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[Sailor Moon] Então, Fique ao meu Lado - Capítulo 4, escrita por Anita

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Autora: Anita
Fandom: Sailor Moon
Gênero: Comédia romântica
Classificação: 12 anos
Status: completa
Resumo: Tsukino Usagi / Chiba Mamoru. Usagi é forçada a passar um final de semana com sua família em um hotel no interior. Ela não sabe se o pior é descobrir um ataque de um possível youma ou que Mamoru Chiba está hospedado no mesmo local. Ele ainda acaba a acompanhando enquanto ela tenta investigar, só para deixar tudo mais complicado.

Olho Azul Apresenta:
Então, Fique

Ao Meu Lado

 

Capítulo 4 Desaparecidos

  Então, lá estava eu, trancada num quarto com um dos sujeitinhos mais irritantes que eu conhecia, meu pai andando solto pelo hotel indo atrás de informações e talvez de um monstro e não fazia ideia do resto da minha família. 

    Você fica aqui comigo. Mamoru segurava os meus braços, olhando bem nos meus olhos. 

  — Que deu em você? — Eu não estava entendendo nada daquela urgência dele em me manter em cárcere privado. Fosse qualquer outro homem, estaria era bem preocupada. Então, por que era que minhas bochechas tavam queimando e minha cabeça imaginando sentidos idiotas, dado o contexto? Claro que aquilo não era uma declaração de amor! E mesmo assim, parte de mim estava saltitando. 

Seu pai me falou sobre a mulher que você viu. 

  Olhei mais atenta para ele. Por que meu pai chegaria até Mamoru e falaria isso? 

  — Ele queria saber onde o meu pai tavaMamoru parecia explicar minha pergunta. — O dono do hotel? — Levantou a sobrancelha quando viu que eu ainda não via a ligação. — Ele queria falar com o dono e saber direito o que estava havendo. Disse pra mim também que não ouviu sirene nenhuma de polícia. — Ele virou para a porta, como se alguém fosse invadir o cômodo atirando. — Aliás, nem eu. 

Era mais fácil ter procurado o seu irmão. Virei os olhos. Mas como meu pai sabe que você é filho do dono? 

  Mamoru deu de ombros. 

Então, até essa situação toda for esclarecida, você fica quieta no quarto. Ele cruzou os braços.

  Acabei rindo, para a óbvia surpresa dele. 

Vai ficar mesmo dando uma de machão? E que que eu faria de perigoso? Tá agindo como se o hotel todo estivesse sitiado. Como a expressão dele não amolecia, decidi mudar o argumento: Foi só uma moça desmaiada que acabei encontrando. 

Uma mulher atacada por um youma

 Okay, Mamoru tentando me proteger não me assustara tanto quanto aquela declaração. 

E você, uma Cabecinha de Vento, pronta pra investigar tudo sozinha. 

  Tencionei meus olhos. A mesma fração minha que queria acreditar que aquilo era algum gesto apaixonado agora desconfiava que o youma tinha se apoderado do corpo de Mamoru pra ele estar falando assim. De onde ele conhecia esse vocabulário? Nem eu era tão burra pra ignorar que era no mínimo estranho. Nem que sabia o que eram esses bichos sairia chamando assim pros outros.

Qual é a sua? perguntei antes de pensar melhor. Num filme de detetives, esta podia ser a hora em que a mocinha fingia acreditar nas mentiras e esperava o vilão falar demais até se entregar. Por que eu tinha sido esperta o bastante pra ver que algo tava errado com ele, mas não pra seguir a cartilha? 

  Mamoru olhou para o chão. 

  — Só é perigoso. Nem sabemos com o que estamos lidando. — Ele não parecia mentir, embora toda a sua atitude fosse suspeita. 

  Na verdade, pensando com calma, ele parecia à beira da rendição. Seus ombros baixos, os cotovelos encolhidos, as mãos podiam até estar tremendo — ou eu já estava dramatizando e vendo o que queria. 

Okay. Ajoelhei-me, escondendo o Cetro Lunar entre minhas mãos. Só quero ver o que meu pai dirá quando te encontrar aqui comigo. Fingi um sorriso. 

  Ele devolveu um sorriso amarelo e enfim se sentou no chão com pernas e braços cruzados. Coitado, realmente achava que tinha me vencido? 

  Apertei o cetro, mirei a porta e saí correndo.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Uma vez no corredor, seria mais difícil ele me deter se parecesse um pervertido, por isso continuei correndo sem olhar para trás, em direção ao saguão. De lá, tomei a direção do onsen, porque não tinha mais nenhuma outra pista a não ser o lugar onde a Suzuki-san estava depois do ataque. Parei à porta da ala feminina pra recuperar o fôlego.

O que tá tentando fazer? Mamoru quase me matou do coração, aparecendo bem do meu lado como se não tivesse acabado de correr pelo hotel. 

Nossa, você é rápido. 

Sabe bem que eu podia ter te alcançado antes.

  Eu ri, pensando em como eu ia gritar pros quatro ventos se ele tivesse mesmo me impedido no meio do caminho. 

  — Já pensou se a polícia ainda estiver aqui, e eles te levarem preso por perseguir uma garota? 

Só que não estão. Mamoru apontou para dentro da ala feminina. Eu passei aqui assim que falei com seu pai; não tem sinal de nada. 

  Entrei imediatamente para ver que ele não estava mentindo. Olhei de um lado a outro, mas nem polícia, nem médico, nem mesmo a Suzuki-san estavam no lugar. 

Ela estava ali, não é? Mamoru entrou cauteloso e me guiou ao exato lugar onde eu a encontrara. Não tem mais nada.

  — Eu não mentindo — disse sem nem eu mesma acreditar em mim. — Ela tava aqui, neste armário! — Eu o abri de novo, ou tentei. 

Está trancado Mamoru disse, embora eu continuasse tentando.

Mas... ele abriu na hora! Achei que era um dos armários pra guardar nossas coisas e aí a Suzuki-san caiu em cima de mim e... Olhei para trás, a parede em que eu batera também ainda parecia a mesma. É verdade. Olhei hesitante para Mamoru. 

  Só que ele não parecia estar me achando doida. Ele tava sim um pouco encolhido de pé ali na parte feminina do onsen, mas sua expressão estava tão perplexa quanto eu me sentia por dentro. 

Você acredita? perguntei, sem saber por que me importava. Era só irmos até o irmão dele, que confirmaria tudo. 

Meu peito se sentiu menos apertado quando ele assentiu imediatamente. Ele acreditava. 

Vamos falar com o Takayuki-san! Ele deve explicar por que a polícia não tá investigando, né? 

  Saímos do vestiário e voltamos ao corredor, mas Mamoru parou antes de seguirmos para o saguão. 

Como ela parecia? A Suzuki-san? perguntou-me com a voz baixa. 

Ela tava viva, isso nós vimos. 

Quero dizer a aparência. Era mais velha? Cabelo bem comprido? E a pele dela? Era um pouco morena? 

  Eu sorri.

  — Ela não era a peguete do seu irmão. — Balancei a cabeça para mostrar minha reprovação. — Ele não é um maníaco atacando garotas inocentes, Mamoru. Não se preocupa; não foi ele. — Só não completei lembrando-lhe de que o próprio Mamoru que dissera antes que tinha sido um monstro, mas tentei ser firme o bastante. 

Contudo, não funcionou. Mamoru mordeu os lábios antes de perguntar mais: 

Acha que poderia ter sido a de ontem à noite? 

A gente realmente precisa ir falar com o Takayuki-san. Se a polícia te interrogar antes disso, você vai acabar fazendo ele ser preso. Pensei melhor e completei: Não que ele não mereça algum castigo. 

Eu vou sozinho.Ele segurou minha mão, jogando-a para trás como se fosse algum freio. — Você volta pro seu quarto e me espera lá. 

  Que tava dando nele pra ficar mexendo na minha mão tanto assim? Parecia até saber o quanto isso me deixava confusa. Devia ser proibido garotos ficarem tocando em garotas sem segundas intenções, quando essas garotas adorariam ter um namorado pra tocá-las assim. 

  Digo, não que eu quisesse que Mamoru fosse meu namorado. Minha pele que não distinguia muito os toques e ficava reagindo sozinha. Ficava toda boba, mesmo quando quem tava me tocando era um sujeitinho intragável como aquele. 

  Quando voltei a mim, Mamoru já estava no final do corredor. Eu fiquei com tanta cara de boba assim que ele realmente acreditou que eu ia voltar pro quarto e ficar esperando o príncipe encantado? Nem se eu não fosse a Sailor Moon!

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Impossível. Primeiro, o armário está como se eu nunca tivesse mexido nele para encontrar um corpo — ela tava viva, mas minha sensação ainda era de um corpo! Depois, quando enfim localizo a amiga da vítima, a mesma que tinha acabado de a reconhecer, a moça nem se lembra de quem sou. Pior, ela não se lembra de ter visto a amiga quase morta uma hora atrás! 

  — Essa parece mesmo a Suzuki-san, mas... eu teria ouvido de algo assim acontecendo no hotel. — Ela me olhava com nítido esforço para me levar a sério. O que não estava funcionando, porque suas sobrancelhas estavam juntas e o nariz franzido. 

Mas se você a conhece, pode ligar pra ela? perguntei, como última tentativa. Por favor... Dirigi meu olhar pidão mais puro. 

  A moça suspirou.

  — Não tenho meu celular durante o serviço, mas ligarei assim que tirar um intervalo. 

Tem que ser agora! minha voz saiu mais mandona e mais aguda do que deveria. 

  A moça com certeza decidiu que eu era uma louca naquele momento e balançou a cabeça.

Por que não me diz o número de seu quarto e te direi? Ela se curvou com um sorriso profissional e se afastou. Lentamente, como se eu fosse atacá-la se fizesse movimentos bruscos. Também ficou claro que não me diria coisa alguma.

  Eu assisti incrédula à sua saída, mas não podia forçá-la àquele ponto. A questão era que eu não me lembrava mais de quem eram as mulheres que também viram a Suzuki-san. Só me restava mesmo encontrar o Takayuki-san para saber o que foi feito depois. E tomar conta para Mamoru não me ver, claro.

  Limpei o suor da testa. Essa operação toda não estava me fazendo bem aos nervos. Mas eu não tinha imaginado. Até Mamoru parecia acreditar em mim. 

  Sacudi o corpo inteiro para resetar, já tinha pensado naquele sujeitinho o bastante para um ano inteiro. 

Usagi-chan. 

  Virei no susto, já pensando em como exorcizar o Mamoru se ele conseguia aparecer pela força do pensamento. Mas não era ele de pé ali.  Pisquei os olhos algumas vezes.

Takayuki-san! Fiquei sem ar como se tivesse acabado de ver o youma. Realmente, não esperava encontrá-lo naquele momento.

Vejo que você e meu irmão se separaram. 

  Pisquei de novo de confusão. Uma vaga lembrança de mais cedo quando fingimos ir jogar no quarto do Mamoru ou algo assim. Só que eu tinha encontrado o Takayuki-san depois, no onsen. 

Foi quando eu decidi tomar banho... expliquei, perguntando-me se ele nunca tinha comprado nosso namoro de mentirinha. Obviamente, não podíamos entrar juntos. Ri forçado. 

  Takayuki-san sorriu de volta. 

Claro. Você não é maior de idade ainda, não é? ele perguntou me olhando por completo, como se fosse a primeira vez que nos encontrávamos. Ou poderia ir ao compartilhado que temos durante a noite.

Falta só um pouquinho, mas ainda não. Quem sabe na próxima visita! Por um segundo, esqueci que ele era casado e torci para que não notasse que ainda faltavam cinco anos inteiros para a minha maioridade. 

Uma pena mesmo, mas tenho certeza de que há muito ainda o que aproveitar. 

  Assenti, perguntando-me quando surgiria o assunto do corpo que víramos. Naquele ritmo, parecia mais provável nos casarmos. Tirando o fato de que isso seria bigamia, claro. Quantas vezes teria que me repetir aquilo?

Gostaria de recomendação de roteiro? Andando mesmo há pontos muito interessantes. Takayuki-san pareceu pensativo. Estou livre esta tarde, por que não a levo? 

Mas... Estava pronta para perguntar sobre a Suzuki-san quando me lembrei de como Takayuki-san vinha me tratando desde que nos conhecêramos. E se ele também não se lembrasse? 

  Eu não estava doida, com certeza não estava. Eram eles que estavam estranhos. O Dark Kingdom ou malucos parecidos, sem dúvidas, estavam operando naquele hotel e apagaram a memória dos que viram a Suzuki-san

Está com medo do Mamoru? Ele não pensará nada mal de nós dois. Takayuki-san sorriu com segurança e meu coração bateu forte, porque ele era muito a cópia dos membros dos Edgers e, mesmo se não fosse, ainda era bonito demais pro meu coração. Vamos? Antes que me encontrem com mais trabalho? ele acrescentou com uma risada. 

  Assenti, seguindo-o para fora do hotel. Porque ele era bonito demais pra eu dispensar a companhia, mas também porque ele tinha sido o último com a Suzuki-san. Indiretamente, eu ainda podia descobrir coisas. 

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  E cá estava eu de novo na frente dos canos malucos. Takayuki-san tentara me explicar o significado daquela obra de arte, mas nenhuma palavra realmente fizera sentido. Provavelmente, não teria feito em condições normais, mas desta vez eu tinha a desculpa de que minha cabeça estava focada em encontrar o melhor jeito de perguntar sobre a Suzuki-san e o que ele havia feito depois que todos saímos de lá. 

  Até agora, nenhuma pergunta minha sobre como fora a tarde dele havia resultado na descoberta de uma menina desmaiada no armário. Claro que ele ficar espalhando isso era ruim para a imagem do hotel, mas nem mencionar para a pessoa que a descobrira? O Dark Kingdom ou o que estivesse por trás do ataque tinha mesmo apagado a memória de todos menos eu? E por que não a minha?

O que acha das flores? Takayuki-san perguntou após uma breve caminhada desde os canos.

  Estava frio, era basicamente inverno, mas de repente eu estava cercada de verde e violeta. A surpresa devia estar na minha expressão, pois ele pareceu satisfeito. 

Pois é, esta planta adora as condições daqui. E precisam ser bem específicas, não adianta levar uma muda pra casa, que dificilmente vingará. Ele sorriu. 

  — Mas é realmente lindo... — eu disse sinceramente, pois tudo ao redor eram marrom e cinza, exceto o círculo verde ao lado da pequena ponte onde paramos.

Fico feliz que tenha gostado, Usagi-chan. Takayuki-san havia se aproximado de minhas costas enquanto eu me dependurava para olhar melhor.

  Casado, ele é casado! E tinha uma menina desmaiada quem ele foi o último que viu! Minha cabeça estava quase em curto circuito para mandar meu coração parar de bater tão forte numa hora tão pouco apropriada. E ele não liga pra você!, uma pequena voz me lembrou. 

  Virei-me curiosa para ver que expressão ele fazia ao falar de um jeito tão... meloso? Encantador? Os olhos de Takayuki-san brilhavam, me chamavam para lá dentro. Ele era realmente muito bonito, não tinha como negar. E nem mesmo sabia meu nome ontem. Até a hora do almoço, ele nem me olhava direito, ou falava diretamente comigo. O que tinha mudado de repente? 

Toda essa cor realmente combina com você, Usagi-chan. Muito mais que o cinza. Ele estendeu a mão para afastar uma mecha do meu cabelo, pondo-a atrás de minha orelha. 

  Mas também foi o próprio Takayuki-san que rompeu o contato visual e apontou para o caminho que vínhamos seguindo. 

Está ficando escuro, que tal nos apressarmos para um último ponto? 

  Engoli seco e concordei, acompanhando-o incerta de o quão longe chegáramos do hotel. Tão distraída, não vi nem para que lado dos canos idiotas ele tinha me levado. 

Ah estamos perto. Ele apontou uma placa “Antiga linha de trem” e seguiu a direção. Acho que você gostará e garanto que são poucos os turistas que vêm até aqui. 

Por que se é tão interessante?

Eles vêm à cidade pelos hotéis e onsen, não para ver coisa velha. Mas vamos preparar um guia mais completo para nossos hóspedes, por isso fiz questão de mapear todos estes pontos. É a era da internet e aqui é o melhor lugar para fotos da região. 

  Alcançamos de fato uma linha de trem. Ela estava cercada por árvores altas e as plantas já haviam invadido os trilhos; era evidente que aquela era a tal da antiga linha, pois fazia anos que nenhum trem conseguia passar ali. 

Tome cuidado com o passo. Ele me ofereceu o braço. Segure-se em mim para não cair. 

  Consenti e pus a mão na articulação entre seu braço e o antebraço. Era menos quente que eu esperava, mas realmente mais seguro que eu perambulando sozinha no meio de todos aqueles galhos e trilhos. 

E o Mamoru? Conseguiu falar contigo? perguntei, aproveitando o silêncio. 

Mamoru? Não o vejo desde aquela hora no restaurante, quando vocês estavam juntos. 

  — Mesmo? — Ergui as sobrancelhas, imaginando se ele ainda estaria procurando Takayuki-san até agora. 

Era importante? 

  — Hm... — saiu de minha boca, mas me impedi antes de falar que era sobre a Suzuki-san.

Vamos, por que você não me diz, Usagi-chan? Ele sorria com os olhos direto dentro dos meus.

  Era tão intenso e impossível de desviar, que eu me senti tonta. Meus pensamentos não funcionavam, por que eu não queria falar sobre a Suzuki-san? Por que não perguntar logo? Tinha um motivo mesmo? 

  — Confesso que estou feliz que não estejam juntos — ele continuou. — Mamoru não iria querer vir até aqui, e você ficaria sem ver este lugar, não é? — E apontou para um túnel. — Olhe como é charmoso. 

  De fato, juntando todas as árvores, a linha de trem abandonada e o estilo antigo do túnel, parecia que eu estava no meio de um cenário de filme. 

Claro que fica ainda mais bonito no verão e na primavera; infelizmente, aquelas flores não cresceram aqui. 

  Assenti, conseguindo imaginar bem como o verde melhoraria a paisagem. Mas já era impressionante por si só ver tudo aquilo no inverno. Se eu tivesse trazido meu celular, já teria fotografado toda o espaço de memória. 

Você tinha razão eu disse rindo. É um lugar perfeito pra fotos. 

  Takayuki-san sorriu. 

Claro que existem algumas histórias de o túnel ser mal-assombrado... Mas você não acreditaria nessas besteiras, né? Ele próprio adentrou o túnel, ainda seguindo os trilhos. O que me forçou a segui-lo, já que eu ainda o estava segurando. É apenas uma construção antiga e abandonada. Nada de fora deste mundo. 

Ah... sim... Mas mesmo enquanto ainda ouvia o eco de suas palavras, minha pele se arrepiou. Só historinhas, então? 

Exatamente. Coisas da imaginação. 

  Ótimo, eu já não estava pensando direito e agora ficava olhando pra todo lado porque achava que um fantasma ia aparecer só pra negar o que ele tinha acabado de falar. Era sempre melhor não ficar brincando com essas coisas. Este passeio não fora o que eu esperava... 

  — Nós imaginamos muita coisa, Usagi-chan — ele continuava com um tom de voz que devia ser o mesmo, mas não soava o mesmo. Era como se eu o estivesse ouvindo melhor ou coisa assim. Devia ser coisa de acústica, né? — Uma coisinha boba acontece e porque estamos com a cabeça cheia, a gente imagina mais. Aí se te contam que este túnel é mal-assombrado, qualquer morcego vira uma alma penada. — Ele parou de andar um pouco antes de entrarmos na escuridão completa e virou-se para mim, aguardando resposta. 

Faz sentido forcei. 

Mais cedo no onsen também. 

No onsen? Takayuki-san ainda se lembra de lá?

  — Eu me lembro de que nos vimos quando você estava saindo de lá. — Ele me encarava como se quisesse que eu confirmasse a história. 

Com a Suzuki-san? indaguei. 

  O sorriso dele quebrou por um momento. 

Quem é Suzuki-san? Você não conhece nenhuma. 

Foi o nome que a amiga disse... digo, no onsen. A moça que estava caída! E eu não querendo soar como louca, mas aquela admissão de que nos víramos no onsen parecia ter aberto todas as minhas trancas. Porque, talvez, o feitiço não tivesse tido efeito completo sobre ele. A amiga da Suzuki-san nem tinha me reconhecido, não fazia ideia de que tínhamos nos visto pouco antes. Mas agora era diferente se ele se lembrava de algo. 

  Entretanto, Takayuki-san continuou a me encarar.

Não conhecemos nenhuma Suzuki-san ele disse, voltando a sorrir. 

É o que tô falando. Eu não a conheço, mas ela tava desmaiada. Quando ele não reagiu, ainda completei: Dentro do armário! Você se lembra, né? Se você se lembra do onsen, pense bem! 

  O feitiço estava quebrando. A expressão desesperada de Takayuki-san era de quem precisava pensar em algo logo; com certeza, estava se esforçando bem mais que a amiga de Suzuki-san mais cedo. Se eu desse detalhes o bastante, ele ia lembrar. 

  — Não há Suzuki-san — foi o que me disse no final das contas.

  E ele foi tão assertivo que eu estava quase concordando. Seu foco em mim, fixo nos meus olhos. Takayuki-san estava se aproximando, seu braço havia deixado minha mão e agora enlaçava o meu corpo. 

Nós apenas nos vimos quando você saiu do onsen, Usagi-chan ele disse lentamente. Os dedos de sua outra mão seguraram meu queixo, erguendo meu rosto. 

  Num repente, a menção de que tínhamos nos visto no onsen fez minha cabeça reagir como ela vinha reagindo desde cedo. O verbo ver adicionado do substantivo onsen era igual a Mamoru pelado na minha frente. 

  Eu entrei em pânico e o empurrei. 

O que houve, Usagi-chan? Takayuki-san não parecia abalado com a reação e se aproximou de novo. 

O Mamoru... Sacudi a cabeça, porque não era esse meu problema agora. E também porque a imagem tinha acabado de piscar de novo na minha memória. Você é casado. 

  — Ah. Ele te contou isso? — Takayuki-san sorriu. — Ontem eu pensava que você era só uma criança, mas hoje vim notando como estava enganado. — Ele acariciou a minha bochecha, deixando o lugar imediatamente fervendo. — Você é uma moça muito bonita. — Seus olhos estavam de novo em mim, confundindo meus pensamentos. Agora, até minhas pernas pareciam fracas, muito mais que qualquer piscada de algum membro dos Edgers já me causara. 

Nossa... foi o que consegui dizer, mas isso o satisfez. 

Eu que devo dizê-lo, Usagi-chan. Nossaele falou lentamente, ainda me olhando fixo

  Minha cabeça, meu corpo todo estava muito estranho, essa era a verdade. Alguma vez um homem tinha me afetado tanto assim? Eu nem conseguia mais lembrar onde estávamos ou o que fazíamos. 

  A mão de Takayuki-san tocou minha bochecha e a acariciou. Sem quebrar o contato visual, ele sussurrou bem perto do meu rosto:

Realmente... Nossa... 

  E eu ouvi. Não só as palavras dele, mas um movimento a mais, algo vindo de dentro do túnel, do meio das sombras. Uma assombração! Meu corpo se enrijeceu e se preparou para fugir com Takayuki-san dali. Mas ele não se mexia. Eu o puxei pelo braço e ele não moveu um centímetro sequer. 

O que houve, Usagi-chan?

Eu ouvi alguma coisa... expliquei, sentindo-se tola. Ele tinha acabado de dar um discurso longo sobre como a gente imagina fantasmas depois de ouvir as histórias e cá estava eu reagindo tal qual.

  Mas o barulho ressoou de novo, mais alto, mais próximo. 

Isso não foi imaginação minha! exclamei para ele. 

  Só que Takayuki-san continuava agindo como se tudo fosse mesmo imaginação minha. Ele pegou a mão com o que eu o puxava e levou até seus lábios. 

Não fique assim, Usagi-chan. Seus olhos estavam de novo presos nos meus, fazendo coisas comigo. 

  E novamente o barulho. 

Venha para mais perto, vamos começar de novo dizia ele, puxando-me contra si pela cintura, como se um fantasma não estivesse pronto pra nos levar pro outro mundo. 

  Ele não estava ouvindo. O que só podia significar que—

  Pensei tarde demais, quando me virei de novo pras sombras, de lá saía um youma três vezes mais alto que eu. Seu corpo ela imenso e peludo, quase como um pé grande, mas a boca tinha algo como uma máscara com diversos furos, de onde saía um som grave. Eu me sentir arrepiar pelo motivo oposto de até então. 

Usagi-chan? Takayuki-san não estava surpreso com a criatura, mas me olhava como se eu tivesse virado aquele bicho. Seus olhos estavam arregalados, tremendo. 

Vamos! Eu o peguei de novo pelo braço para tirá-lo dali. E de novo, ele não se mexeu. Vamos logo! Apontei para o monstro que ainda se aproximava com aqueles sons horríveis saindo pela máscara da boca. Você não o está vendo? perguntei olhando para o youma e para Takayuki-san. 

  Takayuki-san se assustou com a pergunta. Então, seus olhos pousaram no youma e voltaram-se para mim com curiosidade. 

  Ele tinha que ter visto agora, então por que não se mexia? Por que não fugia quando aquele bicho nojento estava quase do nosso lado? 

  Tarde demais. O youma esticou o braço na minha direção, a mão se abrindo para me segurar pela cintura. Pulei e corri para trás até bater contra a parede do túnel. 

Takayuki-san! gritei para ele, ainda parado do outro lado, bem atrás do youma

  Eu não tinha alternativa, tinha que me transformar e enfrentar o youma. Mesmo que não houvesse chance de Takayuki-san não perceber que eu era a Sailor Moon... Desviei de mais uma tentativa de ser pega por aquele mãozão, que abriu um buraco na parede. Uma das pedras caiu sobre meu ombro e eu gritei de dor. 

  Não tinha como... 

  Levantei-me para me transformar e na mesma hora me senti puxada com força, minhas pernas corriam por puro reflexo, pois alguém estava me levando para fora do túnel. 

Tuxedo... Kamen? Pisquei os olhos. Como chegou aqui? Como se houvesse feito sentido qualquer das outras vezes que me salvara a milissegundos de ser morta. 

  Já segura no chão do lado de fora, senti de novo o vento e me lembrei.

O Takayuki-san! Tentei retornar, mas ele me segurou. Ele está lá com o monstro! expliquei, mas tudo o que Tuxedo Kamen fez foi virar o rosto. Não vou deixá-lo lá! 

Ele ficará bem. 

E como pode ter tanta certeza? Por aquele momento, toda a minha adoração ao Tuxedo Kamen estava esquecida. Meu dedo apertou contra o peito dele e não contive a raiva. Havia um monstro, um monstro de verdade bem ali. E você viu! Apertei o dedo com ainda mais força, com um pingo de satisfação que ao menos ali meus hormônios não estavam embaçando meus pensamentos, como fizeram com Takayuki-san. 

Porque ele é um deles

  Suas palavras frias, certeiras me paralisaram. E eu tava comemorando meus pensamentos claros havia tão pouco... 

Como assim? 

  O som do youma veio de dentro do túnel. Ele estava chegando até ali. O que significava que tinha acabado com Takayuki-san. Certo? Olhei de novo para TuxedoKamen, toda dúvida minha transbordando. 

  — Aquele não é Chiba Takayuki — ele disse com o olhar tão intenso que pude ver um brilho azul através da máscara translúcida. — Ou pelo menos, não é ele quem está no controle de seu corpo. E prefiro não acreditar em coincidências que haja dois youma aleatórios por aqui ao mesmo tempo; eles estão juntos. 

  Balancei a cabeça, amaldiçoando a conclusão a que ela chegara sozinha. 

Ele me trouxe para ser atacada falei, como se as palavras quisessem sair antes que eu as apagasse da mente. 

Tuxedo Kamen desviou o olhar, mas confirmou. 

  — Estão roubando a energia das mulheres. Encontrei há pouco aquela que estava mais cedo com ele. Parecia morta, tal qual você descreveu Suzuki-san. Creio que Chiba Takayuki as conquiste, e aquele youma provavelmente se encarregue de sugar sua energia apaixonada.

Oh não... E tava bem na minha cara o tempo todo! Suzuki-san devia ser a moça que eu ouvi no onsen. Ontem à noite, eu o ouvi com outra—

Eu sei. 

  — Ah... — Baixei a cabeça. — Fui tão boba, de novo... Claro que Takayuki-san não queria ser legal, quanto menos flertar comigo. Obrigada por me salvar, Tuxedo Kamen. — Por pouco, não revelara minha identidade a um provável enviado do Dark Kingdom. Pior, achando que ia salvá-lo! 

  Nesse momento, o monstro saiu do túnel, pisando pesado sobre os trilhos abandonados. Era como se soubesse onde estávamos apenas pelo cheiro, pois consertou a direção de seu corpo e voltou a andar. 

  Tuxedo Kamen pôs-se à minha frente e estendeu o braço direito, puxando a capa em sua mão. 

Você precisa se transformar agora enquanto eu o distraio. Então apontou para as árvores. Vá! 

  Ele disse me transformar? O mundo ficou sem som por um instante enquanto eu tentava voltar a cena pra ouvir de novo. 

Apresse-se enquanto o distraio. Ele lançou uma chuva de rosas na direção o youma

  Corri para onde ele indicara e me transformei, grata por ter me lembrado de pegar meu broche e meu cetro ao escapar do meu quarto. Não que alguém fosse me elogiar — Rei e Luna diriam que eu não fiz mais que minha obrigação de os ter sempre comigo —, mas era bem louvável considerando minha pessoa. 

  Quando retornei, Tuxedo Kamen ainda parecia o distrair. Sem pensar duas vezes, lancei minha Tiara Lunar ao mesmo tempo que Tuxedo Kamen pulou sobre ele com um chute. Com um brilho forte, o youma explodiu e se desintegrou, deixando no ar um cheiro podre. 

  Tuxedo Kamen não me esperou, correu para dentro do túnel. Foi quando me lembrei de Takayuki-san. Corri também logo em seguida e encontrei a mesma paisagem: um túnel deteriorado, escuro e vazio. 

Ele fugiu pelo outro lado. Tuxedo Kamen voltou a correr, seguindo os trilhos. Volte, caso ele já tenha ido para o hotel gritou sem olhar para trás. Nós nos encontramos lá.

Mas... eu disse sem ter quem me ouvisse. E me ajoelhei exausta de tantas reviravoltas. Precisava de um segundo para recuperar o ar.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  De volta ao hotel, depois de gastar o triplo do tempo necessário para me encontrar, eu só pensava em como tinha um onsen inteiro sendo desperdiçado enquanto eu suava no meio do outono. Tuxedo Kamen me dissera para procurar Takayuki-san, mas eu estava de volta à estava zero. Nenhum funcionário sabia de seu paradeiro, nem mesmo seus pais sabiam onde estava o filho. Ou os filhos; eles aproveitaram para me perguntar sobre Mamoru e eu só pude dar de ombros. 

  Apesar de que... Tremi ao me lembrar de que a última vez que o vira ele estava indo conversar com o irmão. O tal irmão tinha me dito que não se encontrara com Mamoru, mas ele não era o mais confiável na minha lista atualmente. 

  Tuxedo Kamen tinha razão, no final das contas. Se o túnel estava vazio depois que o deixara com o youma, Takayuki-san tinha sido poupado na hipótese mais otimista. Eu não estava nada otimista. 

Sumido? Motoki-oniisan fez uma careta quando perguntei sobre Mamoru. Acho que eu não o vejo mesmo desde o almoço. Nossa, será que faz isso tudo mesmo? 

  Baixei a cabeça sem esperanças. 

Mas o que você iria querer com ele, hein? ele brincou. 

  Forcei um sorriso. 

Ele tinha me prometido bolo, era isso que eu queria menti. 

  Oniisan gargalhou e passou a mão na minha cabeça. 

Eu te aviso quando o vir. Ele pareceu lembrar-se de algo. Vai que o Takayuki-san sabe alguma coisa? Marcamos de nos ver no restaurante daqui a pouco, aí eu pergunto. E tirou um cartão do bolso para me mostrar, era uma chave de quarto. Estamos neste número. Decora, que, caso eu não descubra nada, põe na conta. E piscou o olho pra mim. 

  Confirmei com a cabeça, não contendo um sorriso enquanto oniisan se afastava. Em outras circunstâncias, eu estaria correndo pro restaurante mesmo se Mamoru não tivesse me prometido nada. Mais uma vez, ninguém ia me elogiar, né? 

Não descobriu nada? 

  Dei um pulo com aquela voz tão perto das minhas costas. Virei-me para encontrar ninguém menos que o próprio Mamoru ali de pé, olhando para mim com a expressão séria. Séria demais até pra um sujeitinho convencido como ele. 

Descobri o quê? minha voz saiu ofegante, porque uma tensão havia sumido de dentro de mim e fez meus olhos se encherem de lágrimas. 

Tá chorando por que agora? Mamoru perguntou com a testa franzida. 

  Nem eu fazia ideia até o encontrar bem de quantos eram os pensamentos que eu estivera tentando ignorar. Não havia nem meia hora que eu me dera conta de seu desaparecimento... mas... 

Você está bem! E o choro escapuliu ao mesmo tempo em que eu dei um tapa contra o peito dele. Você tinha sumido, e o Takayuki-san é um youma bem como você tava suspeitando, e eu que te mandei atrás dele, e não sei se as pessoas sobrevivem depois do ataque, porque a Suzuki-san sumiu, e você sumiu! 

  Meu acesso de lágrimas parou quando o encarei de novo. Sua expressão era tão perplexa que também me senti perplexa sem nem saber por quê.

  Então, no meio de todo aquele problema de pessoas sendo sugadas e sumindo, Mamoru começou a rir.

Não acredito que está tentando tirar uma com a minha cara! Comecei a socar seu peito. Estava mais cedo me chamando de criança, mas tá aí pensando alguma besteira, né? 

  Ele segurou meus braços e então pegou minhas mãos entre as suas. Estavam geladas, assim como quando ficamos vendo os canos malucos mais cedo.

Você tava lá fora...? perguntei hesitante, pensando em como Takayuki-san também devia estar. Em como o youma que se apoderara de Takayuki-san também devia estar.

Achei que já soubesse ou pelo menos tivesse concluído tudo depois de hoje, Cabecinha de Vento. Mamoru beijou uma de minhas mãos. Claro que eu estava lá fora. Assim como você. Beijou a outra. Nós acabamos de nos ver lá no túnel. Seus olhos azuis me encararam com um brilho intenso. 

  E familiar. 

Que bom que conseguiu voltar sã e salva ele disse, soltando um suspiro depois. Precisamos nos separar lá fora, mas fiquei preocupado. Você sempre me deixa tão preocupado que não faz nem sentido. Mamoru afastou uma das mãos da minha e acariciou meu rosto. Não sei se algum dia entenderei esta nossa conexão. Sua boca estava tão perto, mas não era só por isso que meu rosto estava queimando. Todo o meu sangue parecia ter subido para minhas bochechas. Sailor Moon...

Continuará...

Anita, 03/02/2019

 

Notas da Autora:

Muitos agradecimentos a todos que enviaram comentários, mas claro que também aos que estão lendo mesmo sem comentar. Novamente, não me inspirei em nenhum lugar específico pra cidadezinha onde se passa a fic, mas esse túnel eu fiquei pensando no segundo túnel de Kitayama, em Nishinomiya. Não que eu já tenha estado lá, mas vi tantas fotos que a imagem ficou na minha cabeça. Só não sei se tem um lindo campo de flores que floresçam no frio lá.

Faltam só dois capítulos pro final da fic, então logo logo tudo vai se resolver. Espero que estejam gostando!

E até o próximo capítulo!

 

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Um comentário:

  1. Ohhh! Tá tão legal a fic! Toda a cena com o Takayuki ficou muito bem escrita! \o/

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