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[Sailor Moon] O Pedido, escrita por Madam Spooky

Capítulos: único
Autora: Madam Spooky
Fandom: Sailor Moon.
Classificação: Livre.
Gêneros: Humor/Romance, het.
Resumo: Pedir Serena em casamento não parece estar no topo da lista de prioridades de Darien. Pelo bem do Universo, ela precisa fazer algo a respeito.
Avisos: Isso não é um AU, mas você pode considerar como se estivesse acontecendo nos dias atuais. Vale mencionar que, apesar de ter visto o anime, isso foi há muito tempo e estou me baseado PRINCIPALMENTE no mangá, em especial quando se trata das personalidades de algumas cofReicof personagens.
Disclaimer: Sailor Moon não me pertence. Eu sei, é chocante.
Notas: História escrita para o Coculto, um amigo oculto de fanfics promovido pela comunidade Saint Seiya Super Fics Journal.

Ok, esse é o meu primeiro fanfic de Sailor Moon - um fandom com o qual eu nunca achei que me envolveria até alguns meses atrás I regret nothing. Sendo assim, as desculpas habituais: erros, possíveis atitudes OOC dos personagens, mais erros...

E a vítima da vez é: Felipe Poseidon.



Já faz quase dez minutos que eu encaro o formulário quase todo preenchido quando a mulher do outro lado do balcão começa a fazer um ruído irritante com a garganta.

- Ah... Senhorita?

Meus olhos se erguem imediatamente para o rosto dela. Senhorita, esse é o meu problema. Mas qual é o problema dela? Será que não pode ter um pouco mais de tato?

- O que? - pergunto mais rispidamente do que pretendia.

Ela deve ter visto o fogo nos meus olhos porque recua alguns centímetros e dá um sorriso sem graça ao mesmo tempo em que tateia a procura do telefone.

- Só estava checando se havia algum problema com o formulário.

Ela olha para o relógio de parede e para o grupo de mulheres esperando na recepção, todas olhando na minha direção com expressões que variam de tédio a raiva assassina. Acho que a pergunta certa é: qual o problema de todo mundo hoje? Nós estamos em uma academia pelo amor de deus. Ninguém vai me convencer de que não podem esperar mais de dez minutos porque estão todas desesperadas para fazer exercícios.

Olho para o formulário novamente. A maldita coisa tem duas páginas inteiras de perguntas pessoais. O que eles vão fazer com isso? Escrever um mangá sobre a minha vida? Eu não me importei muito em responder o meu peso (quem ia saber se eu diminuísse um ou dois quilinhos?); meu histórico médico também não é um segredo, nem lembro a última vez que fiquei doente; mas o que eles pretendem querendo saber sobre o meu ESTADO CIVIL?

Essa é a única pergunta que falta responder e ainda assim eu não consigo me obrigar a escrever a palavra solteira. Foi a mesma coisa no dentista, no cabeleireiro, no esteticista, até mesmo na locadora de filmes! Será que a cidade inteira precisa estar ciente do status do meu relacionamento?

Rabisco a resposta apressadamente e a entrego a recepcionista que a recebe aliviada. Me viro e estou atravessando os olhares de censura das mulheres esperando quando ouço o mesmo pigarrear que ela usou antes para me apressar, seguindo de um "Senhorita..." hesitante. Mais de uma mulher a minha volta revira os olhos enquanto eu me viro de sobrancelhas erguidas.

- A Senhorita não pode responder "É complicado" no campo "Estado Civil".

Os olhares de censura das outras mulheres desaparecem e agora eu posso ver mais de um sorriso condescendente. Alguém atrás de mim deixa escapar uma risadinha, o que não contribui para o retorno do meu bom humor.

- Por que não? - pergunto, cruzando os braços.

A recepcionista olha para todos os lados como se em busca de ajuda antes de responder:

- Ah... Porque "É complicado" não é um estado civil de verdade...?

Como assim não é um estado civil de verdade? Nós estamos juntos há quase seis anos - Seis anos! - e ficamos sabendo através da nossa própria futura filha (que voltou no tempo por razões que agora não vêm ao caso), que não só vamos nos casar como ficaremos juntos pelos próximos mil anos. E a única razão pela qual isso ainda não aconteceu é porque o namorado em questão não consegue desviar o rosto do microscópio tempo suficiente para fazer o pedido! Desafio qualquer uma dessas mulheres a me mostrar uma definição mais completa de "complicado".

Quando termino de elaborar essa explicação na minha cabeça, estou a beira das lágrimas. Darien! É tudo culpa do Darien! A recepcionista deve ter notado porque ela trata de dobrar o formulário rapidinho e guardá-lo junto com os outros.

- Seja bem vinda a nossa academia, Senhorita Tsukino.

- O-Obrigada... - consigo responder, ainda remoendo pensamentos nada gentis sobre o meu namorado.

Olho para a porta que leva aos aparelhos de ginástica e vou na direção contrária. Danem-se os exercícios. É de umas três bolas de sorvete com calda que eu realmente preciso.

* * *



Na dúvida entre sunday de morango e milk-shake de chocolate, acabo pedindo um de cada. Meia hora e muita calda depois, já me sinto um pouco melhor.

E dai que Darien ainda não me pediu em casamento? Eu sei que cedo ou tarde vai acontecer. E não é uma certeza do tipo "protagonista de novela se iludindo com o galã principal", está mais para "minha filha do futuro me contou". Se ele ainda não pediu é só porque está muito ocupado sendo um médico, vacinando criancinhas e colocando ossos de velhinhas no lugar. Afinal, mesmo que no futuro as pessoas não fiquem velhas, elas ainda podem quebrar ossos e ficar resfriadas, não? E tudo bem que eu não sei como ele vai fazer para conciliar a vida de rei com plantões de dezoito horas no hospital, mas quem é que está pensando nessas coisas? Se é o sonho do Darien, não serei eu a questionar as escolhas dele. Mesmo que elas façam menos sentido que o nosso inevitável casamento.

- Serena...?

Ergo meus olhos e dou de cara com a Rei. Maravilha, agora ela vai querer saber porque estou me empanturrando de sorvete ao invés de me inscrever na academia, como eu fiz questão de falar a semana toda que ia fazer. Meu dia continua melhorando.

- Oi! - sorrio falsamente, esperando que ela esteja com pressa e não tenha tempo de jogar conversa fora, ao mesmo tempo em que procuro uma rota de fuga.

- Você não devia estar na academia? - ela me encara com aquela expressão de "não adianta mentir, eu vou saber exatamente o que você está pensando" e eu me mexo desconfortavelmente na cadeira.

- Ah, houve um probleminha com o formulário, sabe - rio enquanto massageio a parte de trás do pescoço, algo que eu sei que faço quando estou nervosa ou mentindo, mas simplesmente não consigo evitar.

- Que tipo de probleminha?

Rei cruza os braços e estreita os olhos, obviamente não acreditando em uma palavra do que eu disse. Ela é tão assustadora. Porque não pode aceitar minha palavra como verdade absoluta e continuar cuidando da própria vida? Aposto que a Rainha Elizabeth não tem esse tipo de problema com seus súditos.

Mas é claro que Rei chutaria meu traseiro se eu ousasse falar uma coisa dessa em voz alta. Além disso, ela é minha amiga... E eu não posso deixá-la pensando que fugi dos exercícios no primeiro dia para me esconder na sorveteria sem que fosse uma emergência, mesmo que a única razão pela qual me inscrevi em primeiro lugar fosse para perder aqueles dois quilos não assumidos e ficar perfeita em um vestido de noiva Monique Lhuillier que vi em uma revista - e que eu poderia pagar facilmente se leiloasse um dos meus rins -, só no caso do Darien fazer a pergunta ainda nessa vida.

- É tudo culpa do Darien!

Quando dou por mim, estou contado tudo a ela. A Lua tem razão, eu realmente preciso começar a amarrar a minha língua.

Estou choramingando quando termino, mas quem é que pode me culpar? É um drama real, que afeta milhares de mulheres no mundo inteiro sempre que elas vão se inscrever em qualquer coisa que exija um cadastro! E elas nem mesmo viajam no tempo para ver o futuro castelo onde vão morar, nem sabem que o namorado é sua alma gêmea desde uma distante vida passada e que eles estão destinados a ficarem juntos, como eu.

- Espera ai um minuto - diz Rei, nem um pouco comovida. - Você fugiu da academia porque não queria escrever "solteira" no formulário de cadastro?

- Não tem nada a ver com ser uma academia! - protesto, embora não esteja lamentando a desculpa perfeitamente razoável para adiar o início da minha nova rotina de exercícios. - O problema é... É eles tentarem me hostilizar, jogando na minha cara que graças ao meu namorado médico insensível, eu provavelmente nunca vou me casar...!

Tudo bem, eu posso estar exagerando um pouquinho, mas não estava esperando ter que me justificar para nada além da minha própria imagem no espelho quando estivesse procurando as mudanças causadas por toda aquela calda de chocolate na minha silhueta.

- Ah sim, é uma terrível conspiração - Rei balança a cabeça lentamente.

- Claro que é!

- Serena...

- O que? - olho para ela com meus olhos molhados e cheios de esperança. Talvez ela entenda, talvez senta a minha dor. Ela é minha amiga, não é? E também é totalmente solteira. Ainda mais solteira do que eu, já que a última tentativa de um encontro foi um cara pela Internet que tinha pelo menos quarenta anos a mais do que dissera que tinha...

- Você andou misturando saquê nesse sorvete? - Rei empurra a taça quase vazia de milk-shake com o dedo.

Claro que ela não entende. Ela nem ficou chateada com a coisa do velho tarado. Só deu umas pancadas na cabeça dele e revirou os olhos como se aquele tipo de coisa acontecesse toda semana. Tenho certeza que ela não ficaria chateada se nunca se casasse. Afinal, está sempre dizendo como é patética o que ela chama de minha total dependência do Darien. E isso nem é verdade. Eu posso fazer muitas coisas sem a presença dele. O problema é que mudar o meu estado civil não é uma delas.

- Você só está falando assim porque não tem uma alma gêmea esperando para subir ao altar com você em algum momento dos próximos dois anos - resmungo. - E só para que fique sabendo, eu jamais estragaria um milkshake perfeitamente bom com essas substâncias viciosas.

- Deuses... Eu não acredito que sai de casa vinte minutos mais cedo para isso. - Rei resmunga de volta.

E ficaríamos aqui, trocando insultos velados o dia todo se ela não decidisse que não vale a pena e apenas girasse os olhos da maneira irritante que faz quando está desmerecendo os meus problemas.

- Você já disse isso a ele?

É minha vez de girar os olhos.

- Os homens não entendem essas coisas. Ele dificilmente notaria a conspiração dos formulários e...

- Não, sua idiota! - ela me interrompe. - Eu estou falando da coisa do casamento. Você já disse a ele que está tendo ataques por ai e assustando recepcionistas inocentes porque ele se recusa a se comprometer?

Pela cara dela, meu rosto deve estar refletindo todo o horror que eu sinto. Como assim falar para o Darien sobre casamento? Falar de compromisso não é maneira mais rápida de fazer um homem sair correndo? Pelo menos é isso que diz nove entre dez revistas especializadas no público feminino e ninguém escreveria uma coisas dessas se não fosse verdade.

- Você e o Darien terão que se casar ou não vai haver nenhuma Tóquio de Cristal ou Rini, certo? - disse Rei como se estivesse lendo os meus pensamentos. - E ele adora a Rini, não faria nada que colocasse em risco a existência dela.

Faz sentido... Darien realmente gosta da Rini... Apesar que não tenho certeza se quero que ele case comigo apenas para não correr o risco dela deixar de existir.

Espanto a ponta de ciúme irracional que sempre me atinge quando penso em Darien e Rini e sinto um sorriso começar a se espalhar pelos meus lábios. Ele tem que se casar comigo ou a Rini nunca vai nascer. Nem vai haver paz na Terra e no Universo, etc, etc. Rei tem razão, não é uma questão de "se", mas uma questão de "quando" e se o prazo para tudo aquilo acontecer está ficando menor e o Darien se recusa a sair do lugar, quer dizer que eu tenho que dar um empurrãozinho. Afinal, que tipo de rainha eu vou ser não tiver coragem de abordar o meu namorado exigindo providências para a consolidação do nosso futuro?

- Rei, eu nunca pensei que um dia diria isso, mas você é um gênio!

Ela não parece ficar muito emocionada com o meu elogio.

- Eu tenho tanta coisa para planejar... Tenho que arranjar um anel... Você acha que a minha mãe me emprestaria o dela? Claro que ela me emprestaria, o futuro do nosso planeta depende disso!

- Serena, o que é que...

- Obrigada, Rei! - dou um rápido abraço nela e saio correndo.

Ainda a ouço chamando o meu nome do lugar onde a deixei, mas não me viro. Já passa muito do meio dia e eu tenho um pedido de casamento para planejar.

* * *



Decidir fazer um pedido de casamento é mais fácil do que por em prática. Quer dizer, eu já vi um milhão de filmes e sei que basicamente só é preciso arrastar o Darien para um restaurante e ajoelhar com um anel de brilhantes. Claro que há algumas falhas nesse plano, como onde eu vou conseguir dinheiro para um anel como esse? - minha conta bancária está sempre no vermelho graças ao grande número de delicatessen na rua do meu apartamento, sem mencionar minha inabilidade de passar por qualquer vitrine que exponha enfeites em formato de gato sem levar todos; muitíssimo obrigada por isso, Lua.

Por falar em Lua, ela não fica transbordante de felicidade quando falo o que estou pretendendo fazer.

- Você não pode fazer isso, Serena - é o que ela diz, como se fosse algo óbvio.

- Mas eu tenho que fazer - respondo, no meu melhor tom implorante, pronta para expor a minha lista de motivos razoáveis. - O Universo...

- Por favor... - ela me interrompe - Como se você estivesse mesmo preocupada com o Universo. Isso é só uma desculpa esfarrapada porque a sua amiga Molly se casou antes de você.

O que eu tinha esquecido até o momento e não me faz sentir melhor sobre aquela história toda. Obrigada por isso também, Lua, minha voz da razão.

Sim, porque talvez ela esteja um pouquinho certa sobre o Universo não estar no topo da lista das minhas preocupações no momento, mas quem é que fica pensando nessas coisas quando está planejando um pedido de casamento? Quer dizer, não é como se o céu estivesse mudando de cor e um bando de sailors malignas estivessem descendo de pára-quedas para roubar meu Cristal Lunar. Uma coisa dessas não acontece há anos, não estou certa em mudar minhas prioridades?

- Isso não tem nada a ver com a Molly! - respondo. - E não importa em que posição o Universo está na minha lista de preocupações, se o Darien e eu não nos casarmos, coisas terríveis acontecerão, coisas terríveis!

- Como você morando nesse apartamento para sempre com um bando de gatos? - ela sugere docemente.

Lua só é doce quando está tirando uma com a minha cara, então simplesmente a ignoro.

- Minha mãe não quis emprestar o anel - esqueci que não podia contar a ela a coisa sobre o Universo depender do meu casamento. Além disso, ela é tradicional e achou um escândalo a minha idéia de propor antes do Darien, ao contrário do meu pai, que aprovou a idéia completamente. Levando em conta que ele nunca foi exatamente o maior fã do meu namorado, acho melhor não pensar muito no que isso significa.

- Como qualquer pessoa com um pouco de juízo faria - diz Lua. - Além disso, quem é que faz um pedido de casamento com um anel emprestado?

- Mas sou eu quem tenho que usar o anel! - protesto. - Eu só ia fazer o pedido, dai ele entenderia que só fiz isso porque ele estava muito ocupado para pensar no assunto e ai ele poderia me comprar outro...

- E ai você acordaria babando no travesseiro... Espere ai, você baba! Talvez seja por isso que ele não tenha pedido ainda.

Afundo na cadeira mais próxima e agarro a almofada em cima dela, encarando Lua com um beiço de protesto. Será que ela não pode ser uma boa amiga e me dar algum apoio moral nesse momento importantíssimo da minha vida?

- Você está sendo má sem nenhuma razão.

- Oh, sim, sem nenhuma razão...

- E você deveria me entender completamente, já que não vi o Artemis se animando para fazer o pedido também.

Luna ergue uma sobrancelha - ou o mais próximo disso que um gato consegue fazer - na minha direção.

- Artemis é um gato. Eu sou um gato. Gatos não propõem casamento.

- Isso pode valer para gatos comuns, mas vocês são gatos falantes - retruco. - Você só está com inveja que estou tomando uma iniciativa nessa questão.

- De pegar o anel da sua mãe e pedir o Darien em casamento, ajoelhando no meio de um restante, na frente de um monte de gente? Ah, sim, o sonho de todo homem crescido - Lua suspira, aparentemente perdendo a vontade de discutir. - E pelo visto você nem cogitou a idéia de que ele poderia dizer não...

Na verdade, não cogitei mesmo. Darien me ama. E me ama mais do que ao equipamento médico dele, já que nem ficou furioso quando eu acidentalmente quebrei aquele adipômetro em meio a minha revolta quando ele me explicou para que servia. Por que ele diria qualquer coisa diferente de sim? Além disso, eu vou iniciar o pedido lembrando todas as razões porque nós temos que oficializar a relação, começando por Rini e terminando pelo bem da Terra e do Universo. E ai ele pode me interromper, falando como nada disso importa diante do amor incondicional que ele sente por mim. Não tem como ser menos do que perfeito.

- Você poderia parar de tentar sabotar minha vida e fazer sugestões de como eu posso resolver o problema do anel.

- Para que anel? - pergunta Lua, debochada. - Você poderia apenas arrumar um formulário de casamento e fazer o Darien assinar. Ele nem ia ver o que o atingiu até ser tarde demais.

Abro a boca para protestar, mas volto a fechá-la. Até que há algum mérito no que Lua acabou de dizer. Não que eu tenha alguma dúvida que o Darien vai dizer sim, mas não doeria levar a papelada preenchida para ele assinar. Não é que eu esteja pensando em induzi-lo a fazer isso as cegas, de jeito nenhum. Eu só vou apressar as coisas como uma boa futura esposa, sabendo que ele é tão ocupado e está salvando vidas, pesquisando a cura de doenças e esse tipo de coisa.

- Serena, posso saber porque está sorrindo?

- Ah, Lua, você é a melhor gata que uma garota poderia ter.

E eu a abraço tão forte que ela ainda está tonta no meio da sala quando saio correndo; completamente incapaz de continuar me aconselhando.

* * *



Inacreditável o quão fácil é arranjar formulários de casamento. O noivo nem precisava estar saben... presente. Antes das nove horas do dia seguinte eu estou de volta no apartamento, lendo avidamente os formulários e tentando não olhar para Lua, que parece ter decidido que eu sou um caso perdido e passado a cochilar no sofá, me ignorando completamente.

Agora tudo o que eu tenho que fazer é ligar para o Darien e pedir que ele dê uma passada no meu apartamento. Assim que ele chegar, eu o convidarei para me levar a um restaurante e o resto se desenrolará naturalmente.

Coloco a mão sobre o telefone e hesito. Mas e se a Lua tiver razão? E se ele disser que não? Dificilmente o Darien esqueceu de todas as batalhas; nossas vidas passadas; nossa filha de novecentos anos... E se houver um motivo para ele não ter feito o pedido até agora? E se ele tiver decidido renunciar ao seu destino de príncipe para passar o resto na vida analisando lâminas em um laboratório? Ah meu deus, como ele pôde fazer isso comigo? E nem sequer tido a decência de me avisar? A Rei tem razão quando diz que os homens são todos uns cretinos, tratantes e...

O telefone toca repentinamente, quase me fazendo cair para trás. O agarro de um pulo, como se tivesse mais alguém tentando atender antes de mim, mas a única outra pessoa na sala é a Lua que continua pouco se importando com o que acontece a sua volta.

- Serena?

É a voz do Darien. Tão grave, mas doce e perfeita como ele. Como eu pude pensar por um único instante que ele não queria casar comigo? Dá para sentir no tom de voz que ele só não encontrou a maneira adequada de pedir e está praticamente implorando que eu faça isso por ele.

- Darien! Eu estava mesmo me preparando para te ligar.

Devo estar com aquela cara apaixonada que as meninas costumam dizer ser sinal de que perdi dois terços dos meus neurônios funcionais, porque Lua revira os olhos na minha direção e deita para o outro lado.

- Claro, acho que te devo desculpas. Nós quase não nos falamos nos últimos dois dias, mas as coisas estavam tão agitadas no hospital.

- Eu entendo.

Como não entenderia? Darien não telefonou antes porque estava ocupado salvando pessoas, embora eu tenha certeza que ele estava pensando em mim o tempo todo. Quando nos casarmos eu poderei telefonar para o hospital três vezes ao dia e a enfermeira da recepção vai anunciar um telefonema pessoal urgente para o Dr. Chiba e ele vai sorrir para o paciente da vez e falar "ah, é a minha esposa" e então...

- Serena, você ainda está ai?

- Estou! - me ergo em uma postura mais reta, me obrigando a parar de fantasiar e partir para a ação. - Eu estava só pensando se você não gostaria de vir até aqui e a gente poderia sair para jantar.

- Ah - ele faz uma pausa. - Isso seria ótimo, mas eu estava pensando se nós não poderíamos ficar ai mesmo. Eu tive que ajudar nessa craniotomia de emergência bem no final do meu turno e temo que se nós formos a algum lugar eu vou acabar dormindo por cima do menu.

Não sair para jantar? Mas o pedido tem que ser feito hoje! O meu apartamento está uma bagunça e eu queria poder dizer para os meus netos que houve velas e flores e mousse de chocolate com morangos no grande momento. E se o Darien ficar todo confortável no meu sofá e dormir como nas últimas dez vezes em que esteve aqui? Ele só fica lá parado, com os olhos semi-cerrados, respondendo sim a todas as minhas perguntas sem fazer a menor idéia do que...

- Perfeito! Eu posso providenciar o jantar.

- Jantar? Você vai cozinhar?

- Eu estava pensando em pedir alguma coisa - respondo de má vontade, não muito feliz com o tom nervoso da pergunta dele.

- Pedir, bom. Pedir está ótimo.

- Então você está vindo? - pergunto docemente.

- Estarei ai em meia hora.

* * *



A meia hora mais curta da minha vida.

Trinta minutos definitivamente não são suficientes para correr pelo apartamento recolhendo peças de roupas, folhetos de pizzarias e gatos de brinquedo. E eu ainda tenho que trocar de roupa, telefonar para o restaurante e dar um jeito de fazer com que a Lua vá procurar algo para fazer além de ficar me lançando olhares furiosos.

- Pelo menos você não vai armar um escândalo no meio de um lugar público quando ele perguntar que tipo de cogumelos você andou comendo - diz ela enquanto eu corro de um lado para o outro com os braços cheios de revistas e mangás.

- Lua, eu sou a sua princesa, você deveria estar me dando apoio moral! - grito do quarto, tentando desesperadamente enfiar as revistas debaixo da cama já lotada de coisas.

- Meu trabalho é aconselhá-la e sempre dizer a verdade - ela responde. - E essa é a idéia mais estúpida de todas as idéias estúpidas que você já teve.

- Vou provar para você que não há nada de estúpido na minha idéia. Darien vai chegar daqui a pouco e eu...

O som da campainha nos interrompe.

- Ah não! - grito.

Agarro Lua e a levo para o quarto, fechando a porta atrás de mim. Ela diz algo em protesto, mas eu estou muito ocupada me olhando no espelho de rosto da sala para prestar atenção. Darien chegou cinco minutos mais cedo e eu não tive tempo de fazer nada pela minha aparência além de jogar água fria no rosto e prender o cabelo no meu penteado habitual. Corro para o sofá da sala, onde eu tinha espalhado os formulários de casamento, e os junto de qualquer maneira, jogando uma almofada sobre eles.

Olho em volta; o apartamento parece mais ou menos decente. Vou até a porta, fingindo não ter pressa, e abro. Assim que me vê, Darien abre um sorriso que faz meu coração dar um pulo. Ele está perfeito como sempre e parece tão cansado quanto eu imaginei que estaria.

- Trouxe o jantar - ele diz, mostrando a sacola com embalagens de plástico que está segurando.

Eu saio da frente e ele entra, me dando um beijo ao passar. Como conseguiu chegar adiantado e ainda trazendo comida é algo que escapa a minha compreensão, mas esse é o tipo de coisa atenciosa que Darien costuma fazer. Felizmente para ambos, porque esqueci completamente do restaurante entre a tentativa de fazer com que objetos ocupassem o mesmo espaço debaixo da cama e a discussão com a Lua.

Eu tinha mesmo esquecido de providenciar a comida? Essa história de pedido de casamento está mesmo acabando comigo.

- Serena, leve a embalagem grande para a geladeira - fala Darien da cozinha, já vasculhando meu armário a procura de pratos. - Eu trouxe um pouco daquele mouse de chocolate com morangos que você adora.

Já mencionei como Darien é perfeito? Que outro homem passa quase quarenta e oito horas vendo fraturas expostas em um hospital e ainda lembra da sobremesa favorita da namorada? Eu seria uma idiota completa se não achasse absolutamente necessário que nos casássemos o mais rápido possível.

- Você não vai chamar a Lua para jantar? - ele pergunta assim que me vê entrar na cozinha.

- Ah... Ela está meio ocupada... Não se preocupe, a gente só precisa guardar um pouco para ela - dou uma risadinha que me entregaria em qualquer outra ocasião, mas Darien apenas dá de ombros, já abrindo as embalagens que ele tinha espalhado em cima da mesa. Ele parece pensativo, mas pode ser só porque está realmente cansado. E não cansado como quando ele cochila por quinze minutos em uma das cadeiras da sala e parece completamente bem depois, mas como quem corre o risco de cair de cara no sushi a qualquer momento.

Comemos em silêncio e mais uma vez fico impressionada por ele não fazer nenhuma pergunta. Pobre Darien. Deve estar dormindo de olhos abertos se não acha nada estranho na falta da minha animação habitual. Mais de uma vez tento começar uma conversa, mas ele não parece muito disposto a cooperar e eu não consigo parar de pensar nos formulários embaixo da almofada na sala, apenas esperando o momento certo de se revelar.

- Você quer um pouco de sobremesa agora? - Darien pergunta assim que nos levantamos para recolher os pratos.

- Acho que comi o bastante por enquanto - respondo com um sorriso nervoso. - Que tal deixarmos a sobremesa para daqui a pouco?

Ele me encara como se tivesse crescido uma segunda cabeça sobre os meus ombros de repente, mas não comenta. O que eu tinha pensando sobre cansaço? O pobrezinho está praticamente desmaiando de exaustão. De jeito nenhum ele me deixaria escapar com uma resposta como essa em qualquer outra ocasião. A sobremesa é a minha vida!

E devo dizer que deixá-la para mais tarde não é uma decisão que pretendo repetir no futuro, mas no momento prefiro me concentrar no pedido. Não posso correr o risco de que o meu namorado semi-desperto apague antes de me responder com um sim.

Lentamente, o conduzo para a sala. Faço com que ele se sente no sofá, do lado oposto ao dos formulários, e discretamente afasto a almofada, só para me certificar de que eles não desapareceram. Claro que continuam no mesmo lugar. Não é que eu esperasse que eles fossem sair andando, mas quem ia garantir que a Lua não tinha saído pela janela do quarto, dado a volta até a sala e providenciado para que eu não tivesse nada com que fazer o pedido?

Mas eu não preciso me levantar e ir checar para saber que a Lua está confortavelmente deitada na minha cama, vendo meus episódios gravados de Winter Sonata, exatamente como daquela vez que ela me disse que eu seria incapaz de montar uma estante de livros na sala sozinha e a ignorei. Só porque ela estava certa daquela vez não quer dizer que também está hoje. Afinal, não é como se eu realmente precisasse daquela estante, mas eu realmente preciso me casar com o Darien!

- Isso é agradável - diz Darien, se acomodando no encosto do sofá.

Ele tem sido apaixonado pela minha mobília desde a primeira vez em que encostou a cabeça nela e isso vale também para as duas cadeiras de dobrar perto da janela. Geralmente eu começaria a reclamar por ele passar mais tempo com o bendito sofá que comigo, mas hoje é uma boa coisa que esteja tão distraído. Preciso de tempo para reunir coragem e pensar em uma forma de introduzir o assunto.

Aproveito que ele está com os olhos fechados e olho novamente para os formulários de casamento. Rabisquei nossos nomes rapidamente, mas não tive tempo de preencher os outros campos. Talvez eu devesse ter feito isso. Assim Darien teria apenas o trabalho de assinar...

Serena... o que é que você está pensando? Eu não posso fazer o Darien assinar isso sem saber o que é. E todo o meu esforço - que ainda não comecei a fazer, mas o planejamento já conta - para ficar bem em um vestido de noiva? Se eu simplesmente comunicar que estamos casados, o Darien vai ficar muito feliz que não precisa fazer mais nada a esse respeito e eu nunca vou ter uma cerimônia. Ah, não, por que não pensei nisso antes? Eu quero aquele vestido. E o bolo. Quem é que se casa sem bolo?

Talvez eu deva esquecer essa história toda e apenas fazer insinuações até que o Darien entenda que tem que propor. Mas e se ele nunca propor? Ah, não, eu não posso desistir agora, isso seria admitir que a Lua estava certa o tempo todo!

- Serena - Darien passa o braço ao redor dos meus ombros e me puxa, fazendo com que a minha cabeça descanse contra o ombro dele. - Eu estou ouvindo o som da sua cabeça trabalhando. No que é que você está pensando tão alto? - ele sorri. - Aposto que está arrependida por ter recusado a sobremesa.

Ele me abraça com um pouco mais de força, fazendo com que a minha exclamação de surpresa seja abafada contra o tecido fino da camisa dele. Como ele pode achar que meu tumulto mental tem alguma coisa a ver com a sobremesa? Tudo bem que eu não dei muitos motivos no passado para qualquer pessoa pensar que eu conseguisse prestar atenção em outro assunto quando há mousse de chocolate na geladeira, mas estamos no meio de um momento crítico aqui. Darien devia sentir a tensão no ar!

- É que eu... Eu estava pensando... na Molly - respondo.

Na mesma hora sento reta no sofá, com a mão sobre a boca. Ah, não. Por que eu falei isso mesmo? Agora o Darien vai mesmo adivinhar no que eu estava pensando porque ele deve lembrar muito bem como fiquei emburrada durante dias quando a Molly se casou com aquele cara com quem ela estava saindo há apenas seis meses.

- Quer dizer, a Molly... - e agora? Eu nunca fui boa em inventar coisas. Especialmente não para o Darien, que sempre sabe exatamente quando estou escondendo algo. Por que eu não posso ser mais inteligente? Como a Amy, que com certeza pensaria em um jeito de fazer com que um cara a pedisse em casamento e ainda achasse que foi idéia dele.

- A Molly não estava na Europa? - Darien olha para mim. Ele até ergueu a cabeça da posição relaxada em que estava para prestar atenção na minha resposta.

- Europa, claro! Você não adora os pontos turísticos europeus? A Torre Eiffel, o Arco do Triunfo, a Estátua da Liberdade...

- Mas a Estátua da Liberdade fica...

- Claro que você adora! Agora que tal se deitar ai por alguns minutos enquanto eu pego aquela sobremesa?

O empurro para trás e corro para a cozinha com os olhos muito abertos e hiperventilando. Tenha calma, Serena, você pode fazer isso. Claro que você pode fazer isso. O futuro de uma galáxia inteira depende do sucesso desse pedido. Se não vai fazer isso pelo Universo, pense na sobremesa! Darien sempre trás sobremesa. Quando nos casarmos vamos ter uma provisão vitalícia de mousse de chocolate e morangos na geladeira.

Enquanto tento me convencer, abro a porta da geladeira, me acalmando ao sentir o ar frio contra minha pele. Nos momentos mais decisivos da minha vida tenho sempre pelo menos meia dúzia de amigas me apoiando, mas dessa vez eu estava tão preocupada com o plano que nem falei com nenhuma delas. Talvez tenha sido melhor assim, não tenho muito certeza de que não concordariam completamente com a opinião da Lua. Por que é que eu tenho que ser tão dependente de apoio moral?

Preparo duas taças com o mousse de chocolate sem pressa e respiro fundo, disposta a voltar para a sala e continuar trabalhando em convencer o Darien. Decido que vou apenas mostrar os papeis e enumerar as razões pela qual ele deve assinar - Rini. Universo. Almas gêmeas. -, mas quando chego na porta da sala, o que vejo me fez parar e quase derrubar tudo no chão.

Darien está sentado no mesmo lugar, segurando os formulários de casamento com uma expressão confusa no rosto. Ao me ver, acena.

- Serena... Eu acho que o meu nome está escrito errado nesse documento...

* * *



Isso. Não. Pode. Estar. Acontecendo.

Quando eu disse que os formulários não tinham pernas: errado. Aparentemente eles têm e se aproveitaram da minha ausência para pular nas mãos do Darien. Juro que não era minha intenção amassá-los sob aquela almofada. Eu só não queria que eles fossem descobertos antes que eu soubesse como introduzi-los.

Idiota. Idiota. Idiota.

Agora estou falando dos estúpidos formulários como se fossem pessoas. Mas espera um minuto, eu tinha decidido que havia uma conspiração envolvendo esse tipo de documento mais cedo, não? Talvez seja um inimigo. Eles escolheram invadir a Terra desse jeito porque sabem que o campo "Estado Civil" é o meu ponto fraco e eu sou a líder das sailors, as únicas capazes de detê-los...

Ou de repente é a Rei e a Lua quem têm razão. Devem ter colocado alguma coisa no meu sorvete ou estão usando cogumelos alucinógenos como ingrediente na comida do meu restaurante de sushi favorito.

QUALQUER COISA para explicar por que diabos achei que fosse uma boa idéia me casar com o Darien sem que ele estivesse sabendo!

- Serena, por que você não sai daí para a gente conversar?

Darien bate na porta do armário da despensa onde estou trancada pelo que deve ser a milésima vez. Cubro as orelhas com as mãos e cantarolo alguma coisa. De jeito nenhum que eu vou sair daqui até o próximo milênio. Rini vai ter que dar um jeito de nascer sem mim. E eu tenho certeza que as outras sailors vão fazer um ótimo trabalho protegendo o Universo na minha ausência. Eu sempre demorei uma eternidade para parar de chorar e mostrar serviço mesmo.

- Serena, não é tão ruim assim - ainda consigo escutar a voz de Darien através da porta, apesar de todas as minhas medidas de ensurdecimento.

Não é tão ruim assim. É pior. Agora ele vai querer saber a história toda de onde tirei essa idéia ridícula - porque é assim que ele é, nunca me deixa escapar sem dar as explicações necessárias e sempre dá um jeito de me animar no final de tudo. Mas dessa vez nada vai me fazer falar. O que ele ia pensar se soubesse do meu surto da academia? Ou pior ainda: a razão pela qual eu pisei em uma academia em primeiro lugar. Acho que a idéia de que eu ao menos cogitei subir em um aparelho de ginástica ia causar um enfarte fulminante no Darien. E ele nunca ia entender minha lógica da conspiração dos formulários!

Por que eu não posso ser como a Rei, que acha que não tem problema esperar até os setenta anos para se casar se só então ela encontrar um homem que não a faça ter vontade de espancá-lo? Ou a Lita, que nunca, nem em um milhão de anos, ia pensar em pedir alguém para casar com ela e perder a surpresa de quando ele pedisse. Ou a Lua que, bem, é um gato, mas tem um cérebro maior que o meu.

- Você está bem? - ele bate na porta novamente. - Se você não sair dai agora, eu vou comer toda a sobremesa.

Ah, não. Chantagem com a sobremesa não vai dar certo dessa vez.

Mas fiel a ameaça, ouço quando Darien se afasta da porta e o barulho de uma colher contra taça de vidro. Ele está mesmo comendo meu mousse de chocolate! Minutos depois, quando parece ter limpado as duas taças que eu deixei em cima da mesa na pressa de sumir despensa a dentro, ouço a porta da geladeira se abrir e mais mousse ser servido.

Tortura. Como ele ousa fazer isso comigo? Primeiro ele se recusa a me pedir em casamento, depois acaba com toda minha sobremesa favorita - pela qual ele pagou, mas isso não vem ao caso - enquanto tudo que eu tenho em meu esconderijo são latas de sardinha e comida de gato. Isso não é justo. Ah meu deus, ele não para de comer. Não vai sobrar nada para quando eu sair daqui depois dele dormir.

- Pare com isso agora mesmo!!!

Meus braços agem por conta própria quando escancararam a porta. Não era mesmo minha intenção sair dali, mas pelo visto meu corpo não consegue resistir ao chamado da sobremesa, não importa a situação. Olho a minha volta horrorizada, notando que Darien está sentado na mesa, batendo com a colher em uma taça vazia, com um sorriso malicioso no rosto.

Desgraçado.

Cruzo os braços emburrada, ao mesmo tempo que observo a porta com o canto do olho, tentando calcular quanto tempo eu levaria para chegar até lá se corresse. Nunca fui boa com cálculos ou com corridas. Darien chegaria a porta da frente no momento em que lesse as minhas intenções.

- Nem pense nisso - diz ele. Claro que a essa altura ele já sabe exatamente o que eu estou planejando. Por que eu não nunca escuto a Lua? Ou a Rei? Ou a minha mãe? Tenho que parar de confiar naquela pilha de revistas idiotas que agora mesmo estão saindo de debaixo da minha cama e que eu vou jogar fora na primeira hora da manhã.

- Está tarde - digo, nervosa. Qualquer coisa para não ter essa conversa agora. - Por que a gente...

- Serena... - Darien ergue uma das mãos e eu me calo imediatamente. Não é como se eu tivesse alguma coisa para dizer de qualquer maneira. - Por que você não me disse que estava tão desesperada para casar?

Abro a boca para responder, sem saber se devo começar a chorar, sair correndo ou ficar ali parada, esperando que ele fale mais. Como é que eu me meto nessas furadas? Já devia saber que meus planos simplesmente não dão certo. Devo ter um sério problema de atenção que me impede de aprender com a experiência. Sim, é isso. Acho que eu devo interromper o Darien agora e pedir para ele dar uma olhada na minha cabeça. Ele é médico, seria anti-ético recusar.

Mas antes que eu possa dizer qualquer coisa, ele continua:

- E como é que você não sabe como se escreve o meu nome?

E ele começa a falar sobre a diferença entre esse e aquele kanji enquanto eu olho para baixo, sentindo que agora a humilhação é completa. Tudo bem, eu mereço. De repente até escrevi o meu nome errado também. Nada disso é mais surpreendente vindo de mim que pular a sobremesa.

-...e claro que eu devia saber que você não teria paciência de esperar o pedido. Mas, Serena, não é que você quase conseguiu?

Eu quase consegui, claro. Mas paciência nunca foi uma das minhas qualidades. Eu nunca consigo ver novela sem ler o resumo dos capítulos antes, ou ler mais de vinte páginas de um livro sem pular para a última página. Nem mesmo consigo esperar o presente de Natal dos meus pais sem me esgueirar pela porta dos fundos da casa e revirar tudo... Espera ai, o que foi que ele quis dizer com eu quase consegui?

- Eu tinha planejado todo esse discurso... - ele caminha até a geladeira e tira o mousse de chocolate coberto por morangos para cima da mesa. - E também tinha planejado tão bem a sobremesa. - pega um dos morangos, um dos menores, cuja ponta está circulada por uma coisa pequena e brilhante. - Mas depois do que aconteceu acho que é até melhor que não tenha dado certo. Nem quero pensar no que teria acontecido se você tivesse engolido tudo sem olhar.

Meus olhos estão o dobro do tamanho normal e eu não pisco nenhuma vez enquanto ele tira o anel - porque, a não ser que os eventos da última meia hora tenham me deixado tão perturbada que eu tenha começado a alucinar, isso É um anel - e o ergue na minha direção. Até ignoro a parte em que ele me chama de gulosa e estabanada, porque Darien está fazendo exatamente o que eu fantasiei que ele faria quando me fizesse o pedido: ele segura o anel, sorri para mim e seus olhos refletem a dose certa de expectativa.

Não que ele ache que eu vá dizer não, ele não é idiota.

Um segundo depois eu estou me atirando na direção dele e gritando "sim". Não só uma vez, mas várias e cada vez mais alto, só para que a minha resposta fique absolutamente clara - inclusive para os vizinhos. E entre abraços, beijos e um anel sendo colocado no meu dedo, esqueço completamente a confusão com os formulários. Eu já disse que o Darien é o namorado mais perfeito do mundo?

O Universo está salvo.

- Isso quer dizer que você me perdoa por tentar, bem, me casar com você sem que você ficasse sabendo?

Darien gira os olhos.

- Como se eu não soubesse onde estou me metendo. Nem vou me dar ao trabalho de pedir que prometa nunca mais fazer esse tipo de coisa.

Palavras sábias.

- Mas nunca mais recuse a sobremesa, você quase me matou de susto.

Olho para a travessa de mousse esperando por mim em cima da mesa. Essa é uma promessa que não tenho nenhuma intenção de quebrar.

FIM

Um comentário:

  1. Só você, Spooky, tem o talento de me fazer rolar de rir desde o cabeçário da fic!

    Sabe, eu também não vejo Sailor Moon há muito tempo, mas tive a sensação de estar vendo um episódio enquanto lia a sua fic. E a ideia de fazer o Darien assinar os papéis? XDDD Coitado dele!!! XDDD Gente, a sua serena é tão divertida! Adorei o jeito como ela ficava imaginando como tudo ia ser lindo e maravilhoso com o Darien. E gente, eu amo suas descrições! Quando a Serena vê o Darien segurando os papéis e diz que eles tinham pernas, eu morri de rir! XD E depois quando ela se tranca na despensa!!!! XDDDDDD E o Darien fingindo que estava comendo o mousse? Sua fic ficou tão divertida XDDD

    E gente, ainda bem que a Serena não comeu tudo XD Tenho certeza de que ela teria engolido sem perceber! Sua Serena está tão, mas tão serena!! Ficou tudo muito perfeito, Spooky *_______*

    Meus parabéns!!!

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