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[Saint Seiya] Flores de Cerejeira, escrita por Linanime

Capítulos: único
Autora: Linanime
Fandom: Saint Seiya
Gênero: Romance, drama, tragédia
Classificação: 12 anos
Status: Completa
Resumo: Após derrotar Hades, Athena consegue que seus cavaleiros voltem à vida. Porém, em meio à felicidade geral, a sombra da tristeza permanece sobre um dos cavaleiros. Kanon tenta resolver o mistério e descobre um vazio no coração de Saga que talvez jamais possa ser preenchido.

Notas da Autora
História escrita para o SAOF, um desafio promovido pela comunidade Saint Seiya Super Fics Journal.

Bom, espero que gostem da fanfic. Fiquei com um pouco de pena do Saga enquanto escrevia. Mas era para ser sofredor até o final, né? Acho que deixei um pouco de felicidade pairando pela fanfic!

Só para facilitar o entendimento da leitura, caso haja dúvidas, a fanfic apresenta flashbacks. Enquanto as cenas presentes estão com letras normais, as que são das lembranças de Saga estão em negrito. Então, boa leitura!

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Após a luta contra Hades, Saori conseguiu ressuscitar seus cavaleiros e tudo voltou ao normal no Santuário. Vários rostos felizes cumprimentavam-se e palavras carinhosas eram pronunciadas. Mas em meio a tanta alegria, Kanon percebeu que o sorriso de seu irmão não era como o dos outros; estava carregado de tristeza e seus olhos pareciam muito distantes.

Querendo descobrir o que deixava Saga com essa expressão, Kanon tentou perguntar aos demais cavaleiros o que havia acontecido com seu gêmeo no Santuário nesse tempo em que eles não se viram. Após os relatos falando sobre a atuação de Saga no Santuário, Kanon chegou à conclusão de que ele estava arrependido de algo. Seu irmão estava triste e cheio de remorsos que por algum motivo não conseguia resolver.

Suspirou enquanto pensava em algo para animar o irmão. Então percebeu o cavaleiro saindo do Santuário e resolveu seguí-lo. Quem sabe assim não encontraria a resposta para o sofrimento do irmão?

Saga caminhava calmamente para fora dos limites do Santuário, certamente sem sentir o cosmo que o seguia. Parecia não perceber nada ao seu redor. Estava em transe? Estava pensativo? Kanon não sabia dizer.

Uma vila próxima era o local para onde se dirigia o cavaleiro. Saga subiu uma colina e bem no topo havia uma árvore, uma cerejeira, repleta de lindas flores com pétalas rosadas e delicadas, algumas ao chão, outras ainda na copa da árvore. O cavaleiro aproximou-se com tristeza na face. Tudo ali o fazia lembrar-se dela: o perfume, as flores, a colina, tudo o martirizava e reabria as feridas antigas.

—Foi tudo culpa sua! — gritou uma garota, subindo a colina correndo. — Você tirou a chance de ela sobreviver. Não deveria ter tirado ela do hospital, não deveria ter existido nesse mundo e na vida dela!

A garota parou no meio do caminho, ofegando. Gritar e correr cansava muito, ela teria que admitir. Mas precisava encontrar aquele homem e mostrar-lhe a verdade.

Kanon observou aquela figura parada. Como ela poderia dizer coisas sem sentido algum ao seu irmão? Palavras crueis, carregadas de acusações que afetaram diretamente o cavaleiro de Gêmeos. Kanon desejava correr até aquela garota e fechar sua boca com força bruta.

Saga permanecia em silêncio. As lágrimas começavam a brotar dos olhos do cavaleiro e cair, molhando as pétalas de cerejeira no solo e a flor que estava em sua mão, aquela bela flor delicada que o fazia lembrar-se dela. Mas afinal, quem era ela?

Ela era uma flor de cerejeira. Ela fora um refúgio para o cavaleiro de Gêmeos. Ela fora a pessoa que confiara nele e nunca o culpara pelos atos ruins que cometera quando era Ares. Ela não estava mais ali para abraçá-lo carinhosamente e dizer “obrigada por estar aqui”.
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Fazia apenas alguns dias que havia feito algo cruel: matara o Mestre do Santuário e ocupara seu lugar. Estava abalado e arrependido. Depressivo, angustiava-se por ter sido capaz de tal ato.

—Não fui eu! – pensava, tentando acalmar-se.

Era a primeira vez que fugia do Santuário daquela forma. Chegou até uma vila próxima e parou perto de uma colina.

As lágrimas brotavam de seus olhos e corriam por seu rosto. Por quê? Porque tinha que ser ele? Saga chorava em meio a um turbilhão de pensamentos e um único sentimento de tristeza, um vazio em seu peito que talvez nunca pudesse ser preenchido.

Sentiu algo tocar seus cabelos; pequenas mãos abraçaram-no sem nem mesmo pedir permissão. Como uma mãe embalando um filho pequeno, aquela pessoa tentava reconfortá-lo com um calor humano e carinho de que o cavaleiro sentira falta por muito tempo.

Percebendo que estava frágil frente a uma desconhecida, Saga cuidadosamente afastou-se. Observou um par de olhos mel encarando-o com ternura e um sorriso naquela face pálida que iluminou sua vida. Um lenço cobria a cabeça da pessoa; não havia sinal de cabelos, mas havia muito amor naquele sorriso.

—Está melhor? - perguntou a garota.

—Sim - falou o cavaleiro, sentindo o rosto arder.

—Vai passar, esse sentimento ruim vai passar, então não tente lutar contra ele sozinho. Se tivermos ajuda dos outros, ele vai passar - falou ela, levantando-se e colocando um colar de flores de cerejeira no pescoço do cavaleiro enquanto sorria.

O cavaleiro ficou perplexo ante aquele gesto e tentou sorrir, mesmo que fosse um sorriso triste. Recebeu outro sorriso de volta e um “bom menino” acompanhado de um carinho que bagunçou seus cabelos.

A jovem caminhou calmamente. Foi então que ele percebeu tratar-se de uma moça não muito alta, trajando um longo vestido semelhante ao usado em hospitais.

A garota começou a tossir e caiu de joelhos. Ele correu para tentar ajudá-la. Logo surgiu alguém do hospital próximo, procurando a paciente fugitiva.

Saga levou a garota nos braços e depositou-a na cama do quarto onde deveria estar. Ela sorriu, a face mais pálida que antes, algumas lágrimas formando-se nos olhos mel e caindo logo em seguida.

—Pode voltar para me ver quando quiser - falou ela.

—Voltarei se não chorar mais - falou ele calmamente, mas angustiado por dentro.

—Pararia se pudesse, mas meu corpo doi – ela disse, expressando dor na voz. 

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O cavaleiro de Gêmeos caiu de joelhos em frente à cerejeira, local onde pudera encontrá-la tantas vezes sorrindo, mesmo em meio à dor, mesmo em meio ao sofrimento que ela passava naquele hospital. Ela sempre aliviava o peso que o cavaleiro levava sobre os ombros com as palavras doces, com as mãos repletas de amor, com aquele calor que derretia o gelo que o envolvia, com os sentimentos que foram preenchendo o vazio que estava em seu coração.

—Minha irmã morreu por sua culpa - falou a garota, quase chegando ao topo.

—Não fale com ele assim - Kanon resolveu enfrentar a garota que atacava seu irmão com aquelas palavras.

—Ele matou uma inocente. A culpa é dele! - gritou ela, com lágrimas nos olhos.

Saga olhou na direção do irmão e da garota. Ela tinha razão: a culpa era dele.
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—Eu ainda não sei seu nome - falou aquela doce voz por debaixo de um véu de flores enquanto o cavaleiro se aproximava.

—Saga - disse ele sério.

—Muito prazer, meu nome é Mel - falou ela sorrindo.

Não conseguia parar de voltar àquele local. Sempre que sentia que o sofrimento iria sufocá-lo, corria para aquela colina e sempre encontrava a fugitiva lá, esperando por ele, auxiliando-o a suportar sua dor e ouvindo seus relatos pacientemente.

Naquele dia, um funcionário do hospital chegara mais cedo que de costume e avisara que ela não iria mais conseguir fugir. Ela havia pedido a Saga que a tirasse do hospital, porque ela amava ver aquelas flores, que a ajudavam a acalmar-se e pensar que tudo poderia melhorar.

—Obrigada por vir aqui! Eu fico muito feliz por você existir, então sempre volte para mim – ela sempre dizia enquanto era arrastada de volta para o hospital.

Ele cumpriu o pedido desde então: raptava a garota pela janela e levava-a à colina para ficar observando a cerejeita.

Um dia ela contou algo especial: chegaria à vila um doador; finalmente haviam conseguido um doador para ela. Ela tinha leucemia e sem um doador iria morrer, mas suas esperanças nunca tinham acabado e finalmente seu desejo estava para se concretizar.

—Saga, daqui a um mês eu provavelmente estarei completamente boa. A primavera está chegando. Então, venha me visitar! Eu poderei correr entre as flores e quero fazer isso com você - falou ela sorrindo.

—Eu voltarei - disse ele, sorrindo sinceramente pela primeira vez.

Mel ficou tão feliz que pulou no pescoço dele. Aquela presença o fazia muito feliz.

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—Kanon, não brigue com ela. Essa jovem está certa, eu matei a irmã dela - falou Saga, olhando-o.

—Mas... - tentou retrucar o gêmeo.

—Eu matei-a sem mesmo perceber. Eu destruí a chance de sobrevivência dela quando a tirei do hospital, onde poderiam tê-la mantido viva. Não percebi que estava assinando a sentença de morte dela - explicou Saga, com os olhos lacrimejando e a voz um pouco diferente.
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Saga demorou mais de um mês para voltar ao hospital, pois Ares fizera muitas coisas erradas ao perseguir os cavaleiros de bronze. Muitos inocentes haviam sido mortos. Ele não tinha coragem de ir vê-la. Sabendo toda a dor que fizera os outros sentirem, precisava levar o seu fardo sozinho. Mas este tornou-se tão pesado que Saga por fim caminhou até o hospital e entrou pela janela do quarto dela.

Mel não dormia. Estava com a face triste e um pouco pálida, mas aquele pesar desapareceu e deu lugar a um enorme sorriso quando o cavaleiro surgiu na janela.

—Você veio! - falou ela sorrindo.

—Desculpe-me... - falou ele, carregado de dor.

—Vamos ver a cerejeira, Saga. Ela está cheia de flores. Eu queria ir vê-la junto com você, então fiquei te esperando – ela disse.

Mais uma vez ele tirou-a do hospital, levou-a até a cerejeira e observou-a correr e brincar com as pétalas que caíam.

Ela fez um colar de flores e colocou-o no pescoço do cavaleiro. Depois correu segurando as mãos dele, para que a acompanhasse.

Sentaram-se e ela ouviu o relato de Saga. Ele estava muito triste naquele dia. Ela deitou a cabeça dele no seu colo e fez-lhe carinhos, dizendo que aquele sentimento iria passar.

Um vento forte começou no final da tarde. O cavaleiro adormecera com as carícias dela. Ao sentir o frio, lembrou-se de levá-la de volta antes que alguém viesse e passasse um sermão nos dois.

As flores de cerejeira se desfizeram no seu pescoço. As mãos delicadas ainda sobre a sua cabeça não se moviam; ela deveria estar dormindo.

Saga tocou o rosto dela para acordá-la e percebeu que ela estava fria. Seu coração não batia; seu tórax não se mexia. Ela tinha deixado aquele mundo. 

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—Eu a trouxe para ver as flores de cerejeira, mas não sabia que o doador não tinha aparecido e aquele poderia ser seu último dia de vida. Ela esperou por mim, pois desejava ver-me uma última vez. Ouviu meus relatos dolorosos e fez-me dormir em seu colo para não vê-la partindo - Saga disse, chorando como uma criança.

O Mestre do Santuário havia causado acidentes e aquele doador morrera em um deles. Não houvera tempo para encontrar outro.

Ela escrevera uma carta para ele antes de morrer. Na carta, ela o agradecia pelas visitas, por ele levá-la à cerejeira e não o culpava por ter perdido o doador. Ele fora um fio de esperança em sua vida e ela podia dizer a ele com alegria:

“Obrigada por você existir!”

As lágrimas caíam do rosto de Saga e da garota. Kanon tentava não chorar, mas as lágrimas desceram teimosas depois que ele terminou de ler a carta.

Um vento forte passava, levando consigo diversas pétalas de cerejeira, como no dia que ela se fora. O mesmo vento que tirara Mel de Saga. O vento que o lembrava de seus atos e aumentava a dor em seu peito, dor essa que ele não poderia esquecer e que lhe causava aquele vazio que somente Mel poderia preencher.

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