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[Original] As Origens de Sebastian - Capítulo 3, escrita por Andreia Kennen

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Autora: Andréia Kennen
Fandom: História Original
Classificação: 18 anos
Gêneros:  Aventura, Drama, Fantasia, Lemon, Mistério, Romance, Suspense, Tragédia, Yaoi
Resumo: Na Inglaterra da idade média, uma família cavalgava junta quando o cavalo do filho se desgovernou e, após avançar assustado em meio a densa floresta, derrubou o menino e desapareceu. O jovem, ferido e sem poder se denfender acabou sendo encurralado por lobos ferozes. No entanto, um belo e estranho animal o salva. E a partir deste momento, humano e criatura partilharão de um amor aparentemente inconcebível.


As Origens de Sebastian

Capítulo III – Segredos

No dia seguinte, a mãe de Crispian ao sentir falta do filho na mesa do café o procurou em seu quarto. Mas só foi atendida por ele após insistentes batidas na porta de madeira pesada e surpreendeu-se ao ver olheiras profundas e a expressão cansada de Crispian.

— Não está se sentindo bem, príncipe? — ela perguntou, preocupada.

Não aguentando se manter de pé devido a fraqueza nas pernas, Crispian apoiou o corpo no beiral da porta e procurou tranquilizar a mãe.

— Só não dormi muito bem durante a noite, mãe. Mas estou bem. Juro. Deixe-me repousar mais um pouco? — ele pediu.

— Sim, claro. Descanse. Mas... ­— Francine franziu o cenho levemente e encarou o filho que esfregava um dos olhos com o punho esquerdo fechado. — Por que trancou sua porta, Crispian? — ela o questionou, com o pressentimento materno de que o filho estava lhe escondendo algo.

O rapaz parou de esfregar os olhos e os fixou no semblante desconfiado da mãe.

— Por que não sou mais uma criança e quero ter minha privacidade. — respondeu simplesmente, tentando não soar malcriado.

A mulher entreabriu os lábios tencionando argumentar, porém, não encontrou exatamente o quê dizer e decidiu não se pronunciar. Era a primeira vez que ouvia o filho lhe falar em privacidade. Era uma donzela que se casou pura aos quinze anos. Não tivera irmãos e por isso não entendia bem como a natureza de um jovem rapaz funcionava. “Edward certamente saberá lidar com essa situação” ela se autoconsolou.

— Certo. — concordou, mesmo não satisfeita com a resposta. — Eu trarei seu café da manhã.

— Não precisa se incomodar com isso, mãe. — o rapaz apressou-se em dispensar a cordialidade da mãe, justificando-se em seguida: — Estou sem fome. Quero apenas descansar. Mais tarde a acompanharei no jantar.

Francine não compreendia, mas concordou com um breve meneio de cabeça. Depois disso se afastou a passos comedidos, até ouvir a porta do quarto de Crispian sendo trancada novamente.

Durante todo dia, mesmo ocupada com seus afazeres, Lady Francine não conseguiu parar de pensar no filho. Que só saiu dos seus aposentos quando já era quase noite. Os dois se sentaram à mesa para jantarem juntos como ele havia prometido, — como era habitual —, mas Francine se surpreendeu novamente, desta vez com o apetite feroz do filho e com seus modos poucos cordeias à mesa.

— Que modos são esses, Crispian? Está parecendo mais feroz que o Earthen. — ela o repreendeu ao vê-lo destrinchando o faisão assado ao centro da mesa com as próprias mãos.

O rapaz não deu atenção a reprimenda da mãe e continuou mastigando a carne com a boca aberta e tomando grandes goles de vinho para ajudar o alimento a descer mais rápido.

— Pelo menos, parece mais disposto do que hoje de manhã... — ela se resignou ao justificar para si mesma que os maus modos do filho a mesa era devido a fome.

— Sim. Dormi durante o dia inteiro, me sinto renovado.

— Não deveria ter dormido o dia todo, meu filho. Ficará sem sono durante a noite.

— Não me importo. — Ele disse, entornando a caneca de bebida, deixando o líquido transbordar pelos cantos da boca e escorrer pela lateral do pescoço. Ao terminar bateu o copo na mesa, arrotou e limpou a boca com o antebraço.

Francine balançou a cabeça em negação.

— Que modos plebeus são esses, meu filho? Nem parece pertencer a uma família nobre.

— Eu sou um homem acima de tudo, minha mãe, e não uma donzela que precisa ter tantos modos. — ele a respondeu e se levantou, apanhando a bandeja com os destroços do faisão. — Vou levar o restante dessa carne caso sinta fome durante a noite. Ah, o vinho também. — disse, apanhando a garrafa e colocando-a debaixo do braço. — Boa noite, milady!

A mulher nada respondeu, apenas continuou fitando as costas do filho até ele desaparecer das suas vistas, chocada.

— Deus... O quê foi isso?

...

De volta ao seu quarto, Crispian sorriu admirado ao entrar e ver Earthen novamente em sua forma humana e em pé, totalmente nu, diante da janela aberta que trazia para dentro do cômodo uma brisa fresca.

Deixou a bandeja e o vinho sobre o gaveteiro e se aproximou do homem-lobo, notando, só naquele momento, o quanto ele era alto.

— Você tem a estatura de um cavaleiro — observou e logo mudou de assunto. — Veja. Trouxe o restante do faisão do jantar. Está delicioso. Deve estar faminto também.

Earthen ficou onde estava e apenas olhou para a bandeja com um ar de repulsa, fazendo o sorriso na face do seu mestre se desfazer.

— O que foi?

— Carne morta.

— Você não gosta?

— Eu diria que... não satisfaz meu paladar.

— Mas antes...

­— Sim. O alimento humano não me faz mal algum. Mas isso de longe significa que ela me faça bem, que me sustente ou até mesmo sacie a minha fome.

— Então, conte-me o que agradaria seu paladar, Earthen. Diga-me e eu mandarei buscar imediatamente.

Earthen admirou o semblante do seu jovem amo corando devido a exaltação. Sentia o cheiro do sangue dele correndo mais rápido nas veias, ouvia sua pulsação, o coração acelerando, era a excitação que tomava rápido o corpo dos mais jovens. Deslumbrou-se. Por mais que vivesse anos, décadas, eras, jamais deixaria de se surpreender com a beleza da reação de um ser humano dominado pelo poder da paixão. Um poder capaz de transformar.

Mantendo os olhos fixos nos de Crispian, Earthen apanhou o punho dele e fez uma pequena incisão na pele alva do jovem nobre. Bastou um toque singelo e a unha afiada fez um corte suficientemente profundo pra fazer o carmesim brilhante fluir do pulso do rapaz em grande quantidade. O homem-lobo elevou o punho dele até a altura da sua boca e lambeu o filete de sangue que escorria antes dele pingar no chão. Depois disso, cobriu o ferimento com sua boca.

Crispian prendeu a respiração ao sentir o sangue de suas veias serem sugados rapidamente. A princípio não sentiu dor, não enquanto Earthen manteve somente a sucção, mas a partir do instante em que as presas dele se cravaram em sua carne a situação mudou bruscamente. O ardor que sentiu podia ser comparado como perfurações causadas por lâminas aquecidas em brasa. Ele apertou o antebraço e esforçou-se para evitar o grito, tanto que sua face foi coberta por um rubro intenso. Ajoelhou-se e, quando a dor se tornou praticamente insuportável, implorou para que Earthen parasse.

— E- Earthen... Dói... Dói muito. P- Pare..., por favor...

Earthen ouvia o clamor de Crispian, mesmo que seus olhos desfocados demonstrassem que sua consciência fazia parte de outro plano, e aquilo que o guiava naquele instante eram somente o instinto e a fome quase insuportável de destrinchar a carne do seu jovem amo e se alimentar como há muito não fazia.

Mas ainda havia uma gota de consciência e essa foi o suficiente para fazê-lo retroagir as presas e soltar do punho do seu amo antes que drenasse dele parte da essência necessária para ele continuar vivo.

— Perdoe-me, amo? — pediu, abraçando-se ao jovem ajoelhado no chão. — Eu não tive essa intenção. Não consegui me conter...

Crispian respirava com dificuldade, apertando o ferimento com a outra mão. Mas assim que a dor se amenizou ao ponto de deixá-lo raciocinar correspondeu ao abraço.

— Não peça perdão, Earthen. A culpa é minha por não compreendê-lo. Por fazê-lo ficar. Por escolhê-lo. Se meu sangue é o que te satisfaz, acho justo que o tome.

— Não. — Earthen o contradisse. — Isso pode lhe levar a morte, meu amo. Não me dê essa permissão. Repreenda-me. Castigue-me. Nenhum ser humano sobrevive se perder boa parte da sua essência.

Crispian desvencilhou-se de Earthen e o observou. Percebeu que os olhos azuis estavam estranhos, mortiços, manchados de rubro.

— O quê é você então, Earthen?

— O quê acha que eu seja, amo? — teve a pergunta rebatida.

O rapaz ergueu os ombros.

— Já disse o que penso. Que foi enfeitiçado. Ou... de repente é o filho de uma loba que foi emprenhada por um humano. Ou... quem sabe... foi mordido por um animal que o transformou nisso?

O homem sorriu.

— Por que está rindo? Está zombando de mim?

— Ao contrário. Sua inocência me cativa, meu amo. Mas não é estranho que pense assim, afinal jamais esteve além dos limites dessa propriedade.

— Se eu estivesse ido além saberia o quê você é?

— Não exatamente, meu amo. Perdoe-me se fui rude.

— Apenas me explique.

— Eu só quis dizer que sua percepção é inocente devido as suas próprias suposições, meu amo. Não desacredito que haja feiticeiros humanos, — apesar de nunca ter me deparado com um —, mas não creio que sejam poderosos suficientes para enfeitiçar um homem ao ponto de transformá-lo em um animal. Também não acredito que a cria de um humano com uma loba geraria, perdoe-me a narcisismo, algo com a minha beleza. O nascimento poderia até ser concebível, a natureza é um grande enigma, mas se tal criatura fosse gerada seria uma aberração; um monstro.

— Bravo. Eliminou todas as minhas suposições.

— Irá me amar menos se descobrir o que sou?

Crispian manteve o olhar endurecido sobre seu lobo, mas a única certeza que ainda reinava dentro de si, — mesmo tendo o pulso latejante da dor que sentira há pouco —, era que jamais poderia afirmar aquela resposta. Então, foi sincero.

— Eu o amo há oito anos, Earthen. Eu nunca quis lutar contra esse sentimento. Isso não mudou e nem irá mudar, seja qual for o seu segredo.

Crispian continuava encarando Earthen seriamente quando viu os lábios dele se moverem. Sabia que ele havia dito, entendeu o que aqueles movimentos lhe disseram, mas era como se não a tivesse ouvido. A voz de Earthen sumiu no momento em que ele proferiu a última palavra. Apesar de que tinha certeza de tê-la ouvido. Sentiu a respiração ficar tensa e o coração disparar. Ao observar o punho ferido, Crispian notou que os orifícios causados pelas presas e pela unha de Earthen estavam secos, como se tivessem sido cauterizados. A dor do ferimento retornou com força.

— Está com medo.

Crispian ergueu os olhos para Earthen, sentia seu corpo tremendo.

— O que você disse?

— Que está com medo.

— Antes.

— Eu sou um...

— Não! — Crispian o interrompeu, fechando os olhos e os punhos sobre o colo. — Eu não acredito no que disse! Está mentindo!

— Olhe para mim. — Earthen pediu e Crispian o encarou. — Eu sou mesmo um...

— Não! — o rapaz não o permitiu concluir novamente. — Como posso acreditar no que está falando quando me encara com esses olhos gentis? Você salvou minha vida, Earthen! Brincou comigo quando eu era uma criança. Tomou meu corpo na noite anterior... Me fez sentir prazer. Como pode ser isso que me diz ser? Como pode me dizer agora que saiu das profundezas do inferno?!

— Eu não “saí das profundezas do inferno”, meu amo. Nenhum de nós pode ultrapassar para esse plano tão simplesmente como se houvesse uma porta aberta. Há regras.

Crispian juntou as sobrancelhas.

— Regras?

— Sim. A única forma de estar nesse mundo é nascer nesse mundo, como eu nasci.

— Não pode está falando a verdade. Do quê você nasceu?

— Do que mais seria se não de humanos?

— Acabou de me dizer que minha suposição de que a cria de um animal com um humano seria inconcebível nesse mundo, agora está me dizendo que seres humanos dão a luz a...

— Demônios? ­— Earthen completou a frase finalmente, sorrindo de lado. — Diga, meu amo. Não tenha medo de uma mera palavra.

— Mamãe nunca gostou que eu pronunciasse essa palavra, ela dizia que atrairia.

— Talvez ela tenha razão. Eu estou aqui não estou.

— Diga-me a verdade, Earthen!

— Só estou lhe dizendo a verdade.

— Então, humanos podem dar a luz a... demônios? Como?

— Basta cometerem o Pecado Principal.

— Pecado Principal? O que é isso?

— Quando um humano que jurou castidade, que jurou ser um sacerdote e servir somente aos propósitos de Deus, quebra os seus votos ao se deixar levar pelo o desejo da carne, ela está cometendo o Pecado Principal. Se no ato do Pecado Principal uma vida for gerada, essa vida nascerá condenada, corrompida, um recipiente vazio de uma alma pura, perfeito para alojar algo como eu.

— Está me dizendo que é filho de um padre que quebrou o celibato?

— Exato, meu amo. Entenda que não me refiro ao servo que renuncia e só depois se entrega ao amor. Mas sim aquele que se entrega antes mesmo de renunciar.

— Então devem existir outros iguais a você.

Earthen concordou.

— Nem todos exatamente a minha imagem, mas sim, existem outros.

— Todos se transformam em lobos?

— Eu diria que existem “espécimes” diferentes. Existem àqueles que podem se personificar em seres rastejantes, da água, do céu... É mais fácil sermos aceitos como um animal diferente do que como um homem diferente.

— Mas você nasceu com a aparência humana?

— Sim.

— Porque não consegue se manter humano então?

— Eu consigo, se eu tiver energia suficiente para tal.

— Essa energia vem da lua cheia?

— Não, amo. Vem da carne e do sangue que consumo.

O jovem nobre arregalou os olhos, em seguida fitou seu ferimento no braço.

— Então, você não saía para acasalar. Saía para caçar... humanos? Você tira a vida de um ser humano a cada mês? — Crispian perguntou, enquanto dedilhava seu ferimento.

— Sangue e carne humana são iguarias nobres, refeição de luxo para um monstro como eu. Mas eu posso muito bem sobreviver só com o sangue e a carne de animais. Também posso me saciar com a mesma quantidade que tomei de suas veias. Por isso, para mim, matar um humano sempre é a última opção.

— Por quê? Não é sua função nos levar para o inferno?

— Eu não sei qual é a minha função nesse mundo. Não sei onde está escrito essa regra de que devo enviar almas para o inferno e mesmo se tivesse certeza de que essa é a minha função, eu não faço ideia de como executá-la. Eu tive pais, eles eram humanos e me amaram até morrerem. Eu também sinto que os amei. O mesmo ocorreu com outros mestres que me acolheram. Se eu sigo alguma função é a de amar aqueles que me amam da mesma forma.

— Essas joias que carrega são adornos do seu antigo amo?

— Sim.

— Ele sabia o que você era?

— Sempre soube.

— Você fazia com ele o que fez comigo?

— Sirvo meus amos da forma que eles desejarem.

— Então é por isso que sabia tão bem o que estava fazendo...

— Creio que sim.

Earthen notou a feição de Crispian enrijecer.

— Está chateado por saber que já amei outros homens ou por saber que sou um demônio que não o levará para o inferno?

— É estranho, não é? Ao invés de me preocupar com o que você é, sinto raiva. Raiva de saber que você nunca será só meu.

­— É um ciúme descabido, meu amo. Nesse momento, e até quando me desejar do seu lado, você será meu único amo.

— Por que me escolheu?

— Não fui eu quem o escolhi, meu amo. A escolha foi sua. Não se lembra?

Crispian sorriu.

— É verdade. Eu o desejei para mim no momento que coloquei os olhos em você na floresta.

— Sim. Foi isso que aconteceu.

— Jura então que, enquanto eu viver, você será só meu, Earthen?

— Em nome de quê um demônio deve jurar?

Crispian inspirou e espirou.

— Não faço ideia...

O demônio apanhou Crispian pela mão e o levantou. Após acariciar sua face Earthen o despiu e em seguida se ajoelhou diante do ventre dele e o fez gozar com o sexo oral. Depois o virou e o fez gozar mais uma vez enquanto lubrificava com a língua seu orifício anal.

Mal havia se recuperado do segundo orgasmo e Crispian se deixou ser tomado de quatro. Seu corpo se incendiava com as estocadas profundas do amante. Não havia receio e nem preocupações enquanto sentia o sexo dele estocando e se alojando em seu interior. Quando as contrações começaram, cobriu a boca para abafar os gemidos, mas Earthen a destampou, puxando seu pescoço para trás e beijando sua boca.

Exausto, Crispian descansava com a cabeça no peito de Earthen quando o questionou.

— Será que todos são tão sedutores iguais a você?

— Como, meu amo?

— Achei que fossem monstros horríveis, cheio de chifres, com um rabo pontiagudo, caras monstruosas, fedor de enxofre...

Earthen sorriu.

— Desculpe-me decepcioná-lo, meu amo.

Crispian também sorriu, enquanto sentia o peito de Earthen subindo e descendo.

— Sabe... Não me importo de ter a minha alma levada para o inferno, se eu puder tê-lo enquanto eu viver, Earthen.

— Está querendo selar um pacto comigo, jovem amo?

— Sim. — Crispian sussurrou. — É o que eu mais desejo...

Continua...

Notas finais do capítulo

Acho que já fez anos que não atualizo essa original. Mas comecei a receber MPs de leitores que queriam mesmo ver a continuação da história e por isso, ela está sendo atualizada. :D

Então, já sabem! Curtam a história, dê jóinha, mandem sinal de fumaça, espalhem pelo globo, comentem! Está é a forma dessa serva aqui saber que tem gente acompanhando, curtindo e sentindo falta das atualizações, né? :D

Já estou na metade do próximo! Então, espero não demorar muito fazer uma nova atualização.

Beijos, me liguem!

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