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[Saint Seiya] Prisão das Asas - Parte 29, escrita por Nemui

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Autora: Nemui
Fandom: Saint Seiya
Gênero: drama, aventura
Classificação: 16 anos
Status: Completa
Resumo: A vida de Hyoga se transforma quando entra em contato com um mundo completamente diferente do seu.


Zarek não estava disposto a manchar seu nome sendo um mau discípulo. Quando Hyoga voltou da ronda, mais cedo para ter tempo ao novo aluno, surpreendeu-se ao vê-lo de pé no centro da área de treino, fitando-o serio e fixamente.

“Eu já estou pronto, mestre! Pode começar quando quiser.”

“Parece bem disposto hoje, Zarek. Está tão ansioso para começar o treino?”

“Sim!”

“Está certo. Você já tem idade para ser cavaleiro, sabia? Quando eu tinha a sua idade, já dominava os principais golpes de gelo. Não pretendo ensinar-lhe novos ataques, apenas fortalecer as técnicas que Evan já lhe passou. E a melhor forma de fazer isso é lutando. Está pronto?”

“Sim!”

”Então vamos!”

Hyoga sabia que não podia atacar com muita severidade sem saber ao certo o quão hábil era Zarek. Entretanto, não estava disposto a mostrar que o treino seria fácil. Avançou rapidamente sobre o discípulo e aplicou-lhe um golpe no estômago que o atirou para trás. Não fora tão forte quanto rápido. Apesar de ter tentado desviar, Zarek sentiu o ataque e pôs a mão direita sobre o ferimento.

“Já está sentindo? Pensei que fosse mais forte que isso. Não… Charis era mais forte que isso. Vamos, garoto!!”

Com o cosmos livre pelo resto da tarde, Hyoga podia treiná-lo da maneira como gostaria de ter feito com Charis quando tivera tempo. Mesmo que precisasse concentrar-se naquele rapaz à sua frente, não conseguia tirar a discípula da mente. Zarek utilizou as asas e fugiu de seus ataques, mas Hyoga não se intimidou. Antes que o rapaz tomasse uma distância segura, atirou um ataque de gelo que atingiu uma das asas e o derrubou ao chão.

“Seu covarde! O que pensa que está fazendo, fugindo desse jeito? É essa a sua determinação? Venha lutar, Zarek!”

Fitando-o, Zarek desembainhou a adaga que levava na cintura, mas Hyoga rapidamente respondeu com outro ataque de cosmos, que congelou a arma e a fixou na cintura do rapaz.

“Eu o proíbo de usar armas! Se quiser me enfrentar, faça-o com as mãos!”

‘Ele está chocado. Não está acostumado a um treino assim. Evan não os ensina a lutar assim, mas é isso que encontrarão no campo de batalha. Não é certo.’

“Se quiser virar um bom guerreiro, precisa aprender a lutar, Zarek! É esse o resultado do seu treinamento? Estou desapontado.”

Zarek queimou o cosmos correu para um ataque. Hyoga esperou, pois queria ver como o rapaz se sairia naquela investida. Quando chegou perto o suficiente, não lançou o ataque: utilizou o cosmos para saltar por cima de Hyoga e tentar cair atrás para atacá-lo pelas costas. A reação do cavaleiro foi um chute que o atirou para longe.

“Muito lento!”

Como Zarek estava demorando a levantar-se, Hyoga resolveu avançar antes. O homofalco apressou-se e conseguiu desviar do primeiro soco, mas não do segundo.

“Muito lento, muito mole! Já era para estar morto numa luta de verdade.”

O sangue escorria do nariz do rapaz, que tentou ignorar a dor e prosseguir. Levantou-se e assumiu postura de batalha, mas estava visivelmente abalado.

“Está assustado? Posso ver que está com medo da minha próxima investida. Zarek, nunca demonstre o medo na frente de seu adversário. Mantenha a calma e pense numa maneira de derrotá-lo. Se deixar que o medo o domine, perderá o controle sobre si mesmo.”

“Sim!”

Mesmo se esforçando, estava claro para Hyoga que Zarek estava assustado demais para conseguir manter a calma. ‘Ele é bem diferente da Charis’, pensou, ‘é um medroso. Por mais ferida que ela ficasse, nunca demonstrava esse medo. Bem, pode ser bom ou pode ser ruim, depende dele.’

“Você tem um objetivo, não é? Pense nele e lute!”

Hyoga voltou a avançar, tão feroz quando nas outras investidas. Seu soco se dirigia ao peito de Zarek, que cruzou os braços à frente e foi empurrado pela enorme onda cósmica produzida pelo mestre. Caiu sobre algumas pedras e partiu-as com as costas, mas logo se levantou ao perceber que Hyoga não desistira de atacar. Correu em círculos, da mesma forma que Hyoga, na busca de uma brecha para atingi-lo. Quando achou que Hyoga baixara a guarda, avançou, mas o experiente guerreiro simplesmente devolveu o ataque com o dobro de força.

“Você é muito precipitado. Se eu mudei minha posição, é porque havia um propósito para isso! Você está apostando a vida na luta, não seja descuidado! Arriscar a vida na batalha não significa morrer estupidamente!”

À medida que Hyoga devolvia os ataques de diferentes maneiras e apoiado no conhecimento de luta que possuía, Zarek ia se acostumando ao ritmo do mestre e se acalmando. Por conseguinte, passou a elaborar planos de ataque com mais calma e concentração. Numa das tentativas, seu punho passou a poucos centímetros do rosto de Hyoga, o que o fez aumentar a força dos contra-ataques.

“Você é esperto, gosto disso. Mas ainda lhe falta muita experiência de luta para cair num campo de batalha de verdade, garoto. Vamos, continue a atacar. Não perca o foco!”

Zarek continuou a atacar, apesar dos ferimentos. O sangue escorria dos braços, da cabeça e de um corte no abdome, havia inúmeros hematomas cobrindo-o. Hyoga só não interrompera o treino porque queria saber até onde o rapaz agüentaria e o quão determinado ele estava.

‘Não vai demorar. Se ele não desistir, eu mesmo terei de parar a luta.’

O homofalco tentou bater as asas, mas elas ainda estavam congeladas. Tentou, então, queimar todo o cosmos que tinha no corpo para tentar um ataque. Era um golpe que ainda estava desenvolvendo e que não estava completo, mas sua última esperança. Saltou sobre Hyoga com o cosmos flamejante em mãos.

“Sun-Blaze Punch!”

O raio incandescente desceu até Hyoga com a força de um ataque de um aprendiz a cavaleiro no quarto ou quinto ano. Hyoga desviou-se facilmente e percebeu que Zarek ficava extremamente vulnerável quando o inimigo conseguia desviar de seu ataque. Aproveitando a brecha, socou diversas vezes no ar com o cosmos, espirrando gotículas de sangue a cada golpe. O último soco atirou-o longe e encerrou a batalha de uma vez por todas.

“Chama isso de ataque? É tão lento e vulnerável, é um chamado para a morte, garoto!”

Zarek gemeu e pôs-se de quatro, na tentativa de levantar-se. Estava tão ferido que era impensável continuar lutando, mas conseguiu levantar-se a muito custo e reassumir a postura de batalha. Hyoga não teve dúvidas: havia algo forte demais o motivando.

“Ainda quer lutar? Você não tem mais condições para isso. Já gastou todo o seu cosmos, eu o atingi em pontos vitais.”

“Não! Eu preciso!”

O rapaz correu em sua direção com o punho erguido, numa tentativa louca e fútil. Hyoga devolveu-lhe um soco e segurou-o para que não mais se levantasse.

“Pare com isso! Já disse que você não tem mais forças! Você perdeu, Zarek. Descanse meia hora, depois disso… Deve derreter esta coluna de gelo com seu cosmos ridículo. Duvido que consiga.”

Com o cosmos, Hyoga ergueu uma parede de gelo que só descongelaria com um cosmos superior a de um cavaleiro de bronze. Provavelmente ela ficaria ali por dias, e por isso Hyoga a colocou longe do campo de treino central para manter o espaço para a luta. Zarek ajoelhou-se e tirou a camisa, mostrando as costas marcadas com os castigos de Evan. O cavaleiro ignorou-o e voltou para casa a fim de comer um lanche antes de trabalhar na construção da estufa.

“Vista essa camisa, eu não sou o Evan para castigar ninguém. Se quer ser forte, faça o que mando. Provavelmente não conseguirá descongelar esse gelo hoje.”

E entrou na cabana como se não tivesse feito nada além de um leve exercício.

———————————————————————-

“Ele ainda está tentando?”

“Sim”, respondeu Hyoga, olhando para o campo através da janela. Lyris colocou o prato de comida à sua frente e pôs os talheres ao lado. Hyoga sempre se sentia estranho por comer enquanto ela apenas servia-o como uma garçonete. Entretanto, era assim que os homofalcos agiam no cotidiano e como ela precisava ser.

“Aquele rapaz é um bom discípulo, não é?”

“Mais ou menos. É esforçado, mas não tem feito muito progresso. Aquela coluna de gelo continua lá, mas ele tenta o dia inteiro. Já até cansei de vê-lo ali.”

“Não está sendo insensível demais, Hyoga? Você disse que ele tentou a noite inteira no primeiro dia de treino.”

“É, fiquei surpreso com isso. Há algo nele… Existe algum motivo muito forte que o levou a este treino, só não sei o quê. Não conheço aquele garoto.”

“Zarek… Ele é órfão se não me engano, mas tem um irmão mais novo. Acho que ele deve ter uns quatro anos de idade.”

“Muito novo. Ele não devia estar cuidando do irmão numa hora dessas?”

“Dizem que tudo na casa dele é ajeitado para o irmão, e por isso ele consegue tempo para treinar. Mas deve ser solitário para o pequeno, não acha?”

“Ainda acho perigoso, quando se trata de uma criança tão nova. Talvez eu devesse trazê-la para que ele possa treinar com mais calma. Zarek tenta, mas perde a concentração muito rápido.”

“Acha que pode ser por causa do irmão?”

“Eu me preocuparia, você não? Posso trazê-lo enquanto ele treina, Lyris?”

“Não tenho objeções, querido.”

“Desculpe. Eu só dou trabalho, não?”

A esposa sorriu e serviu-lhe mais vinho.

“Eu gosto de crianças. E também gosto de ver como você cuida dos outros.”

Grato, Hyoga comeu com gosto e depois saiu de casa para acompanhar o treino de Zarek. Aproximou-se e sentiu o nível do cosmos do discípulo. Havia alguma mudança, mas pouca, na maneira como o queimava.

“Você ainda não conseguiu.”

“Desculpe, mestre, é difícil.”

Hyoga sentou-se numa pedra e continuou a observá-lo. Perguntava-se se Zarek teria capacidade de tornar-se um dia um bom guerreiro por seu esforço, mesmo não possuindo a mesma aptidão que os demais homofalcos. Talvez pudesse ser um guerreiro exemplar se tivesse o progresso esperado, talvez não chegasse ao nível de um guerreiro de elite. No entanto, pouco Hyoga podia fazer depois que as bases já tinham sido construídas por Evan.

“Escute, Zarek… No dia dos jogos homofalcos, se bem me lembro, você ofereceu suas asas para carregar Adel, que estava morrendo de sono.”

“Lembro muito bem desse dia”, respondeu o discípulo, parando um pouco para descansar. “Foi um dia empolgante, pois todos os homofalcos estavam reunidos. Depois houve o ataque que o tornou um herói.”

“Você disse que já estava acostumado, porque tinha um irmão menor.”

“Sim, senhor. Meu irmãozinho chama-se Nicholas. É uma peste, mas é a única família que tenho.”

“Pois eu acho que ele está prejudicando o seu treinamento.”

“Como?”

“Quando lutamos, você perde facilmente a concentração, não consegue tirar tudo o que pode de seu cosmos. Eu sei que se esforça, sei que está tentando com tudo o que tem, mas mesmo assim o seu rendimento fica aquém do que espero de um soldado do seu nível. Não estou dizendo que você é fraco, mas que seu progresso é lento. Eu fico me perguntando por que isso ocorre, e acho que é o seu irmão.”

“Mas o que meu irmão tem a ver com o treinamento, mestre?”

“Ele ainda é pequeno, não? Mal sabe se cuidar. Existe alguém que o olha enquanto você fica fora?”

“Normalmente, durante o dia, deixo-o no cercado de casa. De tempos em tempos, passo para alimentá-lo e dar-lhe um pouco de atenção. Ele fica bem. Mas por que quer saber dele?”

“Você se preocupa com ele durante o treino?”

“É claro, ele é só uma criancinha.”

“Eu estava apenas pensando a respeito. Para melhorar o seu rendimento, talvez queira deixá-lo com alguém; assim ficaria com a consciência limpa e poderia treinar com mais tranqüilidade.”

“Eu bem que gostaria, mas não há ninguém que faça isso por mim.”

“Eu faço. Lyris pode cuidar dele durante o dia, o que acha? Ela se dá muito bem com crianças, saberá lidar com Nicholas melhor do que ninguém. Eu devo proporcionar a você condições ideais para que possa treinar com tranqüilidade. Será melhor para você e o seu irmão.”

Um sorriso nervoso surgiu no rosto do discípulo, que negou a oferta.

“Obrigado por preocupar-se, senhor, mas não precisa. Meu irmão e eu não precisamos de ajuda.”

“Do que está falando? Não está pensando que Lyris fará alguma besteira, está? Ela saberá fazer tudo direitinho, você verá. Não quero que você perca tanto a concentração, Zarek, e para isso precisa perder essa preocupação. Por que não quer que eu ajude?”

“Eu… Eu não posso falar, mestre. Mas muito obrigado. Eu prometo que vou prestar mais atenção no treino, não se preocupe.”

Com a resposta, Zarek voltou a treinar com a coluna de gelo, deixando Hyoga intrigado. Uma oferta como aquela era irrecusável, mas Zarek nem sequer a considerara. Havia algo de suspeito, mas ele simplesmente não sabia como devia investigar o caso, ou se era para ser investigado.

“Que pena”, apenas disse, antes de voltar para casa.

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Myles e Hyoga cruzavam a passagem da rua carregando alguns painéis de vidro para vedar a pequena estufa e atraíam olhares de homofalcos curiosos. Fazia uma semana desde que Zarek recusara a oferta de Hyoga, mas o siberiano ainda estava cismado com o episódio.

“Você disse que ele recusou? Mesmo?”

“Mesmo. Achei que pudesse ajudá-lo no treinamento se deixasse o irmão com a Lyris, para melhorar a concentração durante o dia, pois ele tem tido dificuldades para aprimorar o cosmos. Desde que recusou, tenho estado intrigado com essa história toda. Não sei, acho que ele está escondendo algo sobre o irmão. Você sabe de algo?”

“Eu só sei que os pais deles foram mortos por humanos. Foi um massacre, quando o menor ainda era um bebê de colo. Zarek tem trauma até hoje, e talvez isso o atrapalhe no treino… Mas não há nada que eu possa dizer sobre o irmão.”

“Esse irmão… Eu gostaria de vê-lo uma vez. Fiquei curioso depois que Zarek me recusou a ajuda.”

“Por que não vai até a casa deles? Zarek está trabalhando com os pescadores agora, e o irmão está sozinho em casa. Passe duas quadras naquela direção, vire à direita. É a terceira casa à esquerda, se não me engano. Vá lá, olhe o garoto e volte para casa.”

“Você tem razão.”

“Por que não vai agora? Deixe que eu termino de levar esta remessa. É a última mesmo.”

Myles assumiu o controle e pôs todos os painéis de vidro sobre as costas. Por ser pesado, queimou o cosmos e sorriu-lhe.

“Vai ser um bom treino para mim. Vá.”

“Obrigado, Myles.”

Agora que sabia onde Zarek morava, podia verificar por que tanto medo do encontro com o irmãozinho. Caminhou na direção apontada por Myles e alcançou uma velha casa de pouca manutenção. Bateu na porta e, ao constatar que não havia ninguém ali, entrou. A sala tinha apenas uma cadeira e uma mesa desgastadas com o tempo, cobertas de poeira. Viu no canto da sala o cercadinho que Zarek mencionara, mas nele não havia ninguém.

Avançou pelo corredor e abriu cada um dos cômodos, à procura do irmão que parecia inexistente. O último era o quarto do rapaz, onde havia a cama e um berço vazio, apenas com a armação de madeira, roída com o tempo. A ausência de colchão dizia tudo.

Hyoga voltou para a sala e sentou-se à mesa. Não havia nenhum irmão; então, por que Zarek mentira para ele? E se mentira, deveria ser morto de acordo com a lei homofalca. Se tudo continuava nebuloso, agora ao menos descobriria o que acontecia com aquele rapaz que desejava tanto a sua instrução. Com paciência, esperou uma, duas, três horas. Já era tarde quando se deparou com o olhar estarrecido do pupilo ao entrar.

“Mestre!”

“Estive esperando por você, Zarek.”

Assustado, o rapaz tentou sair, mas Hyoga foi mais rápido e puxou-o violentamente pelo braço. Com a força, Zarek caiu no chão no meio da sala. Nervoso, Hyoga não podia mais esperar por uma explicação.

“Se fugir, direi a Myles que mentiu para mim ao dizer que cuidava de seu irmão! Onde está esse garoto de que fala? Onde?!”

Devido ao susto, Zarek não conseguiu responder na hora. Levantou-se, e Hyoga colocou-se à frente da porta da casa, de braços cruzados, fitando-o com semblante severo.

“Eu não vou sair daqui até que me fale. Pode levar o tempo que quiser.”

O rapaz olhou em volta, pensou numa maneira de escapar. Entretanto, que escolha tinha senão contar, já que Hyoga estava bem à sua frente, exigindo uma explicação de que tinha direito? Suspirou desanimado, levantou-se e voltou-se ao fogão da casa. Com o cosmos, acendeu o fogo e pôs uma chaleira com água para esquentar.

“O senhor aceita um chá enquanto conversamos? Não consigo explicar assim.”

Hyoga sentou-se novamente à mesa, mas manteve o olhar sério e severo.

“Eu disse. Leve o tempo que precisar. Mas você precisa me contar.”

Zarek também se sentou e suspirou mais uma vez, desanimado.

“Foi há três anos, quando Aure foi seqüestrada. Naquela confusão, com homofalcos soldados a correr por toda a parte, eu fiquei receoso; voltei para casa para ver se tudo estava bem com o Nicholas. Quando entrei, havia um estranho. Um guerreiro de Prometeu. Ele estava carregando o meu irmão nos braços, brincando com ele como se estivesse ali apenas casualmente. Eu fiquei paralisado de medo. Ele sorriu para mim e disse que meu irmão era perfeito para ele. Eu não sabia o que ele queria dizer com aquilo.”

“O que ele fez com o seu irmão?”

“Eu não podia fazer nada com o Nicholas sob o poder dele. Naquela época, ainda estava aprendendo a lutar, não tinha a menor chance contra um soldado treinado como ele. Ele se levantou e disse para mim que, se eu contasse para qualquer pessoa, Nicholas morreria. Eu acreditei nele, mestre, porque… Porque aquele guerreiro tinha asas. Ele era um homofalco.”

“Ele era igual ao Evan?”

“Não, ele era um homofalco mais velho, tinha até barba grisalha.”

“Átias.”

“Por favor, mestre, não conte para ninguém. Se souberem que eu escondi uma coisa tão importante do resto da cidade, com certeza matarão o meu irmão!”

“Você escondeu isso de todos esse tempo todo?”

“O que eu podia fazer?! É o meu irmão, minha única família, eu preciso protegê-lo!”

Lágrimas escorreram dos olhos do discípulo, que temia por contar ao seu mestre sobre aquilo.

“Eu falhei com ele…”

Cruzando os braços sobre a mesa, Zarek abaixou o rosto para esconder as lágrimas de Hyoga, que finalmente compreendeu o motivo de tanta desconcentração.

“Você… Está treinando para tentar salvá-lo, não é mesmo? Quer ficar mais forte para resgatá-lo dos guerreiros de Prometeu.”

“Eu queria ser forte… Forte o bastante para protegê-lo, mestre. Mas eu não… Eu não tenho o menor talento para a luta. Por mais que me esforce, eu não consigo atingir o nível necessário para derrotar aqueles monstros. Mas, mesmo que eu morra, eu quero resgatá-lo. Eu quero o meu irmãozinho de volta.”

Hyoga suspirou e observou-o chorar em silêncio, sem saber o que fazer. Quando a água ferveu, ele mesmo se levantou para preparar o chá.

“Eu sinto pelo seu irmão. Tenho um amigo que se tornou um dos cavaleiros de Athena mais poderosos para proteger o irmão mais novo. Ele conseguiu, mas só depois de muito sofrimento. Você trilha o mesmo caminho, Zarek. É um caminho que nem sempre termina bem, eu sei bem disso.

“O que houve com esse seu amigo?”

“Ele e o irmão são cavaleiros de Athena. Muito vivos e unidos, por sinal. Mas ambos lutaram quase até a morte para conseguir isso, Zarek, tiveram de arriscar as vidas. Você está disposto a isso?”

O rapaz levantou-se imediatamente, como se estivesse se apresentando ao treino.

“Eu estou! Eu posso até morrer, mas quero trazer o meu irmão são e salvo para cá! Eu preciso disso, mestre!”

Hyoga respondeu com um sutil sorriso.

“Muito bem. Então eu vou ajudá-lo. Mas Myles precisa saber do que houve, Zarek, é muito importante isso. Não posso mentir para ele, mas posso fazê-lo prometer que agirá como se não soubesse nada. Se tiver paciência e calma, nós podemos pensar num modo de salvar o seu irmão. Eu lutarei para que isso aconteça.”

“Obrigado, mestre… Por favor, não deixe que Myles aja publicamente.”

Hyoga preparou os chás e voltou à mesa, mais calmo. Agora que conhecia o problema do discípulo, podia voltar ao treino sem maiores preocupações. Afinal, havia um forte motivo para esforçar-se além dos limites de um soldado comum. Quando um novo ataque ocorresse, a determinação e a vontade de jovens como Zarek poderiam mudar a balança da vitória.

“Ele não fará isso, não se preocupe. Myles sabe onde tem a cabeça. Mas quanto a você… Precisamos treinar mais. Você está muito fraco para enfrentar guerreiros de Prometeu. Se quer seu irmão de volta, precisa confiar em mim e ter em mente que os homofalcos o seqüestraram com alguma finalidade. Enquanto não descobrimos qual é, podemos presumir que ele está bem. O dia do reencontro de vocês chegará, mas você precisa estar tão forte quanto um guerreiro de Prometeu nessa ocasião, entendeu?”

“Eu entendi. Prometo que vou dar o máximo de mim no treino.”

“Muito bem, é assim que quero ouvir. Vamos trabalhar juntos nisso.”

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