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Meu Passado Ficará Em Seu Futuro § 7A – O Tempo que Passou


Notas Iniciais:  
Então você decidiu que o Aioros precisa ficar mais um pouco na vila? Bem, seu desejo é uma ordem, mas lembre-se que há sempre consequências, sejam boas ou ruins. A questão é que não importa aonde o Aioros vá, Cavaleiros do Zodíaco não é de minha propriedade. Acho que só a Ena e a Dora valem a pena serem destacadas como minhas, o resto, infelizmente.... é usado sem autorização, mas também sem a intenção de obter qualquer lucro. Este é o último capítulo da fic que foi uma presente para a Vane. Feliz Aniversário!!!


Olho Azul Apresenta:  
Meu Passado Ficará
Em Seu Futuro


Capítulo 7A – O Tempo que Passou

anata no soba ni iru dake de
tada sore dake de yokatta
kondo meguriaetara
motto motto waraiaeru kana…

Contanto que eu estivesse a seu lado
Somente com isso eu estava satisfeito
Da próxima vez que nos reencontrarmos,
Imagino se serei capaz de sorrir muito mais que antes...
- Nana Mizuki-

  Ena estava quase sem ar quando ouviu aquela voz chamar por alguém. E esta se aproximava cada vez mais até encarar a mesma cena que a jovem: três soldados caídos, mais um completamente ensangüentado, ajoelhado no chão e provavelmente inconsciente, pois o tempo todo ficara inerte. Sentia-se tão emocionalmente desgastada que não esboçara reação ao ver o homem que salvara três meses antes após cair do céu bem na sua frente e o qual não via havia dias.

  Seu nome, havia descoberto momentos antes de nunca mais vê-lo. Aioros... Para ninguém aquilo tinha importância, mas alguns soldados comentaram já terem ouvido de um cavaleiro desse nome, apesar de incertos sobre a qual categoria esse homônimo pertenceria, ou mesmo, se poderia tratar-se da mesma pessoa.

- Aioria! – O recém-chegado agachou-se em frente ao que acabara de protegê-la e começou a sacudi-lo.

  Ena também foi correndo a seu encontro, temendo que talvez aquele herói não estivesse apenas desmaiado.

- Ele nos salvou do Capitão... – explicou a Aioros, ainda tonta, pondo a mão no rosto maquiado do outro.
- Acho que ele vai ficar bem, mas precisamos levá-lo de volta ao Santuário. – Um terceiro homem apareceu à porta de olhos e cabelos azulados vestindo roupa de soldado. Ela o conhecia do dia em que o mesmo lhe levara seu hóspede.
- Mas e você? – perguntou a Aioros, segurando sua mão. Queria o melhor àquele a quem devia a vida, mas não queria mais ficar sem ver seu Cavaleiro de Prata.
- Tenho que ir junto... – respondeu-lhe, virando a cabeça para outro lado, enquanto ajustava o corpo do desfalecido para perto de sim.
- Não haveria problemas se quiser junto. – Saga pôs a mão em seu ombro e ajudou-a a se levantar, enquanto Aioros fazia o mesmo com o rapaz.
- Eu vou ficar bem... – disse sua irmã, ainda trêmula em outro canto do quarto, encolhendo o corpo para afastar-se ao máximo dos agressores.

  Olhou ao redor naquele quarto e titubeou.

- Eu ficarei com ela. – Miro apareceu na porta do quarto. – Não se preocupe, sou o cavaleiro de ouro de Escorpião. – E, voltando-se para a outra: - Aproveitamos e conversamos um pouco sobre estes homens, senhorita...?
- Dora... – respondeu a jovem, ainda sem se mexer mais que o necessário.
- Vou pedir que uns cavaleiros recolham estes aqui e, enquanto isso, vamos andar um pouco lá fora. Por que não se troca?
- É uma boa ideia, não é, minha irmã? – Ena sorriu, consciente de ter sobre si o olhar de Aioros, o qual já tinha nos braços o cavaleiro ferido.
- Os médicos devem chegar dentro de uma hora; é melhor deixá-lo aqui, - disse-lhe Saga.
- Pode deitá-lo no sofá da sala. É melhor que o chão. Também preferia me trocar enquanto esperamos o socorro...

  Aioros assentiu, levando o ferido para o local onde dormira naqueles meses. Sua familiaridade com os ambientes da casa transparecia, assim como com os cavaleiros de ouro.

  Ena correu para o banheiro junto com a irmã e suas mudas de roupa. Saiu após um rápido banho sem aguardar até que a outra terminasse o seu próprio, pois ansiava por encontrar Aioros a sós. Não entendia como tudo poderia mudar tão rápido. No entanto, ele não saíra do lado do outro rapaz deitado no sofá, ao contrário dos demais que se concentrava do lado de fora. Haviam aberto a porta da frente provavelmente com a chave que dera a Aioros tempos atrás.

- Obrigada por voltar, - disse-lhe, sabendo que corava, - Achei que nunca mais o veria quando você foi levado sem que nem ao menos fizéssemos as pazes.
- É claro que voltaria! Mas, desta vez, não foi só por você...
- Sim, foi por seus novos amigos. – Sabia que havia uma ponta de ressentimento em sua voz. - O que aconteceu no Santuário que o fez não mais odiar ao Senhor Saga? Quer dizer que recobrou sua memória? Ou nunca a havia perdido, Aioros? – Não o tencionara, mas seu tom era demasiado agressivo.
- Acho que nunca a perdi, mas não sei muito bem. Como descobriu meu nome?
- O senhor Saga o proferiu naquele dia e você nunca o corrigiu, ou sequer se espantou.
- A verdade é que, - soltou uma leve gargalhada, - viajei no tempo. Ou algo assim.
- Perdão? – Ena ergueu ambas as sobrancelhas, sentando-se na cadeira mais próxima. Aioros, por sua vez, preferiu continuar tomando um pouco de espaço daquele sofá.
- Há... dezesseis anos fui dado como morto. E foi como se minha vida tivesse acabado aí, até que acordei aqui em sua casa. Eu lembrava com clareza todos os acontecimentos até eu perder a consciência, mas não podia te contar, pois pensei que assim você seria tratada como cúmplice de um traidor, como haviam me chamado naquela época, só quando Saga me levou ao Santuário é que me contaram que não havia mais motivo para eu fugir, que o tempo havia parado apenas para mim.
- Espera, quer dizer que você ressuscitou naquela noite ou algo assim?

  O cavaleiro deu de ombros:

- Não faz diferença o que houve. Por dezesseis anos, abandonei minha família e, quando acordo, tudo em que penso era me vingar de Saga em vez de voltar imediatamente para minha casa. Ainda por cima, eu a envolvi em tudo isso. Como compensar o tempo que lhe fiz perder com meus delírios e até o dinheiro me sustentando...?
- Fui eu quem o detive aqui, não se lembra? Sua presença aqui me fazia sentir segura. Acredita que assim que vi esse homem abrir a porta, achei que fosse você que tinha vindo me salvar? Eu até pulei em cima dele depois e foi quando percebi que era um desconhecido.

  Aioros começou a rir.

  Por que o fazia? Seu engano era mesmo cômico, ainda mais considerando que o confundira com um cara vestido de mulher, mas não deveria estar bravo acima disso? Se realmente haviam feito as pazes, tudo voltara como antes, né? Como na vez em que se beijaram...

- Aioros... – articulou o nome com que apenas seus pensamentos estavam familiarizados.
- E agora estava me sentindo um pouco orgulhoso. – E levou a mão aos cabelos do jovem adormecido. – Este é meu irmão mais novo, Aioria. Ou pelo menos era para ser mais novo... Da última vez em que o vi, não passava de uma criança e ainda não nos vimos frente a frente. Eu apenas o espiei algumas vezes, sem que fosse percebido.
- Então! Eu fiz com que seu irmão quase morresse!
- Não, Aioria é mais forte que isso. Eu mesmo o treinei. Não sei o que o atrapalhou tanto, mas ele não morreria tão facilmente.

  O cavaleiro de Escorpião entrou pela porta naquele momento, acompanhado de duas amazonas mascaradas e três outras pessoas. Uma dessas mulheres correu em direção ao sofá e encarou Aioros:

- Como ele está?
- Seu nome era Marin, né?
- Ah! – gritou Ena, ante a familiaridade daquela, - Você nos ajudou no outro dia, junto com o senhor Miro.
- Sim... Mas como está Aioria? Eu vim assim que soube...
- Como vê, dormindo. – O irmão voltou a olhá-lo com carinho.
- Quer dizer que ainda não se falaram?
- Quando cheguei, ele já tinha salvado todo mundo. – Após uma pausa, continuou: - É estranho vê-lo de tão perto. – E, então, levantou-se por fim. – Acho que Aioria ficará em boas mãos, como tem estado por todo este tempo. Temos que ir, não é? – Voltou-se para Ena.
- Não, por favor, fique com ele. Eu preciso ajudar na prisão de todos...

  Aioros assentiu, aliviado por não ter que sair mais uma vez do lado de seu irmão. Não em um momento tão importante quanto o do reencontro de ambos. No entanto, observou enquanto a amazona ia até o quarto onde a ação se concentrara com a testa franzida, podia jurar que os dois eram namorados. Se fosse Ena ali deitada ele nunca a deixaria.

- Vamos esperar até que venham buscá-lo, - disse à moça, optando por ajoelhar-se no chão em vez de voltar ao sofá.

  Ena assentiu, apesar de temer os vários soldados que deveriam estar chegando ao local para saber ao certo o que se sucedera. Tinha certeza de que não fariam mais batidas ali depois daquela noite, mas era difícil convencer os reflexos de seu corpo disso. Encolheu-se um pouco, enquanto se ajoelhava também para logo sentir o corpo de Aioros esbarrando em seu braço ao passar.

  Levantou seu olhar para aquele misterioso rapaz:

- Achei que preferisse ficar com ele, mas já ia ceder sua posição para aquela amazona...
- Estava apenas me esforçando para aceitar esta versão adulta de meu irmão. Ouvi de Miro que os dois tinham algum relacionamento especial. Mas acho que o trabalho deve vir em primeiro lugar para um servo de Athena, né? Também deveria ser assim para mim e estou simplesmente aqui ao lado dele...

  Ena assentiu com um sorriso, parando para encará-lo:

- Talvez, mesmo ele o prefira àquela amazona, né? Faz bastante tempo que se veem pelo que entendi...
- Não sei de preferências, mas sei que eu gostaria de te ver se estivesse naquele sofá, - disse, rindo-se um pouco com o rosto vermelho.

  Então, ele curvou-se discretamente, apenas o bastante para estarem perto demais. Suas respirações se encontravam. A casa e todos seus cômodos ainda estavam ali, as pessoas inspecionando cada detalhe da cena também. O cavaleiro desfalecido, os soldados, a montanha do Santuário... E tudo em que Ena podia pensar era em como o ar estava quente.

  Seus lábios não custaram a se encontrar, como que dizendo o quanto sentiram falta uns dos outros. Nem seus braços, ou seus corpos. Estava bastante quente e o calor apenas aumentava junto com a alegria.

  Aioros foi o primeiro a interromper, respirando pesado. Tão quente... Seus olhos, Ena pôde ver ao abrir os seus próprios, pareciam um pouco embaçados. Pareciam um vidro soprado em um dia frio. E frio sentiu mesmo estando agora tão separada daquele rapaz, por isso, abraçou-o com todas as suas forças, buscando produzir mais calor.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Chegaram ao hospital do Santuário junto com Aioria e um grupo de paramédicos e lá receberam a notícia de que Athena havia chegado enfim e que os receberia para o almoço do dia seguinte. Ao ver-se na lista de convidados de honra, a jovem aldeã começara a dizer que estava doente e que, por isso, teria de faltar à cerimônia. O cavaleiro sabia que não passava de nervoso, Ena era capaz de ser a mais corajosa daquele lugar durante um ataque, mas demasiadamente cerimoniosa quando o assunto era Athena. E ele não podia repreendê-la, pois que também se sentia envergonhado só em se imaginar no mesmo ambiente que sua protegida.

  Recordou-se do pequeno bebê que tirara das mãos de Saga dezesseis anos antes. Fora tudo tão rápido que, apenas quando esta o salvara de Shura, é que ele se deu conta da responsabilidade que acabara de assumir. E já era tarde demais, mesmo hoje, ainda sentia o desespero que era imaginar que morreria e deixaria aquele bebê no meio daquelas ruínas. O sol podia atingir temperaturas tão altas que se ela não fosse atacada por algum bicho, morreria com o calor.

  Fora realmente loucura entregá-la ao primeiro que lhe cruzara o caminho, mas era o último ato que suas forças lhe permitiram. Não se lembrava de mais nada após contar o máximo que pôde da importância da pequena menina em seus braços. Achara haver morrido até acordar na casa de Ena e que, talvez, nem houvesse salvado sua deusa.

  Passaram a noite inteira no hospital ao lado de Aioros. Os médicos disseram que ele parecia bem após realizarem a transfusão de sangue, mas deveria ficar ali por alguns dias até terem certeza. Observou o quão frágil seu irmão mais novo parecia naquela cama, era como se o tempo não houvesse passado e aquela fosse alguma febre repentina de criança: por mais que soubesse que logo estaria vendo-o correr pelos cantos, ainda havia alguma ansiedade no final das contas.

  Era reconfortante virar para o lado e ver Ena. Sentia medo de quando seu irmão acordaria. Seria a primeira vez que se veriam. Airoso engolia em seco toda vez que achava que os olhos de Aioria estavam se mexendo. Por outro lado, também queria que ele acordasse logo para lhe dizer que se sentia bem, vê-lo deitado naquela cama era deprimente.

  E, no meio da madrugada, enquanto Ena dormia na cama de acompanhante onde Aioros a pusera, o cavaleiro de leão despertou preguiçosamente. Seus olhos pareciam desajeitados por um momento até irem direto ao encontro dos do irmão mais velho e parecerem prontos a pularem para o teto.

- Estou morto? – perguntou em uma voz embargada por anestésicos.

  O outro não sabia como responder e mesmo que movesse os lábios milhares de vezes, os sons que conseguia juntar não faziam qualquer sentido. Olhou para os lados e para Ena, que dormia pesado pelo cansaço daquela noite. Nada lhe dava alguma dica, não havia roteiro do que dizer ao irmão que não via por dez anos.

  Então, desistiu e simplesmente o abraçou desajeitado. No entanto, aquilo também não parecia o passo correto, portanto afastou-se rapidamente. Agradeceu aos deuses quando ouviu a porta do quarto abrir para revelar duas amazonas mascaradas. Uma de cabelos verdes e outra ruiva.

- Viemos ver como ele está... – disse Marin, entrando lentamente em direção ao lado oposto da cama de onde Aioros se encontrava.
- Já acordou, huh? Eu disse que não havia com que se preocupar.
- Eu preciso ir... ali... Já volto. – O rapaz levantou-se sem nem olhar novamente para o irmão e saiu apressado do cômodo.

  Suas mãos suavam e sua respiração era pesada. Era óbvio que ficaria nervoso, não fazia ideia de como Aioria pensava nele, se é que ainda se lembrava de seu rosto. As fotos eram tão poucas... Talvez, nenhuma houvesse sequer sobrevivido à época em que fora considerado um traidor. Conseguia imaginar o próprio Aioria pondo fogo em tudo que ligasse ambos. Era o que lhe recomendaria fazer para conseguir dar prosseguimento à própria vida.

  Precisava retornar ao quarto, mas suas pernas tremiam. Olhou para o corredor atrás de si. Uma daquelas portas era o quarto do rapaz. Poderia esperar as amazonas saírem... Sim, depois que conversassem e talvez lhe fizessem o favor de explicar sua presença ao irmão, que até ali nada sabia de seu retorno, Aioros poderia simplesmente aparecer e dar-lhe novo abraço para recomeçarem de onde haviam parado tanto tempo antes.

  Sabia que seu irmão já era um homem crescido e que não poderia mais agir como se fosse seu pai, mas irmãos eram para sempre, certo? Mesmo hoje Saga ainda devia precisar de Kanon e vice-versa. Pelo menos, Aioros sabia que precisava de Aioria.

  Percebeu Marin sair do quarto e caminhar em sua direção. Aioria teria dado algum recado?

- Ele... – disse, assim que a amazona se encontrava já perto o bastante para escutar.
- Preferimos não dizer nada. Ele acabou de acordar, né? Ainda se sente confuso. Só nos perguntou o que a menina da aldeia fazia ali e eu respondi que ela devia estar preocupada com quem a salvou.
- Não deixa de ser verdade... – respondeu com meio sorriso.
- Aioria vai ficar feliz quando você voltar lá, tenho certeza. E eu mais tranquila agora que ele possuirá mais uma pessoa a seu lado. – A amazona abaixou lentamente a cabeça, devia estar olhando o nada. – Ele sofreu muito por ter o irmão considerado um traidor e apesar de ter um coração tão grande, praticamente viveu sozinho desde aquele dia. Hoje, até que ele tem amigos como Miro e eu... Mas são poucos, mesmo que Aioria não tenha nada parecido com uma personalidade difícil.
- Muito obrigado por cuidar dele por todo este tempo.
- Não, era mais como o oposto. Sempre me olharam diferente também por eu ser japonesa, por isso, Aioria me protegeu muitas vezes, nem que fosse apenas mostrando-se ao meu lado. Também sou agradecida pro haver em ajudado no treinamento de meu primeiro discípulo. Seu irmão é um grande homem, como já lhe disse na outra vez em que nos vimos.

  Aioros assentiu orgulhoso.

-Mas... – A moça levantou de novo o rosto, parecia lhe olhar nos olhos por trás daquela máscara. – Sei que ele sentiu muito sua falta e desejou acima de tudo ter o irmão a seu lado. Não prolongue mais isso, por favor.
- Certo. Agradeço suas palavras, amazona. E todo esse carinho por meu irmão.
- Devo ir agora, retomar meu trabalho. Boa sorte com tudo, Aioros.
- Sim.

  Despedindo-se, ele rumou até o quarto. Tinha o punho fechado, tentando segurar a coragem e controlar os nervos, mas daria tudo certo. A descrição de Aioria feita por Marin era exatamente o que ele ainda se lembrava do irmão, talvez o tempo, então, não o houvesse mudado tanto assim. Ele apenas parecia maior?

  Abriu a porta para encontrar a outra amazona sentada na cama vazia de Aioria.

- Onde ele está? – perguntou sobressaltado.
- Ninguém o seqüestrou, – respondeu a moça que se chamava Shaina, - Ele apenas foi embora e me deixou aqui esperando a Marin. Somos cavaleiros, hospitais não são nosso lugar favorito, né? Eu o compreendo.
- Ah. – O rapaz não conseguiu pensar em mais nada a dizer.

  No fundo, talvez até estivesse um pouco aliviado por adiar um pouco mais o grande momento e, principalmente, por confirmar que Aioria não devia se lembrar do abraço desajeitado e da fuga embaraçosa de poucos momentos antes.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  No dia seguinte, os três entraram naquele salão do qual mal se podia ver o teto. Aioros já havia ido lá algumas vezes e a sensação não mudara; mesmo não sendo muito comprido, a altura a que o teto do salão de Athena se encontrava fazia-o sentir-se pequeno demais. Continuou a seguir Saga, sentindo o aperto de mão de Ena aumentar na sua. Ela, que estivera nervosa a noite e a manhã toda, agora estava com a mão ainda mais gelada.

  A moça a seu lado apertou ainda mais sua mão e Aioros percebeu uma jovem de longos cabelos roxos de pé logo à frente. No mesmo momento, jogou-se ao chão até ali encostar a testa e apresentou-se. Ena o seguiu.

- Vamos, nossos heróis não precisam fazer isso! – disse a deusa, caminhando até o rapaz e agachando-se. Suas mãos tão brancas foram postas sobre seus ombros, mostrando toda sua firmeza. – Eu é que deveria me curvar à sua frente, Aioros. Devo minha vida a você e, ainda que esteja feliz em vê-lo tão bem, nunca poderia pagar os anos que perdeu por minha causa. – Levou uma das mãos a sua cabeça e levantou-se. – Agora, vamos almoçar? Precisamos celebrar o fim da banda podre dos soldados! Você também, Ena! E ainda acrescento o agradecimento por cuidar de meu cavaleiro durante estes meses.
- Como veem, nossa deusa está bem animada, - disse Saga, ao pé logo à frente com um pequeno sorriso.

  Aioros começou a se levantar, ainda embaraçado de fazê-lo, pois era muito mais alto que ela, e parecia uma falta de respeito forçá-la a lhe olhar para cima. Com o rosto vermelho, tentou ainda curvar um pouco os joelhos e baixar a cabeça, se não fizesse contato visual, não obrigaria que a jovem lhe correspondesse. Mas espiando, viu a naturalidade como ela apenas lhe sorria, falando animada do sucesso da missão de Aioria e Afrodite.

  Olhou ainda para Ena, que também mantinha o olhar no chão, com um rubor nas faces. Ela também era mais alta que a deusa. Sorriu um pouco, era tão difícil vê-la numa situação assim, ainda que fosse exatamente o que ele estivesse sentindo.

  Athena caminhou à frente, guiando-os a outro salão também conhecido de Aioros. No entanto, ele podia ver o quanto as coisas haviam mudado, com vários equipamentos espalhados como câmeras, ou era isso que algumas placas diziam ser umas bolinhas metálicas. Havia outras no teto para o caso de incêndio, ainda que o rapaz não conseguisse imaginar o que fariam. E alarmes. Muitos alarmes.

- E como Aioria reagiu, afinal? – perguntou-lhe Athena, após sua conversa com Saga sobre os detalhes da ação do dia anterior.
- Ele ainda não sabe sobre o irmão... – Saga fez o favor de responder após o silêncio de Aioros.

  Seu irmão mais novo havia sido transportado para o hospital dali e Aioros passara a noite em seu quarto juntamente com Ena, mas apavorara-se assim que o mais novo recobrara a consciência e deixou-o com as amazonas, sem que o irmão sequer soubesse que a visão do mais velho era real. Quando Aioros retornou ao quarto, Aioria já havia fugido do tratamento médico e, segundo fora informado, estava trabalhando normalmente na proteção do templo de leão ainda que não possuísse autorização médica.

- Acho que eu não deveria tê-lo convidado, então, - disse a jovem levando uma mão ao queixo em uma expressão pensativa.
- Chamou o Aioria?! – indagou Saga visivelmente surpreso.
- Ele também cooperou com a missão, né? – E abriu a enorme porta com as próprias mãos antes que os demais se recuperassem da surpresa. – O problema é que, para garantir que viesse, pedi ao mensageiro que destacasse que o irmão dele também o estaria esperando aqui... Ele não deve ter entendido nada!

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Marin estava bem no final da escadaria entre a casa de Peixes e a do Mestre do Santuário. Sim, o mensageiro havia mencionado que seria um almoço em agradecimento aos que participaram da missão do dia anterior e a amazona estava desde o início investigando as batida, por isso, Aioria não deveria estar surpreso com sua presença ali. Exceto pelo ar que ela emanava. Engoliu em seco antes de passar pelos últimos degraus e ficar frente a frente com a jovem.

- Deveria estar no hospital! Saio um momento e você some? Shaina ficou chateada de ter que ficar me esperando com aquela aldeã.
- Eu estou bem, não vê? Um pouco dolorido, mas bastam alguns dias e não uma cama de hospital. – Sorriu-lhe.

  Marin virou-se e passou a andar, parando apenas para perguntar por que não a estava seguindo, o que o rapaz fez com um sorriso ainda mais aberto.

- Não era para você estar mais animado? – ela lhe perguntou assim que entraram no são do mestre.
- Com o quê? Um bando de mensagens do hospital mandando eu voltar?
- Seu irmão... Vocês já se acertaram, né?

  Lembrou-se do estranho anúncio do mensageiro de que Aioros também estaria entre os homenageados naquele almoço. Ainda que pudesse levar aquilo na piada, sabia que não era o estilo de Marin. Franziu a testa:

- Afinal, por que tá todo mundo falando no Aioros? – optou por formular a pergunta assim.

  Acabara de passar por Afrodite, não entendendo por que ele não havia se arrumado para encontrar com a deusa, e perguntou o que acontecera. E ele também mencionara Aioros, apesar de o cavaleiro de leão não haver entendido nada da relação de seu irmão com o outro não ir.

- Achei que já tinha dado tempo... – disse Marin, lembrando-lhe exatamente de o que quisesse que Afrodite lhe houvesse tentado responder entre seus grunhidos e resmungos.

  Sentou-se à mesa e ouviu mais umas menções de seu irmão. Shura veio logo conversar com ele e agradecer a ajuda na missão, perguntando se o castigo de Aioros havia sido muito terrível.

- Aioros? – Ergueu as espessas sobrancelhas.
- Ele não te disse que foi o inventor da história de você se vestir de mulher? Confesso que fiquei com pena de vocês dois. Até entendo o Afrodite, ele ficou direitinho, né? Fez bem o papel, mas não merecia punição nenhuma... Se bem que os dois tiveram alguma rixa no passado e só por isso aquele lá obedeceu.
- Acho que já ouvi isso do Afrodite ter prometido servir ao irmão, ou algo assim...
- Pois é! E não é que até hoje o cara ainda foge do Aioros? – Shura riu-se um pouco.
- Do que estão falando? – perguntou Miro, apoiando a mão no ombro de Aioria.

  Ele acabara de chegar; cumprimentou ambos e puxou uma cadeira formando uma roda. Haviam se visto naquela manhã no hospital e fora o cavaleiro de Escorpião quem o ajudara a fugir daquele tédio; ainda assim, imaginava se Miro sabia de alguma notícia que desse sentido a seu irmão haver se tornado o assunto do dia. Shura, no entanto, apressou-se ao mais jovem e pôs o outro em dia.

- Ué, Aioria já se encontrou com o Aioros? – perguntou assim que Shura começou a rir novamente de Afrodite.

  O cavaleiro de capricórnio ficou mudo de repente e olhou Aioria bem nos olhos.

  O barulho da enorme porta que dava no corredor para o salão de Athena se abriu naquele mesmo momento. Mas o som também sumiu de repente para os ouvidos de Aioria quando ele viu o rapaz da fotografia que guardava com tanto carinho caminhar ao lado de sua deusa, como se houvesse sido conjurado de lá tal qual era.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Aioros não sabia ao certo como sentar. Poderia ficar olhando diretamente para seu irmão mais novo ou sua expressão era boba demais para que permitisse ser vista? Era estranho como de repente não se importava mais que Athena estava bem do outro lado na mesa, sorrindo e tentando conversar com ele. Não, ele nem conseguia ouvir suas palavras. Também não ouvia as dos amigos. Pensando bem, Aioria também parecia estar conversando.

  Não era para se sentir tão nervoso, certo? Afinal, não era nem a primeira vez que reencontrava o irmão caçula. Já devia ser a terceira ou quarta. Talvez até a sexta ou sétima. E já havia tomado sua decisão naquele hospital de que não passaria da próxima. Ainda que Aioria não fizesse ideia de sua presença ali, Aioros o observara atento em todas aquelas vezes. Já era para estar acostumado com a nova altura do jovem, ou sua voz mais grave, ou sua pele áspera, ou sua bochecha recém barbeada.

  E por que as duas amazonas estavam em um almoço, perguntava-se o outro naquele momento. Era estranho se considerassem que todas usavam máscaras, portanto, não poderiam comer ali. Também não havia pratos para elas ou mesmo bebidas. Esperava que pudessem comer depois, que já houvessem comido, pois parecia errado fazê-las observarem todos se empanturrando.

  Tentou formular alguma pergunta, mas não conseguia pensar em nada. Olhou para sua frente e Ena estava distraída com sua comida, ou esforçando-se para não levantar os olhos e encarar sem querer a deusa logo à frente. Após a Deusa, sentava-se Saga, que tentava responder por Aioros a todas as perguntas da menina. Sim, ela ainda era uma menina. Usava palavras pomposas, mas não passava de uma criança. E, após Aioria, Marin tentava fazer perguntas ao próprio Aioros, ou ao menos lhe encarava com a máscara insistentemente após formar palavras que o cavaleiro de Sagitário não conseguia ouvir. Por sorte, Miro, bem ao lado de Ena, conseguira responder tudo. Ou era o que Aioros suspeitava.

  Seus ouvidos pareciam ocupados apenas pelas batidas altas de seu coração. Tinha que pensar em algo, tinha que dizer qualquer coisa, não importava mais a qualidade do que saísse.

- Então, vocês pretendem se casar? – perguntou enfim, interrompendo alguma resposta longa que Miro parecia estar dando à amazona fazia um tempo.
- Casar? – Marin voltou sua cabeça para o homenageado. Seu tom não soava nada simpático.

  Aioria não dissera uma palavra sequer em resposta à pergunta que demorara tanto para formular.

- Quem vai se casar? – inquiriu Miro com um sorriso.
- Os dois, - respondeu olhando para o irmão e a amazona.

  O cavaleiro de Escorpião começou a tossir, soando engasgado:

- Aioria e Marin? Os dois são só amigos! Nessa terra aí não nasce nada, acredite. Ninguém enrola tanto assim.
- Vocês vão se casar? – a deusa interrompeu seu cavaleiro, provavelmente sequer lhe dando ouvidos, - Por que não celebramos logo, então? Eu adoraria fazer o casamento de meus cavaleiros. Mestre Kanon, poderia providenciar isso?
- Princesa, acho que não é bem assim que- Saga ainda tentou corrigir o mal entendido.
- Para que adiar, Saga?! – Athena levantou uma taça e pegou emprestado o garfo intocado de Aioros.

  Em alguns toques, ela já tinha a atenção de toda a mesa.

- Espere, minha deusa! – Aioria levantou-se num repente, parecendo enfim perceber o que havia acontecido.
- Meu admirável cavaleiro de leão. Todos vocês sofreram tanto nesses últimos tempos... Devem saber já a importância de um dia e de como o dia seguinte pode nunca chegar. É por esse mesmo motivo que voto pela celebração do casamento com o máximo de pressa!

  Aioria virou-se para Marin com a face queimando:

- A questão, minha deusa, é que – Mas não conseguia completar a sentença.
- Até que é uma ótima ideia, - interrompeu Miro, sorrindo sem jamais desviar o olhar do casal em questão, - Afinal você nunca teria coragem de fazer a coisa progredir sozinho, né? Seria também um bom descanso pros meus ouvidos...
- Miro! – Aioria correu para o lado da deusa, quase empurrando a cadeira de Saga com o cavaleiro em cima. – Minha deusa, Marin e eu não... Digo...
- Não me importa que tenha uma relação assim, Aioria, - respondeu a deusa, novamente parecendo filtrar o que ouvia, - Na verdade, fico feliz que após tudo vocês consigam uma relação saudável. Todos deveriam seguir seu exemplo e tentar uma vida normal apesar de tudo o que passamos! – E abriu um enorme sorriso para a surpresa do suplicante. – Que talvez fazermos logo a cerimônia? Pedirei a alguém que arrume um traje formal para você e um vestido branco para Marin. Ficará tudo lindo! Afrodite, vá e encarregue-se de enfeitar o salão ao lado com suas melhores rosas. Quero dizer, as rosas que não estejam envenenadas, é claro.
- Sim, minha deusa, - o cavaleiro de peixes levantou-se do lugar mais longe do salão e saiu rapidamente.
- É uma pena eu ter que voltar logo pro Japão... Não poderei ficar para a festa, mas insisto que seja ótima e que não falte nada, ouviu, Kanon?
- Claro, - o Mestre sorriu, não tirando os olhos de Aioria, que estava de joelhos sem conseguir dizer nada.
- Com seu perdão, minha deusa... – Aioros havia se levantado.

  Caminhando até onde seu irmão se encontrava, ajoelhou-se da melhor forma que pôde.

- Ah, ele vai explicar tudo! – Aioria disse, apontando para o mais velho.
- Diga, Aioros. E vocês dois, por favor, levantem-se!
- Tenho um pedido a lhe fazer. Não pretendo atrapalhar esse presente que dará a meu irmão, mas gostaria de sua permissão para logo também contrair matrimônio.
- E por que não fazemos tudo agora?! – perguntou a jovem, parecendo ficar ainda mais eufórica.
- Ma-matrimônio? – Aioria gaguejava, vendo ir pelo ralo sua última chance de esclarecer o equívoco.

  Aioros sorriu para a princesa, mas balançou a cabeça:

- É que ainda não pedi à parte interessada, - disse-o voltando o rosto para Ena que corava o todo em seu assento.
- Vá em frente e faça-o agora, então! – respondeu a deusa, com novo sorriso.

  Aioros assentiu e caminhou até Ena, ajoelhando-se à sua frente e tomando sua mão, antes de fazer o pedido propriamente dito. Mesmo já sabendo do propósito de todos aqueles atos, a menina corava a cada segundo e apenas murmurou um “aceito”, por não conseguir dizer nada além.

  Aioria observou mudo toda cena enquanto seu irmão abraçava a jovem a quem salvara na véspera. Quando haveriam se conhecido? Tinha a impressão de que seus amigos ao redor da mesa comentavam a história do casal, mas não conseguia ouvir, sua cabeça doía demais.

  Seu irmão tivera a coragem de em um repente pedir a mão de uma garota em casamento... Somente Aioros mesmo... Aioria nunca nem teve como conversar com Marin sobre o beijo que trocaram. E agora, nem pelo bem da reputação da amazona, conseguia desfazer o desentendido com a deusa.

  Era um real covarde. Seu irmão acharia isso quando ouvisse que estivera enganado e que pior: bem que Aioria queria que aquilo fosse verdade. E Marin também devia achar isso, ela ficaria ressentida pelo papelão por que o cavaleiro a fazia passar no momento.

  Levou o olhar para Marin que apenas parecia aguardar. Aioria entendeu ali, observando as atitudes do irmão que não estava pronto para aquilo. Aioros não devia conhecer Ena direito e mesmo assim tinha a certeza definitiva de seus sentimentos. Já o cavaleiro de leão apenas hesitava em desfazer um mal entendido sobre sua relação com Marin, ou até aproveitar aquela chance de ouro para declarar seus sentimentos tal qual Aioros fizera.

  Fora aí que compreendeu tudo. Voltando-se novamente para a deusa, pôs-se a falar:

- Meu irmão confundiu nossa amizade. Digo, eu mesmo sempre admirei tanto a Marin por sua força também cheguei a pensar que talvez a amasse. – Sabia que estava vermelho, mas aquela cena, por mais desnecessária que fosse, parecia servir para se provar algo. Portanto, prosseguiu com um sorriso e de cabeça erguida: - Acho que é por ela sempre haver me lembrado meu irmão, que nunca se curvava não importava a situação. Sim, é exatamente isso. Eu amo a Marin mesmo, mas como uma irmã. Por isso, não faz sentido nos casarmos. Eu sequer tenho maturidade para um passo tão grande...

  Tinha consciência de como seu irmão o olhava fixamente. Na verdade, todos os faziam com um silêncio incômodo. Desejou ouvir alguma piada de Miro para quebrar o clima. No entanto, sabia que precisava enfrentar aquela situação para se provar que já era grande o bastante ao menos para enfrentar dificuldades.

- Mesmo que houvesse alguém que eu amasse dessa forma, não creio que seja já forte o bastante para protegê-la. Ontem foi prova disso. Achei que iria morrer e nas mãos de alguém que nem cavaleiro era! Pior, deixei inocentes desprotegidos, incluindo quem vejo agora ser a pessoa importante de meu irmão.
- Pois acho que fez um belo trabalho não protegendo apenas as vítimas como seus agressores. Foi responsável a esse ponto... – interferiu Saga.
- Não creio que o resultado de ontem significa que fiz direito meu trabalho. – Aioria sorriu. – Por isso, antes de me casar, quero pedir permissão a Athena para sair do Santuário e buscar treinamento.
- Acho que há uma pessoa que adoraria te assumir bem aqui mesmo... – interrompeu Kanon.

  Aioros caminhou até o irmão mais novo e ajoelhou-se à sua frente e de Athena.

- Eu adoraria retomar de onde paramos, bem, tirando as partes que você já deve ter aprendido sozinho... – disse-lhe com um sorriso e então voltou-se para a moça sentada logo ali: - Gostaria de mais esta permissão, minha deusa.
- Mas e a cerimônia? Ainda vai fazê-la, né? – perguntou-lhe após assentir em resposta.

  Os dois irmãos se olharam.

- Talvez fosse melhor adiar um pouco... – disse Aioria no lugar do mais velho.
- Que tal para depois do treinamento dele? – sugeriu Aioros com um sorriso travesso, causando risadas em todos os presentes.

  Afinal, sentia que ainda haveria muito tempo...

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Aioria olhou para Marin bem a seu lado e lhe sorriu. Estavam sentados na escada em frente ao templo de leão observando o pôr-do-sol daquele dia. A amazona viera lhe trazer alguns remédios enviados pelo hospital para o rapaz pelo menos tomar aqueles.

  Era grato por não a haver perdido depois do discurso do almoço. Não conseguira lhe falar nada após e, por isso, não fazia ideia de como Marin o via. Fora uma ótima surpresa quando ela surgira com aquela sacola cheia dos piores comprimidos e mais um papel com instruções de uma alimentação balanceada para o período de convalescência.

- Por que não desmentiu logo? – perguntou ela, virando-se para ele. Estiveram relembrando a surpresa do outro ao ver seu irmão vivo bem ali.
- Acho que sou fraco demais, né? Deve ter sido um momento ruim pra você...
- Não, só foi engraçado. Não imaginava que nossa deusa fosse tão pró casamentos...
- Sim, ela ficou chateada quando o Aioros também negou a cerimônia.
- Foi sorte, quando fomos ajudar o Afrodite a retirar as rosas, algumas eram as de sua coleção particular, se é que me entende.

  Os dois começaram a gargalhar juntos.

- E seu irmão? Vocês já se acertaram, né?
- Soube que ele realmente esteve no meu quarto ontem. Achei que estivesse morto quando abri meus olhos e o vi, tal qual era anos atrás! Mas ainda não conversamos... Ele foi ajudar a desfazer o salão e depois conversar com a deusa. E eu nem pude ir ao salão, Saga me proibiu.
- Você ficou bem mal ontem, não é à toa.
- Sobre hoje no almoço...
- É, eu vim aqui para agradecer aquilo.
- Quê?
- Não imaginava que fosse tão importante assim para você.
- Nem quando te beijei?

  A amazona sorriu.

- Eu realmente achava que gostava assim de você, - prosseguiu o cavaleiro, -Mas, a verdade, é que é muito mais que isso. Beijos, abraços, casamento, isso é muito pouco.
- Sim, por isso quero agradecer. Eu estava me sentindo insegura desde que soube que seu irmão ainda estava vivo. Desde que o treinamento de Seiya acabou e ele foi embora, eu não tinha ninguém com quem conversar. Agora, Shaina e eu até nos damos bem, mas não se compara com o quão importante sua companhia é para mim. Mas, é... Acho que não tem nada a ver com beijos. Eu prefiro nossa amizade normal.
- Obrigado por entender.
- Eu é que agradeço me poupar ter que rejeitá-lo! Agora, acho que há uma pessoa com quem você precisa conversar. Na casa de Sagitário, digo.

  Aioria passou a mão na cabeça, mas assentiu. Levantou-se e começou a subir pelos templos até a nona casa. No entanto, era Afrodite quem estava lá. Teve que voltar até o terceiro templo, onde Peixes disse que Aioros estaria. Correu com todas as forças, que ainda não eram muitas, e chegou esbaforido a seu destino.

- Aioria? – Seu irmão fora o primeiro a perceber sua presença.
- Eu, err... Queria saber quando começamos o treino, - mentiu, com as bochechas queimando e não era pelo esforço.

  Seu irmão mais velho havia concordado em apenas esperar até a próxima visita da deusa ao Santuário para celebrar a própria união com a amada. Então, talvez demorasse somente alguns meses, mas ele não parecia nervoso. Não que Aioria tivesse juntado coragem de perguntar, na verdade, ouvira isso de Miro mais cedo, assim que ele retornou do salão onde o tal casamento seria feito.

- Que tal quando os médicos realmente te derem alta? Ontem eles me disseram que duas semanas você estaria bem. – Aioros lhe sorriu, dando um passo à frente. – Fico feliz pro poder treiná-lo de novo... - E o abraçou firmemente para a surpresa do outro.

  O cavaleiro de gêmeos pôs-se a observar a cena com alguma apreensão.

  Nunca se saberia com certeza o que havia ocorrido com Aioros. A teoria que Athena consideraria a oficial quando explicasse a todos era a de que Saga, enquanto tomado por sua outra personalidade, houvesse usado seu controle das dimensões para enviá-lo para o mais longe que pudesse. O cavaleiro de gêmeos não tinha certeza de ser mesmo capaz de forçar os outros em viagens no tempo com seu golpe, todavia, ele não encontrara uma teoria mais aceitável.

  Por outro lado, não mais importava. Aioros havia retornado e parecia feliz com sua noiva. Não era o bastante para acabar com a culpa de Saga, nada jamais o seria, apenas representava uma chance de ainda fazer o amigo feliz. Por isso mesmo, esforçava-se para compensar os danos que lhe infligira.

  Ainda assim, o que ocorreu era algo efetivo e que não poderia ser ignorado. Para o cavaleiro de Sagitário, um dia seu irmão era uma criança e no outro um homem independente, a ponto de até lhe parecer prestes a se casar, ainda que nem o próprio caçula se assumisse para si o quanto progredira com suas próprias pernas.

  No entanto, aquele abraço trocado na casa de gêmeos e aquelas lágrimas mal ocultadas eram provas de que, aos poucos, talvez, os dois ainda pudessem recuperar o tempo que lhes fora roubado. Não, qualquer um deles preferia pensar que queriam era aproveitar aquele tempo que haviam ganhado.

  Aos poucos, as mãos de Aioria subiram pelas costas de seu irmão e o abraçou com toda sua força. Suas costas lhe pareciam muito pequenas em comparação às suas lembranças, mas a força que sentia no abraço estava ainda maior que no passado. Talvez, porque agora Aioros não precisasse tomar cuidado para não machucar o irmão e pudesse confiar toda sua força naquele aperto?

  Apenas se separaram porque Aioria pareceu lembrar-se de algo.

- O que Afrodite fazia na sua casa? – perguntou o cavaleiro de leão, erguendo a sobrancelha, - Aconteceu alguma coisa? Você não precisa pôr substitutos quando sair do posto..
- Ah, é que eu o mandei pôr umas rosas lá. Aquele lugar parecia tão largado...
- Você... realmente gosta de pôr medo no pobre coitado, né? – perguntou Aioria, coçando a cabeça.
- Mas já disse a ele que essa seria sua última missão. Mesmo assim, é divertido como alguém ainda se lembra de algo assim depois de tantos anos.
- Não é como se qualquer um de nós o houvéssemos esquecido, meu irmão.

  Aioros sorriu-lhe de volta e o olhou nos olhos. Possuíam quase a mesma altura e mesmo suas aparências físicas não eram tão distintas. Era como olhar-se em algum espelho.

  O mais novo se despediu então, não querendo atrapalhar a conversa que os amigos tiveram. Antes disso, aceitou o convite do irmão de este lhe preparar a janta, como nos velhos tempos. Por isso, logo se veria. Só que, desta vez, seria na casa de Sagitário.

  Ainda que parecesse o fim de uma história que começara fazia muito mais que dez anos, havia muito o que fazer no Santuário e os interrogatórios com os soldados continuavam. Aquela era a razão fundamental para Aioros não querer se casar ainda. Queria deixar tudo em ordem antes.

- Por que mentiu pro Aioria sobre ter liberado o Afrodite da promessa? – perguntou Saga assim que entraram no carro, - Não acha ninguém o percebeu gritando com as servas do Santuário enquanto coordenava a limpeza da casa de Sagitário? Ele não tava só enfeitando aquilo...
- Eu não menti. Decorar foi realmente a última missão que passei a ele; só acontece de eu ter dito uns minutos antes que deixasse meu templo brilhando.
- Sonso... Não dá pra crescer um pouco, Aioros?
- Tava pensando nisso... Sabe, pelo Aioria e tudo. Mas qual a graça, quando já temos Camus e você de emburrados? – E soltou uma gargalhada.
- Sei... Você cai do céu, prende um monte de soldados corruptos, reassume seu posto e o treinamento do seu irmão, fica noivo... Ainda assim, nada mudou!
- E fico feliz com isso. – Desta vez, a expressão de Aioros era séria, enquanto olhava para o céu pela janela.

FIM!

Anita, 19/03/2010

Notas da Autora:
Após trocentos anos de escritas e longas pausas, esta novela se acabou. Nem acredito que amanhã acordarei e não terei a tristeza de perceber que o Aioros ainda não teve seu final feliz, porque ele acabou de ter! *_*

Não gostei deste capítulo, teve muitas cenas ruins e não pude fazer nada por isso. Mesmo esperando, relendo, não me vinha nada que as melhorasse além de trocar de autor. E não achei ninguém que quisesse escrever esta fic por mim, então teve que ser essas coisas piegas mesmo. Mas garanto que me diverti e acho que é isso que importa. Tomara que vocês também tenham rido dessas situações embaraçosas por que os fiz passar! Aliás, eu senti vergonha ao ver o número dessas situações em capítulos passados. Pedi até desculpa pros personagens, não é normal eu fazer isso...

Como perceberam, a história possui dois finais mais ou menos parecidos. Bem, é que percebi que talvez Marin e Aioria pudessem ficar juntos e talvez não. Por isso, decidi fazer algo como a Nemui anda tentando montar, mas só com este capítulo. Ou seja, isto é quase um gamebook! Pode ir em frente e ler o capítulo espelho, vão perceber que a única diferença é essa mesma! Eu nem tenho um final favorito, apesar de pela data vocês poderem perceber facilmente qual foi o primeiro a ser feito...

Vocês não precisam ler os dois, mas também não são proibidos. Ah, e me contem o que acharam depois! Nunca fiz algo assim antes e errr, se preferirem nunca mais farei. Não que se vocês gostarem eu pretenda fazê-lo tão cedo novamente, hehe.

E nesta versão, vemos os dois no final apenas amigos! Por sorte, isso não atrapalhou Ena e Aioros, apesar de ter atrapalhado as cenas românticas deles *lembra-se dos dois se beijando e de Aioria logo ao lado no sofá*. Pobrezinhos, hahaha!

Agradecimentos? Ai, taaaaanta gente! Nem vou dizer nome, só destaco que agradeço a todos os que tiveram a paciência de esperar para ler esta última nota autoral desta fic.

E um parabéns para Vane, hahaha, após errr quase 6 anos, ela ganhou seu presente de aniversário completo. Ufa...! Apesar de todo o drama, espero que errrr tenha agüentado ler até aqui @___@ Sei que foi difícil. Sinto muuuuito!!!

Se quiserem mandar comentários, críticas ou sugestões, mandem-me um e-mail Anita_fiction@yahoo.com se forem sados-masoquistas e ficaram a fim de ler mais momentos embaraçosos para os personagens em fics minhas, visitem meu site Olho Azul para minha coleção de momentos “trágicos” http://olhoazul.50webs.com/

E até a próxima, meus pacientes leitores T_T

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