! - disse se afastando do salão de jogos e, de mim, obviamente.

Fiquei em silêncio por alguns segundos. Cada palavra que desferia me machucava tanto quanto uma agressão física. Definitivamente não entendia o porque de Darien não querer mais saber de mim. No final das contas, culpei meus defeitos, meu jeito, mas sabia que ele não perdia a calma por qualquer coisa. Mas também não conseguia encontrar uma razão para entender seus motivos.

- Você está muito diferente Darien. Desde que terminou comigo, me evita e me diz coisas horríveis. - a conversa mal havia começado para mim.

- Pare com tantas perguntas, cabeçinha de vento. - deu de costas para o outro lado da rua e seguiu caminhando.

- Espera! - avisei correndo atrás dele, ainda me chamava pelo apelido, como nos tempos que implicava comigo. Só que agora, me pareceu um pretexto para continuar afastado.

- O que está acontecendo? - parei diante dele.

Darien parecia distante apesar de estar na minha frente. Parte do seu cabelo estava caído em seus olhos, não pude ver suas feições. Estava quieto demais. Era como se não quisesse me encarar, mas...

Levantou a cabeça lentamente e olhou em meus olhos. Fiquei notando aquele olhar, cheio de seriedade, porém parecia compassivo. Seus olhos azuis penetraram em mim, como se quisessem me decifrar. Eles tinham um brilho profundo, porém algo parecia ofuscá-los um pouco. Eu me refletia em seu olhar e meu olhar mostrava o reflexo dele em meus olhos. Não sabia o que se passava em sua mente, mal sabia o que se passava na minha própria. Pura confusão!

- Está tudo bem... Darien, pode me contar. - falei pausadamente. - Não quer me dizer, mas... sei que algo de errado está acontecendo. Eu te amo muito para ver você sofrer sem poder fazer nada! - Darien pareceu surpreso com minhas palavras e eu tentava conter minhas lágrimas.

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Um encontro inesperado e aquelas palavras... Por um momento, quis retribuir sua demonstração de sentimento. Eu não merecia! Quantos relacionamentos já tive sem compromisso? Havia perdido as contas. Andrew me incentivou bastante, até arrumava muitos encontros casuais com algumas garotas, com a proposta de que me envolvesse de vez com alguém, mas interrompeu o hábito ao perceber que tinha me apaixonado de verdade pela pessoa que menos esperava.

Todavia, para mim ela já era tão familiar, antes não fazia ideia de como a conhecia tão intensamente. De vidas passadas. Era minha alma gêmea...

Encarei novamente o seu rosto como se fosse a última vez... Aquelas lembranças de Serena como princesa me alarmaram novamente. Eram tão reais como a presença dela diante de mim, que aguardava uma resposta de minha parte. Sabia que se não fizesse algo...

- Não me importa mais o passado, somente o que faço do meu destino.  Adeus, Serena. - não era um sujeito de meias palavras, nem seria agora.

Caminhei adiante sem olhar para trás, não era o que deveria ter feito, mas precisei fazer a qualquer custo. Segui sozinho, voltava a me sentir só como há muito tempo não me sentia, desde que tinha conhecido... Tinha perdido minha família, se o mesmo acontecesse a Serena, que representava um novo recomeço para mim, não iria suportar.

Não queria perdê-la, precisava protegê-la, mas sentia que ela estava escapando de mim. E não sabia para o que ou quem. E não eram apenas aquelas malditas dores de cabeça que estavam a cada dia mais insuportáveis e incomodavam, como agora, a minha alma permanecia em pedaços. Toda essa angústia me deixava completamente acabado por dentro.
Estava perto da esquina do meu apartamento, quando senti mais pontadas e coloquei a mão na nuca, ligeiramente tonto. Parei na entrada, algo sobressaía ao redor, a imagem de Serena como Serenity sorria para mim.

“Princesa...” - mal acreditava no que via e fui me aproximando. Entrei no estacionamento do prédio, seu vulto me aguardava próximo da escada.

Senti outra pontada, dessa vez era mais forte e, fiquei encostado a parede. O que enxergava agora era destruição completa. Olhei em volta, ela não estava mais. Comecei a respirar ofegante, queria sair dali, aquela dimensão mostrava seu poder mais sombrio e me dava calafrios. Aquela voz de novo... quem seria? Tudo no Reino Lunar tinha sido destruído.

De repente, aquelas visões foram se dissipando da minha mente. Retirei as mãos da cabeça que já não doía mais. No entanto, o mal-estar que sentia ficava mais forte e as visões me revelavam maior riqueza de detalhes. Não sabia o que isso significava, mas precisava descobrir o que era, agora mais do que nunca.

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Cheguei atrasada, muito atrasada. Darien me deixou ali e foi embora, demorou um tempo para sair de lá e vir ao templo.

- Está atrasada! - Rey disse logo que botei o pé na entrada.

- Começamos a reunião há poucos minutos. - disse Amy mexendo em seu computador de mão.

Fiquei parada na porta. As meninas estavam acomodadas nos assentos da sala. Lua e Artemis também estavam presentes. Pelo jeito, a reunião iria ser longa.

- Entra Serena. - Mina me chama.

- Alguma novidade? - perguntei ao lembrar da Rini.

- Como já disse, todas precisamos procurar as quatro irmãs. Posso conversar com Kamersai, Amy fala com Beterai, Lita pega informações com Petsai e Mina com Karaberai. Em seguida, nos reunimos aqui novamente para trocar informações e decidirmos o que faremos. - Rey afirmou bastante convicta.

- Porque não conversar com elas de uma só vez? - perguntei já devidamente acomodada.

- Decidimos conferir a visão de cada uma delas individualmente. Quando trabalhavam para o Reino Lunar Negro, recebiam ordens de diferentes mentores. Ainda não temos informações mais precisas, mas parece se tratar de uma verdadeira liga do mal. - Lita explica.

- Mesmo com a presença de energia maligna, consigo abranger a área de expansão do poder negativo do Reino Lunar Negro, mas não o foco. Sem isso, é inviável achar o local exato do esconderijo. - Amy acrescenta.

- Quando vamos encontrá-las? - só eu fazia as perguntas. Pior, não conversaria com nenhuma das irmãs, as meninas teriam o que fazer, eu não.

- Marquei um encontro com elas agora a tarde. Daqui seguimos direto para o local combinado. - fala Mina.

Todas estavam dispostas a encontrar meios de defesa contra os princípios malignos do Reino Lunar Negro. Cada uma sugeria o que perguntar, conduzir a investigação da forma mais adequada possível, mas eu nem conseguia ajudar em alguma coisa. Nenhuma delas iria me perguntar uma sugestão, afinal tudo estava devidamente planejado. Além do mais, cheguei atrasada, perdi informações importantes e até cruciais para a condução da situação.

Sei que nenhuma delas, fora a Rey, se irritava comigo e explicavam direitinho o próximo passo a tomar, o que fazer, só que... me sentia sem utilidade ali. Não excluída, pelo contrário, as meninas eram dispostas, apenas eu que complicava muito. Tentava melhorar pelos outros, de um tempo para cá, fazia isso por mim... Infelizmente, não estava dando certo, eu parecia de mal a pior.

- O que foi Serena? - Lua se aproximou de mim.

- Nada. - falei tristemente.

- Se tiver algo importante para dizer, diga Serena. - Mina acreditava em meu potencial, até mais do que eu, arrisco dizer.

- É que... - hesitei para falar, as meninas pareciam ter encerrado a conversa, o lugar havia sido tomado pelo silêncio...

- Não é nada de importante. - falei.

- Está muito calada, logo você que é tão tagarela! - Lua disse sorrindo.

- Bem... é que... é sobre a Rini.

- O que é que tem ela? - Rey perguntou apreensiva.

- É que a Rini tem tido muitos pesadelos. Quase todas as noites acorda chorando, querendo os pais, não sei o que posso fazer.

- Ela não te disse nada? - Amy questiona.

- É o que mais me preocupa, Amy. Nunca me fala sobre o que lhe causa tanto medo.

- Se o Reino Lunar Negro quer fazer mal a ela, talvez os pais da Rini tenham sido atacados por eles. - Lita disse.

- Lembrem-se de que eles querem também o cristal de prata. - completa Lua.

Respirei fundo e falei, quase que em um impulso. Era melhor esclarecer isso logo de uma vez por todas.
- Me diz uma coisa Lua... E se eu usasse o cristal de prata para ajudar a Rini?

- Ficou louca?! - Rey respondeu atônita.

- Sabe que não pode usar o cristal de prata à toa Serena! - disse Lua.

- Não é a toa!

- Nem sabemos qual é o nosso verdadeiro inimigo! - Mina exclamou.

- É arriscado demais Serena. - argumentou Lita.

- Sei que quer ajudar a Rini, mas sabe que se usar o poder do cristal de prata... - Artemis que até então não tinha entrado na conversa, somente especulando com Lua, resolveu argumentar.

- Não falei da energia total do cristal, apenas... - tentei falar.

- Mesmo que seja a menor quantidade de energia, ficará muito fraca Serena. O cristal de prata exige muito de quem a manipula, custou caro para a Rainha Serenity, não quero que tenha um destino igual ao dela. - Lua disse, com lágrimas nos olhos.

- Lua... - deixei escapar.

- Encontraremos outro meio, mas não pode fazer isso com você, conosco e com as pessoas que habitam esse planeta.

- Se me acontecer algo, Darien é o guardião da terra, vocês...

- Chega Serena! - Rey falou exaltada.

- Não use o cristal de prata. Não seja tão estúpida! - disse Lua.

Difícil aceitar, mas as meninas, Lua e Artemis, todos tinham razão. O cristal de prata nem deveria ser usado, tamanho o risco, mas já o usei uma vez e sabia na pele quais foram as consequências.

- Diga que não fará isso Serena. - pediu Lua.

Baixei o olhar e fitei o chão. Talvez tenha sido a pior ideia que já tive em um encontro entre guerreiras. Eu só quero ajudar a Rini. Sabia que ela não era uma inimiga, me sentia tão protetora dela, apesar das implicâncias...

- Serena? Estou falando com você!

Sentia a voz da Lua distante, absorta em meus pensamentos. Talvez tentando me aproximar da Rini, de forma madura, quem sabe pudesse contar alguma coisa, qualquer informação que nos ajudasse. Afinal, ela já sabia que éramos guerreiras, da verdadeira identidade das Sailors Senshi e do Tuxedo Mask. Até contava umas informações dos encontros sem me aprofundar muito, embora ela ficasse muda.

Darien também não sabia de nada que Rini tenha lhe contado, até onde sei. Não conseguia nem conversar sobre ela... Sequer sobre nós...

- Serena?

Ergui a cabeça e olhei a todos ao meu redor. A voz da Rey me gritava.

- O que diz?

- Certo, não farei nenhuma bobagem. - disse.

- É assim que se fala Serena! - disse Mina. Não se preocupe, daremos um jeito.

- Acho que se me aproximar dela aos poucos, talvez ela me conta alguma coisa que ajude.

- Até que enfim, uma ideia sensata! - exclama Rey.

- Rey! - Lita fala.

- Darien está mais próximo dela do que eu, mesmo assim, acho que ela não contou nada para ele ainda. Não consigo conversar com ele direito... - disse tentando conter as lágrimas.

- Estranho... Ele não te procurou mais Serena? - perguntou Lita.

Balancei a cabeça negativamente.

- Talvez esteja cansado Serena. Tem acontecido muitas coisas ultimamente. - disse Mina.

- Nem sei mais o que fazer...

- Se ele tiver algo mal resolvido, espere até que se sinta em condições de fazê-lo Serena. - Rey parecia me dar um sermão, mas falou de forma compreensiva.

- Não pode ser! - Amy avisa.

- Do que está falando? - Lita fala.

- Precisamos ir agora para o centro de Tóquio. O fator de instabilidade indica a presença de um droid lá. - Amy estava aflita.

- Vamos! - falei meio desanimada, mas vida de guerreira era primordial.

Levantei meu broche para o ar, enquanto as meninas estendiam suas canetas de transformação ao alto. Cada uma gritou suas palavras de transformação. Luz irradiando, o poder se convertendo em nossos uniformes, a brisa ao longo da trajetória final de metamorfose... Logo éramos as Sailors Scouts prontas para defender a terra!




Saltamos os prédios principais para chegar mais depressa ao local. Como não estávamos muito longe, dispensamos o tele-transporte. Sailor Mercúrio corria na frente para dar as coordenadas. Ia atrás de Sailor Júpiter e Sailor Marte que ficaram próximas da Sailor Mercúrio. Sailor Vênus corria lado a lado comigo, chamando Lua e Artemis que seguiam ao fundo.

- É aqui! - avistou Sailor Mercúrio.

Paramos diante de uma área de lazer. Não havia quase ninguém na rua, aquele não era um local muito movimentado à tarde. Corri avisando as pessoas que estavam que saíssem dali rapidamente. Era muito arriscado.

- Sinto a presença de uma energia maligna. - falou Sailor Marte.

- Fiquem todas em alerta! - Sailor Júpiter disse.

- Artemis! Lua! Tomem cuidado! - Sailor Vênus avisa.

- Vamos procurar um local seguro. - Artemis disse saindo com Lua.

- Todos já foram embora. - falei voltando pela calçada.

Ficamos as cinco em posição de ataque. Sailor Mercúrio e seu computador, Sailor Marte com o talismã, Sailor Júpiter com as mãos em punho e Sailor Vênus dando cobertura para Sailor Mercúrio que tentava localizar o droid. Ao longe, avistamos uma onda de energia maligna.

- Cuidado! – Sailor Mercúrio gritou.

Um vento rasgante arremessou as cinco afora. Sailor Júpiter e Sailor Marte logo se levantaram da queda e correram para atacar o vulto que se aproximava.

- Júpiter, Marte! Não! - gritei me levantando, mas era tarde.

As duas receberam outra rajada de vento e caíram no chão. Mercúrio e Vênus correram até elas e perguntaram se estavam bem.

- É muito forte! - disse Júpiter.

- Não pude nem usar meu talismã! - falou Marte.

Tinha ido com Mercúrio e Vênus para ajudá-las. O droid surgiu daquela onda de energia maligna. Era enorme, como nenhum outro visto e combatido em batalha. Precisávamos de outro plano.

- Vou lançar a névoa, daí todas atacam juntas! - fala Mercúrio como se adivinhasse meu pensamento.

- Certo! - Mina confirmou.

- Névoa de Mercúrio!
- Fogo de Marte!

- Trovão de Júpiter!

- Corrente de Vênus!

Não demorou muito para o monstro ficar envolvido pelos poderes reunidos das guerreiras. Ele se abaixou um pouco e preparei o báculo lunar, mas logo ele voltou a se erguer e repelir os poderes das sailors.

- Essa não! - falei.

- O que faremos agora? - Rey disparou.

O monstro veio com velocidade total, lançando uma espécie de choque de cor negra. Com o golpe, fomos lançadas para longe. Larguei o báculo lunar sem querer, aquela onda de energia enfraquecia nossos poderes, ficávamos cada vez mais vulneráveis. Todas caíram próximas uma da outra, enquanto o monstro preparava-se para atacar.

- Vou distraí-lo. - disse me erguendo com dificuldade.

- Não, Sailor Moon! - gritou Mercúrio.

Corri o máximo que pude, enxergando o báculo do outro lado da rua. Vi o monstro me seguindo logo atrás. Porém, era mais rápido que eu e, antes que pudesse alcançar minha arma, o monstro havia lançado outra bola de energia.

De onde estava, não dava tempo para pegar meu báculo e, sem saída, me agachei próximo da rua.

- Sailor Moon! - ouvi as meninas gritando.

- Glupt!

Um vento contínuo passava pelo meu corpo e pensei que fosse meu fim. Mais uma vez não conseguia manter controle em batalha, como Lua falava, tinha que ser aquele desastre de sempre. Mas só queria ajudar a todos!

Coloquei meu braço sob os olhos e vi que o golpe era tão forte que algumas árvores estavam sendo arrancadas pela raiz e os vidros de lojas próximas começaram a trincar.

Não consegui dar mais um passo para prosseguir com aquela minha ideia inicial de reaver meu báculo. Aquela bola de energia vindo... com ele um perfume de rosas...

O monstro recuou por uma rosa vermelha que lhe atingiu.

Tuxedo Mask! - mal pude esconder minha euforia.

Ele não disse nada e se afastou. Não foi embora, era como se aquilo me dissesse o que deveria fazer. Corri até meu báculo e gritei:
- Meninas, ataquem novamente! Sei que dessa vez vamos conseguir!

Todas lançaram seus golpes para enfraquecer ainda mais o monstro, mas apesar do ataque de Tuxedo Mask, não se deixava abater.

Então, Marte lançou outro talismã, dessa vez conseguindo acertá-lo em cheio na testa. Esboçou uma expressão indecifrável em seguida.

- O que foi Sailor Marte? - perguntei.

- Esse monstro... possui um traço humano.

- O que? - eu e as outras exclamaram.

Sabia que o Reino Lunar Negro enviavam droids, mas sempre eram monstros sem qualquer evidência humana. Aquilo era estranho demais.

- Cuidado ao usar seu golpe Sailor Moon. Não é apenas um monstro, tenho certeza. Está sendo controlado por uma energia maligna. - Marte completou.

- Quase não descobrimos isso a tempo. - disse Júpiter abanando a cabeça.

- Se não tivesse percebido Sailor Marte... - Mercúrio falou pausadamente.

- Poderíamos cometer um grande engano. - Vênus exclamou.

- Sailor Moon, agora! - me virei e vi Tuxedo Mask um pouco adiante falando para que me apressasse.

Estendi meu báculo no ar e lancei meu tradicional golpe, com toda a minha força:

- Pelo Poder do Cetro da Princesa da Lua!

O monstro foi coberto pela energia do báculo. Teimava em se livrar do golpe e aumentei a energia do meu instrumento de luta. Um raio que saía ampliou a luz irradiada sobre o droid. Ele ainda tentou resistir, debatendo-se como podia, mas aos poucos, foi cedendo a energia que tinha usado.

Diminui a intensidade vendo o monstro voltar a forma normal. No entanto, percebi que não era uma só pessoa livrada da energia maligna tinha outra, melhor outras pessoas girando sem parar.

A energia que tinha lançado dissipou-se e os corpos pararam de rodar. Então pude ver que conhecia as pessoas que ali estavam.

- As quatro irmãs?! - Marte exclamou surpresa, enquanto elas permaneceram de pé após o golpe, caindo no chão simultaneamente logo em seguida.

- Vamos até lá! - Júpiter chamou.

Todas correram para socorrer as quatro irmãs, enquanto via Tuxedo Mask se distanciar ainda mais. Segui até onde ele estava, apesar de percebê-lo se afastar de mim. Embora não me dissesse nenhuma palavra, seu gesto me machucava, quanta coisa ainda não entendia.

- Sempre que preciso, você está aqui... - disse, esboçando um leve sorriso.

- Não confunda as coisas Sailor Moon. - Tuxedo Mask estava com um dos punhos fechados, deu as costas e seguiu andando.

Era a pior negação que poderia acontecer comigo. A mais terrível. Antes, achava que era uma fase que passaria e logo ele voltaria para mim... Pura enganação. Era difícil aceitar que ele... não me queria mais.

Uma brisa percorreu o local em que estávamos. Tuxedo Mask foi embora sem olhar para trás. No entanto, abriu a mão fechada e pude ver uma rosa despedaçada. Aos poucos, as pétalas se dissiparam de sua mão com a força do vento. Uma delas veio em minha direção e estendi meu braço para alcançá-la. Olhei uma das pétalas pousar suave em minha mão direita.

- Tuxedo Mask... - disse com a voz sufocada por olhos úmidos que continham minhas lágrimas.

Corri rápido, apesar da dor, não havia tempo a perder, as guerreiras precisavam de ajuda. Eu e as meninas mal podíamos acreditar que Kamersai, Beterai, Petsai e Karaberai haviam sido transformadas em um droid para nos atacar. Justo no dia que tínhamos combinado de conversar com elas!

- Vocês estão bem? - Vênus perguntou.

- Aparentemente não se feriram, mas precisamos levá-las para o hospital. - Mercúrio avisou.

- Foram eles... foi tão rápido... - Petsai meio tonta, falou para Júpiter.

- Machucamos vocês? - Karaberai questionou tentando se levantar.

- Não se preocupe conosco. Todas estamos bem. - disse me aproximando para tranquilizá-las.

- Quem eram eles? - Júpiter perguntou.

- Rubens e Esmeralda. - Kamersai revelou.

- Porque? Porque fizeram isso? - Marte perguntou.

- Eles... eles querem o cristal... o cristal de prata. - Beterai falou amparada por Mercúrio.

- Disseram que Tóquio de Cristal não deve existir... e que ninguém irá atrapalhar os planos deles. - Kamersai completou.

- Como isso foi acontecer? - Marte perguntou novamente, inconformada.


- Lembro que estávamos indo passar em casa, antes de ir ao templo. Rubens e Esmeralda usaram uma bola de cristal maligno para localizar-nos. Nem deu tempo de reagir, logo estávamos de volta ao Reino Lunar Negro. - Petsai contou.

- Vocês foram parar lá? - Vênus falou.

- Eles tentaram nos convencer a servir ao mal novamente, mas nos recusamos taxativamente. - Beterai explicou.

- Então, Rubens e Esmeralda receberam poderes superiores e... falaram que não tínhamos escolha. - Karaberai completou.

- Não lembramos de mais nada. - Kamersai disse abaixando a cabeça.

- Não se esforce. - Marte falou.

- Vocês precisam saber... - continuou.

- Todas já sabemos! Os inimigos são Rubens e Esmeralda. - falei tentando encerrar o assunto para não forçá-las.

- Não é isso. Os dois são apenas mandados. - insistiu Kamersai.

- O que? - exclamei.

- Diamond e Safiro. Eles são príncipes do Reino Lunar Negro. Recebem ordens superiores, mas não sabemos de quem se trata. - revelou.

- Então eles comandam os malefícios no Reino Lunar Negro indicados por um mentor maior. Isso significa que precisamos agir depressa.

Mercúrio fala com razão, as quatro irmãs foram sequestradas e poderiam ter sido aniquiladas, daí nem iríamos saber tantas coisas, além de por em risco a integridade delas.

- A menina. Os dois falaram que só ela poderia entrar no Reino Lunar Negro. - Beterai lembrou.

- Como assim? - Vênus perguntou.

- Também não sabemos. Precisam perguntar a ela pessoalmente. - Kalaberai sugeriu.

Levei minhas mãos ao peito. Meu broche brilhava ali perante a inquietação que passava. Existiam novos inimigos mandados por príncipes para ameaçar não só a terra, mas também esse lugar chamado Tóquio de Cristal. Aquele clima pesado de preocupação das meninas... Mais do que nunca, precisávamos estar preparadas frente a ameaça que pairava assustadoramente.

Notei que minha responsabilidade como Sailor Moon crescia, tanto por ser uma guerreira que luta pelo amor e a justiça, quanto por ser a reencarnação da Princesa da Lua e ainda zelar pelo cristal de prata.
Cada uma das meninas ajudou as irmãs para levá-las ao hospital. Amy indicou a instituição em que a mãe dela trabalha, pois as quatro não tinham documentos ainda, iriam levantar suspeitas se fossem para outro lugar. Rey sugeriu irmos falar com Rini pela manhã, antes da escola. Tentei falar que iria me aproximar dela, mas Rey afirmou que não havia mais tempo a perder, tamanha urgência da situação. Lita pediu para avisar Lua e Mina disse que conversaria com Artemis.

Fiquei observando as quatro desaparecerem levando as irmãs para o hospital. Dei um longo suspiro e me virei para sair dali antes que a polícia chegasse. Era necessário que Rini desse todas as informações que precisavámos. Mas ela nunca se abria, só chorava chamando os pais. Que algo de tão horrível teria acontecido com ela, antes de chegar a terra? Teria vindo mesmo de Tóquio de Cristal? E agora, os inimigos queriam acabar com ela e ficar com o cristal de prata. Não era um assunto que dizia respeito só a mim ou a ela, dizia respeito a todas, inclusive ao Darien.

Caminhei já destransformada até ver um vulto próximo a uma árvore, as meninas já tinham ido. Me aproximei até ver nada mais, nada menos que...

_ _ _ _ _


Decidi ficar por ali perto sem ser notado. Não sabia se Sailor Moon e as outras guerreiras ainda corriam perigo. Pode até não parecer, mas elas ficavam mais fortes ao lutarem juntas. Todas agiram como uma verdadeira equipe e derrotaram aquele droid suposto.

Depois do que acabava de ouvir, que surpreendeu tanto a mim, quanto as outras, somente aumentava minhas dúvidas. Era alguém do Reino Lunar Negro que estava enviando aqueles malditos pesadelos que vinha tendo... Mas com a batalha de ainda a pouco, creio que os inimigos não agiriam de maneira tão sutil a ponto de me enviarem visões indefinidas, o que limitaria o poder de compreensão.

Fiquei indignado com a falta de informações, apesar do empenho em busca por respostas, enquanto vi todas se afastarem e conversarem entre si e, não pude entender o que falaram. Em seguida, todas foram embora, exceto Serena que continuava ali sem saber a causa. Parecia pensativa. Não era para menos.

Resolvi ir embora discretamente para não ser visto. Pensei que não poderia ser impulsionado por emoção agora, mas pela razão, um verdadeiro quebra-cabeças: a voz, a fisionomia da princesa, os inimigos qualificados de príncipes e subordinados a alguém mais poderoso... Algum deles deveria ser responsável pelas repetitivas imagens de declínio e queda do Reino Lunar. Realmente, a situação era mais delicada do que cogitei a princípio.

Andei lentamente para sair do campo de batalha, mas a voz dela por pouco não me fez mudar de ideia.

_ _ _ _ _


Darien estava parado ali o tempo todo. Pensei que tivesse ido embora. Não estava mais com seu traje de guerreiro e caminhava como se não tivesse me ouvido. Um tanto absorto em seus próprios pensamentos... Com quem ele podia contar? Pelo menos, eu tinha as meninas, um quinteto fantástico!

Agora ele parecia destinado a enfrentar tudo sozinho. Pensei como deveria se sentir tão só. Ele havia me contado a história dele há pouco tempo. Perder os pais e a memória... Lembro o quanto ele falava deles com ternura, porém ainda existe fragmentos de recordações perdidos junto com seus pais naquele acidente terrível. Como deve ser difícil para ele, uma parte de sua vida permanece desconhecida em sua memória.

Ele tinha deixado bastante claro que não queria viver de passado, mas construir a existência por ele mesmo. Senti compreendê-lo, sem me penalizar por isso. Dessa vez, ele queria estar só e eu não me conformava! Corri até alcançá-lo:

- Pensei que tinha ido embora. - falei como se não tivesse refletido ainda a pouco.

- Então é você. - Darien tinha a expressão séria.

- Quem pensou que seria?

- Não temos nada para conversar. Estou indo embora, deveria fazer o mesmo. - falou ríspido com a indiferença de sempre.

- Não podemos nem sequer ser amigos? - me espantei com a própria pergunta.

Sei que falava besteiras, mas dessa vez, tinha me superado. Jamais iria aceitar como amigo o homem que amo. A essa altura, Darien me olhava como se não tivesse entendido aonde eu queria chegar. Resolvi ser franca para expor o que queria já ter dito há muito tempo e consertar o estrago que havia falado.

- Quero dizer, precisa realmente me tratar assim? Porque se me amasse de verdade, ao menos pediria um tempo ou coisa do tipo para rever seus conceitos! - e disse mais - Eu confio em você Darien, mas quero que confie em mim também. Não posso te obrigar a nada, mas não me peça para aceitar as coisas como elas são, porque nesse caso, não acredito! - Darien parecia incrédulo com o que ouvia.

_ _ _ _ _


Confesso que fiquei surpreso ao ouví-la se expressar daquela forma. No fundo, sabia que logo teríamos que conversar seriamente, por mais que quisesse fingir ignorar meus sentimentos diante de Serena. Sempre achei que eu mesmo teria que fazer isso o quanto antes. O que não pude supor é que ela tomava a iniciativa. E estava sendo tão sincera e tão verdadeira. Não pude me conter:

- Você não entende Serena. Como pode duvidar do amor que senti por você. E ainda... Não importa o que pense de mim, minha consciência dói, mas sei que era o que tinha que fazer. Talvez tenha uma única chance de evitar uma tragédia e não vou desperdiçá-la. Eu disse que estava seguindo meu próprio caminho e não vou abrir mão disso.

- Do que está falando? - perguntou atônita.
Então compreendi que não poderia me estender demais, mas também não a deixaria com ideias equivocadas. Em termos práticos, tentaria ao menos buscar, um meio-termo com relação aos fatos.

- O que interessa agora é evitar um mal maior. Por pior que seja. - falei olhando em seus olhos.

- Eu estarei bem se estiver ao seu lado. Sinto tanto a sua falta. - disse com os olhos úmidos pelas lágrimas.

- Sinto muito. - falei enquanto ela se aproximava cada vez mais.

Enquanto não descobrisse o que estava acontecendo realmente, não poderia continuar unido a ela. Fiquei apreensivo e, ao mesmo tempo, consciente de que deveria manter minha decisão. Ela caminhava até mim, mas dessa vez, não consegui dar um passo ou fazer menção de que iria embora. Se não conseguisse me controlar, iria por tudo a perder e ainda arriscar a vida da Serena.

_ _ _ _ _


Darien olhava no fundo dos meus olhos. Fiquei sob impacto daquelas palavras e ainda mais confusa. Não entendi o que quis me dizer, esta dúvida me acompanhava fazia algum tempo, apenas notei um brilho de seus olhos. Mesmo um pouco escuro ali, podia ver direito seu rosto em torno da luz fraca do ambiente. Estávamos um diante do outro e os segundos pareciam que não passavam.

Me aproximei dele e coloquei uma das minhas mãos em seu rosto. Comecei a acariciá-lo, fazia tempo que não ficávamos tão perto um do outro. Darien me olhava sério... Ou era tenso, não sabia dizer. Olhei para ele, seu cabelo preto balançava com o vento, seus olhos azuis me transpareciam uma incógnita difícil de decifrar.

- Deixe espaço para que as pessoas entrem e saiam da sua vida Serena. - disse, retirando minha mão que ainda estava em seu rosto educadamente.

- Não há nada que eu possa fazer, não é? - perguntei triste.

- Claro que pode. Se você... - parou e fez uma expressão estranha.

- O que houve? - disse ao vê-lo com as mãos na cabeça. Nunca tinha visto ele ter uma crise daquelas.

Darien não me respondeu. Estava pálido com os olhos apertados. Segurei seu braço e caminhei com ele até um banco próximo, muito nervosa, mas tentando manter a calma. Procurei deixá-lo perto de onde estávamos ainda a pouco e pedir um táxi, mas ele me deteve.

- Fica aqui. - ele falou com a voz sufocada, devia estar sentindo muita dor.

- Preciso te levar para o hospital. Me espera aqui, por favor. - disse preocupada, seria por isso que se afastou de mim?
- Não precisa. Já tive isso antes. Apenas fique. - insistiu com a cabeça baixa e o corpo recostado para trás. O que faria agora?

_ _ _ _ _


Estava a ponto de encerrar a conversa, na medida do possível, sem receios de consciência, quando aquelas pontadas fizeram com que levasse as mãos até a cabeça. Cada vez que tinha aquelas malditas dores de cabeça, me dava calafrios. Tentei disfarçar, mas o mal-estar ficou mais forte rapidamente, parecia que iria explodir.

Não me preocupava com a opinião médica, pois já tinham me dito que essas dores de cabeça poderiam ser resultantes do acidente que sofri quando ainda era menino. Não haviam sequelas, nem sinais de doença nos inúmeros exames que já fiz. Então, pensei que fosse derivado da minha função como guardião da terra. E guerreiro protetor da princesa. O que se confirmou há pouco tempo.

Contudo, por algum motivo, via somente o que estava acontecendo no Reino Lunar, misturado a um borrão da Serena com suas feições um tanto preocupadas. Queria me levar ao hospital, mas não permiti, achei também que seria demais mandá-la embora. Quando estivesse em condições, encerraria a conversa e, dessa forma, tentar lidar com a situação da maneira mais adequada possível.

- O que... - falei, melhor, sussurei com o que parecia tão real.

Voltava a ver as imagens de destruição no Reino Lunar e, novamente, aquela voz ecoando impiedosamente. Quatro guerreiras corriam para conter o avanço do mal em batalha, mas desapareceram. Rini estava assustada chamando pelos pais e se refugiava. Depois da expansão de energia maligna notei, ainda que de longe, o que parecia ser um vulto, era um vulto de princesa. Mas... estava diferente, caída no chão... coberta de sangue...

_ _ _ _ _


Sem escolha, me sentei no banco ao seu lado. Peguei em seus ombros, puxando-o até mim. Senti ele cedendo, meu coração estava acelerado não de paixão, no momento de pura preocupação. Inclinei seu corpo até deitá-lo sob minhas pernas. Ele começou a balbuciar palavras sem sentido, seu mal-estar parecia aumentar. Fiquei mais preocupada ainda. Estava ficando tarde e não havia ninguém ali. Olhei para Darien em meus braços, que mantinha os olhos fechados. O que estava havendo?

Percebi que não tinha febre, com uma das mãos em sua testa. Quantas coisas que estavam acontecendo e não tinha parado para prestar atenção? Era mesmo uma tonta. Não aguentava ver Darien daquele jeito, se ao menos pudesse, mas ele definitivamente não iria me ouvir... Só queria que ficasse ali com ele. Como se tivesse, enfim, se desarmado. Ainda existia algum sentimento dele por mim. Não sabia, só sentia.

- Darien, pode me ouvir? - falei pausadamente.


Ele abriu os olhos e, aos poucos, tentou se levantar. Não queria deixar, mas ele fez sinal de que já podia se recompor. Parou sentado no banco e fiquei aliviada por vê-lo melhorar.

- Está se sentindo melhor?! - exclamei com a pergunta.

Darien confirmou positivamente com a cabeça. Em seguida, se ergueu do banco, afirmando que me levaria para casa. Falei que não era preciso, mas ele respondeu dizendo:

- Não aconteceu nada de mais, foi apenas um incomodo momentâneo. Creio que já conversamos tudo que tínhamos para conversar.

- Mas...

- É hora de voltar para casa. - resumiu.

Não me conformava. Definitivamente, não era o Darien que conheci. Embora tenha parecido com ele por alguns momentos, agora havia evaporado por completo.

Darien pegou o carro estacionado há poucas quadras. Por minha vez, segui logo atrás, entrando no banco do passageiro. Não trocamos nenhuma palavra um com o outro. Ambos ficaram mudos. Quando parou o veículo, em frente a minha casa, olhei para ele, mas ele olhava para a frente, como se ainda estivesse dirigindo. Voltava a me evitar, daí simplesmente desci do carro e fechei a porta, andando sem olhar para trás. Ouvi o carro partindo atrás de mim.

Cheguei em casa e fui direito para meu quarto. As luzes estavam apagadas, todos deviam estar dormindo, pois já passava da meia-noite.

Rini dormia no quarto com meus pais, achava que lá havia mais espaço para ela. Mamãe a convenceu a voltar para meus aposentos depois de alguns dias, quando chegasse o pedido da cama nova dela para instalar no meu quarto. Pobre Rini... amanhã o dia iria ser longo para ela.
Fechei a porta e comecei a chorar, deitando sobre a cama. Realmente, estava chorando muito por esses tempos. Tinha o sentimento de que Darien ainda sentia algo por mim, apesar de ter dito o que disse, mas não tinha ideia de como ajudá-lo. É era difícil ajudar quem aparentemente não queria ajuda, para não dizer impossível.

Aquelas palavras, aquela crise, que conclusão poderia tirar? Chorei muito ali, encolhida na cama. Precisava colocar para fora toda a tristeza aqui dentro de mim. Uma vontade de morrer me possuía, sentia meu mundo acabar. Peguei o travesseiro para abafar os soluços. Não queria que ninguém me visse àquela hora aos prantos. De onde estava, vi o porta retrato sob a escrivaninha com uma fotografia nossa, tirada há alguns meses, poucos dias antes de terminarmos.

Não éramos mais um nós, como fomos um dia. Tinha que aceitar o fim definitivamente. Mais lágrimas me vinham aos olhos. Em meio à dor, me veio uma ideia.

Levantei e abri algumas gavetas, tirei algumas coisas que marcaram nossa história: cartas, presentes, inclusive a foto do porta retrato. Separei tudo e coloquei em cima da cama. Tirei uma caixa do armário e voltei pegando os objetos deixados na cama e coloquei na caixa. Não era muita coisa, logo pus todos os pertences ali. Cada objeto tinha um valor sentimental...
Decidi me desfazer das lembranças materiais, embora soubesse no fundo que não seria fácil conviver com o que ainda sinto por ele. Se ele ao menos me contasse o que estava acontecendo... Contudo, queria parar de sofrer tanto. Teria mais uma conversa com ele amanhã. Provavelmente, a última.

Deitei novamente, abraçada a caixa. Nem troquei de roupa. Dormi pouco onde estava. Quando olhei a hora, vi que iria amanhecer em pouco tempo. O dia seria duro para muitos, queria reunir a mínima força para lidar com o que estaria por vir. Seria o fim de um começo? Não sabia, precisava viver para saber. Ou muito mais que isso.

Ilana Sam
26/04/2012

_ _ _ _ _


Ufa! Primeiro capítulo terminado do meu primeiríssimo fanfic... O que acharam? Misturei as ideias e fiz o possível para não me estender demais.

O Darien tem um pouco mais de autonomia aqui, apesar dos pensamentos da Serena predominarem a maior parte da história. Aliás, em relação a outras fases, eu considero Sailor Moon R como a fase de maior autonomia do Darien. O segredo já foi revelado: ele e Serena já sabem da identidade um do outro. A maior parte das lembranças do passado já foi recuperada, quanto as lembranças do futuro... Quem sabe?

Achei melhor não delongar demais sobre o rompimento entre Darien e Serena, tentando me aproximar mais do sentido R (romantic) do termo. Darien continua mais distante do que nunca. Como alguém já mais maduro e experiente, mantém sua postura implacável diante da ausência de novas informações que põem em risco a vida de sua querida Odango Atama, o que obriga a Serena a amadurecer emocionalmente. Foi-se sua “paixonite” pelo Andrew, realmente é uma nova fase de descobertas e experiências para ela.

Rini aparecerá quando for preciso. Não será um “obstáculo” entre Serena e Darien, acho que isso já foi bem explorado no próprio anime. A ideia é a questão de escolhas que cada um dos protagonistas decidiu fazer. Ambos estão tentando viver um amor pendente ainda da fase C (classic) apesar de estarem longe um do outro. Isso ainda vai dar o que falar, pois eles terão que assumir as consequências de seus atos e lidar com elas.

E agora? O que a Serena vai fazer? E o Darien? Isso vai depender dos acontecimentos.

Sugestões e críticas serão sempre bem-vindas! E-mail: ilanapr@hotmail.com.

Até o próximo capítulo!

2 comentários:

  1. estou adorando sua fic, Parabéns!!!

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  2. Muito boa sua fic! Cheia de detalhes, prende muito à atenção.
    Vou ler todas de sua autoria, sobre o tema Sailor Moon!
    Parabéns pelo talento!

    ResponderExcluir

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