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[Sailor Moon] Cada Vez que nos Encontramos, Cada Vez que nos Separamos - Capítulo 9, escrita por Anita

Autora: Anita
Fandom: Sailor Moon
Gênero: Comédia romântica, Realidade alternativa
Classificação: 14 anos
Status: em andamento
Resumo: Usagi/Mamoru. Usagi está na faculdade e acaba de terminar com Seiya, seu primeiro namorado de toda a vida, quando decide aceitar um emprego de meio período no bar de seu amor de adolescência, Motoki. Entre os desafios dessa aventura, o passado decide reaparecer na sua frente, especialmente quando o homem que mais a atazanava retorna a Tóquio, Mamoru. Ela percebe então um conflito entre o que sente por Seiya e por Mamoru. A história também vai explorar os romances de cada uma das senshi! 

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Olho Azul 20 Anos Apresenta:

Cada Vez que nos Encontramos,
Cada Vez que nos Separamos


Capítulo 9 — Porta Aberta

  Ainda estava chovendo, mas pouco. O lugar onde Seiya e ela se sentaram para comer naquela tarde tinha janela para o lado de fora, e na rua nem todos usavam guarda-chuva enquanto andavam de um lado para o outro sem pressa. Até a chuva contribuía para ser um sábado chato.

— Você parece cansada. — Seiya lhe deu um peteleco, puxando-a de volta do reino do tédio.

  E ele tinha razão. Usagi estava exausta, apesar de haver dormido por algumas horas no sofá ao lado de Mamoru, enquanto este assistia às notícias da manhã. Um acordo tácito de manter o status quo pusera um fim à conversa série. Logo que terminara seu chá, Mamoru a puxara em um abraço e assim ficaram até o almoço. Depois, ela havia se apressado para trocar de roupa em casa e se encontrar com Seiya naquele dia nublado e úmido.

— Como eu ia falando, o que acha de irmos a um algum lugar com fontes termais na golden week? Tava a fim de fazer algo mais tradicional, já que nas duas últimas eu só fiquei viajando que nem doido. — E riu, parecendo lembrar-se dessas viagens.

  Usagi lhe devolveu um olhar confuso. A última coisa que gostaria no momento era de um tempo tão íntimo com o namorado. Gostava muito de estar com ele, conversar com ele, ser mimada, mas não de momentos a sós. É, ela realmente não gostava de ser a namorada dele, apenas que ele fosse seu namorado. Por quê?

— Não se preocupa, eu não vou te tocar, Usagi. — Seiya olhou para o pudim que acabara de chegar à sua mesa e começou a comê-lo pouco a pouco enquanto prosseguia: — Que tal irmos em quartos separados? Você pode chamar algumas amigas, a Minako... Tem até aquela Naru, né? Faria bem a ela. Mas seria estranho se o sujeito lá fosse. — Ele sorriu.

  Usagi assente lentamente, mas franze a testa.

— Eles estão juntos de novo; não sei se a Naru aceitaria ir sem o noivo. Aliás, não sei se é o tipo de programa deles de qualquer forma.

— Mas é um programa legal, não é? Eu queria chamar o Taiki também, podíamos tentar mostrar pra Naru que há outros por aí. Pena que ele tá na China. Quem sabe um cara que dá aula comigo lá no curso? Ele é bem maneiro, japonês, mas o inglês dele quase não tem sotaque nenhum! E o Yaten, ele vai, tenho certeza. Vai ser divertido, viu?

  Ela baixa a cabeça para o que sobrara de seu bolo e tenta imaginar aqueles dias com Seiya, sabendo que, ao mesmo tempo, Mamoru estaria buscando um jeito de fugir de Tóquio para longe da confusão que era o caso de ambos. Não que Usagi fizesse parte desses motivos.

  Naquele momento, bateu-lhe um incômodo. Um desespero. Levantou a cabeça para Seiya e era quase como se visse um estranho comendo com ela na mesma mesa. “Termine, sofra um pouco e logo se recupere,” “termine com ele e continue comigo”, era o que Mamoru lhe havia dito na mesma manhã.

  E lá estava Seiya. Um amigo por quem Usagi tinha grande carinho, mas um homem por quem ela começava a sentir ojeriza. Era uma palavra tão forte, que Seiya não merecia, mas era a verdade. Que amizade era aquela que Usagi queria tanto manter, então? Também era injusto com ele. Seiya merecia encontrar alguém e ter um relacionamento normal, de preferência sem ser traído ao menos uma vez por semana.

  Ela só gostaria de não haver começado a chorar naquele mesmo instante em que estava para dizer as palavras finais daquele lindo conto de fadas. Não era o que queria. Chorar fazia parecer que estava se martirizando para liberar Seiya de suas garras. Principalmente porque, na verdade, ela era a egoísta que não conseguia deixar ir um brinquedo que não mais lhe agradava.

  Ela nunca iria crescer, né?

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  A chuva havia aumentado desde que começou a escurecer naquele sábado e agora Mamoru estava deitado na cama tentando dormir. Não tinha como não pensar no estranho relacionamento que vinha mantendo com Usagi, como nunca fizera com mais ninguém.

  Era verdade que não teriam futuro. Ela continuaria com aquele estrangeiro pelos próximos meses até perceber sozinha o que ele já vinha lhe alertando: que aquela relação não tinha futuro. Sexo não era algo fundamental, mas não querer fazer com o namorado o que ela conseguia com um quase perfeito estranho como Mamoru era um alerta. Mas que lhe trazia uma esperança — Usagi não estava apenas buscando uma aventura qualquer com ele, talvez também estivesse buscando algum tipo de conforto. Infelizmente, ele não conseguiria ficar por perto tempo o bastante para a ver se tornar disponível.

  Mamoru se virou na cama, tentando imaginar como seria caso ele houvesse retornado um ano depois. Eles teriam ficado juntos mesmo assim? Ou Usagi já teria encontrado seu namorado ideal? Ela estaria já no quarto ano, quase para se formar e procurando um emprego. Talvez não possuísse tempo nem para um caso.

  Ao chegar a essa conclusão, Mamoru percebeu que retornar para Tóquio não havia sido tão ruim assim. Mesmo que por tempo limitado, pudera estar com Usagi, tê-la em seus braços. E ainda não a tinha perdido. Era certo que seu futuro no momento só possuía duas direções que não cruzavam com ela: ir para Nagasaki, ou ficar com Rei Hino, mas ainda possuíam algum tempo juntos. Talvez até junho? No mínimo, até a golden week. Poderiam até ter todas as férias de verão, quem sabe a convenceria a tirar uns dias com ele em um local distante daquele namorado? Usagi não imaginava, nem lhe indagara por que não havia contactado o chefe de Nagasaki antes quando todos os problemas começaram, mas estar em Tóquio só seria realmente insuportável quando ela não deixasse mais o cheiro de seu xampu no travesseiro de Mamoru.

  Exatamente porque ele estava pensando assim era que suas ações foram apenas reflexivas ao abrir a porta de seu apartamento para uma Usagi encharcada de pé no corredor.

— Você não disse que tinha guarda-chuva? — perguntou-lhe ao vê-la entrar, e a segurou nos braços. Sua pele estava gelada, envolta em uma camada de água.

— Mamoru... — Apertou-o com força. — Eu terminei. Nós terminamos...

  O que fazer quando uma garota chorava tão forte junto a seu peito? Sempre que Mamoru via pessoas chorarem, e seu impulso era o de deixá-las sozinhas até se acalmarem. Ele não era bom em consolar e normalmente não se importava o bastante para sequer tentar isso. Adicionalmente, sabia por experiência própria que abraços, carinhos, palavras apenas faziam a pessoa chorar com mais força, perder o controle, como agora quando ele a abraçou. Ainda assim, Mamoru não pensava muito enquanto a segurava mais forte, como se Usagi pudesse desaparecer dali. Será que parte dele não creditava naquilo? Que era apenas ilusão?

— Mamoru... — O som veio abafado pelo tecido de sua própria blusa de dormir.

  Usagi se afastava dele.

  Quando achou que ela o empurraria longe, recuperando a consciência, ela fez o oposto, beijando-o com força, tanta que seus lábios doíam com o toque. E ele correspondeu. Não em força, mas em intensidade. A percepção de que Usagi estava nos seus braços parecia enfim gerar reações de seu corpo que nem ele conseguia explicar.

  Usagi se afastou de novo. Seus olhos estavam com lágrimas.

— Que tal apenas dormirmos? — Mamoru pensou melhor, a sanidade lhe retornando apesar de aquela luta para sufocar o próprio desejo lhe deixar o corpo dolorido. — Melhor, vou pegar uma toalha e alguma roupa. Você toma um banho enquanto esquento um leite para te aquecer.

  As mãos dela foram até seu peito e agora seguravam firme o tecido da blusa.

— Faça amor comigo — pediu com a voz rouca.

  Mamoru estudou-a, sentindo sua garganta fechar dolorosamente. Aquela não era a hora de sexo, ele não queria ser a transição. Não dessa forma tão escancarada. Transições não dão certo, todos sabiam disso. Até porque transições levam a outros, por isso são chamadas assim. Caso cedesse e fosse para a cama com Usagi naquele momento em que ela chorava após enfim ter terminado com o estrangeiro, Mamoru estaria apenas lhe dando uma cama quente para chorar, associando-se ao relacionamento anterior. E isto ele vinha evitando a todo custo. Era verdade que tinha sido ele mesmo quem lhe sugerira terminar, mas foi como amigo quando ela havia procurado um conselho. Era a mesma posição que Mamoru queria manter ali, a de apoio amigo. Não a de uma transição.

  Como Mamoru demorou a dar qualquer resposta, Usagi prosseguiu com as mãos agora no rosto do outro:

— Ao menos, finja fazer amor comigo. — Beijou-o de leve. — Não sexo como sempre. — Seus lábios agora roçavam a cada palavra. — Faça amor comigo, Mamoru.

  Era como se sua mente voltasse a se dissolver. Toda sua resistência a não se tornar a transição sumia com aqueles semibeijos. Usagi não facilitava, acariciando sua nuca, sua bochecha e agora o beijando de verdade, mas ainda com leveza. O corpo de Mamoru estar em um torpor. Se antes ele teve que conter os próprios desejos, agora não era capaz de sentir mais nada. Apenas os toques de Usagi contra sua pele, os lábios contra os dele próprio.

  Sua posição parecia injusta. Quando começou a reagir, não mais o fazia por desejá-la simplesmente. Era mais complexo, mais estranho. Ele a amava.

  Ao recuperar o próprio domínio, ele estava em sua cama, e Usagi sorria para ele. Mamoru tentou replicar o gesto, mas não conseguia, estava emocionalmente exausto. Sentiu a moça soprar seu rosto e notou que o sorriso se transformara em uma travessura. Começou a se mexer, para se ajeitar na cama, mas os braços de Usagi o abraçaram com força, puxando sua cabeça para o pescoço.

— Fique assim, por favor. Só mais um pouco, até eu dormir.

— Mas é desconfortável assim — respondeu ele, levantando a cabeça mais uma vez, com medo de perder o equilíbrio e acabar por machucá-la apenas com o peso do próprio corpo.

  Usagi o olhou de volta sem esconder a decepção nos olhos. Mamoru segurou um suspiro de resignação e enlaçou a cintura da jovem, agora virando o próprio corpo. Em poucos segundos, a posição havia se invertido e um peso confortável estava inerte sobre ele.

— Se não for desconfortável para você, podemos dormir assim — disse ele, levando a mão até os cabelos dourados na cabeça de Usagi, que se haviam se espalhado sobre os dois e a cama.

— Mas eu não era tão pesada que afundaria um navio ou algo assim? — perguntou a moça, começando a se ajeitar para dormir ali. Devia ser alguma citação dele próprio, de muitos anos antes.

  Mamoru sorriu de leve, seguindo com o movimento naqueles cabelos macios, ajeitando-os um pouco. Balançou a cabeça.

— Quanto tempo será que vai demorar? — perguntou Usagi, não parecendo haver percebido sua resposta. Ela agora estava como se a desenhar figuras no peito de Mamoru. — Foram dezenove anos ou algo assim para o meu primeiro namorado. Mais cedo que sua previsão de nunca, mas quanto mais será que demora? Pra alguém gostar de mim ao menos?

  Mamoru dividiu-se entre seu eu de sempre, que pensou sobre a situação e sopesou as consequências, afinal, já havia feito o que era definitivamente o passo errado. E aquele que respondeu antes que a primeira parte decidisse como prosseguir:

— Seja minha namorada.

  Usagi usou as palmas das mãos para se levantar e olhá-lo nos olhos. Sob aquela pressão, Mamoru quase disse ser brincadeira, como ela parecia esperar que ele fizesse pela expressão que lhe mostrava naquele momento. Entretanto, ele conseguiu manter a expressão firme.

— Já estamos quase lá com esta amizade colorida, né?

— Não sei o que de amizade nós temos que vivemos na cama.

— Não é verdade. Já fomos ao parque, à praia, ficamos no sofá...

— Sim, programas número um na lista de lugares para ir com amigos. — Ela se virou até a cama e lá se ajoelhou. — Eu sei da sua futura noiva. Eu acho que é uma péssima ideia começar um namoro com data de vencimento. Você também não entendeu o que eu disse; o Seiya realmente gostava de mim e é isso o que eu quero.

  Mamoru sentou-se na cama e ajeitou os próprios cabelos, já colados em seu rosto suado.

— E eu só gosto de mentira? — perguntou. Agora não era mais a vez de continuarem a brincar de estarem em um filme de Hollywood. Eles eram pessoas com sentimentos. — Sou eu quem estou renunciando à parte de você gostar de mim, não é? Tem ideia de como é uma ideia ruim se envolver com alguém que acaba de terminar com outro? Ainda assim, aqui estou perguntando se você aceitar ficar comigo. Chega de encontros à meia-noite. — Não que ele quisesse mesmo acabar com aqueles encontros, não era tudo ou nada. Mas agora que já o dissera, era tarde demais e todas as fichas foram postas à mesa. Não. Havia ainda mais uma, lembrou. — Foi você quem me rejeitou primeiro e agora está falando como se aquele cara fosse o único em toda sua vida que já gostou de você.

— Eu falo assim do Seiya, porque é a verdade.

— Diga isso pra outro. É bem interessante que você tenha retomado sua amizade com aquela ruiva, porque ela mesma te lembrará de como você me rejeitou anos atrás.

— Como eu o quê? Está falando da Naru?

— Então, é verdade. — Mamoru sentiu a própria cabeça cair até seu queixo bater no peito. — Você nem sequer se lembra de ter me rejeitado.

  E se levantou.

— Aonde vai? — Usagi indagou, seus olhos pareciam enormes, acompanhando o movimento do outro pelo quarto apenas iluminado pelas luzes que passavam pela cortina fechada.

— Tomar uma ducha e dormir na sala.

— Você me propõe em namoro e vai dormir no sofá? — Por trás do sarcasmo, havia algo mais que Mamoru não conseguia distinguir.

— Eu te proponho em namoro e te dou um espaço para pensar. Além do mais, você precisa dormir. Vou separar uma roupa confortável, tome um banho quente também e descanse.

  Ele sabia que seus olhos o seguiam com algum desespero, como um filhote abandonado na esquina pelo próprio dono. Desta vez, pela primeira vez na noite, precisava manter sua sanidade e dar um espaço entre ambos. Mamoru já havia apostado alto demais com muito pouco em mãos para oferecer; ele não tinha coragem de ver as cartas de Usagi ainda.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Usagi acordou no dia seguinte com o cheiro de comida. Ela havia deixado a porta aberta na esperança de que Mamoru viesse lhe abraçar, mas não aconteceu. Contudo o aroma brincou com suas narinas e chegou a seu estômago, surtindo o mesmo efeito. Certo que ele amava comer. Mas ela gostava ainda mais de comer o que Mamoru lhe fizesse, ainda se ele encomendasse de alguma loja de prato feito da esquina, a ideia de dividir uma refeição com ele a animava. Mas antes de se deixar levar pelo impulso de seguir o rastro da comida, recordou-se da estranha conversa da noite anterior. Nunca teria esperado um pedido de namoro daquele homem. E, de certa forma, ainda tinha vindo com uma declaração tardia.  Como assim em algum momento Mamoru havia gostado dela? E como foi que ele pensava já ter dito isso a ela?

  Um vulto surgiu à porta, mas Usagi não precisava abrir muito os olhos para adivinhar quem fosse.

— Vamos almoçar? — Ele não se aproximou, nem parecia haver entrado no próprio quarto. — Acho que você já deve ter dormido por umas dez horas, cabecinha de vento. Não morreu de pneumonia durante a noite porque ouvi os roncos.

— Estou indo... — respondeu. Percebendo a mentira que ele acabara de contar, ela sentou-se na cama e se preparou para se defender da acusação infundada, mas tarde demais. Mamoru não estava mais ali.

  Resmungando, Usagi foi até o banheiro e escovou os dentes com o quite que carregava na bolsa, que ela havia recuperado do balcão da cozinha na noite anterior enquanto Mamoru dormia encolhido e nada confortável no sofá.

  Enfim desperta e com hálito decente, Usagi o encontrou já à mesa, parecendo estar apenas esperando que ela se juntasse a ele.

— Sobre ontem... — Usagi disse, buscando as palavras.

— Vamos esquecer aquilo. Eu menti sobre pararmos de nos ver, então, vamos esquecer o resto também. O que mais aconteceu foi há tempo demais, não faz sentido eu esperar qualquer coisa mais daquela declaração. — Mamoru começou a comer.

Eu não menti. E sei que me lembraria de uma declaração. Não menti ao dizer que Seiya foi o primeiro a gostar de mim, Mamoru.

— Bem, se eu gostei antes... Vocês sequer se conheciam àquela época, certo?

— Tá, mas eu nunca soube, já te disse. Então, não conta.

— Por que não pergunta à sua amiga? Pergunte a ela por que ela te perguntou e ainda me disse a resposta bastante clara de como... Bem, de que você me rejeitou. Tal como eu já imaginava que faria.

  Usagi baixou a cabeça para o porco à milanesa à sua frente. Estava com fome, mas parecia errado comer ainda. Ainda mais um prato que Mamoru tinha preparado.

— Olha, eu quero que você esqueça — repetiu Mamoru. — Não sou eu o maior interessado? Digo, não sobre o que lhe pedi. Apenas sobre essa declaração, nem fui eu mesmo quem te falei e já foi respondida apropriadamente. Sobre o que lhe sugeri, eu preferiria que você pensasse e gostaria também de uma resposta.

  Ela se fixou nos olhos dele, mas logo percebeu do que estavam falando.

— Estava falando sério sobre namorarmos? — perguntou, sentindo as bochechas queimarem ao mesmo tempo em que fez.

— Por que não? Não precisa ser algo forte, apenas passarmos um tempo juntos, como viemos fazendo. Mas sem terceiros. Sem você acordar aqui e sair para ver outro. Mas não responda. Agora é hora ainda pior que ontem para isso. — Mamoru sorriu calmamente. — Coma sua refeição e pense. Até lá, vamos apenas continuar como estamos. O que acha?

  Usagi assentiu e enfim conseguiu levar o pedaço de carne à boca.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Não obstante o pedido de Mamoru para que ela esquecesse, não obstante ela mesma se pedir para não pensar em algo que já havia passado, Usagi não conseguia deixar de pensar na tal declaração. E se ela não podia conseguir mais detalhes do envolvido, ao menos, havia outra pessoa que era para saber. E quem sabe, até mais?

  Conferiu seu celular no caminho para Motoki. Como ela não trabalhara no sábado, havia todo tipo de mensagem em seu celular. Duas de sua mãe perguntando a que horas ela chegaria pela manhã, o que a fez perceber que havia dormido duas noites seguidas na casa de Mamoru. Mais algumas de Minako relatando haver saído com Yaten na sexta, mas Usagi sabia que foram acompanhados por Seiya e mais algumas pessoas. Uma do próprio Seiya logo após terminarem, perguntando se ela havia chegado bem e para lhe ligar assim que pudesse. Usagi suspirou impotente com essa. Antes que se preocupasse mais com o que fazer sobre isso, uma nova mensagem de Minako chegou, perguntando onde ela estava. Grata pela distração, respondeu-lhe prontamente que a caminho do bar. Então, lembrou por que pegara o aparelho no início e mandou uma mensagem para Naru: “podemos nos encontrar amanhã?” O aparelho começou a tocar no instante seguinte.

Eu posso ir te ver hoje — disse Naru quando Usagi a atendeu, já descendo na estação.

— Hoje eu já estou chegando no Motoki... Não vou poder ir.

Então, eu vou até lá.

  Usagi pensou. Rei não estaria trabalhando, o que evitaria desconforto. E quanto mais rápido resolvesse aquela questão sobre Mamoru, mais rápido conseguiria se acertar com o próprio — ou assim esperava. Por isso, concordou.

  Menos de meia hora após chegar — fantasticamente na hora — ao Drunk Crown, Naru apareceu com a expressão de quem precisava resolver um quebra-cabeça. Isto espantou Usagi. Mesmo sendo ela quem tinha um mistério e tanto a solucionar, vinha só arrumando os copos simplesmente por não ter mais nada para fazer naquele início de noite de domingo. Motoki nem estava lá e Makoto só apareceria após as oito.

— Vim logo que pude — disse Naru, sentando-se ao balcão.

  Usagi perguntou-se se não seria sua primeira vez naquela parte do bar. A imagem que tinha de Naru era dela sentada a uma das mesas, com a postura bonitinha como estivesse num desses cafés chiques.

— Precisamos muito conversar, não é? — Naru perguntou.

  A sobrancelha de Usagi se ergueu tanto que poderia ter passado de sua testa.

— Conversar? — repetiu lentamente, encucada com o quanto Naru estava indo direto ao assunto. Teria Mamoru já falado com ela? Ele não precisava ter feito isso. Na verdade, nem deveria. — Como ele descobriu seu número? — Usagi perguntou diretamente.

  Era a vez de Naru franzir a testa. Logo, sua expressão passou a revelar alguma hesitação e até culpa.

— Nós nos vimos ontem na rua, enquanto Masato e eu fazíamos compras. Foi quando ele me contou... Bem, eu dei meu número depois, caso ele precisasse de algo, só isso. Isto quer dizer que já está tudo bem com vocês?

— Ontem? Na rua? — Usagi sentiu o queixo já caído. — De madrugada?

— Não, de tarde! — Naru baixou a cabeça sem graça. — Vocês se viram de novo depois, então? — E sorriu um pouco. — Fico feliz. Mas se já está tudo certo, por que você queria falar comigo?

— Exatamente porque não tá tudo certo, né? Naru, por que nunca me falou que ele gostava de mim!?

— Quê? — A expressão da amiga era vazia. E confusa ao mesmo tempo. Mas logo se recompôs. — Não é óbvio que ele gosta de você?

— Óbvio? Como pode ser óbvio em um sujeito que nem deve saber meu nome de tanto me chamar de cabeça de vento gostar de mim? Ou ter gostado. Afinal, já faz o quê? Cinco anos?

— Cinco? — Era visível o esforço de Naru em parecer calma, mas também em vão. — É impressão minha ou não estamos falando do seu namorado?

 Oh. Mamoru não teria lhe pedido em namoro se Usagi não houvesse terminado. Ontem, no final do horário comercial, Usagi simplesmente vagara como um fantasma e depois de enfurnara em um restaurante simples até que fechasse às onze. Tinha sido lá que ela acabara abandonando seu guarda-chuva sem perceber. Somente depois disso que Mamoru soubera do fim do namoro com Seiya. E somente por isso ele lhe pedira em namoro. Naru não os chamaria de namorados se o tivesse visto de tarde, certo?

— Você tá falando do Seiya? — perguntou Usagi, fazendo força para pronunciar aquele nome.

  A moça à sua frente assentiu várias vezes.

— E de quem você estava falando, Usagi? Quer dizer que houve uma razão para vocês terminarem, né? — As mãos de Naru foram à boca. — O amigo do Motoki!

  Usagi não sabia se estava brava pela rapidez com que Naru adivinhara ou envergonhada por haver tido sua traição descoberta. E exatamente por alguém quem sofria como o lado traído. Pior que Usagi sabia tão pouco sobre Masato, que ele até poderia estar mais certo ali que ela mesma, já que Naru descobrira tudo e mesmo assim continuavam juntos.

— Eu estou certa, né? — Naru havia interpretado o silêncio de Usagi como uma confirmação, Usagi podia jurar que ela parecia quase feliz. Só que não fazia sentido.

— Por que você parece feliz, Naru? — Usagi sentiu um acesso de choro, mesmo sabendo que não era a melhor situação para uma reação dessas. — Não sou nada melhor que o seu noivo... fazendo o Seiya passar por isto.

  Ela levou um dedo aos lábios e respondeu despreocupada:

— Bem, você terminou com o Seiya né? O Masato também. — Então sorriu, nitidamente pensando no noivo. — Eu nem pedi nada, mas ele me garantiu que terminou com ela. Não esperava algo assim, apenas que nunca mais tocássemos no assunto.

  A imagem da tal moça de cabelos curtos veio à mente de Usagi. E tinha rosto de Ami, a amiga de Rei.

  Após ouvir daquele desenvolvimento na história de Naru, Usagi não teve  coragem de voltar ao assunto sobre Mamoru. Ainda que Naru parecesse aprovar o novo relacionamento, era quase como se ela aprovasse Ami e Masato. Em outras palavras, ela apenas estava se esforçando demais.

  Outra razão para ela não conseguir mais esclarecer aquilo foi a porta do bar se escancarar. Minako apareceu gritando ela mesma que fosse bem-vinda antes que Usagi o pudesse fazer.

— Aí está você! — disse Minako, acompanhada por... Não, arrastando Yaten pelo braço. E continuou: — A gente tá querendo reservar um hotel com piscina natural. O Seiya te disse, né?

  Naru lançou aos dois olhos esbugalhados, enquanto Usagi mordia seu lábio inferior. Não havia como mentir em uma situação daquelas.

— Nós terminamos, Minako.

  E tudo o que ouviu em resposta foi apenas um “oh”, enquanto Minako tomava um banco próximo a Naru. Yaten foi quem mais demonstrou surpresa.

— Ele não me disse nada... — disse, mantendo-se de pé. — Estávamos falando do hotel anteontem quando saímos e nem falei com ele desde então.

— Então, ninguém falou com o Seiya? — foi Naru quem o interrompeu. Em seguida, olhou direto para Usagi. — Oh não, você precisa ligar para ele! Na verdade, eu já tentei e ele não atendeu. Por isso queria conversar contigo. Usagi, ele tava horrível ontem quando o vi... Aí eu fiquei bem preocupada. E se...

— Não diga algo assim! — gritou Minako.

— Vou tentar ligar... — Yaten disse enquanto pegava seu telefone do bolso. Parecia o único que não tinha se desesperado.

  Um silêncio se seguiu até que ele desligou a chamada, balançando a cabeça. Minako fez o mesmo com o próprio celular, mas o resultado também não se alterara. Naru também tentara mais uma vez ao mesmo tempo e foi a última a olhar para Usagi.

— Ele está bem, tenho certeza — disse com a voz trêmula. Ele estava, né? Ele estava bem ontem, na medida do possível. Por que não estaria agora?

  Desistindo de ficar só nas cogitações, Usagi pegou o celular da parte de dentro do balcão e mostrou a todos que estava ligando. Vários toques se sucederam, um parecendo mais distante do outro, apesar de provavelmente ser apenas impressão, ou pelo aumento de cenas trágicas que passavam na frente de seus olhos.

Oi.

  Ao ouvi-lo, Usagi soltou o ar. Seu maxilar até parecia dolorido da tensão dos últimos minutos.

Se não quer me dizer nada, eu vou-

— Não! Espere. — Respirou fundo, suas mãos ainda estavam tremendo, mas começou a ouvir de novo os próprios pensamentos. — Como você está?

Usagi, você não tem qualquer intenção de voltarmos, né?

  Ela balançou a cabeça inconscientemente. Por sorte, ele não podia ver como ela o tinha feito com ênfase.

Estou desligando. — E a ligação ficou muda, sem ter dado tempo de ela nem tentar protestar.

— Eu tentei — falou em seguida, enquanto fechava o visor. Não podia chorar, ela não tinha aquele direito após ter feito tanto contra aquela pessoa que a amava. — Pelo menos, ele está bem.

  Minako se levantou e caminhou para trás do balcão, puxando a amiga para longe de todos.

— Por que terminou assim com ele? Aquilo ainda de não conseguirem ir pra cama? — perguntou quando estavam a uma distância.

  Usagi começou a confirmar com a cabeça e então a balançou com força.

— Há outra pessoa.

— O QUÊ? — gritou Minako. — Como assim outro!?

— Ei! — Usagi fez sinal que baixasse a voz.

— Não que eu realmente esteja surpresa. Você vinha meio estranha. — Sorriu e balançou os cabelos com a mão. — E sabe como tenho um dom com isso. — Piscou um olho. — Pode deixar que seu segredo morre comigo.

  Usagi assentiu, mesmo sabendo que não só já era tarde demais após o grito de antes, como também que Minako contaria tudo a Yaten assim que pudesse. Era maior que ela. Ainda assim, sabia que estava sendo sincera naquele momento.

— Você, menina sentada aí que conhece o Seiya. — Minako já estava de volta ao lado de fora do balcão.

— É Naru Osaka. — disse Naru, com seus modos de sempre.

— Isso, vamos comigo ver o Seiya! — E Minako apontou para a saída.

— O Seiya?

— Eu não quero ir sozinha à casa dum homem, e é meio estranho a Usagi ir. Ainda mais que ele nem tá querendo falar com ela. Vamos como amigas do Seiya, entendeu? — Minako piscou para Usagi e começou a arrastar Yaten junto de Naru para fora.

  Usagi pôde apenas acompanhar com os olhos os três saírem. Era para ser uma cena engraçada, mas ela não conseguia rir. A voz de Seiya ao telefone a havia feito se lembrar de como se sentira péssima no momento em que desistira de evitá-lo e fora ver Mamoru na noite anterior. Não sabia qual era o plano de Minako, apesar de ela parecer ter um, mas rezava que desse certo. No momento, não havia nada que ela mesma pudesse fazer sinceramente, pois Seiya não a queria como amiga.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Usagi serviu mais um copo de cerveja a um dos clientes. Eram cinco homens de idade e um mais jovem, de mais de trinta anos, sentados à mesa e bebendo sem parar. Sem se interessar pela conversa, voltou para atrás do balcão às pressas para de novo conferir a tela do celular.

  Nenhuma nova mensagem ou chamada.

  Fazia já mais de duas horas desde que Minako partira e o máximo que lhe mandara era a confirmação de que acharam a casa de Seiya.

  No silência até as pessoas começarem a chegar, Usagi ficara só pensando em quanta coisa vinha acontecendo naquele final de semana. Descobrir sobre Ami, ou ao menos desconfiar que ela fosse a amante de Masato, passar aquela manhã na casa de Mamoru quase como um casal de verdade, ter um encontro com Seiya e terminar logo depois, vagar pela cidade e acabar justo no apartamento de Mamoru, onde descobriria que algum dia ele se declarara para ela ainda que a própria não fizesse ideia de como ou quando e onde ele lhe proporia em namoro — aliás, quando esta tempestade passasse, ela precisava conversar de novo com Naru sobre isso. Agora, porém, não parava de pensar em Seiya. Não havia considerado que o ex pudesse fazer algo errado, nem tivera espaço na cabeça para pensar em como ele ficaria, afinal, ela mesma não estivera muito bem.

  Foram acontecimentos demais para um só final de semana, e tudo a esmagava neste primeiro momento de calmaria. Calmaria, se pudesse considerar que Minako já estava resolvendo o problema. Usagi ao menos confiava na habilidade da amiga com corações partidos; havia presenciado seus milagres já.

— O que houve? — Makoto estava a seu lado, como se tivesse surgido por mágica, com os olhos quase dentro os seus.

  Usagi gritou de susto.

— Ontem você avisou que não poderia vir quando estávamos já até abertos, num dia em que Rei também poderia cobrir. Aconteceu algo grave, né?

  Assentiu e respondeu sem enrolar:

— Terminei com meu namorado. — E sorriu ao perceber como soava tolo. Noutro dia, Makoto tivera que suportar assistir à pessoa de quem gostava com outra. E Reika não era qualquer outra, pra piorar. — Bem, eu estava me sentindo mal.

— Eu devia ter apostado com o Motoki. — Makoto sorriu e deu-lhe um tapa nas costas. Um tapa dolorido como todos os dela eram, apesar de que não intencionalmente.

  A dor a acordara para um dos senhores da mesa cheia, quem pedia mais uma cerveja. Era hora de Usagi voltar ao trabalho. Pouco depois, seu celular vibrou por um momento e o visor externo acendeu dizendo haver uma nova mensagem.

Nós estamos bebendo com ele em um bar japonês aqui perto. Mais uns drinques, e a sua amiga vai se dar bem. Tenho certeza! Você não se importa né?” e encerrou com uma caveira, um sorriso, uma piscada e um coração. Usagi soltou uma risada que atraiu a atenção de alguns. E, sem se importar, respondeu: “Acho que o noivo dela se importa, sim,” ao que a amiga prontamente disse: “droga, meus sensores devem estar com problema. Suspendo o álcool dela?”. Usagi pensou por um momento, observando um rapaz beber com uma moça e deu de ombros: “A Naru é de maior e com muito mais juízo que nós duas. Só garanta que ela chegue inteira em casa depois.” Minako logo concordou.

  Enfim, Usagi tomou uma decisão. Aproveitando o celular na mão, montou uma mensagem que soasse o mais despreocupada possível: “Depois de duas noites, ganho a terceira, né?” Após adicionar símbolos de sorriso aberto e alguns corações, ela a enviou. Mamoru não custara a responder: “Ainda vou ser demitido por sua causa, cabeça de vento. Deixarei a porta aberta”.

  Olhou para o relógio, mas ainda eram nove horas. Faltava uma eternidade. Ainda assim, seu corpo estava tão mais leve de repente, e o mundo parecia menos acelerado.

Continuará...

Anita, 03/04/2012

 

Próximo Capítulo

 

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