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[Natsume Yuujinchou / Pokémon] Resgate na Torre Celestial, escrita por Anita

Capítulos: único
Autora: Anita
Fandoms: Natsume Yuujinchou / Pokémon
Classificação: livre
Gêneros: gen, aventura.
Status: completa
Resumo: Natsume Takashi, Tanuma Kaname, Meowth. Natsume vai parar no mundo em que os Pokémons vivem junto com Tanuma.

Notas Iniciais:
História escrita para a Semana dos Crossovers, um desafio promovido pela comunidade Saint Seiya Super Fics Journal. Usei o universo do jogo, mas há personagens do anime. Não fiz nada muito difícil de entender para quem não conhecer qualquer das séries, é um só uma história boba.

Olho Azul Apresenta:
Resgate
na Torre Celestial

  Takashi correu com toda sua força, enquanto tentava segurar sua bolsa. Estava voltando do colégio pelo caminho beirando o rio, acompanhado de Tanuma, quando um youkai se aproximara de suas costas e os assustara. Aquelas diversões de que apenas crianças achavam graça pareciam bastante populares no mundo dos youkais e, para completar o jogo, a criatura pegara a bolsa de Tanuma e saíra correndo. Agora, precisava persegui-lo antes que desaparecesse em algum lugar.

  Não gostava de quando seus amigos se envolviam em negócios assim. Normalmente, apenas o próprio Takashi teria se assustado e depois corrido atrás do youkai, dando alguma desculpa aos amigos. Bem, explicar uma bolsa voadora seria bastante difícil... Mas, desta vez, tudo acontecera justo com Tanuma por perto. Ele era o filho de um monge que, apesar de não conseguir ver youkais, era sensível o bastante para senti-los. Provavelmente acabara por ver algo que também o havia assustado, talvez, uma sombra. Takashi não teria como juntar essa visão de algo sobrenatural à bolsa voadora e ainda dizer que se lembrara de um negócio urgente para resolver sozinho a situação.

  Percebeu que o youkai fez uma curva no caminho e virou em direção a uma ponte. Devido à força que fazia para frente, Takashi entortou com dificuldade seu corpo a fim de continuar a acompanhá-lo. Do outro lado, percebeu que Nyanko-sensei, talvez sentindo alguma coisa, aparecera e já encurralara o youkai no meio da ponte. Nesse momento, Tanuma alcançou Takashi. Os dois rapazes, após se assegurarem de que o gato se manteria firme em sua posição, aproximaram-se do causador das travessuras.

- Por favor, devolva a bolsa do meu amigo, - disse Takashi, estendendo a mão.

  Agora, conseguia vê-lo bem. Parecia um enorme mosquito roxo, com pernas cheias de pelos. As mãos bem fininhas abraçaram a bolsa, como se estivessem protegendo algum tesouro e seus olhos olharam para trás. Pouco a pouco, ele estava chegando à murada da ponte. Takashi se aproximou, seguido de perto por Tanuma.

  Não sabia o quanto seu amigo podia ver do youkai. Uma sombra? Apenas a bolsa? Isto dificultaria qualquer plano de ação.

- Eu vou distraí-lo, e aí você pega sua bolsa, - sussurrou-lhe, largando a sua própria e preparando os braços para agarrar o youkai.
- Obrigado por ajudar, Natsume, - respondeu-lhe Tanuma, sorrindo em resposta.

  Takashi fez a contagem. Sentiu Tanuma atrás de si, tomando impulso. Olhou para o corpo fino do youkai e sua enorme cabeça; sua boca no formato de pinças saltava para fora e talvez pudesse machucar a qualquer um dos garotos. Bem, Takashi sabia lidar com aquelas criaturas. Apenas tinha que ter certeza de que, se alguém seria atacado, seria ele próprio e não seu amigo. Mas, além de não poder convencer Tanuma a ficar de fora, se ninguém pegasse a bolsa, ela poderia cair no rio com o ataque e seu amigo perderia todo o material da escola por incompetência do próprio Takashi.

  Se ao menos ele não pudesse ver youkais... Talvez, não ocorresse o roubo. Sempre fora um enorme para-raios de fenômenos estranhos, para a insatisfação de todos os parentes que já o adotaram.

- Natsume, agora? – perguntou Tanuma atrás de si, fazendo-o voltar à realidade.
- Em dois, – voltou à contagem, - já!

  Os dois pularam, cada um em uma parte do youkai. Contudo, este sentindo o ataque, fora mais rápido. Com um reflexo idêntico ao de uma mosca, alçou voo. Em um estrondo, Nyanko-sensei foi atrás do mesmo, assumindo sua verdadeira forma.

- Natsume! – ouviu Tanuma gritar.

  Seu cálculo para dar força o bastante de distrair o youkai o fizera voar por cima da murada da ponte. Sentiu um puxão na perna, seu amigo o estava segurando pela calça. O rio abaixo o encarava. Seu corpo estava invertido. E balançando na ponte.

- O Ponta sumiu... – Tanuma parecia fazer muita força para segurá-lo.

  Começou a sentir sua calça escorregar pela cintura. Isto era ruim. Cair naquela posição iria machucar bastante. Talvez se ele se ajeitasse de forma a cair jeito na água com algum...

- Natsume, espere o Ponta-sensei voltar. Ou nós dois vamos...

  E, justo quando Tanuma o previa, aconteceu. Sua calça escorregou até os pés tão rápido que seu amigo também perdeu o equilíbrio, e os dois caíram em direção ao rio.

  Ao fundo, Takashi ainda teve a impressão de ouvir Nyanko-sensei chamar por ele... Mas tudo já ficara escuro. Talvez fosse um sonho.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Quando Takashi recuperou a consciência, seu corpo estava pesado. Mas se devia ao estado de suas roupas, completamente encharcadas. Bem, não era a primeira vez que ele caía de uma ponte, mas aquela fora definitivamente a pior. Levou a mão à cabeça, massageando-a como se aquilo fizesse a dor passar.

- Ah, o outro já acordou então, fico feliz! – Um homem mais velho, com roupas pardas e uma enorme mochila, disse.

  Takashi sentou-se e percebeu que Tanuma estava bem a seu lado, com o rosto bastante pálido e as roupas igualmente molhadas.

- Ao menos, estamos vivos, - tentou dizer ao amigo, mas não conseguia tirar de si a culpa pela queda.
- O Ponta-sensei aparou nosso corpo, - disse Tanuma, a voz bastante sem energia.

  Takashi olhou a seu redor, mas Nyanko-sensei não estava em lugar algum. Apenas o homem que parecia pronto para escalar alguma montanha. Takashi pôs-se de joelhos e agradeceu com cerimônia a ajuda daquela pessoa.

- Agora que os jovens estão bem, vou voltar ao meu lugar, enquanto me preparo para ir à caverna. – E se despediu, caminhando até uma ponte de madeira sobre um rio.

  Foi quando Takashi percebeu. Eles não estavam mais na mesma cidade de antes. Olhou ao redor e também não tinham suas bolsas por perto.

- Onde estamos? E cadê o Nyanko-sensei? – perguntou a Tanuma, começando a entender a expressão pouco aliviada do amigo quando Takashi acordara.
- Como eu disse, lembro-me de ele ter vindo até nós e nos posto nas suas costas, impedindo que caíssemos na água. Mas aí a água veio até nós, ou algo assim... – Seus olhos estavam nublados de confusão. – E eu acordei enquanto aquele moço nos tirava do rio. – Tanuma apontou para o senhor de antes.
- Também estamos sem nossas coisas.
- Enquanto ele tentava te acordar, eu comentei isso. Ele respondeu que havia uma cidade aqui perto que nos receberiam e nos ajudariam. Ele acha que fomos atacados por... alguém, talvez. Ou alguma coisa? Acha que foi isso? Que o youkai nos atacou e nos levou para longe?

  Takashi não sabia de nenhum que pudesse fazê-lo, mas aquele que poderia saber não estava por perto.

- Talvez o Nyanko-sensei ainda esteja por aqui. Vou perguntar àquele senhor.

  Caminhou ainda zonzo até a ponte e conversou brevemente com o senhor, que repetiu as instruções dadas a Tanuma. A sudeste dali ficava uma cidade chamada Driftveil, havia um mercado e várias pessoas que poderiam ajudá-los. Mas um gato de cara redonda? Após fazer uma careta, ele lembrou-se de algo:

- Faz pouco conversei com um jovem indo para norte. Ele disse haver visto um Miau que parecia falar. Pode ser impressão dele, né? Mas esse é o felino mais estranho de que ouvi hoje, rapaz.
-Natsume! – Tanuma exclamou em suas costas.

  Takashi voltou-se para o amigo e assentiu.

- Onde ele o viu?
- O Miau? Foi logo ali naquele mato. – Apontou para uns arbustos do outro lado da ponte, a caminho da cidade antes mencionada.
- Obrigado, senhor! – disse Tanuma, já cruzando o rio.

  Takashi o seguiu até o mato, já chamando por Nyanko-sensei. O youkai em forma de gato sempre se dizia seu guarda-costas, mas nunca parecia estar por perto quando mais era preciso. Bem, ele também era dado a aparecer na hora exata de salvá-lo... Contudo, até essa hora chegar, Takashi teria que ir atrás de seu gato, que com certeza estaria importunando as pessoas naquele lugar estranho.

  Não haviam dado nem dois passos no mato quando Takashi sentiu Tanuma retroceder, até os dois se chocarem.

- O que houve? – perguntou, esticando o pescoço a fim de ver além.
- Eu estou vendo um youkai... – disse o amigo, antes mesmo que pudesse processar o que via. - Claramente, é um youkai, né?

  Tanuma se referia a um pássaro no chão. Bem, essa fora a primeira informação que pudera processar. Contudo, havia mesmo algo errado naquela ave. O bastante para que o outro a confundisse com um youkai.

  Ele deu um passo, curvando-se para vê-la melhor quando o bicho investiu contra ambos em tamanha velocidade que mal pôde ver como os derrubara no chão. Então, pulou para trás, saltitando pela grama, como se preparando novo ataque.

- Temos que ir embora! – Takashi disse, mas, no próximo movimento, a ave rosnou tão alto que o deixou tonto.
- Ela vai atacar de novo. – Era tudo o que Tanuma conseguia dizer. Então, ele olhou para Takashi. – Jogue uma dessas bolas nela, deve distrair o bastante para fugirmos.
- Que bolas? – Mas Takashi olhou na mesma direção e percebeu-se com um cinto, que mais parecia uma pochete. Penduradas nele, estavam bolas vermelho e brancas que ele nunca vira antes.

  Em vez de ficar se perguntando, fez como sugerido. Mirando o corpo do pássaro, Takashi jogou a bola apenas com força o bastante para servir de distração.

- Vamos! – gritou para o amigo, puxando-o pelo braço.

  Os dois andaram alguns passos apressados pelo mato, quando algo veio direto na cabeça de Takashi. Era a bola que acabara de atirar. Virou-se, certo de que a ave era mesmo um youkai e que havia ficado em sua forma verdadeira para se vingar. Contudo, o que estava atrás dele era um gato.

  Um gato muito estranho com fios grossos de bigode e em pé nas duas patas como se fosse um humano. Na testa estava presa uma pedra dourada e a pata levantada lembrava a de um manekineko. Ainda assim, não era Nyanko-sensei.

- Outro youkai? – perguntou Tanuma, esboçando menos espanto do que da outra vez e puxando do cinto de Takashi outra bola com que atacar o felino.
- Vocês deveriam levar os pokémons que capturassem, em vez de abandoná-los no caminho! Se ao menos fosse algum raro... mas este Tranquill não serve para nada. – O gato andou até onde a bola vermelha jogada havia caído e a chutou na direção dos dois. – E pode tirando a mão dessa outra Pokébola porque não vai adiantar comigo!
- Um gato falante... – Takashi disse desapontado. Aquele definitivamente não era seu sensei.
- Um Meowth, seu idiota! – O gato apontou-lhe bem no nariz.
- Acho que fomos atrás da pista errada, né? – Tanuma pôs a mão em seu ombro para consolá-lo.

  Nesse momento, no canto dos olhos, Takashi percebeu algo que parecia mais ainda com um youkai próximo a eles.

- É um Swadloon, - disse Meowth, - Não são tão raros assim para vocês ficarem tão assustados.

  O youkai lembrava um totoro em sua forma, mas não passava de um rato amarelo usando uma grande folha verde de cobertor.

- Vocês podem usar o Tranquill que acabaram de pegar ou apenas irem embora. Esse daí não faz mal a ninguém.

  Takashi fez como instruído e escapou, sendo seguido por Tanuma que agora segurava uma das bolas vermelhas. Então, o gato os guiou até saírem do mato, quase para dentro de uma poça d’água.

- Afinal, quem são vocês? – Meowth aproximou-se de Takashi novamente, olhando-o nos olhos. – Se me derem comida, eu posso ensiná-los como ser um treinador de Pokémons.
- Estamos só procurando um amigo, mas agradecemos sua oferta, Meowth. – Takashi sorriu, sentindo com mais calma a bola vermelha que o gato lhe devolvera.

  Estava quente, pulsando... Aquele pássaro de antes estava mesmo ali?

- Também não temos qualquer comida aqui. Estávamos indo até a cidade próxima comprar algo e descobrir como voltamos para casa. – Tanuma explicou.
- O amigo que procuramos é um gato que fala que nem você. Acha que o viu?- Takashi complementou.
- Vocês querem dizer um Meowth?
- Um Meowth? – os dois perguntaram ao mesmo tempo, com a mesma hesitação.
- Será algum dialeto daqui? – Tanuma lhe cochichou.
- Não devemos estar tão longe assim para dialetos, se caímos mesmo das costas do Nyanko-sensei.
- Pode ser um dialeto youkai... – insistiu o amigo.

  Takashi considerou a possibilidade e voltou-se para Meowth.

- Você acha que viu alguém assim? Ele também muda de forma e fica bem grande assim. – Esticou os braços como pôde. – E é muito forte, mais que aquele passarinho-youkai de antes.

  E ele viu um brilho de cognição passar pelos olhos do felino.

- Você o viu então? – Tanuma adiantou-se, parecendo também havê-lo notado.
- Talvez. Há rumores de um Pokémon forte. Eu mesmo estava indo lá para averiguá-lo. Uns amigos humanos meus ficaram gananciosos e queriam pô-los em uma Pokébola, como aquele Tranquill. Mas elas são apertadas e desconfortáveis, seria horrível para um Pokémon tão majestoso como dizem que ele é. É diferente desses que ficam no mato, muitos querem um dono que os ajude a ficar mais forte!
- Talvez seja ele mesmo! – Takashi disse para Tanuma, que apenas assentiu.
- Vocês disseram que iam comprar comida, né?

  Os dois assentiram.

- Que tal irmos juntos? Eu os guiarei até lá e juntos poderemos salvar o Pokémon. Vocês mesmos verão se ele é seu amigo. Em troca, eu apenas peço comida e proteção de treinadores gananciosos, como esses meus não mais amigos.
- Parece uma boa ideia... – Takashi disse a si mesmo.

  Haviam ido parar em um local estranho em que youkais pareciam atacá-los do nada. Ter um youkai forte como aquele gato por perto, poderia ser útil até encontrarem Nyanko-sensei.

- Acho que juntos temos algum dinheiro, mas não para muito tempo... – Tanuma conferia sua carteira, ainda bastante molhada por estar no bolso de trás de sua calça do uniforme.

  Takashi pegou a própria no bolso, foi quando se lembrou de conferir a pochete. Dentro dela havia algo parecido com um dicionário eletrônico.

- É um Pokédex. – disse Meowth, esticando o pescoço para o aparelho. – Ele registra informações dos Pokémons que você encontrar. Mas então, estamos juntos, ou não?

  Os dois rapazes se olharam, mas já sabiam a resposta. Afinal, não havia outra opção melhor que encontrarem Nyanko-sensei o mais rápido possível.

- E o que fazemos agora, Meowth? – perguntou Tanuma, com um sorriso.
- Voltamos a Driftveil para suprimentos e deixar o Tranquill descansar um pouco. Amanhã, partiremos em direção à Torre Celestial, onde esse Pokémon que procuram foi visto. Estamos nessa, galera? – E estendeu sua palma para ambos.

  Tanuma pôs sua mão acima e olhou para o amigo com um largo sorriso.

  Era verdade, diferente de Takashi, ele sempre se mostrara empolgado com youkais. Ver e conversar com um eram coisas do dia-a-dia de Takashi, mas um acontecimento raro para Tanuma. Com o pensamento, devolveu para o outro o sorriso e Takashi pôs sua mão em cima da do grupo, pouco antes de jogá-la ao alto, como se estivessem para jogar num campeonato ou coisa assim.

  Ver youkais podia ser algo irritantemente cotidiano para ele, mas essa sensação de pertencer a um time tinha um gosto especial.

  Com os três andando em direção à cidade de Driftveil, aquela nova aventura começava.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Fora um estranho caminho até Driftveil. Não que o cenário fosse muito diferente da cidade onde morava, mas a sensação de haver ido parar em outro mundo crescia a cada pessoa que avistava. Elas pareciam conviver com youkais como se os conhecessem desde sempre; ninguém os achava estranhos. Bem, a menos que ele incluísse o laboratório já quase na entrada da cidade. Um laboratório para estudar... youkais! Não exatamente, ele só pesquisava as estações, mas os cientistas usavam algum tipo específico de youkai para tal.

  Ao menos, o gato falante estava cumprindo com o que prometera e já os ensinara melhor sobre aquelas bolas rubro-brancas. São usadas para uma pessoa capturar para si mesmo um tipo de youkai chamado Pokémon, algo muito parecido com o caderno de sua avó, mas que lhe permitia levar consigo o servo e usá-lo quando quisesse. Ou seja, havia pessoas que conseguiam ser ainda piores que sua ancestral.

  Logo que compreendera melhor, decidira soltar o youkai que capturara sem querer da primeira vez, mas fora convencido do contrário por Meowth. Fazia sentido, era melhor esperarem quando voltassem por aquele caminho para soltá-lo mais perto de casa. Esperava que o ser capturado pensasse o mesmo dentro daquela bola.

  Após passarem pelo rio e descerem uma ladeira, viraram à esquerda e, magicamente, Takashi pôde ver asfalto, indicando o fim da Rota 6, o nome do caminho em que se encontravam até então.

  Driftveil era uma cidade muito pequena rodeada por uma floresta, mas cheia de casas muito bonitas, apesar de também parecidas umas com as outras. À exceção justamente do destino de Meowth, uma pequena construção toda de vidro, com o telhado e alguns detalhes em vermelho. Na porta automática, havia um símbolo curiosamente familiar. Takashi concluiu que se assemelhava à bola vermelha que ele carregava em seu cinto estranho.

- Precisamos cuidar de seu Pokémon, também poderemos obter informações aqui e, quem sabe, alguém que possa nos acolher. – Meowth disse, apontando para o prédio envidraçado. – Logo será noite, e eu também estou com fome.

  Tanuma foi o primeiro a segui-lo até o interior da loja. Takashi pegou a bola mais quente de seu cinto, onde o youkai se encontrava e tentou perguntá-lo mentalmente se ele realmente queria estar ali. Talvez fosse impressão sua, mas sentiu um tremor em resposta. Olhou novamente para a loja, Meowth devia saber o que era melhor para youkais, sendo ele mesmo um. E não havia por que desconfiar de alguém que os ajudava; seria ingratidão.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  - Natsume?

  A voz de Tanuma no meio do silêncio da noite o fez dar um pulo. Takashi tentou disfarçar o susto, ele que era o mais acostumado com criaturas estranhas era quem deveria estar lidando melhor com aquela cidade amiga de youkais. Em vez disso, fora Tanuma quem tivera uma longa conversa com a senhora que os aceitara em sua casa. Sobre... golpes daqueles youkais pokémons. Algo sobre tipos mais fortes que os outros.

  Não podia negar, esses tipos de youkais pareciam não apenas úteis, mas parte essencial de toda a dinâmica de Driftveil.

  Takashi encostou-se à árvore próxima e suspirou enquanto olhava o que devia ser o mar à sua frente.

- Está se sentindo bem? – Tanuma agachou-se próximo à mesma árvore e começou a mexer com as folhas secas caídas no chão.
- Tava pensando que meus tios devem estar preocupados; então notei que me sinto mais em um sonho bizarro do que dormindo fora de casa. Todos veem youkais. Ao menos, esses do tipo Pokémon, não que eu tenha visto qualquer outro tipo por aí. E lidam bem com eles. É como se toda a vida que fui tratado como diferente por conta de minha habilidade não significasse nada. Todo mundo é igual aqui.
- Não deveria estar feliz com isso? – O amigo franzia a testa ao perguntar.
- Só nunca imaginei que... seria normal. – Takashi suspirou uma vez mais. – E não me sentiria bem com isso. Não que já não tenha acontecido algo parecido, quando perdi minha visão, mas... Eu não sei.

  O outro devia estar decepcionado. Quem poderia entendê-lo quando ele próprio não o conseguia? Talvez fosse verdade, talvez no fundo se sentisse especial, com algum dom que de repente não era mais algo que o diferenciava.

- Acho que sei no que está pensando, Natsume. E duvido que seja verdade.

  Ele olhou assustado para Tanuma.

- Mas o que precisamos agora é de descansar. Você ouviu o que o Meowth nos disse: o Ponta-sensei deve estar em cima de um morro ou algo assim. Uma torre? Isso soa a bem cansativo.

  Takashi assentiu. Após dar uma ótima olhada para a bola onde seu único Pokémon estava guardado, seguiu o amigo até o interior da casa.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Apesar de sua vontade ser a de correr até a tal torre onde Nyanko-sensei supostamente estaria, Meowth insistira em levá-lo a um mercado daquela cidade assim que partiram naquela manhã.

- Não entendo pra que precisamos de mais comida, - disse Takashi, olhando para as frutas estranhas expostas em cada barraca. – Aquela senhora nos deu mais que o bastante para a viagem.
- Para vocês. Mas nós Pokémons também gostamos de alimentos especiais. Além do mais, estamos indo para um lugar perigoso com apenas um Tranquill, que nem sabemos se vai obedecer a amadores como vocês. – Os bigodes do gato se mexeram e logo ele já estava distraído com cada um dos produtos.

  Tanuma se aproximou de seu ouvido e sussurrou:

- Acho que a senhora não nos deu nenhum dinheiro, né? – Fez uma menção para a rústica bolsa de pano que ele próprio carregava.
- Não mesmo. E não parece que aceitam ienes por aqui. – Apontou para uma placa de preços. Em vez de um Y, havia um P riscado antes dos números.

  Meowth começou a chamá-los.

- Este casal vendo produtos medicinais. Se eu fosse vocês, comprava ao menos uma erva para reviver. E claro, algumas unidades de pó de cura e o tanto quanto for possível de raiz de energia.

  Os dois amigos se olharam.

- Nós não temos realmente dinheiro, Meowth, - disse Tanuma.
- Do que estão falando? Olhem o cinto aí, com certeza está cheio de coisas de treinador. Troquem aqui mesmo e comprem o que estou falando, vamos precisar de muito.

  Takashi abriu a pochete tal qual instruído e percebeu que realmente havia muitos objetos ali.

- E se isto for de alguma pessoa? Não sei se devemos.

  Mas era tarde demais e Meowth já havia posto sua pata lá dentro, retirando-a cheia de coisas desconhecidas.

- Vejam o que podem nos vender com isto aqui, - disse ao casal na barraca.

  Após algumas outras trocas, o gato parecia satisfeito para sair da cidade. Os três tomaram o mesmo do caminho do dia anterior, seguindo para o norte.

  Takashi olhou para a pochete cheia de frutas e ervas e... coisas estranhas. Era uma quantidade bem grande de objetos. Quem lhe havia dado tanto assim para carregar? O que realmente estaria acontecendo com Tanuma e ele? No início, só queria voltar em segurança para casa, mas agora não conseguia mais silenciar os questionamentos em sua mente.

  E o mais importante deles ficava cada vez forte: a troco de que aquele youkai os ajudava com tanta disposição? Devia ser apenas sua falta de costume com aquele tipo especial, mas toda sua experiência com youkais o fazia desconfiar das intenções de Meowth.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Ao longo do caminho, encontraram vários tipos de youkais Pokémon. A maioria lembrava Takashi de animais que ele encontraria por um bosque, principalmente aquele que seu dicionário eletrônico de Pokémons disse chamar-se Deerling.

  Por sorte, e até para a surpresa de Meowth, nenhum os atacou em qualquer momento. Dessa forma, puderam não apenas passar em segurança pela chamada Rota 6, como também direto pela tal Caverna Chargestone. Esta era das mais singulares que Takashi já vira, cheia de diamantes flutuantes e descargas elétricas no chão, restara-lhe clara a razão de seu nome, mas fora a única explicação que obtivera pelo caminho. Meowth apenas prosseguia sem maiores explicações sobre qualquer fenômeno.

  O que é aquela poeira no chão? Um Pokémon. E essa coisa amarela e azul tremendo? Meowth o ignorava. O dicionário lhe dizia o nome da criatura, Joltik. E era apenas nessas fugas de youkais encontrados que Meowth proferia algo de útil: “como vocês que são tão amadores conseguem escapar?

  Takashi também estava curioso. De fato, ele não conhecia as regras daquele mundo, mas no seu, não se fugia tão facilmente de um encontro olho no olho com um youkai. Havia sempre um problema, normalmente, relacionado ao fato de Takashi poder olhá-lo nos olhos. Isto podia resultar em um pedido de ajuda ou em uma maldição. Não em apenas cada um seguir seu caminho como se nada houvesse ocorrido.

  Mas os Pokémons ficaram para trás e eles novamente viram a luz do dia. Ou o que podiam ver com a chuva torrencial que caía ao saírem da caverna.

  Uma jovem de cabelos castanhos e vestido verde-musgo os cumprimentou, dando as boas vindas à cidade de Mistralton. Parecia ser diferente de Driftveil e suas pequenas casas, mas logo na entrada ficaram de cara para um prédio azul cheio de vidros tal qual o anterior em que Takashi deixara seu youkai por uns momentos para ser tratado.

- Acha melhor irmos ao tal do centro de youkais? – ouviu Tanuma perguntar a Meowth. Seu amigo não era a pessoa que mais conversava normalmente, mas desde que passara a ver youkais havia ficado tão falador que Takashi mal o reconhecia. Não que fosse algo ruim, na verdade, ao menos podia ter algo de familiar por perto.
- Vocês nem deixaram o Tranquill brincar um pouco, pra quê? Eles só ajudam Pokémons.
- A chuva está bem forte... – argumentou Takashi.

  O guia dos dois pareceu resmungar consigo mesmo por um momento. Ou miar?

- Vamos aproveitar para comermos, então. Mas partiremos o mais rápido possível para a Torre Celestial. Não quero perder a chance de capt-, digo, de ajudar aquele Pokémon. Antes que alguém o machuque. Escutem vocês dois: neste mundo, há Pokémons que gostam de pertencerem a humanos e de servi-los. E há os que são forçados a isso. A questão é que normalmente não é escolha deles.
- Quer dizer que Nyanko-sensei pode estar mesmo em perigo? – Takashi sentiu um calafrio lhe correr pelo corpo. Vinha pensando em voltar o mais rápido para casa, mas não tanto na segurança de seu amigo.
- Imagino que possa se proteger se for tão forte quanto dizem os boatos. Mas, mesmo o mais forte dos gyarados acabam se cansando.

  Então, não havia tempo para se preocuparem com a chuva. Comeriam e seguiriam em frente.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  A chuva continuava a cair quando os três terminaram de comer a comida que a senhora de Driftveil lhes fornecera.

- É por aqui! – Apontou Meowth para leste, um caminho passava por trás do tal centro Pokémon de volta à floresta que rodeava a cidade.

  Takashi observou uma jovem de cabelos loiros escuros, parada no meio do caminho.

- Ouvi que muitos tiveram seus Pokémons roubados pela Equipe Rocket, - disse a mesma, olhando para Meowth.
- Ah, obrigado pelo aviso. – Tanuma curvou-se cerimoniosamente.
- Youkais podem ser roubados? – Takashi perguntou para o guia que, ignorando o aviso seguiu a trilha, que novamente os direcionava a norte.
- Pokémons? Ah... claro, claro. Mas é bem incomum, não vai acontecer com vocês, he heh. – Meowth agora andava a passos largos, como se fugisse de alguém.

  Teria ficado com medo da tal equipe? Takashi franziu a testa, observando o comportamento evasivo do gato falante. Fosse Nyanko-sensei, teria certeza de que algo estava errado, mas aquele sequer parecia ser seu mundo. Voltou o olhar para Tanuma e percebeu que o amigo também o estava observando.

- O que será Equipe Rocket? - perguntou-lhe.

  Takashi apenas deu de ombros.

- Ao menos, já sabemos em quem não confiar por aqui, - concluiu Tanuma.

  Aquelas palavras trouxeram-lhe mais alívio do que Takashi podia prever. Ele não era o único que não estava gostando da situação. Mas ainda se sentia egoísta por querer ir embora o mais rápido possível quando seu amigo tinha ali a oportunidade que sempre quisera, de realmente interagir com youkais.

- Uh-oh... – Meowth havia apenas dado alguns passos dentro de um mato mais alto que os dois rapazes.

  Takashi se apressou até seu guia. Seriam os tais ladrões?

- Você está bem? – perguntou ao encontrar o gato, parado na frente de um rapaz de capacete, antes camuflado pela folhagem que os rodeava. – É um deles? Era dele que a moça de antes falava?
- Quê? Não. Nossa, vocês não sabem de nada mesmo. – Meowth virou os olhos. Então, usou as garras para apontar para o rapaz que os observava com um sorriso. Olhos fixos no cinto com as bolas rubro-brancas.
- Você vai usar esse Meowth falante, treinador? – O rapaz apontou e pegou uma bola tal quais as que Takashi tinha em seu cinto.

  Em poucos momentos, havia um youkai parecido com um caranguejo na sua frente. Dwebble, informou-lhe o dicionário eletrônico.

- Muito bem, que Pokémon você irá escolher, treinador?

  Um suspiro sonoro veio de Meowth:

- Eu não tenho dono, garoto, estou fora dessa. – E deu uns passos para trás de Takashi.
- Mas foi você quem o encontrou primeiro! – reclamou Tanuma a seu lado.
- Apenas use o Tranquill que você tem aí. Ele é do tipo inseto, vai ser fichinha mesmo para novatos como vocês.

  Droga! Takashi havia se esquecido de devolver o pokémon a seu habitat quando passaram por lá novamente. Olhou para a tal poké-bola onde havia posto a mão instintivamente. Não podia usar aquele youkai. Ia contra tudo em que acreditava, não era nada diferente do que todo a agenda de “amigos” de Reiko.

  Mas seu oponente o olhou irritado, parecia pronto para atacar a todos. E se aquele caranguejo ferisse Meowth? Ou Tanuma? Nunca se perdoaria.

- Eu lutarei no lugar, - declarou, aproximando-se do outro Pokémon.
- Você está doido!? – perguntou o adversário. – As lutas devem ser entre Pokémons, essa é a regra. Agora escolha o seu. Rápido, treinador.
- Eu sinto muito, mas eu não sou um treinador.
- Então o que são essas Pokébolas? E o sinto? Você não me engana não. Anda, lance seu Pokémon e aceite a derrota que merece por tentar passar por meu caminho.
- E se eu não o fizer? – Takashi tentou ao máximo proteger seus dois amigos com o corpo enquanto dizia essas palavras.
- Mas que moleque doido! Se você não o fizer, não irá sair daqui. Não pretendo atacá-lo, mas posso muito bem atacar esse seu Pokémon. Melhor. Ele sequer é seu, certo? Quer dizer que eu posso capturá-lo! – O rapaz deu uma risada.
- Ele é livre, irá com quem quiser e quando quiser!
- Vejamos... Esse aí é um meowth, é do tipo normal. Isto quer dizer que seus ataques têm a metade da efetividade contra meu Dwebble. Ele disse certo, de fato o meu é um inseto, mas ele também é um Pokémon de pedra. E normal é fraco contra pedra.
- Apenas use o Tranquill, seu idiota!

  Com um movimento rápido e habilidoso, Meowth pegou sua Poké-bola e, em poucos instantes, o mesmo pássaro do dia anterior se encontrava de frente para o outro youkai. Só que ele não parecia assustado com a situação e sim quase que animado.

- Viu, ele quer te ajudar. Agora mande logo um Ataque Rápido nesse cara.
- O quê? – Takashi franziu a testa.
- Diga o nome dele e mande-o fazer um “ataque rápido”. Isso não pode ser difícil.

  Takashi repetiu, ouvindo ao mesmo tempo o outro treinador dar seu comando, algo sobre qualquer coisa invisível. Não importava, o Tranquill fora tal como o ordenado bem rápido, tanto que pareceu invisível por um momento antes de atacar o Dwebble. Pouco depois, Takashi notou que acima de seu Pokémon, pedras levitavam. Ele olhou assustado para Meowth.

- É apenas um ataque-armadilha. Não sei bem o que faz, mas o Tranquill continua ileso. Agora que já demos um golpe nesse cara, podemos derrubá-lo.
- Como assim? Não é melhor irmos embora?
- Embora? – interrompeu o tal treinador. – Não mesmo! Polidor de Rochas, Dwebble!

  Takashi sentiu seu Pokémon ficar ansioso, como se quisesse saber qual o próximo golpe aplicar. Então, olhou para seu guia.

- Cortador de Ar.

  E assim o pássaro fez, lançando um vento forte sobre seu adversário, que caiu inconsciente.

- Oh! – Ele havia ferido aquele ser? Takashi olhou de volta para Meowth.
- Ele está bem, não fique tão preocupado. – E virou os olhos.
- Vejo que seu Tranquill gosta muito de você. Mas aqui vai meu outro Pokémon: Simisage!

  Em um piscar de olhos, o caranguejo sumiu e um macaco verde e peludo começou a encarar desafiadoramente seu Tranquill, que gritou animado com a batalha. Ele estava realmente gostando de ser mandado daquele jeito?

  Preparou-se para repetir a receita de antes:

- Ataq-
- Não, seu imbecil! – interrompeu-lhe Meowth. – Não vê que esse aí é do tipo grama? Pra que lançar um ataque normal? Apenas repita o último que você já terá o dobro da eficiência.

  Franzindo a testa, Takashi aquiesceu:

- Tranquill, usa esse Cortador de Ar, então.

  Como que para concordar, a ave deu um grito e em poucos segundos o macaco verde também se quedou desmaiado no chão. O outro treinador rapidamente recolheu o youkai.

- Não acredito que fui vencido por esse amador. Realmente, esse Tranquill é muito bom. Mas pode deixar, ficarei cada vez mais forte treinando aqui na grama e um dia eu te vencerei! – Então, estendeu uma quantia em dinheiro daquele lugar, o que Takashi apenas havia visto de longe.

  Olhou confuso para Meowth, que aceitou sem pestanejar.

- Você venceu, você ganha. Agora entendeu, moleque burro? Lutas deixam seu Pokémon forte e você ainda ganha dinheiro para continuar a viagem.
- Deixam meu Pokémon forte?
- Sim, a cada briga que ele ganhar, ele aprende mais como se defender e como atacar. Assim como você acabou de aprender o nome de uns truques. Às vezes, seu Pokémon até aprende coisas novas ao final de uma batalha.
- Gente, isso é bem legal, mas não acha melhor irmos em frente? Logo anoitecerá e o Ponta pode estar em problemas.

  A lembrança de Tanuma pôs Takashi em alerta. Era verdade, precisava achar seu amigo. Então, poderia devolver seu Tranquill aonde ele pertencia. Como que lendo seus pensamentos, a ave voou até ele e deu um pequeno grito.

- Ele parece alegre, - observou Tanuma, tentando passar a mão em sua cabeça.
- Agora, ponha-o na Pokébola. Não queremos chamar atenção, - brigou Meowth.
- Ao que me parece, você falar chama muito mais atenção que este youkai.
- O jeito que vocês falam é mais estranho que o fato de eu saber falar, - redarguiu o outro, voltando a andar para norte.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  O sol já preparava para se pôr quando os três terminaram de passar por todo aquele mato. Estavam arranhados, cansados e a comida que receberam daquela senhora não parecia mais lhes fornecer energia. Ao menos, não mais chovia no momento em que chegaram de frente para um imenso prédio circular.

  Era imenso e emanava uma aura sinistra no sentido mais fiel da palavra. “Torre Celestial, um local de descanso para espíritos inocentes,” dizia a placa logo em frente.

- Então, é aqui que meu amigo deve estar? – perguntou Takashi mais para si do que para Meowth. E olhou para cima, torcendo para que Nyanko-sensei estivesse bem.

  Meowth apenas fez um rápido movimento de cabeça para confirmar e adentrou o prédio, como se não sentisse o mesmo cansaço.

  Havia sido um longo caminho e as roupas de Takashi colavam pelo seu corpo, encharcadas, suadas e sujas. Restava-lhe torcer para que seu sensei estivesse bem, naquelas condições não poderia fazer mais nada. Era tal como se a batalha anterior, que nem por ele fora lutada, houvesse lhe usado a reserva de suas energias.

- São túmulos? – A voz de Tanuma veio hesitante por cima de seu ombro direito.
- Esta é a Torre Celestial, - respondeu um homem com roupa de policial. – É onde os Pokémons são postos para descansar. Há um sino no topo, que dizem acalmar seus espíritos.
- Isto quer dizer que eles morrem? – Takashi olhou alarmado para Meowth. – Você disse que eles só haviam desmaiado naquela hora.
- Naquela hora sim, seu idiota. Aquele treinador ficou com cara de que perdeu o Pokémon?

  De fato, ele só parecera chateado com a derrota, não em luto. Ainda assim, Takashi já vira reações mais apáticas a mortes de youkais em sua vida.

- Não pense tanto sobre isso. Estamos com pressa, né? Ou quer que este também seja o túmulo do seu Pokémon?

  Takashi lançou mais um olhar para os túmulos enfileirados a seu redor, eram enormes caixas azuis com o mesmo símbolo esférico que vira no tal Centro Pokémon. Tanuma foi aquele que o acordou do transe para mostrar que Meowth já subia a escada esférica à esquerda da entrada.

  No piso de cima havia mais túmulos e, para surpresa dos dois amigos, algumas pessoas batalhavam ali com seus Pokémons em meio a outros que apenas olhavam desconsolados para os pedaços de pedra azul. Com medo de ser chamado para novo confronto, ele apenas seguiu seu guia até o andar superior por outra escada em espiral.

  O cenário era idêntico, pessoas lutando, ou melhor, youkais lutando, outras pessoas apenas ali, talvez em alguma conversa secreta com seus Pokémons falecidos.

- Ei, ei, – uma moça bem jovem o chamava. Ela usava uma roupa rosa semelhando a uniforme de enfermeira e lhe sorriu.

  Takashi deu um passo para trás, segurando forte a bola onde o Tranquill se encontrava. Aquela era a pior hora para mais uma luta. Contudo, a mulher não lançou seu youkai nem nada e apenas estendeu-lhe a mão:

- Vocês todos parecem bem cansados, por que não descansam seus Pokémons um pouco?

  Meowth se aproximou interessado.

- Certo, hora de dar um pouco de energia para eles! – E ela sorriu mais uma vez. No momento seguinte, a tal Pokébola parecia pular animada em seu cinto. – É maravilhoso como humanos e Pokémons, cada um pode fazer algo especial. Eu sei curá-los.

  Ainda sem muita reação, Takashi agradeceu a gentileza antes de seguir Meowth, mais uma vez com pressa, para o próximo piso da torre.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Mais alguns pisos e eles chegaram ao topo da torre, onde se dizia que o youkai estava. Takashi sentiu um vento forte acertar seu corpo suado, era um refresco bem-vindo, ao mesmo tempo em que mesmo esse leve toque quase o fizera perder o equilíbrio. Estava exausto.

- Natsume, olhe! – Tanuma apontou para uma parte elevada.

  Bem no centro, no topo de um último lance de escadas, encontrava-se um youkai enorme. Os olhos bem amarelos estavam fechados, mas normalmente pareciam pertencer a um gato, enquanto seu corpo, coberto por pelos brancos, possuía a forma de um lobo gigante e marcas vermelhas cobriam seu rosto de maneira única.

- Sensei! – gritou Takashi, após se recuperar do susto.

  Meowth havia parado um pouco à sua frente e parecia impressionado com a visão à frente. Então, voltou a se mexer, subindo os degraus da escada até onde Nyanko-sensei estava deitado na forma de Madara.

- Sempre fico surpreso que ele seja assim na verdade, - comentou Tanuma.

  Takashi sorriu levemente para o amigo, aliviado que tudo estava acabando. Então, seguiu Meowth até o topo, enquanto gritava por seu sensei.

- Vamos, não é hora de dormir. Vamos voltar pra casa! – disse para o youkai que continuava inerte no chão.

  Parou, enfim, ao lado de Meowth, quem contemplava Madara.

- Agradecemos muito por sua ajuda, Meowth. Não chegaríamos até meu amigo se não fosse por você.

  O youkai Pokémon olhou-o de volta, com um sorriso ainda mais aberto.

- Mas não acha que tem algo errado com ele? – perguntou-lhe.
- Como assim? – De fato, Madara já deveria haver acordado, mas Takashi não estranhava tanto aquela atitude.
- Tente tocar nele, para ver se ele está bem.

  Concordou com a sugestão do youkai. Meowth, por sua vez, desceu alguns degraus antes que Takashi tocasse em Madara. Estaria com medo? Talvez, não houvesse youkais tão grandes aqui. Já acostumado com seu amigo, o jovem apenas o sacudiu, puxando um pouco seus pelos.

- Sensei, hora de acordar, - disse tranquilamente.

  Os olhos enormes da criatura se abriram e os refletiram. Takashi sorriu em resposta, secretamente aliviado que ele só estivesse dormindo.

- Vamos voltar? – perguntou, acariciando-lhe a pelagem.

  Mas a resposta que recebeu foi um som grave, raivoso. Madara se levantou bruscamente e derrubou o outro de costas na escada.

- Sensei? – Takashi o olhou confuso, mas o youkai apenas rugiu, emitindo uma luz forte que deixou o jovem desnorteado.
- Natsume, você tá bem? – Tanuma começou a subir as escadas.
- Fique aí! O sensei, ele... eu não sei o que houve, mas ele... – Só de olhar de volta para a criatura, Takashi já sabia que ela não o identificava como amigo.
- Ele vai atacar de novo! – gritou Meowth, já na base da escada. – Use o Tranquill e tente acalmá-lo. Assim ele nos ouvirá.
- É melhor fugir, não podemos arriscar machucar ninguém, - redarguiu Tanuma.

  Takashi tentou se levantar e sair, mas percebeu que estava perto demais para escapar. Rapidamente, abriu a Poké bola, tal qual vira Meowth fazer antes com o treinador.

- Ataque rápido, Tranquill! – gritou para o passarinho que parecia ainda mais frágil na frente de Madara.

  Madara foi atingido de forma que não lhe causou qualquer dado e o youkai Pokémon caiu inerte no contra-ataque.

- Não!
- Use a erva para revivê-lo! – Meowth lhe gritou.

  Natsume lembrou-se de todas as mercadorias compradas naquele mercado, então jogou a mencionada para seu Pokémon. Pouco depois, ele parecia tão bom quanto antes.

- Ela o cura de tudo. Ordene-o novo ataque agora.
- Tranquill, Cortador de Ar!

  O pássaro causou um vento que parecia ainda mais forte que o da última batalha, mas também não pareceu produzir efeitos contra Madara, que voltou a emitir a luz de antes.

- Tranquill, faça de novo o Cortador de Ar.

  Desta vez, o Pokémon não se moveu.

- Ele foi paralisado por aquele brilho, - explicou Meowth, agora soando ainda mais distante.

  O próprio Takashi reconsiderava fugir, mas a ideia de que nunca mais recuperaria seu amigo o aterrorizava mais que aquele confronto.

- Tente pó de cura, isso deve reestabelecer seu estado.

  Assim que constatou que o Tranquill estava bem, Takashi olhou novamente para Meowth. Não havia mais o que fazer, não queria arriscar um túmulo para aquele youkai inocente que carregara consigo. Em vez de um novo ataque, decidiu recolhê-lo com a Pokébola.

  Aproveitando que Madara parecia distraído com a espera pelo próximo ataque, Takashi correu para a saída, chamando Tanuma e Meowth para segui-lo. Precisavam sair dali, voltar com outro plano.

- O que está fazendo? – Meowth perguntou-lhe. – Vai deixar seu amigo pra trás? E todos os ladrões que Pokémon que estão atrás dele?
- Não há o que fazermos, - disse-lhe, lutando contra a vontade de gritar em desespero. – Precisamos descobrir uma forma de voltarmos para casa, ele deverá voltar ao normal lá. Deve ser algo no ambiente daqui que o deixou assim... tão selvagem.

  Sons de passos ecoaram, vindo de baixo. Alguém estava subindo para o topo.

  Takashi virou-se para perceber que o um casal subia rapidamente.

- Esperem, vocês não podem ir! – Tanuma fechou a passagem com o corpo.
- Meowth? – A mulher, uma ruiva que usava minissaia olhou para o youkai que os guiaram.
- Você a conhece? – perguntou Takashi.
- São... meus amigos.
- Aqueles que ficaram gananciosos e você os abandonou?
- Como assim nos abandonou? – perguntou o homem, um homem de cabelos compridos azuis. – Fomos nós que o deixamos com essa maluquice de lendário desconhecido, ha ha! Como alguém poderia conjuruhhhh urrrrr-uh-uhhh-

  Meowth havia pulado para o homem, dando um imenso abraço.

- Não precisa fingir que a culpa foi sua, James! Se estão aqui, quer dizer que me perdoam, né? Vocês agora decidiram acreditar em mim? Irão me ajudar a proteger esse pobre Pokémon de pessoas gananciosas que só querem roubá-lo? – E continuou a abraçar o homem para depois pular no colo da mulher tão carinhosamente como quando Nyanko-sensei queria um favor de Takashi.

  O pensamento o deixou triste. Voltou os olhos de volta para o topo da torre, onde seu amigo estava abandonado, sem consciência de quem era ou de onde estava.

- Sensei...
- Não se preocupe, garoto! – A mulher entrou em sua frente, exibindo um sinal de positivo. – O Meowth aqui já nos explicou tudo sobre seu amigo. Apenas aguarde aqui dentro da torre em segurança enquanto usamos nossos Pokémons para acalmá-lo. Assim, você poderá levá-lo em segurança para ninguém pegá-lo.
- Isso mesmo, deixa com a Jessie e com o James. – Meowth desceu do colo da amiga e mostrava um imenso sorriso de confiança. – Nem todos os golpes machucam, alguns são capazes de paralisar ou até de tornar o Pokémon adversário mais calmo. Talvez assim, você possa conversar com ele!
- Sim, faremos de tudo para pegá-lo! – completou James, também sorrindo.
- Pegá-lo para você, claro, - esclareceu Jessie.

  Então, os dois partiram, cada um segurando uma Pokébola.

- Fiquemos aqui para não nos machucarmos, - sugeriu Meowth, pondo o corpo na saída para o topo.

  Takashi ouviu Madara emitir um som gutural semelhante a um rugido e uma luz forte como de antes quase o cegou. Pouco depois um grito masculino ecoou e pareceu continuar, aproximando-se de onde estavam.

  James retornara até ali com algo que parecia uma planta gigante engolindo sua cabeça.

- Não se preocupe, - gritou, finalmente se livrando do youkai. – Carnivine e eu vamos ajudar seu amigo! – E correu de volta com lágrimas nos olhos.
- Seus amigos... realmente mudaram de ideia? – perguntou Tanuma, aproximando-se de Meowth. – Você deve estar muito feliz, né?
- Sim! Sim!

  Mais um urro de Madara e as palavras do Pokémon foram abafadas.

  Takashi assustou-se quando Tanuma cutucou seu ombro.

- Tem algo muito errado com tudo, - cochichou-lhe.
- Claro, o sensei, por que ele tá assim?
- Não é só isso, Natsume. Olhe para Meowth. E você viu as roupas daqueles amigos dele?

  Sentiu as bochechas queimarem ao se lembrar da minissaia que a mulher, Jessie, vestia.

- Natsume, havia um imenso R nas blusas e aquilo parecia muito um uniforme.
- O que disse?
- Que eles usavam um uniforme.
- Com um R?
- Sim. Isto não te lembra nada?

  Mas ambos foram interrompidos por um novo grito. Desta vez, parecia vir de Jessie e não era de desespero.

- Meowth, nós conseguimos! – gritou James, como que traduzindo a comemoração da outra.

  Quando Takashi olhou o Pokémon para ver sua reação, ele já não estava mais na entrada.

- Vamos, o Ponta está em perigo! – Tanuma o puxou pelo pulso de volta ao topo da torre.

  E ele mal pôde acreditar no que olhava: um helicóptero estava levantando voo dali, puxando uma enorme lona preta.

- Senseeeei! – gritou Takashi com toda a força para o youkai desfalecido.

  Agarrados à corda, Jesse e James ajudavam Meowth a subir.

- O que estão fazendo?
- Não acredito que seu plano maluco deu certo, Meowth, - dizia Jessie, ignorando os dois rapazes.
- Eu disse que poderia conjurar um Pokémon lendário para o topo da Torre!
- E você ainda convenceu aquele moleque burro a te ajudar? Um plano de mestre! – James ria, ao enfim conseguir erguer o youkai Pokémon para a escada amarrada ao helicóptero.

  Tanuma subiu correndo as escadas até o elevado na torre e tentou puxar a lona que segurava Nyanko-sensei.

- Tome cuidado, vai acabar sendo carregado! – alertou Takashi, tentando pensar em outro plano.
- Se ao menos pudéssemos acordá-lo...
- Já sei! – O rapaz abriu a pochete e tirou mais um frasco com o tal pó de cura. Então, lançou-o em direção a seu amigo youkai.
- Seu idiota! – gritou Meowth, o primeiro a perceber seu plano.
- Aaaah, depois de todo aquele trabalho, ele vai acordar esse monstro!? – James pareceu pálido e quase caiu da escada.

  Madara começou a se mexer no instante seguinte.

- Funcionou! – gritou Tanuma. – Ele está se soltando da lona!

  O enorme youkai com forma de lobo começou a voar raivosamente, circulando a torre.

- Por que fez isso!? – Meowth estava novamente no chão e assistia Madara atentamente.
- Você! – Tanuma apontou para o gato falante. – Por que nos traiu? Pior, por que nos enganou? Este era seu plano desde o início?
- De fato, eu havia marcado este horário com o helicóptero. Bastava encontrar um moleque esforçado que nem um que conheço de boné vermelho, mas que não soubesse de minha real identidade.
- Como membro da Equipe Rocket, não é? – perguntou Takashi, após entender o que Tanuma lhe dizia no início.

  Meowth assentiu com olhar orgulhoso.

- E tudo daria certo, principalmente quando Jessie e James acreditaram no meu plano e pararam de roubar Pokémons aleatórios por aí para virem pegar o que realmente deixaria nosso chefinho feliz. Se vocês não decidissem fazer o que sequer entendem! Como puderam tirar aquele Pokémon do sono!? Agora nossos Pokémons estão cansados demais para vencê-lo e ele vai fugir sei lá pra onde!
- Eu diria bem feito pra vocês se não estivesse preocupado com como ajudar o meu amigo. – Takashi raramente se sentia tão irritado consigo mesmo como naquele momento.

  A traição de Meowth era para ter sido esperada. Desde que os conhecera, o gato falava coisas idealizadas, como se saídas de um panfleto quando na verdade agia pouco se importando com os sentimentos de outros Pokémons. De fato, ele havia tido um pouco de desconfiança antes, mas apenas por seu próprio problema com youkais. Por isso, não raciocinara direito e pusera Tanuma e até Nyanko-sensei em perigo. Conseguira exatamente o que menos desejava e não sabia o que mais fazer. Talvez não devesse ter acordado Madara...

  Viu Jessie e James voltarem a lutar com ele usando Pokémons. Todos estavam cansados à exceção exatamente dos humanos que só precisavam dar ordens.

- Meowth, não sei o que mais posso te dar em troca, mas me ensine como voltar para casa. Foi você quem nos trouxe, né?
- O quê?
- Quando conjurou o Nyanko-sensei, nós estávamos com ele e viemos parar aqui neste... mundo estranho. Como desfazemos tudo?
- E perder um Pokémon lendário? – ele começou a gargalhar.
- Ele não sabe, Natsume! – Tanuma ainda estava no topo do elevado, observando toda a luta. – Não dê ouvidos a esse gato.

  Se até mesmo ele que vinha encantado com todos os youkais que agora podia ver dizia isso... Takashi suspirou resignado.

- E o sino? – Tanuma gritou mais uma vez. – Eles acalmaram o Ponta com Pokémons, mas e esse sino aqui em cima?

  Takashi estivera tão distraído que não percebera o sino, oculto antes pelo enorme corpo da forma original de seu amigo.

- O guarda lá embaixo disse que esse sino é conhecido por acalmar Pokémons. Se a coisa do mercado pra Pokémons funcionou antes, por que não tentamos o sino?
- Não vou deixar! – Meowth pôs-se no caminho, com as garras todas à mostra.

  Takashi inspirou fundo e pegou uma de suas Pokébolas.

- Ataque rápido, Tranquill!
- Eu posso fazer melhor! – E mostrou as garras para Tranquill.

    Tentou ignorar o grito de dor de Tranquill e ordenou o outro golpe que conhecia:

- Cortador de Ar!

  O vento forte atingiu Meowth com bastante força, mas o Pokémon se levantou para dar outro arranhão no pássaro. Não havia nada mais em sua bolsa a não ser a tal da raiz de energia. Takashi a deu para Tranquill e instantaneamente o viu ficar tão forte como antes.

- É, moleque, é bom ver que o que eu te ensinei valeu de alguma coisa. Mas é tarde demais. – Meowth apontou para o ar. Madara não mais circulava a torre, estava caído do outro lado do elevado e logo seria preso novamente.
- Nyanko-sensei! – gritou.
- Desta vez, vencemos! – O gato começou a gargalhar forte.

  Todavia, por cima daquele som pretensioso, um sino soou até calar o Pokémon. Tanuma havia conseguido chegar até lá e fizera todos ficarem em silêncio. Era como se nem as hélices do helicóptero acima se mexessem.

  Assim que o sino terminou, Takashi ouviu um rugido. Madara estava novamente no ar, não parecendo nem um pouco calmo. Mas, antes que o rapaz sentisse o sabor do fracasso, ele ouviu Jessie e James gritarem. E o grito ficou cada vez mais e mais distante. Os dois haviam sido jogados pelos ares com todos os seus Pokémons.

  No instante seguinte, o enorme youkai estava próximo a Meowth e ele. Instintivamente, Takashi guardou Tranquill e tentou proteger a Pokébola com seu corpo. Entretanto, os olhos amarelos focaram-se apenas no Pokémon felino.

- Foi por isto aqui que você me trocou, Natsume? Heh!

  Meowth olhou para Takashi e então de volta para o youkai que ele mesmo conjurara.

- Espera aí, Jesseeeee! Jaaaaames! – E pulou ele mesmo atrás dos amigos.
- Viu. Não vale nem um pelo meu. – Madara sorriu.
- Quer dizer que funcionou? O sino? – Takashi perguntou para o amigo, antes de abraçá-lo em lágrimas.
- Fico feliz que tenha dado tudo certo. – Tanuma desceu as escadas até os dois.
- Bem, então, o que vocês estão esperando? – Madara fez um sinal para suas costas. – Subam para irmos embora daqui.
- Espere, sensei. Tem algo que eu preciso fazer antes.
- Hm?

  Após uma curta parada no lugar aonde Takashi primeiro chegara naquela terra, ele se despediu de seu Tranquill. De uma coisa aquele Meowth estava certo: havia Pokémons que queriam um dono, pois aquele pássaro não deu um passo sequer para fugir assim que foi liberado. Pelo contrário, ainda tentou seguir o rapaz.

- Espero que você encontre um bom dono, rapaz. Mas não pode vir comigo. Eu sinto muito... – Takashi abriu seu cinto e o deixou ao lado do pássaro. – Acho que nada aí deve te servir, mas talvez chame atenção de alguém para você.

  O pássaro deu um pequeno pulo no ar e se aninhou na pochete aberta. Takashi se despediu novamente e então olhou para Madara.

- Sensei, vamos para casa. Meus tios devem estar preocupados.

  Ele não sabia o que Madara fez, mas um brilho branco os cobriu. Quando deu conta de si, o jovem estava no meio do rio, no seu caminho de casa.

- Natsume, cuidado! – Tanuma o empurrou para baixo d’água pouco antes de dois objetos pesados caírem sobre eles.
- Nossas mochilas! – disse para o amigo, maravilhado. Não era mais anoitecer e sim dia.

  Tudo parecia tal qual haviam deixado quando foram parar naquele lugar estranho cercado de youkais e em que os homens haviam aprendido de alguma forma a conviver com aquelas criaturas. Após ser tanto tempo perseguido por suas habilidades, Takashi enfim conseguia vislumbrar um dia em que seu mundo também chegaria a um consenso com os youkais.

- Cadê o Ponta? – perguntou-lhe seu amigo, olhando para seu redor.

  Uma raiva cresceu, fazendo seu estômago revirar.

- Ele estava conosco nas costas. E nos deixou cair aqui de propósito. – Ao olhar para cima, constatou sua suposição. Nyanko-sensei, em sua forma felina, estava sentado no pequeno muro da ponte e assistia os dois, divertindo-se lá em cima.

  Tanuma riu da situação.

- Ao menos, recuperamos minha mochila. Foi uma jornada mais longa que eu esperava... Obrigado pela ajuda, Natsume.

  Sentiu-se ruborizar.

- Tanuma, na verdade... Acho que o youkai só a roubou para implicar comigo. Se eu não estivesse por perto...
- Eu não teria me divertido tanto quanto nestes dois últimos dias. – O amigo juntou um pouco de água nas mãos e jogou contra o rosto de Takashi. – Devíamos mudar de mundo mais vezes. – E espichou mais um pouco de água.
- Você sente falta? De poder conversar com eles?

  Tanuma ficou pensativo por um instante antes de responder:

- Não era como se eu pertencesse àquele lugar... Mas devo ter minha dose de youkais com bastante frequência desde ande contigo, he he. – E voltou a jogar água no amigo.

  Os dois continuaram a brincar tal quais duas crianças por ainda algum tempo, sendo observados de perto por um dorminhoco youkai em forma de gato.

FIM!

Anita, 22/10/2012

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