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[Saint Seiya] A Surpresa de Ikki, escrita por Anita

Título: A Surpresa de Ikki
Autora: Anita
Fandom: Saint Seiya
Classificação: livre
Gêneros: yaoi, comédia.
Resumo: Ikki de Fênix, Hyoga de Cisne / Shun de Andrômeda, Saori Kido. Ikki começa a investigar por que razão Shun estaria agindo tão estranho e acaba vendo-o abraçado a uma pessoa pouco bem-vinda para entrar em sua família. Como o cavaleiro reagirá? (SPOILER: Há uma leve insinuação de Saori / Ikki aqui, mas está longe de ser o tema principal.)


Notas Iniciais: Saint Seiya não pertence a mim e não lucro nada com isto.História escrita para o Coculto, um amigo oculto de fanfics promovido pela comunidade Saint Seiya Super Fics Journal. 

Como sempre, eu escrevo me baseando na versão do anime. Como forma de torná-la mais próxima da realidade de todos, gosto de passar a história no ano em que estou escrevendo em vez de considerar as datas (confusas) do original. Não sou nenhuma especialista em cultura japonesa, já vou avisando, rs. E, como sempre, aliás, como nunca: Saint Seiya não pertence a mim, eu não lucro nadinha com isso além do sorriso – ou das pedras – que vocês lançam para mim. Vamos à história! 

Olho Azul Apresenta:
A Surpresa de Ikki

  Suas pupilas estavam dilatadas e os tremores nos membros de Ikki pareciam acelerar mais rápido que seu coração. Era nítido como seu coração disparava com a adrenalina. Frio; um pouco depois, ele começou a sentir frio. O que teria provocado tal reação? Como um cavaleiro de Athena, já havia passado por inúmeras situações que lhe elevaram a adrenalina. E já passara por outras que poderiam causar um infarto a uma pessoa normal, mas que não haviam levantado um só pelo de seu braço. A cena à sua frente era assustadora a esse ponto para ele.

  Estava escondido atrás de várias caixas, deixadas sabia-se lá desde quando naquele salão sem nenhum uso nos últimos tempos. E o catalisador de seu estado de choque era a cena à sua frente. Um abraço. O abraço que uma das pessoas que Ikki menos suportava fornecia – por tempo demais e com distância de menos – à pessoa que mais lhe importava em sua vida. Era quase a junção de opostos de sua escala pessoal de consideração, pensou irônica a única parte ainda funcionando de maneira apropriada em sua mente.

  E Hyoga parecia apertar ainda mais o pobre Shun nesse seu “abraço”. Aquilo não podia mais ser chamado assim. Tinha que ser algum crime.

  Enquanto observava seu pequeno irmão, ainda choroso, corresponder à carícia do malfeitor, tudo ficou mais claro para ele. Mesmo assim, era difícil – ou melhor, ele não queria, sob hipótese alguma, – acreditar que Shun pudesse estar junto de Hyoga. Só de lembrar o sorriso inocente do caçula, seus enormes olhos, suas palavras delicadas, só de pensar que tudo isso agora seria dirigido a um homem como o cavaleiro de Cisne... Ikki se preparou para acender seu cosmo e exterminar aquela mancha a macular a pessoa mais pura em sua vida.

  Não acreditava que não havia percebido nada antes. E, agora que enfim notava, já era tarde demais. Aquele homem já havia lhe tirado seu tesouro, concluía Ikki somente agora.

  As lembranças apertavam seu peito...

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Era agosto, o mês favorito de Ikki. O tempo ficava mais quente, as mulheres se vestiam menos, as crianças corriam alegres pelas ruas buscando atividades... Em suma, era um ótimo mês. A umidade do Japão sempre seria um problema, mas já não era tão ruim quanto em julho, na sua opinião. Ademais, era a despedida do verão; a tendência de ali em diante era apenas de esfriar até ficar insuportável. Mas a verdade era que aquela era a primeira vez em muito tempo em que ele podia simplesmente observar a passagem das estações no Japão.

  Poucos meses tinham se passado desde o final da batalha de Hades, e Saori insistira em que seus cinco cavaleiros de bronze tirassem um ano de férias bem ali na mansão para viverem despreocupadamente ao menos um pouco antes de encontrarem novas atividades. Apesar de não costumarem seguir à risca o pedido, não era raro os cinco estarem por perto naquele período.

  Sim, isso incluía até Ikki. Na verdade, ele não esperava ter que ficar tanto tempo ali. Queria achar uma ilha fora do mapa e viver dias bucólicos enquanto treinava seu cosmo. Todavia, seu coração não conseguira ainda separar-se de seu irmão mais novo.

  Shun parecia o mais abalado com os eventos da última batalha. Assim que recebera alta do hospital, passara dias sem falar mais que o necessário e mais ainda sem sorrir sinceramente. Aos poucos, parecia se recuperar e até se divertia quando eles acompanhavam Seiya em algumas visitas ao orfanato em que haviam morado. Dessa forma, Ikki decidira sair da mansão assim que passassem os aniversários de ambos – era a pessoa mais importante na vida do irmão e sabia que Shun ficaria feliz em comemorar as datas a seu lado. Contudo, agosto começara e o mais novo aparentava haver regredido à introspecção de antes.

  “Algo aconteceu?”, Ikki se perguntava. Ou Shun apenas voltara a pensar naqueles dias de dominação pelo deus Hades?

  Sentado à mesa de uma das várias salinhas de estar na mansão Kido, Ikki disfarçou o olhar que mantinha constantemente sobre Shun e abriu mais o jornal à sua frente. Após passar algumas folhas, chegou à sessão de uma loja de departamentos, na qual se anunciavam produtos sortidos.

- Ah, uma churrasqueira! – exclamou com entusiasmo. – Seria bom ter uma assim neste final de verão, né? – Olhou de esguelha para o outro.

  Shun parecia distraído com um dos celulares que Saori dera de presente aos cinco, como forma de sempre poderem manter contato entre si e com todos com que se importavam. Ou alguma besteira assim. Aquilo era uma praga, na verdade; mais uma desculpa para o irmão fugir da realidade, enquanto digitava sobre a tela alguma coisa. Seriam suas lamentações? Uma mensagem a alguém? Ou apenas um passatempo naqueles dias vazios?

  O mais velho decidiu chamar a atenção de maneira mais direta.

- Olhe, Shun! – Apontou para o aparelho. – Ela é tão prática, seria ótimo carregarmos para a beira de um rio. – Ouviu Shun apenas murmurar algo em concordância. – Nem é pesada, veja. E dizem não dar trabalho para limpar.

  Após tanta insistência, Shun pareceu olhar por um momento na direção apontada antes de voltar a digitar, talvez ainda mais rápido que antes. Ikki suspirou e baixou os olhos de volta para a foto da churrasqueira, sonhando com dias felizes em família.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Convencido de que algo perturbava o irmão e que esse algo talvez fosse relacionado aos acontecimentos durante aquela última batalha, Ikki decidiu tomar uma medida extrema. Ele procurou ajuda.

  Claro, seu amor por seu irmão não era nada comparado a seu orgulho. Por isso, tomou uma solução tão drástica quanto procurar um dos cavaleiros com quem menos simpatizava: Hyoga. Era uma opção óbvia, quando se considerava a grande amizade que recrudescera entre seu irmão e ele na época em que juntos atravessaram as doze casas do Santuário.

- Shun? – Hyoga franziu-lhe a testa após ser interrogado. Era um dos que menos ficavam na mansão, mas, para a sorte de Ikki, vinha sendo presença constante nos últimos tempos. Em seguida, ele balançou firmemente a cabeça. – Não se preocupe com essas coisas, Ikki. O Shun só está crescendo. Não ache que ele será sempre um bebê chorão para você mimar. Quando ele tiver algum problema, sempre poderá procurar um amigo que o entenderá melhor que um irmão que ele raramente vê, não acha?

  Aquele riso confiante do outro... Ikki cerrou seus punhos. Mas era por Shun. Aliás, agora, sentia-se ainda mais encorajado a seguir com os interrogatórios. Precisava provar que Cisne não era tão próximo assim de seu irmão como parecia pensar. Como assim Shun vai procurar outro, quando a pessoa mais importante para ele estava bem a seu lado, com o braço estendido apenas a esperar por um pedido de socorro!

  Contudo, as pessoas foram passando. Saori afirmou não ter notado nada e ainda insinuou que Ikki se preocupasse mais com a própria vida em vez de vigiar Shun. Shiryu disse que, ainda que algo importante estivesse acontecendo, era importante para Shun enfrentá-lo sozinho. O cavaleiro de Fênix decidiu não pensar muito em opiniões tão infundadas. Após conversar inclusive com Tatsumi, Ikki encontrou uma resposta na pessoa que deixara por último em sua lista – por razões óbvias.

- Ele anda meio estranho, né? Chamei ontem à noite pra ir num lugar e ele nem aí pra mim. Só fica falando com o Hyoga pra lá e pra cá... – Seiya fez uma careta de desprezo. – Será que é alguma mulher? Homem quando fica assim...

  Mulher? Era isso que Hyoga insinuara? Ikki ergueu uma sobrancelha e sentiu os lábios tremerem.

- Fosse algo mais sério, ele te procuraria. – Seiya pareceu tentar consolá-lo. – Mas, se for mulher, não sei se eu falaria disso com a minha irmã, entende?
- Não seria dela que viria o melhor conselho para você?
- Ah, é estranho. Mas eu confio em vocês todos! Então, tudo bem. Fique feliz pelo Shun, a primavera enfim chegou pra ele!

  Ikki assentiu, tentando não dar muita atenção. Não conseguia acreditar que Shun realmente não precisasse mais dele, e que Hyoga talvez estivesse certo.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Na pior das hipóteses, Shun poderia apenas recusar ajuda. Pensando assim, após confirmar com Seiya que algo recente devia ter acontecido, o irmão mais velho decidiu confrontar o caçula de uma vez.

- Problema? – Shun parecia ler algum livro quando Ikki o encontrou na biblioteca. – Eu estou ótimo!

  Sem se deixar enganar pelo sorriso do outro, puxou do bolso dois papéis que pegara na loja de conveniência mais próxima, mas que tinham ficado amassados no caminho.

- O que é isso? – perguntou-lhe o rapaz, esticando a cabeça com genuína curiosidade.
- Ingressos. Sabe, praquele parque na cidade vizinha. Eu, hã, ganhei agora há pouco. Um amigo ia e desistiu.
- Um amigo? – Por alguma razão, essa foi a parte que Shun mais pareceu estranhar.
- Não quer ir? É pra amanhã de tarde.

  A mudança na expressão divertida de Shun para uma de desapontamento partiu o coração de Ikki antes mesmo de ele ouvir a resposta.

- Você não pode? – perguntou quando o mais novo demorou a responder.

  E observou-o baixar os olhos em contrição.

- Eu já tinha um compromisso amanhã... E não posso desmarcar com essa pessoa.
- Com essa pessoa?
- Sinto muito, irmão.
- Não pode mesmo? Não dá pra mudar o dia do ingresso. – Sacudiu o papel.

  Por um tempo, Shun mordeu o lábio inferior, enquanto seus olhos acompanhavam o movimento. Mas apenas sacudiu a cabeça:

- É muito importante, irmão.

  Ikki já havia se virado para sair da sala quando o irmão o chamou:

- Aliás, o que fará com os ingressos? Posso ficar com eles?

  E usar com a tal mulher nesse compromisso importante, né?” Ikki pensou em dar uma resposta ríspida de tão furioso que estava por ser trocado, mas uma pequena voz em sua cabeça lhe deu uma ideia muito melhor.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Mais tarde, Ikki encontrou Seiya quando já se preparava para ir dormir. Não havendo esquecido a conversa anterior, o outro lhe perguntou como tudo estava.

- Então, é mulher mesmo, né? – E bateu com o lado do punho contra a palma da mão. – Sabia!
- Amanhã eu descobrirei, quando perguntar como ele usou os ingressos.
- Ingressos? Seriam dois para o Reino do Rato?

  Ikki ergueu uma sobrancelha, temeroso de confirmar.

- Isso é ruim... – Seiya resmungou antes de se explicar. – Acabo de voltar do orfanato e a Miho estava toda feliz com esses ingressos!
- Miho? Aquela menina das marias-chiquinhas?
- Com dois ingressos pra amanhã. Não quis me dizer como os conseguiu.
- Acha que...
- Ikki! – Com mais força que um humano comum aguentaria, Seiya segurou seus dois ombros e o sacudiu. – Você precisa confirmar isso! Não pode ser, né? Que o Shun e a... Miho! Eu que o levava lá no orfanato e agora ele me apronta essa... Como pôde?
- Meu irmão não faria isso.
- Nada muda o fato de que ele tem um encontro amanhã com ela. Miho me mataria se o fizesse, mas você pode segui-los e conferir de perto. Ou melhor: olhe o quarto dele. E o celular; pode ter alguma foto dos dois lá. – Seiya continuou uma lista de tarefas, e Ikki se surpreendeu ao prestar atenção em cada um dos itens.
- Acha mesmo que não seria só amizade? – interrompeu o outro, antes que a própria cabeça explodisse de tantas suposições. – Shun é tão novo...
- Não mais que você quando estava com a menina da Ilha da Rainha da Morte, certo?

  Esmeralda... Era um nome em que não pensava fazia alguns meses. Aos poucos, os dias quentes passados a seu lado tornaram-se uma lembrança feliz e não mais um espinho em seu coração.

  Exceto agora. Lembrar-se de seus dias ardentes de gatos abandonados naquela ilha deixada como que apenas para os dois o fez ficar pálido.

- O Shun não... – balbuciou.

Seiya deu-lhe um tapa forte nas costas e disse com urgência:

- Vá atrás dele!

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Após vigiar o quarto do caçula por mais de uma hora, enfim, Ikki o via sair. Seu ingresso só permitia a entrada no parque a partir das três horas da tarde; portanto, não havia como garantir que esse já fosse o destino do irmão naquele horário logo antes do almoço. Ele só suspeitava que, em se tratando de um encontro, Shun talvez quisesse fazer uma refeição com a moça antes de pegar o trem para outra cidade.

  Em outras palavras: um encontro completo!

  Engolindo os protestos que se vinha fazendo desde a conversa com Seiya na noite anterior, continuou a seguir Shun até o térreo da mansão.

  Para sua surpresa, em vez de sair, o rapaz entrou num corredor e continuou a andar por vários minutos até passar por uma porta. Ikki nunca estivera naquele lugar; não imaginava o que poderia haver ali.

- O que está fazendo? – uma voz feminina o fez pular.
- SHHHHHH! – fez em resposta, conferindo se o irmão ouvira qualquer coisa, mas Shun apenas abriu uma porta maior que a anterior e entrou em o que parecia ser um salão.

  Ikki voltou-se para Saori, que aguardava uma resposta e não parecia nada satisfeita com o cumprimento que acabara de receber.

- Tem como entrar ali por outro lado? – Apontou para a enorme porta, não se preocupando em pedir desculpas.
- Não te interessa. – E cruzou os braços. – O que pensa que está fazendo se esgueirando pela minha casa?

  Não obtendo nada de útil dela, o cavaleiro seguiu até a grande porta. Não podia perder Shun de vista por tanto tempo.

- Espera. – Saori agora o guiava para outra direção.

  Os dois chegaram à parte externa por uma porta de emergência. Uma lufada de ar quente roçou o rosto de Ikki; era agradável poder respirá-lo no lugar daquela secura de ar condicionado. Então, voltou a seguir a mulher.

- Esta é a saída dos convidados para o jardim – ela explicou. A porta de vidro para a qual ela apontava parecia dar numa sacada, mas com uma parte aberta, o que permitiria acesso à grama.
- Convidados?
- Eu costumava dar festas da fundação aqui, mas não tenho feito isso ultimamente. – Seus olhos baixaram. – Por razões óbvias, não vinha me sentindo no clima para dar festas sem motivo, apenas para fazer contatos.

  Mas Ikki não estava mais ouvindo. Discretamente, subiu até a falsa sacada e deslizou o vidro apenas o bastante para poder passar. Em seguida, correu até uma entre tantas pilhas de caixas de papelão, que agora enfeitavam o tal salão.

  Foi bem no meio dessas pilhas que Ikki levou seu grande susto. Após toda a desconfiança, ele já até esperava ver a tal Mika – Mia, Mina? – por ali em um encontro proibido com seu irmão. Mas não estava preparado para ver aquele patife presunçoso do Hyoga abraçando o pobre Shun cada vez mais forte. Este afundava a cabeça no ombro alheio e parecia a ponto de chorar.

  Agora tudo ficava mais claro. Toda aquela conversa do cavaleiro de Cisne, cheio de certeza sobre o que lhe falava. E o ingresso? Seria para despistar o irmão desconfiado?

  Mesmo assim, sob hipótese alguma, ele não queria acreditar que Shun pudesse estar com aquele sujeito. Só de lembrar o sorriso inocente do caçula, seus enormes olhos, suas palavras delicadas, só de pensar que tudo isso agora seria dirigido a alguém como o cavaleiro de Cisne... Aquele homem havia lhe arrebatado seu tesouro.

  Com os punhos cerrados, preparou-se para acender seu cosmo e exterminar aquela mancha a macular a pessoa mais pura em sua vida. Justo quando ele sentiu o fogo arder em seu coração e se espalhar por seu corpo, os dois rapazes desfizeram o abraço e começaram a andar de volta para a porta por onde Shun entrara.

  Ikki socou uma das caixas à sua frente e várias serpentinas prateadas voaram até pousar no chão.

- Aquele aproveitador da Sibéria vai ganhar um calor se foi ele que fez o Shun ficar tão triste!

  Uma risada interrompeu seu novo queimar de cosmo. Ele olhou espantado para Saori, que continuava bem ali a seu lado. Rindo sem controle.

- O que está insinuando, Ikki? – Lágrimas rolavam nos cantos dos olhos dela.
- Insinuar é tudo o que não preciso fazer depois dessa cena. Você os viu ali. Juntos!

  Saori olhou para o local onde os dois cavaleiros haviam se abraçado e ficou pensativa, apesar de um resquício de deboche ainda se ensaiar em seus lábios.

- Não é melhor perguntar diretamente ao Shun? Depois de Hades, eu realmente não quero perder cavaleiros por causa de um mal-entendido.
- De jeito nenhum. – E abriu a enorme porta para o corredor onde antes fora descoberto pela mulher.
- Sinceramente, esperava menos infantilidade de você - ela dizia enquanto o seguia.

  Ignorando a acusação, Ikki socou a segunda porta ao notar que havia perdido o irmão de vista. Elevou o cosmo mais uma vez, agora para localizar o caçula.

- Que estranho... – comentou, esforçando-se na tarefa. – Eu sempre consigo encontrar Shun.
- Vai ver ele sabe disso e é exatamente o que está evitando. – Saori estava mais uma vez ali, revirando os olhos.
- Viu? Não há o que perguntar. Por que mais meu irmão gostaria de se esconder de mim?

  A deusa quedou-se pensativa novamente. O que ela tanto considerava antes de lhe responder? Era uma pergunta retórica!

  Então, Ikki olhou mais uma vez para a moça. Intensamente.

- O que foi? –inquiriu ela um pouco trêmula.

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  Após mais uma tentativa para puxar a porta, Ikki encarou Saori. Ainda não havia entendido por que ela precisava segui-lo. De fato, não estivesse ela ali, a porta já não lhe seria mais um obstáculo. Ao mesmo tempo, Shun perceberia que seu quarto, de repente, não tinha mais porta e talvez desconfiasse de algo.

- Eu não vou te dar a chave! – Saori gesticulou com as bochechas vermelhas e um pouco sem ar. Não devia estar em sua rotina sair atrás de alguém escada acima.

  Ikki olhou para a porta e voltou a afrontar a moça. Após quase um minuto nesta posição, percebeu os ombros da outra descerem e, então, subirem mais uma vez em um suspiro resignado. Pouco após, Tatsumi apareceu com um molho na mão, procurando a cópia para a chave daquele quarto.

- Para que tanta coisa? Não pode deixar seu irmão em paz? – reclamava Saori, fazendo movimentos circulares com os dedos, massageando em sua fronte.
- Tem algo muito errado, você não viu aquela cena?
- Shun sempre foi o cavaleiro que mais gosta de tocar nos outros e coisas assim, diferente do irmão mais velho.
- E a porta trancada? Ninguém entra nesta casa sem permissão, não há motivo para trancar.
- Ele tem direito a isso, por que não?

  Nesse momento, a porta se abriu para o espaçoso quarto. A arrumação era similar à de Ikki: uma cama ao centro, uma janela encoberta por uma cortina de tecido caro, uma escrivaninha e um armário grande demais quando se considerava que eles não tinham muito que por ali. A armadura de Andrômeda estava em um canto, próxima à escrivaninha, onde se encontravam dois livros.

  O rapaz caminhou até a cama feita e começou a levantar a coberta.

- A empregada já passou por aqui, não desfaça o serviço dela. – Saori deu-lhe um tapa na mão para enfatizar o que dizia.

  Então, folheou os livros. O primeiro era apenas uma história comum, mas o segundo fez seu sangue ferver novamente: um guia de viagens para a Rússia. Pior, havia uma longa dedicatória assinada por Hyoga em letras desleixadas na capa.

- Aquele safado!
- Eles são amigos, e não vejo nenhuma declaração aí. – Saori arrancou-lhe o livro das mãos e recolocou-o sobre a escrivaninha. – O que está fazendo?

  Ikki levantou a cabeça após olhar sob a cama.

- Pode haver alguma carta de amor escondida.
- Carta de amor? – Tal como anteriormente, a moça fez um péssimo trabalho para esconder o seu deboche.
- ! – Ikki sentiu-se vitorioso após abrir o armário. De lá, retirou um embrulho de tamanho considerável e o pôs sobre a cama.
- É um presente. Infelizmente, estamos sem aparelho de raios-X.

  Assim que ouviu a mulher terminar de falar, Ikki rasgou o papel.

- O Shun vai perceber, Ikki!
- Olhe: um cartão. - Notou antes mesmo de terminar a bagunça. – “Para a pessoa com quem mais me importo. Shun”. Há!

  Foi nítido quando Saori engoliu em seco e se quedou em silêncio apesar das tantas reclamações anteriores.

- E é uma churrasqueira! – completou Ikki, após jogar os papéis do embrulho sobre o chão. – Ele comprou uma churrasqueira para o salafrário! Deve ter achado útil, né? Para quando fizessem a fuga de amor deles para a Rússia. – E apontou para o guia de viagens.

  Não mais lhe importando se a moça pretendia lhe oferecer alguma alternativa, Ikki jogou o cartão de volta para cima da caixa e saiu do quarto com passos duros.

- Não vai refazer o embrulho?
- Preciso que abra outro quarto. – Antes de sair, ainda ergueu o indicador para ela. – E desta vez, não me siga.
- Tatsumi, mostre a chave para Ikki e refaça o presente – ela ordenou resignada.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Já havia anoitecido quando Hyoga retornou a seu quarto. Lentamente, ele deixou a carteira sobre a escrivaninha, fechou a porta e acendeu a luz. Foi apenas nesse momento que o cavaleiro de Cisne pareceu perceber que não estava sozinho.

- Já descobri tudo. – Ikki levantou-se da cama. – E tenho provas. Vi no quarto dele o cartão que meu irmão escreveu.

  Sem esconder que fora encurralado, o outro pareceu dar-se por vencido.

- Então, por que está bravo? E por que está justo aqui?
- Obviamente, porque não quero perder nesse seu jogo. Abrirei um imenso sorriso para Shun quando chegar a hora. Agora. Você. – E socou o cavaleiro, apenas tomado cuidado para que ele não batesse na mobília e fizesse barulho. Ikki respirou fundo antes de prosseguir, pois precisava se contentar com aquela recompensa somente. – Por ter se aproveitado dele, porque isso eu sei que você fez. Pobre Shun, nunca pensaria nessas coisas por ele mesmo, ele só queria sua amizade! Não sei como o enganou, mas é bom nunca deixá-lo perceber o cafajeste que você é. Agora, não se faça de sonso e jure que fará meu irmão feliz a qualquer custo. – Ikki apontou para baixo, temendo que o cosmo que queimava nele saísse com o movimento e partisse o chão.

  Hyoga olhou para o piso. Depois para quem lhe falava. Estava visivelmente assustado; o plano estava surtindo efeito. E era bom que acreditasse nas ameaças: bastava apenas um motivo para Ikki lhe quebrar a cara. Infelizmente, não sabia as exatas circunstâncias por que Shun vinha estando cabisbaixo nos últimos dias, mas, se assim continuasse, logo não faltaria mais nada para uma punição.

- Shun feliz? – Após a pergunta, Hyoga manteve-se em silêncio por um momento. – Quer dizer que, supondo, apenas supondo, que tivéssemos um relacionamento algum dia, você... aprovaria?
- Que opção tenho, se é o que meu irmão deseja?
- Você leu isso num cartão? No quarto dele?
- E vi a forma como você o tratou hoje mais cedo. Quando o abraçou! Depois de fazê-lo chorar. – Ergueu o punho pronto para um novo golpe. Ao relembrar os acontecimentos do dia, notou que estava sendo gentil demais diante dos fatos.
- Espera, esse soco dê em você mesmo. Shun ficou chateado com o negócio do parque do reino mágico do camundongo ou sei lá o quê.

  Não obstante a explicação até bastante viável, Ikki não se conteve e desferiu um segundo soco.

- Você ouviu o que eu disse, né? – Apesar da agressão física, seu tom de voz continuava baixo e controlado. – Não me venha com desculpas e trate meu irmão com respeito. Ou usarei aquela sua churrasqueira nova para grelhar suas tripas.

  A churrasqueira que ele queria e agora o manipulador estava prestes a ganhar. He, ao menos aquilo estragaria a surpresa quando Hyoga recebesse a caixa não mais embrulhada com todo o cuidado peculiar a seu irmão.

  Quando não ouviu resposta nenhuma – ele ainda nem sabia mesmo da tal churrasqueira –, Ikki abriu um sorriso calmo.

- O que é? Você não quer o Shun? – Aquilo já seria um bom motivo para estrear o aparelho, pensava Ikki.
- Eu só... – Hyoga balbuciava - Só não imaginava que você nos aceitaria. Nunca imaginei.

  E o canalha estava ruborizado!

- Aceitar não quer dizer que eu pense bem de um pervertido como você. Sabia que Shun é mais novo que você, né? Uma criança!
- Um ano mais novo.
- E nunca me pediu permissão. Até onde sei, eu sou como o pai que ele nunca teve. – Ikki voltou a apontar para baixo.

  Hyoga olhou de novo o chão.

- Apresse-se, que eu quero jantar; com essa sua ceninha romântica de hoje, eu não tive tempo pra comer. Faça o que já deveria ter feito desde o início.

  O loiro assentiu com cautela e começou a se ajoelhar como ordenado.

- Apenas não diga nada a Shun - pediu-lhe Hyoga ao aceder. – Deixe que ele esteja pronto para te explicar tudo. – E, para a surpresa de Ikki, o outro sorriu apesar daquela posição. – Mas... agradeço que tenha nos compreendido.

  Aquela atitude! Com tantos ordinários no mundo, como Shun pudera escolher justo aquele homem como sua pessoa mais importante? Como Shun pudera trocá-lo por Hyoga?

  Tentando conter a raiva pelo bem do irmão, Ikki ordenou que Hyoga continuasse daquele jeito e pensasse no que fizera a Shun. Então, abriu a porta para sair.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  No dia seguinte, Ikki se preparava para o almoço, ainda aborrecido com as descobertas que fizera. Não o havia visto ainda, mas havia prometido a Shun acompanhá-lo na refeição; por isso, foi até seu quarto. Tatsumi devia ter refeito o presente, pois não ouvira qualquer reclamação sobre o que havia feito lá. Portanto, decidira nunca revelar nada ao irmão. Mais do que nunca, ele agora sabia: o que os olhos não veem, o coração não sente.

  Após algumas batidas na porta, decidiu entrar. Dessa vez o quarto não estava trancado. Será que ele já tinha entregado o presente a Hyoga? Abriu o armário para constatar que o embrulho não estava mais lá e folheou uma segunda vez o guia de viagens para a Rússia sobre a escrivaninha. A dedicatória demonstrava carinho por parte do russo, Ikki percebia agora que a lia com mais calma. Não, ainda não era realmente calma; resignação apenas. Contanto que Shun estivesse feliz... Deveria era estar contente por haver alguém para protegê-lo, alguém que ficasse sempre do seu lado. Não era como se o próprio Ikki pudesse ser essa pessoa, pois ficava irritado sempre que todos os demais estavam na mansão ou que qualquer um começava a falar com ele. Ao menos, Hyoga poderia estar ali com Shun.

  Enquanto pensava assim, sentiu algo estranho em suas roupas. Um tremor. Terremoto? Em seguida, uma música começou a tocar cada vez mais alto.

- Aquela coisa! – gritou, tirando apressadamente do bolso um dos celulares que Saori distribuíra entre todos os cinco. – Alô?
- Irmão? – A voz de Shun lhe falava do outro lado da linha. – Estou te esperando aqui embaixo.

  Encerrada a ligação, Ikki imaginou por que Shun iria querer um almoço fora quando os que Saori oferecia na mansão eram bastante satisfatórios. Então, um pensamento lhe veio. Após a conversa do dia anterior, Hyoga poderia ter falado com o... namorado... e agora Shun queria pôr tudo em pratos limpos e revelar tudo ao lado do outro.

  Ao descer as escadas, viu que seu irmão caçula o aguardava com um sorriso. Mas não havia mais ninguém ali.

- E onde está Hyoga? – tentou perguntar naturalmente, encobrindo o asco que a menção daquele nome vinha lhe provocando ultimamente.

  Shun pareceu empalidecer por um momento antes de limpar a garganta. Ikki decidiu ajudar o rapaz:

- Notei que vocês têm estado bem próximos.
- Sim, o Hyoga é um amigo muito importante para mim. – Ele pareceu mais aliviado com aquelas palavras.
- Fico feliz que tenha amigos assim, mas não se esqueça de sempre contar comigo quando esses amigos te deixarem triste, ouviu?

  Tão ingênuo como sempre, seu irmão não pareceu entender o sentido inconspícuo nas palavras.

- Desculpa, Shun. Eu não consigo guardar segredo de você. Prometi a Hyoga não contar nada, mas eu já sei de tudo.
- Tudo? – Os olhos do outro se arregalavam a cada palavra.
- Mas pude ver nos olhos dele o quanto se importa contigo. – Ikki tentou sorrir calmamente, a despeito de sua própria opinião.
- Nos olhos?
- Do Hyoga. Mas você devia ter me contado antes. Mesmo que agora haja alguém mais importante em sua vida, ainda sou o seu irmão, não é? Sempre estarei do seu lado; nosso amor é mais especial do que qualquer coisa. – Sabia que estava marcando território daquela forma, mas não podia mais negar que havia perdido um espaço importante no coração de Shun agora que o dividia com aquele cretin... aquele... amigo.

  Antes que Shun pudesse dizer se compreendera ou não, ele tirou o celular do bolso para ler uma mensagem.

- Só preferia que largasse essa coisa de vez em quando. – Ikki revirou os olhos.
- É que eu... eu me esqueci de algo no salão hoje de manhã. Será que podemos passar lá antes de sairmos? É rapidinho. – E lhe sorriu.

  Como reflexo, Ikki estreitou os olhos de desgosto. Era agora que ele ia acrescentar Hyoga à conversa, não? Principalmente depois de tudo o que lhe fora dito, Shun devia ver aquela como uma boa hora para contar tudo. Mas justo no lugar em que tudo começara? Por outro lado, seria mesmo uma boa ocasião para fazer as apresentações formais e, considerando-se como o salão parecia inabitado com todas aquelas caixas, ninguém os interromperia.

  Ainda assim, tinha mesmo que ser naquele lugar empoeirado? Não seria melhor em um restaurante? Num bar? Não se incomodaria em passar o dia bebendo saquê com seu novo cunhado. Desde que não incluísse vodca.

  Ikki seguiu Shun e começou a se sentir contagiar pela ansiedade que o outro não conseguia camuflar. Ao menos, seria um dia bom. Poderia mostrar como era um irmão compreensivo, que o amava acima de qualquer coisa. Mesmo acima do quanto não suportava aquele russo safado.

  Então, Shun abriu a mesma porta do dia anterior. Vindo do interior do recinto, um brilho forte cegou Ikki momentaneamente, e um barulho alto de explosão o pôs em alerta. Como aquilo podia estar acontecendo?

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Para a pessoa com quem mais me importo. Shun”, dizia o cartão aberto em uma de suas mãos, enquanto a outra segurava uma caixa bastante familiar contendo a infame churrasqueira.

- Achei que o Ikki ia nos atacar ou algo assim quando explodimos a serpentina! – dizia Seiya entre risadas.
- Ele realmente parece assustado na foto. – Shiryu passava adiante a máquina digital com sua foto tirada quando Shun abrira a porta do salão para a sua festa surpresa de aniversário.

  Ikki conteve um resmungo e olhou incrédulo para seu irmão.

- Então, você estava escondendo mais coisas...
- Hã? – Shun entortou o rosto, mas continuou sorrindo satisfeito.
- O Ikki já tinha visto o cartão - Hyoga o interrompeu, gargalhando. – E achou que era pra outra pessoa.
- Ué, como você viu, irmão?

  Era impossível não olhar para os dois à sua frente, e ele continuava sem entender nada. Hyoga, Shun...

  Foi quando o russo sorriu ainda mais aberto.

- Acho que ele entrou no seu quarto. – Hyoga estava se vingando daquela conversa, e deixava isso claro.
- Não tem como! – Shun deu um passo para trás. – Eu o tranquei justamente por isso!
- Oh. Ele deve ter arrombado!

  Agora alheio à provocação, Ikki ergueu as sobrancelhas.

  Teria classificado Seiya como o maior ator em toda aquela história se o próprio não lhe houvesse confessado estar sem saber de nada até minutos antes da surpresa. Tanto Saori como Shun vinham agindo de maneira levemente estranha, e Ikki não possuía nenhuma intimidade com Shiryu para perceber algo. Todavia, Hyoga ouvira todas as acusações e até se ajoelhara para pedir sua permissão para o namoro. O cavaleiro de Cisne, que devia ser o mais orgulhoso de todos, se pusera de joelhos apenas para não revelar a surpresa e mantê-lo no escuro?

  Era uma atuação, uma submissão formidável. Formidável demais.

  Heh.

- Eu abri com a chave; afinal, é o quarto do meu irmão. – Decidiu assim responder. Mesmo sabendo ter passado dos limites, a outra pessoa ainda era Shun.

  O mais novo apenas sorriu.

- Ainda bem que você não descobriu tudo, então! – disse Shun, rindo francamente.

  Ikki encheu a boca antes de prosseguir:

- É, o Hyoga ajoelhado pedindo minha permissão para ser seu namorado com certeza foi uma boa distração.

  Ah, o prazer de ver aquele loiro metido a galã engasgar com a própria saliva! Se fosse tão bom ator como queria ser, ao menos teria disfarçado melhor sua expressão de surpresa agora que tudo havia sido exposto. A única outra opção era...

  Shun olhou ruborizado para o amigo.

- Namorado? Como assim?
- E-eu...
- É uma pena, estava começando a gostar da ideia de ter um cunhado - mentiu Ikki, enquanto se afastava.

  Precisava tomar um ar longe de todas aquelas pessoas. E havia tantas ali. As crianças do orfanato, a tal da Mina, Mika, Mako? A tal menina do orfanato, que até agradecera os ingressos, pois foram usados com uma das crianças como prêmio por suas boas notas no colégio. E o Santuário todo parecia ter vindo. É, ser um lobo solitário era um problema quando precisavam de convidados para encher uma festa.

- Enfim, entendi porque tive o err, prazer de sua presença na minha cola ontem.

  Ao ouvir as palavras direcionadas a ela, Saori, que havia acabado de resolver um problema qualquer de sua Fundação pelo celular, voltou-se para ele assustada.

- Alguém precisava garantir que eu não chegasse perto de desconfiar da festa que Shun vinha planejando.
- Maldita ideia que Seiya pôs na sua cabeça... – resmungou, servindo-se de uma taça de espumante e, de maneira automática, passando outra para ele. – Foi um problema conter o riso a cada “prova” que você encontrava dos dois. Sinceramente, era véspera do seu aniversário, você viu Shun num salão de festas cheio de caixas, um presente que você queria e um cartão!
- Bem, se não fosse nada, Hyoga não teria ficado quieto depois de dois socos. Nem ele é tão sangue frio assim para apanhar por nada.
- Socos? Dois?! Por isso não me deixou ir junto? – Ela parecia mais entretida do que assustada com a briga. – Bem, taí o Hyoga para você. Ele se importa mais com o Shun do que com a própria segurança. Teria sido mais fácil se você fosse não tão irracional assim e apenas esperasse a sua surpresa.
- Mas o Hyoga não estava mentindo. Tenho certeza de que não.
- Ikki, sua percepção já provou estar no nível da do Seiya. Digo, sua falta de percepção.
- É? Pois ela foi o bastante para perceber que Hyoga levou o Shun para ficarem a sós no jardim.
- Vá lá e constate que eles só são bons amigos. Quem sabe um dia você descobre também o que é isso?

  Decidido a provar que estava certo ao menos daquela vez, Ikki a puxou pelo pulso. De fato, vinha se sentido desolado depois que tudo lhe fora esclarecido. Ao menos, ele precisava ter razão sobre aquilo.

  Após empurrar a jovem até o lado de fora, eles desceram da sacada e andaram muito pouco até encontrarem um casal a se beijar. Saori ficou vermelha e tentou fugir de volta para o interior do salão. Em vez disso, acabou por chocar-se contra Ikki, e seu rubor se intensificou. Com um olhar da outra, ele entendeu a ordem para os dois saírem dali o mais rápido possível.

- Então, eles estavam juntos! – disse-lhe a jovem quando se afastou o bastante dos outros dois.
- Quem é tão desligado quanto a anta do Seiya agora? – Ikki sorriu. – Mas acho que não, se bem conheço meu irmão. E Hyoga não deve ser tão burro assim para fazer algo com ele. Devia estar certo de que eu me oporia e de que Shun nunca faria algo que me causasse desgosto, né? Aí Hyoga nunca tinha agido até agora. – Seu sorriso de autossatisfação se alargou.

  Afinal, ele era a pessoa mais importante para Shun. Ganhara um cartão que assim dizia e nunca mais duvidaria disso. Mas Saori interrompeu esse momento de vitória:

- Tecnicamente, Shun está beijando uma pessoa que ele não sabe que você aprova, né?
- É claro que ele sabe, eu fiz questão de detalhar como Hyoga se ajoelhou.
- Essa história toda não te ensinou nada? – Saori voltou seus olhos para ele e o encarou intensamente. – Sabe, a festa, a surpresa e todo o engano...
- Que o Shun gosta mais de mim do que eu imaginava?

  A moça riu divertida, tal como fizera algumas vezes na véspera. Quando Ikki começava a desistir de pensar em alternativas, ela tornou a falar:

- Como eu disse antes, você está no nível do Seiya. – E estendeu sua mão direita. – Mas deixa isso pra outro dia. Que tal dançarmos?
- Eu? Dançar?

  Parecendo ignorar sua resposta, Saori o enlaçou pelo braço e o puxou de volta à festa.

FIM!

Anita, 02/12/2012

Notas da Autora:

Nossa! Eu terminei! Depois de estender meu prazo final autoimposto algumas vezes, consegui chegar ao fim. Realmente, não tenho muita confiança no que fiz, mas foi divertido brincar um pouco com o Ikki. A situação era bem inusitada. Espero ter mantido todo mundo bem caracterizado apesar de tudo.

Comentários, dúvidas, críticas e sugestões são muito bem-vindos, por isso não deixem de me mandar. Se precisarem, meu e-mail de contato é Anita_fiction@yahoo.com Caso tenham gostado e queiram mais, minhas histórias ficam no meu site Olho Azul: HTTP://olhoazul.50webs.com Caso o endereço não funcione, é só jogar o nome do site em alguma busca junto com a palavra “fics”; ele vai estar online em algum lugar, rs.

Muito obrigada por lerem até aqui. Ficou o dobro do tamanho que previ e mesmo assim me pareceu corrida, he he. Um agradecimento especial à Vane pela revisão.

E até a próxima!

Para Andréia Kennen:

Agora enfim posso apresentar o meu presente original deste coculto e acho que o que mais me deixa nervosa, rs. Bem, pela segunda vez nos cruzamos nos eventos da comu, mas é a primeira no Coculto e foi uma honra! Confesso que este não foi seu pedido que me laçou, mas, se eu já não tinha muita confiança neste, para o outro (de Kimi to Boku) não foi o bastante nem para sair da fase de brainstorming, pois a história morreu no início do planejamento. Tantas tramas interessantes entre seus pedidos, mas esta foi a única que realmente nasceu.

No pedido não foi especificado que você realmente queria yaoi. Por isso, eu me dei ao luxo de fazer algo mais dúbio (ao menos até o final, rs), até porque achei que seria mais legal fazer algo do ponto de vista do Ikki. Mas, claro, eu TINHA que pôr o Hyoga. Espero não ter esticado demais as possibilidades. No meio da história, fiquei em dúvida se você queria que o segredo do Shun tivesse a ver com o Hyoga ou apenas que o Ikki descobrisse algo relacionado a ele. Fui pela opção mais divertida, que é o Ikki descobrindo o abraço dos dois.

A presença da Saori surgiu de uma das vezes em que reli o pedido e você comentava sobre ele ter a ajuda de alguém. Claro que o primeiro Robin que veio pro meu Batman tinha sido o Seiya (pobre Ikki xD), mas depois notei que pôr a Saori poderia ser interessante, já que você não é contra o par. Aos poucos, foi surgindo um clima no meio das minhas anotações, he he. Como não era o foco da história, não pus nada além da dança, já que os dois também demorariam anos para se acertar. Mas né? Tão no caminho, rs. E claro, o pedido de o final ser a surpresa foi o que me fez ouvir “aleluia” na cabeça quando comecei a ler o tema: surpresa, surpresa do Shun... Foi dois mais dois fazer essa conta.

Em suma, espero que tenha ficado algo divertido, mesmo eu não sendo muito boa em comédia. Ao menos, foi muito divertido montar esta história toda, enquanto eu me sentia uma bully do Ikki, rs.

Muitos beijos e até a próxima!



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