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Em Breve


Notas Iniciais:

Saint Seiya não é meu, não lucro nada com isto. Esta fic é baseada na música "Henshin" (Resposta) da Mariya Takeuchi e se passa um ano após a série. Eu estou seguindo a linha do anime até Poseidon e o resto das mudanças ocorrerá ao longo da fic.

Série: Saint Seiya
Gênero: Romance/Drama
Título: Em Breve

A jovem ajeitou seu casaco para mais perto de seu corpo. Um vento frio soprava forte à sua direita, fazendo seus cabelos negros grudarem contra as bochechas vermelhas pela temperatura. Liliya apertou um lábio contra o outro, tentando não tremer; aquela parecia ser a noite mais fria do ano, seria difícil dormir.
Pôs a mão sem luva na neve e começou a fazer desenhos aleatórios. Era um hábito que cultivara por anos; podia ficar por tempos desenhando figuras infinitas sem nem perceber o que fazia. Muitas se repetiam, como sol, lua, estrelas, corações, crianças... Havia vezes em que escrevia palavras também, como em um diário. Por mais confortável que pudesse parecer fazê-lo no verão; quando a neve virava terra, preferia aquela tela branca à sua frente, como se a convidasse.

Ajeitou as mechas úmidas coladas à sua face e contemplou o que fizera. Como uma foto de seus pensamentos, desenhara um esboço de sorriso, um com que não se deparava havia quase dois anos.

-Liliya! Vamos, filha, já é hora de jantarmos!-seu pai a chamava de algum lugar que parecia distante. Olhou para sua casa e lá estava sua figura, de pé em frente à porta de entrada, acenando para ela. -Anda!
-Já estou indo...-falou, sem conseguir gritar, o vento frio parecia haver congelado sua garganta.

Após a refeição, com a casa toda dormindo, a moça sentou-se ao lado da fogueira que se extinguia. O brilho já não mais fazia seus olhos laranjas, mas seu azul parecia ser transportado para as cinzas da lenha.

Uma voz de muito tempo antes se traduzia no crepitar quase inaudível: "Parecem que vão me congelar..." Liliya se assustou. Olhou para a casa, mas nada viu.

"Esperava encontrar quem!? Um fantasminha dizendo oi? Ou que alguém batesse na porta?" Fez careta para a própria insanidade e levantou-se. Dobrou a coberta que a acompanhava e olhou pela última vez para o fogo que se esvaía. Um sentimento de impotência tomou todo seu corpo quando comparou aquilo a algo muito distante e que já deveria ter sido esquecido.

Era hora de dormir.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Uma garotinha corria pela grama do verão. Podia sentir o vento na pele, sem que ele a cortasse com o frio. Aquela era a estação favorita dela, quando podia ver o mundo todo em verde.

-Ei, vai salvar quem da forca?-uma voz interrompera sua diversão.
-Vai embora!
-Tenho tanto direito de ficar aqui quanto você.
-Mesmo? Pois nunca te vi.

Liliya enfim olhou na direção de um garoto, que parecia ser mais baixo que ela. Seus cabelos verdes e desgrenhados eram uma visão bastante rara e selvagem. A menina se aproximou com os olhos brilhando como se houvesse visto algum brinquedo novo.

-Uau! Você parece um gatinho...-disse, estendendo a mão para tocar seu cabelo.
-Sai daqui, coisa! Garota maluca! Você é alguma bruxa?
-Mas você parece um gatinho abandonado. Mora por aqui?
-Sim, há um ano!
-Sério? Sozinho?
-Até onde quer ir com essa conversa?
-Só estou curiosa. Quero dizer, você é um alvo facilmente avistável no inverno.
-Onde aprendeu palavras assim? É desencarnada então? Seus olhos ficam me observando... Parecem que vão me congelar ou até me engolir!
-Ai, você que é estranho. Como assim mora num lugar onde ninguém te conhece?
-É que ando ocupado. Agora que o cara lá decidiu me dar folga. Sabe, chegou carne nova no pedaço, aí ele tá dando as coordenadas.
-Você é muito estranho.
-Pára com isso...
-Quer brincar?
-Ei, vamos fazer a ordem certa das coisas? Eu sou Isaac. Você é...?
-Liliya. Que tal pique-pega?
-Hmm...-Deu-lhe um tapa nas costas. -Então tá com você! -E saiu correndo, fazendo caretas.

Acordou quando foi tentar correr atrás do garoto. O calor do verão se tinha ido e a noite de inverno voltara a pô-la na penumbra. Liliya olhou para o relógio e percebeu que dormira por apenas quatro horas, ainda eram duas da manhã.

Levantou-se e tomou leite quente. Não estava com sono, ou cansada. Desde que soubera da morte de Isaac, seu corpo parecia constantemente anestesiado.

Em um impulso, vestiu-se e saiu de casa, com cuidado para não fazer barulho. Caminhou até o lugar onde ele havia mergulhado. Estava coberto por alguma camada de gelo. Da bolsa tirou ferramentas, que levava sempre consigo. Gostava de passar tempo pescando, assim como Isaac a ensinara. Infelizmente, nenhum deles nunca pegou nada.

"Como vou pescar alguma coisa aqui!? Só tem gelo," disse ao rapaz, que conhecera três anos antes e desde então escapavam de suas atividades para se divertirem.
"A intenção nem é essa, sua boba! O legal é o que fazer para ver o mar" Mostrou um martelo, que tirara da mochila e uma espécie de facão.

Liliya fez assim como Isaac a ensinara há quatro anos. Cravou o facão o mais fundo que pôde e começou a martelá-lo com cuidado.

"Vai mais rápido!" havia dito, ao observar todo o cuidado com que o amigo trabalhava, "Quero ver logo a água."
"Calma, menina, esqueceu que tá tudo debaixo da gente? Se eu me descuidar caímos os dois lá embaixo."
"Que chato..." Cruzou os braços, fechando a cara.

Estava muito frio, mas a jovem continuou com as instruções ecoando em sua mente. Fez um círculo maior que pôde de forma a garantir sua própria segurança. Ao terminar, pegou um instrumento feito pelo próprio Isaac e tirou a capa de gelo que acabara de soltar. Na primeira vez em que fizera aquilo sozinha, havia demorado quase uma hora, mas já estava acostumada e em cinco minutos podia ver o mar, que estava o tempo todo escondido.

A lanterna fez com que seu rosto se refletisse nas águas escuras. Estava chorando, enquanto a água de suas lembranças refletia o sorriso que tanto amava, mesmo depois de tanto tempo. A mão quente de Isaac pegara na dela e a elevara para o alto, num sinal de vitória quando terminaram seu laguinho particular.

Liliya sentou-se abraçando as pernas. As lágrimas eram o único calor que sua pele sentia no momento. Seu rosto parecia ter envelhecido bem mais nos últimos dois anos, mas a juventude de ambos havia caído no mar naquele dia e lá permanecia imutável, dormindo para sempre.

Uma hora depois, continuava com a vara estendida, sentindo a força da correnteza arrastar a corda. Era uma movimento que fugia ao do vento, como que um novo mundo com outras regras. Esticou o pescoço para olhar aquela coisa negra no meio da neve que àquela hora era de um azul... Da cor que o mar deveria ser. Àquela hora tudo parecia tão diferente e o chão negro a chamava.

Depois da morte de Isaac, o mar tinha lhe sido o grande amigo e rival, aquele canto que sempre ouvia nessas horas também tinha esse duplo aspecto... Sabia que ir atendê-lo seria sua morte, fosse por frio, fosse por afogamento. No entanto, a vida num vilarejo como aquele após conhecer aquele garoto estrangeiro já lhe parecia tão morta...

Muitos amigos sugeriram que saísse dali, fosse ver o mundo, mesmo seus pais tocaram no assunto em duas ou três vezes. Todos queriam que ela o esquecesse, mas Liliya tinha uma meta a cumprir. Era sonho dos dois simplesmente ficar ali, mesmo depois que Isaac se tornasse cavaleiro, ele dissera que continuaria na Sibéria, deixando aquele "cemitério" um pouco mais vivo. Se assim fosse, mesmo sem ele ela o viveria, contudo, não poderia ser daquela forma, sendo apenas mais um túmulo.

Suspirou. Quanta besteira. A verdade era que não sabia mais o que fazer senão voltar à sua vidinha. Houve vezes em que se zangou por conhecer aqueles cabelos verdes, estava feliz com só ver os campos no verão, agora sempre sentia tanta falta daquelas cores alegres!

Puxou de volta a linha da vara e deixou o equipamento do lado de sua bolsa. De lá tirou uma folha de papel e a pôs no gelo mesmo. Pegou também a caneta e começou a fazer desenhos como os que fazia na neve. Seus cabelos selvagens, seus olhos afiados, seu sorriso arteiro...

Armou de novo a vara e pôs a carta no lugar da isca. Sabia que Isaac estava morto, mas seu corpo estava em algum lugar daquele mar para onde todos voltariam. Um dia ela também.

-Aqui vai, Isaac, minha resposta a esta ansiedade que está me fazendo passar há dois anos. Já é hora...-Pegou o facão e cortou-se. Logo sua mão direita estava com o bastante para seu fim. Olhou novamente o papel onde desenhara Isaac e escreveu o máximo que pôde com o sangue, a coisa mais próxima de representar seu coração que podia dar naquele momento.

Assoprou por um momento, esperando que secasse. Então, desceu de novo a vara o mais fundo que pôde; anexando à mensagem todo seu amor para que aquela mensagem tivesse fôlego o bastante para alcançar a alma de Isaac.

Liliya se levantou e segurou a mão que cortara. Era estranho como não sentia a dor do corte tamanha que era a do frio. Todavia, dessa vez, seu coração deveria ficar mais leve e poderia enfim dormir. No dia seguinte, já havia decidido, viveria a vida por eles dois.

-Do vstrechi, Isaac, -murmurou, olhando o lago que em pouco tempo já estaria fechado ou coberto pela próxima tempestade de neve. Não fazia mal, pensou ao recolocar a luva sobre a mão machucada, poderia sempre abrir outro de novo. Repetiu: -Do vstrechi.

Antes que a fina camada de gelo engrossasse, o papel voltou à superfície nas mãos de um ser que parecia indiferente à baixa temperatura. Sem sair da água estendeu a mão até as gotas do sangue recém precipitado na neve e o tocou: -Te vejo em breve, Liliya... - Sussurrou, voltando ao mar sem largar em momento algum daquela carta.

FIM!

Anita, 30/10/2006

Notas da Autora:

Ebaaaa!! Mais uma fic terminada e esta com muita ajuda da Nemui, arigatou!! O que a Liliya fala tá traduzido pela fala do Isaac. Bem, isso foi tão despropositado que não vou dizer mais nada XDD Até a próxima.

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