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[Saint Seiya] O Primeiro Dia de Verão, escrita por Madam Spooky

Capítulos: único
Autora: Madam Spooky
Fandom: Saint Seiya
Classificação: Livre
Gênero: drama
Resumo: Shion dá uma volta pelo Santuário e reflete sobre as mudanças que aguardam o local em um futuro que ninguém esperava que fosse possível.

Disclaimer: Minha conta bancária está sempre me lembrando de que Saint Seiya não me pertence.
Notas: Eu tentei deixar os personagens o menos OOC possível (embora não tenha resistido a uma pequena cretinice com o Afrodite no final), então peço desculpas se aconteceu, não foi intencional.

Esse fanfic segue a popular premissa de que após a batalha de Hades, Athena ressuscitou a maioria de seus Cavaleiros e todos seguiram suas vidas esperando pelo melhor. Meu conhecimento sobre essa batalha sofre de uma grande falta de detalhes devido aos muitos anos desde que li o mangá de Saint Seiya, então peço desculpas por qualquer exagero no que se refere aos estragos causados nas doze casas.

Por último, considere que tudo isso aconteceu durante a época em que a série original foi lançada, quando um fax ainda constava como exemplo de avanço tecnológico, haha. Obrigada por ler. :)



Para Dragon Banu


História escrita para o Coculto, um amigo oculto de fanfics promovido pela comunidade Saint Seiya Super Fics Journal.



Depois de uma semana de chuvas fortes, o sol finalmente nasceu sobre o Santuário. Shion caminhou até a janela com o alívio de um homem que sempre favorecera o verão e por algum tempo observou a paisagem em silêncio. Abaixo dele, em doze níveis construídos simetricamente um abaixo do outro, as doze casas jaziam com a dignidade de uma construção milenar que sobrevivera a mais do que sua cota de deuses loucos com ideias megalomaníacas, embora dessa vez em um estado que quase se podia chamar de ruínas. Seus habitantes provavelmente já tinham se dirigido às áreas de treinamento, com exceção daqueles cuja presença era necessária em outra parte do mundo no momento e, é claro, Afrodite, cuja silhueta podia ser vista agachada em seu jardim de rosas, trabalhando freneticamente para minimizar os danos sofridos, enquanto assobiava o que soava como uma versão desafinada de Summertime. Pelo menos ele tinha parado de amaldiçoar os espectros em voz alta, pensou Shion com um meio sorriso.

De bom humor, o antigo Cavaleiro de Áries atravessou o cômodo e alcançou a porta, enumerando mentalmente suas obrigações para aquele dia. Desde que Athena confiara-lhe outra vez a posição de Grande Mestre, sua prioridade vinha sendo a reconstrução do Santuário, cujo processo continuava em fase de avaliação. Em sua defesa, não fazia mais de três semanas que Hades tinha sido devidamente enviado de volta para o buraco ao qual pertencia e a decisão da deusa de trazer de volta à vida seus Cavaleiros, embora uma demonstração de compaixão e da sincera afeição que ela tinha por seus protetores, não viera sem sua parcela de problemas. Nem mesmo a jovem Saori Kido era ingênua a ponto de acreditar que uma visita ao mundo dos mortos tinha libertado todos os Cavaleiros dos vícios e ideias perigosas que alguns tinham adquirido durante o domínio de Ares e determinar quais deles eram completamente confiáveis era uma tarefa que levaria algum tempo.

Depois de trocar algumas palavras com os seguranças estacionados às portas do Templo de Athena, avisando que se ausentaria pelo resto da manhã, o Mestre se dirigiu à escadaria das doze casas, onde poderia dar mais uma olhada no estado físico dos prédios e então seguir adiante, até as arenas. Assistir ao treinamento dos cavaleiros lhe ajudava a pensar e, algo que ele nunca admitiria em voz alta, lhe proporcionava alguma diversão combinada a um inconfundível sentimento de nostalgia. Era ainda uma oportunidade de observar o comportamento dos cavaleiros, embora ele soubesse que nenhum deles deixaria transparecer nenhum pensamento sinistro, se fosse o caso de estes existirem. Seguindo essa linha de raciocínio, seus olhos foram atraídos automaticamente para algumas casas abaixo, onde a morada do Cavaleiro de Câncer se erguia inocentemente no meio das outras. Olhando de fora era difícil de imaginar tal construção decorada com as cabeças de centenas de inocentes assassinados pelo próprio Câncer e exibidas como troféus em um cenário de horror. Máscara da Morte era um dos Cavaleiros que precisaria manter sob vigilância. Tais tendências homicidas não simplesmente desapareciam com um papel de parede novo.

Já atravessava a Casa de Leão quando voltou a prestar atenção no ambiente à sua volta. Começou a fazer notas mentais dos estragos que ainda via. Duas colunas fragmentadas no salão de entrada... O teto da Casa de Gêmeos tinha simplesmente desaparecido... Talvez tivesse sido bom que a Casa de Câncer tivesse sofrido danos tão severos. O ambiente ali dentro nunca tinha sido muito habitável... E que surpresa agradável que a Casa de Touro já estivesse em um estado tão avançado de reconstrução. Pensando bem, não devia ser surpresa nenhuma; Aldebaran sempre se interessara por trabalhos manuais e, dos Cavaleiros de Ouro, era um dos menos inclinados a reclamar...

Quando chegou às arenas, o sol já estava alto no céu. Aquele era apenas o primeiro dia de verão, mas não havia nenhum sinal da chuva que caíra nos dias anteriores. A terra estava seca e o vento era um hálito quente arranhando seu rosto em aparições esporádicas. Dentro da área de treinamento, duas duplas competiam pela atenção do público que, embora escasso, era formado principalmente por aprendizes e aspirantes à posição. A maioria deles, sendo ainda muito jovem, acompanhava os exercícios com um misto de medo e fascinação.

Shion sorriu ao identificar as amazonas de Águia e Ofiúco como a dupla mais observada. Ultimamente elas vinham sendo vistas frequentemente treinando juntas e ele só podia sentir alívio por essa constante camaradagem.

Assistiu-as por algum tempo; ambas demonstravam movimentos rápidos e bem articulados, embora suas estratégias não coincidissem. Enquanto Marin não parecia ter pressa para atacar, estudando o adversário, Shaina demonstrava uma maior inclinação nesse sentido. O Mestre suspirou, pensando que o entusiasmo da Amazona de Ofiúco ia muito além de sua técnica em batalha. Ela era sempre a primeira a dar sua opinião quanto à forma como Athena – Saori Kido – conduzia o Santuário. Nada que cruzasse a linha do desrespeito e ele tinha que concordar que alguns decretos de Athena pareciam... modernos demais para a disposição de um homem velho como ele. Não que tivesse alguma ilusão de que poupar sua sensibilidade fosse a razão pela qual Shaina abria a boca em primeiro lugar, pensou divertido. Marin, por outro lado, estava entre aqueles contentes com o período de paz que viviam e até então não dera qualquer indício de insatisfação. As duas constavam em sua lista de Cavaleiros confiáveis e ele só esperava que a recente requisição que ambas fizeram por novos aprendizes não trouxesse de volta a antiga rivalidade.

Do outro lado, na parte mais afastada da arena, Aioria de Leão e Camus de Aquário estavam engajados em um treino semelhante. Leão, porém, apenas desviava dos golpes com indiferença. Shion sabia que aquilo se devia em parte à nova rotina do Santuário, que não prometia qualquer tipo de excitação em um futuro próximo, mas principalmente ao fato de que Aioros não tinha sido resgatado do mundo dos mortos junto com os outros Cavaleiros. Depois de tantos anos nas profundezas do Hades, nem mesmo Athena fora capaz de alcançá-lo. Realmente lamentável. Precisava enviar Aioria em missão assim que fosse possível. Sabia que o próprio se recusaria a princípio, argumentando que sua presença era necessária no Santuário naqueles primeiros momentos, quando nem mesmo Athena tinha certeza quanto às intenções de certos Cavaleiros, mas ele seria firme em sua decisão. Aioria de Leão se beneficiaria de um tempo afastado.

Além disso, ele podia contar com Camus. O Cavaleiro de Aquário era a própria definição da retidão, embora um pouco radical em sua defesa das antigas tradições. Sabia que ele estava tendo dificuldades de conciliar as ideias de Athena para a modernização do Santuário – o pobre rapaz parecera chegar muito perto de ter um aneurisma quando Saori mencionara, na última reunião, que as regras relacionadas às máscaras das amazonas pareciam um drama desnecessário em pleno século XX. Se Aquário sobrevivesse ao decreto que seria publicado na próxima semana, liberando os Cavaleiros de seu suposto voto de castidade, Shion estava seguro de que ele estaria no caminho certo para se tornar um dos mais prováveis candidatos ao posto de próximo Grande Mestre. Isso, claro, na hipótese de que alguma garota de personalidade não desse um jeito de direcionar a paixão com que o Cavaleiro defendia suas ideias conservadoras para ela mesma...

Balançando a cabeça para se livrar do que considerava as ideias tolas de um homem velho com muito tempo livre, Shion decidiu voltar ao seu quarto mais cedo, onde poderia se ocupar analisando alguns papéis até que os servos anunciassem que serviriam o almoço. Quem diria que proteger a humanidade geraria uma quantidade tão grande de trabalho burocrático? Mas Athena insistia que tudo deveria ser registrado e catalogado para as futuras gerações. E quem melhor para tomar conta de tudo aquilo que o Grande Mestre em pessoa? Para ser justo, ela tinha se oferecido para enviar alguns secretários para ajudá-lo, mas ele tinha sido firme em sua recusa. Os assuntos do Santuário não deveriam ser conhecidos por pessoas de fora. No final a deusa acabara concordando com seu argumento.

Talvez devesse sugerir que seria uma boa ideia se os Cavaleiros de Bronze viessem à Grécia por uma temporada. Eles sim seriam uma boa opção como ajudantes e, afinal, o que tanto faziam fora do Santuário durante tanto tempo quando nenhum deles mostrara muito interesse em ser treinado para realizar missões? Ikki de Fênix era um caso perdido, a própria encarnação da insubordinação, pensou, massageando as têmporas; Shiryu e Hyoga pareciam sempre atraídos de volta aos seus locais de treinamento, não importava por quanto tempo fossem obrigados a se afastar; quanto aos outros, Shun estava feliz vivendo como um civil, enquanto Seiya permanecia ao lado de Athena, com a desculpa esfarrapada de protegê-la... desculpa que ela ficava feliz em corroborar... Ao menos ele tinha a certeza de que todos voltariam em um piscar de olhos se o mundo fosse novamente invadido por forças antagonistas. Sim, era melhor descansar com aquela certeza e ignorar todo o resto.

A subida pelas doze casas foi ocupada por pensamentos sobre o futuro. Aquela geração de Cavaleiros viveria mais do que qualquer uma das gerações passadas e ele ainda não tinha certeza dos prós e contras que isso acarretaria. Uma coisa era certa: Athena estava disposta a tornar a nova vida dos Cavaleiros – e por extensão, a dele – mais moderna e flexível. Ela até mesmo tinha instalado um fax no salão do Grande Mestre. Um fax! O que ele ia fazer com aquele monstro cheio de botões?

Ao passar pela Casa de Peixes, Shion notou que Afrodite estava parado nas escadarias que a ligavam ao Templo, já estudando como reconstruir o jardim de rosas mortais que costumava cobrir os degraus. Ao vê-lo, o Cavaleiro não demorou a abordá-lo, falando sem parar sobre o absurdo orçamento de restauração das doze casas e como era absolutamente necessária a construção de uma fonte com estátuas de sua deusa homônima no centro de seu jardim particular. E o que dizer dos espelhos? Sua coleção de duzentos e cinquenta e três espelhos tinha sido espatifada durante o confronto com aqueles malditos espectros e ele vinha tendo que cuidar dos detalhes da manutenção de seu belo rosto apenas com um espelhinho de mão...

Shion sorriu com a tranquilidade de um homem em paz com suas obrigações. Afinal, aquele ainda era o primeiro dia de verão.

FIM

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