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Meu Passado Ficará Em Seu Futuro § 2 – Abrindo a Porta Para o Mestre

Notas Iniciais:
 
Mais um Capítulo de presente pra Vane e aí vai! Espero que goste, viu? Todos comentem para meu mail anita_fiction@yahoo.com 

Olho Azul Apresenta:
Meu Passado Ficará
Em Seu Futuro

Capítulo 2 – Abrindo a Porta Para o Mestre

"Kokoro ni oyogu kingyo wa
Minikusa de tsutsumarenu you
Kono natsu dake no
Inochi to kimete 

Espero que o peixe dourado,
nadando em meu coração,
Não seja tragado pela feiúra
Sua vida só dura um verão"
-Ai Otsuka-
 
  Um casal estava sentado em escadas do estilo clássico enquanto o Sol se punha. A jovem, de cabelos vermelhos e alvo rosto estava pensativa e calada. O outro, em oposição, falava animadamente enquanto seus cabelos dourados brilhavam com os últimos raios. 
-E o Miro disse que vai ser muito legal! Já imaginou a cara do Saga, Marin? O coitado anda tão cabisbaixo desde que a paz voltou ao Santuário... A princesa Athena garantiu que viria e tenho certeza de que Seiya vem junto. Eu estava em dúvida se devíamos chamar o novo Mestre ou não... Ele é tão f chado, sei lá. bem, igual ao Saga, os dois devem ser ótimos amigos, não é? Marin, está me ouvindo?
-Hã...? Ah, sim, claro. Dizia que tinha vencido de Afrodite hoje num treinamento, não é? Foi muito inteligente de sua parte lançar o golpe na tal flor que brotava ali.
-Não, disse isso há dez minutos. No que pensava? Mas já que tocou no assunto, sim, sim! O Afrodite se desconcentra tão fácil, haha! Às vezes quando faço uma cara mais séria ele fica com uma cara de medo. Tão frágil, o pobrezinho... Marin!? O que há contigo?
-Nada... é que eu estava pensando...
-Em quê? Não está me dando a mínima atenção hoje.
-Sinto muito, Aioria; tem toda a razão. Pois diga sobre o que falava.
-Primeiro, conte-me seus pensamentos - o rapaz inclinou-se para olhá-la no rosto. Não que fosse possível; Marin resolvera continuar com a máscara. Dizia já estar acostumada...
-Pois eu estava treinando um aluno meu em particular num lugar perto da fronteira.
-Sei...
-E vi uns guardas conversando.
-Qual o problema? Também têm direito a uma folguinha, né?
-O tema...
-Pára de enrolar! O que era...?
-Calma, Aioria; nem sei se ouvi direito. Você é muito afobado.
-Perdão... Continue.
-Bem, falavam de uma aldeia próxima. Parece que dois soldados foram feridos durante uma batida... -Marin falara a última palavra bem vagarosamente e ficou quieta.
-Feridos como?
-Não me importa. O que me intriga é o termo "batida". Meu discípulo, que convive com alguns desses soldados, disse não saber. O jeito dele... Pareceu que não queria era me contar.
-Vaio ver estavam bebendo uma batidinha no meio do serviço e sei lá, né? Se aluno não quis dedurá-los...
-Não sei do meu aluno e não me importa. O caso é que não sei o que é "batida" e não creio que seja um drinque. Isso foi há uma semana...
-E ainda te chateia?
-Calma!
-Você é que vai rápido demais...-a jovem falou de forma autoritária. Mesmo sendo mais jovem que o Cavaleiro, tinha um jeito nato de líder.
-Fala -Aioria disse, subordinado.
-Noutro dia, treinando duas futuras amazonas, ouvi mais guardas comentando da vila de fronteira. Falaram novamente em "batida" -Marin novamente enfatizou a palavra -Acrescentando que quem os ferira foi um Cavaleiro de Prata.
-Sério!? Mas por que fariam isso? Vou agora perguntar ao Moses! Aquele cara sabe de tudo...
-Foi exatamente o que fiz no dia seguinte, digo, ontem. Afirmou-me que nenhuma deles fazia nada naquela vila. Era muito longe e calma. Treinamentos ali perto ecoavam tanto que não valiam a pena. Sempre iria uma multidão assisti-lo e as chances de machucarem alguém...
-Então foi isso o que houve!
-Aioria! Deixa-me terminar...
-Desculpa.
-Sugeri isto mesmo. Moses ficou indignado e garantiu que se aquilo houvesse acontecido, deveria ter sido comunicado ao Mestre. Acrescentou rispidamente que confiava em seus amigos o bastante para saber que não o fariam. E completou dizendo que os soldados também os reconheceriam.
-Bons argumentos.
-É. Cheguei à minha cabana e não consegui dormir. Corri até um telefone próximo e liguei para Seiya. Quem sabe me sugerisse algo...
-E?
-Ele disse que os policiais usam esse termo quando vão pegar alguém em flagrante, desmontar um local de tráfico de drogas... Coisas assim. Mas não conseguia imaginar o que aquilo tinha a ver com os soldados daqui. Se fosse algo assim, haveria algum relatório.
-Tinha?
-Não. Mas encontrei Miro por lá.
-E daí!?
-Bem... Quem sabe ele conhecesse? E explicou sim! Parece que caminhava com Saga quando ouviram uns soldados falando disso. Saga ficou desconfiado e perguntou. Disseram ser algo como pegar os que cometiam crimes pela primeira vez. Chamavam isso de virgens... Aí ficavam de olho neles.
-Que inteligente!
 
  Marin balançou a cabeça.
 
-Isso me soa muito estranho, na verdade. Quando o falei, Miro disse que eu era tão desconfiada quanto Saga.
-E eu concordo. Você é mais uma que acha que os soldados são pequenos delinqüentes ou que não prestam pra nada, né?
-Não sou, mas é estranho. Fico tranqüila já que Saga tá de olho neles... Mas a pulga atrás da minha orelha está no "Cavaleiro de Prata" que os feriu.
-Será um invasor? Por ser na fronteira, aquela é uma zona propícia, né?
-Não sei. Vou tentar pesquisar mais.
-Ainda acho que está se estressando com pouca coisa. Relaxa, mina! Agora, como eu dizia, estamos fazendo uma festa surpresa pro Saga e você está convidada!
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
  O cheiro de algo bom sendo preparado tinha longo alcance. Aioros estava do lado de fora ajudando um garoto da vila a concertar sua bicicleta quando o sentiu penetrando suas narinas. Não precisava pensar muito para descobrir quem era a cozinheira. Apesar de ser fim-de-semana e, por isso, a mãe de Ena estar ali - ela era a cozinheira nestas ocasiões - o aroma era, inconfundivelmente, da comida da jovem heroína.
 
  Terminou de ajustar e levantou-se, batendo de leve no ombro do garoto, para que testasse o brinquedo. O rapazinho subiu e começou a pedalar.
 
-Tá bonzinho, tio! Muito obrigado... Minha mãe manda também agradecer por ter consertado  as estantes que tinham quebrado quando os homens ruins vieram -ele disse, sorrindo.
 
  Aioros retribuiu o gesto acenando. Não via a hora de entrar e saborear o almoço de Ena. Havia sido a mãe do menino que doara os coelhos que eram preparados, como retribuição. De certa forma, Aioros não se sentia mais um estorvo.
 
  Por não ter o que fazer, ajudava as senhoras a carregar as coisas e os homens com as obras. Sempre que podia tomava conta das crianças... Era seu passatempo predileto, já que aquilo o fazia se lembrar de Aioria.
 
"Estará muito triste comigo? É tão jovem para imaginar que talvez eu não seja o errado na história..." pensou abrindo a porta e indo direto até a cozinha.
 
  Os longos cachos marrons da moça remexiam-se enquanto ela fazia os últimos preparos para o almoço.
 
-Sua mãe está bem?-Aioros perguntou, ajudando a pôr os quatro pratos na pequena mesa.
-Não muito... Pegou um resfriado, acho -disse, pondo o par de coelhos no meio dos pratos.
-Fico feliz, pois assim posso comer mais de sua comida.
-Ora! Se foi ela quem me ensinou a fazê-la... Suponho que faça bem melhor que eu!
-Mas sempre tem um quê de especial quando é você quem prepara.
-Está insano. -E riu-se, saindo para chamar as outras duas moças.
 
  O rapaz esperou de pé até que a última se sentasse, como havia, ainda garoto, aprendido a fazer. Enquanto isso olhava pela janela para o morro que separava a vila do Santuário.
 
-Ele é muito perto?-perguntou a Ena que fora a última a sentar-se.
-Não sei ao certo. Mas acho que dá para ir a pé. Sei que subindo esse morrão aí, a gente pode ver os doze templos dos defensores dourados.
-Então dá pra andar até lá.
-O que quer lá?-a irmã de Ena perguntou.
-Foi só curiosidade. -Então se sentou.
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
  Faltavam duas horas para o redondo astro de fogo beijar a mãe terra. Aioros estava sentado à porta da humilde casa ainda observando o morro que o separava da realidade. Não podia ficar naquela vila para sempre... Tinha de desmascarar o traidor e salvar a pobre princesa. Jurara defendê-la a custo de não só sua vida, como também de sua alma.
 
  Algo quente e suave pousara sobre seus ombros tensos.
 
-Por que olha tanto para lá? Acha que veio do Santuário?-Ena perguntou, sentando-se ao seu lado.
 
  Naquele momento de decisão, Aioros sabia que não queria a companhia da moça. Era uma tentação continuar com aquela vida tranqüila...
 
-Já disse...-respondeu, evitando encará-la -Estou curioso com essa história de deuses morando lá. E esses soldados...
-Eles voltarão.
-Como tem certeza?
-Sempre voltam. Há sempre virgens.
-Eu não me perdoaria se não houvesse chegado a tempo naquele dia.
-Você não chegou...
-Quê?-virou buscando seus olhos, mas a menina havia abaixado a cabeça envergonhada.
-Antes... Eles já haviam vindo.
-E...?
-Sim.
 
  E chorara muito. Aioros a abraçá-la com todas as suas forças, mas aquilo era algo que todo seu treinamento não o ensinara a fazer. Então usava também todo seu coração.
 
-Está segura comigo...
-Por quanto tempo se sempre olha o horizonte?-ela perguntou, deitando a cabeça em seu peito.
-Não sei -o jovem sinceramente respondeu.
 
  Um grito interrompera sua conversa. Depois, vários gritos de mulheres.
 
-São eles!-Ena respondeu levantando assustada. Estava estática, impotente.
 
  Um grupo de quinze soldados no mínimo vinha correndo.
 
-Vamos entrar... parecem virem para cá -ela falou, olhando para a porta.
-Sim, entre. Mas eu fico.
-Mas! São muitos...
-Conheço esse olhar. Eles querem vingança. Ou me matam ou te levam. Não deixarei nenhum dos dois; juro. E há algo que tenho de falar com eles.
 
  Viu a jovem entrar hesitante.
 
  Aqueles guardas poderiam ser sua porta para a Sala do Mestre. Considerou deixar-se capturar e então fugir do castigo –tortura, na certa. Mas logo viu que entrando no Santuário daquela forma seria se entregar ao destino que Saga lhe estava traçando.
 
  Estava sentado vendo o bando se aproximar, cada vez mais lento e ansioso. O que fazer?
 
  Se desse bobeira, seria identificado. Todos, àquele ponto, tinham conhecimento da traição. Não poderia confiar em Shura. Devotava tão cegamente ao Mestre quanto à Athena. Shaka dava no mesmo. Mestre Ancião? Mas este já lhe contara de seus planos de deixar o Santuário. Poderia já tê-lo feito. Camus não ligava o bastante para o que ocorria a ponto de tomar uma posição tão no prelúdio da luta. Pensaria naquilo mais tarde; típico de Aquário.
 
  Apertou seus olhos. Não fazia nem um mês que sua vida era plena! Possuía a armadura sagrada há quase oito anos, não era todo garoto de dez anos que recebia aquela honra! Aliás, nenhum realmente a entendia.
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
  Treinara com os amigos desde que seus pais ainda eram vivos. Era uma turma bem grande de muitos jovens e crianças. E, exatamente por serem tão jovens, treinavam todos no Santuário. Só o tempo diria para onde seriam levados para treinarem de verdade.
 
  Mesmo assim, muitos encaravam aquilo como um parque de diversões. Ao ar livre, também aprendiam grego, história, filosofia... Mas, principalmente, a obedecerem a seus superiores e à Athena.
 
  Com o tempo, um grupo em especial se destacou. Eram os mais inteligentes, os de maior capacidade e os que criavam mais problemas. Aioros, Saga, Shura e Camus. Os dois primeiros eram amigos desde que se entendiam por gente, mas logo acolheram a lealdade de Shura e a inteligência de Camus no meio da amizade. Não que eles o tivessem pedido ou coisa assim, mas seus dons se encaixavam com os planos da dupla.
 
-Muito bem...-o professor de filosofia andava debaixo do Sol forte, olhando para os vinte alunos -repito minha pergunta: quem foi que fez a prova? Pois é impossível que todos vocês, mais a outra turma, fizessem toda a prova com as mesmas palavras e respostas certas.
 
  Aioros olhou para os amigos numa última advertência. Qualquer dos três que falasse se veria com ele. Aquele professor amava debochar do jovem por estar sempre falando em ser um cavaleiro de ouro. Era o sonho dele! Então, Aioros estava sempre aprontando para ele. E o pobre professor nunca descobria, afinal, ninguém da turma sabia e, os que desconfiavam, não ousavam arriscar se tornar mais um alvo dele.
 
-É impossível que ninguém saiba quem derramou tinta em meu Platão, ou quem passou as provas pra vocês! Afinal, é lógico que alguém o fez. Há sempre uma testemunha.
 
  Olhou para Shaka, que, com seus olhos bem fechados, nem parecia perceber que ali havia uma aula. Mesmo assim, já mostrara resultados tão surpreendentes que seu caminho para a Índia já estava traçado no mapa. Não seria ele... Olhou para o mais rebeldezinho, Máscara da Morte. Se tivesse um pingo de inteligência, até o faria. Mas uma caixa com uma cabeça de lebre era mais típico seu que uma prova igual para todos os alunos.
 
  Shura? Não... Muito cheio de princípios. Aioros? Ora! Para que o pobre diabo o faria...? Isso poderia tirar-lhe a armadura de suas mãos, pensaria. Coitado, realmente achava que receberia aquilo e os pais não passavam de míseros soldados que serviam ao Mestre Shion.
 
  Sacudiu a cabeça.
 
-Professor, estou interrompendo?-um ancião que devia ser um terço de sua estatura aproximou-se do grupo.
 
  Todos os vinte jovens se levantaram e os mais jovens foram abraçá-lo.
 
-Mestre Ancião! É tão bom vê-lo...-Shura disse, agachando-se frente ao senhor respeitosamente.
-Vejo que estavam levando outra bronca... O que aconteceu?-perguntou, observando que Máscara da morte continuava de pé encostado a uma rocha e Shaka a meditar. Riu-se das duas figuras.
-Acho que alguém trocou nossas provas por cópias iguais das respostas certas -Aioros falou, abraçando o professor favorito. Aquele que os ensinava o básico para serem Cavaleiros.
-Ora! Que coisa... -Dohko riu-se olhando para aquele, em especial -Tem idéia de quem possa ter sido?
-Não. Acho que poucos sabem de filosofia o suficiente. Eu não fui! Não gostaria de ficar mal com um professor, né? Quando eu for um Cavaleiro de Ouro todos falarão bem de mim!
-Ha ha! Com certeza nos lembraremos deste pequeno garoto de oito anos apenas quando usar aquela roupa de tão grande brilho.
-Sim! Com poderes para rasgar o céu...!-gritou fingindo portar um arco mirado para o céu.
-E protegeremos Athena com nossas vidas!-Shura completou, abraçando o amigo arqueiro -O senhor não acha que essa história com as provas nos desonraria perante a princesa Athena, não é, Mestre?
-Oh, não! Ela deve estar rindo muito disto. Agora, professor, posso levá-los?
-Fique a vontade -o outro respondeu dando de ombros. Ele parecia ser o único que não se ria. A exceção de Shaka que nem parecia prestar atenção onde estava. Aquele sim, seria o maior dos Cavaleiros. Tão forte que, talvez, o comparassem à Deusa Athena.
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
-Foi você quem espancou nossos companheiros!?-uma voz bem máscula acordou Aioros de suas lembranças.
-Sim, fui eu que salvei a moça inocente. -Continuou sentado. Havia se decidido.
-Então, quem é? Ouvi que era um Cavaleiro de Prata.
-Não o sou -respondeu sinceramente.
-Trouxe uns amigos para vermos quem você é, já que não nos diz!
-Sou um fiel servo de Athena e totalmente contra seu Mestre. Satisfeitos? É a única resposta que receberão. Agora vão.
 
  Todos o olharam. Eram tantos ao seu redor, que parecia ter ficado noite. Mas o cavaleiro permaneceu imóvel.
 
-É um maluco -outro soldado cochichou com outro -Pra que perdermos tempo aqui.
-Ele me machucou! -um que Aioros identificava clamou -Quero vingança!
 
  E começaram a dar-lhe chutes e atingi-lo com lanças.
 
  Quando a poeira baixou, notaram que só o que haviam atingindo era um saco de areia que esvaziava sobre a árida terra da vila.
 
-Onde está!?-o maior perguntou.
-Bem aqui!-Aioros respondeu de trás do grupo, iniciando uma seqüência de golpes comuns. Se já o chamavam de Cavaleiro de Prata não poderia nunca arriscar usar seu cosmo. Não era só o perigo de Saga senti-lo e de descobri-lo vivo.
 
  Eles tentaram revidar, mas logo desistiram. Aquele era um oponente muito mais alto do que eles. Sua postura na luta, sua calma, a forma como calculava cada golpe...
 
-Quem é você!?- o líder novamente perguntava.
-Alguém que quer ver o Cavaleiro Saga imediatamente. Diga isso a ele. Se não vier, revelarei seu grande segredo. Aquele traidor...
-Mas... O Senhor Saga...? Não posso falar com ele! Não tem como.
-Não? Então eu mesmo irei até lá e contarei a ele sobre seu segredinho também, soldado.
 
  Algo no brilho do olhar do estranho pareceu lembrar ao guarda de outro cavaleiro. Tinha a incisão de Saga, como se tivessem aprendido as mesmas técnicas juntos. Era assustador.
 
-Eu realmente não tenho como...-continuou.
-Então mande o recado para o Mestre... Sei que ele poderá avisar a Saga imediatamente. Lembre-se, não é só sua patente que está em jogo, Capitão -e deu-lhe um chute nas costelas com tal técnica que nem as quebrou, só o "ajudou" a alcançar o Santuário mais depressa.
 
  Todos já se haviam ido. Aioros suspirou. Não poderia ir até lá, seria arriscado demais. Mas trazendo Saga até ali, poderia desmascarar o farsante traidor na frente de todos!
 
  Torcia para que o "capitão" não demorasse muito; seu sangue fervia.
 
-Por Athena!-algo que lhe fazia ferver ainda mais o abraçou -Achei que era seu fim... Está doido!? Falando assim do grande Mestre e do Senhor Saga! É suicídio.
-Ena... Eu sinto muito, mas preciso ver Saga!
-Não é explicação!
 
  O rapaz abaixou a cabeça e sentou-se novamente. Ena recusava-se a desapertar seu abraço.
 
-Está me escondendo muita coisa desde que acordou. Inclusive seu nome... Sinto que você não perdeu memória alguma, apesar de também não ter mais um pingo de sanidade.
-Ena! Faço isso pra te proteger.
-Por favor! Não preciso de proteção se já perdi o que me era mais sagrado.
-Não é apenas honra que está em jogo aqui... Sua vida, a de sua família. Quem sabe a da vila toda!
 
  Ela soltou-se dele e foi se encostar ao outro extremo da porta da casa.
 
-O que é?-perguntou com voz serena, tentando se recompor.
-Eu descobri algo... Isso ameaça inclusive a própria Athena. Por causa disso, perdi meu trabalho, meu irmão, meus amigos... Um até tentou me matar! Outro me traiu... Como gostaria de voltar a ser criança. Se não fosse por você, teria perdido a vida. Não quero te perder, Ena...
 
  Pulou para abraçá-la, mas ao invés disso, a menina mexeu-se de tal forma que seus lábios se roçaram. O rapaz deu um pulo para trás de volta, ofegante.
 
-Fez isso de propósito!
 
  A menina riu-se.
 
-O que foi?-Aioros perguntou, com medo de tocar os lábios com os dedos e esquecer-se daquele toque tão terno.
-Um bando de soldados armados e musculosos não te deixou tão assustado quanto esse beijo. Acho que você tem é medo de mim... Serei alguma arma poderosa?
 
  O jovem a olhou gravemente e depois se juntou à gargalhada.
 
-Dediquei tanto minha vida aos treinos e a criar meu irmão que nunca soube que um sentimento assim poderia existir -disse, encabulado.
-Nem eu...-a jovem aproximou-se de novo dele, encostando a cabeça em seu ombro.
-Posso senti-lo de novo?
 
  Ela assentiu, sem muita coragem de levantar a cabeça. Aioros pousou sua mão delicadamente sob seu queixo e ergueu-o. Ela era linda! E como seus verdes olhos brilhavam com o pudor. Dar o próximo passo seria metê-la naquela confusão toda e nunca mais ver aquele par de esmeraldas tão vivo.
 
  Mas um impulso forte dentro de si não o consentiu pensar mais e a beijou com toda a paixão que jamais soubera ter. Era como estar no paraíso antes de morrer. Tão bom... Seria proibido?
 
  Aquilo era amor?
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
-E o louco começou a insistir que mandasse esse recado ao Senhor Saga... E agora?-o "capitão" dizia a seu superior.
 
  Estava estranhamente pálido. Se algum dia alguém descobrisse sobre as batidas e que ele participava de boa parte delas nunca mais poria os pés no Santuário. Ao saber que Saga já estava de olho, apavorou-se ainda mais. Aquele sempre fora um cavaleiro impiedoso.
 
-Não temos como dizer algo assim a Gêmeos. Nós seríamos os malucos!-seu superior respondeu, olhando para o Sol que se punha.
 
  Primeiro o interrogatório da amazona de Águia sobre o tal Cavaleiro de Prata na vila de fronteira agora a ameaça do talzinho de contar tudo.
 
-As batidas devem parar. Se não houver provas, ele não passará de um demente. Será desacreditado na certa.
-Mas, senhor... Sempre haverá testemunhas.
-Silencie-as.
-O senhor realmente precisava ouvir como ele falou... Era como se conhecesse tudo aqui dentro. E se houver novamente algum problema? Não acho certo ignorarmos.
-Soldado, se ele falar, dirá tudo. Não queremos isso, não é?
-De jeito nenhum, senhor.
-Que bom que concorda.
 
  Ambos haviam batalhado o bastante para chegarem a tais postos. Nunca um estranho lhes tiraria dali. Nunca.
 
Continuará...
 
Anita, 10/09/2004

Notas da Autora:
 
Olá!!! Como sempre, a fic é dedicada à minha amiga Vane que amanhã aniversaria. Não estará completa até lá, mas um dia termina!
 
E agora? Sem o recado ser dado, Aioros terá que ir até o Santuário sobre risco de ser torturado? Ou será tido como doido? Como contará que na verdade é o salvador de Athena?
 
Vamos ver os próximos capítulos, né? E para apressá-los, é só e mandarem um e-mail para anita_fiction@yahoo.com e visitarem meu site para outros: http://olhoazul.50webs.com/

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