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Quando Nossos Olhos se Reencontrarem... § 4 – Olhos que Fogem

Notas Iniciais:

Tô de volta, explicações no fim e comentários na minha caixa, já! Ah! E não me processem!!! Saint Seiya não é meu... Mas um dia o Ikki será huahauhauaha, não vêem que ele faz tudo que eu mando ele fazer aqui nesta fic?

Olho Azul (quase não) Apresenta:
Quando Nossos Olhos
se Reencontrarem...

 

Capítulo 4 – Olhos que Fogem 

  No dia seguinte, todos comentavam o sucesso do baile informal realizado na casa de Saori Kido. Um dos jornalistas, em sua coluna dominical, ousou comparar a alegria da festa à euforia do Japão quando passou a tomar lugar de destaque no mundo, na corrida Imperialista, séculos atrás.
 
  Ninguém ousava dizer o contrário; os que participaram afirmavam não ter havido uma infelicidade qualquer e os que sonhavam em ir torciam por um convite para o próximo. 

  Os únicos, a exceção, os que gritavam que amaram, foram os que, secretamente, não se sentiram tão bem por lá... Na verdade, diziam a si próprios que aquele dia, que deveria ter sido o mais feliz, foi o que os fez sentirem-se mais miseráveis.
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
Aeroporto de Seul
 
-E o que foi afinal?-perguntou Sabine.
-Bem...-Carl hesitou, até parecia que algo estava conspirando contra eles irem ao tal baile.-O avião que vai pra Tóquio só sai à meia-noite.
-Eu já disse que desisto, queria muito ver meu irmão, mas a vontade não é tanta contra estes avisos...-Ikki declarou. Os três caminham até uma loja de souvenir, mas Carl conserva o mini computador em sua mão, procurando uma alternativa.
-Pelo menos chegamos às duas... Deve ainda ter alguma coisa do baile a esta hora por lá.
-Eu quero o baile todo, seu incompetente!-Sabine gritou quase jogando uma sobra da Copa de 2002, realizada naquele país e no Japão.
-Antes tivéssemos saído com a espanhola... De lá deve ter vôo até a capital de hora em hora...-Carl declarou.
-Veja se há algum vôo para qualquer outra região...-Ikki falou, um tanto impotente, quieto...
-Sim, um que sai às oito da noite para... Sendai.-Carl respondeu, Ikki sorri.
-Agora veja se de lá tem algum pra Tóquio.
-Tem sim... Sai às onze e meia.
-Com certeza não perderemos tal conexão...
-Mas perderemos o baile!-disse Sabine, num tom triste, pegando uma camiseta escrita “Seoul-Corea”.
-Nem tanto... de Sendai pra Tóquio deve ser uma hora...-Ikki disse.-Iremos direto para o baile!
-E eu passo no hotel e deixo as malas.-Carl disse, já comprando três passagens para ambos os vôos.
-Feito!-Sabine sorriu, pagando a blusa.
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
  Minu esperava Seiya pacientemente, olhando a janela do orfanato. O mar brilhava com a enorme Lua-de-mel e a estrada estava vazia. As crianças estavam contando estórias para dormirem nos quartos acima, com suas ajudantes vigiando, e a própria casa estava na penumbra.
 
  Mas aquilo não assustava a menina... Esta mal via o local... Só pensava no seu amor de infância... Ele tinha lhe prometido que não a deixaria por uma qualquer, como sempre ocorria.
 
  Sorriu. O brilho nos lábios os tinha deixado num tom levemente róseo. Este era o tom do vestido que comprara com Seiya... Ele lhe dissera que estava linda, enquanto o experimentava. Os olho castanhos do jovem estavam brilhando naquele momento, foi assim que ela o escolheu... Não importando o tamanho do decote ou o glamour que ele tinha... O que importava era a satisfação de seu herói. E assim foi com o tamanho do salto do sapato e até a presilha que prendia seus cabelos em um coque.
 
  Seus olhos se iluminaram com a claridade que vinha da rua. Era o carro de Seiya, antes de vê-lo seu coração já sabia. Levantou em um pulo, eufórica por passar uma noite com ele.
 
  Correu até a porta da frente e a abriu... Então iniciou outra corrida até o portão que estava sendo aberto por Seiya, logo após trancar o orfanato. Mas com sua inexperiência em saltos e vestidos justos... Caiu de cara no chão de terra.
 
-Minu!-Seiya gritou, ao ver a menina cair. Mas, logo, ela se levantou; não era uma dama como Saori Kido, não iria chorar por esta besteira.
-Pra que tanta corrida? O baile ainda tá vazio...
-Desculpa...-ela disse ao se levantar e limpar a terra no vestido.
-Vamos?
-Claro!-sorriu e foi logo até o belo carro de Seiya... Melhor, do motorista dele.
 
  O próprio estava muito nervoso... Demorara quase uma hora para ajeitar a gravata borboleta. Seus dedos sempre acabavam por se prenderem no meio e ao tirá-los, o laço estava desfeito...
 
  Havia olhado Minu cair, mas não viu... Pensava em Saori, em como seria a noite, em se Ikki chegaria... E se o fizesse, mas não a tempo? Seria um tanto injusto...
 
  Entrou no salão, um tanto mais cheio que quando vira, ao sair para buscar sua acompanhante.
 
  Notou que o grupo que vinha do Santuário havia chegado. Foi um sacrifício convencer Mu, o encarregado de tomar conta de tudo, até a escolha do chefe, a permitir a vinda de todos os cavaleiros de ouro, inclusive ele próprio, mais as amazonas...
 
  No início todos ficaram ali, quase que num mundo à parte. Mas logo Aioria e Marin se separaram do grupo, depois Shaina e Camus, aí June viu Shun chegar...
 
  Outro grupo ali era o dos amigos mais íntimos de Saori Kido... Entre eles, principais parceiros de negócios, pessoas de alto cargo na Fundação... Sempre entre si...
 
  Por último: os amigos dos Cavaleiros e os próprios... Shunrei e Shiryu dançavam juntos sempre que uma música mais lenta era tocada. Hyoga olhava a cada segundo a entrada, à espera de Fler, enquanto seguia Hiko por todo o salão. Por causa do aviso de Seiya, esta decidira por não se arriscar, ou acabaria apaixonada e ferida.
 
  Hyoga observou-a deixar Seiya, enquanto conversava com Miki e Kigeru. Chamou-a e a menina resolveu atender, não estariam a sós...
 
-Está me evitando?-o rapaz perguntou.
-Não, eu só... Eu só tava falando com o Seiya...
-Eu nem sabia que conhecia Aldebaran...
-E não o conheço...
-Mas falou com ele numa das vezes que ia ter contigo.
-Pois é...-ela suava frio.-Eu queria saber onde era o banheiro...
-Após isto não foi pra lá...
-Não? Ah, deve estar enganado...
-Não, você foi falar com Saga.
-Pois é... somos velhos amigos!
-Não, não são.
-Como pode ter tanta certeza!?
-Saga nunca deixou a Grécia...
-Eu o conheci numa das boates de lá...
-Ele nem sabe o que é isso.
-Sério!?
-Sim, mas tenho certeza de que te acha uma maluca. Afinal... Ele estava lá e você foi e o abraçou do nada, deu beijinho na bochecha...
-Eu acho que o confundi com outro Saga, hehehe.
-Sei...
-Sobre o que estão falando?-Kigeru perguntou, ao notar que Miki só tinha olhos para um casal do outro lado do salão.
-Nada.-os dois responderam em uníssono. Hiko saiu da roda, seguida de Hyoga. Ao notá-lo, parou o primeiro que viu pela frente, cumprimentando-o em voz alta.
-Há quanto tempo!-gritou, dando um tapa nas costas do jovem de cabelos azuis, próximo à entrada.
 
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-Aishiteru!-Seiya dizia mais uma vez, acariciando os macios cabelos da amada e olhando a porta, sem prestar atenção... Tudo o que sua cabeça registrava eram vultos e luzes...
 
  A porta ao fundo se mexia vez por outra. Saori já estava voltando a si daquele transe, tamanha a demora de Seiya para terminar logo com aquilo tudo...
 
  Foi quando ela criava coragem para protestar que o menino deu um salto. O coração dela, quase que por instinto, ou telepatia, deu pulo e parou. Por que aquilo!? A última vez que sentira aquela enorme falta de ar fora... Fora muito tempo, numa festa de Natal, havia dois anos.
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
  O baile estava cheio e ela no meio, recebendo cada convidado que chegava. Nunca chegavam os que ela realmente queria perto, aqueles que dois anos atrás haviam se despedido para levarem uma vida comum, sem deuses vingativos, nem cavaleiros problemáticos.Uma vida à qual tinham mais que direito.
 
  Seiya chegara acompanhado de uma garota de seios fartos e cabelo róseo, quase vermelho...
 
“Mais uma...”, pensou Saori, sorrindo pela primeira vez em anos... Havia completado quinze anos havia poucos meses e não tinha amigos, namorados, nem nada, só um amor antigo... Sua vida mais parecia um poema romântico que uma realidade.
 
-Olá, princesa!-ele a cumprimentou, junto com a mulher, no mínimo dez anos mais velha...
-Seiya, tenha um pouco mais de respeito...-Saori o repreendeu. Ele saiu rindo debochado, logo ela percebeu o duplo sentindo e gargalhou de leve... Era filha do Rei dos Deuses... Que vida normal poderia ela ter!?
-Mas que belo sorriso!-ela procurou à sua frente com o rosto ruborizado. Na distração não prestara atenção aos que acabaram de entrar.
-Onde está...?-perguntou para si... teria sido imaginação dela...? Aquela voz era exatamente como... Foi quando lembrou de virar-se.
 
  Seu rosto virou para a direita, para a esquerda... Seus cabelos, bem curtos na época, dançavam ao vento, acompanhando o movimento. E se virou bruscamente para trás, dando de cara com um jovem rapaz, vestido a rigor, de cabelos azuis.
 
-Ikki...-falou num sussurro. Sentia as pernas fracas e o ar lhe faltar... Se havia alguém que não esperava ali era ele.-O que faz aqui!?
-Eu achei que tinha sido convidado!? O convite foi um engano?-ele respondeu, seriamente.
-Oh, não! É que... Bem, como ninguém veio... Achei que não viria também... Você também não é muito disso de festas...
-Hahahaha, não viria, mas como estou morando num hotel em Yokohama...
-Num hotel?
-É o meu emprego... Eles me pediram para representar meu setor da firma por aqui... Sou um dos poucos empregados que sabem japonês, e o mais confiável.
-Uma afirmação um tanto presunçosa...
-Não exatamente...-ele então sorriu galantemente.
 
  Logo Saori se havia esquecido de que era a anfitriã e acompanhou o rapaz num passei pelo salão...
 
  Conversaram sobre política e sobre o próprio emprego... Ela nunca se havia sentido tão confortável com alguém, e se admirava por sentir isso com Ikki, aquele que lhe deixava sem fôlego...
 
-Então eu saí do meu apartamento recém-comprado pela firma na Pensilvânia para vir para Yokohama... Por sorte o hotel é ótimo!-ele sorriu de novo. De fato estava um tanto mudado, nunca o tinha visto sorrir tanto em um só dia.-Que tal irmos beber algo...? Falei tanto que minha garganta ficou seca.
 
  Ela sorriu, como se consentisse. Ele estendeu o braço, sendo aceito, e os dois foram até a mesa de coquetéis...
 
-Qual é o sem álcool...?-ele perguntou. E distribuiu o conteúdo em duas taças.-Que tal irmos para aquela sacada, a Lua está me parecendo maravilhosa! Já viu como ela brilha nas nuvens ao redor? Parece um quadro...
-Vamos sim!
 
  Continuaram a conversar, agora ele fazia as perguntas sobre ela... Não lia tanto sobre a fundação, confessou a vontade de se afastar ao máximo do passado. A menina sorria a cada resposta que dava. De início economizara palavras, mas logo passou a pôr para fora tudo o que lhe vinha à cabeça...
 
  Demorou um pouco para notar que a cada segundo o rapaz se aproximava dela e que nunca dava um passo sequer para trás, como com outros que haviam tentado... Mas quando ele chegou mais perto, seu coração começou a bater descontrolado.
 
  Num momento tudo ficou em silêncio e ela pôde vê-lo inclinar a cabeça lentamente... Como um beija-flor com uma rosa. Fechou os olhos, seu coração parou... Tudo parou, até a música do salão...
 
  Ficou assim por mais uns dois segundos, quando sentiu um golpe de ar e ouviu a porta para o baile se abrir.
 
  Abriu os olhos e ele havia sumido...
 
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  Saori, num impulso, olhou para Seiya; este mirava à frente. O corpo do rapaz, antes relaxado, estava extremamente tenso... Parecia uma estátua de algum grego... Gelada...
 
-Seiya, o que houve?
 
Ele a olhou e forçou um sorriso. Manteve-se por um tempo em silêncio. Pensava ter visto Amamiya bem ali, na entrada da festa, mas viu Hiko cumprimentá-lo; não podia ser ele, os dois não se conheciam... Talvez algum ex-companheiro dela da época da escola técnica no Japão.
 
-Não é nada!-decidiu não trazer o nome dele à tona... A menina estava também tensa, pela ansiedade de ouvi-lo dizer que era Ikki, que ele estava ali... Mas não aconteceu.
-Ah...-respondeu e sorriu. Que besteira, por que não deixava de ter esperanças e porque agora que seu coração voltava a bater, estava tão desesperado? Soltou o fôlego que nem sabia que havia prendido... Quando voltou a olhar Seiya, este olhava novamente fixo para o salão... Seria alguma garota bonita? Alguma ex dele?-É Minu?
-Como?
-Você está procurando Minu, ou algo assim?-era verdade que tinha se esquecido completamente da garota, mas esta agora estava tendo uma conversa bem calorosa com Miro... Ou era Saga? Ou Camus? Ele sabia que era um dos três, ou sei lá quem... Só sabia mesmo é que não estava sozinha... Olhou de novo o outro sujeito de cabelo azul... Agora estava falando com Hyoga... Havia mais um casal e Hiko, que parecia por fora do assunto, tentando sair... Como um animal encurralado... Provavelmente querendo fugir de Hyoga, como fizera a festa toda... A cara de Saga foi imperdível quando ela fingiu que eram grandes ami-
-Oh não!-ele gritou notando que aquele nunca seria um velho conhecido de Hiko... Ela estava era fugindo de outro “amigo”. E Hyoga conversava com o sujeito!
-Seiya, você não combinou de passar o baile com Minu, combinou?
-Não é isso Saori...-ele havia tomado sua decisão... Não queria perder aquela garota!-É só que...-ele a amava demais...-É que...
-Fale logo!
 
  Tanto que sentia que deveria deixá-la ir... Afinal, lá estava o amor da vida dela.
 
-O Ikki chegou.-ele pôde sentir a cor de seu corpo se esvaindo... E então ela começou a rir histericamente.
-Boa! Quase me pegou...-falou, ainda rindo. Logo parou ao notar que o amigo falava a verdade.-De qualquer forma, já são mais de meia-noite e...
-Vai, Saori, eu sei que o ama muito...
-Seiya...
-O que está esperando? Volte para o baile e o cumprimente!
-Você... Você não vem?-o garoto abaixou a cabeça e a balançou, forçando outro sorriso.
-Não, vou ficar observando a Lua, seu brilho nas nuvens... Parece um quadro...-Saori quase riu da coincidência daquela fala com a de Ikki, há dois anos... Mas estava distraída demais se arrumando para retornar. Para voltar a ver o seu amor...
 
  Mal podia esperar para que seus olhos se reencontrassem.
 
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  Minu e Seiya caminharam até a frente da entrada para uma das sacadas ao chegarem... Seu coração batia acelerado... Sabia que havia algo errado com Seiya, ele sempre a largava, mas agora parecia ser... Premeditado...
 
“Só pode ser ela...”;pensou consigo. Conhecia o amigo de infância... A única que conseguia derrubá-lo era Saori... Seiya tinha reações incríveis quando se tratava daquela menina... Nunca o via tão mal educado quanto era com a moça, ou tão bem-educado... Sempre dependia da ocasião, afinal, Seiya era imprevisível... E ficava ainda mais com Kido por perto.
 
-Nunca me viu?-o próprio perguntou, ao notar que Minu o olhava tão intensamente. A moça corou e sacudiu a cabeça.
-É que você parece ansioso por algo... Não pára de olhar o relógio...
-Ah, é? Desculpa... Que tal dançarmos um pouco?-e dançaram, mas como ele dissera, só um pouco... Logo se entreteve com seus amigos e a esqueceu, indo dançar com Marin e depois se dirigindo para  outra roda... Ela acabou ali, sem Seiya, conversando com sabe-se lá quem, sobre sabe-se lá o que...
 
  Minu estava desapontada, ele tinha prometido... E o que a deixava com mais raiva é que não era por um rabo-de-saia qualquer, que o tivesse achado um galã, e sim por causa de uma “ojousama” que nunca na vida ligaria para ele.
 
  Ela viu quando ambos saíram logo após a meia-noite, e agora via Saori voltar, sozinha...
 
“O que quer que Seiya tenha planejado, não pode ter acabado tão rápido...”. Por mais raiva que a garota sentisse por ele tê-la largado, partiu para confortá-lo...
 
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  Saori caminhou por todo o baile... Seiya havia lhe dito que Ikki estava próximo à entrada e até apontado... Mas sua cabeça estava... Estava... Bem, parecia que o cérebro tinha posto um bilhete de “fui pescar” e abandonado o coração sozinho...
 
  Mas este estava tão atordoado... Um misto de alegria, aflição e com um pouco de confusão... Fazia tanto tempo que Ikki não mexia tanto com seu coração!
 
  Corria a passos largos e de repente parou... Por um segundo pensou em voltar e terminar o que quer que tivesse começado no jardim, com Seiya... O que faria quando o visse? E se ele comentasse sobre o quase-beijo?
 
  Respirou fundo, parecendo ali uma grávida pronta para dar à luz... O ar entrava pelo nariz, saía pela boca e assim por diante... Quando o cérebro voltou à sua função e o coração foi descansar, ela deu meia-volta... Não era assim tão justo com Seiya, fazer aquilo...
 
  Foi aí que o viu, estava atrás dela o tempo todo, olhando em sua direção... E neste momento em seus olhos... E sorrindo. Ah, aquele sorriso era tão lindo! Como podia ter se esquecido de tamanha beleza? Nas suas lembranças não era assim tão feiticeiro; como o canto das sereias de Odisseu...
 
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  A rua não estava tão deserta quanto normalmente estaria... As luzes do baile, que ali acontecia, iluminavam-na de forma que parecesse festiva... Os carros preenchiam a sensação usual de solidão, brilhavam quando a luz ali batia... Cada um melhor polido que o vizinho...
 
  Naquela hora entrou um táxi cujo dono, que acabara de adquiri-lo e do qual se orgulhava bastante, sentiu-se desolado. Não sabia que no Japão havia tantos carros caros.
 
  Encostou-se à porta, onde os fregueses pediram, e esperou pelo pagamento, assobiando espantado. Sempre passava pela frente da famosa Casa de Athena, mas nunca havia notado o quão grande e cheia era... Sempre lhe pareceu tão solitária...
 
-Aqui está...-o taxista saiu de suas lembranças e recebeu o dinheiro de um deles, que tinha um sotaque estranhou. Deu de ombros e se foi.
-E agora? Podemos entrar?-Sabine perguntou. Estava cansada depois de tanto problema e ainda por cima tivera que parar no hotel e tomar banho às pressas... Mas estava naquele baile, nem acreditava... Olhava ao redor e via uma cidade tão contrastante! Diferente de seus padrões europeus, e ao mesmo tempo parecida.
-Entramos!-Carl disse, e Ikki foi o primeiro a, de fato, entrar.
 
  Apresentaram os convites e ficaram maravilhados com tanta elegância... Na pista de dança tocava música pop agora, boa parte dançava, mas o clima não era tão solto quanto seria em uma discoteca. Aquilo era estranho.
 
-Há quanto tempo!-Ikki olhou assustado para a loira que agora lhe dava um tapa nas costas. Tentava acessar todos seus arquivos mentais, para ver quem poderia ser, até que chegou à conclusão que já imaginava: não fazia idéia!
-Eu... Eu te conheço?-perguntou baixo. Talvez estivesse bêbada, ou realmente não se lembrava da menina.
-Só finja!-ela sussurrou e começou a tagarelar sobre a festa.
 
  Sabine e Carl, que haviam se demorado olhando de perto os convidados, se aproximaram. A menina falava e falava...
 
-Será alguma ex dele?-Sabine perguntou. Carl deu de ombros.
-Espero que não, pois tem um cara bem ali, observando tudo atentamente... Será que foi essa que partiu o coração de nosso amigo!?
-Será? Talvez o trocara por aquele ali, pois até que o loirinho é bonitinho... Mas também pode ser irmão, né?
-É mesmo...
 
  Hiko continuava, esperando que Hyoga desistisse. Finalmente havia encontrado alguém que a ajudasse tanto a ponto de conversar com ela... E que lindo era! O smoking bem arrumado, o cabelo liso caindo, fazendo um tipo... E parecia quase da sua idade, porém mais velho.
 
“Não, agora tenho que pensar em me livrar de um... Pode ser infantil, mas tenho que fugir do Hyoga!”; e continuou falando sobre tudo que conhecesse do Japão.
 
  Por outro lado, Hyoga estava maravilhado com a capacidade de interpretação de Hiko. Tinha certeza de que nunca em sua vida havia visto Ikki. O próprio se esforçava para fingir que a conhecia. Decidiu se aproximar afinal; estava ansioso por ver a cara de Shun quando finalmente revisse o irmão.
 
-Ora, Ikki! Não sabia que conhecia minha grande amiga Hiko!-a mencionada olhou-o vermelha, achara outro amigo de Hyoga!
-Como?-Ikki perguntou, não reconhecendo o recém-chegado.
-Hiko, a menina, com quem está falando há uns cinco minutos! É uma amiga minha, eu a trouxe da Rússia.
-Rússia?
-Não está me...-era intencionalmente uma brincadeira, mas pela expressão do cavaleiro de Fênix, Cisne pôde saber que era sério...-Não está me reconhecendo!?
-Não... Sendo muito sincero.-respondeu.
-Sou eu! Hyoga!-Ikki o olhou arregalado.
-Sério!? Você mudou... Mas, pra falar a verdade, ela... -parou ao ver Hiko lhe falando não em mímicas variadas.
-Eu sei que não se conhecem... Acontece que ela é muito brincalhona, não é?-Hiko olhou para o chão, frustrada.
 
  Foi notando, finalmente, um clima mais amigável que Carl e Sabine se aproximaram e foram apresentados. Conversaram por um bom tempo. Contavam as dificuldades enfrentadas até finalmente chegarem, que viajavam há um dia já, sem contar com o fuso.
 
  Ikki, rindo, observava cada detalhe, cada convidado, em busca de uma certa garota de cabelos roxos... A suposta anfitriã. Tinha medo de encontrá-la, tanto quanto do oposto, de que ela tivesse ido dormir, de alguma emergência no trabalho... Mas não perguntou a Hyoga... Preferia ficar na curiosidade.
 
  O que diria se a encontrasse!?
 
  Foi ao se fazer esta pergunta que viu um anjo. Ele flutuava pela sala, olhando tudo redor. O vestido mais parecia ter sido feito com o branco da lua e o brilho de todas as estrelas. Os olhos deviam ter sido tirados do mar da manhã, calmos e suaves. Os cabelos deviam ter dado cor ao crepúsculo, e a sua alva pele era tão pura e límpida que se confundiria com a água proveniente do derretimento dos gelos dos Alpes.
 
“Que meu anjo faz, olhando todos ao redor?” -Ikki se perguntou, e apesar haver tentado não pôde se corrigir... Saori um dia tinha de ser seu anjo e só seu, num paraíso só deles e para eles. Sorriu, alegre ao vê-la.
 
  Não se abalou quando ela se virou e seus olhos cor do mar se encontraram com os dele próprio, cor do céu...  Não tinha como pensar no que faria ao reencontrá-la, após aquela noite... Havia dois anos...
 
  Saori, porém, não sabia o que fazer; Ikki continuava a fitá-la, mas estático. Era quase que uma norma da sociedade que a pessoa fosse até o grupo, a menos que simplesmente quisesse conversar em particular... E ela temia tal possibilidade, apesar de secretamente almejá-la.
 
  A menina respirou fundo e caminhou a passos largos até o grupo, onde seu amado se encontrava, só a olhá-la fixamente. O resto, que conversava tranqüilamente, sentiu sua aproximação. Hyoga deu um sorriso largo para a menina. Mesmo à parte dos eventos que ocorriam ali, pôde ajudar, era uma distração!
 
-Olá, Ikki, há quanto tempo.-disse polidamente, tentando afastar qualquer tipo de emoção. Mas quando o cumprimento saiu, lhe pareceu extremamente mecânico. Talvez tivesse sido melhor do que não falasse nada...
-É, uns dois anos, certo?-ele respondeu, mantendo o sorriso o tempo todo... Tinha saído mais normal do que o próprio achara... De fato estava empolgado em vê-la, era tão linda!
-Sim...-assentiu.
-Ele veio à tal festa de Natal!?-perguntou Hyoga, para ambos, era como se um predador tivesse invadido o seu ninho.
-Veio sim...-Saori respondeu prontamente.
-Incrível! Bem que Shun comentou que havia mudado... Por falar nele, já o viu?
-Não...-o rapaz respondeu, não parando de olhar Saori, que por sua vez olhava o chão, Hyoga, Hiko, os dois outros, tudo... Menos Ikki.
-Ele vai amar saber que está aqui!-o outro continuou, ignorante do total desinteresse dos ouvintes.-Tudo do que o menino fala é sobre você... Não mudou nada!-e gargalhou. Ikki sorriu para ser simpático.
-Nossa! Eu tô doido pra conhecer esse tal irmão do Ikki...-Carl comentou, notando a situação estranha.-Por falar nisso, senhorita, sou Carl, amigo de Ikki, e esta é Sabine, também uma amiga.
 
  Saori finalmente fixou os olhos em algo e reparou o casal entre Hiko e Hyoga. O garoto sorria, mas a menina a olhava, como se investigando cada célula sua.
 
-Prazer...-respondeu.-Não parecem ser de Tóquio...
-É, somos da Alemanha! Ikki insistiu que ambos aprendêssemos japonês... Mas confesso que eu não pratico muito...- Carl disse.
-Há sotaque, mas fala fluentemente...-o outro tentou voltar à conversa. Era como se a garota o evitasse... Talvez tivesse percebido sua intenção, havia dois anos.
-Estou vendo.-ela respondeu, da mesma forma que o cumprimentara há apenas um minuto ou dois.
 
  Talvez falar com ela assim, com a mente cansada de tanta viagem, tivesse sido uma péssima idéia... Quando viu Shun ir para a sacada, achou nele a desculpa perfeita.
 
-Ah, lá está meu irmão... Já volto!
 
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  O vestido quase se arrastava na bela grama... Mas a menina tinha certeza de que era por uma boa causa, exatamente aquela que a levara a comprar aquela roupa: Seiya.
 
  Andava lentamente, torcendo para que a luz vinda do baile a ajudasse a encontrá-lo... E atrás de uma árvore, sentado em um banquinho, lá estava ele.
 
-O que houve, afinal?-Minu perguntou. O garoto se assustou, dando um pulo, mas não levantou a cabeça; continuava a olhar os pequenos insetos caminhando.
-Ele chegou.-limitou-se a dizer com voz chorosa.
-Ele quem? O que tramou pra esta festa, hein?-perguntou, sentando-se, bem ao lado do amado.
-Eu iria ficar com ela... Só se ele não chegasse. Será um sinal pra eu desistir!?-agora levantava a voz e a cabeça. Tinha os olhos um tanto vermelhos, bem úmidos, mas não chorava.
-Talvez... Saori Kido é algo fora de seu alcance... E pelo que diz, gosta de outro.
-É...-concordou abaixando novamente a cabeça, mas, agora,  descansando-a no ombro de Minu. Sentia-se bem com ela, seguro. Era sua amiga de infância, quase uma irmã!
-E quem foi que chegou, hein?
-É segredo...-respondeu sorrindo, agora olhando para o céu estrelado, para a bela Lua...
-Vamos voltar?
-Pode ir... Mas eu quero ficar mais um pouco aqui... Não estou muito afim de encará-los por ora.
-Fico contigo... Acho interessante estar ao seu lado, mesmo sem conversarmos...-declarou ruborizada, mas o jovem ainda olhava as estrelas.
-Sabe de uma coisa? Eu também...-o vermelho de sua face se intensificou com a resposta e Minu sorriu de prazer. Seu calor era tão bom naquela noite fria...
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
  O rapaz entrou na sacada sem notar que estava sendo seguido de perto... Caminhou lentamente até o local mais distante da entrada e se apoiou ali, na barra de mármore.
 
  Tinha vontade de chorar, sentia-se deprimido... Ouvir tudo aquilo tão seguido... Era como se num dia tivesse perdido uma amiga e no outro mais uma... Seria por ter sido tão egoísta, presunçoso!?
 
-Hã!?-deu um pulo ao sentir uma mão em seu ombro. Mas ao ver o dono desta deu outro maior.-Ikki!?
-Eu mesmo! Achou que fosse quem?
-Sei lá!-respondeu, virando-se novamente para observar o jardim abaixo, iluminado pelo luar. O irmão mais velho caminhou até seu lado e passou a fazer o mesmo...-Não vai falar por que se atrasou tanto?
-Bem, você já sabe...-falou cinco minutos depois.
-O inverno? Ontem fez muito calor aqui, não sabia que estaria tão frio assim na Europa...
-É... Deve ser alguém que não queria que eu viesse...
-Talvez...-respondeu sem ânimo... Seus olhos esverdeados continuavam a olhar cada flor daquele jardim.
-Todos estão estranhos... Será a Lua?
-Como assim?
-Hyoga e a tal da Hiko... Estavam bem agitados! Minha amiga Sabine também... E Saori!? Se bem que entendo esta parte...
-Entende?
 
  Ikki engoliu em seco e pigarreou.
 
-Bem, a festa e tudo o mais, né?
-Ah... Bem, talvez sejam seus olhos...
-Não, eu me considero bom com as pessoas, sei que todos estão se divertindo e você é o que está no ápice!
-Não vou mentir... Senti muito a sua falta e faz tempos que não te vejo... Se tivesse sido ontem pela manhã teria lhe feito uma festa maior que a de um cachorrinho ao rever o dono. Mas... Bem, chegou hoje...
-Ontem... Quer dizer sexta ou sábado? Já passa da meia-noite.
-Sexta...
-E o que aconteceu?
-Já lhe falei sobre Miki, não é?
-Sua amiga...
-Bem... Foi com ela... Não sei como te contar...
-Sou seu irmão, Shun... Se não pode se abrir pra mim, pra quem mais se abrirá?
-É que eu sem querer falei pra ela que não fazia meu tipo... Foi quando descobri que gostava de mim enquanto eu achava que era do Kigeru... Ainda por cima hoje, quero dizer ontem... bem, agora há pouco a June falou diretamente que me amava e me olhou esperando resposta. Eu não sabia o que dizer, confesso que não queria, que não era pra ser algo definitivo, mas disse não e saí de fininho. O que eu faço, agora, Ikki, O quê!?
-Calma...-Ikki falou baixo, mas o suficiente para fazer o irmão mais novo obedecer.-Pedi para se abrir, mas não pra se jorrar, Shun... Por sorte, acho que consegui entender... Conflitos amorosos... Meu irmãozinho está crescendo!
-Por isso não queria te contar...-Shun respondeu vermelho, virando o rosto.
-Desculpa... Só estava brincando. Mas essa June... O que respondeu?
-Não sei, tinha medo de ouvir...
-Mas disse o não assim!? Na hora?
-Mais ou menos...
-Sem explicações?
-Sim... Sem nenhuma... Deve me odiar!
-Se acabara de dizer que ama, não creio... Vamos com calma, disse que é sua amiga... Por um acaso é a que treinou contigo?
-Bem... é.
-Ela te conhece. Sabe que não fez aquilo por mal, então se tentar explicar-lhe seus motivos, entenderá. Quanto a esta Miki... A mancada foi feia... Não tem conserto.
-É assim!?
-É. -Ikki olhou o irmão.
-Miki é minha melhor amiga atualmente, depois de June... E do pessoal... Não quero arriscar perdê-la...
-Você fez uma bobagem para a qual não há um conserto. Só há como dar um jeito e nada além. As coisas não serão mais as mesmas, a menos que passe a retribuir-lhe tal amor, ou até que ela te esqueça... Ambas as possibilidades levam tempo...
-Você é realista demais... Não dava só pra dizer que tudo vai dar certo?-Shun comentou, encostando a cabeça no ombro do irmão...
-Eu gosto de ser malvado!-respondeu dando uma risada para enfatizar seus dizeres.
-Sei... Mas o que faço de imediato?
-Divirta-se! E me apresente a todos... Não conheço muita gente por aqui...-o garoto assentiu e puxou o mais velho pelo braço, para voltarem ao baile.
 
  Ikki temia um reencontro com Saori, mas faria de tudo para ver seu irmão feliz.
 
-Vamos começar por consertar a burrada que fez com Miki. Fale com ela normalmente e finja que nada aconteceu.-comentou enquanto caminhavam
-Mas isso não é conselho que se dê... É coisa de homem que não presta, Ikki.
-Eu sei... Mas só os que não prestam sobrevivem... Veja o meu exemplo!
-Está bem-humorado demais pro meu gosto... É maldade fazer piadas da minha situação.
-Vamos! Dramatizar os problemas só piora tudo...-Shun ficou quieto. O irmão tinha alguma razão naquilo, mas será que sua preocupação era só drama mesmo?
 
  Caminharam até um grupo. Ikki sorriu, não imaginava que queria tanto reencontrar o irmão... Ali estavam seus amigos, que finalmente conheceriam Shun. Feitas as devidas apresentações, os três começaram a conversar, sendo que o próprio apenas observava o salão... E a anfitriã. Ela estava linda mesmo!
 
  Uns quinze minutos depois, Seiya entrou acompanhado da menina do orfanato. Estava abatido e forçava o sorriso. Mesmo franzindo a testa decidiu caminhar até Ikki e lhe falar, ignorando tal fato.
 
-E aí, cara?- Ikki cumprimentou-o, como se tivessem se visto no dia anterior. Minu olhou-o estranhando, provavelmente não o reconhecera.
-Ah, olá, Ikki, pretendia ir lhe dar as boas-vindas neste exato momento...-o rapaz respondeu. Apesar de sincero, fez questão de repetir para si “pretendia”, pois no fundo sabia que não iria conseguir aquilo que queria e assim seria melhor... Por que diabos não estava com Saori!? Teria deixado a menina sozinha?
-Não me parece muito contente, Seiya, algo lhe aflige?
-Estou bem, Ikki. Onde está Saori?
-Não sei, faz tempo que estive com ela...
-Está bem... E quem são aqueles? Seus amigos? -teve vontade de enforcar o amigo... A menina tinha feito tanto por ele e era assim que a tratava!? “Faz tempo” ?
-Ah, claro! Sabine e Carl.
-Certo... Pretende ir ao parque amanhã?
-Parque?
-É.-Saori merecia mais uma chance com ele, já que o baile estava praticamente perdido...-Saori comprou ingressos para as crianças do orfanato e para nós nos divertimos durante nossa estadia. É novo e muito bonito, por que não vem conosco?
-Ela não me disse nada, então...
-Eu estou convidando!
-Mas um parque? Não é um tanto infantil?
-Deixa de ser metido a adulto, cara! E precisamos do maior número possível de babás, hehehe.
-E que eu tenho a ver com isso?-respondeu sorrindo.-Mas, sério, não é muito minha praia...
-Haru no Hoshi é a praia de qualquer um! E você tem que compensar por este incrível atraso para este baile, não é?
-Não foi minha culpa...
-Por favor, Amamiya-san, ainda não conhece as crianças, mas irá amá-las!-Minu interveio, sem entender o porquê da insistência de Seiya. O homem era conhecido por ficar à parte de qualquer atividade em grupo...
-Eu não sei...-de repente estar naquela atmosfera não fazia bem a Ikki... Continuava a hesitar quanto a tudo que envolvesse Saori Kido... De certa forma ele o fazia desde que estava na Alemanha... O que será que estava fazendo ali!?
 
  Começou a se afastar, assim não o convenceriam... Voltou ao grupo onde estavam seus amigos e sugeriu que se fossem, estava cansado demais para aquilo tudo... Os dois assentiram. Mesmo sem muita vontade, seguiram seu amigo que pegou um táxi e foram todos ao hotel.
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
-Eu não acredito que ficamos tão pouco tempo naquela festa!-Sabine reclamou deitando-se na cama de casal.
-E, afinal, por que estamos no mesmo quarto?-Carl perguntou enquanto tirava os sapatos.
 
  Ikki, que só olhava a cidade de Tóquio pela janela, sorriu de leve antes de responder.
 
-Não havia outro quarto vago. Alguém esqueceu de reservar o hotel.-ambos olharam para a jovem deitada de qualquer jeito na cama principal do quarto.
-Parem com isso, eu não estava encarregada de nada!
-E nem convidada!-Carl acrescentou, enquanto entrava no banheiro para um banho, deixando o antigo casal a sós.
 
  Sabine sentou-se na cama. Ainda estava de vestido, mas seus cabelos já se haviam desalinhado.
 
-Se não me quiser aqui, pode dizer, Ikki... Dou um jeito de partir amanhã mesmo.
 
  O jovem observou sua ex. Ainda era tão linda quanto quando namoravam. E era aquilo o que realmente gostava nela, apesar de ser a pessoa perfeita para qualquer um: a hora em que era realmente sincera.
 
  Sabine era o tipo de garota independente. No fundo, uma garota emotiva e até um tanto insegura. E fora este fundo que ele apreciara. Com o tempo de relacionamento, Sabine ocultara ainda mais esta parte, e a paixão dele fora se esfriando.
 
-De onde tirou esta idéia?-perguntou.
 
  Ela sorriu, mas não exatamente de alegria.
 
-É que eu me sinto um peso... Não sou a ex que persegue o cara... Eu só queria vir... Mas se preferir, eu...
-Vamos, Sabine! Que coisa tola! Você não veio porque me convenceu a trazê-la. Bem, em parte... Em geral, veio porque é uma das minhas melhores amigas e não a ex que me persegue. Não é como se algum de nós ainda não tivesse deixado o namoro no passado. Certo?-sorriu, tentando animá-la. Por mais que gostasse dela frágil, não a queria triste.
 
  Mal sabia que aquilo serviu apenas como um espinho para a menina... Portanto, não entendeu o porquê de Sabine ter se deitado e virado para o outro lado.
 
  Cinco minutos depois, Carl saiu do banheiro com o cabelo molhado e apenas a toalha do hotel para lhe cobrir as partes íntimas.
 
-Parece decepcionado...-Ikki comentou.
-Por que aqui não tem aquelas bacias de madeira que a gente vê em desenho!?-elevou sua voz, para dramatizar mais o problema.
-Carl... Aqui é só um hotel... Não temos ofurô em cada residência...
-Mas meu sonho é tomar banho em um...-continuou, usando o mesmo tom de antes.
-Vamos! Deixa de ser um bebê chorão e me deixa dormir!-Sabine virou-se, reclamando. O rosto ainda não estava amassado, porém seus olhos miúdos denunciavam a veracidade de sua vontade.-E vista-se!
 
  Gritou, jogando um travesseiro no garoto. Ikki os observou sorrindo... Novamente tinha a certeza que era ótimo estar perto deles... De seus amigos.
 
  Sabine e Ikki tomaram seus banhos e ficou decidido que a cama de casal era deles, porque já tinham sido um casal e portanto “tinha tudo a ver” como Carl falou.
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
  Os raios do Sol entraram timidamente naquele quarto de hotel. Tudo era silêncio. Carl estava numa cama de solteiro, virado para a parede, num sono bem pesado. Infelizmente o mesmo não se dizia de Ikki e Sabine, que apesar de terem ficado com a melhor cama, tinham a cabeça repleta dos mais diversos tipos de pensamentos.
 
  O jovem cavaleiro olhava com interesse a janela e as pesadas cortinas. Lembrava-se do quão tolamente agira na noite passada. Ou melhor, na sua vida toda! E tinha a ousadia de se dizer mudado... Ainda era, no fundo, um lobo solitário. Só saía para se divertir e não ter que sonhar com pessoas gritando em seus ouvidos; gritos de horror, do tipo que nunca o cinema conseguiria imitar. Saía para se esquecer de como agira com Saori naquele Natal. Quantas vezes não se pegara pensando em formas alternadas, em fins diversos, para aquele encontro?
 
  Sabia muito bem que o beijo não poderia acontecer... Seria irresponsável de sua parte. Ela, no final das contas, era sua Deusa, se sentia profano só em pensar em como seria a continuação da cena interrompida. Mas... E se não tivesse interrompido? E se tivesse dito a razão por que não a beijaria? Seria tolo?
 
  Fechou os olhos, sempre fugira desses golpes que a consciência insistia em lhe aplicar... Mas não podia mais fazê-lo! Era inegável que voltara a bancar um idiota naquele baile, tal qual no Natal. Mas não havia volta.
 
-Também não dormiu?
 
  Ikki quase deu um pulo da cama ao ouvir Sabine. Tinha enroscado seu alvo braço em sua cintura, como se para mostrar que não estava falando dormindo.
 
-Você também não?-Ikki respondeu à pergunta com outra.
-Tentei, juro que sim, mas...-ela deixou a voz baixar, não podia simplesmente dizer-lhe que pensava nele.-Estava pensando no quê?
-Nos erros da vida.
-Erros? Se não tem volta... Bem, o máximo que se pode fazer é tentar acertar na próxima!-falou-lhe num tom mais animado, apesar de manter sua voz baixa.
-Era isso mesmo... Eu pensava num erro duplo.
-Qual? Você sempre foi tão certinho...
-Não... Está enganada.-ele virou-se tão bruscamente que a fez ficar parada, na mesma posição. Seus olhos estavam bem perto e suas respirações se confundiam.
 
  Sabine olhava-lhe nos olhos azuis e mais vivos que nunca, como se tentassem lhe fazer enxergar a verdade.
 
-Não diga isto. Conte-me e tentarei te ajudar.
-Que coincidência! Foi mais ou menos o que disse a meu irmão, ontem...-falou baixando o tom e o olhar.-E acho que dei um péssimo conselho.
-Bem, se conselho fosse bom, vendia-se. Mas cabe a nós peneirá-los, não é? Ele já é grandinho o bastante para fazê-lo. Agora, conta o que houve...
-Talvez seja melhor eu me retratar com ela...
-Ele.
-Como?
-Você disse “ela”.
 
  Ikki quase sorriu... Falara sobre Shun quando pensava em Saori. Murmurou um “ah é” e se levantou.
 
-Aonde vai?-Sabine perguntou-lhe.
-Ao banheiro, vou tomar um banho gelado e me arrumar. Hoje faremos uma visita a um parque de diversões!
-De... Diversões?
-Isso aí!-afirmou, fechando a porta para o banheiro.
-Que barulho é esse!?
 
  A menina olhou o recém-acordado na cama de solteiro.
 
-Ikki tomando banho.
-Ah, não...-Carl olhou seu relógio se pulso.-Mas já são dez da manhã! Aiaiaiaiaiai, vamos perder o café-da-manhã, não demora Ikki!
-Jáaaaaa!?!?!?-Sabine deu um pulo da cama e foi olhar a janela.-Mas o Sol acabou de nascer!!!
-São as cortinas...-Carl comentou, pegando uma muda de roupas e escovando o cabelo.-Elas devem tê-lo bloqueado por um tempo e é inverno! Ele deve estar bem fraquinho.
 
  Mas quando Sabine abriu as ditas cujas, retirou o que disse. A luz era tão forte que lhe cegou os olhos.
 
-Fecha isso!-reclamou.
-Aiiiii! Está um dia perfeito para se conhecer o Japão!!!
-Fecha!
-Venha, Carl, dá uma olhada! Tem um monte de meninas ali, os uniformes até parecem aqueles que você vê naqueles desenhos... Mas só que maiores. Eu estava certa, não são tão indecentes assim!
-Deixa-me ver! Mas a esta hora... O que farão na rua? E num domingo! Que horror... Prefiro as do anime.
 
  Ikki saiu do banheiro, ouvindo os comentários e foi ver.
 
-Há dias em que há aulas nas escolas nos domingos... Eventos, por exemplo. Talvez por isso estejam nas ruas. E Sabine, o que ele vê é pornô desenhado... Por isso os uniformes aqui são mais decentes.
-Ah, tá explicado.-ela disse com um sorriso.
 
  Carl já estava no banheiro e logo Sabine também tomou seu banho. Tomavam o café da manhã quando ela se lembrou de sua pergunta.
 
-O que faremos num parque de diversões?
-Eu vou me retratar!
-Mas Ikki, o seu irmão não mais deve gostar disso, sabe...-Sabine comentou.
-E é um tanto infantil!-Carl falou.
-Não é só o meu irmão. Seiya irá levar crianças de um orfanato que a Fundação ajuda para lá. Saori também irá e os meus amigos.
-Então vamos ser babás?-a menina perguntou com um sorriso debochado, mas parecendo que aprovava a idéia.
-Mais ou menos... Porém já são crianças grandinhas, hehe, de uns sete pra cima.
-Se Kido estará lá, vale a pena.-ela comentou, levantando-se da mesa.-Vamos?
 
  E os dois a seguiram.
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
  Todos agora estavam na sala de estar privada de Saori. Seiya falava ao telefone com Minu, marcando tudo para dali a meia hora enquanto os outros conversavam sobre a festa.
 
  A dona da casa apenas observava Seiya. Talvez tivesse sido muito errado deixá-lo logo que Ikki chegara. Talvez não... Com certeza.
 
  O menino notou o olhar e encurtou a conversa com a amiga de infância. Era difícil falar quando estava sendo observado por seu grande amor. Tudo ficava extremamente confuso.
 
-O-o que é que foi, hein?-perguntou gaguejando.
-Eu só queria me desculpar por ontem.-falou baixo, aproximando-se dele.
-Desculpar-se? Não fez nada de errado.
-Mas eu tinha te prometido. Sem contar que-
-Não rolou nada, né? Por que não se confessou?
-Fala como se fosse fácil. Além do mais quase não nos falamos a sós... É muito difícil pensar quando estou com ele...
-E é por isso que está nesta situação.-retrucou. Mas entendia muito bem o que ela queria dizer.-Escuta... Será que ele vem?
-Ikki!? Num parque de diversões...? Não combina mesmo.
-Minu foi bem persistente ontem, quando falamos com ele.
-Ah, Minu te fez companhia?
-É. E ela pediu muito que ele fosse.
-Não é nada provável.
-Sobre o que estão falando?-Shun perguntou, se aproximando do casal.
-Do seu irmão... Ele vem?
-Não sei, deve vir sim. Sabine e Carl estão doidos pra te conhecerem, Saori-san.
-Não teria tanta esperança se fosse você, Shun...-Seiya falou.-Afinal... Ele nem está dormindo aqui, né?
-Se os chamarem, sei que virão. Por falar nisso aqui está o cartão do hotel em que estão, Saori. Foi Ikki quem escreveu tudo, mas já escrevi noutro lugar. Fica com este. Sei que gosta de sabe de tudo sobre nós, hehe.
 
  A menina pegou o papel já um pouco amassado. Mas era, inconfundivelmente, a letra dele... Tinha espiões para aquele serviço, mas o que Shun lhe dava tinha muito valor... Sua letra...
 
-Arigatou, Shun, muito obrigada mesmo.-respondeu.
-Kido-ojousama...-Tatsumi a chamou.
-Sim?
-Uma pessoa a aguarda, mas esta pediu para não ser identificada.
 
  Ninguém na sala perdeu a chance de implicar alguma coisa sobre todo aquele segredo. Saori ficou um pouco vermelha. Talvez tivesse ficado lá se imaginasse quem seria.
 
-É seguro?-ela perguntou.
-Sim, ojousama; temos muitos seguranças.
-Não, Tatsumi, a pessoa.
-Pediu para que eu não dissesse nada...
 
  Saori estranhou, Tatsumi estava bastante hesitante. Acompanhou-o,  preparando-se para alguma eventualidade. Um inimigo, talvez.
 
  Abriu a porta para seu escritório e lá estava ele... Por que não pensou nesta possibilidade?
 
-Surpresa...-falou sorrindo.-Sei que adivinhou, mas... Bem... É sempre bom ameaçar aquele careca de algo.
-Ikki? Não, nem imaginei.
-Só está sendo gentil. Mas se está aqui, quer dizer que chegamos na hora.
-Chegamos?
-Meus amigos estão na sala de espera.
-Vai ao parque?-estava tão temerosa que nem os notara. No fim, Shun estava certo...
-Claro! Mas antes eu queria me desculpar.
-Por quê?
-Por ontem, pelo há dois anos... Por ser tão individualista e nunca te dar nenhuma explicação.
-Como assim?-ela estava vermelha.
 
  Ikki começou a se aproximar, de forma que a pôs contra a porta.
 
-Fui um tolo ontem porque tinha medo de a cena daquele Natal se repetir... Eu acho.-ele olhou para baixo. Não conseguia falar do beijo propriamente dito.
-Está tudo bem, Ikki... Eu mal me lembre daquele Natal, hehe. E não me fez nenhum mal ontem.-ela disse, cada vez mais vermelha e com a voz balançada.
-Então vou me retratar te acompanhando como babá desses pirralhos.-ele completou sorrindo, aliviado com o perdão. Por mais falso que lhe parecesse. Sabia que um dia teriam que retornar àquela conversa, se quisessem ficar completamente bem.
 
  Abriu a porta e permitiu que ela saísse primeiro. A partir dali, seria um cavalheiro perfeito... E não mais profanaria o território sagrado daquela Deusa.
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
-O que será que Ikki queria com ela?-Sabine perguntou, olhando a porta do escritório fechada.
-Coisas impróprias para menores, minha.-mas Carl não recebeu a resposta que esperava com a brincadeira.
 
  Sabine parecia cada vez mais quieta. Neste momento que a porta do escritório se abriu e saíram Ikki e Saori. Ambos sorriam.
 
-Espero que esse parque seja bom.-Ikki comentava, num tom bem diverso do daquela manhã.
-Eu também!-Saori concordava.-Seiya disse que é perfeito, mas também nunca foi lá.
-Contanto que tenha muitas garotas, pra ele é perfeito. E aquelazinha do orfanato vai, não é?
-Sim, hahaha, é mesmo. Deve ser por isso que ele está tão ansioso, hehehe!
 
  Os dois sorriam e aquilo irritava Sabine. Aquela mulher conseguira fazer Ikki mudar bem bruscamente. Ela soube naquele momento que talvez tivesse esperado tempo demais para reatar com Ikki.
 
  Mas não desistiria, era hora de ir novamente à luta... Pelo amor; o amor de sua vida!
 
Continuará...

Anita, 29/07/2003
 
Notas da Autora:
 
Uau! Agora a Sabine tá em ponto de bala!!! E também é agora que começam as complicações, hahahaha! Será que Sabine bancará a boazinha ou será a grande vilã desta história? Acho que ficarão sabendo no próximo capítulo, hehe!
 
Desculpa a demora, mas meu comp andou muito ruim mesmo... Se quiserem detalhes, mandem um e-mail e aproveitem para comentarem o capítulo!!! O endereço é anita_fiction@yahoo.com , vocês também podem falar comigo pelo formulário no final da página!!! Nem precisam de e-mail, mas se tiverem coloquem para eu responder... Não sou muito boa para gravar nicks, então não posso ficar mandando recadinhos por aqui...
 
Outra forma de falarem comigo é pelo meu knal!!! É #olhoazul e fica no servidor: irc.mircx.com, caso eu não esteja lá, me aguardem, pois sempre que toh online apareço!!!
 
E aos que estão aguardando a de Sailor Moon, vou recomeçar o sexto capítulo amanhã... Juro que vou tentar terminá-lo bem rapidinho!!! Para saberem das novidades visitem sempre o meu site: http://olhoazul.50webs.com/
 
Agradecimentos: A todos os mails que recebi até hoje, não sabem o quanto significam... E também a uma ilustre desconhecida minha que teve a infelicidade de se deparar com as “four little sisters”. Ling, eu não pude ler seu comentário. Poderia, por favor, mandá-lo para meu mail? E também à Vane, meu anjo, minha revisora!!! Graças a ela soube que os rumos de alguns personagens estavam meio estranhos e espero que ela já possa notar alguns resultados. No prox cap vou cumprir a promessa do Seiya feita a ela e também a uma outra amiga que anda meio sumida.
 
Sugestões: Tomem cuidado com alguns bons autores, não fazem idéia da decepção que sofri com umas que só não lhes menciono os nomes para não dar a elas tal prazer. Afinal, meu Deus é maior e gente assim um dia se dá mal! Agora estarei mais atenta a autores de fic que se sentem no direito de se acharem superiores. Há muita gente boa neste mundo, mas cá pra nós... Elas foram terríveis! Tomem cuidado, as fics são boas, mas as mãos que as digitam não prestam. Não se iludam com a maior quantidade de e-mail que o exterior oferece.                       

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