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[Original] Os Aventureiros de Aurora - Capítulo 3, escrita por Andréia Kennen

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Autora: Andréia Kennen
Fandom: História Original
Classificação: inicialmente 14 anos
Gêneros:  romance, aventura, fantasia, drama, yaoi.
Resumo: Cristal sonhava em ser um Alfa e viver grandes aventuras ao lado de um Domador de Dragão. Para realizar seu sonho, tornou-se o melhor aluno da academia Sonar. Porém, nada fora como ele realmente esperava que seria, a começar por seu Domador...


Os Aventureiros de Aurora

Capítulo 3

Um mês depois...

A tormenta afetava a visão do Domador e do seu Alfa, que corriam montanha acima a fim de alcançar o Dragão Alcon.

— Essa tempestade é uma ilusão! — gritou Ryoha para o Fairy que voava ao seu lado em modo reduzido. — Ele está apenas tentando nos confundir!

— Está enganado. Essa tormenta é de verdade. A única espécie de Dragão que consegue criar ilusões são os Dragões Brancos da Névoa. Mas você está certo em parte. A tormenta está sendo provocada por ele, pois suas rajadas de fogo em contato com o clima frio dessa região estão criando as nuvens de chuva.

— Você sempre quer saber mais do que eu...

— Quê?! Não estou querendo saber mais do que você! Estou falando com base no meu conhecimento. E dá pra perceber que não é uma ilusão porque estamos sentindo a tempestade, oras!

— Não me venha com merda. Eu tenho certeza de que os Alcons também são capazes de criar ilusões sobre chuva.

— Estou dizendo que está se confundindo!

— Ah! Isso não interessa também. Precisamos alcançá-lo e detê-lo antes que chegue ao topo da montanha, pois ele precisa de impulso para alçar voo e se ele conseguir, nós o perderemos — o Domador disse, tirando das costas a espada de prata. — Preciso que use sua magia para aumentar o tamanho dela.

— Mas já decidiu como irá detê-lo? Por que a espada?

— Não é óbvio? Vou cortar uma das asas e isso o impedirá de voar.

— Você está maluco?!

— Quem está maluco aqui, Cristal?

— Esse Dragão não é do tipo que possui propriedades regenerativas. Se você cortar a asa dele ela não irá crescer novamente. É um Dragão alado. Ser impedido de voar é o mesmo que aleijá-lo. Ele irá entrar em depressão e morrer!

— É um Alcon, Cristal! Você sabe quantos pontos ganharei se o capturar? Estarei apenas a três mil pontos de conseguir a pontuação necessária para fazer o teste para me tornar Caçador e conseguir meu objetivo de matar aquele monstro desgraçado que exterminou meu clã. Eu não me importo se esse Dragão aí vai ficar aleijado ou não.

O Fairy se deteve no ar e seu Domador seguiu em frente. Um pequeno foco de luz lilás brilhante em meio àquele fim de tarde turbulento e obscuro. Observou seu mestre avançar sem se deter, como se estivesse possuído por entidades demoníacas, um ser demente em meio à tempestade. Era como uma visão prévia do assassino que ele tanto almejava ser.

Nada havia sido como Cristal imaginara.

Ao longo daquele primeiro mês em que trabalharam juntos, Ryoha apenas lhe mostrara o lado ruim da natureza humana. Cristal havia ouvido muitos mitos sobre os humanos terem uma capacidade maior de “amar” os semelhantes que qualquer outro ser. Mas Ryoha parecia desprovido dessa parte. Se existia aquela capacidade dentro dele, ele a havia convertido em ódio.

Não fora para aquilo que Cristal havia se tornado um Alfa.

Apertou a cabeça com ambas as mãos e uma sequência de raios que caíram ao mesmo tempo o fez visualizar o Dragão que fugia para o alto da montanha. Era pequeno para os padrões da sua espécie, o que levava Cristal a crer que era somente um filhote perdido de sua família.

Iria criar uma nova turbulência. Justo naquele momento em que Ryoha e ele estavam voltando a se falar, depois da troca de farpas na última missão que tiveram.

Cristal suspirou e voou rápido para alcançar seu Domador, que já se aproximava da calda do animal.

— Faça a espada dobrar de tamanho — pediu Ryoha novamente, ao ver seu Fairy de novo ao seu lado, acreditando que ele havia decidido ajudá-lo.

Mas ao invés disso, Ryoha viu Cristal negar com a cabeça e voltar ao tamanho normal.

— Desculpe-me. Mas não vou permitir que você aleije esse filhote.

— O que vai...?

Cristal se jogou para o lado e agarrou seu Domador pela cintura, impedindo-o de continuar avançando. Os dois acabaram se embolando, caindo um por cima do outro e rolando alguns metros abaixo. Quicaram nas pedras, o que acabou provocando cortes e hematomas pelos seus corpos. Pararam ao se chocarem contra uma rocha.

Enraivecido, o Domador se ergueu e, mesmo sentindo o corpo todo dolorido, apanhou seu Alfa pela gola da camisa, fechou o punho e o esmurrou-o na face direita.

— Eu vou matar você, seu inseto! — ele gritou, acertando nele um novo golpe. — Se você não vai me ajudar, ao menos não atrapalhe!

— Você ainda não é um Caçador, Ryoha... Não tem o direito de...

O Domador apertou a gola da roupa dele em sua mão, com a mesma força com que cerrou o punho, mas algo o impediu de prosseguir.

— Quem pensa que é para dizer o que eu tenho ou não o direito de fazer, Cristal? Você é só meu servo...

— Está errado de novo. Sou seu parceiro, Ryo... — ele argumentou, tossindo e vomitando um bolo de sangue que escorreu para a luva do Domador. Este o largou em seguida e limpou a mão na lateral da calça.

Os olhos azuis claros de Cristal se encheram de lágrimas; pareciam reluzir em contraste com sua pele morena e o clima obscuro. Olhos que faziam jus ao nome dele. Tão brilhantes e reluzentes quanto os cristais das minas de Fedra. Os argumentos do Alfa de alguma forma também afetavam Ryoha. Era por isso que sentia tanta raiva das atitudes dele. As palavras de Cristal tinham um efeito estranho; faziam com que o vazio do seu interior fosse momentaneamente preenchido. Mas queria um Fairy que apenas o ajudasse a alcançar seu objetivo, não um que o fizesse vacilar.

— Já que não vai me ajudar, vou cuidar daquele monstro sozi...

Mas o Domador se paralisou ao ouvir o urro do Dragão e ver rajadas de fogo sendo lançadas para o ar de forma irregular.

— Maldição!

Ryoha voltou a correr e subiu o declive montanhoso com uma agilidade assustadora. O Fairy, meio desajeitado devido às dores que sentia, voltou ao modo diminutivo e o seguiu voando.

Pouco tempo depois eles estavam diante de Crispin e seu Alfa, Jagy. O primeiro havia arrancado a asa do animal, que agonizava de dor no chão.

— O que pensa que está fazendo, Crispin?!

— Oh, Ryoha! Como vai? Desculpe-me, mas você não estava atrás desse Alcon, estava? Encontrei-o quase no topo da montanha, pronto para alçar voo. Espero que eu não tenha passado na sua frente. Eu percebi que você e seu Fairy estavam em uma discussão calorosa, por isso decidi não interromper e agir antes que essa criatura tão valiosa desparecesse.

Cristal não conseguiu evitar que as lágrimas descessem quando viu o animal chorando de dor. Mas não teve tempo de se compadecer, pois no momento seguinte foi aprisionado em uma das mãos do seu Domador, enquanto os dois seguiam em velocidade máxima de volta para Sira.

...

Cristal ouvia os gritos de revolta de Ryoha falando que o devolveria, enquanto Hariza tratava dos seus ferimentos em uma das tendas no pátio da casa principal da vila, onde moravam Ryoha, o líder do clã e Mya.

Ficaram em silêncio por algum tempo. Até que ela decidiu quebrar aquela tensão.

— Não tiro a razão dele de estar furioso com você. Também não concordo com algumas ações da minha mestra. Mas estamos aqui somente para auxiliá-los e não questionar suas decisões. Porque não procura agir apenas como um Alfa e obedecer às ordens dele, Cris? Você está se machucando muito. Eu me preocupo.

— Eu também queria obedecer, Hari. Eu apenas não quero vê-lo fazendo coisas erradas. Se tornando alguém ruim. Quero protegê-lo. Mas às vezes acho que devo protegê-lo dele mesmo. Desses sentimentos ruins que querem corrompê-lo.

A Alfa de Mya parou de passar a pasta verde e gelatinosa no braço dele e fitou-o, compadecida da dor do amigo.

Então a mestra da Alfa surgiu na abertura da tenda, interrompendo-os e informando:

— Meu pai quer falar com você, Cristal.

O Alfa sentiu o peso sobre seus ombros dobrar, mas levantou-se.

— Cadê aquela confiança que você vivia esbanjando por aí? — ouviu a pergunta de Mya e parou para olhá-la. — Se você abaixar a cabeça é porque não tem confiança nas coisas idiotas que vive dizendo. Se você acredita, apenas continue firme.

Aquele ardor que Cristal estava sentindo no estômago de repente se dissipou e o Alfa conseguiu sorrir.

— Obrigado, Mya.

— Vai por mim, é um conselho de quem conhece a fera do meu pai.

...

Ryoha e Cristal estavam seguindo para a próxima missão. Desde a última, na qual perderam o Alcon para Crispin, os dois conversavam somente o básico.

O mestre do Domador havia chamado Cristal para conversar e, diferente do que imaginara — que ele iria lhe passar um sermão —, o homem apenas lhe pedira que tivesse paciência.

“Em parte, você não estava errado, meu jovem. Ryoha não é um Caçador e por isso ele não tem autorização para matar Dragões. Mas a intenção dele era somente deter o Alcon, como, aliás, outro Domador acabou fazendo. Não há ressalvas na nossa lei dizendo como exatamente ele deve fazer isso. Eu sei que você não concorda com os métodos dele. Suas atitudes até lembram um pouco as de Dallian. Mas isso não vem ao caso. O que eu quero lhe dizer é que tenha paciência. Quando ele conseguir se elevar ao nível de Caçador, você não será mais obrigado a ficar com ele. Um Alfa pode renunciar ao seu mestre quando ele se torna um Caçador, porque ninguém nesse mundo é obrigado a apoiar um assassino.”

“Foi o que o Alfa do senhor fez?”

Ele viu brotar nos lábios daquele homem um sorriso singelo, porém amargo.

“Foi preciso que Anri morresse para eu compreender que não deveria tê-la deixado seguir nessa loucura comigo. Acredite, Cristal: renunciar ao Ryoha será a melhor opção para ambos. Para você, que não concorda com a forma dele agir, e para ele, que não precisará passar pela dor que eu passei.”

Naquele momento, o Alfa não conseguiu respondê-lo. Ficou tão surpreso com o rumo daquela conversa, que apenas assentiu. Mas depois que parou e pensou sobre o assunto sozinho, chegou a outra conclusão: tudo fora diferente entre Sora e Anri porque Sora amava sua Alfa e, pelo que tudo indicava, Anri também amava seu mestre; este foi o motivo que não a deixou abandoná-lo. Era muito diferente da relação entre ele e Ryoha. A frieza do seu mestre chegava a ser assustadora. Nunca o vira sorrir, elogiar alguém ou ter um dia de lazer. Ele não relaxava nunca. Talvez por isso fosse tão mal-humorado. Por essas razões, tinha certeza de que Ryoha não se importaria nem um pouco se ele morresse agora ou quando se tornasse um Caçador. E já que o Domador tinha tanta pressa em obter seu novo título, a relação entre eles não duraria muito tempo. Era uma questão de meses.

Desta forma, Cristal não tinha mesmo razões para continuar seguindo-o se ele mudasse de nível, já que suas opiniões divergiam tanto. Além disso, pelo que Sora dissera, nada no mundo faria com que Ryoha desistisse do seu intento.

Cristal e ele estavam juntos por uma mera questão de protocolos.

Para que Ryoha pudesse ao menos pleitear a licença de Caçador, era preciso ser um Domador com mais de 20.000 pontos de experiência. Os pontos eram obtidos de acordo com o nível das missões que concluía e os Dragões que aprisionava. Durante seu primeiro ano como Domador interino, Ryoha obtivera quatorze mil pontos sozinho. Porém, se ele alcançasse a pontuação necessária não sendo oficialmente um Domador, não poderia prestar o exame para Caçador. Somente por esse motivo ele fora atrás de um Alfa. Não um Alfa qualquer; ele quisera o melhor, para alcançar seu objetivo mais rápido.

Juntos, Cristal e ele obtiveram sucesso em três missões de 500 pontos. Ryoha estava agora com 15.500. Se tivesse capturado o Alcon, ele estaria agora com 17.000.

Era por isso que Ryoha não aceitava missões pequenas.

Cristal havia se decidido: iria ser o Alfa que Ryoha desejava até ele alcançar o objetivo de se tornar um Caçador. Depois disso, iria ser de outro. Sora o informara que os Alfas que tinham pertencido a futuros Caçadores eram disputados acirradamente por novos e velhos Domadores, que existia até uma lista de espera e que o próprio sistema de Erix o encaminharia para um deles. A diferença era que ele poderia até escolher seu novo mestre, analisando seu perfil.

“Com certeza, encontrará nessa lista Domadores cujos perfis sejam mais condizentes com seus ideais, meu jovem.”

Ryoha se deteve antes de os dois entrarem na floresta que atravessariam para chegar ao pântano de Almika.

— O que houve? — perguntou o Alfa.

— Vamos montar acampamento aqui — o Domador informou, retirando das costas a mochila que carregava e colocando-a no chão.

Cristal abriu a boca para perguntar o motivo, mas se lembrou de que não iria mais questionar Ryoha.

— Tá — apenas concordou, retirando também sua mochila das costas e aproveitando para apanhar a dele e montar as duas tendas.

Ryoha franziu o cenho quando viu seu Alfa agindo sem que precisasse gritar com ele.

“Será que a conversa com o mestre Sora surtiu algum efeito?”, ele pensou.

Mas Ryoha achou por bem ainda não demonstrar contentamento. Naquela missão em especial precisaria muito dos poderes do seu Fairy. Os Almískins eram a única espécie de Dragão que lhe causava calafrios. Pensou em recusar a tarefa. Só não o fez porque se conseguisse capturar um macho e uma fêmea, conforme constava no pedido, obteria 1.500 pontos; se capturasse apenas um deles,700 pontos.

Mas, para obter sucesso naquela missão, precisaria de um plano combinado antecipadamente com seu Alfa, pois diferente da maioria das espécies de Dragões, que eram irracionais, os Almískins eram certamente dotados de raciocínio lógico. Além disso, era a única espécie que tinha características humanoides; os indivíduos andavam eretos e sobre duas pernas. Apesar disso, sua pele escura e escamosa dava a impressão de ser gelatinosa e tão repugnante quanto um corpo em estado de decomposição.

Depois de montar as duas barracas, Cristal acendeu a fogueira e esquentou o jantar, uma sopa pré-preparada de sementes de lira e raízes de ançum. Ryoha não consumia carnes de espécie alguma; por isso a alimentação deles era sempre balanceada e à base de pães, massas, raízes, frutos e sementes. Cristal achava estranho alguém com tanta sede de sangue não consumir carne.

— Está pronto — avisou, depois de encher uma tigela grande com o líquido verde e se sentar em um toco perto da fogueira para tomá-lo.

Foi quando se sobressaltou e seus olhos se arregalaram. Quase engasgou com a sopa ao ver Ryoha sair da barraca apenas com um camisão, os pés descalços e os longos cabelos ondulados soltos. Ele trazia nas mãos uma moringa e uma caneca.

Ele caminhou pisando nas folhas secas e na terra do lugar, sem se importar por estar sujando os pés limpos e antes calçados por botas. Sua expressão estava séria como sempre, mas era a primeira vez que Cristal o via tão à vontade e aquela visão foi estranhamente perturbadora. Sentiu o coração acelerando gradativamente as batidas conforme o Domador se aproximava da fogueira. Sua pele era tão pálida que pareceu clarear a noite.

Alheio ao olhar fixo de Cristal, Ryoha sentou-se em outro tronco diante da fogueira, abriu a tampa da moringa com os dentes, encheu a caneca que trazia em mãos e entornou tudo em único gole. Bebeu tão rápido, que o líquido de cor púrpura escorreu em um filete pelo canto da boca, deslizou por seu pescoço e morreu no camisão, criando uma mancha perto da gola.

Quando Ryoha acabou, limpou a boca com as costas da mão e voltou a encher a caneca, bebendo novamente o líquido, mas desta vez mais devagar. Só então olhou para o Alfa, percebendo que este o encarava com seus olhos azuis grandes e assustados.

— O que foi? — quis saber, franzindo as sobrancelhas para o auxiliar.

— Não é nada, ora! — Cristal respondeu rápido, sacudindo a cabeça e voltando a tomar sua sopa enquanto sentia a palpitação no peito acelerar.

“Que merda é essa que estou sentindo? Porque fiquei tão tenso de repente? E porque diabos estou ficando envergonhado?”

— Ei, Cristal?

Ele ergueu os olhos para o mestre. Mas este não lhe disse nada; apenas voltou a beber, suspirou e fixou os olhos na fogueira. Ele queria lhe dizer algo; estava até bebendo para criar coragem. Mas ainda assim seu orgulho parecia impedi-lo.

— Eu preciso de você — Ryoha alegou de repente.

Os olhos do Alfa se arregalaram mais uma vez e os dois se encararam por algum tempo. A fogueira crepitava, tremulando vez ou outra entre eles e iluminando seus rostos com aquela claridade amarela. Cristal sentia seu coração tamborilar tão forte, que teve medo de que Ryoha o ouvisse.

— Desde que perdi meu clã, eu desaprendi a lidar com essas coisas sentimentais. Eu sei que não estou sendo um bom mestre para você. Como não seria para nenhum outro. Mas eu preciso de você. Não só por causa da lei, mas... enfim. Eu preciso torturá-lo mais um pouco, prendendo-o ao meu lado. Mas pense bem: quanto mais rápido eu conseguir o que eu quero, mais rápido você irá se livrar de mim. Por isso, quero lhe propor um acordo. Uma trégua temporária. Coopere comigo, que vou tentar dar mais ouvidos às suas sugestões e tentarei evitar... evitar... evitar o que mesmo?­ — ele tentou coçar a cabeça com a mão que segurava a caneca e derramou o seu conteúdo sobre os cabelos. — Oh, merda!

Sem perceber, Cristal começou a rir. Isso chamou a atenção de Ryoha.

— Ei! Isso não tem graça.

— Nem isso e nem nada tem graça para você... — Cristal declarou, levantando-se e deixando sua tigela de lado. Então passou pelo caldeirão preso em alças de ferro perto da fogueira e encheu outro recipiente de sopa. Ficou diante de Ryoha, retirou da mão dele a moringa, entregou-lhe a tigela de sopa e depois retirou da outra mão o copo. — Tome — ordenou e abriu um grande sorriso. — Ouvi falar que beber de barriga vazia é pior. Eu entendi o que quis me dizer: se eu cooperar, vai tentar não ser tão cruel com os Dragões. Eu já havia me decidido a ajuda-lo.

— Ah! Por isso estava tão obediente?

— É.

Cristal não estava preparado para o que aconteceu em seguida: Ryoha sorriu para ele pela primeira vez. Um sorriso que fez seu peito se apertar de forma assustadoramente dolorosa. O rosto de Ryoha era fascinante; com o sorriso, tornou-se ainda mais. A emoção que abalou o Fairy foi tão intensa, que sentiu um tremor agitar seu corpo e lágrimas marearem seus olhos.

Claro, Ryoha não percebeu nada, e Cristal ficou contente por isso.

Conversaram durante horas naquela noite, trocaram informações sobre os Almískins e como fariam para capturá-los. Pela primeira vez não divergiram tanto em suas opiniões. Cristal ainda foi brindado mais vezes pelo lindo sorriso de Ryoha e percebeu o quanto ele era agradável quando não estava mandando e nem gritando com ele. Desejou que aquela noite se tornasse eterna.

Quando o cansaço arrebatou Ryoha de uma única vez, Cristal o viu cambalear e ameaçar cair para o lado. Mas o Fairy o segurou antes disso e o apanhou no colo. Ele era estranhamente leve. O Alfa o colocou deitado dentro da barraca. Afastou alguns dos fios castanhos avermelhados que haviam grudado no rosto do Domador e acariciou-o.

“Quando eu alcançar meu objetivo, você poderá se livrar de mim. Farei uma bela carta de recomendação, eu prometo.”

— Só que... algo dentro de mim está criando forças... Hein, Ryoha? E se, quando chegar a hora, eu não quiser deixar de ser seu?

Continua...


Notas finais do capítulo

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