|

[Phoenix Wright] Festa à Fantasia, escrita por Anita

Título: Festa à Fantasia
Autora: Anita
Fandom: Phoenix Wright
Personagens/Casais: Miles Edgeworth / Phoenix Wright
Gêneros: yaoi, romance, humor.
Classificação: 14 anos
Resumo: Miles não tem dormido devido a pesadelos com olhos azuis. Querendo animá-lo, Phoenix o chama para uma festa à fantasia e acaba usando lentes daquela exata cor. E isso nem era o pior de sua escolha de roupa.
Notas: História escrita para a Semana Olho Azul, um evento organizado pela comunidade OA Fanfics.


Disclaimer: Phoenix Wright não me pertence, não lucro nadinha com esta história e personagens.

Festa à Fantasia


  Olho azul... olho azul...

  Miles soltou o ar, fazendo mais barulho que qualquer outro objeto em seu gabinete havia feito nas últimas horas, e voltou a encarar os papéis sobre seu colo. Custou para seus olhos focarem novamente na letra impressa. E uma mancha de café mal limpa na ponta roubou-lhe a atenção logo em seguida. Ele se forçou a olhar de novo para o depoimento que precisava relatar.

  Olho azul, pensava sua mente. Olho azul pegando fogo, olho azul brilhando de curiosidade, olho azul vermelho de tristeza...

  Depoimento! Precisava terminar logo. Descrever cada ponto que lhe seria útil naquela denúncia, ou o juiz poderia recusá-la. Eles nunca recusavam, mas seu grau de concentração após aquela noite mal dormida poderia criar um precedente escandaloso para seu currículo.

  Ouviu a porta do gabinete abrir e bater. Apressou os dedos sobre o teclado, sem conferir como ficava o digitado na tela. Precisava terminar logo com aquele depoimento, ou teria que ler tudo de novo para recuperar aquele raciocínio dali a dois dias e quem tinha tempo? Havia ainda dois discos inteiros com escutas para relatar. Por que justo numa sexta-feira ele tinha que estar tão lento?

— É assim que vai pra festa à fantasia que sua gente tá dando, Edgeworth? — ouviu o recém-chegado perguntar.

  Ah sim, era por isso que ele precisava correr. Normalmente, não importava quantas horas ficava após a hora de trabalho, mas hoje havia a maldita festa a que o maldito Phoenix Wright decidira que ele tinha que ir. Bem, ele tinha que ir, ou seu chefe viria buscá-lo pessoalmente... só era difícil entender qual era a de Wright naquela história.

— Já tô acabando — respondeu com o dedo sobre o ponto onde ainda lia. — Preciso só fechar isto aqui.
— Que bom que previ que não teria arrumado a roupa.

  Miles ouviu um barulho sobre sua mesa e seus olhos deixaram o papel pela primeira vez desde aquela chegada. Um saco plástico transparente protegia alguma roupa preta.

— Sua fantasia — explicou Wright com um tom excitado.

  Mas Miles não se lembrava mais do que Wright estava falando. Seus olhos só haviam se erguido como reflexo à origem das palavras e pararam ali.

  Azul!

  Olhos azuis! Dois olhos azuis o encaravam de volta, como se saídos de seus pesadelos.

  Miles conteve um grito e apenas protegeu o corpo com um braço, quase deixando cair a pasta de papelada sobre seu colo.

— Mas o quê— Sua garganta ficou seca e sua mente virou um branco para continuar aquela pergunta.

  Wright vestia saia. E meia-calça — ao menos, era daquela bem grossa, que talvez até pudesse ser usado como calça, não deixando à mostra as pernas peludas de quem a usava. E peruca! E maquiagem! A cada parte que Miles olhava, uma nova interjeição.

— Adivinha quem eu sou! — Wright propôs com um sorriso e levantou o braço.

  Um som o seguiu. Não do chicote que Wright desastradamente não conseguira bater contra a mesa. Mas de coisas caindo, de uma luminária caindo, de vidro caindo. E espatifando.

— Oh não... — Wright agachou-se para recolher os pedaços do que havia sido a lâmpada da luminária de Miles.

  Saia... Saia subindo... Miles sentiu um pingo de suor em sua nuca ante a impotência de evitar a iminente visão traumática.

— Deixa assim! — gritou decidido, depositando o arquivo do processo sobre sua mesa. — Vou pedir para limparem depois — completou com dificuldade.

  E suspirou aliviado quando Phoenix levantou um pouco a cabeça, em vez de continuar a esticar o corpo sobre o chão e, consequentemente, fazer a saia subir-lhe as coxas.

— É que a culpa foi minha — ele riu nervoso sem sorrir realmente, passando a mão atrás da cabeça. — Pobre da faxineira...
— Dessa forma, só vai conseguir se cortar e manchar meu gabinete com seu sangue, Wright.
— Oh... — Ele pareceu se dar por vencido e voltou a se levantar. Custando a ajeitar a saia, que já havia subido consideravelmente. — Ficou boa, né?

  Miles soltou um muxoxo. Seu rosto queimava com um pensamento no canto da mente de que Wright poderia haver se referido às suas pernas expostas. Mas não. Ele só falava da fantasia. Né?

— Mas então, vai se vestir logo! — Wright pegou a sacola plástica que havia trazido e entregou nas mãos de Miles. — Encontrei algo bem fácil pra você.

  Era uma toga de juiz.

— Seu costume nada correto de coletar evidências está ganhando novas funções, Wright? — ele perguntou ao examinar o material, era idêntico ao que sempre via nos juízes.
— Ei, é alugado, tá? Fica me acusando assim, e se eu te denunciar por essa calúnia de agora? Fiquei realmente ofendido! — ele disse balançando o polegar em desaprovação.

  Aquele gesto fez Miles olhar em desalento de novo para as lentes azuis que Wright havia posto para complementar sua fantasia de Franziska Von Karma. Foram capazes até de fazer esquecê-lo da própria.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Miles havia notado seus sentimentos pela irmã mais nova mais ou menos após tudo o que descobrira sobre seu mentor. Na época, embora Franziska fosse quase uma cópia do pai, ele não se considerou capaz de odiá-la. Pelo contrário, inventava desculpas, apontava cada diferença que podia existir entre pai e filha. Claro, uma pessoa racional também pode concordar que Franziska em nada podia ser culpada, mas havia racionalidade em ser racional sobre a morte do pai?

  A explicação para um ódio ilógico, mas esperável, não transpirar até Franziska era porque ela se encontrava protegida por outro sentimento com ainda menos lógica. Amor era uma palavra forte, mas Miles havia certamente nutrido algo.

  Algo que não deu nada certo.

  Aqueles olhos azuis inflexíveis haviam tomado seus sentimentos, chicoteado em pedaços, pisado, massacrado, esfarelado, jogado aos porcos. E Franziska nunca realmente o soubera. Miles tentava não pensar em como poderia ter sido pior se a rejeição da irmã, quem hoje circulava o mundo em auxílio à Interpol, ocorresse conscientemente.

  Mas era passado. Agora, tudo o que ele queria era não pensar naqueles olhos.

  E lá estava Phoenix Wright, fantasiado das botas à peruca.

— AI! — gritou o detetive Gumshoe, após ser atingido de surpresa pelo chicote. Ele se virou e bateu continência. — Dona Von Karma! — Seus olhos ficaram como botões quando encontrou Wright. — Mas o que tá fazendo, ô colega? Isso não se faz... quase morri do coração, colega.

  Wright gargalhou sem esconder a satisfação com mais um fruto do sucesso de sua fantasia.

— E onde tá aquela menina engraçadinha que está sempre contigo? — Gumshoe perguntou, voltando a pegar aperitivos do buffet.
— Em treinamento na vila Kurain — Wright respondeu reticente.

  Quando se afastaram de Gumshoe, quem parecia não muito afeito de ficar de conversa quando havia tanta comida de graça disponível, Miles voltou a observar Wright.

— E por isso você tá tão desocupado? — A mão de Miles procurou o cravat apenas para encontrar o tecido da toga que usava por cima de sua roupa usual. — Está com alguma crise de saudades?
— Quem anda totalmente pra baixo nos últimos tempos não sou eu. — Phoenix apontou para ele, como se exibisse alguma evidência em pleno tribunal. Depois, ergueu o chicote e o balançou de leve, apesar de parte das pessoas ao redor haver se encolhido como reflexo. — Com a senhorita Von Karma tão longe, você anda bem solitário, né?

  A boca de Miles quedou-se aberta, como se o seu cérebro houvesse sofrido algum erro por aquele instante. Tentou limpar a garganta, fugir daquela pane de sistema, e deu um passo para trás, antes que Wright o abraçasse por piedade ou algo assim.

— Fala como se alguém houvesse morrido, Wright.
— Com a história do Von Karma, a senhorita Von Karma passou a ser sua única família. Mas agora nem ela mais está por aqui...
— A ausência da sua assistente não está lhe fazendo bem. — Miles balançou a cabeça.

  Com a guarda de Miles baixa, não foi nenhum esforço para Wright conseguir o que vinha planejando. No segundo seguinte, o nariz de Miles estava coberto pelos fios artificiais da peruca azul prateado, enquanto Wright o abraçava forte.

— Serei sua irmãzinha por esta noite, aproveite — ouviu-o dizer perto de seu pescoço.

  Um calafrio percorreu-lhe a espinha com o toque daquele ar quente contra sua pele.

— W-Wright! — esbravejou, empurrando-o com urgência. Então, decidiu por cortar o assunto. — Vou pegar algo para beber.
— Boa ideia, um suquinho de uva cairia bem — declarou Wright animado para a decepção de Miles.

  Por sorte, ao chegarem à mesa onde os convidados deveriam se servir das bebidas, um dos juízes com quem mais tinham audiência estava também pegando um copo para si. Aquela distração pareceu funcionar para fazer Wright esquecê-lo momentaneamente.

— Gostei muito da escolha, senhor Edgeworth. — O juiz fez um movimento de cabeça para a toga.
— Ah... err... sim — balbuciou Miles, novamente havia esquecido qual era sua fantasia.

  Não fosse Wright usar aquela saia apertada e aquelas lentes ridiculamente azuis, ele talvez nem notasse que aquela era uma festa a fantasia. O próprio magistrado vestia roupas civis, sem parecer haver empreendido qualquer esforço. Ao redor, seus colegas de trabalho também optaram por máscaras simples, tiaras ou óculos diferentes.

— Ué... não acho meu chicote — ouviu Wright comentar a seu lado, forçando na mão livre de Miles seu copo com suco de uva.

  Ele passou a apalpar toda a roupa, olhando por dentro da blusa, da bota, da saia, da luva, do laço e até da peruca, mas seu beiço enrolava para fora cada vez mais sem obter sucesso na busca.

— Não acho! — Seus olhos azuis tornaram-se desesperados para Miles. — Não acho o chicote!
— Confesso que fico aliviado, senhor Wright — disse o juiz com uma risada. — Fique tranquilo que sua fantasia já está bastante fidedigna, mesmo sem aquela lamentável arma que a senhorita Von Karma mantém como se fosse um animal de estimação. Uma curiosidade como a própria nunca a perde.
— Há precedentes... — Wright comentou ainda distraído, agora levantando o pano da mesa de bebida.
— E o que acharam da minha fantasia? — perguntou o juiz, mostrando com as mãos o próprio corpo.

  Confuso, Miles voltou-se para ele e estudou-o. Após um longo período, notou apenas a impaciência do juiz.

— É um excelente exemplo de... — tentou enrolar, mas não conseguia deixar de pensar que a pergunta só podia ser alguma pegadinha.

  A seu lado, Wright agora espiava pela gola de sua toga.

— Ei, ele não tá comigo! — zangou-se Miles, mas agradecia mentalmente pela interrupção.
— Mas onde, então? Ele tava bem aqui... — disse Wright, seu olhar passando agora a ameaçar o juiz.
— O juiz não o pegou, Wright. Nem pense nisso! — Miles prendeu-o pelo pulso e o empurrou para longe antes que acabasse preso.
— Karl Marx! — ainda ouviu o juiz gritar para suas costas. — Sou o Karl Marx!

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Após observar Wright quase virar o salão de pernas para o ar atrás do chicote — ele o fizera literalmente com uma das mesas, após baixar todos os pratos sobre a mesma —, Miles deixou escapar um sorriso.

  Realmente, mal haviam aproveitado a festa, que logo iria terminar. Ao mesmo tempo, devia ser a maior diversão de suas últimas semanas, desde que Franziska partira com aquele sujeito estranho da Interpol. Desde que ela não aceitara seu pedido de permanecer com ele nos Estados Unidos, quando sabia o que estava realmente recusando. Era inteligente demais para ignorar o implícito em suas palavras...

  Seguiu Wright até uma das sacadas do salão e observou-o erguer o rosto ao céu noturno. Notava agora as marcas de suor sobre a maquiagem.

— Não é melhor só pagar aonde quer que tenha te alugado o chicote? Do jeito que está, vai acabar estragando o resto da roupa. — Apontou para a saia que jurara ouvir rasgar em uma das vezes que Phoenix engatinhara por debaixo dos panos.
— É que foi emprestado — ele respondeu, a voz baixa como se estivesse confessando a um padre.

  A boca de Miles secou, a garganta arranhando a cada palavra que seguia ao perguntar sem querer a resposta:

— Você... pegou daquela égua selvagem?
— Quê? — Wright o encarou confuso. — Não, não! — Balançou todo o corpo como se os gritos desesperados já não fossem suficientes. — Foi da senhorita Andrews!

  Os dois suspiraram ao mesmo tempo. Wright irrompeu em uma gargalhada beirando a histeria.

— De repente, não parece tão ruim ter perdido esse chicote! — declarou ele com uma das mãos sobre a barriga.
— Não compreendo para que se dar ao trabalho. Não percebeu que quase todos parecem ter mandado os assessores na lojinha da frente comprar o primeiro acessório que lembrasse uma fantasia? Se houvesse um concurso, eu teria chances de ficar em segundo lugar. As festas daqui são sempre assim, exageramos se for de gala e não nos importamos se for qualquer outro tema.

  Wright ergueu os ombros e depois os relaxou.

— Só pensei em me esforçar já que tinha insistido em virmos juntos. Você realmente andou mal desde que a senhorita Von Karma viajou, Edgeworth.
— Quando aceitei sua ideia maluca, eu esperava mesmo que fosse tentar algo diferente e absurdo. — E apontou para a meia-calça desfiada de Wright. — Em vez disso, estou sendo arrastado por todos os cantos pela minha irmã.

  Para sua admiração, aquela ressalva pareceu animar Wright. E este começou a ajeitar o laço desfeito da blusa e erguer repetidamente as sobrancelhas — Miles esperava que aquele formato feminino fosse apenas lápis e que ele não realmente as houvesse tirado tal qual Franziska.

— Esse é um selo de aprovação, né? — Wright perguntou ansioso, terminando de retocar o batom. — Ficou tolamente perfeita, né?
— Não acredito que alguém consideraria isso um elogio. — Miles estalou a língua. Então, recuperou seu lenço de dentro da fantasia. — E a sua boca está toda borrada agora. — Passou a limpar ao redor com a ponta do pano cobrindo seu dedo indicador.
— De repente, eu me sinto mesmo com o meu irmão mais velho — Wright comentou, provavelmente para se distrair da vermelhidão que tomara seu rosto e não por causa da maquiagem.
— Pontos negativos, Franziska apenas me concedeu a honra de ser seu irmãozinho.

  Wright devolveu um olhar surpreso.

— Que foi? — Miles perguntou.
— Eu me vesti todo pra te animar e até fiquei treinando como chicotear pessoas sem machucar nem deixar marca. É realmente um dom da sua irmã, sabia? Mas a hora em que mais te divirto é quando saio de personagem.

  Miles riu.

— Você não pode bater bem da cabeça, Wright.
— Que funcionou, funcionou — ele retrucou, dando de ombros.

  Mas um silêncio seguiu à conversa. Um silêncio preenchido pelo olhar que Miles se pegava trocando com Wright. Era como assistir a um filme em idioma desconhecido. Sabia que estava ouvindo alguma informação importante, mas não conseguia decifrar inteiramente o que era. Só que era algo que ele realmente gostaria de entender.

  Inutilmente, aproximou-se. Como se aumentar o volume do filme tornasse a língua estrangeira menos alienígena...

— Wright, apenas me diga logo o que é — pediu impaciente. Seu estômago parecia em brasas tão ácido queimava.

  Mas o silêncio perdurou. Os olhos de Wright subiam e desciam o rosto de Miles, sem parecer focar nada. Por um momento duradouro demais, eles simplesmente esvaziaram. Não dava para dizer se Wright havia se perdido em pensamento, ou se ocorrera alguma pane geral.

— Para um advogado, você não é nada articulado — Miles falou reprovador.

  Sua voz pareceu trazer o outro de volta a si.

— Não sou mesmo — ele concordou com um leve gesto de cabeça. — Mas não era o que dizer que eu tentava descobrir. Estava me perguntando se você era um promotor muito bom ou se valia a pena.

  Franzindo a testa, Miles fez um aceno para que Wright se explicasse.

— É que se você for muito bom, muito bom mesmo, convenceria ao juiz de que o que estou para fazer é estupro. Eu não concordo com essa tese, mas há quem diga que é. Bem, depende do promotor.

  Antes que Miles pudesse juntar aquelas palavras e decifrá-las, Wright avançou até ele e uniu-lhes os lábios. Suas mãos seguraram o corpo de Miles para que ele não escapasse quando sua língua penetrou-lhe a boca. Enquanto alguém anunciava dentro do salão que a festa estava se encerrando, os dois continuaram o beijo. Os convidados já pareciam se movimentar para a saída, um ou outro mais barulhento e emotivo com suas despedidas, mas os dois ainda tinham ar para mais. Os sons do lado de dentro já haviam se acalmado. A qualquer momento, alguém viria conferir se sobrava alguém na varanda.

  Os dois comprimiram mais um corpo contra o outro.

— Com licença — uma voz tímida chamava desde a saída da sacada. — Pedimos que os convidados liberem o salão para a limpeza...

  Miles se desfez do beijo, afastando-se o centímetro necessário para sua voz não sair abafada pelos lábios de Wright.

— Estamos indo.

  Assim juntos, o ar quente de um mesclando ao que saía do outro, aguardaram a pessoa retornar ao interior. Os olhos azuis de Wright brilharam com o balançar da luz e o momento estava finalmente quebrado.

  Miles caiu em uma gargalhada.

— Será que ele me viu dando um amasso na minha irmã ou no meu grande rival?

  Wright juntou-se ao riso. Tentava recuperar o equilíbrio, trôpego após ter as costas esmagadas contra a parede.

— Foi mais para o oposto — comentou, inutilmente tentando ajustar a peruca sobre a cabeça.

  Após retirá-la da cabeça de Wright, Miles despiu-se da toga e ofereceu-a.

— Ponha isso — pediu a Wright. — Já passou do limite, você de minissaia.

  Rindo-se mais um pouco, Wright aquiesceu e fez como pedido.

— Não tenho nenhum fetiche com minha irmã — disse Miles, enquanto o ajudava a tirar os grampos do cabelo. — Agradeceria se nunca mais tentasse algo assim.
— Vamos, foi divertido. — Wright piscou um dos olhos.
— Ah, sim. Essas lentes. Jogue isso fora. Nas últimas noites, tenho tido pesadelos com olho azuis. Antes, achei que era porque Franziska me disse que estava para vir visitar e que ficaria na minha casa. Mas agora estou desconfiado de que foi alguma premonição do que você ia me aprontar.
— Alguma outra ordem, senhor? — Wright fingiu uma continência exagerada, sua aparência mais similar ao seu eu de sempre.
— Não posso ordenar o que mais eu quero, porque aí sim poderia resultar em estupro por coação. — E voltou a beijá-lo, apenas acariciando os lábios um contra o outro. — Mas seria bom você estudar um pouco mais o Código Penal, não é estupro se a outra parte consentiu.
— Como eu disse, depende de como o promotor vai argumentar. — Wright puxou o braço de Miles para si e começaram a andar em direção à saída do salão. — E eu sou bem orgulhoso do bom trabalho que este aqui tem feito.

  Miles pensou em argumentar que, se fosse tão bom promotor, nunca processaria alguém por um crime que não cometeu, mesmo se pudesse convencer o juiz de que o fato constituía sim alguma conduta imputável. Contudo, quando olhou Wright aninhar-se a seu braço, perdeu todas as palavras e apenas deitou a cabeça contra a dele.

— Edgeworth... — Wright pronunciou suave, quase sonolento. Seu tom não se alterou a despeito do conteúdo de suas palavras a seguir. — Eu sou terminantemente contra sua antiga paixão se hospedar na sua casa. É bom encontrar um jeito de dizer isso à sua irmãzinha.

  Miles engoliu em seco, prevendo que mais pesadelos com olho azul seguiriam até resolver aquele pequeno detalhe.

FIM!

Anita, 27/04/2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Leia Também

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...