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[Sailor Moon] Então, Fique ao meu Lado - Capítulo 6 (fim!), escrita por Anita

Capítulo Anterior – FIM! – Índice da fic

Autora: Anita
Fandom: Sailor Moon
Gênero: Comédia romântica
Classificação: 12 anos
Status: completa
Resumo: Tsukino Usagi / Chiba Mamoru. Usagi é forçada a passar um final de semana com sua família em um hotel no interior. Ela não sabe se o pior é descobrir um ataque de um possível youma ou que Mamoru Chiba está hospedado no mesmo local. Ele ainda acaba a acompanhando enquanto ela tenta investigar, só para deixar tudo mais complicado.

Capítulo 6 — O Fatídico

  Num canto da minha mente, eu conseguia ver o youma destruir Tuxedo Kamen como se estivesse acontecendo no mundo real. Num momento, sua máscara caía, suas roupas rasgavam e manchavam de sangue e depois sumia o último traço que restava de Mamoru Chiba. E ele também devia estar vendo algo parecido, pois seus olhos recuperaram o foco por um momento, congelados em mim, para refletirem desespero. Era como se estivéssemos os dois vendo um pesadelo se tornar real, embora eu nunca tivesse sonhado com algum dia Tuxedo Kamen falhar.

  Meu corpo começou a queimar, algo bem lá dentro irradiava um calor que me fez tossir forte, incapaz de inspirar. A imagem de Mamoru capturado ali e a dele caído ensanguentado em meus braços se misturaram. O terror e a realidade com o mesmo resultado: derrota. Não havia mais o que fazer.

  Aquela estranha energia que vinha de mim, mas não parecia realmente minha, pôs-me de pé e fez o youma se voltar para minha direção perplexo. Afinal, eu já era a presa fácil, então por que havia me levantado daquele modo?

  — Us...Sailor Moon? — Tuxedo Kamen perguntou também desorientado.

  Mas o que fosse aquela coisa despertando em mim, ela adormeceu de novo tão repentina quanto exsurgira. Uma névoa havia nos envolvido e alguém me puxou para longe do youma, agora atacado pelo fogo e pelo trovão.

  Tão inacreditável quanto as ilusões que me passaram pela cabeça quando achei que seríamos mortos, era ver que minhas amigas haviam aparecido.

  — Parece que desta vez fomos nós que te salvamos, Tuxedo Kamen — Sailor Mars disse ao trazê-lo para perto de mim.

  — Mas ainda não acabou — Jupiter disse ao se juntar a nós, apertando meu ombro.

  — Aproveite enquanto ele está desnorteado, Sailor Moon! — Mercury apontou na direção em que deixaram o youma após o ataque surpresa.

  Assenti e peguei meu cetro. Logo, o youma readquiriu a forma de Takayuki-san e eu suspirei aliviada. Havíamos vencido. Mamoru também parecia se recuperar, pois corria para acudir o irmão mais velho. Não sabia como, mas no final, tudo tinha dado certo. Então, desmaiei de exaustão.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Acordei com uma imensa dor de cabeça. Talvez, a dor fosse o que tinha me acordado. Já estava claro, o que, pelo menos, significava que aquele sábado das trevas tinha ido embora e eu sobrevivera para ver o domingo. Só que eu não conseguia afirmar muito além disso. Podia reconhecer o quarto em que acordara, mas com certeza não era nele em que eu deveria estar com minha família.

  Levantei num sobressalto. Minha mãe ia comer meu couro, meu pai já devia estar na polícia — e pior, pondo o nome de Mamoru no topo da lista de suspeitos de meu sequestro. Mas foi só pisar o chão que eu desabei; minhas pernas não iam funcionar tão cedo.

  — Usagi!

  Do meu lado estava o próprio possível procurado pela polícia, Mamoru Chiba. O mesmo que havia recebido o ataque do youma por muito mais tempo que eu. Mas agora aparentava mais um médico do que um paciente enquanto se ajoelhava na minha frente para me examinar.

  — Eu tô bem — disse, afastando-me e usando a cama para erguer o corpo o bastante para me sentar. Não eram só minhas pernas que estavam sem forças, meu corpo todo ainda não merecia qualquer confiança. Ou seja, era meio que uma mentira eu estar bem. — Mas e você? — devolvi a preocupação, porque era realmente para ele estar pior.

  Estudei-o em detalhes e nada em Mamoru denunciava a noite que havíamos tido.

  — Estou bem, graças a todas vocês.

  A menção de minhas amigas me fez sentir uma culpa dobrada.

  — Eu não fiz nada — respondi engasgada. Sim, primeiro porque eu não havia realmente conseguido contar a elas sobre o youma. Podia dizer que tinha tentado, mas no fundo eu só fizera uma chamada meia boca pelo comunicador. E depois que minha única contribuição fora usar o cetro após elas já haverem enfraquecido o youma. Não sabia por que só eu podia usá-lo, e elas o teriam feito se fosse possível. — Não fiz nada mesmo...

  Mamoru meneou a cabeça e pareceu pronto a dizer algo quando alguém bateu à porta.

  — Pode entrar — ele respondeu, levantando-se do chão. Seu tom exalava um quê de alívio pela interrupção.

  — Usagi-chan! — Era Ami-chan, que se aproximava acompanhada de Mako-chan. Dentro da bolsa que a última carregava, saiu a cabeça de Luna.

  — Nós sentimos muito, Usagi-chan... — Mako-chan mordia os lábios e parecia avaliar meu estado. Minha cara tava tão ruim assim? — Devíamos ter prestado mais atenção quando você nos chamou.

  — Foi minha culpa, na verdade — Luna interrompeu, pulando sobre a cama e então subindo em meu colo. Era reconfortante sentir seu calor depois de tudo por que havia passado. — Você andou tão estressada com os cristais arco-íris e chateada por perder o show por causa da viagem que pedi às meninas para não a preocupar com nada.

  — Como assim?

  Mako-chan baixou a cabeça, visivelmente envergonhada.

  — Quando você nos contactou, — Ami-chan explicou em seu lugar —, havia um youma à solta em Tóquio e o estávamos investigando. Por sorte, não era como o de ontem, então, não precisamos libertar ninguém com o Cetro Lunar.

  — E aí vieram correndo me ajudar? — concluí a história com um sorriso maravilhado que elas tivessem pressentido meus problemas com o pouquíssimo que falara.

  — Bem... — Ami-chan baixou a cabeça e a sacudiu. Então, virou-se para Mamoru.

  Tapei minha boca com força, como se isso fosse capaz de devolver tudo o que havia dito. Eu tinha me esquecido de que ele ainda não sabia de nada das identidades das minhas amigas. Ele podia ter adivinhado que eu era a Sailor Moon, mas...

  Então, olhei para Luna ainda no meu colo. Ela mesma tinha falado mais cedo. Não teria notado Mamoru um gato falante? Não era completamente minha culpa aqui.

  — Fui eu quem as chamei — ele disse, como se tivesse lido meus pensamentos. — Sua cara é fácil demais de se ler, Cabecinha de Vento. Estava preocupada de eu ter ouvido tudo agora, né?

  Assenti, ainda espantada.

  — Quando nos separamos, percebi que você ainda não devia ter pensado em chamar reforços. Mas não consegui nenhuma desculpa para nos falarmos durante o jantar e, se demorássemos demais, elas não conseguiriam transporte.

  — Andarmos sempre em grupo foi um grande descuido para nossas identidades secretas. — Ami-chan balançava a cabeça em consternação.

  — Por sorte, eu tinha o contato da Rei-chan — Mamoru explicou. — Confesso que as identidades ficaram tão óbvias que tive medo de estar errado.

  Ami-chan e Mako-chan riram sem graça, enquanto eu ainda me sentia tonta com todas aquelas informações. Porque pensem bem em como isto aconteceu: minhas amigas receberam uma ligação de um cara dizendo ser o Tuxedo Kamen, entraram num shinkansen na mesma hora e se embrenharam nas montanhas?

  — Vocês podiam ter vindo direto pra uma armadilha! — briguei com elas, sacudindo Luna também de propósito.

  — Eu considerei a probabilidade — Ami-chan confessou. — Até tentamos seu comunicador, mas não funcionava. E a Rei-chan tinha razão; ela disse que só saberíamos quando viéssemos.

  — Só não contava com você ir sozinha atrás do meu irmão — disse Mamoru, bagunçando o cabelo apenas para tentar penteá-lo de volta com os dedos.

  — Eu não fui... Só queria ver como aquela moça estava. — Então notei por que o quarto era familiar. Era onde tínhamos deixado a vítima de Takayuki. — Ué, onde tá ela?

  Mamoru deu de ombros.

  — Quando viemos com você, ela já tinha ido embora. Mas deve estar bem. Fui visitar Suzuki-san, e ela nem mesmo se lembrava dos últimos dias ou até do meu irmão. Só que estava se sentindo muito mal o dia inteiro e disse estar se recuperando.

  — Aquele youma parecia estar sugando alguma energia relacionada a amor, mas não chegava a sugar a energia vital das vítimas. Foi o que pudemos concluir embora os dados sejam insuficientes — disse Ami-chan, parecendo pronta para consultar alguma anotação em seu minicomputador, mas resistiu. — Então, vocês dois devem ficar bem.

  — E a Rei-chan? — perguntei. — Acho que eu preciso agradecer a ela...

  — Saiu para comprar as lembranças da viagem. — Mako-chan sorriu. — E também não se preocupe sobre seus pais. Ela mesma cuidou de contar a eles que chegamos de surpresa e que você dormiria no nosso quarto.

  — Nossa...

  — A ideia foi do Mamoru-san — Ami interrompeu. — Ele também nos emprestou outro quarto e cuidou da nossa hospedagem. — Ela provavelmente estava pensando com um pouco de arrependimento em todas as vezes em que desconfiara das intenções de Tuxedo Kamen.

  — Vocês deviam fazer como a Rei-chan e aproveitar a estada — Mamoru sugeriu. — Temos que pegar o ônibus das cinco horas se quisermos ter certeza de que chegaremos a tempo para o shinkansen.

  Ami-chan começou a protestar:

  — Eu não realmente estudei muito sobre este lugar antes de vir, então não saberia o que visitar...

  Mas Mamoru tinha a resposta:

  — Há uma escultura próxima, eu recomendo. O restaurante a que fomos ontem também é ótimo, mas costuma formar fila bem cedo. — Ele tirou o celular do bolso. — Estou enviando a localização de ambos, mas é melhor se apressarem.

  Ami-chan me olhou e franziu a testa.

  — Podemos só escolher algo da cozinha do hotel e comer aqui com a Usagi-chan. Eu me sentiria mal se a deixar assim para fazer turismo.

  — Ela já viu o bastante ontem. Ademais, não seria pior se ainda as impedisse de se divertirem depois de virem tão longe por ela? — Mamoru argumentou, mas não olhava mais para Ami. Seus olhos se fixaram nos de Mako-chan.

  Mako-chan sorriu.

  — Sabe, você tem toda a razão! — E puxou Ami-chan pelo braço. — Luna, volte para a bolsa ou vai acabar também presa no hotel o dia todo.

  — Devíamos ao menos pedir algo para a Usagi-chan comer antes de irmos... — Ami dizia enquanto era arrastada porta afora.

  — Mamoru-san é o filho do dono do hotel. Ele dá um jeito!

  E sumiram.

  Toda aquela conversa havia me distraído do mal-estar e da dor de cabeça, mas não os curara. Agora com o quarto em silêncio, meu corpo queria voltar ao quentinho da cama e das cobertas.

  Uma risada me despertou do estado de quase sono em que eu entrava.

  — Guardarei a conversa para mais tarde. — A mão de Mamoru pousou sobre minha testa. — Pelo menos, não está mais com febre. — Ele andou até outro lado do cômodo e pegou alguma coisa. Demorou-se mais um pouco antes de voltar. — Tome este analgésico.

  Aceitei ainda distraída pensando no que ele dissera primeiro. Já havia engolido o comprimido e estava prestes a me deitar quando me ocorreu de indagá-lo:

  — Que conversa?

  Mamoru balançou a cabeça, apagou a luz e saiu fechando a porta.

  Ele realmente esperava que eu fosse dormir depois de falar da tal da conversa? Como que eu...

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Pelas próximas horas, eu havia acordado para ir ao banheiro uma vez quando Rei-chan me acordou com comida. “Mamoru-san que me pediu pra trazer,” disse enquanto arrumava o okayu na mesinha do quarto. O que devia ser verdade. Pelo prato, aquilo com certeza viera do hotel, e eu duvidava muito que houvesse okayu no cardápio. Ele havia conseguido que o preparassem especialmente pra mim.

  Logo que terminei, acabei dormindo de novo. Acordei mais tarde com a bexiga cheia e fui novamente ao banheiro. O remédio e a comida junto com todo o descanso fizeram efeito. Estava claramente melhorando e decidi aproveitar para tomar um banho. Minha mãe estava no quarto quando retornei.

  — Usagi! Estava louca atrás de você, mas cada hora uma amiga sua dizia que você tinha saído pra outro canto! — Ela cruzou os braços. — Ao menos, vá arrumar suas coisas, pois já vamos embora.

  — Mas... — E eu nem sabia o que eu queria dizer. Claro, tinha toda a coisa de eu ter ficado o sábado inteiro atrás de um youma e o domingo inteiro de cama, só que isso eu não poderia dizer a ela. –

  — Pelo menos já tomou um banho. Agora vai arrumar a bagunça lá no nosso quarto, anda!

  Concordei e peguei minha bolsa. Por algum motivo, as palavras de Mamoru sobre a tal conversa ecoavam na minha cabeça. Eu nunca saberia que assunto poderia ser?

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  De malas prontas, cheguei ao hall de entrada do hotel, onde meu pai conversava com mais alguém. Aproximando-me, notei ser o pai de Mamoru e mais algum funcionário que eu ainda não tinha visto.

  — Minha filha gostou tanto que acho que tentou sumir pra não a levarmos embora! — meu pai disse assim que me viu perto.

  — Fico realmente feliz, estamos nos esforçando para o torná-lo o melhor hotel da região. — O senhor Chiba olhou ao redor. — Pena que meu filho não esteja se sentindo bem para se despedir. Acho que todo o trabalho enfim o derrubou. — Ele riu.

  Era mesmo; eu não sabia nem que fim tivera o Takayuki-san, mas se o pai estava rindo assim, devia só estar com uma dor de cabeça maior que a minha. Ele não tinha realmente culpa, mas acabei associando-o de qualquer forma e era inevitável pensar: bem feito.

  Os dois se despediram e meu pai me apontou a saída. Estávamos mesmo indo embora, percebi com um suspiro.

  — Como que o senhor conhecia o senhor Chiba? — perguntei, seguindo-o.

  — Acho que agora que tá tudo anotado, já posso revelar. — Meu pai deu uma gargalhada sem graça. — Na verdade, vim aqui para escrever uma resenha sobre o hotel.

  — Pera, este tempo todo o senhor estava trabalhando? — Eu me sentia incrédula, porque fazia tanto sentido que eu já devia ter notado que seria algo do tipo. — Não era um passeio em família? — Tinha perdido o show dos Edgers pra isso! Mas minha mãe estava certa, eu não tinha ficado nem um pouco com a família. Perdera meu direito de reclamar.

  — Acho que todos aqui eram convidados. — Meu pai coçou a cabeça, como se tivesse acabado de perceber isso.

  — Sabe de uma coisa, eu vou voltar com as minhas amigas. — Olhei o relógio no saguão e ainda marcava três da tarde. Eu teria mais duas horas se ficasse com elas.

  — Gostou tanto assim daqui? — Ele não tentou esconder o tom perplexo.

  Na verdade, eu tinha odiado; mas sorri sem graça e me despedi:

  — A gente se vê mais tarde!

  Corri em direção ao quarto de antes, mas não sem me chocar contra ninguém menos que Mamoru Chiba pelo caminho. Foi quando percebi que era justamente ele quem eu queria encontrar.

  — Está tudo bem aqui, não se preocupa com isso — ele falava ao celular. Nossas topadas já eram tão rotineiras que apenas me cumprimentou como se só tivéssemos nos cruzado na rua. — Eu direi, até. — E desligou.

  — Olá — meio balbuciei meio falei.

  Mamoru olhou minhas bolsas e o casaco grosso que eu vestia.

  — A saída é pro outro lado.

  Mostrei-lhe a língua.

  — Decidi voltar com as minhas amigas. — Uma onda de embaraço me pegou de surpresa e, mesmo enquanto eu dava uma desculpa, sabia que não era nada além de desculpa. — Quero dizer, eu não aproveitei nada com tudo o que houve. Aí vou ficar mais umas duas horas, talvez visitar o onsen. — Por que eu fui falar aquilo? Agora as imagens do nosso encontro lá dentro ficavam repetindo na minha cabeça.

  Mamoru também não pareceu muito confortável com a palavra onsen.

  — Então... — Eu precisava falar qualquer outra coisa pra sobrepor as imagens intermináveis. — Você parecia preocupado com a pessoa no telefone, não é sempre que te vejo tratar alguém bem — brinquei.

  — Era minha cunhada. Assim que amanheceu, liguei pra lá e descobri que era pra ela ter vindo, mas sentiu-se mal e ficou em casa. Como só meu irmão sabia que ela ia vir, ninguém estranhou.

  — Como assim alguém não acha errado largar a esposa pra trás numa viagem a um onsen? E Takayuki-san já estava se safando de fazer vítimas desde lá?

  Ele estalou a língua. Por que estava chateado, se sabia que o youma era tudo o que eu conhecia de Takayuki-san? O youma também nem se apresentara nem nada assim pra eu saber do que o chamar. Por isso, pra sempre acabaria chamando-o de Takayuki-san.

  Mas era eu quem havia interpretado Mamoru errado.

  — Venha. — Ele apontou para o corredor que nos levava àqueles quartos distantes onde nos escondera ontem.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Eu o segui achando que estava me levando de volta ao que eu já pensava ser o “fatídico quarto”, porque como assim o lugar mais aleatório daquele hotel podia ter tantos acontecimentos? Primeiro Mamoru, um ser de excelente criação, e claro que estou sendo irônica, decide que está okay aprisionar uma mulher recém-atacada por seu irmão. Depois, o próprio irmão me aparece ali magicamente, porque só mágica leva alguém para aquele corredor esquecido do hotel. Por último, virou minha enfermaria após o ataque do tal irmão. Até onde sei, Mamoru aprendeu a lição e não repetiu o cativeiro improvisado enquanto eu dormia, mas como ele não estava sozinho e sim com minhas amigas, quem sabe sua intenção inicial?

  Após a retrospectiva de tudo o que passei com aquele quarto rodar minha cabeça enquanto eu seguia Mamoru, acabamos em outro. De fato, pensando melhor, minhas amigas agora estavam o usando o fatídico quarto e não conviria invadi-lo, fosse lá o que ele queria.

  Ao entrarmos, Mamoru trancou a porta e foi até a pequena geladeira, sobre a qual havia alguns saquinhos de chá. Enquanto esquentava a água na chaleira elétrica — que não existia no quarto em que minha família tinha se hospedado! —, ele voltou a falar:

  — Pelo menos, ela está melhor.

  Ah, a cunhada. Demorei um pouco para entender de que ele estaria falando. Era horrível demais confessar que não me importava? Espera, era sobre ela a nossa conversa? Mesmo sem expectativas, falar sobre cunhada dos outros era um tanto...

  Mamoru continuou, alheio à minha confusão:

  — Só não se lembra muito dos últimos dois dias.

  É... eu realmente não me importava e merecia ir pro inferno por isso. Mas estávamos sozinhos e trancados em um quarto. Do qual minhas amigas provavelmente nem sabiam. Não era sobre uma mulher que eu nem conhecia — e que ataques de youma à parte, estava felicíssima casada com um gêmeo perdido dos Edgers — que eu ia estar pensando.

  Igualmente alheio à minha ansiedade, Mamoru agora estava com a água quente e terminava de preparar o chá.

  — Aqui está. — Ele me entregou uma das xícaras. — E você? Melhorou também?

  Assenti, ainda intrigada com por que estávamos tomando chá num quarto de hotel. Aquela situação me fazia me perguntar se estávamos num momento perfeito e eu devia ficar feliz com isso, ou se eu devia ficar bem miserável que nem assim alguma coisa acontecia. Olha isso. Por todo o caminho estava eu pensando na minha vida com o quarto fatídico quando deveria estar espantada com minha relação com Mamoru Chiba durante aquele final de semana.

  Era para esperar algo acontecer? Olhei de novo para ele, quem puxara uma das cadeiras do quarto para perto da cama. Ali onde eu ainda estava de pé e muito sem jeito. As últimas vinte e quarto horas nos deixaram numa posição incômoda. E não apenas a mim, disso tinha certeza.

  — Você... — ele começou a dizer. — Do que se lembra de ontem?

  — Tudo? Digo, não lembro de voltar pro hotel, mas acho que eu tava inconsciente, né?

  Ele confirmou.

  — Mal me lembro de eu ter voltado — acrescentou com um meio sorriso.

  Também sorri fraco.

  — Você se lembra daquela luz? — ele então perguntou.

  Eu não queria realmente falar daquele momento, porque pensar nele me fazia lembrar outras imagens, coisas que eu não vivi, mas que eram horríveis e que com certeza haviam acontecido em algum lugar. Com ele. Com nós dois.

  — Aquela luz... vinha de você. — Mamoru piscou lentamente. — E... era como se eu me lembrasse de coisas muito antigas.

  Baixei a cabeça e notei que meus punhos já estavam fechados.

  — Era essa a conversa? — indaguei, incapaz de esconder que havia esperado por um assunto mais feliz.

  Mamoru olhou para o lado por um instante.

  — Não sei muito da minha vida — disse baixo, para dentro. — Fui adotado após um acidente ter matado meus pais, ou foi o que me contaram. Porque eu mesmo não me lembro de nada.

  — Acho que você viu algo diferente de mim, porque pra mim não apareceu criança nenhuma. — Mordi meu lábio inferior, pois a imagem de Mamoru ensanguentado nos meus braços tinha piscado na minha mente.

  Era ele. Não bem aquele Mamoru na minha frente. O cabelo era um pouco diferente, a pele parecia mais clara e lisa. Mas era como se aquilo tivesse acontecido ontem. Na minha frente. E com Mamoru.

  Ele se levantou, dando-me um susto. Então, pegou minha mão e a massageou até que eu a abrisse.

  — Nós nos conhecemos muitos e muitos anos atrás. Foi o que vi. Duas pessoas que nunca conseguiram—

  Meu celular tocou. Ah, sim. Agora ele tinha sinal pra tocar. Ontem, quando minhas amigas podiam ter me avisado pra ficar quieta que o reforço já vinha, ele não registrou nem a chamada perdida. Mas agora que Mamoru...

  — Continua. — Decidi ignorar a chamada.

  Ele sorriu e soltou minha mão.

  — É melhor atender.

  Grunhi enquanto o procurava na bolsa. Era Mako-chan. Elas tinham encontrado minha mãe e descobriram que fiquei pra trás. As três estavam em um parque mais para sul do hotel, tinha muitos bichos interessantes e raros de ver. Concordei e disse que falaria com elas mais tarde. Então, desliguei antes que ela atrasasse mais ainda nossa conversa.

  — Continua — eu o apressei, mas aí notei que minha mão não estava mais nas dele. — Ah, não... — lamentei em voz alta sem querer.

  — Seu chá está esfriando — ele disse após forçar uma tossida.

  Chá? Alguém ainda lembrava que estávamos tomando chá? Acabei rindo. E meu riso virou gargalhada. O que Mamoru observou com sobrancelhas erguidas. Prova de que sabia que eu não estava sendo eu mesma ou já teria feito alguma nota de sarcasmo. Ou talvez ele próprio não estivesse sendo ele mesmo também.

  Depositei minha xícara na mesa mais próxima. Voltei e também peguei a dele, dada com alguma relutância estupefata. Seus olhos me acompanhavam agora sem qualquer expressão exceto a de interrogativa.

  — Aqueles dois não eram a gente — eu disse assim que deixei sua xícara ao lado da minha. — Se olhar com calma, são pessoas bastante diferentes.

  — Eu também ainda não sei o que aquelas visões significam, mas fico feliz que tenham nos vindo ontem. Talvez entendamos melhor quando encontrarmos o Cristal de Prata.

  Aquela menção, o atrito que mantivemos em silêncio desde que sua identidade fora revelada, fez com que eu desse um passo para trás sem nem perceber.

  — O Cristal? Você ainda o quer?

  — Não sei... Não depois do que vimos. Eu o procurava para entender melhor quem eu era, por que sempre que você estava em perigo, eu precisava salvá-la como se minha vida não tivesse outro sentido.

  Levantei meus olhos para os dele em desorientação.

  — Não me olha assim — ele pediu com um sorriso. — Não posso te dar nenhuma explicação. É só como eu sempre senti quando algo te acontecia. — E virou a cabeça para outro lado, visivelmente sem graça. Então, suspirou. — Mas precisamos desse Cristal se o Dark Kingdom o quer tanto. E vocês também o querem, não é?

  Confirmei.

  — Para encontrarmos nossa princesa.

  Mamoru me encarou e pareceu prestes a dizer algo, mas balançou a cabeça, desistindo do que fosse.

  — Sabe algo dela? — perguntei, sem querer perder aquela pista.

  Ele riu e falou:

  — Acho que saberemos de fato quando encontrarmos o Cristal.

  E estávamos de volta ao ponto de dissenso. Ou...

  — Encontrarmos? Juntos? — Não conseguia esconder a empolgação com aquela hipótese.

  Mamoru fez uma gesto exagerado com o braço como um cavaleiro diante de seu soberano e disse:

  — Se me aceitar em seu time.

  Dei uma risada com as bochechas coradas. Era fora de lugar, mas empolgante vê-lo se comportar como Tuxedo Kamen. Era realmente ele ali.

  — Guarde as reverências pra nossa princesa! — Segurei seus ombros e puxei-o para cima.

  Com uma piscada, Mamoru assentiu.

  — Claro.

  Agora que estava com a coluna novamente reta, seus olhos se fixaram direto nos meus. Encontrávamo-nos perto demais para eu domar meus sentimentos e meu peito se comprimiu. Em vez de inspirar e expirar, eu só estava pondo ar para dentro. Os lábios dele... Estavam se aproximando, ou era só impressão?

  Expirar! Eu precisava expirar!

  Mas tossi sufocada antes que conseguisse pôr ordem nos meus pulmões.

  — Tá tudo bem? — Mamoru indagou com preocupação.

  Ele não ia me ouvir dizendo que esqueci como respira, não mesmo. Então só assenti com força.

  — Tudo certo!

  — É melhor te deixar aproveitar, né? O resto do dia. — Ele mostrou a porta. — Falta pouco. A gente se fala mais em Tóquio, teremos tempo.

  Confirmei com a cabeça, mesmo com a ansiedade me corroendo o estômago. Assunto nitidamente encerrado, saí do quarto, deixando-o para cuidar das xícaras com chá ainda pela metade. Considerei até voltar e dizer que era um desperdício não tomar, mas já devia tá bem ruim de frio, nem eu ia querer tomar nem ele acreditaria que esse era meu motivo de ter voltado.

  Mas desculpa para quê? Eu o seguira até ali, eu ficara para trás... para quê? Não eram só as imagens daquelas pessoas que talvez tivéssemos sido em outra vida, morrendo com todos aqueles sentimentos não resolvidos. Eu mesma, como Tsukino Usagi, sentia a insatisfação de fechar a porta com Mamoru lá dentro. Longe de mim.

  Não me contentei com abrir a porta de novo; eu a escancarei, puxando-a com toda a minha força e chocando-a contra a parte do lado de fora. Então, corri de volta para dentro do quarto e o beijei.

  Meus lábios secos se chocaram contra os dele tão quentinhos, e a primeira coisa em que pensei foi no quanto eram macios. Homens têm a imagem de ásperos e rudes, mas a boca de Mamoru era tão suave... Nem notei que para beijá-lo eu havia segurado sua cabeça e a puxado para mim, mas agora sem saber mais o que fazer naquela posição, tomei consciência das minhas mãos, uma bem sobre sua orelha, a outra emaranhada em seus cabelos. Aliviei a pressão delas e rompi o beijo.

  Mamoru me escarava aturdido; seus olhos pareciam ter quase o dobro do tamanho.

  — Tempo... — balbuciei sem ar. — Não temos tempo... não mesmo. Não temos... tempo... — Eram tantos pensamentos passando pela minha cabeça que eu ainda o estava olhando perdida, como se estivesse acordando agora.

  Ele assentiu com pausa no movimento.

  — Não tenho como aproveitar aqui sem você! — acrescentei assim que consegui formar a frase, antes que algum filtro antiloucuras a descartasse. Sempre funcionei melhor no improviso.

  Ainda assim, as consequências do que fizera começavam a processar no meu cérebro. Havia beijado um cara com apenas uma pequena ideia de que poderia ser correspondido. Ele era bem mais alto e forte que eu, mas era um beijo roubado. E se eu tivesse lido tudo errado e não tinha nada entre a gente?

  Voltei a olhar Mamoru, quem ainda precisava reagir mais do que piscar. E mesmo isso, talvez ele só tivesse piscado uma vez desde que eu o beijara.

  — E então...? — perguntei tímida, até um pouco rouca.

  — Você tem razão. — A voz dele também parecia falhar, até ofegante. Mas eu acabara de lhe dar um susto... fazia sentido estar assim.

  Mexi a cabeça, inclinando-a para a frente, cobrando que elaborasse melhor. O ar voltava a só entrar e não querer sair o suficiente do meu corpo. Tava difícil conter a excitação crescente, afinal ele ainda não tinha me empurrado longe.

  Mas Mamoru deu um passo para trás, abrindo e fechando a boca sem dizer qualquer coisa. Ele bufou com frustração e olhou para baixo.

  — Digo, eu não sei... o que... — Seus ombros caíram. — Não sei o que dizer. Eu... — Ele passou a mão para bagunçar ainda mais os cabelos. Sem se preocupar ou se lembrar de arrumá-los desta vez.

  Uma parte de mim quis rir, por reconhecer aquele seu gesto característico, mas me lembrei de minha própria situação.

  — Está tudo tão rápido que achei que seria melhor falar sobre isto mais tarde, quando nós dois tivéssemos descansado, nos acostumado a essa coisa toda.

  — Mas... — comecei a dizer, quando Mamoru assentiu com tanta força que parei.

  E ele sorriu.

  — Mas não temos tempo. Você tem razão.

  Franzi a testa.

  Ele estendeu sua mão até meu rosto e desfez o passo que havia tomado para longe de mim. Então, fechou os olhos e juntou nossos lábios. Meu estômago parecia estar coçando por dentro enquanto nos beijávamos.

  — Também achei boa a ideia de pular palavras — ele disse sem se separar de mim. Preferi não arriscar encerrar o beijo também e só concordei com a cabeça. Depois, enlacei-o pelo pescoço com meu braço, por garantia de que ainda não estávamos nem perto de terminar.

  Deixássemos para entender os detalhes noutra hora.

  Eu estava ansiosa todo aquele tempo e durante aquela conversa, mesmo que tenha sido só um final de semana! Nada mais que três dias. Na ponta do papel, não foram nem quarenta e oito horas para sairmos de pessoas que se detestavam e enfim nos entendermos.

  Mesmo assim, aquele beijo, aquele momento pareciam ter levado milênios para acontecer.

FIM!

Anita, 08/01/2020

Notas da Autora:

Primeiro, desculpas por mais de um mês sem atualizar a história. Foram semanas complicadíssimas e ainda por cima estava me matando pra terminar a fic do Amigo Oculto. Boas notícias: a fic está pronta, só falta revisão... O que provavelmente só vai acontecer na véspera de ser entregue haha.

Ando enferrujada com notas...

Comecei esta fic como uma terapia. Nada do que estava escrevendo saía direito, isso quando eu conseguia ter ideia do que escrevia. Lembro que estava perto do nano ou no meio dele? E aí de início tentei seguir ao menos metade do ritmo do nano, como se a meta fosse escrever ao máximo no Nano. Resultado: bem, ao menos a fic terminou. Um ano e uns meses depois, rs.

Quero agradecer à Nemui por sempre me apoiar toda vez que digo que vou escrever, mesmo que suas ideias não costumem me ajudar muito. Outro agradecimento especial à Pandora Imperatrix e à Spooky, que há poucos confortos tão grandes fazendo fic que saber que você terá gente interessada em ler o produto. Muitos agradecimentos a James Birdsong, a primeira pessoa a deixar comentário, e também à Timbi e à Mari Tsuki pelo apoio na jornada. Queria poder agradecer aos anônimos, mas ficaria mais difícil, por isso registro a intenção. Claro, agradeço muito a você que está lendo até aqui, qualquer leitor sempre foi especial, mas nestas épocas de vacas magras pra mim, número a mais já são fonte de alegria.

Por favor, não deixem de comentar. Please? Onegaiiiiiiiiii (estender o i por 30 segundos)? (A única que pessoa que pegaria essa referência nem deve ler... hahahaha)

Haverá uma próxima fic de Sailor Moon, e espero que todos estejam vivos para lê-la.

Até lá! 

Leia mais fics minhas!

2 comentários:

  1. Que delícia em pleno 2021 ler uma fic sua <3
    Já falei em comentários passados, mas vou ressaltar aqui porque é sempre necessário: Você é minha autora de fics favorita desde a Biblioteca de Guaruhara, lá em 2002, quando li Várias Formas de te Amar (minha favorita até hoje, releio sempre que possível). Que loucura, quase 20 anos já KKKKK Não pare de escrever, porque seu dom para isso é nato, e eu amo demais vir aqui ler suas histórias, e com essa não foi diferente! Amo UsaMamo, amei demais essa histórias e espero ainda ler muitas outras <3

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    Respostas
    1. Obrigada, fico tão feliz de ler isso! Ultimamente sempre que tô escrevendo fico me perguntando se alguém ainda vai se lembrar de sailor moon antigo pra ler, é sempre bom saber que ainda existe alguém sim, obrigada mesmo!
      Beijos

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