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[Sailor Moon] Cada Vez que nos Encontramos, Cada Vez que nos Separamos - Capítulo 5, escrita por Anita

Autora: Anita
Fandom: Sailor Moon
Gênero: Comédia romântica, Realidade alternativa
Classificação: 14 anos
Status: em andamento
Resumo: Usagi/Mamoru. Usagi está na faculdade e acaba de terminar com Seiya, seu primeiro namorado de toda a vida, quando decide aceitar um emprego de meio período no bar de seu amor de adolescência, Motoki. Entre os desafios dessa aventura, o passado decide reaparecer na sua frente, especialmente quando o homem que mais a atazanava retorna a Tóquio, Mamoru. Ela percebe então um conflito entre o que sente por Seiya e por Mamoru. A história também vai explorar os romances de cada uma das senshi! 

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Olho Azul 20 Anos Apresenta:

Cada Vez que nos Encontramos,
Cada Vez que nos Separamos


Capítulo 5 — O Caso

  Mamoru ainda sentia que não caminhava reto ainda quando chegou ao prédio onde se encontrava o Drunk Crown. Fazia já vários dias que queria ir lá, ao menos rever Usagi após aquela estranha noite de terça-feira, mas não o conseguira e tinha certeza de que era por ser um covarde.

  De toda forma, muito vinha acontecendo naquela semana e, naquele mesmo dia, ele havia estado por triz de escrever sua carta de demissão, rascunhada anteriormente em sua estação na empresa. Apenas não o fizera porque um assunto urgente surgira e precisava ser resolvido por ele. Melhor colocando, ninguém mais iria se mexer para resolver se ele não o fizesse, mas todos o culpariam na hora de falar para o superior. Fora algo assim na quinta-feira quando Mamoru nem sequer havia notado o aviso de cancelamento de entrega de produtos para uma festa de casamento, revendidos por eles à empresa que organizava a cerimônia. Ele não era o encarregado daquela venda e, mesmo assim, alguém mudara no quadro de caneta o nome de quem estava cuidando do assunto para fazer parecer que era. Custara muito até o mal-entendido ser desfeito, que o real encarregado havia tirado folga no dia e pedira por telefone que Mamoru ficasse cuidando da tarefa. Nunca houvera tal pedido, e se houvesse, não seria a ele e sim a alguma pessoa mais próxima que ao menos tivesse algum conhecimento de tudo.

  Naquele dia, novamente, houvera a necessidade de alguém fazer visita in loco, e essa pessoa não trabalhava aos sábados. Normalmente, nesse caso, o superior designaria alguém se já não houvesse um substituto, tendo em vista que em sábado algum o responsável trabalhava. Bem, o substituto ajustado era Mamoru, ainda que ele nem soubesse disso, tampouco o havia concordado. Mesmo assim, tivera que ir ao local com um estagiário apenas e acordar tudo apesar de não haver tido tempo de ler todo o relatório sobre o cliente no caminho. Feliz que tudo houvesse dado certo, o estagiário lembrou que ainda podiam ir à reunião em um bar, combinada dias antes para aquele sábado a fim de comemorar o aniversário de umas moças do escritório, beber e comemorar com todos. Uma reunião a qual Mamoru não havia sido convidado, apesar de até o homem que não trabalhava sábados ter estado presente.

  Mamoru abriu a porta do Drunk Crown, funcionários gritando com entusiasmo que ele era bem-vindo. Uma daquelas vozes apenas fez seu coração pular e o moço considerou dar meia-volta. Não sabia ainda como conversar com Usagi após tê-la feito trair o namorado, nem havia conseguido entrar em paz com ele próprio sobre o que realmente acontecera. Ainda assim... aquele era um dia em que precisava se permitir, apenas aquele dia ele precisava estar em um local familiar.

  Sentou-se em sua cadeira costumeira, tão isolada que ninguém parecia sequer notar que ainda havia mais uma antes do final do balcão do bar. Àquela hora, ainda existiam dois grupos de trabalhadores animados nas mesas, junto a um que devia ser de universitários. Motoki veio lhe cumprimentar, já com a toalhinha úmida.

— E aí, cara! Como já tá tarde, achava que nem viria hoje. Vai querer beber o quê?

— O de sempre, acho. Traga qualquer coisa pra eu comer também.

— O de sempre e qualquer coisa, né? — Motoki sorriu afetado. — Agradeço como você é específico.

— Vamos, não complique minha cabeça... — Deitou-se sobre o braço por um instante e, em seguida, pôs-se reto como se houvesse tomado um choque. Motoki acabara de passar os pedidos — da forma correta — a uma funcionária. Alguém que não era Usagi, era uma moça alta que parecia ser a de confiança.

  Assim que confirmou os pedidos de Mamoru, a moça alta sumiu para a cozinha. Ele pôs os dedos na testa enquanto apoiava o braço pelo cotovelo no balcão. Estava cansado e com a cabeça um pouco tonta devido ao álcool de mais cedo. Antes não houvesse ido à reunião. Qual era o ponto de aparecer em um lugar para o qual não havia sido convidado? Parecera uma boa ideia, mas ele não via nada em comum com aquelas pessoas, tinha acabado só ouvindo o monólogo de uma das mulheres mais jovens do escritório, que provavelmente estava tentando dar em cima dele.

  Pouco depois, sua bebida surgiu em cima de um porta-copo no balcão, com dois cabos de canela no meio do copo.

— Um Khalúa Latte — disse alguém.

  Mamoru sentiu a corrente elétrica pelo corpo novamente e olhou direto nos olhos de Usagi.

— O frango no espeto virá em breve — ela complementou.

  Impossível ela ter pensado que aquele olhar tinha sido para cobrar um prato! Aquela era a primeira vez que se viam... vestidos. Mas as palavras não saíram de sua boca, se era que lá haviam chegado, e Mamoru apenas concordou, observando-a sair de sua frente para conversar com um senhor bem mais velho. Este agora parecia lhe haver pagado alguma bebida e falava bem alto para que brindassem e depois fossem ao karaokê. Mamoru a viu pegar no microfone e teve uma súbita visão de ambos em um motel, seminus, escolhendo uma música no quarto para que cantassem, mas apenas uma parte.

— Argh. — Balançou seu cabelo, ainda um pouco duro pelo gel passado de manhã. Tentou ajustar sem usar espelho e, nesse momento, seu pedido foi trazido pela moça alta.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  A porta se abriu instantes depois do dueto de Usagi com o cliente haver terminado. Uma jovem com roupas discretas entrou, olhando ao redor. Era aquele momento em que você não conseguia parar de encarar alguém, pois sentia que aquela pessoa era familiar. Cabelos ruivos cacheados abaixo do ombro, olhos enormes e uma postura de menina rica, mas discreta, diferente da aura emanada por pessoas como Rei.

— Naru! Não acredito! — Usagi gritou por cima do cumprimento de boas-vindas de Motoki e dos três outros funcionários.

  A jovem olhou em sua direção assustada como se houvessem acabado de lhe pôr os holofotes e a deixado cega por um instante. Logo, seus olhos brilharam mostrando reconhecer a pessoa que a chamaram e ela pareceu andar até Usagi dando pulos.

— Usagi Tsukino, não é? — perguntou assim que ficou próxima o bastante.

— Sim, exatamente! Nossa, que coincidência você vir a este bar! Há quantos anos não nos vemos?

— Uns dois acho... Desde que nos formamos, talvez.

— Pois é, algo assim!

— É... É seu... namorado? — Naru fez um movimento ligeiro com a cabeça para o cliente de mais cedo.

  Usagi balançou todo o corpo em negativa.

— É apenas um cliente, Naru!

— Cl-cliente? — A pequena boca ficou em forma de o minúsculo.

— É, do bar. É que tô fazendo um meio-período aqui, sabe?

  Naru suspirou.

— Ah, você trabalha aqui no bar!

  Usagi levantou a sobrancelha, mas apenas concordou. Outro cliente a estava chamando, e sábado era péssimo dia para bate-papos, apesar de Rei não estar por perto para recriminá-la. Pediu licença e foi atender o novo pedido.

  Quando percebeu, Naru conversava animada com Motoki, sentada em uma mesa afastada. Usagi correu até lá antes que surgisse mais trabalho.

— ...tentou ligar? — Motoki perguntava.

— Mandei duas mensagens. Como ele tá trabalhando, não quero atrapalhá-lo.

— Sendo sábado, ele já estaria aqui... — Motoki coçou o lado do nariz. — Bem, fique esperando à vontade. Apenas cuidado para não perder o trem!

— Aconteceu alguma coisa? — Usagi sentou-se ao lado da amiga, mas Motoki já havia saído para falar com Mamoru, ainda quieto em seu banco. Não, não podia pensar nele agora.

— Meu namorado, ele marcou comigo e nada até agora. Eu estava esperando na estação, mas cansei e decidi vir logo pra cá. Acha que devo ligar? Eu não queria ser chata...

— Por que não pede algo? — Usagi sorriu. — Algo bem caro pra ele pagar depois?

  Naru sorriu de volta, aceitando o plano. Ela olhou o cardápio deixado lá por Motoki e pediu.

— Ao menos, fica como desculpa para você vir falar comigo, né?

— Ah, é mesmo! — disse Usagi, correndo para preparar tudo, feliz por ter um destino bem longe de Mamoru naquela noite.

  E novamente se pegava pensando nele. Havia encontrado Seiya na tarde anterior antes de ir trabalhar. Ele estava ansioso para seu trabalho começar na semana seguinte e falava de vários planos. Queria muito também que ela fosse conhecer a nova casa assim que ficasse ajeitada, o que devia acontecer logo. Aproveitara a menção para insinuar que ela dormisse lá, dado era bem longe do centro. Dormir não queria mais fecharem os olhos e sonharem sob o mesmo teto. Ao pensar nisso, Usagi não conseguiu se controlar e confessou que talvez precisassem de um tempo, mas Seiya interpretara tudo errado, que ela só necessitava de se readaptar à relação que teriam dali em diante. E Usagi não pôde responder que ela também achava isso de início, mas que agora pensava que o problema não era ela.

  Não que ela quisesse Mamoru. Apenas percebera na noite passada com o ele que Seiya não despertava nela as emoções que deveria apenas por estarem juntos. Enquanto com Mamoru, ela sentira o corpo quase explodir apesar de ela estar com um homem que nem amava.

— Ah, Masato! — A voz de Motoki veio bem em seu ouvido e quase a fez gritar de susto, por estar distraída limpando o balcão.

  Levantou a cabeça e sorriu para o homem que ainda passava pela porta. Motoki apontou sem disfarçar muito para a mesa de Naru.

— Ela tá brava, hein! — Estalou a língua. — Não se faz uma dama esperar, muito menos de pé.

  Naru tomava o suco que pedira, mas não tocara nos bolinhos de polvo que Usagi tinha servido. Talvez por sentir que era observada, virou o rosto na direção de Motoki e seu olhar tristonho se iluminou instantaneamente. Masato se sentou à mesa e baixou a cabeça.

— Espera, a Naru é a noiva do Masato? — Usagi perguntou ao Motoki.

— Pois é. Vocês se conhecem, né? Eu já tinha até esquecido de onde eu a conhecia. Lembro até hoje quando ele a trouxe pela primeira vez e ficamos os dois nos encarando até Masato dizer meu nome e ela me contar de você e tudo.

— Ela era minha melhor amiga!

— Aliás, Mamoru, você também a conhece, não?

  Usagi só agora percebia que estava de pé quase em frente a Mamoru. Notou-o levantar a cabeça do prato vazio de frango e assentir uma vez.

— Ela cresceu pra se tornar uma mulher linda — continuava Motoki.

— Assim parece que a menina é sua irmã... — Makoto passou falando, arrancando risos.

— Bem, é a ex-melhor amiga da minha irmã.

— ... de consideração — completou Makoto, que retirava o prato da frente de Mamoru.

  Um cliente chegou, e Usagi aproveitou-se para atendê-lo em vez de ficar tão perto do agora amante. Ex-amante? Uma noite amante?

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Usagi sentiu uma batida no ombro enquanto terminava de lavar mais copos. Era um dos sinais de Motoki de que estava na hora de ela recolher as coisas para ir embora, cinco horas. O primeiro trem já estaria saindo quando chegasse à estação e caso se atrasasse teria que esperar meia hora pelo próximo.

  Olhou na direção de Mamoru tentando ser discreta. Ele também parecia estar se arrumando para sair, pois acabara de receber a conta e já estava com a carteira tirada de seu bolso traseiro. E que traseiro... Droga, não era hora de pensar algo assim. Nunca seria hora enquanto ela ainda tivesse um namorado. Certo, ela podia pensar sobre o traseiro de outros homens, Seiya sequer ligava para essas coisas, mas não sobre o cara com quem ela o traíra, nem precisava consultá-lo para saber disso.

— Usagi, o copo já tá bem limpo. — Makoto tinha vestido um casaco fino, típico da primavera, e a olhava na expectativa.

  Não estava encarando Mamoru, né? Só havia se desligado, só isso. Mas não lembrava mais em que posição estava até ser chamada para conferir que não fizera nada tão embaraçoso. Pegou um pano e o passou rapidamente no copo para não fazer Makoto esperar mais, não se importava tanto de perder o primeiro trem, mas não podia fazer com que a outra também o perdesse, como já acontecera antes. Era uma meia hora preciosa de sono, Usagi sabia como fazia falta após uma noite de sábado.

  Mas o copo se estilhaçou ao bater na quina da pia quando ela se preparava para guardá-lo. Usagi pulou para trás, tentando não gritar para não assustar os sonolentos clientes ainda no estabelecimento.

— Está tudo bem? — perguntou Motoki, pegando em seu braço. Em algumas das vezes anteriores, Usagi se conseguira um rio de sangue apesar não ter sido um corte profundo nem nada.

— Tá sim... — respondeu desanimada. Três meses ali e ainda quebrava copos daquela forma. Então, correu até os objetos de sempre para poder recolher tudo. Odiava quando quebravam daquela forma, porque os cacos tendiam a voar para lugares imprevisíveis. — Makoto, acho melhor você ir pra casa.

— Ah, tem certeza?

— Não perca o trem por uma bobeira destas! Suas aulas também voltam na segunda, certo? Aproveite o último dia livre.

  A moça lhe sorriu e se despediu de todos.

— Não prefere que eu recolha? — ofereceu Motoki, pondo alguns cacos no monte já formado.

— Não, eu que quebrei. Vá fechar todas as contas.

  Voltou aos cacos. No início, junto com o pânico de haver se ferido, Usagi sentia-se envergonhada de fazê-lo em um local tão público. Agora só se sentia mal. Suspirou pensando se Mamoru ainda a estava olhando, pois ele com certeza ainda estava na loja quando o copo quebrara. Olhou para cima e lá estava ele, sentado em seu lugar, encarando-a. Droga, qualquer cavalheiro ao menos perguntaria se ela estava bem. Muitos já teriam vindo ajudá-la como Motoki fizera. Ficar só olhando era muito pior que ignorar, pois a deixava nervosa de cometer mais erros.

  Ao terminar, passou um pano úmido para garantir que não havia mais nada no chão e mesmo assim sabia que encontrariam cacos pelo bar inteiro na próxima semana, mesmo onde não era para ser fisicamente possível terem chegado. Motoki deveria mudar para copos de plástico.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  O ar da noite bateu em seu rosto. Por ainda ser cinco da manhã em final de inverno, o sol não dava sinais de raiar, mas não estava mais tão frio como quando começara no bar e as cerejeiras na rua começavam a desabrochar naquele início de abril. Aquela prometia ser uma primavera mais conturbada que a anterior, quando começara seu primeiro namoro da vida, afinal, a estação mal tinha começado, e Usagi já havia dormido com dois homens, sendo que namorava apenas um. E sequer se sentia mal por ele, apenas consigo mesma por haver feito algo tão errado e não se arrepender apropriadamente. Até naquelas questões ela tinha que ser atrapalhada para de repente fazer sexo com outro? Aquilo não era quebrar um copo, tentou se dizer.

— Bom trabalho! — A voz a despertou do sermão mental que tentava se aplicar. Mamoru estava bem a seu lado, com a mão apontando para um estabelecimento vinte e quatro horas. — Não quer comer nada, tomar um café?

— Acha que já não tomei coisas demais? — Passou a mão jogando os cabelos para trás. — Só quero deitar numa cama agora, Mamoru. — E não discutir a relação justo com o cara com quem transei terça passada, completou mentalmente.

— Que tal a minha?

  Usagi o olhou como se acabasse de ver um alienígena. Ao menos, Mamoru tinha que estar pronto para rir alto e dizer não acreditar que ela cairia naquela. Bem, ele estava sorrindo, mas não parecia nem um pouco haver pregado uma peça.

  “Nem morta”, era o que ela deveria dizer. Era o que constava de resposta padrão para uma cantada daquele nível em qualquer manual. Mas será que depois de já ter conseguido o que queria, um convite daqueles era também chamado de cantada? Por fim, ela aceitou entrar com ele em um táxi até seu apartamento.

  No caminho, cada um tinha ficado de um lado do veículo, nem se olharam ou se deram a mão. Pareciam até que trabalhavam juntos ou menos que isso, desconhecidos dividindo o carro ou algo assim. Subiram o elevador seguindo o mesmo comportamento e entraram pela porta com bastante calma. Usagi não queria ser a primeira a entregar o quanto seu estômago formigava em estar no mesmo ambiente com ele e apenas ele. Tirou o sapato da forma mais natural possível e pôs a bolsa na bancada que separava a cozinha da sala.

  Inspirou fundo e disse:

— Preciso tomar um banho, você pode me emprestar uma toalha?

— Não, você vai fugir como na quarta passada.

— Tem janela lá?

  Ele balançou a cabeça confuso.

— Eu garanto que ainda não sei me teletransportar. A toalha.

  Mamoru sorriu resignado e caminhou até onde devia ser o banheiro, chamando-a que o seguisse. Lá, entregou-lhe a toalha, mas fechou a porta sem sair.

— Ainda prefiro não tirar os olhos de você desta vez, cabecinha de vento. — Agora ele exibia um largo sorriso irônico, enquanto se sentava no pequeno banco no meio do cômodo.

— Nunca que vou tirar a roupa na sua frente. — Usagi se virou para a porta, sentindo o coração chocar-se contra seu peito.

  Mas Mamoru já a enlaçava, pondo suas duas mãos na parte superior da barriga. Um vento quente veio em seu pescoço:

— E se for assim de costas? — Beijou o local entre seu ombro e seu pescoço, fazendo movimentos circulares com os lábios. Enquanto isso, abriu seu casaco, desabotoou e fez cair no chão a bermuda curta que Usagi usava sobre uma meia-calça térmica.

  Ela sentiu o corpo derreter com aqueles toques. Um lado seu queria ser teimosa e não ceder, e o outro argumentava com razão: se era isto o que os dois queriam, o que ganharia bancando a difícil. Estava claro desde que entrara no táxi que não escaparia de uma nova noite, ou manhã, com Mamoru.

  Por que ali ela conseguia se sentir tão bem enquanto temia a cada segundo que Seiya simplesmente citasse o tópico? Seria a diversão de fazer algo errado? O fato de Mamoru ser um partido melhor que o namorado? Não, nada disso fazia a mente de Usagi reconhecer como explicação verdadeira.

  Aliás, a segunda hipótese era absurda, concluiu, enquanto se virava para enfim beijá-lo na boca. Mamoru era sim muito mais atraente que Seiya, mas não lhe passava confiança. Aqueles encontros eram repentinos demais, era como se fossem virar vapor a qualquer momento, pois Mamoru não era um homem para ela. Não conseguia vê-lo caminhando com ela até um altar, falando em ter filhos, aceitando a organização que ela desse aos móveis da casa. Já Seiya, apesar de ainda parecer estar em um nível acima da própria Usagi, sempre fora um grande amigo que a ouvira reclamar dos professores e até os xingou junto com ela e eles já conversaram sim sobre filhos, nada muito a sério, pois a sombra de que o intercâmbio logo acabaria não permitira, mas nada impedia que o fizessem de agora em diante. Não que Usagi os quisesse no momento. Desde mais nova sequer considerara casar-se antes dos trinta, mas, no ritmo que sua relação com Seiya vinha, Minako mesma já sugerira após descobrir sobre a primeira noite do casal que logo eles acabariam decidindo ao menos morarem juntos.

  Então, notou que Mamoru aproveitara sua distração e já despira a ambos por completo, agora tentava fazer que ela se sentasse no pequeno banco.

— O que tá pretendendo? — ela perguntou e se arrependeu em seguida, já que falar tornara seu reflexo mais lendo ao jato de água que veio do chuveirinho bem no meio de seu rosto.

  Mamoru gargalhava, enquanto ela tentava ter certeza do que acontecera.

— Ora, seu! — gritou, levantando-se para tirar-lhe a arma, mas no meio do caminho deu-se conta da própria nudez e acabou por levar um novo ataque do chuveiro. Agora, o jato era incessante no seu rosto. — Que espécie de banho romântico é este?

— Romântico? Pensei que era só um banho a dois — respondeu ainda com um sorriso arteiro.

  Usagi sentou-se no banco, tentando esconder a nudez com os braços. 

— Por que de repente ficou envergonhada? — Ele parou de sorrir e parecia inclinar a cabeça quase como um cachorro que não compreendera a ordem.

— Não foi de repente.

  Mamoru se agachou na sua frente e pôs as mãos em seu rosto levantando-o alguns graus. Quando ela o fitou nos olhos, esperando que lhe dissesse algo, o homem lhe sorriu e lhe beijou os lábios com força. E ele tinha razão: aquela era a melhor forma de perder a vergonha. Usagi o abraçou, puxando mais sua cabeça contra si, mas o chuveirinho solto no chão a fez gritar de susto quando o jato de água lhe bateu nas pernas.

— É melhor você tomar banho logo — disse Mamoru, ajoelhando-se para pegar a borracha.

  Ele pôs a saída de água em seu ombro, deixando cair lentamente por seu corpo, enquanto a olhava atentamente.

— Eu prefiro me dar banho... — reclamou Usagi, não podendo esconder o rubor da face.

  E recebeu a borracha.

— Tem razão, mas me deixa esfregar suas costas. — Já tinha uma esponja em mãos quando o disse.

  Usagi sorriu, percebendo que ir para o banheiro antes de tudo talvez houvesse sido uma péssima ideia. Bem, não tão ruim agora que estava novamente de costas para ele moço e sentia seu calor através da esponja nas suas costas. Fechou os olhos, tentando se lembrar de como ele a abraçara no outro dia, de como suas peles se roçaram. Tudo o que causara estranheza quando se tratara de Seiya, deixara-a encantada na noite com Mamoru.

  Era surreal como naquele momento ela nem conseguia imaginar que houvesse como impedir que o caso se aprofundasse, que podia simplesmente vestir-se e ir para casa. Já era dia, os trens estavam saindo das estações.

— Que bom que aceitou vir — disse Mamoru bem próximo de seu ouvido. — Eu realmente estava precisando estar com alguém.

— Agora sou travesseiro pra chorar? — Ela olhou para trás rindo, apesar de seu estômago ter se revirado pelo peso das palavras ouvidas.

— Posso me deitar em você e chorar?

— Tá falando sério? Pior cantada. — Agora seu riso era de nervoso misturado a ansiedade. Já ouvira vários problemas e até ajudara apenas servindo como ouvinte, mas ser a confidente de alguém como Mamoru parecia outro nível. Talvez por ele ser um homem tão fechado, ganhar um relato em primeira mão de seus problemas seria o maior dos prêmios. Uma pena Usagi não ter qualquer confiança em poder ser mais que um ouvido já que nem experiência sexual ela tinha para lhe dar uma noite prazerosa — ou manhã.

— Não realmente sério. — Agora era a vez de ele sorrir antes de lhe dar um beijo curto e suave. — Mas eu precisava de verdade estar com alguém hoje. — Então, ele a abraçou forte, pressionando o tórax contra as costas molhadas de Usagi a ponto de ela conseguir até sentir seus mamilos.

  Fechou os olhos novamente e inspirou fundo até poder se virar no banco, ficar de frente para ele e lhe dar um abraço tão profundo quanto o recebido, enquanto lhe segurava os cabelos úmidos e lhe beijava o pescoço.

— Minha vez de te ensaboar — disse ela, puxando-o para ainda mais junto de si até sentir que ele devolvia o gesto.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Sentiu ser balançada de um lado para o outro. Primeiro lentamente como se a estivessem ninando ainda mais, não que isso fosse preciso, seu corpo parecia pesar toneladas naquele colchão confortável, e ela se sentia como que envolta em pura seda. Um novo balanço, um pouco mais forte. Aquilo começa a incomodá-la. E de novo.

  Aliás, por que estava em um lugar tão cheiroso? Ah, era verdade, ela havia ido para a casa do Mamoru. E novamente traíra Seiya. Naquele dia, os dois iriam se encontrar mais tarde, e Seiya a convenceria a não ir para o bar, já o havia ameaçado fazer na sexta-feira. Usagi não queria deixar de trabalhar, gostava do dinheiro que vinha ganhando e de conversar com as pessoas, conhecer histórias novas, mas agora ela precisava ao menos agradar o namorado que na véspera de começar seu novo emprego faria a viagem até ali para vê-la por poucas horas, quando no momento ela simplesmente devia estar nua na cama de outro.

— Usagi, não vai acordar? — Mamoru falou impaciente, agora a empurrando com força.

— Isso doeu! — reclamou, sem conseguir abrir os olhos.

  Aproveitou o momento para conferir por baixo do edredom em que estado fora dormir, estava tão exausta quando se deitara que não se surpreenderia que nada houvesse acontecido e apenas houvesse perdido a consciência naquela cama. Mas estava semivestida, com a calcinha e a blusa fina de alça que usava por cima do sutiã, não que o estivesse usando no momento. Sem contar que ela se lembrava perfeitamente bem de cada toque Mamoru dera em seu corpo, só de pensar o seu corpo já até reagia, tremendo um pouco.

— Usagi, vamos comer... — insistiu ele, agora parecendo se sentar a seu lado. — Aliás, o almoço vai esfriar se ficar de moleza por muito tempo.

— Almoço? — perguntou, agora se virando para ele.

  Mamoru vestia uma camiseta de manga curta branca com estampas em cinza e preto e não havia qualquer dica em seu rosto de como Usagi devia tratá-lo agora que o dia realmente havia raiado. Fingiam que nada acontecera? Entravam em modo de amantes? Recusava a refeição e sairia correndo o mais rápido possível? Mas ela cheirava tão bem... Sua barriga roncou, também sentindo o aroma que entrava pela porta do quarto.

  Ele lhe sorriu, obviamente ouvira o protesto.

— Levanta logo e vamos comer; já são quase quatro da tarde.

— Quatro... — Como ordenada, embora não tivesse porque estivesse mesmo cumprindo a ordem, ela se sentou ainda bamba e esfregando o olho. Então, como se sentisse um choque, seu corpo se retesou. — Quatro da tarde!?

— Da manhã que não, né? Olha o sol que tá fazendo! — Ele caminhou e abriu a cortina mais escura que vinha bloqueando boa parte da luz.

  Usagi olhou para a luz por um momento e saiu correndo pela casa, em busca de sua bolsa. Abriu-a correndo, mas não achava o celular. Começou a jogar o conteúdo no balcão, vários cupons fiscais, lenços recebidos na rua, cartões que clientes do bar lhe entregaram... Lá estava! Abriu o aparelho e foi direto à tela de mensagem, digitando rapidamente que havia acabado de acordar e que teriam que desmarcar, já que não sairia de casa nem tão cedo. Suspirou ao notar que ainda faltavam quinze minutos para as quatro.

— A vista está boa, mas por que não comemos? — Mamoru falava de suas costas e quando se virou para ele notou que seus olhos estavam logo abaixo.

  Usagi tentou pôr a mão para cobrir a “vista”, sentindo o rosto já queimar.

— Não sabia que era um pervertido qualquer — tentou dizer, mas sua voz estava trêmula. Precisava achar alguma roupa rapidamente.

— Bem, está bem na minha frente. Se eu estivesse nu na sua frente, você também estaria pensando algo parecido.

— Além de pervertido, é um grande convencido mesmo! — Precisava não pensar em quantas vezes ela de fato já não o fizera. — Agora, onde você pôs minha roupa?

— Vamos comer, eu já vi tudo, não é? Tô realmente com fome.

— Se alguém não tivesse me feito passar vergonha neste exato momento...

— Desculpa, é que às vezes falo sem pensar.

— Nisso não acredito. Você é justamente o oposto desse tipo.

  Ele se aproximou e agora a abraçava, dando-lhe um beijo suave. No momento em que ela começou a sentir sua língua lhe bater nos dentes, Usagi deu um passo para trás, batendo com as costas no balcão.

— Algum problema?

— Eu preciso me vestir. E ir embora.

  Seu celular vibrou na sua mão. Abriu parta ler uma nova mensagem de Seiya, insistindo em manter o encontro, pois já estava acostumado com seus atrasos. Ele a esperaria.

— Ah... — deixou escapar o som pelos lábios e uma sensação de desespero a invadiu.

  Lá estava seu namorado sendo altamente compreensivo enquanto ela beijava outro. E aquele peso em sua consciência não a fazia nem mesmo considerar nunca mais ver Mamoru, pois sabia que provavelmente aceitaria seu próximo convite, se houvesse.

  Olhou para o homem à sua frente.

— Preciso me vestir... — Ficou sem graça de explicar que precisava se encontrar com Seiya, quase como se Mamoru fosse o traído naquela história.

— Ao menos, almoce antes de ir. Eu cozinhei o bastante para dois.

  Pela primeira vez, ela voltou os olhos para a mesa posta logo atrás de Mamoru. Seu estômago estava tão vazio que gritou no mesmo momento. Voltou ao seu celular e agradeceu a paciência de Seiya, que logo estaria onde haviam combinado. Depois vestiu-se e sentou-se para almoçar com Mamoru.

— Não acredito ainda que ele não ficou bravo com um atraso desses, — comentou Mamoru assim que ela terminou de se ajustar na cadeira.

  Então, ele sabia sobre o que eram as mensagens no celular, devia ter conseguido ler tudo.

— Eu sempre me atraso, ele já deve sair de casa contando com isso.

— Em vez de “sempre se atrasar”, você devia tentar ser pontual ainda que acabe se atrasando.

— Ah, Mamoru, se nem a pessoa envolvida liga! Vá cuidar de seus próprios problemas. — Bufou, apontando-lhe o hashi.

— É apenas uma questão de cuidar da própria imagem. Faz parte tanto quanto não comer demais, não apontar para os outros... — Nos lábios estava aquele sorriso mesquinho de sempre.

  Usagi tentou imitar o tom em sua resposta:

— Você também devia deixar de reclamar, cuidar da sua própria vida... — E apontou o hashi para ele novamente com expressão de vitória.

  Mamoru gargalhou levemente.

— Por que não está bravo?

— Acho que é a felicidade de enfim conseguir comer.

— E eu que sou a gulosa.

— Aliás, não deveria estar com pressa já que o pobre homem tá te esperando?

— Escuta aqui, Mamoru. Se que quiser alguma outra vez chorar no meu ombro no topo da sua cama, pode parando com os sermões. — Sentiu-se levemente embaraçada por estar se valorizando tanto, como se para o outro fizesse diferença com quem passara aquela manhã, mas preferiu não emendar o já dito. Mas observou-o, com medo de qual resposta iria receber pela ousadia.

  Percebeu que sua expressão se alterou, o sorriso jocoso de antes havia ficado suave, e seus olhos adquiriram uma nitidez a mais, tão forte era seu olhar no momento.

— Não vou arriscar perder a ótima companhia, então — disse, para logo depois voltar-se à refeição, claramente feliz por poder comer.

  Usagi teria perdido a fome com aquelas palavras, tivesse o estômago de uma pessoa normal. Ele realmente quisera dizer que queria continuar com aquele caso, não era? Tentou fechar o queixo caído e também voltar à comida.

  E percebeu que após mais umas mordidas, Mamoru a olhava com o mesmo sorriso até lhe dizer:

— Caso eu não tenha sido claro: vamos nos encontrar esta semana de novo? — Ele fez movimento com a cabeça, como se mandasse que ela respondesse logo.

— Ah... — Usagi queria dizer algo difícil, enigmático. Mas apenas resignou-se. — Claro.

  Lá estava outro momento de mudança de sua vida, aquele em que ela diria no futuro que havia transformado suas noites aleatórias com Mamoru em um caso. Apenas esse futuro diria quais arrependimentos lhe poderia trazer a resposta tão curta e simples, sem qualquer reserva.

Continuará...

Anita, 15/03/2012

 

Notas da Autora:

Gosto de como este capítulo é fofo!

Mas mais importante que isso preciso deixar meu graaande agradecimento por toda a paciência de quem segue esta fic. Eu tenho tido problemas de me focar e terminar as coisas tirando o que seja meu hiperfoco do momento. E é, revisar fics nunca foi e infelizmente nunca será meu hiperfoco do momento.

Caso continue muito assim, talvez eu só libere o bruto da fic porque não é como se minha revisão fosse perfeita e não é justo o tanto de tempo que tenho demorado com cada capítulo. Ao mesmo tempo, vou revisando e encontrando tanta vergonha alheia de quando escrevi que... deixarei essa ideia pra último caso rs.

São as mensagens de vocês que me dão o gás de vir aqui e acertar tudo, de saber que vale a pena a penitência. Obrigada mesmo, mesmo! Thais, Timbi, Mari.Tsuki, Pandora Imperatrix (de quem não tinha recebido notificação da review e só encontrei agora e tô rindo que você diz quase o mesmo destas notas XD) e a quem mais tenha chegado até aqui! Beijos pessoal e até o próximo capítulo. Eu taria mentindo pra vocês se dissesse que sei que diabos ele vai ser.

(09/07/2022)

Próximo Capítulo 



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