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[Sailor Moon] Então, Fique ao meu Lado - Capítulo 5, escrita por Anita

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Autora: Anita
Fandom: Sailor Moon
Gênero: Comédia romântica
Classificação: 12 anos
Status: completa
Resumo: Tsukino Usagi / Chiba Mamoru. Usagi é forçada a passar um final de semana com sua família em um hotel no interior. Ela não sabe se o pior é descobrir um ataque de um possível youma ou que Mamoru Chiba está hospedado no mesmo local. Ele ainda acaba a acompanhando enquanto ela tenta investigar, só para deixar tudo mais complicado.

Olho Azul Apresenta:
Então, Fique

Ao Meu Lado

 

Capítulo 5 — Uma Loucura

 

  Sailor Moon?

  Por um segundo, no meio de toda a emoção de aquele homem estar tão perto com suas mãos geladas, mas olhos lindos, eu só assenti. Fiquei olhando de volta, esperando que ele continuasse o que tinha pra falar com a Sailor Moon — que, claro, que era eu. Só que aí me bateu: eu estava ali como simplesmente Tsukino Usagi. Não tinha nenhum uniforme de saia tão curta que qualquer escola me barraria na entrada. Era só eu mesma, com uma roupa bem quentinha e confortável.

  — O que você disse? — perguntei. Porque também fazia sentido que eu o tivesse ouvido errado. — Que a gente se separou onde?

  Pra ser sincera, aquele sábado já tinha ficado tão longo, a começar pelo nosso encontro de madrugada no onsen, que eu não lembrava mais a última vez que vira Chiba Mamoru. Só tinha certeza absoluta de que não tinha sido lá fora.

  Lá fora, eu tinha saído com Chiba Takayuki, dado de cara com um youma e encontrado certo par de olhos azuis que agora estavam... Não! Isso era loucura.

  Balancei a cabeça. Então, balancei mais um pouco.

  — Usagi. — A voz de Mamoru era tão paciente que nem parecia ele mesmo. Não, estava muito mais em personagem com o outro dono daqueles olhos.

  — Não fala assim comigo! — Pus as mãos na cabeça e dei alguns passos para trás. — Tá me deixando maluca já com esses seus olhos, aí começa a falar meu nome desse jeito!

  Mamoru suspirou.

  — Estava indo tudo tão bem — ele disse com um sorriso triste. — Achei realmente que já tivesse percebido quando nos falamos lá fora.

  — Não percebi nada! — exclamei com pressa, como se fosse o bastante para desfazer a realidade.

  Chiba Mamoru era...

  — Espera, e como você desc... — Parei de falar e calculei melhor. — De onde você tirou essa doideira aí? Eu? A Sailor Moon? — Forcei uma gargalhada. — Como que a Sailor Moon seria uma menina bobinha como Tsukino Usagi?

  Para minha irritação, ele só deu de ombros.

  — Podia ao menos ter sido gentil e puxado meu saco... — eu disse aborrecida. — Dizer que não sou só uma menina bobinha.

  — O que tá fazendo aqui? — Meu pai vinha pisando fundo em nossa direção.

  — Era exatamente o que eu perguntava à Usagi, Tsukino-san. — Quando ele me viu confusa, Mamoru detalhou: — Fui bem claro no recado que o senhor deu sobre não sair do quarto até toda a história do que ela viu no onsen ser esclarecida.

  — Muito obrigado, rapaz. Na verdade, falei com seu pai e todo mundo da equipe, mas ninguém ouviu nada sobre isso. — Meu pai me olhou sério.

  Claro, o caso da Suzuki-san de que ninguém mais se lembrava. Obviamente, meu pai agora queria saber por que só eu estava falando daquilo. Até eu tinha me sentido meio louca mais cedo, não quero imaginar o que se passava na cabeça dele.

  — Ah! Mas era o que eu tava dizendo aqui pro Mamoru! — Respirei, aproveitando o tempo para pensar melhor. — Que tinha sido só um mal-entendido, que não tinha por que ele ficar de carcereiro. Não foi o que te disse agorinha mesmo?

  Mamoru assentiu. E sem perder um segundo, complementou:

  — Mas por cautela, achava melhor esperarmos seu pai no quarto. Em vez disso, você decidiu fugir pelo hotel.

  Droga, ele tinha mesmo que deixar a batata quente na minha mão? O que ele ganhava bancando o bom garoto pro meu pai?

  — Mas foi só um mal-entendido! — insisti.

  — Você me disse que tinha encontrado uma funcionária dentro do armário do onsen. Isso me soa bem difícil de entender errado, Usagi. — Meu pai me olhava com reprovação, balançando a cabeça.

  — Dentro? Eu disse dentro? — Forcei uma gargalhada. — Eu encontrei uma funcionária que tinha se sentido mal no lugar dos armários! Foi só isso, pai! Como ela estaria dentro? — Minha voz ficou aguda demais para eu continuar.

  — Disse que ela parecia morta e que caiu em cima de você quando abriu a porta do armário. Uma funcionária a identificou como Suzuki-san e em seguida, Chiba Takayuki-san apareceu para cuidar de tudo. — Meu pai parecia até estar lendo anotações, repetindo meu relato fielmente pelo que memorizara.

  — Por que ela estaria em um armário, pai? — perguntei sem perceber que havia me repetido. Olhei desesperada para Mamoru.

  — Ninguém me relatou nada fora do normal. Conversei inclusive com alguns hóspedes e com o próprio Chiba Takayuki — meu pai continuava como se eu fosse algum suspeito a ponto de confessar. — Claro que ele não chamou nenhuma ambulância nem polícia porque nada aconteceu, segundo o próprio.

  Céus, meu pai queria ser repórter investigativo ou algo assim? Preferia quando ele fotografava festas chiques.

  — Eu que me confundi, pai. Sua filha é burrinha demais. Fiquei tão assustada de vê-la passando mal no vestiário que acho que não te descrevi coisa com coisa.

  — Falou com o meu irmão? — Mamoru nos interrompeu. — Quando foi isso?

  — Mais cedo, por quê? — Meu pai devia ter percebido a urgência e acrescentou: — Foi dos primeiros que procurei depois do que Usagi me contou.

  — Ah — Mamoru e eu dissemos ao mesmo tempo tamanha a decepção. Por outro lado, Takayuki-san era um youma que tinha acabado de perder uma batalha. Era melhor que meu pai não o tivesse visto agora, mesmo que significasse não fazermos ideia de onde ele estaria.

  Meu pai franziu a testa.

  — Tá tudo bem, pai. Só desculpa pela confusão.

  Após eu repetir mais uma vez minha nova versão do que teria acontecido com a Suzuki-san, meu pai enfim foi embora. Não estava nada satisfeito, mas me prometeu que iria relaxar no onsen depois dessa investigação furada.

  — Ele vai mesmo pra lá, né? Vai ficar seguro na água quentinha, né? — perguntei a Mamoru, apesar de que ele saberia tanto quanto eu. — Como pude ter sido tão idiota de meter meu pai no meio de um ataque de youma? Já pensou se o tivessem atacado também?

  — Não creio que seu pai seja o público alvo do que quer que tenha dominado meu irmão. Enquanto eu também pesquisava, descobri que a Suzuki-san tem um noivo. E a mulher de mais cedo, a que encontrei quase morta?

  Confirmei que lembrava. Não era o tipo de informação que alguém esqueceria... ou era?

  — Ela usa uma aliança de casamento. Não sei se na hora em que a vimos mais cedo estávamos chocados demais para notar ou só não estava com ela. — Mamoru passou a mão pelo cabelo, deixando-os um pouco mais bagunçados. — O youma parece estar se alimentando da energia de garotas apaixonadas pelo meu irmão, mas que já estejam comprometidas.

  Baixei a cabeça.

  — Apaixonadas... — repeti desanimada, lembrando-me envergonhada dos sentimentos que tinham me invadido enquanto estava com Takayuki-san.

  De repente, eu me senti exausta. Um bocejo escapuliu. Com ele, veio o desejo de dar uma pausa naquela aventura toda e ir chorar no colo das minhas amigas. Fazia só minutos que eu pensara que Mamoru poderia ter sido sequestrado. Talvez uma hora de eu caminhar justo com aquele que seria o culpado do sequestro e estar pronta para fazer o que ele me pedisse e até aceitar que a história da Suzuki-san era mesmo loucura. Poucas horas de eu rodar o hotel igual a meu pai, soando uma louca de fato, porque ninguém mais se lembrava.

  — Seu irmão tá me deixando doida. Ninguém sabe de nada e hoje à tarde eu tava quase acreditando mesmo que tinha imaginado tudo. — Baixei a cabeça. Era mais como se todo o meu corpo estivesse querendo se fundir com o chão.

  — Na verdade, é quase o contrário. Ele está alienando a todos, menos a você. — As palavras dele me fizeram franzir a testa. — Como acha que eu desconfiei sobre a Sailor Moon?

  Fazia sentido. Por algum motivo, eu ser a Sailor Moon tinha prevenido a lavagem cerebral que Takayuki-san, ou o youma que o controlava, promovera após eu encontrar Suzuki-san. Isso também provava algo sobre Mamoru?

  Mas não era como se eu precisasse de mais provas. Baixei meus olhos até suas mãos. Não estavam com as luvas do Tuxedo Kamen, mas com certeza, eram as mesmas que me salvavam e me encorajavam a seguir em frente batalha após batalha. Meu peito se apertou. E de repente uma sensação estranha, inesperada. A mesma que nós temos quando recebemos algo por que tínhamos esperado por muito tempo.

  Mas por quê? Aquilo era loucura! Loucura! Esse era o título daquele final de semana.

  — Vamos!

  — Quê? — Olhei de volta para Mamoru. Ele indicava as escadas do hotel. Agora me dava conta de que me tinha falado alguma coisa enquanto eu estava pensando. Mas, àquele ponto, não importava a lógica. E eu o segui.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Deixa pra lá. A Lógica importava sim. E muito.

  — Você só pode ter ficado louco junto com todo mundo! — exclamei assim que chegamos a um quarto distante. Provavelmente, o de pior localização, considerando o tanto que subimos e andamos até encontrá-lo. Não eram os monstros que impediriam o hotel de ir pra frente, mas a ideia idiota de fazer pessoas subirem apenas para descerem de novo e aí subirem mais uma vez. Aliás, Takayuki-san deveria ter escondido Suzuki-san aqui e tudo estaria bem. Pra ele, claro; mas não mudava que ninguém nunca a encontraria. Fim de semana perfeito.

  — Eu tive que te encontrar lá fora, o que mais poderia ter feito? Levado ela comigo? — Mamoru argumentou.

  — E sua única opção era trancá-la quase que noutra dimensão? — Apontei o longo corredor até ali.

  Quando Tuxedo Kamen comentou que tinha encontrado a mulher que estivera mais cedo com Takayuki-san, eu podia jurar que ele ao menos a tinha deixado para que alguém mais a encontrasse e cuidasse dela. Na pior das hipóteses, saíra correndo atrás de mim e deixara onde estava. Não isto.

  — Isto é sequestro! — voltei a gritar. Não que houvesse alguém vivo por perto. No fundo da minha mente, eu sabia que nunca o estaria questionando se fosse o Tuxedo Kamen, mas estando ele ali como Chiba Mamoru, era até fácil demais. Deixar uma vítima de um ataque trancada num quarto, que nem mais devia fazer parte do Japão de tão longe, era desumano. — Por que não a levou pro hospital?

  — Porque você viu o que aconteceu com a Suzuki-san.

  — Que, até onde sei, passa muito bem. Ou a amiga dela estaria um pouco mais preocupada.

  — Vamos ou não perguntar sobre o Takayuki-san? — Mamoru moveu o queixo em direção à porta.

  Bem... o estrago já estava feito.

  — Mas você que entre primeiro, porque essa mulher vai tá furiosa — eu disse, dando um passo para trás da porta do quarto.

  Mamoru riu de leve, o que me fez sentir mais elogiada do que se ele tivesse mesmo elogiado meu senso de humor. LOUCURA!

  Quando ele destrancou a porta e entramos, a mulher, e realmente era a mesma de mais cedo, continuava desacordada sobre a cama.

  — Uau. — Levei a mão à boca, porque era a exata sensação que tivera com Suzuki-san. — Ela parece mesmo morta.

  — Sim. — Mamoru pôs as costas da mão na testa dela. — E continua gelada tal como quando a encontrei, mesmo com o aquecedor no máximo e todas as cobertas do quarto.

  Em outras palavras, não íamos conseguir informação alguma sobre Takayuki-san. Sentei no chão, encostada à cama. Se fechasse os olhos, ia desmaiar igualzinho porque minhas pernas já estavam querendo ceder à gravidade.

 — Alguém me mostra o botão de pausa deste dia. — Minha barriga roncou alto. — Ai... Engraçado que nem notei que já é hora da janta.

  — Seus pais ficarão preocupados se você não aparecer.

  — Os seus não? É melhor irmos. — Levantei-me com a ajuda de Mamoru e olhei para trás, onde a mulher continuava adormecida. — E deixa a porta dela aberta desta vez, por favor.

  Ele soltou um som de protesto, mas gesticulou com a mão para irmos sem arguir. Restava rezar para que ela não se perdesse e fosse parar no País das Maravilhas quando tentasse achar o caminho de volta por aquele labirinto.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Achava que encontraríamos Takayuki-san no jantar. Ele tinha comparecido no dia anterior, mas desta vez, não. Mamoru estava na mesa com os pais, e eu não conseguia não reparar em seu olhar fixo na porta.

  Agora sentada e mais calma, estava pensando em como isto podia estar sendo pesado para ele. Definitivamente, sua relação com a família era distante, mas de respeito. De repente, seu irmão mais velho começa a trair a esposa e quase matar meninas comprometidas porque um youma o dominou. Também não era como se ele pudesse dizer aos pais que sabia onde o irmão estava — e nem era mentira que não fazíamos ideia.

  Mas por que o drama dele me afetava tanto? Ainda seria resquício das loucuras de mais cedo?

  “Ele está alienando a todos, menos a você”, Mamoru tinha me dito. “Como acha que eu desconfiei que você seria a Sailor Moon?”

  Lembrando de suas palavras, era difícil não pensar nisso também. Aparentemente, eu possuía alguma resistência ao controle mental que Takayuki-san exercia sobre todos no hotel, o que Mamoru atribuíra ao fato de eu ser Sailor Moon. Mas não tive a chance de contar pra ele tudo o que acontecera entre Takayuki-san e eu enquanto estávamos lá fora. Ou melhor, não tive coragem. Ainda nem sei direito o quanto aqueles sentimentos foram controle mental. Mas não eram meus, certo? Ontem, sim. Eu realmente o tinha achado bonito e tudo. Hoje era que não parecia certo...

  Não era como eu me sentia com...

  Onde estava Mamoru?

  Olhei de novo fingindo-me calma para a mesa dos pais dele, mas agora era apenas o casal de idade — os donos secretos da coisa toda. Motoki-oniisan havia se sentado de novo com minha família, e meu irmão estava apaixonado por ouvir de sua vida universitária — a parte das aulas, dos professores, do tamanho da biblioteca que não tem hora para fechar caso você esteja lá dentro... Seria Shingo também adotado? Estalei a língua e virei os olhos.

  — Oniisan, você viu o Mamoru por aí? — perguntei sem a menor pena de interromper.

  — O filho de Chiba-san? — Pela primeira vez, meu pai soou desconfiado. — Qual é exatamente a relação entre vocês dois?

  Oniisan caiu na gargalhada, apesar de meu pai ter um pouco de razão. Especialmente, se eu acrescentasse àquela equação Tuxedo Kamen.

  — Usagi-chan e ele são algo como inimigos mortais, Tsukino-san — oniisan explicou com o rosto vermelho, mas sem parar de rir. Começou a dar exemplos de todas as discussões que tínhamos, para meu embaraço.

  — Se é assim, o que você iria querer com ele? — Meu pai não tinha comprado.

  Meu rosto devia estar me traindo, porque ele levantou as sobrancelhas e soltou um som muito parecido com um ronco para que eu respondesse logo.

  — Só que ele e o irmão dele sumiram, aí tava me perguntando se podia ser alguma coisa séria. Tipo, com a esposa do irmão dele. Ela até agora não chegou, vai que...

  — Hm... — Meu pai tomou um gole de cerveja e ficou pensativo. — Eu ouvi mesmo que ele era casado, mas não sabia com certeza já que não vi a esposa.

  — Tava pensando a mesma coisa! — Motoki-oniisan comentou. — Só que o Mamoru ainda não teve chance de perguntar sobre ela.

  — Ah — eu disse sem me deter no que ele falava, só estava aliviada de ter desviado o assunto sem meu pai inserir Mamoru na sua lista negra.

  Pensando melhor, mesmo que meus sentimentos por ele fossem verdadeiros, o que ele sentiria por mim? A Cabecinha de Vento? Eu nem precisava de autodepreciação, todas as nossas trocas de palavra bastavam para me dar um péssimo prognóstico.

  — Mas realmente, onde estará ele? — oniisan perguntou contemplativo, provavelmente falando em voz alta sem querer. — Ele não sairia a esta hora da noite, né?

  — E pra onde neste fim de mundo?

  — Oh. — Ele percebia agora que tinha falado e não apenas pensado. — É que ele comentou de ir visitar um funcionário doente ou coisa assim. Era um nome bem comum... Tanaka? Asada? Takahashi?

  Alguém devia me dar um prêmio por ter conseguido só assentir e não gritar, “SUZUKI-SAN!” Claro! Mamoru era filho do dono, se ela trabalhava no hotel, então ele só teria que ver as fichas de funcionários e torcer para não haver mais uma Suzuki com uns vinte e poucos anos. Em outras palavras, meu mico mais cedo perguntando sobre ela, implorando pra amiga me dizer algo tinha sido em vão

  O restante do jantar também virou um amontoado de assunto a que não prestei atenção, só me perguntando se já teria dado a hora de Mamoru voltar da tal visita.

  Na verdade, eu estava com medo de ser a primeira a encontrar Takayuki-san.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Parte de mim dizia para entrar no quarto e dormir até amanhecer. Mamoru já estaria de volta até lá e poderíamos resolver o problema todo. Havia até a possibilidade de agora que fora descoberto, o youma ter liberado Takayuki-san e sumido para qualquer que fosse o próximo plano do Dark Kingdom. Quando eu tinha me tornado tão responsável a ponto de saber que essa não era a forma de Sailor Moon se comportar?

  Pensando nisso, lembrei-me de Tuxedo Kamen. Então, cruzei todo o hotel e mais umas vinte dimensões até chegar ao quarto onde Mamoru tinha deixado a mulher inconsciente.

  Não me lembrara de ir visitá-la porque, pela primeira vez na minha vida, tinha dado nele uma lição de moral — apesar de que me deixava bem satisfeita comigo mesma lembrar-me do meu ponto alto do dia. Quem diria, eu ensinando Chiba Mamoru! Na verdade, decidi encontrá-la porque não sabia que mais fazer e aí pensei: o que Tuxedo Kamen me diria se eu lhe pedisse ajuda?

  “Comece pelo que você pode fazer agora.” Ou algo assim, certo? Ele sempre tinha uma frase pronta estilo livro de autoajuda, parecia crível.

  E cuidar daquela moça era a única coisa que eu podia fazer de concreto. Quem sabe ela acordasse e me contasse mais sobre Takayuki-san? Com a minha sorte, chegaria lá e ela já teria sumido, e Mamoru teria me deixado um bilhete de como ele tinha razão ao trancá-la.

  Sentindo as pernas doloridas de tanto andar, cheguei ao quarto e o abri com calma para não assustar a mulher.

  Oh, claro que minha sorte seria ainda pior do que eu imaginava.

  — T-Takayuki...san? — minha voz mal saía tão incrédula eu estava de encontrá-lo por ali.

  Ele também me olhou como se fosse um fantasma.

  — Usagi-chan? O que faz aqui? — Ele merecia prêmio de atuação, pois até o tom charmoso de mais cedo ele ainda usava. Depois de tudo. Mas seus olhos, ou o quarto todo, o traíram, quando eles se voltaram-se para a mulher ainda desmaiada sobre a cama. Só que ele não tentou nem explicar por que ela estava assim ou melhor, por que ele estava ali. Pelo contrário, levantou as sobrancelhas cobrando a minha resposta. Tá que ele não a tinha posto no cárcere privado, mas ainda era produto de suas ações o estado dela. E vê-lo ali já era suspeito por si só. Eu que precisava me explicar?

  — Eu vim ver como ela estava. — Decidi pelo esclarecimento mais simples, mesmo que ele dissesse “Ah, eu também”, não era como se fosse mudar alguma coisa. — E você? — perguntei apenas pela verossimilhança. Ou por comprar tempo de pensar em como fugir daquela armadilha.

  Takayuki-san deu um sorriso e se aproximou da porta, de onde eu ainda o estava olhando aflita.

  — Só conferindo os quartos vagos — disse, fitando meus olhos. — Veio ver como quem estava, Usagi-chan?

  Quê?

  — Aquela moça... — minha resposta quase terminava em interrogação, porque nem eu mais tinha certeza do que estava falando.

  Mamoru tinha apenas metade de razão. Esse cara conseguia sim mexer com a minha mente. E agora meu coração estava batendo forte e minhas bochechas queimavam porque a sua colônia tinha um cheiro tão bom... meus pés estavam quase flutuando.

  Takayuki-san deslizou a mão direita sobre meu rosto. Então, começou a acariciar minha bochecha com o polegar. Seus olhos pousaram sobre meus lábios e os dele pareciam cada vez mais perto.

  — Espera! — Pulei para trás. — Você... — Engoli a palavra youma, mas olhei inconscientemente para a mulher que ele mesmo tinha deixado daquela forma. — Talvez, depois que ela tiver ido embora? — Protelei. A vergonha de ter caído na mágica dele, ou o que fosse aquilo, apoderava-se da minha cabeça e fazia meu rosto queimar ainda mais que antes.

  — Quem tiver ido embora, Usagi-chan? — Ele deu outro passo e voltamos a ter a mesma distância do quase beijo. Takayuki-san estava, de novo, concentrado em meus olhos, como se quisesse me hipnotizar. Mas não era tão simples fugir de seu truque, concluí um momento depois. Não bastaria evitar aquele contato visual, o mero calor do corpo dele me deixava fora de mim.

  O que fazer?

  Toda a minha experiência era com youma que já haviam revelado sua verdadeira natureza. Ademais, tinha medo de provocá-lo e não conseguir vencê-lo sozinha. Ou pior...

  Olhei de novo para Takayuki-san, que ainda tinha toda a sua atenção em mim, e me lembrei de Mamoru. Adotado ou não, aquele era seu irmão mais velho. E se eu me descontrolasse e acabasse por matá-lo?

  — Algum problema, Usagi-chan?

  Eu havia soltado um ganido sem querer.

  — Não sabia que eu te deixava tão nervosa. — Takayuki-san balançou a cabeça. — Por que não nos sentamos um pouco? — Ele apontou para um pequeno sofá, que eu ainda não tinha notado existir no quarto.

  O que aconteceria se eu negasse? Não queria provocá-lo ainda sem ter um bom plano. Um que incluísse tirá-lo do hotel primeiro. Voltar àquela floresta poderia ser uma boa ideia também. Enquanto pensava, concordei e me sentei. Era ainda menor do que eu antecipara e, mesmo com mais da metade da minha bunda fora do assento, estávamos mais próximos do que eu deveria estar de qualquer homem que não fosse meu marido.

  — Está um pouco quente aqui, né? — comentei. Era uma desculpa, mas ao mesmo tempo era verdade. Eu estava suando, mas boa parte devia ser suor frio. — Que tal deixarmos... — Mordi meus lábios antes de mencionar a moça que ele queria tanto que eu não soubesse que estava ali. — Que tal deixarmos o hotel para trás — refiz a frase —, e irmos ver a lua? Eu adoro a lua, sabia? É sempre tão lindo como ela brilha, não acha?

  Takayuki-san franziu a testa.

  — E lá fora... lá na floresta ninguém vai nos interromper — acrescentei com pressa. — Sem riscos dos meus pais aparecerem do nada me procurando. Nem o seu irmão.

  Sim, percebi um pouco tarde que ir pro meio do nada também significava dar adeus às chances de Mamoru aparecer com a solução pra tudo. Ainda assim, precisava ser responsável. Se eu ia enfrentar um youma, tinha que ser longe de possíveis vítimas.

  — É uma boa ideia mesmo. — Ele se esticou até mim, como se fosse me beijar apesar de tudo o que eu acabara de dizer.

  Fui mais rápida e pulei para fora do sofá.

  — Então, vamos lá! — Saí do quarto quase correndo.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Não estávamos exatamente no mesmo túnel de mais cedo, mas era pelo menos o meio da floresta. E estava muito frio. Takayuki-san não parecia se importar com a temperatura, mas a caminhada até ali não havia me esquentado o bastante para eu não me curvar em mim mesma e bater queixo. Assoprar minhas mãos não funcionava mais quando não tinha mais calor para liberar.

  — Aonde está nos levando, Usagi-chan? — ele perguntou já pela segunda vez desde que deixamos o hotel.

  Ao túnel onde o seu monstro de estimação me atacou, era o que eu realmente deveria responder. Era o lugar com maior chance de Tuxedo Kamen nos encontrar, mas eu mesma não conseguia achá-lo. E minha vida talvez literalmente dependesse disso.

  Sacudi a cabeça, fingindo-me envergonhada.

  — Só queria ter certeza de que estaríamos em paz. — Tentei sorrir, mas meus dentes começaram a se chocar num ataque de tremedeira e desisti. Pensando melhor, minha ideia fora péssima; se eu fugisse no meio de um ataque, iria morrer de hipotermia tentando achar meu caminho de volta.

  — Com certeza estamos a sós, a menos que consideremos os bichos da floresta. — Ele se aproximou e pegou minha mão enluvada. — Está tremendo de frio... — Com sua mão livre, ele acariciou minha bochecha como fizera no quarto, apesar de eu não estar sentindo muito meu rosto desta vez. — Por que não voltamos e buscamos um lugar para te aquecer?

  — Não! — respondi apressada. — O onsen vai estar cheio, todo lugar vai estar cheio.

  — São onze da noite, tenho certeza de que estará tudo bem.

  — Devem estar preparando para ele virar misto.

  Takayuki-san deu uma gargalhada.

  — Está tão desesperada assim para que fiquemos sozinhos?

  Assenti com força.

  — Meu irmão não ligaria se nos visse juntos — Takayuki-san disse como se conhecesse bem Mamoru. Ele estava certo, porque só tínhamos fingido sermos algo mais. Mas nem Mamoru seria tão frio assim, se visse seu irmão casado tentando intimidades com a sua (falsa) namorada se nem aguentou vê-lo com desconhecidas.

  — Por que diz isso? — Afinal, era algo horrível de se dizer do próprio irmão. E eu havia me tornado bastante defensiva com relação ao próprio... Mas que ficasse para um momento mais quentinho e seguro refletir sobre isso.

  Takayuki-san sacudiu a cabeça um pouco e contraiu a boca no que era para ser um sorriso, e no entanto, resultou em uma expressão vazia.

  — Por que não falamos de nós dois? — Ele pareceu se recuperar e agora segurou meu rosto com as duas mãos, erguendo meu olhar até o dele. Estava forçando a hipnose ou o que fosse seu poder?

  Olhei para todos os lados, atenta a qualquer som de que alguém pudesse estar se aproximando. Com a certeza de que não haveria nenhum desavisado no campo de batalha, eu me submeti à vontade dele e permiti que mantivéssemos contato visual. Meus pensamentos começaram a ficar nublados quase imediatamente, meu nariz inspirou o perfume dele como se fosse água no deserto. Agora eu precisava seguir adiante com o plano e...

  — Usagi-chan... — Ele tirou uma das suas luvas e acariciou meu rosto com a mão ainda quente. Seu polegar agora estava sobre meus lábios, roçando-os, provocando-os.

  Eu não queria beijar aquele monstro!

  Empurrei-o com força antes que tivesse a chance.

  — Está com medo de alguma coisa, Usagi-chan? — Ele sorria tranquilo, ainda me encarando diretamente.

  Aquele plano não ia dar certo se Takayuki-san primeiro tivesse que me beijar para revelar sua natureza. Hora do plano B. Saí correndo floresta adentro, com meus joelhos protestando o esforço repentino. Então, escondi-me atrás de uma árvore e me transformei. Sailor Moon ia ter que se encarregar de fazer o youma sair.

  — Usagi-chan? Tome cuidado! — Takayuki-san passou pela árvore menos de um minuto depois. Quando achei que nem mesmo tivesse notado que eu estava bem ali, ele parou de andar do nada. Não era mais Takayuki-san quando seu corpo se voltou na minha direção.

  Olhos violeta iluminavam nosso arredor como faróis, o rosto parecia seco como o tronco de uma árvore morta e seus lábios incharam e esticaram, quase como se fossem membros do corpo, mexendo para todos os lados.

  — Sailor Moon... — sua voz era grave e retumbava em meu peito, deixando-me com mal-estar.

  — Tiara Lunar! — Ataquei-o rapidamente, mas ele desviou. Seus braços também pareciam galhos secos de árvore quando se esticaram até mim, abrindo um buraco na árvore de verdade que estava atrás. Tentei mais dois ataques, mas apenas um deles o acertou e só de raspão.

  Quando me dei conta, ele tinha feito seu braço alongado dar volta pelas minhas costas e puxou me corpo até o dele. Tentei pular para longe, mas o outro braço passou por cima da minha cabeça e me pressionou no lugar. Eu estava encurralada, de cara para a luz violeta de seus olhos. E o perfume gostoso de Takayuki-san... E a tarde agradável que tivemos... Ele era tão bonito e estava me olhando com uma intensidade que eu...

  — Então Sailor Moon também tem alguém... Que energia boa! — A voz era tão grave que se o hipnotismo não o tivesse feito, ela teria me desnorteado.

  — E-eu não tinha ninguém, monstro! — briguei de volta. — Bem feito, você se deu mal! — Consegui fechar os olhos depois de muito esforço, mas não sortiu efeito para bloquear os poderes do youma. Debati-me em vão como um peixe no anzol.

  — Você tem sim... posso sentir. E é mágico! É delicioso! — Ele estava tão empolgado que até a voz perdeu a batida baixa nas últimas exclamações. — Vocês se amam; é inútil me enganar! Nunca senti um amor tão—

  Uma rosa cortou um de seus braços no meio de sua frase entusiasmada, e consegui fugir, pulando para onde Tuxedo Kamen se encontrava.

  — Você me encontrou! — eu disse antes de notar que meus joelhos falharam e eu estava em queda livre... até os braços dele.

  — Sailor Moon? — Ele tentou me sacudir.

  — Acho que ele realmente tava sugando minha energia. — Minhas palavras saíram tão arrastadas que nem eu tinha certeza do que tinha falado. — Estou tonta.

  Tuxedo Kamen me segurou no colo e pulou para longe do youma, até a copa de uma árvore.

  — Sailor Moon? Consegue me ouvir?

  Eu provavelmente tinha mesmo dormido por um instante, porque precisei abrir os olhos para ver seus olhos me revistando para possíveis machucados.

  — Acho que tô melhorando — disse, passando a mão pela cabeça e sentindo o dolorido de onde um dos galhos havia me batido.

  — Por que veio enfrentá-lo sozinha? — Eram os olhos de Mamoru que me estudavam desesperados. E eu talvez tivesse dito isso alto, pela expressão que ele me devolvia. — Sua cabeça de vento — ele disse entredentes. — Não é hora pra ficar espantada comigo.

  — Mas eu tô melhor mesmo. — Sorri sem graça, pois sabia que ainda não estava soando a uma pessoa saudável.

  O ataque do youma veio antes que Tuxedo Kamen pudesse duvidar, fazendo-o pular comigo novamente. Só que desta vez, o youma nos havia encurralado fechando qualquer rota de escape ao nosso redor.

  Ele se aproximou de nós com os olhos fixos em mim, preparado para retomar o que começara.

  Senti o braço de Tuxedo Kamen apertar minha cintura e então subir pelas minhas costas, pressionando-me contra seu corpo até esconder meu rosto. Com o outro, ele tentou atacar o youma, mas consegui ouvir quando ele próprio foi atacado e empurrado para trás até cair no chão. Nem nesse momento, ele me soltou e caímos juntos sobre a neve.

  Tuxedo Kamen não dizia nada, mas o som de sua respiração era evidência de que estava em dor.

  — O que ele fez? — Procurei por seu corpo e encontrei o rasgo que um dos galhos causado no seu braço.

  — Eu estou bem. — Seus olhos voltaram-se para o youma. Tuxedo Kamen reagiu a tempo de me puxar de volta e trocou nossas posições, tornando-se aquele que o youma puxou agressivamente para si.

  — A energia da menina! — o youma disse confuso quando notou que havia pescado a pessoa errada. — Você tem a mesma energia dela! É você!

  Quando me reergui tropegamente, notei que o youma estava sugando a energia de Tuxedo Kamen, tal como fizera comigo.

  — Tiara Lunar! — tentei novo ataque, mas ele revidou com mais facilidade ainda que antes. Era de se esperar; eu já estava fraca demais até para me manter de pé e ele, ainda mais forte. Caí de joelhos na neve, só podendo observar como Tuxedo Kamen nem mais conseguia resistir.

  O que fosse que essa nossa energia igual significasse, criava um youma indestrutível, que logo mataria meus pais, meu irmão — todos no hotel. Era assustador como eu podia senti-lo fortalecer-se. Realmente não deveria ter tentado fazer isto sozinha.

  — Tuxedo Kamen... — eu disse chorosa, observando-o sem poder fazer mais nada. Meu peito doía como se fosse uma parte de mim que o youma atacava. — Não...

Continuará...

Anita, 07/12/2019

 

Notas da Autora:

Peço desculpas pelo tempo todo que custei para atualizar a fic. Acabei envolvida num amigo oculto e aí pensei: preciso fazer logo isto ou ficarei sem tempo. Só que fiquei só travada mesmo e tudo travou junto.

Enfim, este foi o penúltimo capítulo. O que vocês acharam?

Muitos agradecimentos aos que acompanharam até aqui e me incentivaram, mesmo nesta história tão bobinha. Foi mais de um ano até completá-la na verdade e não sei por que estou com discurso como se este já fosse o último capítulo. Vou economizar pra ele!

Não se esqueçam de comentar!

Até o próximo!

 

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