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[Saint Seiya] Prisão das Asas - Parte 37, escrita por Nemui

Capítulo Anterior - FIM!
Autora: Nemui
Fandom: Saint Seiya
Gênero: drama, aventura
Classificação: 16 anos
Status: Completa
Resumo: A vida de Hyoga se transforma quando entra em contato com um mundo completamente diferente do seu.


‘Todos os homofalcos em homenagem a Prometeu…’ Quantas vezes Myles ouvira aquela frase desde que recebera o Justice Light? Não podia aceitar aquilo como uma verdade, como uma promessa que todos deveriam cumprir. A promessa dos homofalcos era sagrada porque era feita com o coração e a honra, não com petulância. Mesmo Evan compreendia isso.

Não podia mais voar. Não podia ver o estado de suas asas, mas sabia que elas não estavam mais inteiras. Voar até o desfiladeiro de Adliden, sem se proteger do frio intenso era loucura para qualquer homofalco, mas questão de sobrevivência a ele: precisava daquele poder no campo de batalha. Corria pelos corredores, chocando-se às paredes a cada curva, tentando encontrar a direção pelo tato e cosmos. Sentia o cosmos de Charis vivo e forte em algum lugar daquela fortaleza. Precisava, a qualquer custo, encontrá-la e ajudá-la.

‘Não posso ficar parado só porque fiquei cego! Já fui o líder dos homofalcos, eu sou um guerreiro de orgulho. Eu sei que já não sou muito, mas também sei que alguma coisa ainda posso ser.’

Ao sentir que o cosmos de Charis estava próximo, sentiu um enorme alívio. Não tomara o caminho errado, e logo poderia participar da batalha. Os passos apressados ignoravam sua condição física; não se importava de machucar-se se isso o levasse mais rápido ao campo de batalha.

Mais próximo. Começou a ouvir os sons de batalha. Avançou pelo último corredor com o desespero da derrota. E sentiu um golpe no braço direito, como se alguém o cortasse com uma espada.

“Myles!”, gritou Charis. “Mas o que está fazendo aqui? Você devia ter ficado na cidade!”

“Você está cego, não pode fazer nada aqui”, comentou outra voz, que Myles deduziu ser do cavaleiro Ikki de Fênix.

Mas ele precisava fazer algo. Quando sentiu outro golpe cortante, agarrou a arma e notou que eram asas semelhantes a de um homofalco. Não sabia quem era, mas queimou o cosmos e aplicou um forte soco sobre aquele inimigo. Ouviu um animal esgoelar, percebeu que se tratava de uma ave. Pelos sentidos, sabia que havia mais naquele recinto.

“O que está havendo?”

“São estinfálidas”, respondeu Anatole. “Myles, não se aproxime! Deixe que nós cuidaremos dela!”

Mas ele não viera para ficar parado. Quis saltar sobre um dos inimigos, mas foi retido por fortes braços.

“Pare!”, disse Otis. “Nós compreendemos os seus sentimentos, Myles, mas entenda que morrerá se lutar contra essas bestas sem a visão. Espere só mais um pouco. Guarde seu poder para Prometeu. Nós não vamos resguardá-lo da luta, prometemos!”

Seus companheiros compreendiam-no. Eles sabiam que ele, como ex-líder, não poderia deixar que os soldados arriscassem as vidas enquanto permanecia na segurança da casa de Hyoga. Ele era um guerreiro orgulhoso, que jurara dar a vida ao povo. Contentou-se com o pedido de espera, sabendo que teria a chance de lutar contra Prometeu, e permitiu que os soldados eliminassem os inimigos juntamente aos cavaleiros.

Ainda, não conseguia compreender como estinfálidas seriam guardiãs de um deus como Prometeu. Talvez elas também recusassem a existência dos homofalcos e quisessem destruí-los. Assim como os homofalcos tinham orgulho de terem asas de estinfálidas, as aves deviam ter vergonha de ter parentes com sangue humano.

Ao final da luta, só ouvia os grasnos das estinfálidas. Otis aproximou-se e colocou-o nas costas.

“Myles, eu o ajudo. Vamos lutar juntos.”

Mas ainda não era o suficiente. Quando chegaram ao andar de cima, no corredor que os levaria a Prometeu, Myles desceu de Otis e aproximou-se de Charis.

“Charis… Eu tenho um pedido a você, que talvez seja ousado demais.”

“Ousado ou não, eu escutarei, Myles, por amizade. Fale.”

“Queria pedir Luna, mais uma vez. Queria ser o líder dos homofalcos uma última vez. Sei que não é mais meu direito, mas eu gostaria de comandar o exército dos homofalcos mais uma vez antes de morrer. Por favor. Eu sei que o que peço é um exagero, e você, é claro, não é obrigada a acatar o meu desejo.”

“Luna está com Hyoga”, disse a garota, após um momento de silêncio.

“Entendo…”

“Emprestei a ele caso nós caíssemos em batalha. Mas quando o reencontrarmos, deixarei que a segure e comande os homofalcos.”

“Charis…!”

“Não é um pedido ousado. Você foi um bom líder e agora arrisca a vida, mesmo cego. Se os soldados presentes aceitarem também o seu pedido, deixarei que os conduza na batalha de Prometeu.”

Myles voltou-se aos soldados. Ouviu-os baterem continência, em sinal de obediência.

“Nós orgulhosamente aceitamos, Myles”, disse Anatole.

“Por favor, comande-nos com a honra de um verdadeiro homofalco”, complementou Otis.

Ele não podia dizer por estar cego, mas sentia que lhe sorriam.

“Muito bem. Vamos à luta, amigos!”

Só faltava mais um pouco. Com Luna e sua vida, alguma diferença na batalha faria.

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Os cavaleiros olhavam atônitos para a sagrada imagem de Nike, rachada e despedaçada pelo poder do escudo de Prometeu. Saori continuava a segurar firme o báculo danificado, enquanto Prometeu ria de sua falha.

“Forte como uma brisa. Está perdendo o seu tempo, Athena. Eu disse que o escudo não perderia para Nike.”

O escudo de Prometeu brilhava, intacto. Irritado, Seiya posicionou-se de frente para o deus e em seguida voltou-se a Shun e Hyoga.

“Shun, Hyoga. Eu quero que façam comigo o mesmo que fizemos com o pilar principal do templo de Poseidon. Por favor, usem seus golpes em mim para que eu possa destruir esse escudo com o meu próprio corpo.”

“Mas Seiya, se nem mesmo Nike pode destruí-lo, você não poderá quebrá-lo. Será uma morte inútil”, insistiu Shun. Já Hyoga nada disse, apenas pensou por alguns segundos e colocou-se no lugar de Seiya.

“Há outra maneira. Antes de virmos, Myles deu-me mais uma opção de combate.”

Hyoga queimou o cosmos e comandou a corrente de Prometeu. Os grilhões abriram-se, e os elos caíram nas mãos do cavaleiro de Cisne. Tal atitude levou à surpresa não só dos amigos, como de Prometeu.

“Não pode ser! O único que pode abrir a corrente de Prometeu é o mesmo indivíduo que o trancou! Como você pode abrir as correntes de Prometeu com tanta facilidade?”

“É simples”, respondeu Hyoga. “Fui eu mesmo que prendi a corrente a mim, Prometeu, antes de vir para cá. Enquanto vínhamos, eu mesmo controlava o quanto de cosmos a corrente absorveria de mim. Além disso, é muito mais fácil carregá-la no corpo do que nas mãos, eu já estou acostumado. Os homofalcos já confiam em mim, sabem que mantenho a minha palavra e respeito suas imposições. E agora… Todo o meu sofrimento será recompensado com esse golpe, que será dado com a força de um deus… Não… superior aos deuses! Eu não sou um cavaleiro qualquer, Prometeu, três anos de cosmos acumulado é muito mais que um ataque direto de Athena!”

“Seu idiota! Meu escudo não será quebrado tão facilmente, nem mesmo o cosmos acumulado na corrente de Prometeu pode com o metal de Hefestos. Além disso, tanto cosmos é impossível de controlar, até mesmo para Athena, em seu corpo mortal. Se você atacar-me com esse poder, terá o corpo completamente desintegrado!”

Chocada, Saori voltou-se a Hyoga, tentando impedi-lo.

“Hyoga, Prometeu tem razão. Seu corpo não agüentará a tanta pressão! Deixe que eu utilize o cosmos da corrente!”

“Eu sei que ele tem razão, Saori. Também sei que ele tem razão ao dizer que seu corpo mortal não agüentaria também. Eu sou um cavaleiro de Athena, não vou permitir que minha deusa se sacrifique em meu lugar, sou eu que devo morrer por ela! Camus… Esta será a maior Aurora Execution da história dos cavaleiros de gelo. Faço-a em sua homenagem!”

O cosmos de Cisne queimou, e Hyoga ergueu os braços unidos em forma de vaso no alto, enrolados pela corrente de Prometeu.

“Seiya, Shun… Peçam perdão a todos… A Lyris e ao meu filho…”

Seiya tentou correr em sua direção, desesperado.

“Hyoga, não faça isso!”

Contudo, antes que o impedisse, um golpe voou por trás atingiu Hyoga nas costas. Surpreendido, o cavaleiro caiu e logo se voltou para trás. Fora Myles quem o atacara.

“Myles!”

“Não vou permitir que faça isso… Hyoga… Eu, Myles, como líder dos homofalcos, ordeno-o que pare!!”

“Do que está falando, Myles?! Charis é a líder!”

“Ela cedeu-me a liderança nesta batalha, Hyoga. Portanto exijo: pare agora mesmo e devolva-me Luna!”

“Ele tem razão”, disse Charis. “Ele é o líder, pelo menos por enquanto, Hyoga.”

Atônito, Hyoga ficou sem saber o que fazer. Jurara que sempre obedeceria ao líder dos homofalcos e serviria ao povo, de qualquer maneira que fosse. Mas ele já decidira sacrificar-se naquela batalha.

“Se não me obedecer, Hyoga, eu mesmo serei seu inimigo neste campo de batalha e o executarei de acordo com a lei dos homofalcos. Você se desonrará!”

“Mas nós precisamos destruir o escudo de Prometeu!”

“Mesmo que você o ataque, não conseguirá destruir o escudo, Hyoga! Obedeça-me!!”

“Mas eu posso…”

Irritado, Myles avançou sobre ele e tentou socá-lo. Hyoga desviou-se, mas o líder não desistiu: voltou a avançar e acertou-lhe um soco no rosto. Chocado com a ordem de parar, Hyoga caiu; não conseguira sequer pensar na defesa. Apesar de ter tido a chance, Myles não tomou a corrente de Prometeu de suas mãos.

“Entregue-me a corrente de Prometeu e Luna agora, cavaleiro. Ou vai quebrar a promessa que fez a Charis quatro anos atrás?!”

Hyoga hesitou; a promessa era importante para ele também. Não era ele quem deveria decidir como usar o cosmos da corrente de Prometeu, sabia daquilo. Desviou o olhar, frustrado, mas obedeceu e entregou a Myles a corrente e Luna. Não estava em seu direito.

Myles sorriu-lhe.

“Obrigado, meu amigo. Por favor, cuide de Nicholas para mim. Um grupo de homofalcos virá buscá-los com poderes de fogo mais tarde, portanto não se preocupem.”

“Myles…?!”

Myles explodiu o cosmos e enrolou a corrente de Prometeu em Luna. O cosmos dos homofalcos juntou-se ao poder de Hyoga acumulado na corrente. O poder era tanto que Myles utilizou uma parte do cosmos para formar uma barreira em seu entorno, de forma que ninguém pudesse se aproximar dele. Tirou do bolso um galho de Kedreatis e juntou-a à mistura de poderes que se formava em suas mãos. Segurou Luna com as duas mãos, exatamente como Evan fizera no dia da morte. Prometeu riu.

“Se um cavaleiro não agüenta, imaginem um homofalco. Você está morto e nem chegará a tocar no escudo. Pois bem. Tente o seu truque.”

Myles sorriu, confiante.

“Charis! Os homofalcos merecerão uma festa pela vitória, com vinho e dança, mesmo que em lágrimas!”

Fechando os olhos, o homofalco voltou à expressão séria e passou a murmurar uma reza.

“Ares, deus da guerra. Por seu espírito clamei na fronteira do Hades, provando o sangue, cortando o peito, buscando na guerra em meio à dor. À vitória busco. Athena, deusa da guerra, deusa protetora dos homofalcos. Por seu espírito clamei na fronteira da vida, no olhar dos homens, no bater das lanças. Por vocês ofereço um humilde sacrifício.”

Imediatamente, o cosmos de Athena aflorou de Saori, sem que ela o fizesse voluntariamente.

“Sou Myles, filho de Quant. Filho orgulhoso dos homofalcos, honrador da palavra sagrada, por suas bênçãos queimo o meu cosmos e deito minha vida. Sou um filho morto. Meu sangue queimará a carne. Meus olhos serão as lanças para o espírito. E meu coração descansará tranqüilo. Glorioso Ares e gloriosa Athena… Peço a derrota de um obstáculo, peço forças para manter viva a minha palavra. O meu inimigo é o escudo de Prometeu, forjado pelo divino Hefestos.”

“Não, Myles!”, gritou Charis. A garota tentou entrar na barreira, mas não conseguiu. “Sou eu que devo sacrificar-me pelos homofalcos! Não você!”

Myles ignorou-a e expandiu mais o seu cosmos. Sua energia cresceu: passou do nível de um cavaleiro de prata, de ouro, juntou-se ao poder infinito de Luna e da corrente de Prometeu. Com isso, alcançou o poder divino. Tamanha quantidade de cosmos foi demais para o seu corpo, que começou a despedaçar-se. Gotículas de sangue flutuavam misturadas ao cosmos, e Myles gritou de dor.

“Myles!!”

Apesar do sofrimento, não recuou. Aproveitou os últimos momentos de vida para lançar todo o cosmos que podia queimar contra o escudo de Prometeu. A imensa quantidade de energia chocou-se de forma tão violenta que atirou todos contra a parede, inclusive Prometeu. Por alguns instantes, Hyoga, pressionado contra a parede do esconderijo, achou que morreria com tanto impacto, mas sabia que seu cosmos o protegia. Entretanto, era impossível para Myles sair vivo daquele ataque.

Quando a força diminuiu, Hyoga caiu sentado contra a parede. Sentia o corpo inteiro doer, e notou que estava coberto de ferimentos. Abriu os olhos e, no lugar onde Myles estivera, viu que só restara Luna, o galho de Kedreatis e a corrente de Prometeu. Do homofalco, só restara leves respingos de sangue pelo chão e mais nada. Mesmo a par dos acontecimentos, não conseguia acreditar que o amigo morrera e, conseqüentemente, não conseguia chorar a sua morte.

Levantou-se com dificuldade e olhou para Prometeu. Viu que o deus estava de pé, encostado à parede e atrás do escudo de Prometeu. A forte defesa estava danificada pelo ataque de Myles, mas não totalmente destruída. Havia várias rachaduras que se espalhavam radialmente a partir do ponto de impacto. Irritado, Prometeu não mais sorria.

“Homofalco miserável! Eu não acredito que ele conseguiu rachar o escudo… Mas mesmo assim, ele ainda conserva suas características defensivas… Mesmo assim…”

Hyoga sentia-se profundamente enraivecido com Prometeu. Não conseguia aceitar que o sacrifício de Myles tivesse sido em vão, que aquele escudo não se destruiria. Foi o primeiro a levantar-se depois do ataque, movido por uma sede de vingança e de revolta; correu até o local onde estivera Myles e ergueu os braços no alto.

“Ainda não acabou, Prometeu! Receba a Aurora Execution!”

O cosmos fluiu nervosamente através de seu corpo e converteu-se em gelo no zero absoluto. A poderosa rajada chocou-se contra o escudo, aquecido por causa do ataque de fogo de Myles, enquanto Prometeu escondia-se atrás da defesa. Sons de rachadura soaram, e finalmente o escudo se desfez em inúteis fragmentos de metal. Assim Hyoga concluía o grande feito de Myles.

“Myles… O crédito é todo seu, amigo.”

A raiva então se transferiu ao deus, que o fitou com olhos brilhantes.

“Seu humano desgraçado!!”

Um raio de cosmos lançado da mão direita de Prometeu arrastou Hyoga por vários metros e atirou-o contra a parede do fundo ao lado de Charis. Ao bater a cabeça, Hyoga acabou perdendo a consciência. Prometeu aproximou-se dele, queimando o cosmos furiosamente.

“Eu protejo os humanos, mas não admito que nenhum deles erga a mão contra mim! Cavaleiro insolente, você merece ser condenado ao suplício eterno no Hades, por ter desafiado os deuses! Seja grato por ser punido diretamente por um deus, cavaleiro!”

Prometeu lançou outro ataque em Hyoga, desta vez para matá-lo. Contudo, seu poder foi detido por Saori, que se apoiava em Nike, mas fazia seu cosmos trabalhar sobre o cavaleiro, protegendo-o.

“Já chega, Prometeu. Não vou permitir que toque um dedo em Hyoga. Reconheça a sua derrota, antes que seja tarde demais, e deixe os homofalcos em paz.”

O deus tirou a espada da bainha tranqüilamente.

“Athena. Você ainda não compreendeu que faço isso pelo bem da humanidade, que nós dois protegemos? Eu não quero que os humanos sejam substituídos por bestas como os homofalcos, meras imitações.”

Naquele momento, Charis e os soldados homofalcos, feridos, mas determinados a lutar, revoltaram-se com as palavras injuriosas.

“Nós não somos monstros! Somos homofalcos, guerreiros orgulhosos, filhos dos homens e das lendárias estinfálidas! Não pense você, Prometeu, que vamos aceitar qualquer insulto só porque é um deus!”

“Charis tem razão”, disse Seiya, levantando-se. “Os homofalcos são orgulhosos guerreiros, capazes de dar suas vidas por causas nobres, sem hesitar. Agora compreendo porque Hyoga mantém-se tão íntegro com eles. Prometeu! Não se esqueça de nós! Agora que Myles abriu o caminho para nós, só resta terminar o serviço. Vamos, amigos!”

De imediato, todos os cosmos ergueram-se contra Prometeu Seiya e Ikki foram os primeiros a atacar, mas o deus estava protegido também pela espada forjada por Hefestos. Com um movimento sem muito esforço, atingiu-os e atirou-os ao chão. Shun queimou o cosmos e espalhou a Nebula Stream pela sala envolto o deus, preparando-se para uma Nebula Storm. Contudo, Prometeu repeliu seu cosmos com facilidade.

“Rapaz tolo! Pensa que isso funcionará contra um deus?”

Shiryu aproveitou enquanto Shun era repelido para lançar o Cólera dos Cem Dragões. Seu ataque, contudo, também foi facilmente bloqueado. Irritado com os ataques, Prometeu correu e avançou sobre os cavaleiros empunhando a espada. Cortou o ar horizontalmente e lançou um ataque que os atingiu ao mesmo tempo. O sangue dos cavaleiros espirrou no chão devido ao corte que sobrepujou a defesa de suas armaduras, e eles caíram atordoados à sua volta.

“É inútil. É muito evidente a diferença de poder entre um humano e um deus. Portanto, a única pessoa que preciso matar aqui primeiro é você… Athena…”

Saori segurou o báculo danificado com força. Sabia que era a única que podia derrotá-lo ali. Fitou-o agressivamente e queimou o cosmos. Charis lembrou-se do galho de Kedreatis, que permanecera intacto ao ataque de Myles, e pegou-o rapidamente do chão.

“Athena não está sozinha, Prometeu. Esqueceu que são duas as deusas que protegem os homofalcos? Este galho da Kedreatis possui o poder para destruí-lo!”

Saori fitou a jovem homofalca, sem compreender.

“Charis?”

“Minha deusa, o poder de Ártemis vive dentro deste galho da Kedreatis. Eu tenho certeza de que Ártemis protegerá os homofalcos! Eu sei que se você juntar o poder de Kedreatis ao seu báculo, poderá destruir Prometeu. E também…”

Charis pegou Luna do chão e sorriu de forma triste.

“Se utilizar a minha vida.”

Saori sorriu-lhe e aceitou o galho de Kedreatis. Não podia negar que havia nele o poder de Ártemis e que talvez a deusa da caça aceitasse aquela oferta. Todavia, não podia aceitar que Charis sacrificasse a vida. Sabia que a garota não aceitaria manter-se de fora da batalha.

“Charis… Hyoga ficaria tão triste se você morresse… Ainda é jovem, tem grande futuro.”

O poder de Athena envolveu a garota, que lutou contra aquela energia que a invadia e tomava a sua mente. Sua visão escureceu, e ela caiu, ainda tentando manter-se consciente. Saori segurou-a antes que se chocasse no chão e deitou-a com cuidado. Seu poder estendeu-se aos soldados homofalcos, que desabaram no chão.

“Todos vocês… Perdoem-me por abandoná-los por tanto tempo… Está na hora de dar-lhes a proteção que merecem.”

E segurando o galho de Kedreatis junto ao báculo, encarou Prometeu.

“Está na hora de puni-lo, Prometeu.”

“Punir-me? Você? Zeus pode punir-me, pois ele é onipotente. Mas… você, Athena? Pois me mostre a sua punição. Você não passa de uma menininha que se esconde sob a imagem de seu pai!”

O cosmos de Athena queimou, e Saori sentiu o poder de Ártemis emanar de Kedreatis, forte, solícito. Mesmo que a deusa da caça não estivesse ali em corpo mortal, apoiava os homofalcos naquela luta, protegia-os como prometera na mitologia. Como o honrado povo sempre oferecera à deusa inúmeros e devidos sacrifícios, seu cosmos fundia-se ao de Athena com força e vontade. Com aquele poder, ela poderia ganhar.

Nike brilhou, mais forte do que nunca. O poder de Ártemis fundiu-se à sagrada arma e fez o símbolo brilhar. O ouro cresceu e reconstituiu-se, as rachaduras desapareceram e deram lugar ao esplendor da imagem. O báculo parecia novo após fundir-se ao cosmos de Ártemis. Era hora de acabar com aquilo. Não podia matar Prometeu, mas destruiria o seu corpo e traria paz ao povo homofalco, por séculos, até que o deus ressurgisse na próxima reencarnação.

O cosmos resplandeceu e inundou a sala. Prometeu reuniu o cosmos na espada e ergueu-a em posição de combate.

“Pois eu vou cortá-la em duas, Athena, para que não volte mais.”

Saori nada disse. Juntou todo o cosmos, todo o poder divino e humano que residia nela para lançá-lo no ataque. Seiya levantou-se e tentou aproximar de Saori, mas notou que havia uma barreira à sua volta.

“Saori!!”

Os cosmos chocaram-se de frente, gerando uma explosão semelhante à causada por Myles. A mistura das forças de ataque de Athena e de Prometeu foi sentida a quilômetros de distância, até na cidade dos homofalcos. Prometeu tinha em mãos uma das armas mais poderosas entre os deuses, mas Athena agora contava com o poder de mais uma deusa. Aos poucos, a rajada envolveu o poder de Prometeu, formando uma esfera em seu entorno, até encurralá-lo. Com um pouco mais de pressão, conseguiu destruir suas defesas e atacá-lo diretamente.

Prometeu gritou, tentando livrar-se daquela pressão sobre o seu corpo. Não obstante, os cosmos das deusas penetraram em seu corpo, destruíram cada nervo, tecido e célula. O cosmos do deus explodiu, e sua espada caiu tilintando no chão. O sangue, espalhado no chão, evaporou em alguns segundos. Sua alma regressara ao Olimpo.

Atônitos, os cavaleiros, menos Hyoga, que ainda estava desacordado, lentamente se levantaram. Charis e os homofalcos também despertaram e fitaram o resultado da batalha, incrédulos.

“Nós conseguimos…”

Saori caiu ajoelhada no chão, exausta. Seiya correu para ajudá-la, e Charis voltou-se a Hyoga, que estava coberto de sangue.

“Mestre…”

“O ataque que recebeu direto de Prometeu foi demais para ele”, observou Otis. “Com sorte, ele vai se recuperar, se tiver o tratamento adequado.”

Shun correu até o amigo e colocou-o nas costas.

“Vamos levá-lo para o hospital mais próximo. Athena, você concede sua permissão para que ele saia da terra sagrada dos homofalcos, não?”

“Use o jato da fundação”, disse a deusa, ofegante. “Devem tratá-lo imediatamente!”

“Acabamos gastando o poder de Luna, mas eu ainda tenho cosmos de fogo. Posso levar Shun e Hyoga na frente, enquanto vocês esperam os homofalcos da cidade. Nós vamos conseguir!”

Shun notou que o sangue de Hyoga escorrera livre desde que fora atacado. Estancou o ferimento, mas não sabia se o amigo sobreviveria. Na mão que cobria o ferimento escorria o rubro líqüido.

Hyoga gemeu enquanto Shun o carregava no caminho de volta, acompanhado de Charis e Ótis. Preocupado, o amigo não parou de correr.

“Hyoga… Está desperto? Fale comigo…”

“Shun…?”

“Nós conseguimos, derrotamos Prometeu. Agora agüente firme, vamos levá-lo ao hospital. Falta pouco para sairmos desse esconderijo.”

“Não posso… sair…”

“Não se preocupe, Athena deu a permissão. Não vai quebrar a sua promessa.”

Alguns minutos de silêncio passaram-se, enquanto Hyoga respirava com dificuldade. O cavaleiro de Cisne segurou Shun mais forte.

“Shun… Não quero ir…”

“Do que está falando? Você precisa do tratamento, Hyoga!”

“Eu quero voltar pra cidade dos homofalcos. Leve-me à cidade, por favor. Há curandeiros lá…”

“Mas é óbvio que é muito melhor você ir para um hospital, Hyoga. Não se preocupe, você vai sair vivo de lá!”

“Não é isso…”

“Hyoga?”

“Eu quero… viver com eles.”

Shun parou, assim como Charis e Otis. A garota cerrou os punhos e voltou-se ao mestre, exasperada.

“Mestre, você vai voltar! Só ficar alguns dias com os médicos humanos, você terá melhores chances de sobreviver. Não se preocupe conosco.”

“Por favor, Shun…”

Shun estava hesitante, mas não deixava de compreender o amigo. Sabia que as chances de sobreviver eram menores se voltasse aos homofalcos, mas também entendia por que Hyoga não queria sair da terra dos homofalcos.

“Se eles não podem receber o mesmo tratamento… Você não o faz.”

Hyoga não respondeu; fechou os olhos e perdeu a consciência mais uma vez. Pesaroso, o cavaleiro de Andrômeda retomou o caminho.

“Shun, o que vai fazer?”, perguntou Charis, cheia de apreensão.

“Você ouviu o desejo de Hyoga. Vou levá-lo ao lugar aonde pertence.”

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“Ainda está inconsciente…”

Lyris fitou o marido, coberto de bandagens e dormindo tranqüilamente na cama de casa. Shun carregava a mala de viagens. Partiriam naquele dia, após a festa de comemoração pela derrota de Prometeu.

“Sim. Já faz dois dias desde que chegaram. Ele não responde a nenhum estímulo, não diz nada. Charis está muito chateada por causa disso.”

“E você?”

Lyris sorriu, esperançosa. Olhou para o vidro rachado da estufa, pronto para ser trocado conforme Hyoga prometera.

“Ele nunca deixou de cumprir uma promessa. Eu sei que, quando ele acordar, começará a trabalhar imediatamente, com o mesmo empenho de sempre. Hyoga só está cansado.”

“Que pena que ele vai perder a festa. Os homofalcos queriam homenageá-lo nela. Antes de ir, vou ajudar a arrumar as coisas. Tem certeza de que não vem?”

“Tenho… Meu coração comemora a vitória de Athena e dos homofalcos, mas é meu dever permanecer junto a ele. Não vão mesmo incomodá-lo, Shun?”

Shun pegou Iakodos no colo com um dos braços e, jogando a bagagem para as costas, segurou a mão do tímido Nicholas.

“É claro que não. Você precisa de um tempo também. Não se preocupe, nós vamos devolvê-los exatamente como saíram daqui.”

“Obrigada”, sorriu Lyris, tentando parecer alegre, mas sem evitar uma feição melancólica.

Shun caminhou de volta ao centro da cidade, e Lyris viu-se sozinha com o inconsciente marido. Depois colocar mais lenha na lareira, aproximou-se e sentou-se no espaço vago da cama. Acariciou-lhe a cabeça e deitou-se ao seu lado, com o olhar meio amedrontado. Segurou a mão inerte, como se tentasse chamá-lo.

“Quero que eu seja a primeira pessoa a ver quando acordar, Hyoga.”

Desta vez, Hyoga respondeu: apertou-lhe a mão e ajeitou-se na cama. Surpresa, tentou chamá-lo.

“Hyoga? Está acordado?”

Mas ele não se moveu mais. Lyris acompanhou-o com o coração nervoso, ansiando a volta de Hyoga como se decidisse se ela continuaria a viver ou não. Sabia que se ele não sobrevivesse, acabaria suicidando-se como a mãe. Aguardou mais um pouco, e ouviu algumas batidas na porta. Era Charis.

“Lyris?”

“Charis… Não estava preparando a festa? Todos precisam da sua liderança.”

“Eu consegui dar uma escapada. Agora pouco, senti o cosmos do mestre variar, como se ele estivesse tentando acordar. Pensei em vir, dar uma ajuda.”

“Ajuda?”

“Sim. Uma vez ele me ensinou que é possível transferir o cosmos de uma pessoa saudável para uma doente. A deusa ainda está se recuperando da luta com Poseidon, mas eu já recuperei as minhas forças. E queria tentar e ver se ele melhora.”

Charis aproximou-se da cama e segurou a mão de Hyoga, junto com a de Lyris. O cosmos da garota fluiu suavemente para ambos, mas não em pequena quantidade. Enquanto o fazia, notou que começava a nevar. Lyris sentou-se na cama e observou através da janela.

“Começou a nevar. Ainda bem que a festa será no salão coberto.”

Com o olhos marejados, a garota comentou.

“Há quatro anos… Depois de ter sido torturada pelos humanos, fugi para uma região remota, tentando encontrar o caminho de volta para a cidade. Eu precisava manter as asas escondidas o tempo todo, ou seria descoberta pelos humanos. Estava andando num deserto de gelo, com as pernas congeladas e doloridas, tinha frio e fome… Começou a nevar assim. Começou a ventar, muito forte, tanto que não consegui me segurar ao chão. Era tão pequena e estava assustada. Uma baforada me atingiu em cheio, tão forte, tão violenta que me carregou embora. Naquela hora, achei que ia morrer.”

“Foi quando você encontrou o Hyoga?”

Mas Charis não respondeu; nem sequer ouvira o que Lyris dissera. Na verdade, conversava com Hyoga. Começou a chorar, mas não parou de falar.

“Eu caí na neve e fiquei coberta de gelo. Nem conseguia respirar. Foi quando uma mão me puxou para cima, vi um homem. Antes que pudesse observar o seu rosto, ele me enrolou num cobertor e me levou até uma cabana quente, acolhedora. Eu estava com medo. Ninguém naquela terra falava a nossa língua, todos me maltratavam. Eu estava morrendo de medo, apesar de meu pai dizer para nunca demonstrar o medo. Mas o homem sorriu para mim e falou na minha língua; tratou-me com carinho e prometeu coisas. E acima de tudo, cumpriu tudo o que disse. Naquela época eu não imaginava como seria importante para mim ou para os homofalcos. Eu não imaginava que o destino dava voltas tão curtas assim. Mestre… Você carregou feridas no coração para que pudesse nos acompanhar. Mas agora eu quero acompanhá-lo nessa dor, eu quero que Lyris e os outros também o acompanhem. Natássia… Por favor, perdoe-me… Perdoe-me, Natássia. Eu sei que o quer de volta, sei que ele também quer… Mas não estou pronta para devolvê-lo. Não sem agradecer-lhe por tudo o que fez pelos homofalcos. O corpo dele ainda lhe serve, ele não está sozinho… Por favor.”

A garota segurou a mão de Hyoga mais firme e elevou o nível do cosmos. Precisava mantê-lo consigo. Depois sorriu e largou-o.

“Obrigada… Natássia.”

Deu alguns passos tristes para trás e segurou a maçaneta.

“Eu preciso voltar para lá, agora. Sou a líder, eles precisam de mim. Lyris, por favor, não o deixe sofrer. Promete pra mim, sim?”

“O que você fez?”

“Só fiz o mesmo que Hyoga tentou fazer na noite em que Adel morreu. Só que… eu fui um pouco mais teimosa que ele. Quero que meu mestre tenha uma vida longa e feliz. Acho que Natássia me compreendeu.”

E, antes de sair pela porta, acrescentou:

“Cuide para que ele não se arrependa depois.”

Sem compreender, Lyris viu Charis sair e em seguida voar na direção do local da festa. Pousou perto de alguns homofalcos que carregavam tábuas de madeira e pôs-se a coordenar o trabalho. Lyris voltou-se a Hyoga. Não compreendera muito bem o que Charis dissera com relação à mãe de Hyoga, mas deixou o assunto de lado. Voltou a deitar-se e sentiu-se sonolenta. Aconchegou-se ao lado dele, ainda segurando-lhe a mão. Observou-o demoradamente, temendo que, no fundo, Hyoga não abrisse mais os olhos.

Estava quase dormindo, quando sentiu um aperto na mão. Imediatamente todo o sono desapareceu, e ela fitou-o esperançosa. Hyoga abriu os olhos, piscando-os várias vezes.

“Hyoga!”

O rapaz sorriu-lhe. Acolheu-a nos braços, aceitando os carinhos, e beijou-lhe a testa.

“Desculpe por fazê-la esperar. Passei um tempo conversando com minha mãe. Estava tão bom que não quis parar. Mama também não queria que eu saísse de perto dela.”

“Sua mãe?”

“Sim… Há pouco, Charis interveio na conversa… Onde ela está?”

“Está cuidando dos preparativos da festa de comemoração pela derrota de Prometeu. Mas realmente ela saiu há pouco tempo… Pediu perdão à sua mãe e depois saiu… Eu não entendi o que houve.”

“Ela deve ter sentido o meu cosmos e veio para despertar-me… É, acabei preocupando vocês. Desculpe. Assim que conseguir me levantar, conserto o vidro da estufa. E agora que estamos a salvo, posso passar mais tempo com Iakodos… Também há o Nicholas… E muito trabalho pela frente.”

Ainda com o relato sobre a conversa com a mãe, Lyris voltou ao assunto.

“E sobre o que vocês conversaram? Você e sua mãe?”

“Sobre tudo, Lyris. Contei para ela tudo o que aconteceu na minha vida desde que ela se foi no naufrágio. Como havia muito assunto, acabei demorando demais. Mas… o importante é que consegui deixá-la contente. E agora… É a sua vez.”

Hyoga forçou-se para sentar-se e gemeu de dor. Lyris tentou segurá-lo, mas o cavaleiro mostrou-se irredutível.

“Não… Seus machucados ainda estão…”

“Não vou ficar parado”, cortou ele. “Não quero perder essa festa. Vamos, ajude-me a levantar. Trocarei esse vidro agora mesmo e logo iremos nos divertir com todos. Só depois disso poderei parar para pensar no futuro. Afinal… Foram quatro anos sem respirar. Não sei quando conseguirei festejar de novo.”

E segurando-lhe a mão, sorriu, suportou a dor do ferimento, levantou-se e prosseguiu.

FIM

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Notas:


Enfim! Depois de muito tempo (e de muito enrolar), finalmente Prisão das Asas chegou ao fim! Espero que todos tenham gostado do final da história, que levou um bom tempo para ser escrita, em uma fase importante da minha vida. Quero agradecer a todos vocês, que conseguiram chegar até aqui, no que corresponderia à pagina 397 do meu documento do word, o que está longe de ser pouco! Espero que a fanfic tenha rendido boas horas de diversão para todos vocês! Muito obrigada por terem lido! :D

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