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Meu Passado Ficará Em Seu Futuro § 4 – Alienação

Olho Azul Apresenta:  
Meu Passado Ficará
Em Seu Futuro

Capítulo 4 – Alienação
 
"Mae wo muitereba mata aemasu ka
Mirai ha doko he demo tsudzuiteru n da
Ookina kanban no shita de
Jidai no utsuroi wo miteitai na

Se continuarmos a seguir em frente, poderemos nos encontrar?
O futuro segue para qualquer lugar
Mas queríamos ficar olhando a mudança das eras
Num grande pôster"
-Hikaru Utada-

O jovem Leão observava os pássaros levantarem vôo junto com outros e se perguntava se seriam casais ou somente amigos. Ou talvez irmãos... Eram felizes por tê-los por perto. Tão injusta aquela vida. De início se contentava que Aioros era um traidor e que merecera a morte que lhe fora dada. Por mais que no fundo se sentisse culpado, tinha que servir Athena, e perdoar o irmão seria contra as regras que lhe diziam serem delas.


Naquele momento, o Sol lhe queimava a vista, mas quem doía era seu coração solitário. Nunca mais fora amado como antes...

-Ô vidinha... Parece um daqueles chatos de coração partido. E o pior é que, se algum dia Marin souber, eu o serei -falou para si num suspiro. Seu maior medo era que ela nunca mais o olhasse. Estando tão sozinho, cada amizade era importante. Era um sujeito alegre e de bem com a vida para que ninguém guardasse rancor dele. Queria muitos amigos, mas... No fundo, ele sabia que conquistara poucos.

Um vulto começou a se aproximar pela frente de seu templo. Coisa bastante anormal, já que mal olhava para cara do cavaleiro na frente e não mantinha quase que relação alguma com os três outros.

-Marin?-disse, ao reconhecer a jovem ofegante -Que houve?
-Fui falar com Saga.
-E daí?
-Bem... Ele nem ligou.
-Imaginei, o Saga é muito esquisitão, Marin...
-Mas aí um grupo de soldados chegou correndo e... Bem, parece que o cara estranho naquela vila, o de ontem... Ele tá lá fazendo um discurso e falando mal do Saga.
-Nossa... E ele foi lá?
-Sim.
-Que bom que não foi junto. Pelo menos, você tem algum juízo. Agora só espero que os outro não culpem a mim por essa ida do Saga.
-Aioria! Eu até ia, mas o próprio me proibiu.
-Fez bem. Marin, amiga, não meta o bico onde não é chamada.
-Só estou curiosa. É claro que tem coisa aí.
-Mas o que esse doido tem a ver com as batidas?
-Eu pressinto isso...

Aioria ficou em silêncio. No fundo, queria ajudá-la naquilo.

-O que há?-a moça perguntou.
-Quê?
-Sua cara tá estranha...-disse, sentando-se no primeiro degrau até Câncer.
-Eu tive um sonho estranho... Com meu irmão.
-Por causa de ontem? Da bronca que você levou?
-É... Acho que sim.
-Tem algo no ar, não acha?
-Como assim?
-Coisas estranhas estão acontecendo...
-Está com medo?
-Não... Por quê?
-Hã... Nada!- Aioria virou-se de costas. Queria que ela dissesse que sim, para poder protegê-la. Mas sabia que Marin era independente demais para aquele romantismo barato.

Quando se voltou, a jovem tinha um papel nas mãos e o olhava atentamente.

-Uma foto em preto e branco...-ela disse -É você? Por que a cara?
-Não sou eu, Marin...
-Calma, parece muito, não é que não possa te reconhecer! Mas, nossa, que amiga sou, né? Você tá com essa cara fechada por decepção?
-Não é isso...
-Jura?

Ele assentiu, sentando-se ao seu lado. Tirou-lhe a foto das mãos e a olhou com um suspiro.

-Fico feliz por ter me confundido com ele. Um dia quero sê-lo... Ser como meu irmão.
-É Aioros!? Uau... Muito parecidos, vocês dois.
-Que bom que o acha! Fisicamente, parecemo-nos mesmo. O que é natural, acho... A diferença é o meu cabelo, que é mais claro. Eu estava olhando isso aí porque no meu sonho ele não estava em preto e branco assim, mas tinha uma expressão tão real quanto aqui -deu um leve tapinha no papel -Fazia tempo que eu não sonhava com algo assim. Só com lembranças...
-Ele te disse algo?
-Não, mas parecia feliz.
-Aioria, ele foi muito nobre, digno de admiração, mas... Não quero que o seja. Basta quem você é.
-Sério?
-Sim -ela assentiu, levantando-se -Vou até a sala do Mestre espiar... Se aquela coisa do Saga deu frutos, vou colhê-los lá.
-Toma cuidado pra não se meter em encrenca. Ah! E me conta tudo depois.

Ela fez sinal positivo com a mão e partiu.

Estaria mesmo algo diferente no ar?

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

As frutas na humilde feira da pequena cidade mais humilde ainda eram banhadas por um sol que rachava no céu mais que azul. Estavam largadas nas barracas, esperando se livrar daquele calor desgraçado. Todos os aldeãos se amontoavam ao redor do homem que atraíra atenção desde que ali chegara, meses antes.

Todos haviam ouvido os boatos do afronta com os soldados e o consideraram iluminado por voltar com vida. Ao mesmo tempo em que o achavam louco pelas asneiras que dizia, sentiam vontade de apoiá-lo. Seus olhos brilhavam tanto de esperança... Era gente humilde que não fazia idéia do que era política. Ninguém nunca se importara por eles e poucos tinham instrução o bastante para escrever. Exceto, talvez, os filhos que treinavam no Santuário propriamente dito...

Mas aquele homem falava mais bonito que o varão mais culto da vila. A delicadeza era melhor que a da maior dama ali presente. Não era à toa que uns pequenos moleques houvessem desistido das brincadeiras para pedir para ser como aquele que lhes falava.

Os próprios soldados não escondiam sua admiração. Não ousariam atacá-lo depois de tantos boatos, mas tinham que mostrar que estavam presentes e que não serviam apenas para as batidas. Mantinham suas lanças apontadas para ele, porém seus olhos também estavam fixos. Era um homem reconhecidamente forte que falava direto para seus corações.

-Pena estar louco -um ousou verbalizar o pensamento geral.

Ena estava sentada, observando cada movimento dele. Ela havia acordado com um vaivém em sua janela, não entendendo nem um pouco do que acontecia. Levantou-se e lavou o rosto. Preparara um belo café para fazer as pazes com Aioros e foi chamá-lo.

Só pôde encontrá-lo no cruzamento mais movimentado do local, no meio das barracas da feira. Muitos já estavam lá, inclusive os soldados. Alguns saíram de repente falando que procurariam seu capitão.

A jovem cerrou os punhos lembrando-se daquele homem cruel da noite anterior e de tempos atrás. Fora ele que lhe tirara seus sonhos de um casamento puro e, desde então, tremia ao ouvir seu nome.

Aguardara hesitante, ouvindo o discurso difamador do forasteiro. Após quase uma hora, quando a população já até oferecia alimentos ao palestrante, os mesmos soldados retornaram. Ena tentara olhar, mas temia muito. Quando conseguiu, percebeu que o Capitão ainda não havia chegado.

Um novo grupo saiu. Estavam um pouco pálidos, mas decididos.

Ela lia nos olhares pequenos seu destino. Era, com certeza, o terceiro templo de Athena. O louco estava conseguindo o que queria...

Após aguardar notícias por mais de meia hora, algumas frutas já não mais mostravam resistência àquela abandono. Não que alguém houvesse notado; algo importante acontecia com aquele estrangeiro.

A jovem se aproximou do soldado com a expressão mais simpática, ainda que meio recatada por temer alguma violência. Tomou fôlego e o cutucou.

-Senhor... Por que o Capitão ainda não veio?-perguntou, não o olhando nos olhos.
-Parece que não o encontraram. Agora tem um bando de malucos que... Você nem vai acreditar!-ele cochichou, parecendo que estivera o tempo todo doido para liberar aquela informação -Eles... Eles vão chamar o próprio Senhor Saga! Em pensar que tínhamos ordens para nunca fazê-lo. Sabe... Todos têm medo de que esse aí conte das batidas.
-Então é isso...-Ena falou, olhando para o chão. Por aquilo, Saga ainda estava ignorante de tudo. E que aquilo fosse contado mesmo; aqueles imundos tinham de pagar...
-Sabe, senhorita... Não somos todos nós que participamos. Aliás, é uma minoria. E juro que eu não faço parte e conheço poucos que fazem. Mas sei que inocentes serão culpados, já que sabiam de tudo nesse tempo todo...
-Não me importa... E o Senhor Saga virá?
-Provavelmente. Ouvi que ele está meio curioso com as batidas. Se souber que o Cavaleiro de Prata tem a ver com elas... Ele vem!

Ena saiu em silêncio.

Era impossível prever o próximo passo do Cavaleiro de Ouro e agora, com o que o soldado dizia, notava o quão perigoso aquilo tudo era. Caminhou até Aioros para contá-lo a ele e estava preste a puxá-lo dali - árduo trabalho, já que ele parecia eufórico falando um monte de asneiras sobre o Mestre e sobre Saga.

-Quem é o maluco!?-alguém gritou no justo momento.

Os cochichos do povo viraram um silêncio fúnebre.

Todos olhavam admirados para o dono da imponente voz. Um jeito semelhante ao do outro... Era um homem alto de cabelos azuis e uma expressão nada amigável.

-Quem foi!? A coragem é só quando eu não estou?-Saga continuava, olhando o tumulto que se havia formado. Realmente a coisa havia tomado uma grande proporção, já que muitos soldados também estavam ali abismados.
-Minha coragem viverá sempre que houver injustiça!-uma voz familiar ecoara e as pessoas, paralisadas com o susto, começaram a se mexer num dado local.

O homem sairia dali. E ali os olhos do Cavaleiro observavam bem fixos.

-Ora, Saga, eu imaginava que quem viria aqui seria o Mestre...-o desconhecido continuava, tentando chegar mais perto -Afinal... Você não tinha sumido sem deixar pistas?
-De que fala? Estou aqui já faz um bom tempo. Realmente é um maluco... Pra que perdi meu tempo? Águia insistiu tanto que realmente achei ser algo -E virou suas costas, voltando-se em direção ao templo de onde não deveria ter saído. Estava tão quente...
-Já se vai, amigo?

Gêmeos parou, sem nem pôr o pé no chão para o primeiro passo. Agora, mais próxima, a voz não era só familiar. Era extremamente conhecida. Um nó em sua garganta se formara e sentia todos os seus pêlos completamente eretos. Nenhum deles ousava se mexer. Um calafrio parecia haver feito seu coração parar e seus ouvidos, com aquela voz de menino travesso, pareciam ouvir ecos de um saudoso passado.

Agora, nem os pássaros ousavam cantar...

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Anos atrás...

Camus olhava os três amigos incrédulo. O que havia ocorrido ali!? Shura olhava para ele como se perguntando sua opinião para saber se aquilo não magoaria Athena (ele deveria era andar por aí com uma blusa de I *coração* Athena...), Saga parecia anormalmente ansioso, suando como nunca... Mas Aioros era o mais surpreendente. Seus olhos brilhavam mais que a estrela que acabara de surgir no céu do anoitecer.

-Vocês querem que eu bole um plano para ir lá na casa do Mestre Ancião roubar as notas? Qual a utilidade!?-o francês perguntou com seu velho sotaque.
-Pra que repetir!? Diz logo o que acha!-Saga respondeu.
-Pede pro seu irmão -Camus fez menção de levantar-se. Os quatro estavam sentados em roda no chão.
-Kanon!? Impossível! É capaz de ele incluir o nome dele na lista de aprovados... E nem treina!
-Por que eu? Não me importo se fui escolhido ou não, não há como mudar. Se treinei direito, eles me escolherão... Se não, fica pro ano que vem. Vamos! Pra que querem saber pra onde vão treinar, se é que irão!
-Mas não estaremos ofendendo Athena se conseguirmos a lista, né?-Shura perguntou.
-Estarão! Por gastarem intelecto em algo tão infantil.
-Temos nove anos, somos só crianças...-Saga corrigiu.
-Argh! É inútil!-o francês fez nova menção de sair.
-Camus...-Aioros enfim se expressava, olhando-o bem nos olhos -Desde a morte de meus pais, tenho que cuidar de meu irmãozinho. Preciso saber o quanto antes de meu destino para pedir sua transferência... Imagine Aioria sozinho por aí!?

Ambos se olharam por um minuto inteiro e o silêncio predominou. Os outros dois também se olhavam, expectantes.

-E o que esses aí ganham com isso?-ele perguntou.
-Bem... Eles vão aproveitar que estaremos olhando, né...? Você não está curioso também?-Aioros perguntou, já sabendo a resposta.
-Não acredito que ainda me deixo enganar por seus dramas descarados... Mas, tudo bem. Acho que já sei como.

Os amigos se posicionaram em frente à casa do Mestre que deveria estar vazia na noite em que ele ia ao templo de Libra.

-É moleza. Com a chave que conseguimos com o Máscara, todas as portas dali devem abrir -Aioros dizia, mostrando-a vitorioso.
-Como a conseguiu?-Shura perguntou, desconfiado de algo contra a lei.
-Parece que é assim que ele passa de ano...-Camus comentou.
-Ah, se aquele trapaceiro nos rouba a armadura!-Shura esbravejou, levando bronca logo em seguida pelo barulho.
-Mas ele tem razão... É injusto -Saga falou -Eu realmente batalhei pra conseguir.
-Vocês dois não têm jeito ou algo assim? Ele quer a de Câncer... Muito longe da de vocês!-Camus disse, pegando um papel. -Este é um mapa que ele desenhou. Shura vai entrar, abre a porta, vai ao quarto, pega o papel e sai.
-Por que eu?-o garoto perguntou.
-É o mais ágil e o com mais cara de santinho -Aioros comentou, rindo-se.
-Você me paga!-o amigo respondeu, endurecendo a expressão.
-Saga e Aioros vão logo atrás e procuram no resto dos cômodos. Saiam em meia hora. Se Shura não voltar em quarenta e cinco minutos, nós quatro entramos juntos.

Os outros assentiram e começaram o plano.

Camus deitou encostado a uma coluna em ruínas e fechou os olhos. Já havia feito sua parte e em breve saberiam quem havia ganhado.

Shura já estava entrando no quarto principal enquanto Saga e Aioros vasculhavam outros lugares possíveis.

-Por que aceitou minha idéia de vir aqui?-Aioros perguntou.
-Estou curioso...
-Só?
-Bem... Tem esse garoto novo, sabe qual?
-O metidinho?
-Sim... O puxa-saco dos professores. Não acho justo que ele ganhe isso, então quero saber antes para me preparar pra gritaria dele, qualquer que seja o resultado.
-Acha que assim ele pode ganhar?

-Bem, não é isso. Mas ele se acha o melhor. Teve a ousadia de dizer que Shaka nunca o venceria numa batalha. Ele ignorou o desafio, mas eu me senti posto no chão. O Shaka é o melhor de nós.


-Mas, Saga... Será que ele não pode mesmo ser o melhor? O metidinho?
-Poderia também ser um pouco humilde, nem parece que vai servir Athena. Deveria haver se inscrito num concurso de Miss ou coisa assim.
-Então, vamos nos vingar!-Aioros disse, com um sorriso malicioso no rosto.
-Como?-Saga sentiu-se com um nó no estômago.
-Não faremos nada com ele, mas vamos assustá-lo um pouco para ele aprender a respeitar os cavaleiros de Athena antes de ser um.
-Sei não... Bem, já se foi meia hora, vamos voltar.

Ambos saíram; sem sinal do terceiro companheiro.

-Será que alguém o pegou? - Saga se perguntou.
-Eu vou entrar lá. -O garoto moreno correu de volta à humilde casa e sumiu.

Passara-se uma hora e trinta minutos, mas nada acontecia.

-Acho melhor procurarmos por eles...-Camus sugeria de segundo em segundo.
-Não. Aioros mudou nossos planos, é melhor esperar.
-Então vamos embora. Já pensou nos pegarem e cancelarem o treinamento?
-Não sabia que era medroso...
-Saga... Eu só quero estar no lado seguro. Sei que Aioros pode se virar, e Shura também.

Quinze minutos depois, Saga começava a concordar.

-Tô indo...-Camus se despediu sem nem dar tempo para que fosse convencido do contrário.

"Isso tá parecendo uma peça do Aioros."

Vinte minutos se foram e a paciência de Saga os acompanhou. Havia tomado sua decisão.

"Ele vai se ver comigo,"pensou, enquanto sorria.

Deu as costas e começava a caminhar sem pressa.

-Já se vai, amigo?-a voz de Aioros ecoou pela noite solitária.

O futuro Gêmeos sorriu e virou para o dono da voz.

-Não, só imaginei ser uma peça que você e o Kanon amariam me pregar. Shura saiu pelo outro lado e você ficou aí só pra me assustar, né?
-Não assustar, mas pra te deixar mais ansioso.
-É mesmo! Qual o resultado?
-Nossa, estava tão preocupado que se esqueceu do porquê de estarmos aqui?
-Aioros!
-Calma, amigo. A gente vai precisar disso pra proteger a grande Deusa!
-Passamos!?
-Você duvidou?-Aioros perguntou, olhando-o inocentemente.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Aquilo fazia tanto tempo... Contudo, as palavras eram as mesmas. Como!? Não conseguia uma explicação lógica o bastante, mas a perturbação sentida com maior intensidade nos últimos tempos não deixavam dúvidas daquele fato.

-Você... voltou.

O rapaz sorriu pegando uma maçã e jogando-a ao amigo.

-Isso se chama carma, Saga. Não adianta abafar a maior beleza... Por mais escondida, ela sempre existirá. A maçã envenenada só me pôs fora de ação por algum tempo, madrasta, -Aioros dizia, andando ao encontro do Cavaleiro, -Vou te desmascarar.

Saga não sabia o que fazer. Por mais que fosse seu amigo, dizia tantas coisas sem muito nexo...

-Ei... As coisas mudaram. Fala de algo que ocorreu há tempos, amigo!-Tentava consertar antes que aquele povo tão alienado gostasse ainda menos dele.
-Acredito...-Muito sarcasmo saía da simples palavra pela qual Saga tanta ansiava.
-Soldados...-O Cavaleiro voltou-se para a tropa que parecia hipnotizada pela conversa. Aquele era o único passo restante, certo? Não era um assunto a se discutir ali...
-À espera de suas ordens, Senhor...-o chefe provisório disse. Soava aliviado por haver sido recordado, porém um tanto chateado com o fim do espetáculo. Não era sempre que alguém tentava ridicularizar tão bem um cavaleiro de ouro.
-Prenda-o. -Voltou-se ao difamador. - É bom você não tentar reagir... Estarei bem aqui para garantir que não o consiga.
-Não conseguiu me matar e nem irá!-o outro gritou, assustando os soldados que se moviam lentamente em sua direção.
-Sinto muito, Aioros...

Começou a executar seu ataque, porém não fora necessário. A distração fora o bastante para que acorrentassem o rapaz e já o arrastavam para a prisão.


-Quero-o na Sala do Mestre, -Saga corrigiu a direção, apontando para o topo de um morro um pouco distante, -Estarei esperando.



Seguiu em frente, não sem antes reparar um sorriso sarcástico do antigo amigo.

"Não, Aioros, você está muito errado. No entanto, prefiro que o veja com seus próprios olhos... Não acreditaria em mim..." pensou, suspirando em seu caminho de volta. Alguém acreditaria naquilo!?

Logo percebeu seu pequeno erro: acabara de dar um nome ao Cavaleiro de Prata - o correto. Restava torcer para que a amazona de Águia desistisse de perambular por aquela região. Não poderia confiar tanto na veracidade de Aioros, a ponto de arriscar a estabilidade emocional do irmão mais novo. Proteger Aioria era a única forma restante de desculpar-se.

Um sorriso que não pudera conter, porém, se ensaiava em sua face. Seria mesmo possível...? Apertou o passo até um dos mais imponentes dos Templos.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Fazia algum tempo que não escalava um morro tão alto. Conseguira chegar até perto de Aquário sem levantar suspeitas... “Só estou passeando”, “queria ver a Sala do Mestre depois da reforma”, entre outras desculpas bastaram aos cavaleiros de ouro, que mais se interessavam pelas fofocas recentes do que por uma amazona sem o que fazer.

-Ei, soube algo do Cavaleiro de Prata?-Shura havia perguntado, enquanto Marin saía de seu templo.
-Não o bastante... Parece que ele tá armando um tumulto lá naquela vila, -ela respondeu, curiosa por alguém mais se interessar por tal assunto.
-Ah... Parece que tem a ver com Saga. Isso não é bom.
-Por quê?
-Aquele ali anda um pouco estranho. Mais uma distração assim pode prejudicá-lo em seus deveres para com a Deusa. Sabe, tem um pessoal aí que ainda não confia nele. Creio que é só fogo... Mas isso atinge um pouco o Saga.
-Que isso! O Cavaleiro de Gêmeos é muito mais que intrigas.
-Águia... Não fale de alguém que não conhece. A morte de Aioros está no meio dessas “intrigas”; não creio que ele seja tão mais assim... Pobre Saga. Tomara que esse maluco não o machuque muito.
-Bem, deixa eu ir, Capricórnio. Só vou dar uma olhada rápida; meu turno é em breve.

Despediu-se e optou por fazer um desvio. Camus também fora grande amigo de Saga e Marin não queria se sentir ainda mais desencorajada por participar daquilo tudo.

Torcia para que no Grande Templo houvesse algo interessante. Melhor, algo lhe dizia que o encontraria. Seria intuição feminina ou simples destino?

O mistério todo a encantava; aquele não era um maluco qualquer! Não podia. Seria tão frustrante...

Faltava muito pouco para alcançar o topo e poder olhar pela janela. Fazia muito tempo que não tomava aquele caminho...

Descobrira-o quando precisara se informar melhor sobre Ares e seus planos. Devia ser a única pessoa que conhecia aquele jeito de chegar até o local e pretendia assim permanecer. Porém, não era um atalho para qualquer um. Um tombo e a pessoa estava em alguma casa zodiacal, danificada o bastante para ser jogada no lixo.

“Eu realmente devo estar louca...” pensou, ao notar que tanto esforço não valia mais a pena. No entanto, Afrodite nunca a deixaria prosseguir até o topo sem uma justificativa perfeita. Com ou sem máscara, aquelas rosas eram insuportáveis... Assim como o dono.

Uma voz bem pequena lhe repetia que aquilo seria recompensado.

A escalada terminou com um suspiro de alívio: seus ombros doíam e mal podia sentir os braços e as pernas. Joelhos arranhados e roupa rasgada nem mais contavam...

Contudo, chegara ao topo.

Limpou o suor do rosto e olhou para a janela. Só lhe faltava não ver nada... Era impossível sair dali para outra janela ou para a entrada.

Passou os olhos pelo longo corredor. Estatuetas, tapete vermelho, velas... Muitos pilares e nenhum humano? Havia algo! Não podia ser só aquilo. O Mestre ainda não havia sido informado de nada? Talvez algum memorando jogado no chão...

Tentou abrir o vidro da janela. Era mais fácil antes de tudo haver sido modernizado. Era só entrar por ali e torcer para que não sentissem seu cosmo. Porém, Athena havia contratado os melhores do mercado... Não queria abrir!

Ponderou por um instante se poderia aplicar um golpe na intensidade certa para somente quebrar o vidro sem qualquer ruído a mais.

“Não poderia justificar esse vandalismo se me flagrassem... E nem consertar o estrago,” concluiu frustrada, “Como pode ser só isso?”

Olhou para todas as direções em busca de uma resposta convincente. Talvez não fosse para descobrir aquilo. Se ao menos ela houvesse lembrado que aquele vidro existia...

Sentiu movimento na parte de dentro do templo. Não podia ver direito já que vidro era temperado, mas pareciam soldados. Vários... Poderiam ser os que voltavam da vila? Então a confusão de lá já se acabara?

Encostou-se mais à janela, mas não se lembrava se o outro lado do vidro possibilitava vista para fora. Todavia, tinha de descobrir... Algo estava muito errado! Por que eles estavam ali?

Um deles parecia preso... O Cavaleiro de Prata!? Se ao menos pudesse ver melhor? Ouvir, também... Nunca se sentira tão mulher como naquele momento! Intuição e curiosidade transbordavam.

Tirou a máscara, talvez conseguisse enxergar melhor sem um dos impedimentos, e, caso a vissem, não a identificariam facilmente.

Sim! Era um prisioneiro. Em pleno Salão do Mestre? Mas... Aquele não era um qualquer! Não!! Nem era o famoso Cavaleiro de Prata. O homem se aproximava do vidro e sua face ficava mais nítida. Não podia... Era tão certo, mas- Não mesmo! Como? Por quê?

O Cavaleiro de Prata era Aioria!? Pelo menos aquele prisioneiro era. Era muito claro agora que ele estava bem na frente dela, abrindo a janela.

Algo em seu interior a alertava para sair do local. Ele tiraria o vidro do caminho e todos saberiam de sua espionagem. O que o Mestre lhe faria? E a Aioria? O que ele havia feito?

-Quem é você!?-Aoria perguntou numa voz estranha.

Estava errada! Aquele não era seu amigo... Tinha o cabelo mais escuro e olhos mais agudos, que penetravam bem dentro dos desprotegidos da moça.

-Aioros...?-perguntou-se em voz alta, custando a acreditar que a foto se havia materializado bem na sua frente.
-Hã? Como você-
-Está tentando fugir!? Tem uma cúmplice aí, é!?-um soldado distraiu o rapaz.

O susto teve um efeito pior para a amazona, que se desequilibrou e caiu do morro que com tanto sacrifício escalara. Sobreviveria!? Ou aquela já havia sido uma daquelas visões que os condenados têm antes da morte em si? Só podia sê-lo... Era inacreditável demais!

Por outro lado... Tinha a certeza de que aquele era Aioros, antigo cavaleiro de Sagitário. Isso significava mesmo que sua passagem ao outro mundo era certa?

Tudo que sabia era que suas costas doeram muito com o impacto no chão duro e quente da Grécia. O sol lhe queimava as vistas nuas, e passos estalavam em seus ouvidos.

Uma pessoa se aproximou dali e chamou por seu nome de um lugar que parecia distante. Em meio à dor só pôde olhá-la e sentir tudo girar ao redor enquanto as energias lhe fugiam.

-Aioros...?

Continuará...

Anita, 12/02/2006

Notas da Autora:

Ebaaaaaaaaa!!! Consegui terminar!!! Nossa, demorei um ano e meio, acho. Ummm... Não tenho muito a dizer. Ah! Tenho que agradecer a todos os que ficaram no meu pé pra que esta fic não fosse esquecida: Nemui-senpai (que me ajudou à beça com idéias), Vane (a quem a fic é dedicada), entre outros ^^

Ainda temos muito chão até o real fim, mas espero que tenham gostado! Comentem muito!!! Meu e-mail é anita_fiction@yahoo.com e meu site é http://olhoazul.50webs.com!!

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