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Quando Nossos Olhos Se Reencontrarem... § 7 – Um Vôo no Cócito

Notas Iniciais: 
Sim! Estou lançado este cap bem pertinho do outro, né? Aliás terminei-o uma semana depois, mas como o início das aulas tavam perto, eu segurei por mais uma, não quero mal acostumá-los. Então este é o penúltimo, está bem menor e último será menor ainda. Agora vamos à fic, sempre lembrando que apesar de Saint Seiya não ser meu essa idéia toda é.
 
 Olho Azul Apresenta:
Quando Nossos Olhos
Se Reencontrarem...
 
Capítulo 7 – Um Vôo no Cócito
  O jovem estava sentado perto do piano, ouvindo o assunto de sua mestra e do outros dois Cavaleiros de Ouro. Sentia-se miserável. Tudo o que sabia na vida resumia-se em tocar piano e levar uma garota aonde quisesse. Era o típico malandro. Por isso se dera bem negociando pela Fundação... 

“Agora... É o quê? Volto àquela minha amada vida boêmia. Deixo uma delas com o cara da vida dela e a outra com seu sonho de salvar os pobres esquimós”, pensou, logo se xingando. Nem sabia se na Sibéria havia esquimós. E desde quando Hiko era tida em tal alta conta?
 
  Saori parecia se afastar cada vez mais para Seiya. Era óbvio que o beijo do dia anterior não era mais nada. Havia se despedido e agora era isso. Miho também estava longe; havia superado-o. Todos pareciam muito bons, com novos amores e até com casos antigos. Até Miro, que estava sozinho, parecia bem.
 
  A menina de seus olhos em breve notaria que o que Ikki sentia por ela estava longe de simples atração. Ele também notaria que não sentia somente devoção por aquela Deusa. Seiya não ligava. Sentia-se só e isso era um problema.
 
-Ei... Isso aqui está muito escuro. E fica sombrio um jovem de cabeça baixa no banco do piano –Era justo em quem pensava que chegava, como se produto da sua mente. Hiko aparecia ali como se materializada.
-O que quer, Hiko...?
-Eu vim me despedir... Meu avião sai daqui a pouco, tenho que ir ao aeroporto.
-Já!?-Seiya pulou, fazendo o banco cair no chão.
-Quando fui checar o horário também me assustei. Vim me despedir... É engraçado, mas vou no mesmo avião que aquela alemã, amiga do seu amigo. Ela me disse que quer ir logo se arrumar, parece que se mudará pra Grécia. Em pensar que mal conhece o cara...
-O Saga é legal...
-Imagino... Aprontei uma com ele e parece nem se lembrar de mim.
-É? Saga não é de perdoar estas coisas. Mais cedo ouvi Camus comentar com Shaina que Saga o estava dando um gelo, hehehe.
-Que risada nervosa...-a russo-japonesa comentou, fazendo o jovem se ruborizar, -Hahaha! O grande Seiya vermelho com um simples comentário... Você mudou desde que te conheci, ou está me deixando ver o pobre menininho dentro do cafajeste?
-Ei! Cafajeste não!
-Certo... Estou indo agora.
 
  Ela se virou. Mas, mesmo na escuridão, Seiya viu algo brilhando no rosto dela.
 
-Quer ficar?-ele perguntou.
-Quê?-ainda que se detendo em seu andar, Hiko permanecera de costas.
-Se quiser ficar no Japão, fica comigo. Está chorando, não notei antes por causa da escuridão aqui... Mas estava chorando desde o início e por isso não acendeu a luz...-Ele caminhou lentamente até a menina.
 
  Hiko só se virou quando sentiu aqueles braços enroscarem-se em seu corpo, o que a fez ter calafrios. Era tão diferente do que sentia com Hyoga. Era algo bem mais maduro...
 
-Você também, -a menina comentou com voz embargada. As lágrimas pareciam ainda mais fortes agora.
-Eu sei.
 
  E se beijaram.
 
  Tanto Seiya quanto ela própria compreenderam ali que era hora de deixar o primeiro para trás e se aventurarem em outro. No seu último amor.
 
-Fica comigo. Fica comigo pra sempre, Hiko-chan.
-Eu não posso, eu tenho que cuidar da Central de Ajuda...
-Será que consigo uma passagem contigo então?
-Vem comigo? Pro fim do mundo?
-Sempre. A qualquer lugar!
 
  Ela sorriu. Aquele era o sorriso mais bonito, mesmo com o rosto cheio de lágrimas... Aquela era a garota mais bonita.
 
-Eu acho que o cafajeste aqui te ama...
-Que bom, chega de amores não-retribuídos pra mim!
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
  Caminhavam silenciosamente de mão dadas. O jovem alto, forte e de olhos azuis parecia ansioso por algo que a moça de cabelos roxos não conseguia entender. Como se aquele algo dependesse dela.
 
-Ikki, o que há?-Saori finalmente perguntou.
 
  Uma leve brisa passou pelos dois. Era um dia agradável. Porém, após a noite anterior, havia um clima estranho entre os dois.
 
-Eu só estava pensando se... Se seria certo um cavaleiro estar tão íntimo assim com a Deusa.
-Logo quem diz... O grande Ikki que não obedece a ninguém, hahahaha!
 
  Ele sorriu meio sem graça. Ela tinha razão, era irônico ele suprimir seus sentimentos por obediência. Mas havia se prometido, só se confessaria se ela permitisse. Mas ela nunca o dizia... Ela nunca lhe dava o sinal verde.
 
-É estranho mesmo, esse seu medo comigo...-ela continuou, apertando a mão do companheiro.
-Eu só não sei como agir. Ontem foi meio louco, mas agora que penso... Você é minha Deusa.
-E seus amigos... soube que aquela Sabine está indo embora hoje.
-Ela está com o Gêmeos. Carl disse que vai ficar, ele e a menina do orfanato se deram bem.
-Todos arranjaram alguém em tão pouco tempo.
-Nem tanto, todos estavam à procura. Mas só agora encontraram... Não diga como se fosse simples vontade. Eles realmente parecem ter encontrado suas almas gêmeas, se é que estas existem. Aquela festa reuniu gente de muitos lugares diferentes, né?
-Tem razão. E você, Ikki? Ontem estava com a alemã, hoje comigo... É do tipo que vai de galho em galho? Que nem Seiya?
-Mais ou menos. Só que não sou tão desesperado...
 
  Foram a uma lanchonete próxima, sentando-se numa mesa no canto. A garçonete logo atendeu os pedidos.
 
-Você já se apaixonou de novo?-Saori perguntou, assustando o rapaz.
 
  Ele não esperava uma pergunta tão direta partindo daquela moça.
 
-Depois de Esmeralda? Sim...
-Por Sabine?
-Não... Não sei se eu diria que tenha me apaixonado por ela. Mas tive um amor impossível do qual ainda tento me recuperar.
-Certo... Eu posso te ajudar?
 
  Mas a menina voltou com os pedidos. Saori não teve coragem de exigir a resposta. Ikki havia mudado bruscamente de expressão. No fundo, ela temia que ele dissesse “não” ou que dissesse que era impossível.
 
  A jovem tinha certeza de que no fundo de Ikki, depois daquela casca de “garoto normal” que ele se havia posto, estava o Cavaleiro. E esse Cavaleiro era mais maduro do que qualquer outro e não conseguia se ajustar à realidade.
 
  Ela havia tido aquele mesmo problema; ninguém poderia entendê-la. Tantos caras haviam tentado...
 
  Prometiam os céus a ela. Muitos disseram que ela poderia confiar neles, que a entenderiam e a aceitariam. Mas ela não podia contar tudo o que presenciara. Eles nunca levariam a sério sua tarefa como guardiã do mundo e dos homens.
 
  Mas Ikki sabia. Sabia que, após tantas batalhas, a coisa mais difícil era se adaptar a uma vida normal que nunca tiveram antes.
 
  Ele mesmo dissera que a via como uma deusa. Mesmo que aquilo se opusesse ao que ela queria, ou seja,que ele a amasse; era reconfortante. Mesmo Ikki Amamiya, o cavaleiro mais rebelde com quem lidara, sabia que ser uma deusa significava abdicar-se de muita coisa. O problema é que ele, infelizmente não parecia pronto a aceitar a condição.
 
  E Saori nunca se abrira com ninguém. Não podia fazê-lo agora... Ainda rezava para no dia seguinte, no aeroporto, enquanto se despedissem, ele gritasse que a ama. Ela ainda tinha os tolos sonhos românticos de que ele era capaz de ler sua alma.
 
  Mas tudo o que o rapaz esperava era um sinal.
 
-Gostei daqui...-ele comentou ao saírem.
-É, já tinha vindo antes com Seiya. É singelo, mas é tudo muito limpo.
-É uma pena não poder ficar mais no Japão. Senão voltaria.
-E por que não pode?
-Eu trabalho... Não dá mesmo.
-Que pena...
-Gostaria que eu ficasse?
-Não! Eu só quis dizer que se ficasse poderíamos vir aqui mais um pouco. Seria egoísmo meu querer que o fizesse fazendo-o perder o emprego.
-Certo...
 
  Andaram quietos até a mansão.
 
  Ikki sabia que Saori não estava acostumada com aquela coisa de vida normal. Ele próprio se sentia estranho naquela rotina ordinária de casais com a mulher que lutara ao lado dele.
 
  Mas com ela... Com ela, o passado ficava distante. Sabia que se tocasse no assunto não teria que explicar tudo. Ela o entenderia instantaneamente. Tantas vezes quis fazê-lo com Sabine...
 
  Sempre que estavam juntos ele se lembrava daquele segredo. Nunca sentia ser a hora certa de contar. Temia que ela risse, chamasse-o de maluco ou dissesse que entendia. O último era ainda pior; ninguém entenderia nunca o que era ver gente querida morrer na sua frente e não se poder fazer nada. O significado do lugar-comum “tarde demais”...
 
  Nem Sabine, nem nenhuma garota com quem saíra. Mas aquilo estava sempre presente. Ele estava sempre distante, pensando nas guerras e em como ninguém realmente o conhecia.
 
  Com Saori era tão... diferente. Por mais que ele soubesse que ela entendia, as guerras ficavam para trás. Ele se sentia mais apto a viver o momento. A verdade é que não sabia explicar se aquilo era porque sabia que Saori entenderia ou se era por estar amando. Sim, amava muito aquela garota. Mas queria que ela o amasse antes de dizê-lo.
 
  Só ficaria com ela, se ela estivesse disposta. Ela conhecia a história com Esmeralda e quem sabe aceitasse seus sentimentos por pena? Era uma deusa piedosa... Seria característico seu.
 
  Mas por mais que Ikki tentasse arrancar um sinal de interesse nela, a jovem só parecia querer se divertir. Passar um bom tempo, como fizera com Seiya. Sem nada em troca, ela só queria um passeio e um beijo de boa noite.
 
  Irônico. Quando finalmente havia encontrado a garota de quem gostava... Ela não parecia estar à procura. Não deveria ser assim quando ele sentia que eram almas gêmeas e coisas românticas desse tipo. Não era justo. Sem Esmeralda e agora parecia perder também aquela garota.
 
  Seria melhor se aceitasse a piedade dela?
 
  Seria melhor se confessar?
 
-Ah, chegamos!-ela disse ao avistar a mansão que se impunha naquela rua.
-Sim...
-Entre, por favor, Ikki.
-Certo. Shun ainda está aqui?
-Não sei. Acho que vai pra Grécia na quarta ou na quinta; ouvi um assunto assim, antes de sair contigo.
-Pra Grécia?
-Seiya me comentou.
-Estará então com aquela garota que treinou com ele?
-Não sei mesmo. Seiya falou que ele quer voltar a treinar como cavaleiro, morar no Santuário.
-Que mudança. Pensei que ele odiasse isso.
-Também fiquei surpresa. É a garota então... Acho que Shun é do tipo que se entrega ao amor.
-Em pensar que no baile ele me disse que se sentia muito criança pra isso.
-As pessoas mudam de uma hora pra outra, né?
-É... O estranho é que eu me sinto o mesmo. É como se, nos últimos dias, eu tenha dado uma volta ao mundo e retornado ao ponto de partida.
-Sinto o mesmo...
-Somos parecidos.
-Acha?-Saori abria a porta da casa, fazendo sinal para que Ikki entrasse com ela.
-Sim. Ambos perdemos pessoas muito queridas ao longo dos tempos e vimos nossas vidas mudarem. Nós seis... Nós nos envolvemos em coisas inacreditáveis. Por mais que nossas personalidades sejam diferentes, somos quase o mesmo.
-É... Nós seis.-Saori não parecia muito contente com a comparação.
-E nós dois ainda mais,-Ikki acrescentou,-Pois aqueles quatro têm um vínculo inseparável e nós sempre ficamos um pouco à margem. Como observadores do que ocorria.
-É, -ela parecia mais animada agora, Ikki não conseguia entender, -Mas também sofremos muito...
-Não nego isso. Nós seis sofremos igual. Você até que ainda mais até. Afinal é uma deusa e tudo o mais.
-Esqueça isso. Sou igual a vocês cinco.
-Se assim diz...
-Até que enfim, Saori. Estava te esperando para pedir minha demissão, ou coisa assim, -alguém falou quando ambos finalmente entraram.
-Seiya!?-a moça se assustou com a interrupção.
-Eu estou indo pra Rússia, com a Hiko. Vou ajudar o Centro dela. É claro que minha intenção não é tão pura quanto a dela, mas não posso ficar lá sem fazer nada, né?
-Está bem. Mas então vocês também estão juntos?
-Sim, estou esperando ela descer com a Sabine.
-Há passagem? Hoje finalmente deixaram aviões irem pra Alemanha... Deve estar lotado.
-Vou no lugar do Carl.
-Ah... Boa viagem...
-Vocês dois parecem estar se dando muito bem,-Seiya comentou, apontando para Ikki.
-Acho que sim, -o rapaz respondeu.
-Fico aliviado, fiquei com medo de deixar a Saori na mão do Jabu. Aliás, na pata do cachorrinho.
 
  E ele saiu, para esperar as duas do lado de fora.
 
-Ele estava brincando, Ikki...-Saori disse meio vermelha.
-É? Estranho, parecia sério.-Era a chance dele. Se aquilo que Seiya dissera fosse sério, era o sinal que aguardava –Vai ficar bem? Aqui sozinha...
-Desde quando Seiya faz diferença?
 
  Ikki perdia todas as esperanças, novamente.
 
-Se quiser que eu fique, é só dizer, Saori.
-Não! Não ouça o que aquele pé-rapado fala. Só estava implicando comigo... Eu me viro. Meu problema era se o Jabu tivesse resolvido desistir.
-Entendo. Mas vai ser duro pra você, né? Seiya parecia ser muito seu amigo.
-Sentirei falta. Mas fico muito feliz por ele. Estar fazendo tanto sacrifício por alguém. Por mais precipitada que seja a decisão, não parece que Hiko será mais uma pra ele.
-É; alguém laçou a fera. Além de por você, nunca vi Seiya mostrar interesse assim por ninguém. Mesmo que não conviva com ele, não é uma pessoa difícil de se ler.
-Além de mim!? Ah, Ikki, não fale bobagens...
-Não falo... Ah, Sabine! Que bom vê-la.
 
  As duas desciam as escadas sorridentes.
 
-Ikki!-a alemã foi logo abraçar o amigo –Viu? Encontrei um substituto pra você rapidinho.
-Hahahaha! Tem razão. Saga não é má pessoa. Só fique longe dos espelhos, ouviu?
-Não entendi...
 
  Mas Saori ria quase que incontrolavelmente da piada. Ali, Sabine tinha a certeza de que aquela era luz nos olhos de seu antigo amor. A luz que quando o rapaz estava com ela, na Alemanha, era apenas uma sombra.
 
-Mas vejo que você também já me substituiu, -a alemã falou com um sorriso maroto.
 
  Saori ficou logo vermelha, tentando negar ao máximo. Porém Ikki manteve a compostura.
 
-Não... Ela não gosta de mim, só estamos de namorico antes de eu partir. Saori só quer partir meu coração, não é?
-Ikki! Não diga isso de mim.
 
  Os outros três riram, fazendo a ojousama ficar ainda mais vermelha.
 
-Bem, a menos que você queira que eu fique, não posso pensar o contrário, querida Saori...
-Bem, o casal resolva seus problemas depois. Estamos indo agora,-Sabine disse, achando um pouco engraçado ver Ikki enfim apaixonado por alguém. Alguém o compreendia -Ei, garota. Esse rapaz aqui foi alguém que amei muito e por quem ainda nutro alguma outra forma de amor. Não importa se é mais forte do que a rainha da Inglaterra. Não vai ter Papa pra me impedir de quebrar a sua cara caso o machuque, ouviu? Cuida dele, Kido.
 
  As duas saíram.
 
-Estão dizendo coisas estranhas, Seiya e ela –fora a única coisa que Saori pôde dizer.
-Talvez...
-Vamos para a sala? Ficaremos à vontade ali.
 
  Mesmo que ela não quisesse que ele ficasse, não estivesse apta ao compromisso de cuidar dele, talvez... Talvez se memorizasse cada parte de seu corpo, sua boca e sua voz; talvez dali a uns anos pudesse encontrá-la mais disposta a algo sério. Afinal, a menina só tinha dezessete anos. O mundo ainda havia de girar bastante até que realmente fosse tarde demais.
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
-Você volta, não é?-o rapaz de longos cabelos azuis perguntava.
-Claro, Saga. A gente se vê na Grécia. Escuta, que tal você ir me buscar? Não entendi nada das coordenadas que me passou...-Sabine respondeu, acariciando o rosto do rapaz tão tímido.
-Eu te busco no aeroporto, em Atenas. Não se preocupe.
-É só que, como uma jornalista, não é muito típico meu deixar minha vida nas mãos de um estranho. Sou independente, mas num país que não conheço bem...
-Esqueça isso. Pergunte a Pég- quero dizer, pergunte a Seiya se sou alguém que te deixaria na mão...
 
  A menina olhou sorrindo para Seiya, que estava terminando o check-in.
 
-Ele é, Seiya-kun?
-Acho que não, mas mantenha-o afastado do irmão dele e de espelhos... Só por via das dúvidas.
-Ah pivete, pare de palhaçada!-Saga respondeu, realmente ofendido.
-Hahahaha! Eu amo esse cara!
-Tenha mais respeito com um superior seu, mísero cav-
-Shhhhhhh, não vamos querer que nossas namoradas nos ponham num hospício, vamos, Saga-kuuuun?
 
  Sabine e Hiko olhavam os dois sem entender. Mas, de fato, parecia divertido tirar o grego do sério.
 
-Saga-kun, não ligue para ele. Se ficar alterado estará correspondendo às suas vontades...-Sabine disse, saindo da fila de check-in, junto com os três.
-É só que acho isso um desataco à autoridade...
-Seiya não tem cara de quem respeita os mais velhos...
-Eu?-Seiya acudiu, tomando a dianteira até uma lanchonete,-Sinto muito, Saga-san; é claro que tenho respeito com os idosos. Eu só havia me esquecido de vossa idade.
-Ora seu! Sabine, não dê mais corda pra esse moleque...
-Eu? Está bem, mas como disse... Irritado desta forma, quem estará dando corda é você.
-Eu não entendo,-Saga disse, puxando a cadeira para a namorada,-Aioria e Miro sempre me respeitaram, creio que Seiya também. Agora todos querem passar por cima de mim!?
-É só que é muito divertido!-Seiya confessou.
 
  Após mais dez minutos de Saga tentando se impor a Seiya, os quatro se levantaram e foram até o portão de embarque.
 
-Eu te busco, juro –Saga reafirmou.
 
  Sabine pôs novamente suas mãos no rosto de seu novo amor.
 
-Está bem, eu vou acreditar então. Até mais, Saga...
-Até, Sabine...-Ele cobriu as minúsculas mãos alvas da alemã com as suas próprias.
 
  A jovem se pôs na ponta do pé e deu ela mesma o beijo de despedida por que ambos ansiavam.
 
-É, o Saga tá amarradão nela mesmo...-Seiya comentava, já pondo sua mochila na esteira da máquina de raios-X.
-Escuta... O que você quis dizer com espelho? Aquele amigo da Sabine brincou com a mesma piada., -Hiko perguntou, fazendo o mesmo.
-Amigo? Ikki? Hã... É só uma piada entre nós, entende?
-Ah... Vocês têm muitas coisas entre si, não é?
-Temos. Mas eu te conto tudo quando formos dormir... Soube que é noite o tempo todo lá, não é? Você sabia que eu amo a “night”?
-Hahaha! Mas em compensação, teremos um dia bem longo depois, Seiya.
-Puxa, é verdade, mas pra que pensar no futuro se nosso presente é perfeito, meu amor?
 
  E se beijaram.
 
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Dia Seguinte
 
-Que bom que concordou em dormir aqui... Aliás, o quarto do hotel devia estar meio solitário, né?-Saori disse, tomando o café.
 
  Todo aquele lugar, que nos últimos dias ficava sempre lotado de jovens animados, parecia chorar solidão. As várias mesas redondas estavam intocadas e o som do relógio, que batia oito horas, era facilmente ouvido.
 
  Ikki havia fechado a conta no hotel e aceitado a proposta da namorada, ou seja lá o que ela fosse. O que deixou Saori feliz... Ainda tinha um pouco de tempo para ficar com aquele com quem tanto sonhara nos últimos anos.
 
  Mesmo assim, dormiram em quartos separados. Ela tinha a sensação de que, se ela insistisse um pouco, ele só aceitaria se seu quarto fosse no estilo “I Love Lucy”, ou seja, camas separadas. Ele não parecia querer ultrapassar nenhuma linha e estragar a amizade...
 
“Que se dane a amizade... Ele não nota que eu não quero isso dele?” pensou a menina num suspiro, enquanto passava geléia em seu pão.
 
  O tempo estava se esgotando e ela se arrependia de não ter feito mais aquela lembrança com ele.
 
-Parece que todos já se foram, né? Sabine e a russa foram ontem, Saga, Camus, Shaina e o resto pela madrugada... Carl está no orfanato, algo sobre um jantar especial. É claro que só foi uma desculpa pra jantar com aquela menina. E agora eu, hehe. Você vai se sentir sozinha... Nem Seiya está por aqui –Ele tomou mais um gole do café preto. –Tem certeza de que não quer que eu fique?
-Absoluta, Ikki... Eu estou bem. Não é como se essa multidão de gente vivesse sempre aqui. Aliás, tem notícias de Shun? Não vi aquela amazona se ir com Marin e Shaina...
-Ele foi pra casa dele, mas prometeu me levar ao aeroporto, para nos despedirmos. Mas não me falou muito de que fim ela teve. Só disse que estava com ele.
-Na casa dele?
-Realmente não sei. Esta casa é tão grande que você nem sabe mais quem está aqui, né?
-É mesmo, hahaha, mas eu já estou acostumada.
-A ojousama deve se sentir solitária.
-Não, eu sempre fui criada assim. Eu só não sei o que faria sem Tatsumi. No mais... Não é como se Seiya ficasse mais de uma hora por perto. Ele é do tipo inconstante.
-Só espero que melhore. Aquela russa me parece boa pessoa...
-Ela era russa mesmo? Nem me lembro.
-Veio pelos fundos para o Centro dela, não? O que fez sobre isso?
-Seiya fez questão de garanti-los antes de se ir. Aliás, me parece que não chegou a se demitir mesmo. Talvez acabe por trabalhar a distância, assim garantirá os fundos pra sempre. Mas é por uma boa causa, então... Não o condeno, mesmo que tenha feito coisa errada.
-Estamos rondando tudo, parecemos duas pessoas não querendo encarar que tão cedo não nos veremos.
-De certa forma, somos... –A moça olhou para baixo, meio triste. Lá se iam os melhores dias de sua vida. De avião, pra Alemanha.
-Já disse que fico, se me pedir.
-Não estou atrás de esmola, Ikki.
-Está sendo orgulhosa.
-Não estou. E ainda não estou atrás de esmola.
-Nunca disse que seria esmola. Não estou a fim de fortalecer meu ego com doações. Nem sou caridoso. Só fico me perguntando se não quer que eu fique, ou se é orgulhosa demais pra pedir.
-Já disse, não quero que-
-Estou atrapalhando?
 
  Ambos olharam para a terceira pessoa que chegava e sentava-se à mesa para quatro.
 
-Shun?-Ikki foi o primeiro a se recuperar do susto –Pensei que só viria em meia hora... O vôo é às dez e pedem para que eu chegue uma hora antes.
-É que parece ter ocorrido um acidente e o trânsito está uma loucura. Pensei em vir mais cedo...
-Entendo. Já vou lá em cima pegar minhas malas e nos vamos.
-Já?-Saori perguntou, finalmente voltando a si. A hora tão temida havia chegado.
-Você ouviu...-Ikki disse ao se levantar da mesa.
-Não quer vir conosco, Saori-san?-Shun perguntou, vendo o irmão sair.
-Eu não sei se é conveniente...
-Estou certo de que meu irmão quer muito que vá.
-Acha mesmo? Bem... Está certo; eu vou.
-Que bom!
-E a amazona?
-Está na minha casa... Vamos depois de amanhã, na quinta, pro Santuário. Voltarei a treinar para ser cavaleiro.
-Por que a decisão?
-É só que ter uma vida normal me sentindo de fora não é muito normal né?
-Não entendo...
-Veja assim: quando estou estudando vejo as pessoas agirem como gente, a isso chamamos de normal. Mas eu me sinto tão diferente... Aí, quando vim pra cá e me encontrei com meus antigos amigos e os vi falando das batalhas, de treinos, de mitologia... Eu pensei: eu me sinto em casa. Isso me fez refletir um pouco sobre o que eu achava normal realmente. Concluí facilmente que era esse ambiente e não o dos humanos comuns.
-Então vai voltar ao lar, hehehe.
-Exato... E, não sei se sabe, mas eu e June estamos juntos agora. Não quero tirá-la do “lar” dela uma vez mais.
-Por falar em amazonas... Ontem enviei um papel que vai te interessar muito, já que agora namora uma. A partir de hoje, o uso de máscaras não é mais obrigatório.
-Que coisa boa! Deveria era ser proibido, em pleno século 21...
-Por isso mesmo, nada deveria ser proibido. Agora a menina escolhe se deve usá-la ou não. Só espero que as mais conservadoras permitam que as outras larguem suas máscaras. Estou criando algumas coisinhas para que a amazona possa se decidir sem a influência de outras.
-Não sei se June gostará, mas eu sim.
-É, Aioria, quando voltar pra casa, vai se sentir ganhador na loteria, hahaha!
-Se Marin o fizer, né?
-Isso é verdade, hehe.
-Já pus as malas no seu carro, Shun... Vamos?-Ikki apareceu à porta do local para o café da manhã.
-Claro! Chamei Saori-san para que nos acompanhe... Ikki, ficou sabendo que agora máscaras não são mais obrigatórias?
-Não, mas agora sei por que você está feliz.
-Pois é...-Shun respondeu, pondo a mão atrás da cabeça, meio envergonhado.
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
  Estavam os três perto do portão de embarque. Saori mal conseguia se conter. Se o fazia era para que Shun não notasse sua agonia. Afinal, talvez só visse Ikki quando estivesse casado e com filhos.
 
-Passageiros para o vôo 502 com destino a Berlim, na Alemanha, favor dirigirem-se para ao portão 8.
 
  Ikki levantou seu dedo indicador para o ar.
 
-É o meu... Já vou entrando então... A menos que queira que eu fique, Saori. Ainda acho que sem Seiya ficará sozinha...
-Não, já disse que...-ela suspirou, segurando as lágrimas e o impulso de agarrá-lo e fazê-lo perder o vôo –Que estou bem. Só é triste ver mais um partir.
-Certo...-Ikki olhou para baixo e pareceu hesitar por um segundo. Será que ele queria ficar? Mas logo pegou as malas e sorriu. –Se é assim, bem, nos vemos qualquer ano destes... Estou ansiando pela próxima festa, Saori-chan.
 
  O jovem pôs a mão direita em sua bochecha e este foi o momento mais difícil para a garota tão apaixonada. Logo ele a beijou bem de leve, delicadamente. Como se fosse uma pétala, ou algo que poderia se quebrar facilmente.
 
“É só porque ele me vê como a uma boneca de porcelana, nada além...” tentou se dizer, para segurar uma vez mais as lágrimas.
 
-Agora já vou... Você se cuida, ojousama. Encontre um cara bem legal, porque se alguém te fizer um arranhão, você tem cinco marmanjos aqui que vão rasgar os céus pra aniquilar o sujeito.
 
  Ela forçou uma risada. Sabia que uma lágrima estava no canto de seus olhos, teimando em descer.
 
-Ikki, você também...-Shun enfim disse, abraçando o irmão.
-Eu sei, vou procurar de novo por alguém pra te dar sobrinhos e puxarem seu cabelo lá na Grécia, Shun... E que a June seja estéril!
-Não diga bobagens, oniisan...
-Hahaha, sabe que te amo, mas criança não é comigo...
-Eu sei disso. Mas a segunda parte é mentira. Ou teria me jogado no lixo.
-Seja o que for, bem... Daqui a pouco é a última chamada. Até mais, irmão. E... Bem-ele olhou para Saori, como se esperando algo.-Tem certeza de que não quer que eu fique? É só dizer, ainda há tempo.
 
  Ela lhe deu as costas, balançando a cabeça.
 
-Vá logo, Ikki... Eu tenho uma reunião a ir, sabe...
 
  Ele assentiu, mas acabou por abraçá-la. A jovem mal conseguiu manter a pose, seu corpo era tão forte e quente...
 
-Boa viagem...-ela disse, já chorando.
-Obrigado...
 
  E ele se foi, ao som da “última chamada”.
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
-Eu disse que o trânsito estava horrível... Não deveria ter te chamado, perderá a reunião, né?-Shun falou, com a mão ao volante.
-Não tem problema...-A jovem se virou para o lado oposto ao rapaz, olhando para o céu. De lá viu um avião partir. –Deve ser o “vôo 502 com destino a Berlim, na Alemanha”... Levando Ikki pra longe.
-Fico imaginando por que não o pediu pra ficar.
-Seiya estava longe de ser o mais trabalhador da fundação, Shun.
-Como se fosse pra esse cargo que Ikki estivesse se disponibilizando.
-Como assim?
-Não sou mestre em ler as pessoas, mas nem precisava. Ikki estava doido pra ficar, mas não sabia dizer se você queria algo sério ou, como as garotas da sua idade, só uma “ficada”. É uma pena... Vocês formam um belo casal, sabia?
-Ikki não queria nada sério.
-Ikki é que nem eu, Saori. Finge-se de normal neste mundo doido no qual nos pomos. Ele é maduro o bastante pra não ser o fútil que finge ser. Acho que você nota e não quer ver.
-É mentira. Ikki nunca iria querer algo comigo que sou tão...
-Perfeita pra ele? É madura e não fica grudada nele. Acho que é a mulher ideal pra alguém como Ikki. Ele sabe disso e me admira que tenha te deixado escapar. Não deve ter se considerado o suficiente pra você, sendo uma deusa e tudo o mais... Pra ele, você merece o melhor de todos. Uma droga ele ter pensado que este era Seiya. Erro de cálculo, acho.
-Como Ikki iria gostar de mim? Shun, não faz idéia de há quanto tempo sou apaixonada pelo seu irmão. É difícil de acreditar que sou correspondida...
-Mas acabou de deixar o “vôo 502” tirá-lo de você, sabia? Eu me sentiria péssimo, ele nem é mulher o bastante pra isso de ser roubado por outro, hehe.
-Haha, tem razão, se ao menos o fosse, mas sou mais mulher que ele! Sabe de uma coisa? Não é como se esse avião fosse o Caronte, levando Ikki pelo rio Cócito, certo?
-Cruzes, Saori! Não diga uma coisa dessas... Agora sorria, amanhã você liga pra ele e pede pra que volte; conte sobre tudo o que sente. Sei que Ikki não é bobo de te deixar ir assim tão fácil.
-Tem razão!-Saori abriu um imenso sorriso, olhando para Shun com o rosto ainda molhado de lágrimas. –Eu te adoro, Shun, muito obrigada.
-Que isso! Tenho que criar amizade coma  minha cunhada pra prevenir de Ikki levar os pestinhas pra mim,né?
-Também gosta de crianças, não fale assim...
-Mesmo assim... Ikki me deu medo quando falou aquilo.
 
  Ao chegarem, uma hora depois, Saori desembarcou alegremente, para encontrar June esperando ambos na porta da mansão.
 
-June? O que faz aqui?-Shun perguntou, também saindo do carro. A face da menina estava encharcada e seus olhos vermelhos. –Pelo jeito já sabe do caso das máscaras... mas o que há?
-Shun, diz uma coisinha pra mim... Pelo amor de Zeus, diz que seu irmão perdeu o vôo ou que o dele não era o 502...
-Como assim, amazona!?-Saori sentia um aperto no coração, o que a menina queria dizer!?
-Apenas me digam isso!-ela insistiu, fingindo se acalmar.
-Só se mentíssemos...-Shun respondeu em voz baixa, esperando pelo pior.
-Algo falhou e, ao tentar aterrizar, o avião... ele acabou caindo... Eu sinto muito... Eu sinto muito, Shun. O rádio disse que não houve sobreviventes.
 
Continuará...
 
Anita, 06/02/2004
 
Notas da Autora:
 Uaaaaaau! Eu consegui!!! Terminei um capítulo em uma semana! Eu sou demaaaaaaaaaaais!!! Hã,.. antigamente eu sempre era capaz disso, mas isso é incrível. É claro que isso ficou a metade do que deveria, mas... Bem, aí está. E tamanho não é documento, Hyde que o diga! Hahahaha
 Hã... tah tarde, vou terminar essas notas amanhã ^^U, tão cedo ninguém vai ver a cor desse cap, sim, acha que vou acostumá-los mal entregando-o amanhã!? Este capítulo é um presente de aniversário à minha amiga Gisele (acertei seu nome, viu?) que fez dezessete hoje... Pena que ela nunca leria isso (pena? Hã... pensando melhor, está na hora de eu rever os meus conceitos, hahaha). Também queria dedicar esse capítulo à minha gerbil, Naru... Ela faleceu ontem, quando seria o dia em que eu deveria tê-lo terminado... Abri o word pronta a fazê-lo e vem meu irmão gritando que a havia matado. Assassino! De qualquer forma... Fiquei por umas duas horas aqui sentada, direto... Só saí uma vez pra ter certeza do nome do Caronte e acabei notando que o nome dele tava certo, mas o rio era o Cócito e não o Estige. Agora toh em dúvida quanto ao que é o rio Estige... mas fica pra amanhã, hehehe. 
  E agora? Ikki morto? É, como já havia adiantado no outro capítulo, um dos candidatos seriam decididos no início (seiya,q eu acabou com a Hiko) e o outro bem no fim (Ikki, que teve seu avião explodido, coitado...). Mas agora, com quem a Saori vai ficar? Espero que velha e pra titia, afinal, quem mandou não pedir pro ikki ficar?
 Saori: Você.
Anita: ...
   Só um recadinho, pesquisei em tudo e não tive certeza se na Sibéria tb tem dia de seis meses, já que usei essa piada. Pela localização é capaz de ter, mas, por via das dúvidas, não usem como referência... 
  Aos que querem uma ressurreição do ikki, ou um abandono do lar pro Seiya (bem que a Hiko quer...), ou um pobre mancebo pra Saori é só me mandar um e-mail para anita_fiction@yahoo.com e para quem não gostou do rumo que a fic tomou (os fãs da Saori...) não larguem a fic... Não farei um final triste, não se preocupem (cruza os dedos atrás das costas) eu prometo! Se bem que ficar sem o galinha do Seiya já é algo para se ficar feliz, não?
  Meu site é sempre o primeiro a receber meus fics mais novos, então o visitem sempre: http://olhoazul.50webs.com/ e assinem meu guestbook... por favor! Sabe que agora que toh pensando... O capítulo oito vai acabar sendo de um parágrafo só, hahaha, não tenho o que pôr! Fazer o quê?

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