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Meu Passado Ficará Em Seu Futuro § 7B – O Tempo que Passou


Notas Iniciais:  
Então você decidiu que o Aioros precisa ficar mais um pouco na vila? Bem, seu desejo é uma ordem, mas lembre-se que há sempre consequências, sejam boas ou ruins. A questão é que não importa aonde o Aioros vá, Cavaleiros do Zodíaco não é de minha propriedade. Acho que só a Ena e a Dora valem a pena serem destacadas como minhas, o resto, infelizmente.... é usado sem autorização, mas também sem a intenção de obter qualquer lucro. Este é o último capítulo da fic que foi uma presente para a Vane. Feliz Aniversário!!!


Olho Azul Apresenta:  
Meu Passado Ficará
Em Seu Futuro


Capítulo 7B – O Tempo que Passou

daarin daarin ironna kakudo kara kimi wo mite kita
sono dore mo ga subarashikute boku wa ai wo omoi shiru n da
‘hanshinhangi = kizutsukanai tame no yobousen’ wo
ima, bimyou na nyuansu de kimi wa shimesou toshite iru

Querida, querida, eu acabei por vê-la de vários ângulos,
E em cada um deles você estava linda, e me fizeram meu amor pro você.
Agora, você parece me mostrar a sutil distinção entre
Estar meio em dúvida e proteger-se para não se machucar.
-Mr. Children-

  Ena estava quase sem ar quando ouviu aquela voz chamar por alguém. E esta se aproximava cada vez mais até encarar a mesma cena que a jovem: três soldados caídos, mais um completamente ensangüentado, ajoelhado no chão e provavelmente inconsciente, pois o tempo todo ficara inerte. Sentia-se tão emocionalmente desgastada que não esboçara reação ao ver o homem que salvara três meses antes após cair do céu bem na sua frente e o qual não via havia dias.

  Seu nome, havia descoberto momentos antes de nunca mais vê-lo. Aioros... Para ninguém aquilo tinha importância, mas alguns soldados comentaram já terem ouvido de um cavaleiro desse nome, apesar de incertos sobre a qual categoria esse homônimo pertenceria, ou mesmo, se poderia tratar-se da mesma pessoa.

- Aioria! – O recém-chegado agachou-se em frente ao que acabara de protegê-la e começou a sacudi-lo.

  Ena também foi correndo a seu encontro, temendo que talvez aquele herói não estivesse apenas desmaiado.

- Ele nos salvou do Capitão... – explicou a Aioros, ainda tonta, pondo a mão no rosto maquiado do outro.
- Acho que ele vai ficar bem, mas precisamos levá-lo de volta ao Santuário. – Um terceiro homem apareceu à porta de olhos e cabelos azulados vestindo roupa de soldado. Ela o conhecia do dia em que o mesmo lhe levara seu hóspede.
- Mas e você? – perguntou a Aioros, segurando sua mão. Queria o melhor àquele a quem devia a vida, mas não queria mais ficar sem ver seu Cavaleiro de Prata.
- Tenho que ir junto... – respondeu-lhe, virando a cabeça para outro lado, enquanto ajustava o corpo do desfalecido para perto de sim.
- Não haveria problemas se quiser junto. – Saga pôs a mão em seu ombro e ajudou-a a se levantar, enquanto Aioros fazia o mesmo com o rapaz.
- Eu vou ficar bem... – disse sua irmã, ainda trêmula em outro canto do quarto, encolhendo o corpo para afastar-se ao máximo dos agressores.

  Olhou ao redor naquele quarto e titubeou.

- Eu ficarei com ela. – Miro apareceu na porta do quarto. – Não se preocupe, sou o cavaleiro de ouro de Escorpião. – E, voltando-se para a outra: - Aproveitamos e conversamos um pouco sobre estes homens, senhorita...?
- Dora... – respondeu a jovem, ainda sem se mexer mais que o necessário.
- Vou pedir que uns cavaleiros recolham estes aqui e, enquanto isso, vamos andar um pouco lá fora. Por que não se troca?
- É uma boa ideia, não é, minha irmã? – Ena sorriu, consciente de ter sobre si o olhar de Aioros, o qual já tinha nos braços o cavaleiro ferido.
- Os médicos devem chegar dentro de uma hora; é melhor deixá-lo aqui, - disse-lhe Saga.
- Pode deitá-lo no sofá da sala. É melhor que o chão. Também preferia me trocar enquanto esperamos o socorro...

  Aioros assentiu, levando o ferido para o local onde dormira naqueles meses. Sua familiaridade com os ambientes da casa transparecia, assim como com os cavaleiros de ouro.

  Ena correu para o banheiro junto com a irmã e suas mudas de roupa. Saiu após um rápido banho sem aguardar até que a outra terminasse o seu próprio, pois ansiava por encontrar Aioros a sós. Não entendia como tudo poderia mudar tão rápido. No entanto, ele não saíra do lado do outro rapaz deitado no sofá, ao contrário dos demais que se concentrava do lado de fora. Haviam aberto a porta da frente provavelmente com a chave que dera a Aioros tempos atrás.

- Obrigada por voltar, - disse-lhe, sabendo que corava, - Achei que nunca mais o veria quando você foi levado sem que nem ao menos fizéssemos as pazes.
- É claro que voltaria! Mas, desta vez, não foi só por você...
- Sim, foi por seus novos amigos. – Sabia que havia uma ponta de ressentimento em sua voz. - O que aconteceu no Santuário que o fez não mais odiar ao Senhor Saga? Quer dizer que recobrou sua memória? Ou nunca a havia perdido, Aioros? – Não o tencionara, mas seu tom era demasiado agressivo.
- Acho que nunca a perdi, mas não sei muito bem. Como descobriu meu nome?
- O senhor Saga o proferiu naquele dia e você nunca o corrigiu, ou sequer se espantou.
- A verdade é que, - soltou uma leve gargalhada, - viajei no tempo. Ou algo assim.
- Perdão? – Ena ergueu ambas as sobrancelhas, sentando-se na cadeira mais próxima. Aioros, por sua vez, preferiu continuar tomando um pouco de espaço daquele sofá.
- Há... dezesseis anos fui dado como morto. E foi como se minha vida tivesse acabado aí, até que acordei aqui em sua casa. Eu lembrava com clareza todos os acontecimentos até eu perder a consciência, mas não podia te contar, pois pensei que assim você seria tratada como cúmplice de um traidor, como haviam me chamado naquela época, só quando Saga me levou ao Santuário é que me contaram que não havia mais motivo para eu fugir, que o tempo havia parado apenas para mim.
- Espera, quer dizer que você ressuscitou naquela noite ou algo assim?

  O cavaleiro deu de ombros:

- Não faz diferença o que houve. Por dezesseis anos, abandonei minha família e, quando acordo, tudo em que penso era me vingar de Saga em vez de voltar imediatamente para minha casa. Ainda por cima, eu a envolvi em tudo isso. Como compensar o tempo que lhe fiz perder com meus delírios e até o dinheiro me sustentando...?
- Fui eu quem o detive aqui, não se lembra? Sua presença aqui me fazia sentir segura. Acredita que assim que vi esse homem abrir a porta, achei que fosse você que tinha vindo me salvar? Eu até pulei em cima dele depois e foi quando percebi que era um desconhecido.

  Aioros começou a rir.

  Por que o fazia? Seu engano era mesmo cômico, ainda mais considerando que o confundira com um cara vestido de mulher, mas não deveria estar bravo acima disso? Se realmente haviam feito as pazes, tudo voltara como antes, né? Como na vez em que se beijaram...

- Aioros... – articulou o nome com que apenas seus pensamentos estavam familiarizados.
- E agora estava me sentindo um pouco orgulhoso. – E levou a mão aos cabelos do jovem adormecido. – Este é meu irmão mais novo, Aioria. Ou pelo menos era para ser mais novo... Da última vez em que o vi, não passava de uma criança e ainda não nos vimos frente a frente. Eu apenas o espiei algumas vezes, sem que fosse percebido.
- Então! Eu fiz com que seu irmão quase morresse!
- Não, Aioria é mais forte que isso. Eu mesmo o treinei. Não sei o que o atrapalhou tanto, mas ele não morreria tão facilmente.

  O cavaleiro de Escorpião entrou pela porta naquele momento, acompanhado de duas amazonas mascaradas e três outras pessoas. Uma dessas mulheres correu em direção ao sofá e encarou Aioros:

- Como ele está?
- Seu nome era Marin, né?
- Ah! – gritou Ena, ante a familiaridade daquela, - Você nos ajudou no outro dia, junto com o senhor Miro.
- Sim... Mas como está Aioria? Eu vim assim que soube...
- Como vê, dormindo. – O irmão voltou a olhá-lo com carinho.
- Quer dizer que ainda não se falaram?
- Quando cheguei, ele já tinha salvado todo mundo. – Após uma pausa, continuou: - É estranho vê-lo de tão perto. – E, então, levantou-se por fim. – Acho que Aioria ficará em boas mãos, como tem estado por todo este tempo. Temos que ir, não é? – Voltou-se para Ena.

  Seguiu-o até o lado de fora onde percebeu que vários soldados os observavam à distância. Tinha certeza de que não chegariam tão rápido quanto os cavaleiros por não possuírem aquela destreza. Estavam ali para as batidas. Encolheu-se um pouco, logo sentindo o corpo de Aioros esbarrando em seu braço ao passar.

  Retomou seu ritmo, caminhando na direção do Santuário:

- Achei que preferisse ficar com ele.
- É, mas ele vai gostar de vê-la ao seu lado quando acordar. Miro me falou do relacionamento especial que eles têm. – Levou a mão à cabeça. – E estou me esforçando para aceitar essa versão adulta do Aioria.

  Ena assentiu com um sorriso, parando para encará-lo:

- Mas será que ele iria preferi-la a você?
- Não sei de preferências, mas sei que eu gostaria de te ver se estivesse naquele sofá, - disse, rindo-se um pouco com o rosto vermelho.

  Então, deu um passo, apenas o bastante para estarem perto demais. Suas respirações se encontravam. A casa de onde saíram ainda estava ali, o caminho por que caminharam também. Os soldados, a montanha do Santuário... E tudo em que Ena podia pensar era em como o ar estava quente.

  Seus lábios não custaram a se encontrar, como que dizendo o quanto sentiram falta uns dos outros. Nem seus braços, ou seus corpos. Estava bastante quente e o calor apenas aumentava junto com a alegria.

  Aioros foi o primeiro a interromper, respirando pesado. Tão quente... Seus olhos, Ena pôde ver ao abrir os seus próprios, pareciam um pouco embaçados. Pareciam um vidro soprado em um dia frio. E frio sentiu mesmo estando agora tão separada daquele rapaz, por isso, abraçou-o com todas as suas forças, buscando produzir mais calor.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Entraram os três no salão do qual mal se podia ver o teto. Aioros já havia ido lá algumas vezes e a sensação não mudara; mesmo não sendo muito comprido, a altura a que o teto do salão de Athena se encontrava fazia-o sentir-se pequeno demais. Continuou a seguir Saga, sentindo o aperto de mão de Ena aumentar na sua. Ela, que estivera nervosa a noite e a manhã toda, agora estava com a mão ainda mais gelada.

  Chegaram ao Santuário após deixarem Aioria com a amazona de Águia e lá receberam a notícia de que Athena havia chegado enfim e que o receberia para o almoço do dia seguinte. Ao ver-se na lista de convidados de honra, a jovem aldeã começara a dizer que estava doente e que, por isso, teria de faltar à cerimônia. O cavaleiro sabia que não passava de nervoso, Ena era capaz de ser a mais corajosa daquele lugar durante um ataque, mas demasiadamente cerimoniosa quando o assunto era Athena. E ele não podia repreendê-la, pois que também se sentia envergonhado só em se imaginar no mesmo ambiente que sua protegida.

  Recordou-se do pequeno bebê que tirara das mãos de Saga dezesseis anos antes. Fora tudo tão rápido que, apenas quando esta o salvara de Shura, é que ele se deu conta da responsabilidade que acabara de assumir. E já era tarde demais, mesmo hoje, ainda sentia o desespero que era imaginar que morreria e deixaria aquele bebê no meio daquelas ruínas. O sol podia atingir temperaturas tão altas que se ela não fosse atacada por algum bicho, morreria com o calor.

  Fora realmente loucura entregá-la ao primeiro que lhe cruzara o caminho, mas era o último ato que suas forças lhe permitiram. Não se lembrava de mais nada após contar o máximo que pôde da importância da pequena menina em seus braços. Achara haver morrido até acordar na casa de Ena e que, talvez, nem houvesse salvado sua deusa.

  A moça a seu lado apertou ainda mais sua mão e Aioros percebeu uma jovem de longos cabelos roxos de pé logo à frente. No mesmo momento, jogou-se ao chão até ali encostar a testa e apresentou-se. Ena o seguiu.

- Vamos, nossos heróis não precisam fazer isso! – disse a deusa, caminhando até o rapaz e agachando-se. Suas mãos tão brancas foram postas sobre seus ombros, mostrando toda sua firmeza. – Eu é que deveria me curvar à sua frente, Aioros. Devo minha vida a você e, ainda que esteja feliz em vê-lo tão bem, nunca poderia pagar os anos que perdeu por minha causa. – Levou uma das mãos a sua cabeça e levantou-se. – Agora, vamos almoçar? Precisamos celebrar o fim da banda podre dos soldados! Você também, Ena! E ainda acrescento o agradecimento por cuidar de meu cavaleiro durante estes meses.
- Como veem, nossa deusa está bem animada, - disse Saga, ao pé logo à frente com um pequeno sorriso.

  Aioros começou a se levantar, ainda embaraçado de fazê-lo, pois era muito mais alto que ela, e parecia uma falta de respeito forçá-la a lhe olhar para cima. Com o rosto vermelho, tentou ainda curvar um pouco os joelhos e baixar a cabeça, se não fizesse contato visual, não obrigaria que a jovem lhe correspondesse. Mas espiando, viu a naturalidade como ela apenas lhe sorria, falando animada do sucesso da missão de Aioria e Afrodite.

  Olhou ainda para Ena, que também mantinha o olhar no chão, com um rubor nas faces. Ela também era mais alta que a deusa. Sorriu um pouco, era tão difícil vê-la numa situação assim, ainda que fosse exatamente o que ele estivesse sentindo.

  Athena caminhou à frente, guiando-os a outro salão também conhecido de Aioros. No entanto, ele podia ver o quanto as coisas haviam mudado, com vários equipamentos espalhados como câmeras, ou era isso que algumas placas diziam ser umas bolinhas metálicas. Havia outras no teto para o caso de incêndio, ainda que o rapaz não conseguisse imaginar o que fariam. E alarmes. Muitos alarmes.

- E como Aioria reagiu, afinal? – perguntou-lhe Athena, após sua conversa com Saga sobre os detalhes da ação do dia anterior.
- Ele ainda não sabe sobre o irmão... – Saga fez o favor de responder após o silêncio de Aioros.

  Seu irmão mais novo havia sido transportado para o hospital dali e Aioros considerara passar a noite em seu quarto aonde fora com Ena assim que ouviu de sua chegada, mas ao chegar, deparara-se com Marin e preferira deixar assim. Naquela mesma manhã, quando chegara, descobrira que o irmão já havia acordado e saído ainda que não possuísse autorização médica.

- Acho que eu não deveria tê-lo convidado, então, - disse a jovem levando uma mão ao queixo em uma expressão pensativa.
- Chamou o Aioria?! – indagou Saga visivelmente surpreso.
- Ele também cooperou com a missão, né? – E abriu a enorme porta com as próprias mãos antes que os demais se recuperassem da surpresa. – O problema é que, para garantir que viesse, pedi ao mensageiro que destacasse que o irmão dele também o estaria esperando aqui... Ele não deve ter entendido nada!

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Marin estava bem no final da escadaria entre a casa de Peixes e a do Mestre do Santuário. Sim, o mensageiro havia mencionado que seria um almoço em agradecimento aos que participaram da missão do dia anterior e a amazona estava desde o início investigando as batida, por isso, Aioria não deveria estar surpreso com sua presença ali. Exceto pelo ar que ela emanava. Engoliu em seco antes de passar pelos últimos degraus e ficar frente a frente com a jovem.

- Deveria estar no hospital! Saio um momento para falar com a Shaina e você some?
- Eu estou bem, não vê? Um pouco dolorido, mas bastam alguns dias e não uma cama de hospital. – Sorriu-lhe.

  Marin virou-se e passou a andar, parando apenas para perguntar por que não a estava seguindo, o que o rapaz fez com um sorriso ainda mais aberto.

- Não era para você estar mais nervoso? – ela lhe perguntou assim que entraram no são do mestre.
- Com o quê?
- Seu irmão... Vocês ainda não se viram, né?

  Lembrou-se do estranho anúncio do mensageiro de que Aioros também estaria entre os homenageados naquele almoço. Ainda que pudesse levar aquilo na piada, sabia que não era o estilo de Marin. Franziu a testa:

- Afinal, por que tá todo mundo falando no Aioros? – optou por formular a pergunta assim.

  Acabara de passar por Afrodite, não entendendo por que ele não havia se arrumado para encontrar com a deusa, e perguntou o que acontecera. E ele também mencionara Aioros, apesar de o cavaleiro de leão não haver entendido nada da relação de seu irmão com o outro não ir.

- Achei que já tinham te explicado... – disse Marin, lembrando-lhe exatamente de o que quisesse que Afrodite lhe houvesse tentado responder entre seus grunhidos e resmungos.

  Sentou-se à mesa e ouviu mais umas menções de seu irmão. Shura veio logo conversar com ele e agradecer a ajuda na missão, perguntando se o castigo de Aioros havia sido muito terrível.

- Aioros? – Ergueu as espessas sobrancelhas.
- Ele não te disse que foi o inventor da história de você se vestir de mulher? Confesso que fiquei com pena de vocês dois. Até entendo o Afrodite, ele ficou direitinho, né? Fez bem o papel, mas não merecia punição nenhuma... Se bem que os dois tiveram alguma rixa no passado e só por isso aquele lá obedeceu.
- Acho que já ouvi isso do Afrodite ter prometido servir ao irmão, ou algo assim...
- Pois é! E não é que até hoje o cara ainda foge do Aioros? – Shura riu-se um pouco.
- Do que estão falando? – perguntou Miro, apoiando a mão no ombro de Aioria.

  Ele acabara de chegar; cumprimentou ambos e puxou uma cadeira formando uma roda. Haviam se visto naquela manhã no hospital e fora o cavaleiro de Escorpião quem o ajudara a fugir daquele tédio; ainda assim, imaginava se Miro sabia de alguma notícia que desse sentido a seu irmão haver se tornado o assunto do dia. Shura, no entanto, apressou-se ao mais jovem e pôs o outro em dia.

- Ué, Aioria já se encontrou com o Aioros? – perguntou assim que Shura começou a rir novamente de Afrodite.

  O cavaleiro de capricórnio ficou mudo de repente e olhou Aioria bem nos olhos.

  O barulho da enorme porta que dava no corredor para o salão de Athena se abriu naquele mesmo momento. Mas o som também sumiu de repente para os ouvidos de Aioria quando ele viu o rapaz da fotografia que guardava com tanto carinho caminhar ao lado de sua deusa, como se houvesse sido conjurado de lá tal qual era.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Aioros não sabia ao certo como sentar. Poderia ficar olhando diretamente para seu irmão mais novo ou sua expressão era boba demais para que permitisse ser vista? Era estranho como de repente não se importava mais que Athena estava bem do outro lado na mesa, sorrindo e tentando conversar com ele. Não, ele nem conseguia ouvir suas palavras. Também não ouvia as dos amigos. Pensando bem, Aioria também parecia estar conversando.

  Não era para se sentir tão nervoso, certo? Afinal, não era nem a primeira vez que reencontrava o irmão caçula. Já devia ser a terceira ou quarta. Talvez até a sexta ou sétima. Ainda que Aioria não fizesse ideia de sua presença ali, Aioros o observara atento em todas aquelas vezes. Já era para estar acostumado com a nova altura do jovem, ou sua voz mais grave, ou sua pele áspera, ou sua bochecha recém barbeada.

  Por que as duas amazonas estavam em um almoço, perguntava-se o outro naquele momento. Era estranho se considerassem que todas usavam máscaras, portanto, não poderiam comer ali. Também não havia pratos para elas ou mesmo bebidas. Esperava que pudessem comer depois, que já houvessem comido, pois parecia errado fazê-las observarem todos se empanturrando.

  Tentou formular alguma pergunta, mas não conseguia pensar em nada. Olhou para sua frente e Ena estava distraída com sua comida, ou esforçando-se para não levantar os olhos e encarar sem querer a deusa logo à frente. Após a Deusa, sentava-se Saga, que tentava responder por Aioros a todas as perguntas da menina. Sim, ela ainda era uma menina. Usava palavras pomposas, mas não passava de uma criança. E, após Aioria, Marin tentava fazer perguntas ao próprio Aioros, ou ao menos lhe encarava com a máscara insistentemente após formar palavras que o cavaleiro de Sagitário não conseguia ouvir. Por sorte, Miro, em ao lado de Ena, conseguira responder tudo. Ou era o que Aioros suspeitava.

  Seus ouvidos pareciam ocupados apenas pelas batidas altas de seu coração. Tinha que pensar em algo, tinha que dizer qualquer coisa, não importava mais a qualidade do que saísse.

- Então, vocês pretendem se casar? – perguntou enfim, interrompendo alguma resposta longa que Miro parecia estar dando à amazona fazia um tempo.
- Perdão? – Marin voltou sua cabeça para o homenageado.

  Aioria não dissera uma palavra sequer em resposta à pergunta que demorara tanto para formular.

- Quem vai se casar? – inquiriu Miro com um sorriso.
- Os dois, - respondeu olhando para o irmão e a amazona.

  O cavaleiro de Escorpião começou a tossir, soando engasgado:

- Aioria e Marin? Os dois são só amigos! Nessa terra aí não nasce nada, acredite.
- Vocês vão se casar? – a deusa interrompeu seu cavaleiro, provavelmente sequer lhe dando ouvidos, - Por que não celebramos logo, então? Eu adoraria fazer o casamento de meus cavaleiros. Mestre Kanon, poderia providenciar isso?
- Princesa, acho que não é bem assim que- Saga ainda tentou corrigir o mal entendido.
- Para que adiar, Saga?! – Athena levantou uma taça e pegou emprestado o garfo intocado de Aioros.

  Em alguns toques, ela já tinha a atenção de toda a mesa.

- Espere, minha deusa! – Aioria levantou-se num repente, parecendo enfim perceber o que havia acontecido.
- Meu admirável cavaleiro de leão. Todos vocês sofreram tanto nesses últimos tempos... Devem saber já a importância de um dia e de como o dia seguinte pode nunca chegar. É por esse mesmo motivo que voto pela celebração do casamento com o máximo de pressa!

  Aioria virou-se para Marin com a face queimando:

- A questão, minha deusa, é que – Mas não conseguia completar a sentença.
- Até que é uma ótima ideia, - interrompeu Miro, sorrindo sem jamais desviar o olhar do casal em questão, - Afinal você nunca teria coragem de fazer a coisa progredir sozinho, né? Seria também um bom descanso pros meus ouvidos...
- Miro! – Aioria correu para o lado da deusa, quase empurrando a cadeira de Saga com o cavaleiro em cima. – Minha deusa, Marin e eu não... Digo...
- Não me importa que tenha uma relação assim, Aioria, - respondeu a deusa, novamente parecendo filtrar o que ouvia, - Na verdade, fico feliz que após tudo vocês consigam uma relação saudável. Todos deveriam seguir seu exemplo e tentar uma vida normal apesar de tudo o que passamos! – E abriu um enorme sorriso para a surpresa do suplicante. – Que talvez fazermos logo a cerimônia? Pedirei a alguém que arrume um traje formal para você e um vestido branco para Marin. Ficará tudo lindo! Afrodite, vá e encarregue-se de enfeitar o salão ao lado com suas melhores rosas. Quero dizer, as rosas que não estejam envenenadas, é claro.
- Sim, minha deusa, - o cavaleiro de peixes levantou-se do lugar mais longe do salão e saiu rapidamente.
- É uma pena eu ter que voltar logo pro Japão... Não poderei ficar para a festa, mas insisto que seja ótima e que não falte nada, ouviu, Kanon?
- Claro, - o Mestre sorriu, não tirando os olhos de Aioria, que estava de joelhos sem conseguir dizer nada.
- Com seu perdão, minha deusa... – Aioros havia se levantado.

  Caminhando até onde seu irmão se encontrava, ajoelhou-se da melhor forma que pôde.

- Ah, ele vai explicar tudo! – Aioria disse, apontando para o mais velho.
- Diga, Aioros. E vocês dois, por favor, levantem-se!
- Tenho um pedido a lhe fazer. Não pretendo atrapalhar esse presente que dará a meu irmão, mas gostaria de sua permissão para logo também contrair matrimônio.
- E por que não fazemos tudo agora?! – perguntou a jovem, parecendo ficar ainda mais eufórica.
- Ma-matrimônio? – Aioria gaguejava, vendo ir pelo ralo sua última chance de esclarecer o equívoco.

  Aioros sorriu para a princesa, mas balançou a cabeça:

- É que ainda não pedi à parte interessada, - disse-o voltando o rosto para Ena que corava o todo em seu assento.
- Vá em frente e faça-o agora, então! – respondeu a deusa, com novo sorriso.

  Aioros assentiu e caminhou até Ena, ajoelhando-se à sua frente e tomando sua mão, antes de fazer o pedido propriamente dito. Mesmo já sabendo do propósito de todos aqueles atos, a menina corava a cada segundo e apenas murmurou um “aceito”, por não conseguir dizer nada além.

  Aioria observou mudo toda cena enquanto seu irmão abraçava a jovem a quem salvara na véspera. Quando haveriam se conhecido? Tinha a impressão de que seus amigos ao redor da mesa comentavam a história do casal, mas não conseguia ouvir, sua cabeça doía demais.

  Seu irmão tivera a coragem de em um repente pedir a mão de uma garota em casamento... Somente Aioros mesmo... Aioria nunca nem teve como conversar com Marin sobre o beijo que trocaram. E agora, nem pelo bem da reputação da amazona, conseguia desfazer o desentendido com a deusa.

  Era um real covarde. Seu irmão acharia isso quando ouvisse que estivera enganado e que pior: bem que Aioria queria que aquilo fosse verdade. E Marin também devia achar isso, ela ficaria ressentida pelo papelão por que o cavaleiro a fazia passar no momento.

  Assustou-se quando sentiu alguém agachar-se a seu lado:

- Não acho que seja uma ideia ruim... Nossa deusa tem razão sobre nunca sabermos do nosso futuro, né?

  Era Marin? Ela mesma estava dizendo aquilo? Não, só podia ser mais um mal entendido. Mas não havia outra interpretação, pelo menos, não uma que fosse tão plausível, por mais absurda que aquela já fosse.

- Quer dizer que... – Aioria tentou confirmar.
- Gostaria de se casar comigo? – perguntou Marin, não mais deixando espaço para qualquer dúvida.

  E Aioria assentiu enfaticamente, pulando para abraçar aquela que tanto amou por tanto tempo.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Aioria olhou para Marin bem a seu lado e lhe sorriu. Após o casamento haviam passado a noite juntos em um hotel de luxo em Atenas, presente da madrinha de casamento, a própria deusa a aquém o nome da cidade fora homenagem. Ela desistira de celebrar a união, pois achava mais interessante ser a madrinha, deixando a cerimônia com Kanon.

  Desceu o casal para o café da manhã, bastante perdidos no meio daquela civilização estranha. Partiriam naquela tarde em uma longa viagem de duas semanas. Era longa, se comparada às folgas de um ou dois dias que normalmente tiravam. Outro presente da madrinha.

  Aioros e Ena já aguardavam no saguão, vieram com Miro e Saga para acompanhá-los até o aeroporto.

- Assim, até eu quero casar. Pena que só tinha a Shaina e ela meio que não quis... – falou Miro, o qual levara um soco da mencionada amazona pouco após Aioria e Marin anunciarem que de fato se casariam. – Diga, Ena, tem certeza de que a Dora não tá a fim? Um cavaleiro deve ser excelente partido... Aposto que ela tá morrendo de inveja de você.

  O irmão mais velho decidira esperar até que a deusa pudesse estar presente para celebrar a própria união com a amada. Então, talvez demorasse ainda alguns meses, mas ele não parecia com pressa. Não que Aioria tivesse juntado coragem de perguntar, na verdade, ouvira isso quando Marin pedira por detalhes a Aioros. Como os dois haviam virado tão amigos a ponto de ela perguntar essas coisas?

  Seguiram pelo transporte já pago pela deusa até o aeroporto internacional. Miro continuava a insistir com Ena sobre sua irmã, enquanto a jovem dizia com todas as palavras que a irmã preferia alguém que tivesse a expectativa de vida acima dos trinta anos.

  Ao chegarem, Aioria ajudou Marin a carregar a pequena bolsa de roupas. Nenhum dos dois tinha muito, por isso assustou-se ao notar o volume de bagagem dos demais frequentadores dali.

- Espero que façam boa viagem, - disse Miro assim que as malas foram despachadas.
- Vai ser incrível, tenho certeza! – respondeu, Aioria, evitando olhar para o irmão, - Mas espero voltar logo...
- Sim, eu estarei te esperando. – Aioros deu um passo a frente e abraçou o irmão mais novo para a surpresa deste.
- Então, encontro com todos em duas semanas! – disse Aioria, virando o rosto, mas desta vez para esconder a emoção.

  O cavaleiro de gêmeos pôs-se a observar a cena com alguma apreensão.

  Nunca se saberia com certeza o que havia ocorrido com Aioros. A teoria que Athena consideraria a oficial quando explicasse a todos era a de que Saga, enquanto tomado por sua outra personalidade, houvesse usado seu controle das dimensões para enviá-lo para o mais longe que pudesse. O cavaleiro de gêmeos não tinha certeza de ser mesmo capaz de forçar os outros em viagens no tempo com seu golpe, todavia, ele não encontrara uma teoria mais aceitável.

  Por outro lado, não mais importava. Aioros havia retornado e parecia feliz com sua noiva. Não era o bastante para acabar com a culpa de Saga, nada jamais o seria, apenas representava uma chance de ainda fazer o amigo feliz. Por isso mesmo, esforçava-se para compensar os danos que lhe infligira.

  Ainda assim o que ocorreu era algo efetivo e que não poderia ser ignorado. Para o cavaleiro de Sagitário, um dia seu irmão era uma criança e no outro um homem independente, prestes a se casar, ainda que nem o próprio caçula se desse conta do quanto progredira com suas próprias pernas.

  No entanto, aquele abraço trocado no setor de embarque e aquelas lágrimas mal ocultadas eram provas de que, aos poucos, talvez, os dois ainda pudessem recuperar o tempo que lhes fora roubado. Não, qualquer um deles preferia pensar que queriam era aproveitar aquele tempo que haviam ganhado.

  Aos poucos, as mãos de Aioria subiram pelas costas de seu irmão e o abraçou com toda sua força. Suas costas lhe pareciam muito pequenas em comparação às suas lembranças, mas a força que sentia no abraço estava ainda maior que no passado. Talvez porque agora Aioros não precisasse tomar cuidado para não machucar o irmão e pudesse confiar toda sua força naquele aperto?

  Apenas se separaram quando ouviram a chamada para o voo.

  Nesse momento, Ena deu um passo à frente e entregou a Marin um buquê com lindas flores brancas.

- Parecem as do Afrodite... – comentou o cavaleiro de leão após agradecer.
- É, mandei ele colher as mais bonitas hoje cedo. Mas não se preocupe, já inspecionei cada uma depois que algumas daquelas vermelhas do seu casamento resolveram atacar os convidados.
- Você... realmente gosta de pôr medo no pobre coitado, né? – perguntou Aioria, coçando a cabeça.
- Mas já disse a ele que essa seria sua última missão. Mesmo assim, é divertido como alguém ainda se lembra de algo assim depois de tantos anos.
- Não é como se qualquer um de nós o houvéssemos esquecido, meu irmão.

  Aioros sorriu-lhe de volta. Em seguida, apertaram a mão um do outro e, por fim, se olharam nos olhos. Possuíam quase a mesma altura e mesmo suas aparências físicas não eram tão distintas. Era como olhar-se em algum espelho.

  E o casal partiu. Também os cavaleiros e Ena.

  Havia muito o que fazer no Santuário e os interrogatórios com os soldados continuavam. Aquela era a razão fundamental para Aioros não querer se casar ainda. Queria deixar tudo em ordem antes mesmo do retorno do irmão novo.

- Por que mentiu pro Aioria sobre ter liberado o Afrodite da promessa? – perguntou Saga assim que entraram no carro, - Não acha ninguém o percebeu gritando com as servas do Santuário enquanto coordenava a limpeza da casa de Sagitário?
- Eu não menti. Colher as rosas foi realmente a última missão que passei a ele; só acontece de eu ter dito uns minutos antes que deixasse meu templo brilhando.
- Sonso... Não dá pra crescer um pouco, Aioros?
- Tava pensando nisso... Sabe, pelo Aioria e tudo. Mas qual a graça, quando já temos Camus e você de emburrados? – E soltou uma gargalhada.
- Sei... Você cai do céu, prende um monte de soldados corruptos, casa seu irmão, fica noivo... Ainda assim, nada mudou!
- E fico feliz com isso. – Desta vez, a expressão de Aioros era séria, enquanto olhava para o céu pela janela.

FIM!

Anita, 14/03/2010

Notas da Autora:
Após trocentos anos de escritas e longas pausas, esta novela se acabou. Nem acredito que amanhã acordarei e não terei a tristeza de perceber que o Aioros ainda não teve seu final feliz, porque ele acabou de ter! *_*

Não gostei deste capítulo, teve muitas cenas ruins e não pude fazer nada por isso. Mesmo esperando, relendo, não me vinha nada que as melhorasse além de trocar de autor. E não achei ninguém que quisesse escrever esta fic por mim, então teve que ser essas coisas piegas mesmo. Mas garanto que me diverti e acho que é isso que importa. Tomara que vocês também tenham rido dessas situações embaraçosas por que os fiz passar! Aliás, eu senti vergonha ao ver o número dessas situações em capítulos passados. Pedi até desculpa pros personagens, não é normal eu fazer isso...

Como perceberam, a história possui dois finais mais ou menos parecidos. Bem, é que percebi que talvez Marin e Aioria pudessem ficar juntos e talvez não. Por isso, decidi fazer algo como a Nemui anda tentando montar, mas só com este capítulo. Ou seja, isto é quase um gamebook! Pode ir em frente e ler o capítulo espelho, vão perceber que a única diferença é essa mesma! Eu nem tenho um final favorito, apesar de pela data vocês poderem perceber facilmente qual foi o primeiro a ser feito...

Vocês não precisam ler os dois, mas também não são proibidos. Ah, e me contem o que acharam depois! Nunca fiz algo assim antes e errr, se preferirem nunca mais farei. Não que se vocês gostarem eu pretenda fazê-lo tão cedo novamente, hehe.

E, nesta versão, vemos os dois ficando juntos no final! O que acharam? Gostaram? Não? Ou sim? Eu achei fofo, eu realmente sou fã de todos os casais formados nesta fic, hehe!

Agradecimentos? Ai, taaaaanta gente! Nem vou dizer nome, só destaco que agradeço a todos os que tiveram a paciência de esperar para ler esta última nota autoral desta fic.

E um parabéns para Vane, hahaha, após errr quase 6 anos, ela ganhou seu presente de aniversário completo. Ufa...! Apesar de todo o drama, espero que errrr tenha agüentado ler até aqui @___@ Sei que foi difícil. Sinto muuuuito!!!

Se quiserem mandar comentários, críticas ou sugestões, mandem-me um e-mail Anita_fiction@yahoo.com se forem sados-masoquistas e ficaram a fim de ler mais momentos embaraçosos para os personagens em fics minhas, visitem meu site Olho Azul para minha coleção de momentos “trágicos” http://olhoazul.50webs.com/

E até a próxima, meus pacientes leitores T_T 

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