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Meu Passado Ficará Em Seu Futuro § 6 – Em Uma Encruzilhada


Notas Iniciais:
 
Após este longo inverno, de errr anos... Esta fic retorna! Mas as coisas ainda não mudaram, os direitos dos Cavaleiros do Zodíaco continuam não sendo meus, eu continuo não ganhando nada com esta história. Também devo lembrar a idade dos personagens está alterada, o Aioria não ganhou a armadura com 7 anos e outros detalhes que nem importam, né? Por fim, espero que a Vane, de quem esta fic é presente há 6 anos aproveite o capítulo, ainda que ele esteja infestado de Aioria, lol!

Olho Azul Apresenta:
Meu Passado Ficará
Em Seu Futuro


Capítulo 6 – Em Uma Encruzilhada

“Nagareboshi kazoeteta
Kimi to deaeta kiseki ga
Ima boku ni
Ikite iru imi wo
Oshiete kureta kara
I believe


O milagre de tê-lo encontrado,
Enquanto contava as estrelas cadentes,
Ensinou-me
Uma razão para viver agora
E por isso eu acredito.

-Mika Nakashima-

  Aioria apenas sabia que não estava gostando daquela situação. Olhou para Miro, buscando alguma ajuda, mas, tal qual acontecera dois dias antes quando se apresentara diante do mestre do Santuário, o cavaleiro de Escorpião não lhe oferecia qualquer consolo a não ser uma sacudida de ombros e um sorriso. Conseguia entender que merecia alguma punição por faltar a um evento promovido por Athena, mas por que ela própria não lho dizia pessoalmente, por que tinha que ser Kanon, o qual pronunciara cada palavra da forma mais debochada possível?

  Terminou de vestir aquelas roupas típicas de alguém de uma das aldeias que rodeavam o Santuário e voltou para Marin. Aquele só podia ser um toque cruel pelo próprio melhor amigo... Por que ela tinha que ajudá-lo naquilo? Não era como se amazonas precisassem de maquiagem, pelo menos, não aquelas que usavam máscara e poucos dias antes ele mesmo pudera ver que Marin não utilizava nem vestígio de batom ou base enquanto lhe cuidava.

  Ainda assim, a moça diligentemente passou cada um dos produtos à sua frente como se fosse experiente naquilo. Seu toque era tão suave que dava sono em Aioria. Então, antes de finalizar seu rosto, começou a pôr grampos em seus cabelos.

  Indagara ao Mestre por que não podiam chamar qualquer outra para lhe auxiliar, ao que Kanon lhe respondera claramente que a missão exigiria o máximo de sigilo.

  E por que tinha que ser Aioria? Ele não se importava de atuar em qualquer outro lugar, mas, na posição em que o poriam, o próprio cavaleiro de leão tinha dúvidas se seria de alguma utilidade, pois não contaria com sua armadura e estaria com roupas que tornariam qualquer autodefesa impossível. O Mestre riu-se:

“Foi você quem descumpriu as ordens aqui, pare de resmungar,” com essa resposta, Aioria continuava em dúvida se aquele plano todo não seria para deixá-lo em tal situação vexatória.

  Marin deixou escapar o som de seu belo sorriso por trás da máscara, dando o toque final na maquiagem e virando-se para pegar a última parte do disfarce. Servir de isca já deixa o cavaleiro preocupado. Maquiar-se e usar aquelas roupas também. Mas ver o amor de sua vida pôr-lhe uma peruca com enormes cachos dourados sem dúvidas devia ser o pior dos golpes. Miro lhe pagaria por sugerir a ajuda de Marin...

- Acho que ficou perfeito! – E bateu palma como que para enfatizar. – Não sabia que conseguiria fazer algo assim. Mesmo antes de me tornar amazona, nunca fui de me maquiar.

  Aioria levantou-se ainda tonto e desacostumado com o vestido que usava. Caminhou até o enorme espelho e sentiu-se um real travesti:

- Acha mesmo que alguém vai cair nessa?
- Quer dizer que não gostou da maquiagem? – O tom de sua voz transparecia a decepção que devia estar estampada em seu rosto.
- Não, de jeito nenhum! Meu rosto está perfeito! – retratou-se, fingindo um sorriso de mulher. – É só que eu sou um pouco grande demais pra isto.
- E todas as mulheres precisam ser mignon? – Desta vez a indignação era que parecia clara. – Você acha que se não for do tipo delicada não é uma mulher?
- Eu sou um homem, só digo isso... – Mas desistira de discutir. Não queria chatear Marin.
- No momento está uma linda mulher!

  Ele não conseguia acreditar quanto mais se olhava no espelho. Sempre se sentira na forma ideal, um real exemplo de macheza apesar de não ser como Aldebaran, sempre confiara em seu próprio corpo. Ser chamado de “linda mulher” soava-lhe no mínimo ofensivo e fazia-o questionar sua própria aparência.

  Foi quando ouviu novos risos, que desta vez não apreciam ser de satisfação.

- Não fique com essa cara preocupada que vai estragar a maquiagem, - o tom de Marin tornara-se de deboche.
- Quer dizer que desde o início você estava achando engraçado, né!? – Levantou as sobrancelhas recém-feitas pela primeira vez na vida.
- Eu só não queria baixar sua auto-estima.
- Esta roupa de baixo toda rendada já o tinha feito... – Começou a levantar o vestido quando percebeu que sentia vergonha daquilo, o que apenas contribuiu para se sentir pior.
- Não me descreva! – reclamou Marin, fingindo pôr a mão sobre a máscara.

  Ambos caíram em ma gargalhada um pouco mais descontraída, a qual foi interrompida por apressadas batidas na porta. Antes que pudessem responder, Saga entrou. Não usava armadura alguma, mas um uniforme de soldado. Vê-lo disfarçado assim deixava Aioria mais tranquilo por perceber que além de uma punição, aquele plano também era algo sério.

- Tomem cuidado... – disse Marin, juntando todos os produtos usados, - Eu estarei lá perto, mas como já me revelei ao Capitão não poderei ajudá-los.
- Ainda acho que daria mais certo se usássemos você como isca... – insistiu Saga.
- Não é?! Eu adoraria vê-la toda arrumadinha... – Aioria pôs-se a fazer a figura mental.
- Não atacariam uma aldeã de máscara. – A amazona fechou a maleta e a pôs em um canto. – E repito, se continuar fazendo essas caras e bocas só pra ser engraçado, vai estragar a maquiagem. Já basta o quanto acabará suando com esse calor...
- Mas vai ser de noite. Deve fazer frio.
- Pelo menos teremos outra isca mais adequada... – disse Saga, virando-se para sair, como sinal que Aioria o acompanhasse.

  Chegaram os três até o próximo quarto em cuja porta o cavaleiro de gêmeos bateu poucas vezes e logo entrou, tal qual havia feito antes. A jovem do outro lado virou-se para o outro lado dando um pequeno grito com o susto e fazendo seus cabelos negros e ondulados balançarem com o movimento.

- É realmente outro nível... – disse Marin ganhando um olhar chateado de Aioria.
- Afrodite, pare de brincadeiras e vamos logo nos reunir com o resto! – brigou Saga.
- Ainda tenho algumas cosias que arrumar! – O cavaleiro de Peixes pegou mais produtos na maleta, como se nem percebesse a outra pessoa em seu quarto.
- Ele não me deixou fazer nada... – Shaina fez um gesto de quem também não se importava.
- Quantos estão envolvidos? – perguntou Marin.

  Aioria também se surpreendera ao ver a segunda amazona. Tinha certeza de Kanon, Saga, Miro, Marin, Afrodite e ele mesmo. Também suspeitava que Shura estivesse envolvido, pois ouvira Kanon falar seu nome ao gêmeo, mas não exatamente em que contexto. Eram sem dúvidas uma grande força, exceto que metade não poderia se revelar e Kanon sequer estaria na cena principal.

  Pensando assim, sentia-se aliviado que não fosse Marin a ser usada de isca, mas dando qualquer problema, ela estaria entre os primeiros a se mostrarem, o que ainda representava algum perigo.

- Acho que estou pronto, - disse Afrodite, ou melhor, aquela mulher morena que seria sua amiga naquela noite. Era incrível como aquele cavaleiro lograra parecer tão atraente, não mentiam ao dizerem ser ele o mais bonito das pessoas do Santuário.
- E eu ainda não acredito que meus soldados estejam envolvidos. – Shaina balançou a cabeça.
- Eles não mais são sua responsabilidade há algum tempo, - retrucou Saga, mas sem obter qualquer efeito.
- Ainda converso com vários, é como se fossem.
- O problema claramente não é de todos e faremos a limpeza hoje, - interrompeu Marin olhando para Aioria, - Confio na atuação de vocês.

  E partiram as duas “moças” com Saga até um automóvel de vidro escuro que as levaria ao local onde os demais cavaleiros envolvidos os aguardavam.

  A viagem durara quase duas horas em que o cavaleiro de gêmeos repetia todas as informações. Aquela era uma aldeia bem afastada; chegariam pelo lado externo para evitar que soldados fazendo ronda os visse. Graças ao auxílio de Shaina, a informação que obtiveram era que a tal “batida” aconteceria naquele mesmo dia, pois o Cavaleiro de Prata não mais se encontrava lá, não havendo retornado desde o rebuliço que provocara três dias antes.

- Ouvi que você o tinha prendido, - disse Aioria a Saga, franzindo a testa.
- Ah, sim, ele está conosco. – respondeu olhando pela janela, - O que importa é que vocês deverão mostrar-se indefesas o bastante para serem as escolhidas. Consideramos esvaziar a vila de outras mulheres, mas isso poderia chamar atenção, seria deixar gente demais sabendo da tocaia.
- Não se preocupe, Saga. – O olhar de Afrodite perdera todo o encanto de quando estava no vestiário. – Eu os pegarei.

  Aioria sentiu medo, estando no meio das duas figuras.

  O motorista parou assim que começaram a avistar as primeiras casas. Deveriam caminhar apenas os dois dali em diante até o local da vila mais próximo da entrada do santuário e, então, ter certeza de que seriam eles as vítimas. Lançou novamente o olhar para o cavaleiro de peixes que ajustava se leve vestido róseo e prendia parte de sua peruca com os próprios fios de cabelo negro. Parecia estar entrando em sua personagem, diferente da pessoa segura de momentos antes.

- Eu vou para o ponto marcado com os outros. Vocês sigam em frente, tentem não levantar suspeitas dos próprios moradores. Ah, e um recado do dono deste plano: se alguém daqui se ferir, vocês morrem.

  Aioria percebeu Afrodite engolir em seco. Ele próprio tinha motivo para se sentir nervoso, já que era sua própria punição, mas Afrodite era o anjo que os demais deviam ter encontrado, a principal peça, já que estava verdadeiramente encantador daquela forma, mesmo tentando parecer apenas mais uma aldeã. Houvesse ele se recusado, deveriam chamar amazonas e poucas não usavam máscaras, sendo que nenhuma de que ele se lembrava era confiável e, ao mesmo tempo, desconhecida o bastante daqueles soldados. Descer a servas ou qualquer outra aldeã seria apenas pôr a vida de inocentes em risco. Por isso, estranhava aquela apreensão.

  Dando de ombros para aquelas dúvidas, pois nunca entenderia aquele cavaleiro amante das rosas, ajustou ele mesmo seu vestido, este branco, mas muito parecido com o de Afrodite, apenas mais longo e rodado. Provavelmente, para cobrir o máximo de suas pernas, pois batia quase no meio de suas canelas enquanto o do companheiro terminava acima de seus joelhos.

  Não precisavam agir como amigos, né? Já era problemático demais se equilibrar no salto da sandália, ignorável se comparado ao do outro, mas bastante irritante para o guerreiro que sempre preferira sandálias grossas de borracha quando não andava descalço.

- Devemos conversar? – perguntou a Afrodite, que caminhava tranquilamente, como se voltando de um passeio em um campo de rosas.
- Apenas se houver assunto, - sorriu-lhe.
- Podíamos inventar nomes...
- Não temos assunto, então, cale-se.
- Nossa, você realmente não gosta de mim, né? Já te fiz alguma coisa?
- Não gosto de sua linhagem.
- Ah, é mesmo! O Shura uma vez me contou que vocês treinaram juntos com meu irmão. Como ele realmente era? Se você não gosta dele, a descrição deve ser mais realista. Sempre quis ouvir isso, o outro lado. Gostaria de poder admirá-lo pelo que realmente é, entende?
- Foi apenas um pré-treino e eu cheguei muito depois que a patotinha dele. Não éramos do mesmo grupo, nunca nos falamos muito.
- E como ele parecia de longe, então?
- Um insolente assim como você está sendo. Metendo-se no que não devia. Posando de melhor aluno e não passando de um transgressor!

  Aioria decidiu ignorar o resto da resposta que mais parecia um ataque à sua própria pessoa de tão vívido era o ódio que Afrodite sentia por Aioros.

  Chegaram os cavaleiros ao fim daquela rua que parecia ser a principal e voltaram-se para o relógio de fogo. O fogo de peixes ainda brilhava supremo, havendo o de aquário acabado d esse extinguir. Aioria não se lembrava mais da hora aproximada em que os soldados deveriam chegar à vila, mas tinha a impressão de que ainda custaria. Seus pés doíam, certos de que aquele calçado não fora feito para eles.

  E agora? Afrodite apenas andava ao seu redor como que em algum tour, parecendo encantado com todos os detalhes, mas sem lhe dizer palavra alguma.

  Os detalhes daquela pequena localidade começavam a lhe chamar atenção. Era tão longe de seu templo... Costumava sempre caminhar e treinar, mas nunca ia para aquele lado, por preferir o silêncio. No entanto, aquele ambiente lhe agradava, mal podia esperar por voltar ali e poder ver de perto a vida tomar conta daquelas ruas.

  Avistou de longe uma mulher mais velha com seu filho travando uma longa discussão para a qual o primeiro sempre achava novos argumentos. Os dois entraram na casa, fazendo a porta bater bem alto de tão aborrecida a mulher devia estar. Aioria não costuma discutir com o irmão e ainda não falava quando sua mãe faleceu. Devia ser interessante. Pensou na família que poderia ter no futuro, apesar de ter consciência de o quão raro aquele acontecimento era em sua carreira.

  Automaticamente, sua cabeça começou a imaginar Marin como sua esposa. Os dois haviam trocado um beijo não muito tempo atrás apenas para no dia seguinte ele entrar no quarto e encontrá-lo vazio. Até a vira depois, antes de ser maquiado pela mesma, mas o assunto fora tratado como se não existisse. Havia razão: a cabeça da amazona, mais do que nunca, estava voltada para pôr fim às tais batidas.

  Não tinha muitas esperanças de que estava no meio do plano perfeito, mas Marin devia se acalmar com aquela medida que enfim era tomada pelo Mestre. Logo, poderiam sentar e conversar. A menos que ele ficasse nervoso demais para isso e, só em pensar que teriam mesmo de encarar aquele acontecimento em seu quarto, queria voltar a ser criança.

  Por que entrara naquele trem de pensamentos? Ah, claro; porque Afrodite continuava a fingir que ele sequer estava lá. O script não lhos mandava comportarem-se como duas amigas? Suspirou. Nem começara e já parecia errado. Bem, nem era para Aioria estar ali, Afrodite sempre fora a parte do plano, enquanto o cavaleiro de Leão apenas aceitava a punição que lhe fora imposta.

  Foi quando ouviu um barulho alto de coisas quebrando em alguma casa vizinha.

- Credo, esse pessoal não sabe como esses sustos fazem mal ao nosso coração? – reclamou seu companheiro, ajustando os cabelos em um novo penteado.
- Mas aquela casa está toda escura, será que não entrou algum ladrão? – Aioria sentia toda sua intuição dizendo-lhe que deveria conferir, mas não houve tempo. Algo mexia em seus cabelos vagarosamente. Um frio lhe veio à espinha.

  Ao virar-se, viu um brilho branco na boca do homem musculoso usando roupa de soldado.

- As moças teriam visto o Capitão? – um de mais três que vinham logo atrás perguntou ao se aproximar das duas.

  Afrodite balançou a cabeça, sem sorrir nem encará-los.

- Acho que não são daqui... – disse o primeiro, sem soltar a peruca de Aioria.
- É, parecem tão exóticas!

  O cavaleiro de Leão prendeu a respiração. Aquele soldado estava sendo irônico? Já haviam sido descobertos? Sendo assim, tudo falhara, porque não flagraram ninguém realmente fazendo uma batida.

- Somos de Atenas, - explicou Afrodite, abrindo um sorriso acanhado, - A verdade é que decidimos ver o céu estrelado daqui e nem sabemos mais para onde é a nossa casa. Será que algum de vocês poderia nos acompanhar? São policiais, né?
- Forasteiras? – O soldado ergueu uma sobrancelha.
- Temos permissão, - acrescentou Aioria, fazendo sua voz o mais fina e baixa possível.
- Não pensamos o contrário, é só que este lugar não é um ponto turístico.
- Temos parentes aqui... – Aioria novamente tentou explicar, nervoso por não ver seus cachos dourados livres daquela mão. Estava perto demais... Ou a peruca cairia, ou o outro perceberia a maquiagem. Poderia dizer que gostava de se travestir, mas a suspeita seria levantada também contra Afrodite e o plano teria falhado.

  Outro barulho alto veio da mesma direção.

- Oh, novamente. – Afrodite riu-se. – Mas, então, será que alguém pode vir comigo até onde estou ficando? Esses barulhos... Começo a ficar com medo de ladrão.
- Aqui é um lugar seguro; garantimos! – respondeu prontamente um deles, - Mas já que insiste... Sua amiga virá junto, é? – Sua expressão foi clara quanto a seu desprazer com a possibilidade.

  Aioria estava pronto a xingá-lo, lembrando-se das palavras que Marin lhe jogara mais cedo, ainda que de brincadeira. Realmente, o que os homens tinham contra mulheres maiores!? Contudo, Afrodite fora mais rápido:

- Somos apenas primas distantes. E ela prefere ficar por aqui mesmo. Vocês todos me acompanharão?

  Não era possível que Afrodite pretendesse excluí-lo completamente, certo?

- É claro! – disse o que segurava seu cabelo, soltando-o imediatamente como se Aioria nem existisse.

  Ao vê-los partirem seguindo Afrodite tal como se fosse uma gata no cio, Aioria teve certeza de que aqueles sons na casa próxima não eram normais. O barulho que soara na mesma hora fora alto demais. Mesmo já sendo um cavaleiro de ouro, zelar pela paz era ter certeza de que nem mesmo um ladrão qualquer a perturbasse. Portanto, rumou até a pequena residência, segurando o tecido do vestido com uma das mãos. Parte de si queria seguir o cavaleiro de Peixes e a outra achava aquilo muito mais importante.

- Por que não está junto!? – A voz de Saga o assustara.
- Só quero ver uma coisa aqui. E Afrodite me pareceu bem claro que não me queria atrapalhando agora há pouco.
- Mas que droga! Shura e o outro estão por lá, pelo menos. A menos que Afrodite mude a indicação de onde seria a casa de vocês... – Gêmeos levou a mão ao queixo e olhou de novo na direção em que os demais haviam seguido. – O que acha que há aí?
- Talvez um gato, ou um ladrão. Está quebrando coisas há algum tempo; é tudo o que sei.

  O mais jovem levantou a mão e bateu na porta. Sem resposta, encostou o ouvido ali, apenas para constatar o silêncio. Ficou assim por um momento antes de bater novamente:

- Há alguém aí? – perguntou, forçando uma voz feminina.

  Conseguia sentir a ansiedade de Saga pelo barulho que fazia ao respirar em suas costas. Era como se aquilo fosse um teste e sua resposta estivesse prestes a ser dada como errada.

- Vou entrar! – ameaçou, batendo bem mais alto.
- Seguirei Afrodite... – falou Gêmeos, quase se virando quando Aioria o encarou.

  Tentou dizer-lhe com o olhar que ficasse ali, nem que fosse para provar seu ponto de que pelo menos um ladrão estaria do outro lado.

- Certo, tentarei entrar pelo outro lado, tente distrair quem que seja. – E saiu correndo ao redor da casa.
- Ei, terei que arrombar a porta... – disse, pondo a mão na maçaneta que magicamente abriu.

  Não teve tempo de pensar no esforço que poupara. A visão à sua frente tomara-lhe a mente. Uma jovem estava deitada em cima de cacos de vasos e louça, enquanto um homem enorme de dentes brilhantes segurava sua boca. Os olhos esverdeados da menina pulavam das órbitas, olhando suplicante para a desconhecida que entrara. Então, conseguiu mexer apenas o bastante para lhe falar:

-Fuja!

  E o homem levantou-se, indo para cima de Aioria.

  Ele não era um ladrão qualquer, e sim um soldado do qual o cavaleiro já havia visto a ficha; tratava-se do famoso “Capitão”. Mas sabia que não poderia desferir um golpe ali. A moça ainda estava caída no chão, querendo gritar, mas visivelmente chocada demais para uma reação tão rápida. Além do mais, preferia ser flagrado por Saga para assim obterem mais testemunhas.

- Mas que coisa feia temos aqui... – O Capitão já estava se inclinando, ficando frente a frente com o seu rosto. A luz que vinha de outro cômodo não era o bastante para ter certeza de sua real expressão, mas seu cheiro não lhe era nem um pouco agradável.
- Perdão? – perguntou, tentando ganhar tempo, torcendo para que Saga não houvesse desistido de entrar e ido atrás de Afrodite. Mas por mais que olhava para a direção da luz, não surgia nem sombra.
- Mesmo no escuro, você é muito feia, - disse, pondo a mão em seu rosto, - E olha que está de maquiagem... Mas merece ser punida, né?

  Aioria fechou os olhos, enquanto aquelas mãos se enfiavam por debaixo do vestido. Só precisava resistir mais um pouco e Saga apareceria. Se não, assim que fosse descoberto, atacaria aquele soldado e torceria para que a jovem estivesse disposta a depor. Não pode conter um pequeno gemido de nervoso quando o homem alcançou o início de sua pequena anágua e começou a puxá-la para baixo. Estava perto demais de ser descoberto...

  Começou a se contorcer para distraí-lo, fingindo resistir, mas controlando o próprio reflexo de jogá-lo para longe. Só que em um movimento de cabeça, toda a peruca foi para trás, ameaçando desprender-se dos grampos fixos em seu cabelo de maneira dolorosa.

  Com a anágua, Aioria sentiu começar a descer também a roupa debaixo. Saga... Aquele maldito do Saga lhe pagaria por não confiar nele! Procurou a jovem de antes com os olhos. Se aquele soldado ficasse violento, era melhor que não estivesse por perto. Havia mesmo o risco que a fizesse de refém se estava sendo tão cruel com quem sequer lhe apetecia.

  Um estrondo.

  De repente, sentiu um peso sobre seu peito, onde os seios postiços estavam ameaçando sair do lugar. Olhou para cima para ver mais luz que antes, pois aquele que a bloqueava havia caído. A moça de antes o olhava com seus enormes olhos de esmeralda, mordendo seu lábio inferior. Seus longos cabelos negros estavam em desalinho, mas não tanto quanto a expressão no rosto do desmaiado soldado.

  Ela balbuciou algum nome parecido com o seu, mas o cavaleiro não tinha certeza por haver sido baixo demais. Então, estendeu-lhe a mão morena para ajudá-lo a levantar-se dali.

- Preciso de uma corda bem resistente para amarrá-lo, - disse, sem se preocupar em esconder o próprio sexo.

  Não acreditava na prontidão da mulher que, sem nem acender a luz daquela sala, trouxe o que lhe pedira.

- Consegue amarrar? – perguntou, observando-o atentamente.
- Não sou experiente em nós, mas também não sei se este aqui vai acordar tão cedo... É só garantia enquanto chamo os outros.
- Que outros? E que doideira é essa de se vestir de mulher? Por um segundo, até eu me confundi... Mas se estivesse claro, não acho que ele se enganaria. E se seus golpes falhassem? E se continuassem te acusando? E se te levassem de novo para longe!? – Seu rosto estava molhando enquanto o abraçava repentinamente, o que o lançara ao chão, enterrado com seu choro intermitente.
- Senhora...? – tentou chamá-la, pondo uma mão desajeitada em seu ombro. Como fora tão corajosa num momento e no outro perdia o juízo assim?

  A garota parou de supetão e pulou para trás:

- Não é você.
- É, acho que não... – Aioria levou a mão à cabeça, sentindo-se envergonhado mesmo não havendo causado aquela situação.
- Isso quer dizer que ele ainda não voltou...
- Ele? Não sei de quem está falando, mas tem um bando de cavaleiro que vai adorar ouvir seu testemunho do que houve aqui. – E fez força para se levantar. - Eu preferia não submetê-la a isso, mas meu amigo que era pra ter entrado pelos fundos nunca apareceu. Pode confirmar isto na frente de outros?
- Sim... – Ela havia perdido todo o brilho de antes, como se seus olhos houvessem se tornado cinza. – Você é do Santuário? – Um novo brilho faiscava tímido.
- Sim, viemos parar com estas batidas às aldeias mais distantes. – Pôs seu pé, ainda preso ao sapato em cima do soldado preso, como que para apontá-lo.
- Saberiam algo sobre o Cavaleiro de Prata?
- Hm? Ah, ele ficava por aqui, né?
- Quando o vi, podia jurar que fosse ele. Há três dias o senhor Saga ordenou que o prendessem e nunca mais obtive notícias.
- Tudo o que me disseram é que “está conosco”. Mas se foi o Saga que o prendeu, deve estar tudo bem. Qual é o seu nome?
- Ena... – Permanecia sentada, sem qualquer ímpeto de se erguer.
- Então, Ena, podia vir comigo buscar o pessoal? Aí você fala tudo e pede para ver esse seu amigo. – Aioria retirou toda a peruca e a touca que cobria seus cabelos, não mais aguentando o calor.
- Minha irmã está dormindo, não posso deixá-la com este homem.

  Não tinha certeza como proceder, então decidiu abrir a janela que tinha vista para a rua. De lá poderia aguardar que todos retornassem. Deviam vir buscá-lo, certo?

- Vocês se parecem tanto... – Ena continuou vindo até seu lado.
- Ninguém nunca comentou isso. Se bem que meus amigos que o viram não prestaram atenção.
- São daqui da vila?
- Não, foi num dia em que ele pregava cartazes pelo Santuário. – Aioria riu-se, imaginando a cara de Miro ao ver que Marin decidira pôr o próprio nome em jogo e sabendo que teria que ajudá-la também. Mas preferia ele mesmo ter ido lá; pensando bem aqueles soldados não era tão inofensivos assim e se pegassem a amazona de surpresa, poderia ter resultado em algo ruim sem outro que guardasse suas costas.

  Olhou para os dois lados da rua, um ainda conseguia ver o final da vila e o outro mostrava o caminho de onde Afrodite e ele vieram e por onde este retornara com os soldados que os abordaram.

  Um grito aguda o pôs em alerta novamente. Seus olhos foram direto para o soldado desfalecido, mas constatou que assim continuava.

- Minha irmã! – Ena disse desesperada e pálida.

  Aioria a puxou, como se pedindo que ficasse ali e foi ele próprio na direção de onde aquele brado viera. A porta estava entreaberta, mas não fora por ali que os dois soldados lá dentro entraram e sim pela janela escancarada para o beco por onde Saga teria passado tempos antes.

  O rosto da segunda jovem fora coberto com o lençol e um já deitava acima de corpo inteiro, prendendo o corpo com suas coxas. O segundo já estava com um travesseiro em mãos para cobri-la, enquanto o primeiro puxava sua camisola, expondo suas roupas íntimas.

  Tinha que pensar rápido, antes que a refém morresse sufocada. Enquanto raciocinava a força de golpe que poderia usar, não mais precisando esconder sua identidade, uma figura correu pela porta e pulou em cima do soldado que prendia a menina, o qual soltou um urro. Uma substância vermelha manchava suas roupas, saindo de onde a faca fora cravada por Ena, já segurada pelo agressor restante.

  Daquele jeito, Aioria tinha ainda mais a perder caso errasse seu golpe, por isso teria que se usar de uma estratégia mais perigosa. Acertou sua postura de forma rígida e os encarou:

- Parem neste momento, soldados de Athena.

  Os dois o olharam, mas ainda não livraram nenhuma das duas.

- Por favor, afastem-se delas e considerem-se detidos pelo cavaleiro de Leão.

  A surpresa provocada em todos os três era clara. Realmente, ainda não havia se revelado nem para aquela menina. Só que sua autoridade não suprira a necessidade e os soldados começaram a rir.

- Seu marido, minha senhora? – perguntou o que segurava Ena, sem parar sua gargalhada.

  Ascendeu seu cosmos, como última tentativa de aviso. Eles não entendiam bem como aquele poder funcionava, mas seria impossível que não o percebessem. E assim aconteceu, exceto que eles apenas pararam de rir e se olharam.

  Se Aioria atacasse o soldado na cama, outro poderia matar Ena, e sua irmã desta correria perigo se o ataque fosse para outra direção. Deveria contar com a sorte de seus golpes serem tão rápidos que aqueles meros humanos não perceberiam? Desejou possuir a coragem de seu irmão para tal, capaz de pular na frente de uma adaga e salvar um bebê do berço sem nem um décimo daquele tempo para pensar.

  Sim, Aioros confiaria na própria habilidade. E era o que o mais novo deveria fazer, afinal, duvidar da sua seria duvidar da de seu irmão que tudo lhe ensinara. Inspirou fundo e olhou aquela cena pela última vez antes de queimar o cosmos e mover-se na velocidade da luz, nocauteando ambos e carregando consigo as duas irmãs, uma em cada braço.

  Apenas não contava com uma ponta de lança que era cravada em suas costas assim que se dera por salvo. Ena berrou no mesmo momento.

- Então, a feiosa quer desafiar nosso poderio... Não sei como conseguiu salvá-las, mas agora foi presa na minha lança. – Aquela voz vinha do Capitão.

  Aioria olhou para o próprio estômago e percebeu a outra ponta da arma ali, atravessada.

- Senhor cavaleiro! – pediu Ena, mas ele não sabia mais o que fazer.

  Impulsionou-se para a frente com toda a força, de forma a confiar na reação lenta do Capitão para puxar a lança consigo. Se a arrancasse, seu sangue sairia todo do corpo e acabaria desmaiando ainda que temporariamente; contudo, seria o bastante para pôr a vida daquelas duas em risco uma vez mais.

  Entretanto, fora exatamente o que aconteceu. O Capitão, de fato, tivera uma reação lenta, mas esta fora a de não soltar a lança em nenhuma hipótese quando Aioria jogou o corpo para a frente. O cavaleiro viu a ponta desaparecer, mexendo-se dolorosamente por dentro de si e começou a sentir a vista apagar, incerto se ainda mantinha seus pés no chão. Não deveria soltar suas protegidas, era apenas o que se repetia. Por maior que fosse o tombo, precisava combater o reflexo de usar as mãos como escudo. E se aquilo fosse possível, também gostaria de sentir-se acordado. Seu coração batia forte. Seu corpo suava. Sua pele se arrepiava de frio. Estava tudo se apagando, mas manteria a força em suas mãos.

  Virou a cabeça para trás enquanto o quarto girava à sua frente e deu uma última olhada no soldado. Um cavaleiro de ouro, incapaz de vencer um soldado? Não podia ficar assim. E sentiu seu cosmo aquecer o corpo que já lhe falhava.

  Parecera uma eternidade aquele segundo, mas uma voz em sua cabeça o acordara o bastante para se fincar de novo no chão e manter-se acordado. Livrou as meninas, tendo o cuidado de deixá-las atrás de si e voltou-se para o rival, em posição de ataque. Não havia mais reféns, nenhum outro obstáculo, a não ser descontrolar-se e acabar por matá-lo.

- Relâmpago de plasma! – bradou, desferindo milhões de socos em diferentes trajetórias na direção do Capitão, que apenas ficou olhando sem nunca largar a lança de onde pingava o sangue.

  Havia tentado segurar boa parte da potência daquele golpe, ainda que dentro de si preferisse uma morte terrível àquele por suas próprias mãos, sentiu-se aliviado ao vê-lo caído mais ainda se mexendo. A ajuda chegaria logo agora que sentiram seu cosmos queimar; o Capitão seria tratado e mereceria a punição mais justa que o Mestre e Athena lhe encontrassem. Tudo ficaria bem.

  Exceto que ele já havia caído no chão, já sem forças. De longe ouvia alguém gritar seu nome em uma voz nostálgica vinda muito possivelmente do outro mundo. Gostaria de ir até ela para que pudessem conversar após tanto tempo... Mas não seria possível ainda, Aioria só iria dormir um pouco naquele quarto.

Continuará...

Anita, 11/01/2010


Notas da Autora:

Milagre! Pela segunda vez, acho eu, esta fic foi ressuscitada! Bem, está com um desfecho um pouco mais rápido que o originalmente planejado, mas gosto mais assim. Infelizmente, este capítulo foi todo sobre o Aioria. Não teve outro jeito, a cena era longa demais... Espero compensar um pouco.

E sei que as chances de um cavaleiro se ferir tanto contra um soldado são pequenas, mas o Aioria primeiro não queria chamar atenção, depois foi surpreendido e depois seu plano de se afastar sem tirar a lança de sua barriga não funcionou. Eu sei que soa impossível, mas realmente acredito que ele não estivesse em posição de simplesmente sair atirando pra tudo quanto era lado. Ele preferiu agir com cautela. Estou aberta a outras opiniões; só queria deixar claro que percebi que é uma situação difícil e foi assim que eu a interpretei. :D


Qualquer comentário, crítica, sugestões, etc meu e-mail é Anita_fiction@yahoo.com e para outras fics vocês podem sempre visitar o Olho Azul http://olhoazul.50webs.com/ onde tento publicar minha obra completa. :D


Obrigada por ter lido até aqui e os vejo no próximo e último capítulo! Aliás... Em algum deles! Como vocês podem perceber, ainda há dois capítulos para lerem e os dois são o sétimo capítulo. Como não consegui me decidir quanto a uma coisa, um detalhezinho, achei melhor deixar o próprio leitor decidir né? É bem simples, como podem ver!


Aioros deve levar logo a Ena para o Santuário ou ficar mais um pouco na vila?



Se você acha que eles precisam ficar mais um pouco na vila, sigam para o capítulo 7-A;

Se você acha que eles precisam voltar ao Santuário logo, pulem a versão A e sigam para o capítulo 7-B.



Não tenham medo de perder muito, os capítulos são quase idênticos! Vocês não precisam ler os dois, mas também não são proibidos. Ah, e me contem o que acharam depois! Nunca fiz algo assim antes e errr, se preferirem nunca mais farei. Não que se vocês gostarem eu pretenda fazê-lo tão cedo novamente, hehe.

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