|

Quando Nossos Olhos Se Reencontrarem... § 6 – Num Mar Gelado, o Calor de um Amor

Notas Iniciais:
Certo, alguém acredita que eu estou lançando isso aqui!? Aposto que não. Hã, mais explicações abaixo, mas esse cap tah umas cinco páginas menor do que deveria (recebi um mail perguntando sobre essas medidas malucas... hã... bem isso é comigo!). Saint Seiya não é meu... E o futuro desta fic cabe a Deus, então, bem, mandem pra ele os mails pedindo por algum personagem. Vale também lembrar que o Deus desta fic sou eu e o mail deste Deus é: anita_fiction@yahoo.com

Quando Nossos Olhos
Se Reencontrarem...
 
Capítulo 6 – Num Mar Gelado, o Calor de um Amor
 
  O carro encostou-se à porta do solitário orfanato, com suas luzes já acesas, brilhando frio, naquela noite de fim de Outono. 

-Vamos crianças!-Seiya gritou, sendo o primeiro a sair.
 
  Logo atrás a outra van também estacionou, saindo desta vez, Minu e o alemão. Logo todas as crianças já haviam entrado.
 
  Seiya observou feliz até que todos entrassem. Pareciam muito animados... Sabia como a vida em um orfanato podia ser cruel. Um passeio assim devia ter sido o Paraíso para eles.
 
-Você parece entendê-los...-Hiko comentou, a seu lado.
-Também sou órfão.
-Deste orfanato?
-Hai.-assentiu, vendo Minu e Carl conversarem à porta com uma terceira pessoa.-Não mudou muito, sabia... Eu a conheci aqui... Conheci todos aqui.
-E Saori...?
-Como?
-Pensei que estavam juntos.
-Bem que eu queria. Você entende, né? Hyoga também se foi...
-Eu tive que deixá-lo ir...
-Pois é... A diferença é que ela não foi se encontrar com a pessoa em Asgard. Ikki está lá, com ela.
-Vamos tentar nos divertir hoje?-ela sorriu.
-Certo...-ele disse, ainda observando Minu e Carl.
-Isso não é resposta!
-É que não acho justo! Todos estão bem... Shiryu, Shun, até Saori! Ela vai conseguir, Ikki também sente algo por ela. E eu vou ficar pra vida, pra tentar não chorar toda noite, dormir com uma garota... Para pensar estar fazendo coisas diferentes, variar a companhia. No fim, ir para casa me sentindo mais sozinho que nunca.
-É que você pensa assim: “só serei feliz ao lado de Saori Kido”. Você não precisa ser feliz porque tem alguém em especial. Você estará fechando seu coração assim, sem nem dar chances às outras... Vamos, prometa que vai ficar feliz por você mesmo, por hoje você ter dado o primeiro passo para ser feliz. Seja feliz por que entendeu que Saori Kido não é a causa da sua felicidade.
-Quê?
-Você pode ser feliz. Seja feliz por isso! Vamos nos divertir muito nesta noite. Dançar, comer, conversar alto e sem palavras inteligentes. Vamos celebrar o nosso coração partido, vamos celebrar por podermos ser felizes!  Você promete que vai ser meu par nesta noite?
-Eu...-Seiya olhou o céu estrelado e a Lua branca que surgiu-Eu te prometo e prometo a mim mesmo. Vamos fazer uma farra nesta noite!
-Seiya, você não muda!-Minu disse, ao chegar com Carl.
-Pois é...-respondeu coçando a cabeça e gargalhando.-Com quem falava?
-Com a menina que toma conta das crianças comigo.
-Vamos?-Carl perguntou, apontando para a van. A outra já se tinha ido.
-Sim!-Minu respondeu. Sentia-se bem por Seiya parecer bem. Estava na hora de deixá-lo. Aquele amor de infância deveria crescer em uma amizade. Outro surgiria. Sentia aquilo.
 
  Entraram e lá se foi a van, em direção à orla.
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
-Uau! É bonito mesmo!-Shun falou, olhando o rústico lugar.
-Sim... Está bem na praia...-Shaina disse.
-Que romântico!-Miki se exaltou.-A areia é o próprio chão do restaurante e tem música ao vivo...
-Parece que estamos numa noite de verão caribenha.-Ikki complementou.-Seiya, de fato, tem bom gosto.
 
  Todos assentiram.
 
  Saori ficou um pouco vermelha. Ele estava, de certa forma, concordando com ela... Como se houvesse gravado suas palavras...
 
“Que boba sou... Ele ouviria qualquer uma...”, pensou consigo, indo até a mesa que havia reservado.
 
  Todos conversavam e comiam. Pouco a pouco foram mudando seus lugares uns com os outros...
 
  Ikki sorria ao ver que Shun trocara de lugar para que Kigeru e Miki ficassem lado a lado e fora conversar com Shaina. Quase gargalhou quando notou Shaina e Camus irem conversar com Saori, deixando Shun e June a sós.
 
  Havia chegado naquele mesmo dia, mas parecia estar lá havia muito tempo. Pôde ver cada jogada de cada um, acabando um ficando ao lado de quem queria.
 
-Já estão comendo!?-Seiya disse ao entrar.
-Nem nos esperaram...-Hiko falou, sentando-se ao lado de Seiya.
 
  Miho estava falando com Carl e os dois se sentaram sem interromper a conversa.
 
  A noite foi ficando mais escura, contrastando ainda mais com os raios da Lua. Esta, refletida no mar, brilhava tanto que se podia pensar que era dia, num momento de distração.
 
-Não está com fome, niisan?-Shun perguntou.
-Ah, é que ainda estou um pouco cansado da viagem de ontem... Eu me desliguei um pouco!-e Ikki sorriu.
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
-Bem, até mais, pessoal! Desejem-me sorte com Fler.
-Boa sorte, cara.-disse Aioria.
 
  Hyoga partiu, seguindo Shiryu e Shunrei.
 
-Ele é um babaca...-disse Sabine, que ouvira parte da história do russo com a menina durante o percurso até o aeroporto.
-Por que diz isso?-Miro perguntou.-A Fler não tem nada a ver com o jeito de vida dele... Ele teve que deixá-la.
-Então não gosta o suficiente dela... Se eu fosse essa menina, nem ligaria pro retorno dele.-Sabine se explicou.
-Pega a dica, Saga!-Aioria disse, piscando de um olho.
 
  Todos riram, inclusive Marin. Sabine também tentou levar na brincadeira, mas o vermelho que chegou à sua face foi quase o mesmo que o de Saga.
 
-Pára com estas brincadeiras sem graças, ouviram!?-Saga respondeu, olhando ameaçadoramente para os outros dois cavaleiros de ouro, -Nunca foram de mexer comigo, por que, de repente...?
 
  Mas os outros dois já se iam, junto com as garotas. Morriam de medo, mas tinham de fazer aquilo, era por um amigo!
 
-Falei pra não toparmos...-Aioria cochichou ao ouvido de Miro, enquanto gentilmente abraçava Marin.
-Olha, é a cruz ou a espada... Ou Camus fica muito bravo com a gente, ou o Saga... Sendo que uma hora eles vão se entender. Vejo que um já gosta muito do outro!
-É... Agora temos que convencer Sabine a fazer mais força...
-Exato! Hora da segunda fase!
-Sobre o que as duas velhinhas fofocam aí?-Marin inquiriu.
-Que velhinhas?-Miro perguntou inocentemente, procurando as dita cujas.
-Não acredito...-foi tudo o que a amazona pôde falar.
-Esse aí está perdido!-Sabine apoiou, sorrindo.
 
  Ikki já era passado. Assim esperava.
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
  A Lua brilhava no céu e os dois homens no palco cantavam lindas melodias de amor, solidão, separação e até de reencontros. Era um clima perfeito, embalado por um ritmo tropical que fazia quem os ouvisse crer que estavam no Caribe e em pleno Verão.
 
-Essa música dá sono com o tempo, -Ikki ouviu uma voz ao seu lado.
 
  Virou-se para ver quem era, afinal, via todos bailarem animados na areia.
 
-Saori-san? O que faz aqui?
-Como assim?-ela perguntou.
-Bem, todos dançam... Como pode ter sono? Vá dançar!
-Não dá, acabo de voltar de lá. Todos já têm pares. Dancei com Seiya, Shun, Camus, inclusive. E com os outros. Agora além de não me ter restado par, ficou uma canseira!
-Sim... Todos estão com suas garotas, não é?
-Algo assim... Não sei. Quero dizer, desde quando a russa e Seiya se dão tão bem? O mesmo pro seu amigo e Miho-san.
-Esse foi um dia longo...
-Exato.
-Já dançou com todos mesmo!?
-Bem... Aquele Carl não sabe dançar nada, então... Bem, não sei se considero isso, mas era o que deveria ter sido.
-Hahahahaha, -jovem voltou a observar a pista de dança.
 
“Não sou de estar sozinho... Não é ser mulherengo, mas também não sou tão repulsivo a ponto de me sentir só”, pensou, “Só? Estou me sentido só? Eu?”
 
  Saori estava ali a seu lado... Seu tesouro proibido. Ela aquilo que o fazia sentir-se assim. O fato de poder ter todas as garotas que já quis, menos ela.
 
“Que clichê!”, então olhou para Seiya, “Parece tão feliz... Por que largou Saori?”
 
  Que se danasse tudo! Sua vida sempre fora uma piada... Quando se sentira feliz, tudo fora destroçado. Para que ter esses códigos de honra, quando daquilo dependia sua felicidade?
 
  A honra nunca o havia impedido de conquistar seus sonhos, aquela não deveria ser a primeira vez! Ele não permitiria.
 
-Levante-se, -falou de repente à menina a seu lado.
-Quê?
-Vamos dançar.
 
  Ela se assustou tanto que obedeceu sem pestanejar.
 
  Ikki a conduziu entre os casais que dançavam animados, mas ao chegarem ao lugar escolhido pelo jovem a música se encerrou e começou uma mais lenta. As luzes se apagaram quase todas; o clima era de romance.
 
“Lá se vai minha dança...”, pensou Saori olhando para o par, esperando por uma reação.
 
-Está com medo de mim?-Ikki perguntou, puxando-a para perto.
-Mas a música mudou...
-Isso costuma acontecer.
-E eu não sei dançar muito bem essas músicas... –confessou, enquanto corava.
-Sei que é uma bela dançarina.
-De valsa e coisas mais formais.
-É me deixar te guiar, eu pego leve. Prometo.
 
  E dançaram aquela e mais outra, outra, outra... Saori perdera a conta. Não que tivesse começado. Não podia pensar direito. O corpo de Ikki era quente. O vento vinha e trazia o cheiro marítimo. Mas este se misturava àquele perfume tão masculino, mas não agressivo. Sentia-se envolta numa redoma de cristal e rosas, como num sonho... Sua vista já estava embaçada de tanta emoção quando decidiu fechar seus olhos e assim estava declarando: havia se entregue por completo àquele homem.
 
  Que dia estranho havia sido aquele...? Tantas coisas, tantas...
 
  Teria finalmente seu final feliz com seu príncipe? Não... Algo ruim aconteceria, ela sabia. Sempre acontece, a vida é assim e sempre será.
 
  A lua brilhava lá fora, mas no dia seguinte seria o Sol, ela se iria. Será que sua felicidade duraria até o amanhecer, assim como a Lua?
 
  Tão linda... Ela a estava acompanhando há muito tempo. Dois anos antes lá estava a Lua e também na noite passada quando revira Ikki, enquanto estava com Seiya.
 
  Agora, enquanto dançava com seu amado ela a convidava a voar com ela. Ela lhe garantia que iluminaria todos os seus sonhos, estava...
 
-Perfeito! –Ikki disse, também olhando na mesma direção que Saori.
-É sim, tão lindo... –Saori disse, sem nem mesmo notar que Ikki não poderia ter lido seus pensamentos.
-Como sabe sobre o que falei? –o jovem a perguntou, acordando a jovem do transe.
-Hã... Eu estava pensando e acabou completando a minha frase mental, -respondeu, corada.
-Interessante! Hehehe, bem... sobre o que pensava? Eu falava daquele mar lindo a nossa frente!
-E eu da Lua...
-Hahahaha, a básica diferença entre o sentimentalismo feminino e o masculino.
-Como assim?
-Vocês gostam de coisas distantes e nós do que podemos agarrar, sentir mesmo.
-É... Acho que tem razão, mas de certa forma o mar está representando a Lua perfeitamente, -disse olhando a reflexão da mesma.
-Sim... Nossa que vontade de ir até lá!
-À Lua?
-Não, ao mar!
-Está de noite e duvido que tenha trazido roupa de banho...
-Não preciso de uma. Só de companhia... Eu seria meio doido indo lá sozinho e deixando uma dama largada na mesa.
-Eu te permito.
-Nunca te abandonaria. Por que não vem comigo? Deve estar quentinha com esse clima frio.
-Lógica estranha... Mas, não.
-Então ainda é aquela ojousama... Achei que agora tinha espírito aventureiro.
-Eu não estou com vontade de molhar outra roupa no mesmo dia.
-Tire-a.
-Certo...
-Sério, estará escuro. Fique só de roupa de baixo.
-Não creio que seja você falando. Parece Seiya... E todos aqui veriam.
-É só nos afastarmos.
-Sozinhos!? É perigoso...
-Agora me ofendeu.
-Desculpa; eu esqueci.
-Vamos ou não, ojousama?
 
  Saori o olhou e Ikki fazia uma expressão desafiadora. Como sabia o quanto aquela expressão a irritava? Ele sabia tudo sobre ela... Sabia quando ficava decepcionada e até se desculpava, como acontecera naquela manhã. Sabia o que a provocava... Como fazia naquele momento.
 
-Direi aos outros que vamos andar pela praia e que te levo de volta em separado, -falou, dando uma piscada.
 
  A jovem suspirou pensando naquela loucura e saiu do restaurante para esperar Ikki do lado de fora.
 
“Antes que alguém pense em algo errado...”, pensou, ao sentir a areia nos pés, “Quem me dera!”
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
-Cheguei, -uma voz disse atrás de Saori.
 
  A menina sorriu sentindo o vento frio tocar seu rosto. Que horas seriam? Dez? Onze da noite? Havia perdido a noção enquanto dançava com aquele homem. E não queria realmente ouvir a resposta. Queria continuar perdida naquele momento único. Para todo o sempre, se possível.
 
  Que a Lua continuasse brilhando, que o Sol não desse a cara. Que a aquilo fosse eterno.
 
-Vamos?-Ikki perguntou.
-Hã... Claro!- respondeu sorrindo de leve. Mas parando ao sentir algo quente em uma de suas mãos.
-Por ali!-e a conduziu pela escuridão.
 
  A mão dele era quente, mas a sua estava gelada, com certeza. A caminhada foi lenta e silenciosa. Saori sentia-se acalmar e Ikki parecia procurar avidamente o melhor local.
 
-A noite está bem clara...-ele quebrou o silêncio,-Nem parece que o Inverno bate a porta.
-É mesmo...-limitou-se a responder, olhando seus pés caminharem pela areia.
-Deveria se descalçar.
-Quê?
-Andar descalço é o melhor!-disse, mostrando sua outra mão que carregava seus sapatos, -Isso aqui é uma praia.
-Espere um pouco.
 
  Não queria fazê-lo, pois assim teria que soltar a mão. Mas ele tinha razão, aquele seria um momento de descontração. Nada de sapatos apertados...
 
  Juntou o par e os carregou com uma única mão, assim como Ikki fazia. Não podia pedir a mão de volta, mas quem sabe tivesse outra chance?
 
  Naquele momento se fazia uma promessa de que. pelo menos nessa noite. pararia de se preocupar tanto com o que os outros pensariam e seria ela mesma. De outra forma quase perdera Ikki, quem sabe dessa funcionaria?
 
-Que tal andarmos na água!?-Ikki sugeriu, já pisando na areia úmida.
 
  Sem dúvidas era um conforto fazê-lo. Por mais fria que a noite estivesse, seu corpo parecia pegar fogo. A areia ajudava a apagá-lo um pouco...
 
-É bom, não?
-Sim!-Saori respondeu com um sorriso, que foi apenas iluminado pela Lua.
-Perfeito!
-O quê?
-Este lugar... Nem nós podemos ver o restaurante. É estranho que tão perto de Tóquio ainda exista um lugar deserto como este a beira-mar.
-Bem, estamos quase no inverno... Não é tão estranho.
-Talvez.
 
  A jovem sentia a onda bater de leve em sua perna e seu coração bem rápido. E agora?
 
  Despiram-se no escuro ficando só com as roupas de baixo. Não dava para ver muito, mas ela agradeceu por ter escolhido algo escuro e por sempre usar coisas decentes. Não que estivesse se importando...
 
“Não posso me esquecer da promessa”, lembrou-se, “hoje eu posso tudo!”
 
  Decidiu, porém, nem olhar para Ikki, por mais escuro que estivesse, sem olhar já se sentia vermelha. Não podia se denunciar.
 
“A promessa...”
 
  Ou podia?
 
  Então olhou suas costas, onde Ikki estava. Mas não havia nada que pudesse ser visto...
 
-Procurando o quê!?-ouviu sua voz vinda da água.
-Você.
-Venha! Está perfeita.
-Não está gelada?
-Ora, venha!
 
  Hesitou. Decidiu fechar os olhos e entrar devagar. Até que se acostumasse. Já bastava o frio que se sentia quando estava seminua.
 
Um passo.
 
Dois.
 
Três.
 
Quatro.
 
Cin-
 
-Aaaaaaaaaaaaaaaaaai!-gritou ao sentir algo gelado agarrá-la e carregá-la.
 
  Em menos de um segundo sentia-se afogar em algo quase congelado.
 
-Socorro!-disse, enquanto tentava se erguer, apesar dos calafrios, -Está gelado demais! Você disse que estaria morno...
-Eu errei.
 
  Saori fez menção de sair.
 
-Se o fizer, congelará. Não tem alternativa. Fique e se acostume, -ele falou, mas parecia sorrir.
-Não deveria ter vindo...
-Vamos nadar um pouco até o fundo.
-Está muito escuro, não é uma boa idéia.
-Confie em mim. Não deixaria nada neste mundo lhe fazer mal. Nunca.
 
  A jovem daria toda a sua fortuna para poder ver o rosto de Ikki naquele momento e saber se era verdade. Mas só seus olhos azuis brilhavam, o resto era vulto.
 
-Como posso confiar em alguém que nem ver eu consigo?
-Não se vê a confiança, sente-se.
 
  Os braços de Ikki começaram a entrelaçar sua cintura e a puxá-la para mais perto daquele vulto de olhos azuis. Aos poucos, se sentiu leve, flutuando. Literalmente. Ele a estava carregando para mais fundo.
 
-Feche seus olhos e confie em mim. Mergulhe fundo no momento. Só existe esta Lua e este mar. Eu te protegerei do Sol, do frio e do que mais vier. Sempre.
 
  Fechou-os.
 
  Um minuto depois sentiu os lábios dele em sua bochecha direita e, depois, o calor de sua respiração em sua orelha.
 
-Chegamos,-sussurrou.
-Aonde?
-Lugar algum. Abra os olhos.
 
  E  fez.
 
  De fato não via nada além da Lua e da água. E de Ikki.
 
-Onde estamos?
-Num banco de areia. Não estamos distante, mas está tão escuro que parece estarmos em alto mar. Romântico, não?
 
  Ele a soltou.
 
-Por que não me avisou que o faria!?-perguntou, ao voltar ao seu equilíbrio.
-Esqueci que você é mais baixa que eu!
-Grande proteção a sua... E se eu não soubesse nadar?
-Difícil... Já o teria gritado quando te joguei aqui dentro.
 
  Ele se distanciou enquanto nadava.
 
-Venha comigo.
 
  E ficaram nadando por um tempo, como crianças. Um caçando o outro. Não se preocupavam com o tempo ou com o frio. Contanto que estivessem bem.
 
  E estavam.
 
-Ei, -Ikki disse, de repente,-Vou até a areia descansar, que tal uma corrida?
-Certo!-Saori respondeu, já ao lado dele.
-Vá agora, na frente, ou será injusto. Quem ganhar, reividica o prêmio?
-Qual?
-Vá!-e a empurrou.
 
  Saori tinha que vencer, provar que não era nenhuma ojousama, que mesmo naquelas condições desfavoráveis, venceria. Isso de sexo frágil não existia, tampouco garota frágil.
 
  Aumentou o ritmo quando sentiu o corpo cansar. Não sabia o quanto faltava mas Ikki estava perto. Perto demais.
 
  Mais um pouco sentiria a areia em seus pés. Mais um pouco e estaria na praia. Mais um pouco venceria.
 
  Só mais um pouco e-
 
  Algo quente a agarrou e por estar cansada não conseguia se desvencilhar. Virou para tentar ver quem era.
 
-Quem é você!?-perguntou, vendo que era um homem, mas não sabia se era Ikki ou algum outro mergulhador que estivesse por ali. Afinal o local era deserto.
 
  O homem a inverteu, de forma que o rosto dele, agora, encarava Lua.
 
-Peguei uma sereia...-sussurrou.
-Ikki? Por que fez isso? É trapaça?
-Bem, eu te alcancei e mais um pouco venço, para que largar a água, se tremeremos de frio quando sairmos?
-Você me assustou! E de quem foi a idéia de sairmos!?
-Foi só para que eu ganhasse meu prêmio.
-Qual é, afinal?
 
  Estava muito escuro, mas Saori pôde ver os dentes dele brilharem, indicando que sorria e o mesmo brilho nos olhos azuis.
 
  Num segundo, seus lábios que tremiam sentiram algo salgado e doce ao mesmo tempo pousar sobre si.
 
  Ikki intensificou o abraço e apesar de Saori poder sentir a areia nos seus pés era como se voasse. As ondas passavam calmas por eles e lhe fazia cócegas.
 
  O vento frio já não mais existia e sim uma onda de calor que vinha de barriga até a garganta e voltava de segundo em segundo.
 
  Aquele beijo mais parecia um vôo para os Elíseos, ou algo mais. Era fantástico.
 
  Finalmente, recobrando o movimento, pois uma de suas mãos no pescoço dele e a outra em seu rosto. Podia sentir sua pele e cabelos, cheirar seu perfume misturado às águas do mar. Suas línguas em contato uma com a outra. Ouvir as ondas quebrarem em rochas distantes. E seus olhos fechados enxergavam milhares e milhares de estrelas.
 
  Nunca poderia se sentir melhor que naquele beijo, que só se intensificava. Era como se uma boca fosse feita para beijar a outra e nada mais. Era tudo muito perfeito...
 
  Ikki então o apartou, fazendo o beijo intenso se transformar e vários selinhos que percorriam todo o seu rosto e seu pescoço. Logo aquilo se transformou em um longo abraço.
 
  Quando ambos deram por si estavam ajoelhados na areia, tão juntos que não notaram o frio que era estarem somente com as pernas no mar. Mas o vento ainda não era sentido, pois ainda se abraçavam e se acariciavam.
 
  Saori não queria, mas sentia que era hora de abrir os olhos. O que quisesse que tivesse sido aquilo de um momento atrás havia acabado em algo suave e calmo.
 
  E o fez só para encarar Ikki a olhá-la. Sua boca entreaberta num sorriso e seus olhos fixos nos seus. Estava tão ofegante quanto ela mesma.
 
-Foi perfeito... Essa noite... Ela foi perfeita!-ele disse, mas parecia era estar numa perda de palavras.
 
  A jovem sorriu. Quanto tempo teriam ficado naquilo?
 
  Olhou ao seu redor e já não mais estava tão escuro. Ao seu lado direito nascia o Sol, mas ao seu esquerdo a cidade ainda dormia na escuridão.
 
-É como se estivéssemos numa fronteira entre o dia e a noite...-ela disse, ainda meio em transe.
-Que tal andarmos mais para a esquerda pra noite não terminar tão cedo? Pra esse momento ser eterno...
-Não consigo sair do lugar.
-Na verdade... Nem eu, -sorriu ainda mais, fechando os olhos, -É a melhor forma de mantermos a noite.
 
  E a beijou de novo.
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
Triiiiiiiiiiiiim!
 
-Ja!-uma voz feminina falou, havia acabado de ser acordada por aquele telefone.
“O Ikki está?”
-Hã? Ah, Seiya, é você?
“Sabine, o Ikki está aí? Quero falar com ele...”
 
  A menina virou para olhar o relógio.
 
-Mein Gott! São seis da manhã... E você quer saber do Ikki!? Ah, cá pra nós...
“Ele está ou não?”
-Quem é, Sabine?-Carl pergunta em alemão.
-O babaca do Seiya... Que hora para se ligar... E cheguei mais cedo que você dois. Ele deveria estar no mesmo céu que você!
 
  Mas o alemão já havia voltado para onde veio.
 
“Sabine...”, Seiya continuou, ainda impaciente, principalmente por ser tão ignorado.
-Olha, eu não faço nem idéia de onde o Ikki está. Satisfeito? Até mais.
 
  E desligou.
 
-Cá pra nós, nem sei como é que lembrei de tantas palavras em japonês. Que ele queria com Ikki!?
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
“...eu não faço nem idéia de onde o Ikki está”, o sotaque carregado e embargado de sono da alemã ecoava na cabeça do rapaz.
 
  Eram seis horas e nenhum sinal da Saori.
 
-O que terá acontecido?-Seiya perguntou em voz alta, mas nenhum móvel lhe respondeu. O resto na casa era total silêncio.
 
  Mais um carro passava pela rua. Pessoas deviam estar indo trabalhar e às sete haveria uma reunião importante. Onde ela teria ido?
 
“Com Ikki... Estará mesmo segura com ele?”. Olhou mais uma vez o relógio.
 
  Outro carro passava, mas desta vez não passou; parou em frente à mansão.
 
  Seiya levantou-se prontamente. Abriu a porta e agora encarava Ikki descendo de um táxi. Estava todo úmido e o mesmo para Saori, que sorria, quase que num transe. Nenhum parecia tê-lo percebido.
 
-Então a gente se vê hoje à tarde?
-Claro, Ikki!
-Até lá -E a beijou de leve os lábios, entrando de novo no táxi.
 
  A jovem caminhou até a porta e acenou para o carro que já ia. Voltando-se topou com um Seiya estupefato.
 
-O que houve com as roupas de vocês?
-Acho que os homens têm este efeito em mim...-ela respondeu sorrindo ainda estranho.
-Temos uma reunião...
-Por isso voltei.
-E o que farão à tarde?
-Passearemos. Ikki volta amanhã para a Alemanha.
-Mesmo com vocês dois neste clima?-Seiya perguntou, abrindo a porta para a moça.
-Sim.
-Isso é errado.
-Bem, é a vida; para ele eu só sou diversão. Você sabe disso.
 
  Foi só o que ela disse, já subindo as escadas.
 
  Não dera tempo para Seiya dizer que o que sabia era justamente o contrário. Mas o moço nem sabia se aquilo era problema no qual deveria se intrometer.
 
  Saori era quase um passado para ele e precisava agora andar por si própria. Hiko... Ele tinha que convencer Hiko a ficar.
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
-É um belo dia!-Shun dizia à loira que o acompanhava em sua corrida matutina.
-Sim! Você sempre faz isso?
-Correr pela cidade? Quase... Faz bem.
-Quis dizer acordar garotas no meio da madrugada.
-Seis da manhã não é madrugada.
-Estou num fuso diferente e fui dormir muito tarde. Seis da manhã é muito mais que madrugada.
-Eu tenho que te dizer uma coisa...
 
  June parou a corrida, causando que Shun também o fizesse. Ao fundo, casas de um subúrbio de classe média da cidade.
 
-O que é?-a jovem perguntou.
-Não precisava parar, não é tão importante.
 
  O desapontamento era visível na amazona, mesmo que estivesse de máscara.
 
-E o que é?
-Vamos voltar a correr ou perderemos o ritmo.
-Está bem, Shun...
-Eu estou pensando em voltar a ser cavaleiro. Ir para o Santuário e tudo o mais.
-Por quê? Pensei que sua vida estivesse pronta aqui.
 
  As casas iam sendo deixadas para trás, ainda adormecidas naquela manhã de segunda-feira.
 
-Eu também... Mas estando contigo, eu senti falta dos velhos tempos. Éramos os melhores amigos e tudo o mais!
-Ainda o somos.
-Não, muito mudou. E mudou mesmo, e você meio que me deixou isso bem claro.
-Se é sobre minha confissão. Eu sempre te amei muito. Não foi a distância que o causou. E um retorno ao passado não me fará parar, Shun. Sinto muito.
-Não... Estou crescido o bastante para não pensar em tal criancice; nunca foi minha intenção.
-Então não entendo o que quer dizer.
-Eu... senti muito a sua falta.
-E seus amigos?
-Ainda os verei.
-Ainda me verá.
-June...-Foi a vez de Shun parar.
-O quê?-Também parou.
-Tire essa máscara, queria te olhar nos olhos.
 
  Ela não hesitou, nem seria a primeira vez que ele via seu rosto. Retirou-a devagar, sem entender a situação. Haviam conversado e dançado muito na noite passada e Shun não havia parecido tão estranhamente maduro como agora. Só o Shun de sempre. Gostava do homem que via a sua frente, mas não podia prevê-lo.
 
  E tudo ficou escuro. A menina não mais sabia se era dia ou noite. Seu corpo, cansado após duas noites sem um descanso próprio, deitou-se no outro que a havia puxado para si. E algo diferente tocava em seus lábios. Não era tão frio quanto o material da máscara. Era quente, macio; humano.
 
  Ela foi a que o afastou, após um longo beijo. Sentia-se sem ar. Fora seu primeiro e nem estava preparada.
 
-Você me rejeita e depois me beija...-comentou, ainda respirando pesado.
-Eu sinto muito, sou uma criança.
-Sim, é o que parece.
-Eu... fingi que estava tudo bem, apesar da mancada que dei contigo e também com a Miki. Eu não queria mais fazê-lo, pois já tive tempo para pensar melhor.
-Preferia que continuasse a fingir. Assim eu ainda teria alguma esperança.
-Mas fingir é mentir, isso é feio!
-Nem sempre.
-Eu te rejeitei, como podia ter esperança como diz?
-Sei que não fez por mal e mais: se fingisse estar tudo bem, ainda poderíamos ser amigos. Agora eu acho que estamos nos separando. Por que não fingir um pouco mais? –Havia lágrimas descendo pelos olhos da amazona.
-Meu irmão falou para eu fingir... Eu o fiz pois ele tinha razão. Apesar de ter-me dito de forma sarcástica, eu sabia o que quis dizer, que eu devia fazer isso até te ter uma resposta. Funcionou com Miki e agora está tudo bem.
-E agora você tem uma resposta? Eu já devia saber que depois da calmaria vem a tempestade...
-Sabe...
 
  June levantou a vista para o amigo. Ele não estava parecendo uma criança. Mas sorria tranqüilamente, como um capitão de um time que tem o jogo ganho.
 
-Eu...-ele continuou,-Eu não beijo quem eu não gosto. Principalmente se é meu primeiro beijo. Nunca o estragaria. Mesmo que a garota me ame a ponto de se matar. Eu nunca beijaria sem gostar de verdade.
-Como assim?
-Eu te amo.
-Mas você disse não.
-Eu cresci.
-Não se cresce num dia.
-Eu te amo.
-Como sabe?
-Eu te amo. Há explicação pra isso? Se tivesse não seria amor.
-Mas você me rejeitou.
-Dizer “não” e sair não são rejeitar; é parar para pensar.
-Mas...
-Eu te amo.
-É que...
-Eu te amo.
-Pare de dizer isso! Esse seu sorriso parece deboche.
-É? Mas é alegria. É bom dizer que se ama. Eu te amo!
-Pare...
-Vou ficar quieto então... Pelo menos até descobrir como se fala enquanto se beija. Mas até lá nossas bocas vão estar muuuuuito ocupadas.
 
  E a beijou de novo. De novo. De novo. E de novo. E mais... E para todo o sempre...
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
-E eu sobrei...-Miro dizia, sentado num dos sofás da Casa de Athena.
-Que isso, cara!-Aioria replicou, pegando vários jornais e folheando-os.
-Fui o único que ficou sozinho... Você não notou!? Você e Marin, Camus e Shaina, até o Saga! Eu vi! Ele e a alemã se beijando...
-É... Eu também. Aliás, demoraram a se acertarem, cada um tentava de uma forma... Foram vários beijos que se estragaram. Hilário; até Marin riu!
-Não brinca... Eu tô sozinho!!!
-Mas aquela alemã... Como ficarão juntos, hein? A Alemanha não é lá muito perto...
-E eu com isso! Afinal, como consegue ler jornal tão rápido?
-Não. só estou vendo. Não consigo ler esse maldito japonês.
-Hahahahahahaha!
-Marin está me ensinando, mas é difícil!
-Ah! Aposto que ama essas aulas de língua estrangeira... Merci Beaucoup! Chéri, venez ici… -Miro fez uma careta, pondo os lábios pra fora em forma de beijos exagerados. Enquanto se jogava em cima de Aioria.
-Sai de cima! –gritou o leão, fazendo os jornais voarem –Isso é francês, seu retardado!
-E vai me dizer que não deram uns franceses...
-Cala essa boca suja!-Aioria se jogou pra cima do amigo, com o punho fechado.
-Parem com isso! Parecem duas criancinhas...-Marin apareceu no portal da sala. –Sobre o que é desta vez? Os dois querem o mesmo jornal? Lembro bem de nosso vôo de vinda, no qual disputaram pela janela... Não sei como a aeromoça não os expulsou.
-Ah, Marin, minha querida! Itoshii hito, vem comigo e vamos dar uma volta?-Aioria levantou-se, abraçando Marin e dando-lhe um leve selinho nos lábios.
-Só se eu for junto! Essa casa vazia é mais assustadora que a de Sagitário... Sem ofensas, cara!
-Miro...-o amigo falou, ainda com as mãos na namorada,-Você precisa seriamente de uma garota...
 
Continuará...
 
Anita, 29/01/2004
 
Notas da Autora: 
Certo, decidi deixar este capítulo menor e o mesmo acontecerá com os outros dois (ou algo assim). Por quê? Tenho demorado demais em entregar capítulos; eu me prometi terminar um capítulo na minha esperada cena do aeroporto; não gosto de fics que acabam no capítulo sete, então vou terminar no oito. Mas isso aqui é comigo, nada contra as suas terminarem assim... Nunca fiz isso e nem quero, hehehe. Eu tava preocupada nesse ponto, mas achei a solução, hauhauhauha. Quebrei o seis e o sete, assim tenho conteúdo para um oitavo. Nem que eu deixe só o “Viveram felizes para sempre”, farei um oitavo. Mas esperemos que não seja assim, né? 
Queria agradecer a penca de e-mails que recebi e até algumas ameaças... Uns tentando pôr o juízo de volta (coisa que nunca houve... não... “de volta” não serve nesse caso). Hã, de qualquer forma, eu já tinha escrito mais do cap 6, mas cortei aí na cena do miro. Se bem que eu ia cortá-la antes e deixá-la pro sete. Mas aí fui reler (sim, eu reli, pasmem!) e notei que o Miro dizendo que sobrou tinha que fazer parte desse aqui, hahahaha! Mais finais felizes pro capítulo sete e mais coisas sobre o Ikki e a Saori!!! E aí? No próximo todos já saberão com quem a Saori não fica (pensando bem, isso é um duplo sentido... porque dois vão dizer bai bai... Um na cena de início e outro na final, no aeroporto, huahauhauha)  
Quero agradecer à Vane que acho não vai revisar este capítulo... A menos que eu lance uma segunda versão... Mas, bem, graças a ela encontrei um final perfeito pro Ikki! Huahauhauha *(más) influências são tudo*!!!
 Aos que querem já começar a me ameaçar com e-mails o endereço é o de sempre anita_fiction@yahoo.com e para minhas fics mais recentes: http://olhoazul.50webs.com/ se vc realmente quer novos capítulos deixe uma msg na minha caixa de mail e uma no meu guestbook, hehehehehehe.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Leia Também

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...