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[Takarazuka] O Despertar de um Sonho - Capítulo 3, escrita por Anita

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Autora: Anita
Fandom: Takarazuka Kagekidan (RPF)
Casal: Asumi Rio / Ryuu Masaki
Gêneros: Yuri, comédia romântica.
Classificação: 12 anos
Resumo: Asumi Rio decidiu que aquela viagem com Ryuu Masaki não seria apenas sua despedida da trupe em que sempre esteve como também dos sentimentos que nutria pela Top Star.



Olho Azul Apresenta:

O Despertar de um Sonho


Capítulo 3

  A caminho do Arima Outline Hotel, percebi que eu não devia tê-la seguido sem questionar nada... Quando demos por nós, já nem sabíamos mais onde estávamos e continuamos indo morro acima, cada vez mais distantes do centro e de qualquer pessoa. Após termos passado um bom tempo perdidas, Masaki enfim pareceu entender a situação e se voltou para mim.

- Pra onde acha que devemos ir? – perguntou, com um olhar perdido de quem desistira de resolver algum problema de matemática sozinha.
- Na verdade, acho que entramos na rua errada.
- E o que faremos? – Ela continuava a me olhar como se eu pudesse balançar minha varinha de condão e fazer tudo dar certo. Eu gostava daquele seu jeito, de quando se resignava e tentava buscar algum consolo, mesmo de uma pessoa abaixo dela como eu.

  Com tal poder em mãos, cogitei a possibilidade de ficarmos horas naquela estrada, completamente a sós. Logo afastei a tentação.

- Talvez fosse uma rua mais para trás daquela estrada principal - eu disse, sem tentar parecer mais esperta, e apontei para nossa esquerda.
- Sinto muito, Mirio. E pensar que eu é que sou daqui, né?
- Não tem como você conhecer Kansai inteira. – Sorri para ela, querendo segurar seu rosto em minhas mãos e lhe beijar a testa. Dizer que estava tudo bem, que ela poderia me levar para o fim do mundo que fosse.

  Ela ajeitou o cabelo bagunçado pelo vento e passou por mim para começar a descida de volta.

- Eu realmente não tenho o mínimo senso de direção - resmungou, fazendo-me rir discretamente em concordância.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Após pedirmos informações a duas pessoas, descobrimos que até ao voltarmos tínhamos piorado nosso caminho, pois bastava havermos circundado o quarteirão. Entre risos, contornamos o prédio do hotel e subimos o morro correto para entramos por fim no Arima Outline.

  Do lado de fora a entrada era cercada de cerejeiras. Apesar já haverem desabrochado por toda Takarazuka na última semana, talvez por ali ser tão alto e tão mais frio, a maior parte das flores ainda estava em botão, com apenas uns pontinhos esbranquiçados aqui e ali. Tudo o mais que podíamos ver era um prédio alto anexo a um menor.

- Não parecem takoyaki? – Masaki apontava para um desenho do que parecia um espeto com duas formas arredondadas.
- Eu acho que são dango. – Senti minha bochecha queimar por eu corrigi-la. Por sorte estava frio e meu rosto já devia estar vermelho de tanto tempo que passáramos andando contra o vento.
- Ah, é. Nunca vi takoyaki desse jeito mesmo.

  Entramos, enquanto ela ainda ria por ter imaginado que um hotel em Arima teria o desenho de um takoyaki. Como ainda estava cedo para o check-in, deixamos nossas coisas em um armário para hóspedes e dirigimo-nos ao anexo onde se encontrava o onsen. Após pegarmos nossas toalhas e pormos uma espécie de pulseira para controle do lugar, seguimos até a parte feminina para tirarmos nossas roupas.

  Foi bem ali que me sentir congelar. Em frente a um armário próximo, Masaki estava ficando nua. Na mesma sala que eu, ela estava ficando nua. Ela estava ficando nua. Nua. Comigo. Por que isso me incomodava? Quantas vezes isso já não havia acontecido antes? E não somente na correria das peças, mas até mesmo em onsen como aquele durante viagens da companhia. Enquanto essa parte de minha mente dizia isso, outra parte – a preponderante – repetia: nua, nua, nua.

  Terminei de pôr minhas roupas em um cesto e peguei a chave do armário. Em seguida, fui até a área do onsen, decidida a me lavar o mais rápido possível. Se o conseguisse, poderia me esconder debaixo d’água e apenas aguardar que Masaki entrasse. Do contrário, seria ela quem teria tempo de sobra para me observar nua. Isso seria péssimo.

  Enquanto ela ainda ajeitava banquinho e balde em um canto do quarto, terminei com o meu banho e me dirigi apressada a uma das pequenas piscinas. Escolhendo se entraria na de água mais clara ou na de água dourada, percebi-me fantasiando a hora em que Masaki se juntaria a mim. Queria poder ficar na mesma banheira, ficarmos uma ao lado da outra. 

  Com o canto do olho, notei que ela não demoraria a se lavar. Desesperada com a possibilidade de que ela me visse de pé, com apenas uma pequena toalha na mão, apertei o passo para a banheira dourada.

  Então, senti meu pé pesado; não conseguia levantá-lo para continuar andando. Ele escorregava, e eu ia para trás. Tudo aconteceu em câmera lenta. Talvez pela minha experiência com dança, consegui evitar cair direto no chão ao me impulsionar para a frente, sem que meu quase acidente fosse notado. Antes que eu pudesse respirar aliviada, porém, meu corpo havia feito tanta força para evitar aquele tombo que acabei chegando à água com velocidade demais. Meus pés se cruzaram e tropecei para dentro da banheira, fazendo minha cabeça ficar toda submersa na água quente.

  Uma sensação de não conseguir levar meu corpo de volta à superfície me tomou nesse momento. Não podia acreditar que iria me afogar em uma banheira bem na frente daquela a quem eu menos queria dar trabalho. Enquanto minha cabeça parecia mais pesada, meus pensamentos começaram a sumir; era como se houvessem evaporado com o calor. Passei a ter lembranças inusitadas, como a de uma sessão de fotos em que me haviam pedido para abraçar Masaki, ou um ensaio de musical bem antigo em que quase nos tínhamos beijado acidentalmente. Até minha primeira vez vendo algo de Takarazuka me veio à mente como se eu estivesse vendo um filme mudo.

  Isso deve ter durado apenas alguns instantes, pois logo senti um frescor tomar meu corpo. Primeiro o rosto, depois os seios e então meu corpo todo parecia voltar à temperatura normal, enquanto eu era arrastada para fora da banheira do onsen. Eu me senti nos braços de Masaki, tal qual vira em meus sonhos. E, também como nesses sonhos, minha cabeça estava letárgica e meu corpo não respondia aos meus comandos direito. Talvez eu não estivesse mais consciente, pois não conseguia ouvir nenhum som. Tentei abrir os olhos, mas a claridade era forte demais, e minhas pupilas pareciam coladas uma na outra. Senti a consciência ainda entorpecida. O frio causado pelo contato de minha pele contra o chão começava a me dominar. Instintivamente, busquei o calor confortável do corpo que me segurava com firmeza. Seus cabelos, sua bochecha, seus lábios...

  No exato momento em que meus lábios tocaram os dela, eu recobrei os sentidos. Percebi-me de olhos fechados, pressionando minha boca contra a de Masaki, quem ainda devia estar me segurando pelas costas. Joguei meu corpo para trás, deslizando pelo chão para me afastar dela tanto quanto possível, e só aí tive coragem de abrir os olhos. Ato contínuo, tentei correr ainda sem nem haver terminado de me levantar e, desta vez, eu realmente levei um tombo de joelhos no chão.

- Mirio! – ouvi sua voz, normalmente tão grave, soar mais aguda que nunca.

  No instante seguinte, Masaki já estava agachada ao meu lado, com seus braços segurando os meus e erguendo-os.

- Por que correr toda molhada desse jeito? – perguntou, como se resmungasse.

  Quando enfim eu fiquei de pé, e tão equilibrada quanto a dor que eu sentia nos joelhos permitia, nossos olhos se encontraram. Os dela, tão negros e redondos, me fitavam intensamente.

- Mesmo depois de tantos anos, às vezes eu não consigo entender em que você está pensando... – comentou ela. Suas mãos ainda apertavam meu braço com força.
- E-eu sinto muito. – Baixei a cabeça e fiz força para que ela me soltasse. Ao consegui-lo finalmente, eu corri, sem me importar com um possível novo tombo. Nada poderia ser pior.

  Aquele beijo... por que fui beijá-la? Meus lábios ardiam de culpa e o que deveria ser a melhor das lembranças parecia a mais vergonhosa de todas. Precisava sair dali, ir para bem longe. Pegar minhas coisas e ir embora para a Hanagumi, pois não seria mais capaz de encarar Masaki de novo.

  Reagir assim a um fato tão simples podia parecer exagero, mas beijá-la enquanto ela estava me salvando fora mais que ingratidão. Eu havia abusado de sua confiança. Afinal, quem vinha fantasiando com momentos assim antes de mesmo de começar aquela viagem? Eu quisera lhe roubar um beijo. Eu quisera agarrá-la, sentir-lhe o corpo. E estivera disposta até a espiá-la em um momento tão íntimo como naquele onsen.

  A vida não havia sido feita para dar certo, como em minhas fantasias antes de dormir. Aquela viagem já havia sido condenada ao fracasso quando eu fizera Masaki me acompanhar, mesmo sabendo o peso que minha presença devia representar para ela. Estava na hora de terminar tudo.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Eu já estava chegando ao armário principal do hotel quando Masaki me alcançou. Prendi minha respiração ao sentir sua mão em meu ombro, tentando virar meu corpo. Era um pesadelo, só podia ser. Ou ela me odiava ainda mais do que eu havia imaginado, pois não me deixava simplesmente terminar aquele dia e fingir que ele não havia acontecido. Quando reagi fazendo força contrária para não ter que encará-la, ela perguntou com a voz controlada:

- Não acha que está exagerando? Agora você quer ir embora por causa de um acidente?

  Ainda de costas para ela, amaldiçoei meus próprios desejos. O quanto eu a vinha querendo, o quanto eu vinha ansiando por seu toque, o quanto eu vinha imaginando seu beijo...

- O que houve? – perguntou-me, provavelmente não entendendo o que eu dizia. Tudo bem, nem eu entendia mais por onde andava minha mente.

  Senti-a me contornar, parar diante de mim e estender a mão em direção ao meu rosto. Encolhi-me, fechando os olhos não por realmente acreditar que ela fosse me bater, mas apenas por reflexo. As costas de sua mão gelada tocaram minha testa e ali permaneceram.

- Está ardendo, Mirio! – Seu tom era bravo desta vez. – De tanto ficar fazendo sabe-se lá o que que anda querendo fazer, acabou com uma febre! – E olhou para a tela de seu celular. – Falta pouco pra hora do check-in; vamos conversar com eles e depois iremos pro quarto de uma vez.

  Em seguida, senti seu braço puxar minhas costas, quase a me abraçar, e fui empurrada gentilmente até o balcão do lounge.

  Pouco notei no meu caminho até o quarto, guiada por um preocupado funcionário do ryokan e pela própria Masaki, que não me soltava as costas. Será que ela não conseguia perceber que era ela mesma quem me deixava daquele jeito? Certo, eu devia estar doente de tanto que vinha me preocupando com aquela viagem, mas a presença daquela mulher não ajudava. Eu a adorava sendo frágil e precisando de minha ajuda como quando nos perdêramos, mas amava ainda mais quando ela cuidava de mim. Ao mesmo tempo, a situação fazia meu peito doer e meus pés quererem dar meia volta.

  E pensar que algumas vezes, enquanto estava doente, imaginava-me deitando em seu colo, com suas mãos a me acariciar os cabelos e me por para dormir... A realidade era que isso devia ser o que eu menos queria e, pior, não me surpreenderia mais se ela o fizesse.

- Queria saber no que você tanto pensa... – Masaki disse quando já estávamos sozinhas, após me deitar no futon. – O tempo todo calada sem dizer como se sente... Não costumo ligar pra esse seu costume, é até um pouco fofo. Só que anda me preocupando ultimamente. – Então, sentou-se sobre os pés, ao meu lado.

  Pus-me sentada e baixei a cabeça, apertando o tecido de minha calça com as mãos.

- Vamos, deite-se. É melhor descansar um pouco. – Ela tentou forçar meus ombros para trás, mas resisti.
- Meu sonho... quando entrei, era subir no Takarazuka. Subir tão alto quanto pudesse. Como qualquer menina ali, eu queria chegar ao topo. Sempre quis. Por todos estes anos, sempre quis ser a número um.

  Como se houvesse levado um choque, Masaki se afastou rapidamente de mim. Em seguida, levantou-se e disse:

- Bem, vou voltar para o onsen e te deixar descansando. Sabe onde me encontrar se precisar de alguma coisa. Eu... realmente estou preocupada, Mirio. Não vá sair andando por aí antes de essa febre baixar. – E se virou para a porta. – Não desperdice o presente das meninas; pode não ser o melhor, mas este ryokan ainda é bem caro.
- Eu não vou embora... – respondi, escondendo-me debaixo das cobertas antes que ela fechasse a porta.

  Minha febre devia estar realmente alta, pois só acordei quando já estava escuro, com o barulho de Masaki voltando.

Continuará...

Anita

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