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Meu Passado Ficará Em Seu Futuro § 5 – Tempo Perdido


Olho Azul Apresenta:  
Meu Passado Ficará
Em Seu Futuro


Capítulo 5 – Tempo Perdido

“Shiawase ni naritai to 
Negaeba negau hodo
Soko ni chikadzuite ikeru to 
Watashi shinjiteru"

 
"Se desejo que sejamos felizes
Eu desejo tanto
Que acredito que
Podemos ficar mais perto disso”
-Rimi Natsukawa-
 

  Seus olhavam ao redor sem crer em muito do que miravam. Como era possível aquilo ter mudado em tão pouco tempo? Aioros começava a se indagar do quanto havia passado desacordado até Ena lhe salvar. 

  Ao lembrar-se da simples e destemida jovem, seu coração apertara um pouco. Teriam-na punido também? Se alguém da vila houvesse comentado qualquer coisa deles... Tinha de ter certeza de que nada lhe ocorresse!
 
  Olhou novamente a janela que se conservava aberta. Quando viu o vulto do lado de fora sonhou que pudesse ser sua querida Ena... Mas os olhos que o encararam eram castanhos-avermelhados e não as esmeraldas que esperara.
 
  Quem teria sido aquela moça? Não era uma miragem, já que mesmo os soldados a tinham avistado. Um rosto tão branco em plena Grécia...? Seria uma forasteira? Provavelmente, uma oriental. Vê-la-ia novamente? Também se meteria em problemas por se aproximar dele?
 
  Seus pensamentos voltaram aos lindos olhos verdes que deixara para trás. Saga lhe pagaria por cada fio de cabelo danificado!
 
-Calminha, rapaz. Fica quietinho que o senhor Saga já chega, -um dos soldados lhe disse, algemando-o a uma cadeira que arranjaram.
-Assim ele não foge, - comentou o outro com um sorriso de satisfação.
 
  Os demais já se haviam ido de volta às vidas normais. O cavaleiro de Gêmeos demorava-se quando todos esperavam que já estivesse ali ao chegarem.
 
-Argh, depois brigam por a gente tá vadiando. Que saco, hein?-falou o primeiro, fechando a janela.
-Quem terá sido aquela menina?-O segundo virou-se para o prisioneiro por resposta.
-Não faço idéia...-ele disse, suspirando.
-Se fosse cúmplice, já saberíamos!
-Mas eles tavam conversando...
 
  Os dois começaram a discutir sobre o assunto tirando qualquer conclusão e entediando-se em seguida. O que o cavaleiro estaria fazendo?
 
-Será que foi falar com o Mestre?- a hipótese daquele que parecia ser o superior trouxe reflexões a Aioros.
 
  Não poderia estar falando sozinho... Talvez reparando os danos causados? Pensou no senhor a quem entregara Athena. O bebê teria sobrevivido às vilanias de seu ex-grande amigo? Tivera que desistir de sua Deusa logo quando já a atribuía um amor quase que fraternal... Logo que a pôs no colo do idoso sentiu falta daquele calor, da aura reconfortante que só sentira com aquela menina.
 
  Abrira mão de sua vida promissora como cavaleiro, das esperanças que lhe deram de um dia ser o Mestre... De seu amado irmão! Saga nem se dignava a aparecer logo...
 
-Podem ir, soldados, -uma voz imponente penetrou por todo o corredor.
 
  Os dois que guardavam Aioros assentiram de imediato:
 
-Mestre, este é o homem que o Senhor Saga pediu-nos que trouxéssemos até aqui, - o inferior explicou, preparando-se para partir.
-Também não nos deu pista quanto ao castigo...-o superior comentou, parecendo curioso.
-Castigo? Pelo amor de tudo que nos é sagrado... Fazem idéia de quem ele é ou não fizeram aula de História!? Olhem-no bem e terão uma pista, -o Mestre respondeu, entrando na sala e deixando-se banhar pela luz que Aioros constatou vir de uma lâmpada elétrica, uma das poucas que vira em sua vida.
 
  A figura assustara-o profundamente. Não usava máscara alguma, mas as roupas douradas brilhavam triunfantes o que o impedira de reconhecê-lo no primeiro segundo.
 
-Saga!-exclamou assim que o fizera. Olhou consternado para os outros dois homens, já prontos a saírem após o sermão recebido. –Por Athena! Não notam que ele não é nosso Mestre!? Este não é o irmão de Shion... É Saga!
-Está enganado...-o soldado superior limitou-se a dizê-lo. Ambos despediram-se e pediram desculpas por não saberem de quem se tratava o prisioneiro. Logo saíram do lugar antes que levassem qualquer castigo. Não faziam idéia do que esperar do novo Mestre, e seu rosto assustava-os a cada vista obtida desse.
 
  Aioros tentou levantar-se da cadeira, mas lembrou-se de que estava algemado. Suspirou indignado antes de levantar o olhar para o “Mestre” uma vez mais.
 
-Você os hipnotizou!? Diga! Conte seus truques e poupe-me desta morte ignorante.
-Morte? Por favor, Aioros... – O homem caminhou até ele e soltou-o de sua prisão.
-Por que isso agora, Saga?
-Não sou Saga... Não me reconhece?
 
  O ex-Sagitário examinou-o bem antes de acreditar naquelas palavras. Sentia-se tão exaurido que deixara alguns detalhes escaparem.
 
  Os olhos do Mestre eram afiados e resolutos, em contraste com os calmos e obedientes do cavaleiro de Gêmeos. Além do mais, nem mesmo o cheiro era igual.
 
-Kanon!?
 
  Num segundo, toda a sua vida mudava novamente.
 
-VOCÊ IA MATAR ATHENA! Ah, mas faz tanto sentido!! Como pude duvidar de meu grande amigo...
-Eu!? Ha! Não sou tão bobo quanto meu irmão. Meus planos são muito mais elaborados que tentar meter a faca num bebê e deixar a janela aberta! Aquele que viu era, realmente, Saga.
 
  A confusão retornava a Aioros.
 
-Há dezesseis anos, meu amigo. Como pode imaginar, os tempos mudaram. –Kanon ilustrou apontando para as mudanças ocorridas naquele corredor.
-Dezesseis?
-Não sei onde se meteu, mas é isso aí. Athena já cresceu bastante... Fez um bom trabalho dando-a àquele japonês. Ah, Saga já está vindo, falávamos com Ela própria e agora ele tá pensando se deve contar aos demais cavaleiros de ouro ou não. Eu sugeri que esperasse ordens... O que acha?
 
  Aioros caminhou até a janela de antes e a abriu. O vento soprava em seus cabelos. Precisava respirar.

 
-Como isso ocorreu se ainda sou o mesmo?-perguntou, enfim.
-Não faço idéia. Aliás, eu mudei, não?
-Acho que sim. Que tolo sou! Tudo mudou...
-Aioros!-uma terceira voz ressoou. Os passos de seu dono eram incertos até um aceno do Mestre.
-Já contei a parte triste, Saga. O coitado perdeu dezesseis anos da vida...
-Mas estou aliviado em ainda possuí-la, -o ex-cavaleiro constatou, sorrindo ao recém-chegado, -Sinto muito pelas minhas ofensas, amigo.
 
  Correu para um abraço forte.
 
-Eu... Eu mereci, Aioros! Tudo o que houve... Kanon não te contou, mas...-Saga tentava dizer, todavia, lágrimas lhe corriam pelos olhos tamanha sua emoção.
-É passado, -o Mestre disse, olhando um grupo que apareceu no corredor, -Ah! Bem-vindos. Ouviram a notícia? Achamos um cavalinho nosso perdido no pasto vizinho.
 
  Aioros olhou os emissores e lágrimas também inundaram sua face.
 
-Shura! E Camus... Shaka! Uau! São vocês mesmos!?
-Em carne e osso...-Aquário respondeu, perguntando-se se poderia sorrir numa situação daquelas sem que o notassem.
-Mas a surpresa não deveria ser nossa?-Capricórnio indagou, aproximando-se para abraçar os dois amigos próximos à janela.
-Senti algo estranho há algum tempo, mas achei que fosse impressão apenas, -Virgem falou, -O mesmo disse o Mestre Ancião, quando lhe contei.
-Tá perdoado!-Aioros falou, sentindo vontade de abraçá-lo, mesmo sem possuir intimidade para tal, -Nossa! Todo mundo é cavaleiro de ouro, né? Que chique!
-Pois é...-Camus falou, mostrando discretamente a armadura.
-Achei melhor só chamar a eles e a Dohko...-Saga explicou, limpando as lágrimas.
-E cadê o velho mestre?
-Já vem... Estava na China, sabe?
-Puxa... Quero vê-lo! Quero ver tanta gente...
-Athena também está a caminho. Creio que se encontre em sua lista, -Shaka anunciou, -Agora devo voltar à minha meditação. Vemo-nos à hora do jantar especial. –Estava prestes a ir quando pareceu lembrar-se de algo. – O que digo ao seu irmão?
-Aioria!? Vai vê-lo? Então está no Santuário!? Ele vem ao jantar?-Aioros sentia formigas morderem seu estômago com a idéia de rever o irmão.
-Virá ao jantar dos cavaleiros de ouro, não se preocupe, -Kanon afirmou, dispensando os outros para seu dever, -Agora deve descansar, parece acabado! Imagine o treco que Athena terá quando notar que seu salvador é um trapo ambulante!?
 
  Todos riram, já voltando aos seus postos.
 
-Até mais tarde, Aioros...-Saga disse, saindo.
-Até, amigo!
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
  Seu corpo estava muito dolorido enquanto tentava se virar na cama. Uma pedra caíra em sua cabeça ou coisa assim? Então, lembrou do que realmente lhe havia ocorrido.
 
-Aioros!-gritou, sentando-se com o pulo.
 
  Passos ressoaram em seguida, e seu dono entrou no recinto.
 
-Marin, que bom que acordou. Está apagada há umas cinco horas... Pedi que Mu te desse algum remédio, mas já achava que não tinha surtido efeito.
 
  Ela o olhou melhor e custou a perceber que se tratava de Aioria.
 
-Onde está Aioros?-perguntou.
-Hã? Meu irmão morreu antes de você vir pra cá... Sua memória tá bem? Gostou tanto assim do retrato que te mostrei, é?
-Não, Ele estava ali! Dentro do corredor, bem na minha frente, Aioria. Sei que era ele...
-Certo, certo. Agora vou pegar algo pra você comer, tá? Peraí, que acho que alguém tá aqui no Templo. Vê se não foge.
 
  A moça assentiu, passando a mão na cabeça dolorida. Sua perna estava dando pontadas de dor e pouco se lembrava do que houvera após ver Aioros. Já estaria inconsciente então?
 
  Olhou ao redor para conhecer o quarto de seu amigo; nunca estivera ali. Era pequeno, porém arrumado. O bastante, pelo menos. Nunca ninguém venceria Seiya, talvez por isso não se impressionasse...
 
  Teria mesmo imaginado Aioros? Lembrou-se vagamente de sua queda, era um milagre o que Mu praticara curando-a tão rápido. Não que ele já não tivesse feito serviço melhor com os cavaleiros de bronze. Teria aquela visão algo a ver com a droga com que Áries lhe tratara?
 
  Uma voz diferente de seu amigo conversava com o mesmo. Pareciam falar de algum jantar com Athena presente a ser realizado em duas horas, mas Aioria o recusava polidamente.
 
-É a Athena!-Miro argumentava.
-Cara, entenda algo bem simples: eu estou ocupado.
-Nem tá trabalhando... O que pode ser mais importante que um jantar especial com Ela? Digo, pra ser feito tão de última hora, aposto que vai ter algum anúncio legal pra gente.
-Desculpa, mas tem uma vozinha em mim dizendo que meu lugar é aqui. Amanhã eu peço perdão.
-Isso é pra quem se arrepende. Se pretende fazê-lo antes mesmo de cometer a falta, não creio que seja sincero.
-Vai embora, Miro, eu tô ocupado, -o rapaz disse, saindo para seu quarto.
-Argh! Sabia que Camus vai me matar!?
 
  Marin se recompôs na cama olhando sério para o amigo. Trocara mesmo aquela noite especial por cuidar dela?
 
-Não preciso de companhia...-falou assim que sentira que ele a ouviria, -Desculpa se sôo mal-educada.
-Tava escutando?-Aioria perguntou, fechando a porta atrás de si.
-Bem, vocês falam meio alto...
-Olha, eu não tenho paciência pra essas coisas, você é só uma desculpa.
-Não comentou sobre mim pra ele.
-Eu o farei amanhã pra Athena. Dá pra parar de bancar a espertinha e ficar quieta? Vou pegar a janta pra gente comer. Consegue fazê-lo sozinha?
-Por que não conseguiria?
-Você caiu do céu... Preciso dar outra resposta!?
-Ha Ha! Acho que não...
-Achou algo de interessante?
-Vi seu irmão.
-Algo real?
-Falo sério... Eu juro que o vi no corredor do Templo.
-Como!? Ele morreu, Marin.
-Bem, seria ótimo você ir ao jantar e descobrir, né?
-Não vou. Fico aqui contigo, poxa. Deixa eu aproveitar esta chance! Todo mundo me dando ordens e não vendo que eu também tenho vida além da armadura?
-Não tô te entendendo...
-Você vai embora no momento em que eu puser o pé fora.
-Talvez...
 
  Aioria suspirou com a resposta sincera. Sentou-se na cama, ao lado da Marin, e pôs a mão em seu lindo rosto. Parecia tão mais viva que algumas horas atrás após o desmaio. Porém, sentia um incrível ciúme a cada segundo que mencionava Aioros. Mais do que quando outros cantavam suas proezas.
 
  A face não se havia arranhado e estava pronta para sair voando. Como perder um passarinho tão raro e querido?
 
-O que foi?-ela lhe perguntou com olhos cheios de dúvidas.
-Ah, é que...-Tinha de pensar rápido! Sim, era sua vez de agir. –Tem um fiapinho no seu rosto. Deixa-me tirar. –Estendeu a mão até o local e fingiu tirar o objeto, mas demorou bem mais do que seria necessário. Era um prazer tão grande que se achou sem forças para sair daquela posição.
-Oh, não!
 
  A exclamação tirou o cavaleiro de seu devaneio e assim fingiu soprar o tal fiapo.
 
-O que houve?-perguntou confuso.
-Meu rosto!
-Não se machucou...
-Não! A máscara! Ai, por que estou sem ela?
-Ah... Já estava assim quando caiu. Não a vi por perto.
-E por que não fez nada?
-Que faria!?

  Ele a viu desistir do argumento e olhar para o teto. O jovem riu-se um pouco de tanto prazer que sentia com aquele quadro. Podia amar tanto assim?
 
-Como sou descuidada... Aioros também me viu assim. Pelo menos não me reconhecerá, já que antes tinha me visto de máscara.
-Antes? Voltou a pirar?
-Ele é o Cavaleiro de Prata. Por isso estava preso e por isso era tão mais forte. Tá querendo se vingar do Saga... Que confusão.
-Vou pegar a comida, tá delirando de fome!
-Espera, -disse-o pegando no braço de Aioria, -Fica mais um pouco... Está tudo doendo.
-Mu comentou que isso não ocorreria... Droga! Ele fez tudo errado. Vou lá agora reclamar com ele.
 
  Contudo a amazona, novamente, impediu sua saída.
 
-Por favor...-disse, gemendo de leve.
-Parecia tão bem há pouco. Não devia tê-la contrariado.
-Não é sua culpa; fui inconseqüente.
-A curiosidade nos leva a loucuras.
-É...-Deitou a cabeça nos largos ombros.
 
  O cheiro do xampu entrava pela narina de Aioria e o levava a um estado ainda mais elevado de inquietação. Estava tão próxima! Era muito diferente do que quando se encontrava desacordada.
 
  Era mais quente. Mais rosada. Talvez até mais cheirosa. Sua respiração batia no tórax quase que entrando num ritmo estranhamente tranqüilizador. Mesmo assim, aquele calor em sua blusa surtia efeito contrário em seu estômago.
 
  Um forte impulso fez com que ele a abraçasse o mais forte que podia. Não podia largá-la. Nunca.
 
  Todavia, aquele movimento brusco assustara a amazona que agora o encarava com olhos enormes. Pareciam rubis recém-descobertos que a cada segundo revelam ser muito mais belos que no anterior. Algo poderia brilhar tanto assim?
 
  Era impossível conter-se mais. Explodiria se não-
 
  Beijou-a. Com tudo o que guardara por tantos anos. Tantos... Com tanto. Um alívio percorria sua espinha enquanto suas mãos seguravam o pequeno ombro e a outra percorria os cabelos tão sedosos.
 
  A urgência diminuía junto com a intensidade do ósculo. Pelo caminho oposto, a consciência do rapaz voltava, porém ainda se sentia inebriada demais. Podia apenas dizer que não era o único que aproveitava tão glorioso momento.
 
  Logo, a falta de ar obrigou-os a se separarem. Ficaram assim, recuperando o fôlego num torpor estranho. Mas as mãos continuavam a acariciar um ao outro.
 
  Era tão bom fazer cachinhos naqueles cabelos... Aioria poderia passar a vida toda assim.
 
  Após alguns minutos, a jovem deitou-se de novo em seu ombro. Não parecia arrependida da primeira, mas também não se mostrava apta a uma segunda. Apenas se deixou estar assim, permitindo a brincadeira em suas mechas enquanto ela própria lhe desenhava círculos com as palmas das mãos. Levou-as até um dos braços e apertou de leve seus músculos.
 
  Com o tempo, só o rapaz continuava a brincadeira: Marin adormecera com um lindo sorriso em seu semblante. Por outro lado, Aioria tinha medo de dormir para no dia seguinte perceber que aquilo fora apenas um sonho – efeito da droga ministrada por Mu.
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
  Aioros entrara no salão ansioso. Após um refrescante banho, mal pudera esperar pela chegada de Athena e de seu irmão mais novo. Por que demoravam tanto? Por que Aioria, pelo menos, não viera logo? Tantas vezes essas perguntas passaram-lhe pela mente durante o banquete...
 
  Sentou-se na escada que levava às doze casas e suspirou desapontado. Nenhum dos dois que ele mais esperava viera. Mal conhecia os cavaleiros atuais e seus amigos sentiam-se estranhos ainda a seu lado.
 
-Dezesseis anos...-repetiu-se pela enésima vez. Era tão difícil compreender que para todos havia morrido por tanto tempo. E por treze fora um traidor; segundo o que Shura lhe explicara.
-Ei! Nossa, nem acredito que salvei o grande Aioros de Sagitário, -um rapaz aproximou-se, sentando-se do seu lado.
 
  Reconhecia-o da outra noite, quando fora preso pelos soldados e salvo por uma amazona e um cavaleiro de ouro. Ao menos, agora sabia por que todos eram totais desconhecidos.
 
-Agradeço muito a você e à sua amiga, -respondeu, forçando um calmo sorriso.
-Nossa, Aioria vai morrer quando souber!
 
  O nome mencionado causara um arrepio no ouvinte.
 
-Você o conhece!?-perguntou, sem pensar muito, -Ele não sabe de mim?
-Não faz idéia! Se bem que ouvi Marin falar com ele que te havia visto. Mas é claro que ninguém acreditaria nisso, né? Eu mesmo; aqui do teu lado!
-Marin... Não é a menina que te acompanhava no dia em que nos conhecemos?
-Ah, sim! Também é amiga de Aioria. Vocês se viram depois, ou foi um feliz delírio dela? Parece que se machucou e teu irmão tá cuidando dos ferimentos...
-Machucou-se? Então era ela! Vi uma menina olhando pela janela no corredor do Mestre. Os soldados também a viram, então sei que não foi minha imaginação.
-Faz sentido. Aliás, não te disseram que teu irmão não sabia de você?
-Não! Bem, não conversei a sério com ninguém... Tanta gente nova.
-Sei. Uau, eu tenho que tá presente amanhã quando alguém der bronca no Aioria por não cumprir com suas responsabilidades... Vou falar com Kanon!! Vai que me deixa ir junto?
-Posso te acompanhar?
-Pro Aioria?
-Hã? Ah, isso também! Quero dizer do Kanon - digo, do Mestre.
-Ah, não esquenta. Contanto que seja entre nós, podemos chamá-lo pelo nome. Vamos lá, então. Cara, não acredito que tô com o famoso Aioros de Sagitário.
 
  Ao levantar-se, o tão famoso tinha uma gota de suor bem grande em sua cabeça. Era tão importante assim?
 
  O salão já era arrumado quando os dois entraram. O Mestre estava em um canto com outros cavaleiros restantes. Conversavam calmamente enquanto ele retirava alguns ornamentos.
 
-Tanto trabalho pra pôr e a menina nos deu o bolo!-reclamou, sendo logo repreendido por Shura e Saga.
-Chame-a mais respeitosamente!-seu irmão acrescentou ao olhar ameaçador.
-Imagino que vir do Japão demore muito mais que simples horas...-Camus comentou.
-E da China?-Shura perguntou.
-O mestre já está chegando; avisou-me que não estaria na hora, -Saga falou, olhando acima dos ombros de Kanon para os dois que regressavam, -Aioros! Onde estava?
-Tomando um ar...-ele respondeu, sendo convidado por Miro a sentar-se com ele.
-Mestre, -Escorpião disse, -amanhã pretende repreender Aioria pela falta, né? Ele não precisa saber que a Deusa também não estava.
-Pensava justamente nisso!-Capricórnio interrompeu, -O irmão aqui vivinho, doido por vê-lo...
-Não deixei que Miro lhe contasse isso, mas a minha surpresa não deu certo. Achei que o simples fato de Athena estar aqui o traria, -o Mestre explicou num suspiro.
-Ele é incorrigível! Não apenas decepcionou a própria deusa como ao irmão. Com certeza levará um castigo, -Saga disse.
-Ei, eu mando aqui. Creio que descobrir tudo o que perdeu já é o bastante pra ele.
-Mas descumpriu tuas ordens! Como espera que os soldados te respeitem se nem os próximos o fazem?! Já ouviu falar das batidas? Já!? Não! Por que está perdendo tempo sendo o grande benevolente! Aposto que os inferiores e o pessoal das vilas nem mais sabem do teu nome, -o gêmeo explodiu, ficando mais vermelho a cada palavra.
-Desestressa. Eu sei sim dessas “batidas”, mas preciso de provas.
-Enquanto isso o povo sofre.
-Não posso prender todos os soldados sem saber se todos são culpados. Pôr novos só adiantará por pouco tempo. E não era disso que falávamos. Eu vou te agradar desta vez: Aioros escolhe agorinha mesmo a punição pro irmão e o assunto se resolve.
-Eu?
-Acho justo, -Camus disse.
-É, foi você que deu com os burros n’água..., -Shura assentiu.
-E não podemos punir a menina nem o velho, -Kanon concluiu, numa risada sarcástica para seu sósia.
-Já te pedi mais respeito! Sinceramente, não sei como Ela ainda ficou grata com tua oferta de ficar no meu lugar.
-Porque sou ainda melhor que o original, ho ho!
-Ei, gente, chega de brigas...-Shura interferiu, parecendo entediado, -Fala, Aioros... O que ele vai ter que fazer pra compensar?
 
  Olhou para Miro, que parecia observar atentamente a conversa. Com certeza, não fazia parte daquele grupo, se é que já o havia testemunhado. Antes eram tão famosos... Sim, os tempos mudaram bastante.
 
  Punir Aioria? Raramente o fazia, fora uma ótima criança. Qual seria a melhor escolha? Tentou pensar nos velhos tempos, que para ele não passavam de meses antes. Também nos anos anteriores, que para os outros eram décadas.
 
  Tantas lembranças que eram tão diferentes das dos amigos... Sentia-se um estranho naquela mesa cercada de gente que deveria ser a sua.
 
  Porém, tinha que se concentrar! Punir Aioria por toda a ansiedade frustrada.
 
-Argh, eu só queria ver ele...-enfim, falou.
-Eu posso dar uma idéia?-Miro perguntou.
-Não!-Shura, Saga e Kanon responderam juntos.
-Não é justo!-disse, cruzando os braços.
-Aliás, o que houve com Afrodite? Não o vi hoje...-Aioros lembrara-se de uma das mais engraçadas punições que seu grupo aplicara.
-O narciso?-Kanon perguntou.
 
  Saberia daquela história? Não pertencia à patota, mas, ainda assim, podia ser que a conhecesse.
 
-Ele tava aqui...-Escorpião falou –Se bem que nem falou contigo.
-Haha! Nossa, ainda bem que Athena nunca soube. Ficaria chateada conosco –Shura falou, parecendo recordar-se de algo muito antigo.
-Faz tempo que não penso nisso. –Aquário deu um leve sorriso.
-Como assim!?-Miro olhava para cada um de seus amigos e mais e mais interrogações multiplicavam-se em sua cabeça.
-Fiz questão de não deixar que ele se esquecesse dessa história...-Gêmeos enfim respondeu ao recém-chegado amigo.
 
  Todos na mesa o observavam curiosamente.
 
-Miro, não é de sua época, mas vale a pena que ouça. Como Aioros notará, Afrodite tornou-se cavaleiro de Peixes anos depois de nós; é um dos mais recentes. –Saga olhava pela janela para as doze casas e para o que vinha antes dela, mas parecia ver sua época de treinamento e muitos ali sabiam que a casa do Mestre Ancião também. –Ele já irritava a muitos desde que chegou com seu jeito narcisista e egocêntrico.
-Esse é o Peixinho que conheço!-o mais novo respondeu, arrancando risadas de Shura e Kanon.
-Na época em que a seleção para renovar cavaleiros de ouro ocorreu para nós, começou a cantar vitória, -o outro continuou, -É claro que não agradou ninguém, muito menos a gente.
-Então roubamos a lista dos selecionados... Tínhamos o plano perfeito! Se nosso nome tivesse na lista, o Afrodite ia viver um pesadelo, -Shura completou.
-Nossa...-Miro limitou-se à expressão. Parecia duvidar que fossem os cavaleiros mais respeitados do Santuário.
-E põe perfeito nisso, ha ha!-Aioros falou, -Camus bolou o plano com a ajuda do Máscara par a raptar a lista. Aí quando nos vimos ali, era só pôr a isca no anzol. Foi uma das nossas punições mais engenhosas, pena que mal vi o cara depois...
-É, Afrodite, que mal começara o pré-treino, não tava lá...-Camus explicou, -Esses aí fizeram uma aposta com ele: se, no dia do anúncio, o nome do Aioros não estivesse e o dele sim, Afrodite pediria o que quisesse, que cumpriríamos. Caso contrário, Aioros seria seu mestre eternamente. Era algo assim...
-Por que ele cumpriria, mesmo se estivesse errado?-o jovem perguntou.
-Já não lembro mais... Fizemos alguma mistura na cabeça do coitado, -Shura confessou, -Mas faz tanto tempo... Tínhamos só nove, em geral. Uau... Isso faz vinte e cinco anos.
-Nós ameaçamos entregar para o Mestre Ancião umas acusações contra ele que tínhamos, -Aioros disse, com olhos nublados. Para ele eram só mais nove anos.
-É claro que não tínhamos nada sério, mas o cara era esperto o bastante pra saber que podíamos criar o que quiséssemos, -Saga continuou.
-Foi engraçada a cara dele quando ditaram a lista. –Capricórnio riu, sendo logo seguido de Kanon, que, provavelmente, não conhecia a história toda. –Contudo, fomos treinar e, quando Afrodite voltou como cavaleiro, a realidade era muito diferente com Ares no- interrompeu-se, notando que tocara no assunto proibido.
 
  Aioros não entendeu muito o silêncio incômodo, mas aquilo era só mais um problema para sua crescente lista. Mesmo assim, sentia-se um tanto feliz por ver que seus amigos estavam ali do lado dele.
 
-Agora entendi por que o Afrodite ficou quietinho!-Miro falou numa gargalhada.
-Aioros bolou quase tudo... Ele é um gênio nisso! Por isso, diga o que tem para seu irmão, -Kanon retomou o tópico original. Parecia quase animado com o que o ex-cavaleiro diria.
-Essa conversa me deu uma ótima idéia!-anunciou, sorrindo de satisfação, -Vai resolver muitos dos nossos problemas, sabiam?
-Mas eu posso tá lá quando vocês disserem, né?
-Sim...-o Mestre anunciou cansado.
 
  Uma porta se abriu e Aioros virou num pulo. Ainda tinha esperanças de que seu caçula apareceria e poderia abraçá-lo.
 
  A forma pequenina fechou o salão novamente e começou a rir do jeito que todos ali tinham como sua marca registrada. A voz e a aparência familiar daquela pessoa emocionou o ex-cavaleiro muito mais do que esperava.
 
-Mestre Ancião!-gritou, correndo para se ajoelhar a seus pés.
-Aioros! Como é bom revê-lo após tanto tempo... Confesso que senti uma pontada de seu cosmo, mas tantas vezes já havia achado isso e era só o seu irmão que nem acreditei. Ainda agora... Como é bom estar contigo!
-Eu que o digo! Parece ser o único que não mudou nada...-falou, sentindo as lágrimas correrem livres.
 
  A porta mexeu-se novamente e alguém alto entrou. Seus cabelos eram longos e lisos. Seus olhos pequenos cresceram ao presenciar a cena.
 
-Por Athena... Pensei que o Mestre tinha mentido pra mim, -resumiu-se, sem poder verbalizar muito mais.
-Shiryu, este é meu grande amigo: Aioros de Sagitário. E este é meu discípulo.
-É um prazer...-o cavaleiro de bronze ajoelhou-se como se o outro se tratasse se algum ídolo.
-Pedi para que viesse... Não sou mais tão jovem quanto você, -Dohko explicou ao velho conhecido.
-Oh, levante-se! Não há nada aqui que lhe seja superior a não ser o próprio Mestre Ancião –ele respondeu, sentindo-se desconfortável, -Ademais, não sou mais cavaleiro de ouro. Nem sei onde minha antiga armadura está. Eu a entreguei ao bom senhor que cuidou da menina Athena.
-Não, Aioros... Não faz idéia de sua grandeza! Quanto à armadura... Sua menina terá muito prazer devolvendo-a pessoalmente ao grande herói que se tornou nesses anos.
 
  Todos olhavam a cena muito emocionados. O que mais se sentia abalado levantou-se do chão e indicou cadeiras aos viajantes. Mencionar sua Deusa fazia o coração mover de forma estranha. Teria mesmo a honra de estar no mesmo ambiente que ela? Falavam como se aquilo fosse tão comum...
 
  Muitas lágrimas jorravam de seus olhos com tais pensamentos. No entanto, seu coração acabara de se recordar de outra menina que, em breve, voltaria a ver. Graças a seus planos para o irmão, seria capaz de retribuir toda a ajuda sua amada Ena lhe havia dado.
 
  Mirou a janela rezando para que não estivesse brava com tudo o que fizera naquele dia. Nem haviam se falado após a briga.
 
  Estaria pensando tanto nele quanto ele nela? As estrelas no céu piscavam como que a encorajá-lo em sua nova vida.
 
Continuará...
 
21/02/2006 

 
 
Notas da Autora:
 
Yay! Mais um capítulo, podem acreditar!? Já estamos nos aproximando do fim, mas muito ainda irá acontecer. Não se esqueçam de acompanhar, ouviram??
 
E, por favor, mandem emails para Anita_fiction@yahoo.com e visitem meu site pra as mais novas fics: http://olhoazul.here.ws, poxa eu nunca recebo comentário algum dessa fic e ela é tão difícil de se escrever...
 
Aliás, deixa eu acrescentar de última hora um agradecimento especial à Nemui por fazer uma betagem rápida da fic pra mim e, bem, pretendia deixar pro próximo capítulo, mas também à Vane por ter sido a fonte inspiradora do castigo do Aioria! Não é nada de mais, mas é tão prático!!!
 
Obrigada por ler!!

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