Autora: Anita
Fandom: Mahou Kishi Rayearth
Personagens/Casais: Lucy Shidou/Lantis
Gêneros: romance
Classificação: livre
Resumo: Lantis anda distraído a ponto de Clef se preocupar por sua integridade. Mesmo sabendo que precisa seguir em frente, Lantis segue arrependido; queria ter aproveitado melhor suas limitadas horas com Lucy. Então, algo mágico acontece...
Notas: História escrita para o Desafio Bingo, um desafio promovido pela comunidade OA Fanfics. Fic baseada na versão do anime.
— Lantis! O que houve com você? — Clef
perguntou atordoado logo que entrei no salão.
Segui a direção de
seus olhos — meu braço direito, a poucos centímetros de meu ombro — e a faixa
branca estava manchada com sangue. Custei a me lembrar de por que eu estava
assim.
— Estava treinando a espada com um dos
soldados.
— Mas você é o melhor espadachim de toda
a Zefir. — Clef caminhou até mim e esticou as mãos até perto do corte. — Nem
mesmo Rafaga deveria ser capaz de te machucar dessa forma.
Observei até mesmo o
vermelho sumir do tecido enquanto ele terminava a magia de cura.
— Eu me distraí — expliquei, retirando a faixa
agora sem utilidade. — Ademais, já disse o quanto me superestima. Rafaga seria
capaz de um dano muito pior se realmente o quiser.
— Distração tem sido o resumo dos seus dias
ultimamente. — Clef ignorou o que disse depois e sentou-se em sua cadeira.
Aproximei-me
cauteloso. Sabia que era por isso que havia sido chamado. Meu mestre não era a
pessoa mais perceptiva do mundo, em especial quando não queria perceber. Ainda
assim, era aquele que mais bem me conhecia. Custara tempo demais já para eu
levar um sermão.
— Não quer dividir comigo o que o preocupa
tanto?
Desviei meu olhar
para o chão. Falar sobre meus sentimentos não era a atividade que me deixava
mais confortável. Foram poucas as pessoas que me faziam até querer dizer o que
eu pensava. Por mais admiração que eu tivesse por meu mestre, ele não era uma
dessas.
Clef limpou a
garganta.
— Se é assim, pelo menos, pense um pouco sobre
o assunto e em como você pode melhorar, Lantis. Não posso ter meu melhor
espadachim sendo derrotado por um soldado sem nome. — Ele sorriu para indicar
que não era realmente uma questão de orgulho o problema.
Assenti e agradeci a
conversa, saindo antes que ele decidisse me pressionar por informação. Se eu
continuasse como estava, não demoraria para a preocupação de meu mestre falar
mais alto que seu respeito por minha privacidade — ou melhor, seu medo de eu
fugir de novo para longe, como quando meu irmão me contou acerca de seus planos
para a Princesa Esmeralda.
Em pensar que eu, de
fato, estava derrotado. Não por uma espada, não por vinte espadas, mas por um
par de olhos rubros.
Lucy...
Ainda os lembro como
se queimassem na minha memória, olhando de volta para mim com curiosidade,
segurando minha mão de um modo tão natural que demorei a notar que talvez
fizesse anos que alguém me havia tocado ali.
Aquele par de olhos
me dobrou a seus pés sem nem precisar de um combate. Uma luta contra sua dona
teria sido não uma vergonha, mas uma piada. Eu não consegui vencer nem mesmo
Nova, que com certeza não era Lucy, mas detinha tamanha semelhança que meu
corpo se recusava a agir contra ela.
Após a conversa com
Clef, percebi que não estava em condições de trabalhar. Em dia nenhum eu
realmente me sentia pronto a lidar com qualquer assunto importante, mas agora
minha cabeça estava ainda mais aérea. Quase literalmente em outro mundo,
buscando por ela febrilmente.
Antes de notar,
estava no jardim com a fonte onde um dia sentamos e conversamos. Era estranho
como havia me apaixonado sem ter passado tanto tempo com ela, mas naquele dia
em que nos encontramos nesta fonte, eu já tinha plena consciência de meus
sentimentos. Assim como dos dela.
"Lantis... eu
sinto muito... eu amo... você", havia me dito uma Lucy delirante. O dia na
fonte foi a primeira vez que a via desde então. Tempo o suficiente para sopesar
as consequências de nos envolvermos em plena guerra. Toda a minha instrução
como guerreiro dizia não haver momento pior. Ademais, era justamente a existência
dela e de suas amigas guerreiras mágicas que eu desejava expurgar de Zefir.
"...eu amo...
você", bastaram essas palavras para me balançar.
Mas ela não se
lembrava de nada. Para minha surpresa, depois de eu passar tanto tempo olhando
para o teto em busca de como responder à declaração, Lucy nem mesmo se lembrava
de havê-la feito.
Bem, era o melhor.
Não tínhamos tempo para romances! Com isso, guardei novamente tudo em meu
coração para, no segundo em que Zefir voltasse à paz, eu mesmo me declarar.
Teríamos tempo, não sei porque pensei em algo tão tolo.
Tão, tão tolo.
Tudo só piorou. E no
final, quando ela estava bem ali ao alcance meus braços para apertá-la com toda
minha força contra mim...
Eu
a
perdi.
Deve ser algo de
família ser tão exagerado. Não se comparava ao sofrimento de meu irmão e da
Princesa — e eu sabia por que sentira na pele uma fração desse desespero. Ainda
assim, era quase o mesmo na prática, porque Lucy não estava comigo.
No início, enquanto
reconstruíamos Zefir de acordo com as novas regras, não só era muito trabalho
para eu ver o tempo passar, mas também havia a esperança de as guerreiras
mágicas eventualmente nos visitarem de novo. Teoricamente, era possível, Clef
uma vez respondera a Ferio. Elas próprias se haviam transportado na segunda
vez. Por que não o fazer sempre que o quisessem muito?
E eu sabia que Lucy
queria muito, porque podia senti-la de vez em quando.
Não, em toda parte.
Ela estava em toda Zefir, em cada folha verde, em cada flor que desabrochava. O
planeta todo devia a ela sua existência.
Só que, de vez em
quando, era como se ela estivesse bem ali comigo. Uma sensação tão forte que eu
ficava desnorteado tentando reunir toda aquela presença em uma pessoa. Querendo
ir até onde estivesse o resto dela e trazê-la inteira para mim.
Mas como eu era
egoísta. Sempre critiquei tanto meu irmão, e me tornava igual a ele.
Lucy havia dito que
tinha três irmãos mais velhos que a amavam muito. E ainda um bicho de
estimação. Era uma vida inteira que dependia dela lá em seu mundo. A menos que
um dia as guerreiras mágicas desenvolvessem um método de irem e virem a
qualquer tempo, suas chegadas em Zefir poderiam sempre significar ficarem
presas indefinidamente.
Não era o que eu
queria. Na maior parte das vezes.
Era incrível como um
par de olhos podia fazer um estrago tão grande até mesmo no que eu considerava
certo e errado. Meu egoísmo bradava dentro de mim. Não importava mais como, eu
a queria. Eu precisava dela.
Eu a desejava.
Abri meus olhos com
um estalo em meus pensamentos.
Porque não importava
mais como.
E simplesmente com
essa percepção...
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
Eu estava no Mundo
Místico.
Eu nunca havia
estado aqui antes, ou mesmo ouvido muito sobre o lugar. Certamente, não o
bastante para comprovar aquela sensação. Mas eu sabia que era o Mundo Místico.
O mundo de Lucy.
Olhei ao meu redor,
internalizando todos os detalhes sobre minha localização. Aquela era uma rua. E
a tirar pelo cuidado com que o piso fora feito, algum veículo em alta
velocidade devia passar por ali com frequência. Pelo menos, minha experiência
viajando por todos aqueles mundos me serviria na adaptação.
Só que antes eu
precisava dela. Saindo do centro daquela rua, aproximei-me da construção onde
eu sabia que a encontraria. Podia sentir sua presença lá dentro, no meio de
tantas outras desconhecidas. Meu coração acelerou e eu prendi a respiração. O
portão do lugar se abriu e um grupo jovens saiu de lá, conversando
animadamente. Franzi a testa, sem qualquer ideia de por que tantos rapazes
estaria no mesmo lugar que Lucy. Aguardei atrás de uma pilastra cheia de fios
no topo, conectada a outras pilastras. Eletricidade? Foi a única explicação que
encontrei, recordando-me de fotografias antigas de Autozam.
O grupo terminou,
mas nenhum era Lucy. Ela continuava em algum lugar lá dentro do terreno. Decidi
que não podia esperar mais e avancei pelo portão, que um jovem de cabelo
acastanhado começava a fechar.
— Você não é dos nossos, é? — ele me perguntou
enquanto estava distraído descobrindo a melhor rota. — Veio conhecer o dojo?
Acabamos uma aula agorinha mesmo...
Ela estava perto,
decidi. Caminhei nos passos mais largos que pude até dentro de uma das
construções no terreno. Era um salão aberto com piso de madeira. Ao fundo,
havia uma faixa com letras que eu não conseguia ler. Mas também não importava,
meu objetivo estava logo abaixo, sentada sobre os próprios pés de costas para
mim, alheia à movimentação e ao rapaz que me seguia falando algo sobre a
história de como aquele tal dojo tinha sido construído.
— Masaru, por que não me disse que tínhamos
visita? — Um homem mais alto e provavelmente mais velho apareceu do interior do
lugar.
— Poxa, Kakeru, foi mal se minha telepatia
falhou.
Eu estava enfim ao
lado dela.
— Lucy — disse seu nome quase em um murmúrio
incrédulo.
Mesmo que usasse
roupas diferentes, mesmo que seu cabelo parecesse mais curto que antes, seu
rosto mais fino, talvez seu corpo mais alto, eu nunca hesitaria em dizer que
aquela era a Lucy que tanto esperei.
Quando ela não
reagiu à minha proximidade, indiferente até aos dois que não paravam de me
olhar e cochicha entre si, sentei-me a seu lado e pus minha mão sobre a dela o
mais gentilmente possível. Não queria assustá-la.
— Lucy? — eu a chamei com a voz ainda baixa,
controlando toda a ansiedade que me invadia. O que eu realmente queria era
abraçá-la, mas havia me contentado com meramente lhe ganhar a atenção. Apertei
sua mão, sacudindo-a um pouco. — Lucy?
Seus olhos abriram e
se focaram em mim, piscando uma, duas, dez vezes. Eu não me lembrava de como
era bonito aquele tom de vermelho.
— Ei, você! O que tá fazendo com a minha irmã?
— perguntou o primeiro rapaz no mesmo momento em que a puxei para meus braços.
— Lantis? — ela perguntou contra o tecido da
minha roupa e se afastou apenas o bastante para levantar o rosto até o meu. — É
você mesmo? Estou sonhando?
— Você conhece esse carinha, Lucy? — perguntou
de novo o mesmo rapaz, agora mais perto de nós dois.
— Deixe-os Masaru, é claro que Lucy o conhece
— disse o mais velho, afastando o outro.
— Mas, Satoru!
Não consegui ouvir
mais da conversa e tive a sensação distante de que eles haviam permitido que
ficássemos a sós. O que não era sequer necessário, pois minha atenção estava
inteira sobre Lucy, sobre seu peso contra mim, sua pele roçando a minha, nossos
lábios se tocando para nosso primeiro beijo antes que um de nós dissesse
qualquer palavra a mais.
— Sinto muito por demorar tanto — eu disse
quando nos separamos, enquanto acariciava seus cabelos vermelhos, penteando-os
com meus dedos.
— Mas o que está fazendo aqui? — Sua expressão
pareceu perder o torpor de antes. — E se você nunca mais puder voltar pra casa?
Balancei minha cabeça.
— Minha casa agora — Apontei para o pequeno
espaço entre nós dois — é bem aqui.
— Mas... — Ela pausou e olhou de novo para o
espaço. Então, ergueu seus olhos para mim e abriu um sorriso. — Eu não acredito
que isto realmente está acontecendo. — E me abraçou o pescoço com força. — Preciso
te apresentar aos meus irmãos! Eles vão ficar maluquinhos quanto te virem, mas
juro que são ótimas pessoas. Tenho certeza de que haverá bastante coisa que
você possa fazer aqui no dojo também, então não vai se preocupar com casa e
comida.
Levantei-me quando
ela me puxou pela mão pelo mesmo caminho por que eu viera.
— Lucy, não quis dizer que literalmente irei
morar na sua casa. Encontrarei algo e—
— Já está tudo certo, Lantis! Não se preocupe,
meus irmãos só assustam. Mas não é nada tão ruim assim!
— Eu...
Ela não me deu
ouvidos, ainda me arrastando agora pelo jardim do terreno até a segunda
construção. Não era a situação ideal eu depender da solidariedade de sua
família, mas não importava. Desde que fosse isso que ela queria, desde que
pudéssemos enfim ficar juntos. Fazia já muito tempo que eu havia sido derrotado
pelos seus olhos.
Fim!
Anita, 08/11/2016
Notas da Autora:
Esta fic foi inscrita em um desafio seguindo uma combinação dos seguintes prompts:
prompt “Há mais perigo em teus olhos do que em vinte espadas!” (William Shakespeare) e prompt “A verdadeira afeição na longa ausência se prova.” (Luís de Camões)
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