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[Sailor Moon] Cada Vez que nos Encontramos, Cada Vez que nos Separamos - Capítulo 4, escrita por Anita

Autora: Anita
Fandom: Sailor Moon
Gênero: Comédia romântica, Realidade alternativa
Classificação: 14 anos
Status: em andamento
Resumo: Usagi/Mamoru. Usagi está na faculdade e acaba de terminar com Seiya, seu primeiro namorado de toda a vida, quando decide aceitar um emprego de meio período no bar de seu amor de adolescência, Motoki. Entre os desafios dessa aventura, o passado decide reaparecer na sua frente, especialmente quando o homem que mais a atazanava retorna a Tóquio, Mamoru. Ela percebe então um conflito entre o que sente por Seiya e por Mamoru. A história também vai explorar os romances de cada uma das senshi! 

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Olho Azul 20 Anos Apresenta:

Cada Vez que nos Encontramos,
Cada Vez que nos Separamos


Capítulo 4 — Uma Longa Noite

  Eles estavam perto demais. Em meio ao enjoo que Mamoru começava a sentir passado já tanto tempo desde o último copo de álcool, sua consciência gritava que estavam além do mínimo de distância que pessoas deveriam manter. Usagi apenas se aproximara inocente para gritar seu nome bem alto. Bem, isso não era tão inocente assim, mas também estava longe demais de ter a intenção que ele mesmo possuía naquele momento, ao vê-la tão próxima que poderia dizer o nome de seu perfume se o conhecesse.

  O próximo pensamento, excetuando-se o de se arrepender por estar tão bêbado, era o de que estava intensamente atraído por aquela menina. E de que nada que fizesse naquela noite, muito menos naquele estado, poderia virar o jogo a seu favor. Ainda assim, queria se aproximar mais, sentir melhor seu cheiro, não o do perfume, mas o cheiro de sua pele.

  Seria um belo prêmio após os dias que andara tendo na empresa. Todos foram tão ruins que começava a não se importar mais se devia permanecer em Tóquio, qualquer vaga para qualquer outro lugar começava a lhe parecer um sonho. Era sobre isso que queria ter conversado com Motoki, se não seria melhor se contentar com algo fora da capital. Não ganharia nenhum aumento de salário, atolaria sua carreira indo para qualquer filial agora que não era mais o novato, mas poderia ter uma vida tranquila, seguir o rumo que sua família já devia esperar que seguisse.

  Após aquelas ideias sobre seu futuro, Usagi estava bem à sua frente. Precisava tocá-la, certificar-se de que não seria uma ilusão, enquanto a verdadeira Usagi já voltara à cozinha após a peça pregada. Estendeu sua mão, segurou seu rosto tão pequeno. Tão macio... e real. Aquilo era real? Queria mais. Queria puxá-la para o sofá, trazê-la para si e abraçá-la, beijá-la, dizer como precisava dela ao menos naquela noite.

  Como que em resposta aos pensamentos, Usagi fechou seus olhos, apoiando a cabeça em sua mão. Lembrou-se da sensação de mais cedo de haver voltado no tempo e concluiu que não queria mais voltar, afinal, a Usagi de anos antes já o havia rejeitado com todas as palavras e ainda deixado claro o quanto o execrava. Porém esta, por alguma razão fantástica se encontrava ali, como que oferecendo a boca para um beijo. Um beijo que Mamoru não conseguiria mais evitar dar. Estendeu a outra mão para enlaçar-lhe a cintura e puxá-la ao mesmo tempo em que lhe dava impulso para se aproximar da jovem. Apenas mais um pouco e...

  Um celular começou a tocar, a cada momento mais alto. Alguma dessas músicas da moda. Definitivamente, não era o seu. Até Mamoru podia concluir quem estaria ligando naquela hora, mas Usagi não se moveu, a não ser por abrir seus olhos e fitá-lo. Ela queria que lhe dissesse o que fazer? Ou queria que ignorassem os toques? Para qualquer das opções, Mamoru estava de mãos atadas. Ou preferia não fazer nada. Forçar uma garota a ignorar seu namorado para uma aventura daquelas não era de seu feitio. Fosse qualquer outra, Mamoru sequer aprovaria uma atitude assim. Mas, acima de tudo, ele tinha medo de acabar repelindo o prêmio que quase lhe caíra no colo momentos antes e que, agora, parecia haver resolvido receber a chamada.

  Usagi tinha recuperado seu celular e assentia para quem estivesse do outro lado. Para ele, certamente.

— Desculpa, eu já estou saindo daqui, sim. Chego em... — Ela não olhava relógio algum, como soava estar fazendo. Mas, notando-se observada, deu-lhe as costas e caminhou para trás do balcão. — Eu chego logo, pode deixar. — Uma pausa. Ela assentia de novo, mas não se virava. — Sim, eu também. — Teria dito que também o amava? Que também queria vê-lo? Ou que também queria dar um tempo? — Tá, até mais! — Obviamente, não era a última opção. Fechando o celular, ela o pôs na bolsa em cima do balcão e voltou-se para a panela no fogo, mexendo o conteúdo.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Usagi suspirou, mal conseguindo acreditar no que havia acontecido naquela sala. Mamoru estava mesmo bêbado a ponto de dar em cima dela? Ou ele apenas precisava de consolo? As duas ideias soavam-lhe péssimas como motivo para o que poderia ter se sucedido; ainda assim, ela ressentia um pouco a chamada de Seiya e o fato de Mamoru não haver tomado qualquer iniciativa, se realmente queria algo. Deixou que a culpa ficasse toda sobre ela.

  Em que estava pensando? Numa semana, perdia a virgindade com um, na outra, antes mesmo de completar uma inteira, traía o namorado numa noite que não significaria nada além de arrependimento para o outro? Mamoru não a queira realmente, nem ninguém. Não parecia ser esse tipo de homem. Apenas estava em um dia péssimo, embriagado e ainda não adaptado de volta à cidade. Kyuushu tinha um ritmo diferente de Kanto, era o que todos diziam. Até o clima era diferente. A paisagem também. Voltar pro meio do concreto devia ser a maior causa daquela depressão. E sexo não iria amenizá-la, né? Bem, não quando não fora mesmo uma escolha consciente. Por mais que Mamoru parecesse disposto se ela fizesse alguma força, de que valeria?

  Levou a mão à bochecha, devia estar muito vermelha naquele momento, pois se sentia febril. Ao mesmo tempo, não entendia como dormir com Mamoru poderia lhe passar pela cabeça quando tê-lo feito com Seiya era o que lhe causava aquele distanciamento do namorado. Estava sendo contraditória?

  Estalou a língua, mandando se esquecer de tudo. Foi exatamente por ouvir Minako lhe dizer “por que não” que agora seu namoro estava uma bagunça e, provavelmente, seus sentimentos também. E não era naquele apartamento que ela resolveria sua vida amorosa. Não era nem como se Mamoru realmente a quisesse. Bem, ele claramente a desejava naquele momento, mas não o faria se estivesse cem por cento sóbrio. Muito menos ela.

  Pôs a sopa no prato e a levou em uma bandeja até o homem ainda no sofá, que a vinha observando sem disfarçar. Talvez de propósito, seus dedos se tocaram e apenas com isso, sentiu o corpo arrepiar-se.

  Ótimo. Realmente estava mais a fim desse homem convencido e impossível em vez de ir a um encontro com seu namorado? Aquele por quem tanto sofrera por mais de dois meses? Aquele a quem se entregara, se exibira em sua forma mais frágil na semana anterior, naquele quarto estranho? Precisava pôr a mente em ordem. De fato, Mamoru era um homem atraente. E diferente de Seiya, com certeza. Ademais, ele se encontrava em momento complicado que o deixava no mínimo fofo. Mas Mamoru não era futuro algum. De onde tirara isso tudo após um leve contato? Houvera também a hora em que saíram do bar e talvez houvessem ficado na iminência de um beijo... Mas só isso. Antes, apenas brigavam. Mesmo após anos sem se encontrarem, eles continuaram provocando um ao outro.

  Agora com seu pensamento em ordem e Mamoru tomando a sopa, era hora de voltar para o mundo real e ir encontrar o homem que a amava e que a esperava na estação próxima. Dava até para ir andando lá!

 Despediu-se, recusando dinheiro para o táxi. Mamoru pareceu pronto a acompanhá-la, mas devia ter notado como a oferta seria ridícula, dada a situação dos dois. Podiam fingir que não tinha acontecido, ele podia até esquecer que aconteceu no dia seguinte, mas os dois tinham consciência naquele momento que havia acontecido alguma coisa. Algo de que deviam se envergonhar.

  Usagi calçou-se e empurrou a porta para sair do apartamento, dizendo-se que iria esquecer tudo daquele dia assim que pisasse do lado de fora. Já lhe bastava a confusão de sentimentos por Seiya no momento, a qual tinha que resolver assim que o visse novamente.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Ela havia por fim chegado à estação; era mais distante que imaginava, e ela ainda havia se perdido por um momento. Mas tudo bem, não estava tão atrasada, Seiya já a esperara por mais tempo em outras vezes. Além do mais, ele a conhecia, não contava mais com sua pontualidade. Sim, aquele era o homem que agora dizia abertamente sobre a vida que queria criar no Japão com ela, de como a amava. Seiya havia sido seu primeiro namorado, seu grande amor, seu primeiro homem.

  Esse pensamento ainda a fazia corar. Não conseguia acreditar mesmo depois de tudo que os dois haviam ido até o fim naquela noite. Ele a vira sem roupa. Ela o vira sem roupa. Droga. Agora estava sem ar, por que fora pensar nisso justo quando já estava ali na estação? Levou a mão às bochechas quentes e disse-se para afastar aquele pensamento. Era um assunto para tratar diretamente com Seiya e apavorar-se antes em anda adiantava. Muito pelo contrário, já que andava tão confusa que quase beijara um cara bêbado e que, ainda por cima, nem a levava a sério.

  Bem, aquela emoção toda só de pensar em Seiya era um indicativo de que tudo continuava relativamente normal. Logo, ficaria totalmente normal. Bastaria vê-lo que ela se derreteria, tal como no dia em que ele a viera ver no bar do Motoki. Com seu perfume de sempre, aquele cabelo tão macio e diferente... Seu Seiya. Olhou o relógio de seu celular, onde queria conferir também a saída marcada para se encontrarem. Já era tarde... Haviam marcado para as oito e meia antes, não era? Algo assim, mas já eram quase dez da noite. O último trem devia ser meia noite e meia. Haveria tempo de se divertirem, mas no fundo, Usagi notava-se aliviada que não haveria o bastante para o tipo de diversão que Seiya provavelmente esperava quando marcara de se verem bem mais cedo.

  E lá estava ele, de pé perto de uma das colunas da estação, checando seu celular. Provavelmente, também trocava e-mails com alguém, já que estava digitando sem parar. Contanto que não fosse uma bronca para ela, até outra garota valia. Seiya não costumava brigar, então, cada briga com ele a fazia muito mal não importava a causa. Fora uma briga dessas que a fizera tomar a decisão da qual se arrependia no momento. Não, não se arrependia. Era apenas um período de adaptação de seu primeiro namoradinho para seu grande caso.

  Deu uns passos em sua direção e se sentiu congelar. Seu celular estava vibrando em sua mão, mas o homem à sua frente ainda digitava com um sorriso no rosto. Não estava bravo, tampouco havia enviado a mensagem ainda. Levantou o aparelho para ver a luz ainda acesa indicando uma nova mensagem com um pequeno desenho de envelope na parte acima das horas.

  Com um toque de dedos, chegou à caixa de entrada, mas vinha de um número desconhecido. Suspirou, alguém devia ter errado de destinatário. Ao menos, não era ninguém como Mamoru para complicar ainda mais sua noite. Todavia, antes mesmo de abrir para ler, recordou-se de que não o tinha em seus contatos.

Aqui é Mamoru. Motoki me deu seu número. Não falemos dele, apenas continuemos de onde havíamos parado. Volte depois de seu encontro, eu pago o táxi quando você chegar.

  Sua boca estava seca, mas seus lábios pendiam abertos. Estava lendo direito? Ele estava bêbado ainda? Haveria bebido depois, já que antes já parecia um tanto sóbrio, apesar de exausto. E mais, “depois de seu encontro” queria dizer o quê? Usagi tentou dar outra interpretação. Os dois haviam conversado... Mamoru devia querer retomar a conversa, já que estava sozinho. Mas ele não até falara com Motoki naquele meio tempo?

  E, pensando bem, eles dificilmente haviam conversado, todas as palavras agora lhe pareciam uma tentativa de calar a tensão que surgira entre ambos naquela noite. Uma tensão imensa que Usagi nunca havia sentido por ninguém, nem mesmo enquanto Seiya lhe passava a mão por seu corpo enquanto se beijavam. Não queria nem comparar com seu estado na quinta-feira naquele motel, já que preferia não contar aquela noite para nada tendo em vista o perigo de acabar sendo ponto negativo para seu namorado. Mas agora o pensamento já lhe ocorreu, e uma careta se formou no rosto. Ao mesmo tempo, fizera-lhe imaginar novamente o sentido mais óbvio da mensagem recebida. Queria dizer que Mamoru queria aquilo com ela? Ou apenas um beijo? Ou somente a tensão que sua companhia provocava? Por que, havia pouco, se sentira aliviada que não daria tempo de Seiya levá-la a um motel depois de jantarem e agora considerava ir para a boca de outro lobo, um muito pior que o primeiro?

  Usagi deixou-se agachar e olhou de novo para o celular, sem se importar com a barra de sua saia longa esbarrar no chão. “...continuemos de onde havíamos parado” era um convite maldoso. Indireto demais. Olhou o botão de resposta e selecionou-o. “Continuaremos para fazer o quê?”, perguntou e deu ok. Sentia-se ainda mais envergonhada, deveria ter acrescentado algum emoticon ao menos, mostrando que entendera o que ele havia querido dizer, mas que precisava de mais da parte dele. E se ela chegasse lá com um sobretudo que tapasse apenas sua nudez, e Mamoru já estivesse de pijama com Motoki também ali só querendo uma festinha informal pra lembrar os velhos tempos?

  Bem, ela não tinha um sobretudo daqueles, nem Motoki estaria lá com certeza, hoje ele tinha um encontro com sua ex-namorada e vinha ansioso com a data desde que ela lhe ligara no domingo anterior para avisar que queria vê-lo. Makoto tinha brincado, dizendo que era para pedir emprego, mas nada diminuíra a distração que tomara conta do chefe.

  Seu celular vibrou e ela ainda nem o havia fechado novamente, bastou apertar o botão central para saber o que Mamoru lhe respondera. “Coisas de que nos arrependeremos.”

— Aí está você! — A voz de Seiya a fez pular um pouco para trás, quase caindo no chão.

  O rapaz sorriu levemente e estendeu a mão para ajudar a levantá-la, enquanto lhe dizia:

— Devia ter ligado para dizer que tava aqui, né? Estava me mandando mensagem? — Ele estendeu o rosto.

  Usagi baixou os olhos direto na palavra “arrependeremos” e fechou o flip do aparelho rapidamente.

— Pois é! Hahaha, que boba sou. — Enlaçou-se com o namorado, já ditando uma direção para evitar se verem. — É claro que você chegaria antes de mim.

— É, acabei até já comendo uns bolinhos chineses da barraca. Mas e você, aonde quer ir? Meus planos pra noite meio que não vão rolar a esta hora. Logo terei que ir pra casa, agora é tão longe... Ainda bem que o trem sai direto daqui! Bem, serei seu por... — olhou seu relógio de pulso — duas horas inteiras! Que tal aquele coma à vontade de doces que você ama?

  Usagi sorriu, tentando demonstrar-se satisfeita, mas sua cabeça continuava nas coisas de que se arrependeria no dia seguinte. Não estava nem mais pensando nas costas nuas de Seiya sentado na cama do hotel, olhando o chão enquanto procurava suas roupas. Ou em como tudo o que ela queria era não mais ter que tocar aquele edredom alheio, que de início parecera-lhe uma nuvem de conforto.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Mamoru não se lembrava mais de onde estava. Ouviu um toque distante, seria seu despertador? Então, devia estar em casa. Tinha a sensação de que estava lá sim, mas não em sua cama. Aquele lugar desconfortável e pequeno não era sua cama. Aliás, ele estava com os pés no ar, batendo-os na parede enquanto tentava imaginar para que lado seria o chão. O toque continuou. Certo, ele conseguia fazer isso. Encontre o chão, quebre o despertador, salve o mundo. Ou sua cabeça dolorida.

  A que horas havia ido dormir na noite anterior? Não se sentia descansado, era quase como se estivesse despertando de um longo coma. Não diga que era isso? Estava mesmo em coma? Tinha ido dirigir e agora estava caído em alguma ribanceira e aquele som era de uma ambulância? Impossível, ele não tinha carro. Vendera-o quando se mudara para Nagasaki e nunca quis se estabelecer lá, nem mesmo tivera tempo de pensar em como um carro poderia levá-lo para passear ao redor do estado, para Fukuoka, Kochi, talvez até Kagoshima. Mamoru apenas fora a Kagoshima a trabalho, o mesmo para Fukuoka. Nunca pusera os pés em Kochi, achava.

— Ai — gemeu quando jogou os pés para um lado e eles bateram em algo que se espatifara no chão. Suas costas doíam com o movimento. Mas agora sabia que estava era de pernas para o ar. Não mais. Achara o chão. Aquele lugar era sua sala?

  Levantou-se com um barulho alto, algo se chocara contra o chão. Um vaso quebrado, algo mais também devia ter ser quebrado... sua cabeça inclusive não devia estar inteira. Notava agora que confundira o som de sua companhia com uma sirene.

  Estalou a língua, reprovando-se. Havia bebido demais na tarde anterior; não fosse a sopa que Usagi lhe preparara, talvez ainda tivesse álcool o bastante para fazê-lo dançar nu no parque mais próximo. Se bem que nunca fora esse tipo de bêbado, mesmo alcoolizado mantinha o controle. Ele podia falar coisas, mas não seria com qualquer um. E normalmente apenas reclamava de tudo. Mamoru era uma pessoa metódica para quem nada nunca estava direito, mas que não se abria para muitos, tirando uma eventual namorada ou Motoki. Quando bebia, já era mais fácil o processo. Bastava que lhe perguntassem que ele seria sincero o bastante e conseguia exteriorizar melhor suas vontades.

  Droga, ele o fizera na noite anterior, né? Tinha a impressão de que havia agarrado Usagi. Não... Não algo tão violento assim. Era um toque irreal demais. Devia ter chegado perto disso e se contivera ao menos.

  A campainha continuava.

  Espiou ainda sonolento pelo olho mágico, mas a visão do outro lado lhe dera um choque e ele escancarou a porta quase atingindo a moça que o chamava.

  — Por que demorou tanto!? — perguntou Usagi, já em sua entrada e tirando os sapatos.

  Mamoru agiu automaticamente, puxando um par de chinelos para visitas e os pondo na sua frente e fechou a porta.

  — Como assim demorei? — Estava procurando um relógio quando sua sacada chamou-lhe a atenção. Estava completamente escuro. Por quanto tempo havia dormido?

  — Bem, eu tava com o dedo doendo de tocar a campainha. — Usagi havia parado ainda com a boca semiaberta e esticou seu pescoço. — Não acredito que estava dormindo! — Revirou em sua bolsa e estendeu um papel amassado. — Foram mil quatrocentos e cinquenta ienes.

  Era o recibo de um táxi. Uma parte de sua mente não se sentia como alguém que tivesse qualquer relação com aquele papel, a outra entrou em pânico.

— O táxi que você me mandou pegar. Mamoru, você tá bem? — Usagi mostrava preocupação genuína com a pergunta ao mesmo tempo em que seus lábios ensaiavam um riso.

— Espera. Eu te mandei pegar um táxi? De verdade? — Saiu correndo até o objeto que derrubara mais cedo. Seu celular, com o qual passara seus últimos momentos de consciência enquanto trocara algumas mensagens com Usagi. Exceto que achara haver sido um sonho. Ele nunca a mandaria sair do encontro para vir a seu apartamento em plena madrugada. Tinha acabado de contar vantagem para si mesmo que não era esse tipo de bêbado. Mesmo que o tivesse feito, Usagi iria ignorá-lo, né? Não daria ouvidos a ele nem quando sóbrio.

  Mas lá estava no histórico do aparelho, um convite para continuarem. O quê? Coisas de que se arrependeriam. Não posso agora, mas chego em duas horas. Em duas horas, já vou ter me arrependido. Veremos quando eu chegar.

  Percebeu que Usagi esticava a cabeça.

— Não me diga que estava bêbado e não se lembra de nada? — perguntou-lhe. Havia um tom de frustração ali?

— Eu estava bêbado, mas lembro, sim. Apenas não achava que tinha feito mesmo — explicou-se, pondo o aparelho na mesa.

— E o que houve com o jarro? Ouvi o barulho enquanto te chamava. — Ela se agachou, começando a juntar os cacos maiores com as mãos.

— Deixe aí, cuido disso depois. Por que não se senta? Vou trazer um chá... Tudo bem se for gelado?

— Claro. — Ela havia se sentado com cuidado com a longa saia e pondo a bolsa a seu lado.

  O que estava acontecendo agora? Ele a chamara, Usagi veio tal como lhe pedira e agora os dois beberiam chá gelado em plenas... Oh, mal era uma da manhã. Idiota. O horário não era o problema! Aliás, havia quanto tempo que não estava com uma mulher? Definitivamente, desde que viera para Tóquio mal chegara perto de uma. Em Nagasaki, os últimos meses foram rodeados de caos, mas isto também descreveria bem todos os anos na cidade. Faria bem a seu corpo estar com alguém naquele momento, mas mesmo bêbado ele já sabia em que resultaria envolver-se com Usagi: arrependimento.

  Ela não gostava dele, era a base do relacionamento de ambos. Usagi sempre o odiara e já havia deixado isso claro pouco antes de Mamoru se mudar para Kyuushu. Anos se passaram e agora ela poderia estar a fim de alguma aventura, aproveitar seus últimos anos de faculdade abrindo-lhe uma exceção, mas nunca iria querer nada além. Não quando ela já tinha um namorado sério, um que era estrangeiro. Aquilo tinha que ser um ponto contra Mamoru, com sua cara tediosa, como qualquer outro que ela podia encontrar pela vida. E, de toda forma, estava claro que aquela noite seria algo fora do padrão e não o início de nada que pudesse ser duradouro. E doía perceber a quanto estava disposto. Jogar longe toda a precaução, toda a certeza de que incorria em erro e aproveitar a chance única. Bem, a segunda chance, já que na primeira ocorrera resistência de ambos. Mas mesmo que a quisesse, não fazia ideia de como dizê-lo agora que sua cabeça estava límpida, sem nenhum vestígio das cervejas de mais cedo, exceto pela ressaca.

  E, servir chá gelado à uma da manhã não podia ser a técnica infalível de conquista com maior chance de sucessos. Mesmo assim, ele pôs os dois copos na bandeja e os levou até a mesinha da sala. Usagi sorriu, agradecendo, e ficou contemplando-os.

  É... E agora? Os dois deviam estar pensando nisso. Talvez não fosse para ser. Ela tinha namorado! “Sim, beba o chá e eu te levarei até um táxi para casa,” pensou.

  Então, sua mente ficou em branco. Não era a negritude de quando desmaiara no sofá mais cedo. Era um branco muito brilhante que lhe cegara os sentidos por um momento de tantas sensações que lhe passaram pelo corpo quando Usagi se sentou em seu colo no sofá e começou a beijá-lo com força.

  Era difícil acreditar no que acontecia. Aquele peso em cima de si, os braços a enlaçá-lo... Era tão incrível que nem sonho poderia ser. Sentia seu corpo começar a agir sozinho, tirando o casaco que ela ainda usava, terminando de abrir a própria camisa, o que Usagi havia começado a fazer sem muito sucesso. E a beijava no pescoço, nos ombros... E na boca, sua boca era tão macia! Precisava de mais. Já.

  Quando enfim tirara a segunda blusa e chegara a seu sutiã, começava a acreditar que Usagi não pararia. Muito pelo contrário, ela já havia lhe tirado o cinto da calça e tentava agora abri-la. Mamoru lhe sussurrou no ouvido:

— Vamos para o quarto.

— Onde? — perguntou-lhe e levantou-se em seguida, olhando ao redor. Não ficou muito tempo assim, logo lhe abraçou o corpo, e Mamoru teve que guiá-la pela memória de seu corpo, esbarrando em alguns móveis.

  Ela se deitou na cama, tirando a própria saia e puxando o edredom sobre si. Levantou-o apenas para convidar que Mamoru entrasse ali com ela, o que ele fez com um sorriso. Aquilo iria acontecer mesmo. Estavam tão próximos de um ponto sem volta que talvez já houvessem passado dele. A língua da jovem percorria sua boca, e as mãos dele lutavam com o fecho do sutiã, até desistir e seguir para a calcinha, que saiu tão rápido que somente o susto o fez notar porque seus quadris se sentiam incomodados. Ainda estava de calça. Retirou-a no próximo instante junto com a cueca e agora estava diante de um daqueles momentos em que tudo podia mudar. Usagi talvez não fizesse ideia, mas Mamoru quase podia ouvir sinos, perguntando-o sobre que escolha faria, que estrada percorreria para passar por aquela encruzilhada.

  Olhou para baixo, Usagi havia percebido sua hesitação e agora o contemplava com uma expressão divertida no rosto. Suas bochechas estavam tingidas no tom entre o embaraço e a vivacidade. Ele a beijou diferente de antes, sem qualquer urgência, queria saboreá-la com calma a fim de registrar o momento com todos os seus sentidos. Cheirou seus cabelos já bastante desalinhados pelo lençol e sentiu a fricção entre seu sutiã e seu tórax. Ouviu sua respiração ofegar.

— Usagi... — pegou-se dizendo sem querer. Não conseguia mais controlar nem mesmo o que dizia, encontrava-se em um estado acima de sua embriaguez convencional e não queria mais sair dele. Nesse momento, como que concordando, a moça o abraçou forte, chamando-o de volta a beijar sua boca.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  A luz vinda do lado de fora e alguns passarinhos cantavam. Pensou em se virar para outro lado e continuar a dormir, seu corpo estava tão exausto e dolorido... Mas, por esse mesmo motivo, ela não queria se mexer. Então, por que acordara? Ah, fora um despertador. Um toque havia começado e parado instantes depois. E por que ela sequer teria programado um despertador se as aulas não começavam até a semana seguinte? Mas aquele também não era o som do seu celular.

  Ah. Era mesmo. Ela havia aceitado fazer aquilo de que se arrependeria no dia seguinte, como Mamoru havia chamado a noite de ambos.

  Ao final, quando seu corpo parecia que criaria vida própria a cada toque, ainda que não viesse de Mamoru, Usagi se vira em uma situação singular. Estava nua ao lado de um homem igualmente nu com quem não podia nem dizer não ter qualquer relação. Ele era mais que um desconhecido. Chamá-lo de conhecido já era diminuir os laços entre eles. Ele era a pessoa que sempre lhe enumerara todas as falhas, defeitos... E que podia fazê-lo, porque sempre agira de forma perfeita. Até aquela noite, talvez. Se bem que a pessoa comprometida ali era ela própria, e Mamoru não tinha nada com isso.

Não sei qual a etiqueta aqui...” confessara ainda ofegante, antes que ele voltasse a si e começasse um festival de reclamações.

  Talvez, ela fosse a única pessoa que após cometer a primeira traição estivesse mais preocupada com não cometer gafes em vez de sentir pena do pobre Seiya, quem a devolvera à estação como um perfeito cavaleiro após pagar o rodízio de doces em que praticamente sobre ela havia comido.

Etiqueta do quê?” A voz de seu parceiro vira abafada, seu rosto estava enterrado cama, apesar de virado naquela direção.

Se eu devo cair fora logo, essas coisas.”

Não diga besteiras, vamos dormir...” Mamoru mexera-se um pouco, até se enrolar no edredom o bastante para não puxar o que estava sobre o corpo da outra. Não lhe demorara muito até estar com os longos cílios tremendo em razão do sono.

dd

  Usagi também se sentia exausta após trabalhar e ter aqueles dois encontros. Não queria pensar em mais nada agora que tinha permissão para apenas dormir.

  Exceto que o dia seguinte agora havia raiado e o despertador do dono da casa o havia acordado. Sentiu o peso de Mamoru mexer-se atrás de si. Ao menos, ela havia se virado oposta a ele durante a noite, não sabia como lidar com a situação de que agora se tornara sua amante. Não havia como desfazer nada. Ela nem mesmo se lembrava muito do que ocorrera, mas nunca esqueceria o momento íntimo partilhado com quem ela não possuía qualquer intimidade prévia. Era absurdamente diferente do que ocorrera com Seiya menos de uma semana antes.

  Percebeu que agora Mamoru já estava de pé, andando pelo quarto. Ela abriu parte dos olhos e o notou a seu lado, agachado no pé da cama com sua calça da noite anterior em mãos. Era difícil ter certeza de sua expressão no momento sem se denunciar acordada, mas parecia procurar algo. Então suspirou alto e se levantou. Instintivamente, Usagi cobriu o rosto ao ver a nudez do homem bem à sua frente. Tinha se denunciado ou dava pra pensar que tinha se coberto enquanto dormia? Aguardou algum comentário venenoso, mas nada aconteceu. Pouco depois, a porta do quarto se fechava e ela percebeu estar só.

  Sentou-se rapidamente na cama. A calça havia sido posta a seu lado, dobrada com cuidado. Agora, suas próprias roupas sozinhas davam um tom colorido à bagunça do chão de madeira. Não queria se envergonhar daquilo, as dele mesmo estavam iguais até serem parcialmente recolhidas... mas não era só aquilo que a envergonhava.  Para começar, havia conseguido quase que desmaiar inteiramente nua ao lado de um mais-que-estranho. E vê-lo igualmente nu levantar-se na sua frente momentos antes não apenas a deixara sem graça, como a fizera sentir-se febril, como se pudesse repetir— Não, como se quisesse repetir o erro daquela noite.

  Droga, isso era a definição oposta do arrependimento, né?

  Percebendo que Mamoru estava no banho, procurou silenciosamente todas as peças de roupa da noite anterior, chegando até a sala para pôr o casaco e saiu correndo pela porta ainda com o sapato em mãos.

  Havia algo de gratificante quando notou que havia conseguido sair de lá sem fazer qualquer barulho e sem ser percebida. Por outro lado, parte sua queria voltar e invadir o banho de Mamoru para continuarem até que ela pudesse sentir-se arrependida de novo. Sua imaginação tinha bastantes detalhes para colorir a cena de quando seu corpo se juntaria de novo ao dele. Se bem que podia apostar que ele tomava banho gelado. Isso não era muito sexy.

  Ao chegar à rua, percebeu a calma absurda em que sua mente se encontrara enquanto tentava localizar para que direção ficaria a estação de trem. E, enquanto andava seguindo alguns homens engravatados com pastas de couro, pegou-se cantarolando alguma música antiga sobre namorados que tomavam o café da manhã juntos.

  Sua única preocupação com Seiya era notar como o evento da noite anterior havia sido diferente daquele que parecia haver condenado o namoro dos dois muito mais que a traição que acabara de ocorrer. Suspirou e voltou a cantarolar.

Continuará...

Anita, 08/03/2012

Notas da Autora:

Ufa! O capítulo ficou muito menor que de costume, mas achei que seria melhor terminar aqui mesmo! E quanta coisa, hein? Foi uma noite muito longa mesmo, rs.

Eu diria que agora está inaugurada outra parte da fic, que deveria ter começado no segundo capítulo se eu tivesse acertado o ritmo desde o início. @-@ O que acharam dessa virada? Será que a Usagi vai largar o Seiya? O que vocês preferem que aconteça?

Um comentário, eu não resisti quando a Usagi saiu do prédio, a música Morning Coffee tava tocando taaanto na minha cabeça que eu tive que pô-la pra Usagi também pensar nela, rs.

Enviem seus comentários, por favor! E para mais fics, visitem meu site Olho Azul ^^

Próximo Capítulo

2 comentários:

  1. Mamoru ousadoooooo e Usagi mais ousada ainda! Hahahahahahahahahahaha Aaaaah, eu já quero o próximo, e feliz que ele já esteja praticamente pronto porque necessito dessa continuação! Aguardando ansiosa aqui! <3

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    1. Desculpa ter demorado uma eternidade, mas os novos capítulos tão saindo agora. Obrigada por continuar acompanhando a história apesar de tudo!

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