Capítulo 2- Ligações
Depois de um dia
de aula, tinha resolvido sentar num parque e descobrir com quem ela poderia
atuar. Mas a lista, preparada por Marine, não estava lá das melhores, a maioria
era formada por meninos do primário e outros idiotas da escola, nenhum poderia
decorar uma fala e ajuda-la a fazer uma boa apresentação, talvez fosse melhor
chamar um de seus três irmãos, eles poderiam não ser os melhores, mas eram
perfeitos em comparação aos que Marine arrumara. Outro problema era o texto, que
tipo de texto ela poderia apresentar? Anne sugerira um material bem culto, mas
a peça combinada não se encaixava na descrição...Tinha tido uma idéia!
Pegou sua maleta e tirou o conteúdo, pasta por pasta, livro por livro, até chegar ao fundo, cheio de papel, que de tão velho estava rasgado e amarelado. Bilhetes antigos, rascunho de estórias e poemas para redação, desenhos fracassados para arte e ali estava o papel da peça que representara na quinta série, numa avaliação de arte... Tinha sido difícil decorar aquelas cem falas, pra depois descobrir que podia improvisar...Atrás das falas encontrava-se parte de uma adaptação de “Romeu e Julieta”, tinha guardado por ter achado muito bonita, aquela parte...Começou a tentar descobrir qual seria.
Aquela era sem
dúvidas uma das partes mais famosas da peça, é a parte em que os dois se
encontram na sacada, ela iria começar de cara, já que o papel não exibia a cena
por completo:
Lucy (Julieta): _
“Meu inimigo é apenas o teu nome. Sê outro nome. Que há num simples nome? O que
chamamos rosa, sob uma outra designação teria igual perfume. Romeu risca teu
nome, e, em troca dele, que não é parte alguma de ti mesmo, fica comigo
inteira”.
Voz: _Sim, aceito
tua palavra. Dá-me o nome apenas de amor, que ficarei rebatizado. De agora em
diante não serei Romeu.
Lucy: _Quem está
aí?
Tinha certeza que
tinha ouvido uma voz, falando o que Romeu falaria, mas não tinha ninguém ali,
aquele era um lugar sempre deserto naquelas horas, sempre ia ali, para
descansar. Sentar-se a sombra daquela árvore, cheia de folhas e tão alto, num
banquinho afastado... Além do mais, certificou-se de que ninguém a ouviria,
tinha falado bem baixo, só alguém bem próximo seria capaz de faze-lo...Deve ter
sido sua imaginação!
Lucy: (Julieta)_
Quem és tu que entras em meu segredo?
Voz: _Por um nome
não sei como te dizer quem eu seja. Meu nome, cara santa, me é odioso, por ser
teu inimigo; se o tivesse diante de mim, escrito, o rasgaria.
Lucy: (pensando)
“Agora tenho certeza de que não imaginei...” _Quem está aí?
Voz: _Você errou!
Esta não era sua fala...
Lucy: (procura
aos arredores, mas não vê ninguém) _A idéia não era falar nada! Onde você está?
Voz: _Estou onde
ninguém pode estar neste momento, além de mim, é claro. Estou no meu lugar!
Lucy: (começa a
ficar brava)_Não enrola! (um pouco mais calma) Como sabe as falas?
Voz: _Acontece de
eu estar estudando semelhante passagem, porém um pouco mais atrasado, a cena
um, onde Romeu não fala nada! Queria soltar a voz e você começou a falar...
Lucy: (começa
notar que a voz vinha de um galho alto da árvore) _Desça daí, seja um
cavalheiro e se identifique.
Neste momento,
ela sente um golpe de ar e nota um jovem alto, de dezessete ou mais, cabelos
curtos e escuros, olhos azul-arroxeado. Ele estava a sua frente:
Jovem: _Meu nome
é Lantis e você? (estendendo a mão)
Tinha uma bela
voz, bem masculina, que agora falava de forma doce, não tanto quanto a que ele
usava para a cena de Romeu, mas, sem dúvidas, uma voz encantadora.
Lucy: _M-m-me
ch-cham-chamo Lucy Shidou.
Lantis: _É atriz?
Lucy: _Ainda não,
eu pretendo fazer um teste e tava tentando decorar esta cena.
Lantis: _Eu vou
fazer uma peça, mas ela ainda não tem data definida, a diretora ta formando o
elenco. Tava ensaiando sozinho e de repente me aparece alguém para ler.(levanta
um monte de papel, lê-se claramente em formas grandes: “Romeu e Julieta”).
Lucy: _Estranho...O
teste é exatamente para esta peça!
Lantis:
_Imaginei, Deboner está procurando por novos talentos, estamos cansados de
trabalhar sempre com a mesma cara e esta peça é feita com dúzias de
personagens, é um bom começo. Mas, pessoalmente, acho que está exagerando com a
cena, a menos que espere o papel de Julieta, é muito jovem e doce para o da Ama.
Lucy:
(ruborizada) _Obrigada...
Lantis: _Só digo
a verdade, porém é muito simples para representa-la... Teria que ter um porte
mais maleável, pois tem horas que ela é altiva e outras que é muito doce, mas
nunca aos extremos, você pegou a cena em que ela mistura os dois.
Lucy: _Mas eu não
quero este papel...
Lantis: _Se
ensaiar, conseguirá, Deboner quer gente nova no lugar de Julieta, foi o que eu
ouvi falar, talvez seja mais tolerante.
Lucy: _Mas me
disseram que o Romeu já foi escolhido e que será um ótimo ator, muito conhecido
e habilidoso, não creio que eu vá combinar com ele.
Lantis: _É só
fingir, isto é o que um bom ator faz. No palco, nada é verdade.
Lucy: _Então,
como saberei se está mentindo ou não?
Lantis: _Você tem
confiar...
Lucy: _E como
confiar em um ator, num mentiroso?
Lantis: _Ninguém
é perfeito, talvez você possa encontrar a minha imperfeição. E não se preocupe,
se continuar assim, e se os rumores forem verdade, conseguirá a Julieta, é
muito parecida com a que seria. Não no físico, mas no olhar.
Lucy: _se estiver
falando a verdade, ator, eu espero que reze por mim!
Lantis: _É a
única Julieta que conheço, eu o farei. Quer ajuda com a cena?
Lucy: _Faria isso
por mim?
Lantis: _Claro!
Lucy: _Por que?
Lantis: _Por que não?
(pausa)
Lucy: _Obrigada!
Um tempo depois:
Lantis: _Poderia
me informar o horário?
Lucy: _Claro! São
seis da tarde.(pausa) O que!?!?!?!?!?!? Passou tanto tempo assim!? Eu tenho que
ir pra casa, ou não estarei viva para a peça!
Lantis: _Posso te
telefonar?
Lucy: _Claro! Até
mais!
E a garota de
cabelos vermelhos como o fogo se afasta, preocupada com a briga que lhe dariam
caso se atrasasse muito.
Antes da janta
resolveu tomar banho e pensar um pouco na vida e naquele lindo rapaz que a
ajudou a tarde toda, mas do que adiantaria se não tinha um Romeu? Talvez ela
lhe pedisse companhia, ele já era experiente, se é que lhe disse a verdade,
poderia ajuda-la no palco, para se acalmar, ou coisa assim. Quando ele lhe
ligasse, ela-
Lucy: (grita)
_Droga!!! Esqueci!
Só então notou
que não tinha lhe dado o número. Talvez nunca mais o encontraria e tudo estava
perdido! Não, ele podia ter colocado seu número no script que treinaram.
Ao sair do banho,
se vestiu e foi revirar sua mochila, na qual colocou tudo depressa para ir
embora, perdeu as esperanças quando se lembrou que tinham treinado no script
dele. Mas lá estava, ela acabou colocando dentro de sua pasta, naquela
correria. Já que era a única que não sabia as falas, ela treinou com o roteiro
na mão, na confusão o colocou na mochila.
Tentou, ainda,
sem sorte, encontrar algum telefone para ligar, mas perdeu as esperanças.
Voz ao fundo:
(gritando) _Lucy, desce!
Lucy: _estou sem
fome, já disse.
Voz: _A janta
ainda não ta pronta, é telefonema pra você!
Com certeza era a
sua amiga Marine, querendo perguntar sobre quem ela decidiu. Desceu:
Lucy: _Alô.
Do outro lado da
linha: _Alô, Lucy?
Lucy: _Sou eu,
quem fala?
Voz: _sou eu,
Lantis.
Lucy: _Como
descobriu meu número, na pressa, além de não te falar, eu peguei seu script.
Lantis: _Calma,
uma pergunta de cada vez! Eu procurei na lista de testes e achei seu nome, por
sorte tinha me falado o sobrenome, facilitou muito! Já o script, você não ouviu
o que eu disse...Como imaginava! Eu deixei com você para ir treinando, me devolve
amanhã. Eu já sei o suficiente e não pretendo dormir com ele, mais do que já
dormi...Não é a primeira vez que eu faço esta peça.
Lucy: _Fico mais
tranqüila... Quando nos vemos?
Lantis: _amanhã,
às três horas, no mesmo lugar!
Lucy: _Espero que
não se atrase!
Lantis: _É o
mesmo que espero de você...
Lucy: _Estarei
lá! Agora eu tenho que jantar...A gente se fala!
Lantis: _Boa
noite!(ambos desligam).
Aquela conversa
lhe deu uma fome, o dia tinha sido longo, mas se sentia feliz, depois de
tudo... Será que realmente conseguiria o papel de Julieta? E quem seria o
Romeu? Esperava que ele fosse bem compreensivo com seus erros, já que seriam
muitos.
*-*-*-*-*-*-*-*
Após dar as
aulas, Kátia resolveu comer alguma coisa e ir direto para o teste, estava
nervosa, mas nada a impediria de tentar de novo, nem a sua perna. A verdade era
que deveria ter ganhado o papel, era a melhor, a mais indicada, mas aquele
acidente mudou sua vida, como pôde dormir ao volante? Pelo ao menos Deboner
conseguira, ou senão, teria raiva da vencedora, quem quer fosse...
Tinha sido em um
destes testes, ela seria a Othil de “O Lago dos Cisnes” e seria seu melhor
papel, sua entrada definitiva para o profissional, na época o diretor, da mesma
companhia teatral, era o pai de sua melhor amiga, Deboner; ele tinha acabado de
ganhar o emprego, tinha herdado a companhia, após a morte do antigo dono, seu
mestre de teatro. Era sua chance, o diretor estava mais afim de pô-la do que da
própria filha, mas ela dormiu ao volante e tudo acabou, nesta época tinha
apenas quinze anos, recém-feitos e se conseguisse o de Othil, poderia até ser a
Julieta e quem sabe o que viria a seguir?
Mas agora, o que
realmente importava, era voltar em cena, com a ajuda de sua amiga o papel era
dela! Ela conseguiria, já que a ama usaria vestidos bem cobertos, ninguém
notaria sua perna mecânica e ainda por cima poderia ajudar seus alunos, fazendo
a cabeça de Deboner. Anne seria perfeita para o papel se não tivesse cabelos
curtos, talvez Marine conseguisse, era muito bonita, mas talvez não tivesse
tanto carisma quanto Esmeralda. Quanto à altura...Romeu devia ser um rapaz bem
alto, sendo irmão de quem era, mas seriam capazes de combinar tanto? Ainda
tinha Yasmim, que apesar de nenhum carisma, era bela e elegante, perfeita para
Julieta. Alguma delas, ou até Lucy, mas esta não gostava de teatro, e tinha a
cara muito masculina, não devia ficar bem nas roupas, mas carisma é com ela
mesma! É, todas eram ótimas, mas e as outras que foram escolhidas?
Nossa! Aquele
lugar parecia o mesmo de quando ela ensaiava para o teste e lá estava Deboner e
Alcion...Seria ela capaz de ganhar? Teria que merecer, pois ela daria tudo de
si!
Deboner: _Olá
Kátia, me parece ótima! Como vai?
Kátia: _Muito
bem, você também me parece...
Deboner: _Eu já
acabei com Deboner, agora é você, está pronta?
Kátia: _Claro!
Vou subir...
E lá ela estava
de novo, em sua casa, o palco! E como era bom... Agora se apresentaria como
Othil, ah! Ainda tinha que dizer que seria sozinha.
Kátia: _Eu tô sem
par...
Deboner: _Não tem
problema...(grita) Rafaga! Venha aqui, cadê Lantis?
Rafaga: _Ele
saiu, começo a suspeitar que tenha namorada...
Deboner: _Deixa
pra lá, além do mais sua casa está um caos! Poderia representar o par de Othil?
Rafaga: _Lagoa
dos Cisnes?
Deboner: _Lago!
Sim, isso mesmo, vai lá em cima! Kátia, querida, lhe fala as partes. Têm dois
minutos.
Kátia:
_Claro!(pensa) “É agora, lá vou eu! Boa sorte, Kátia!”.
*-*-*-*-*-*-*-*
Ainda era cedo
quando chegou no parque, assim poderia dar uma revisão antes de ensaiar... Lá
estava sua árvore, Lucy sentia um frio estranho, misturando-se à ansiedade pelo
encontro. Não pela ajuda, assim fazia parecer que eram namorados ou coisa
assim. Sentou-se, falaria em voz alta... Iria logo em uma das maiores, por que
treinava naquela tão grande, na sua era tão mais fácil. Mas Lantis preferia
assim, tinha que cumprir sua vontade, afinal, estava lhe ajudando, não é?
Lucy(Julieta) :
_“ Sabe-lo bem: a máscara da noite me cobre agora o rosto; do contrário, um
rubor virginal me pintaria, de pronto, as faces, pelo que me ouviste dizer
neste momento. Desejara - oh! minto! - retratar-me do que disse. Mas fora! fora
com as formalidades! Amas-me? Sei que vais dizer-me “sim”, e creio no que
dizes. Se o jurares, porém, talvez te mostres inconstante, pois dos perjúrios
dos amantes, dizem, Jove sorri. Ó meu gentil Romeu! Se amas, proclama-o com
sinceridade; ou se pensas, acaso, que foi fácil minha conquista, vou tornar-me
ríspida, franzir o sobrecenho e dizer “não”, porque me faças novamente a corte.
Se não, por nada, nada deste mundo. Belo Montecchio, é certo: estou perdida,
louca de amor; daí poder pensares que meu procedimento é assaz leviano; mas
podeis crer-me, cavalheiro, que hei de mais fiel mostrar-me do que quantas têm
bastante astúcia para serem cautas. Poderia ter sido mais prudente, preciso
confessá-lo, se não fosse teres ouvido sem que eu percebesse, minha veraz paixão.
Assim, perdoa-me, não imputando à leviandade, nunca, meu abandono pronto,
descoberto tão facilmente pela noite escura.
Voz vinda das
árvores: _ “Senhora, juro pela santa lua que acairela de prata as belas frondes
de todas estas árvores frutíferas...”.
Lucy: _Lantis, é
você?
Lantis: (desce da
árvore) _Errou de novo, não é esta a fala...
Lucy: _Estava aí
o tempo todo!?
Lantis: _Sim...
Pensei que tinha marcado pra mais tarde!
Lucy: _Eu cheguei
mais cedo, o que faz aqui?
Lantis: _O mesmo
que você...Cheguei mais cedo!
Lucy: _Aqui está
o seu script. (entrega o papel)
Lantis:
_Obrigado!
Lucy: _Eu é que
agradeço! Vamos começar a ensaiar?
Lantis: _do
início?
Lucy: _Claro!
Primeiro você...
*-*-*-*-*-*-*-*
Kátia: _Como fui?
Deboner: _Pensei
que estaria mais enferrujada! Acho que o papel é seu, aqui está o
script.(entrega) Lembre-se de não faze-lo de travesseiro e de não tomar com
ele, mas o resto do tempo estará com você!
Kátia: _É, a ama
tem muitas falas!
Deboner: _Boa sorte,
eu lhe informarei dos ensaios.
Kátia: _Certo!
[Fim do Capítulo]
Notas da autora:
É, eu tô copiando demais, mas acreditem que to tentando
mudar algumas coisas! Pra quem ainda não leu a minha inspiração, eu creio que
devam estar gostando, pois estou dando tudo nesse projeto! Aguardem o próximo
capítulo! anita_fiction@yahoo.com
Anita, 15/08/01.
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