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[Saint Seiya] Quando o Vento Soprar, escrita por Linanime

Capítulos: Único
Autor: Linanime
Fandom: Saint Seiya
Gênero: Gen, drama, amizade
Status: Completa
Classificação: 12 anos
Resumo: Okko ganha uma nova oportunidade para consertar seus erros. Será que desta vez ele aprenderá a ouvir conselhos?

Disclaimer: Os Cavaleiros do Zodíaco pertencem a Masami Kurumada, Toei Animation e Shueisha.

Notas: Érika, foi um prazer escrever para você. Espero sinceramente que goste da fanfic. Tive que criar um personagem orginal, mas espero que não se importe de ela aparecer um pouquinho demais. Desculpe se não ficou o que você esperava!

Muito obrigada a Vane e Anita pela ajuda, e ao Nick, que me passou o anime para rever, pois isso me ajudou no desenvolvimento da fanfic. Agradeço também a todos que lerem e comentarem! Fico muito feliz!


História escrita para o Coculto, um amigo oculto de fanfics promovido pela comunidade Saint Seiya Superfics Journal.

Quando o Vento Soprar



Ele temia que aquilo acontecesse novamente, principalmente na situação em que se encontrava. Não seguira os conselhos de seu mestre e agora estava naquela situação complicada.

Okko foi acertado diversas vezes; o oponente era muito forte. Esquivou-se rapidamente do soco desferido pelo adversário, abaixando-se e acertando-o com um gancho. Pensou que finalmente poderia ganhar essa luta, mas foi justamente nesse momento que o homem à sua frente veio com tão grande velocidade que ele só o percebeu quando o golpe fatal já tinha sido dado.

Seu corpo não lhe obedecia. Suas artérias próximas ao coração estavam sendo partidas e o sangue bombeado estava seguindo outro caminho, como uma cascata vermelha que passava pelos tecidos seguindo por uma pequena abertura feita pelo golpe do oponente. Seu coração lutava contra a pressão; as células não estavam suportando a energia que fora liberada por aquele homem e estavam morrendo aos poucos. Seus músculos se contraíam continuamente sem que Okko pudesse fazer nada.

O guerreiro, com uma das mãos, apertava o antebraço furiosamente. Havia apenas o pavor e dor expressos no rosto do jovem, até o momento em que o sangue que descia furiosamente como águas impetuosas saiu pela ferida como um jato. Pela boca podia-se notar o sangue saindo. Suas vísceras estavam parando, seu coração estava parando, seus tecidos estavam parando, mas sua audição estava funcionando o suficiente para que ele ouvisse aquela pequena voz conhecida gritar.

— Okko!!

Uma pequena pessoa correu em direção à área da luta. O boné que estava sobre a sua cabeça saiu durante a corrida, revelando longos cabelos compridos cacheados, numa tonalidade avermelhada. Os olhos azulados estavam temerosos e cheios de lágrimas que teimavam em descer por sua face e ficavam para trás à medida que abandonavam sua dona. A pele clara estava começando a tomar uma tonalidade rubra não somente pela corrida, mas pelo desespero e ânsia que tomavam aquela jovem.

O guerreiro adversário sorriu, preparando-se para acertar aquela criança que vinha em sua direção. Não seria um oponente muito trabalhoso. A menina continuou correndo enquanto Okko, com suas últimas forças, virava a cabeça para trás olhando a garota que se aproximava.

Um baque. Era tão duro o material em que batera. Seriam as mãos do homem que acabara de atacar Okko? Ela morreria?

Abriu os olhos, sentindo-se presa. Não era o inimigo que a segurava; era aquele rapaz que ela já vira enquanto acompanhava Okko. Os longos cabelos negros e lisos voavam com a brisa. A armadura servia-lhe bem; dava para visualizar os detalhes do dragão.

Shiryu olhava para trás enquanto o amigo apenas balbuciava algumas palavras.

—Desculpe, Pequena! - disse já sem forças.

Okko caiu no chão. Aa menina se debatia cada vez mais nos braços de Shiryu, tentando libertar-se e correr até o guerreiro. Era em vão: naquele corpo não mais havia vida. O inimigo sorriu por sua vitória e olhou para Shiryu, que tinha na face tamanho ódio que poderia assustar qualquer um.

— Solte-me cavaleiro, solte-me! - falava a menina soluçando.

— Não pode fazer nada, Pequena! - falou Shiryu.

— Por que você não fez nada, cavaleiro? Por que você o deixou morrer? Não é um cavaleiro? Por quê? - gritou a menina, enquanto as lágrimas pareciam uma tormenta a deixar sua face.

Ela tinha razão: ele era um cavaleiro, e mesmo assim assistira à morte de seu amigo sem fazer absolutamente nada.

******************************************************************

A Terra estava começando a voltar ao normal. Após a batalha de Hades, Saori conseguiu trazer seus preciosos cavaleiros de volta e desejava que a vida de todas as pessoas fosse tranquila.

Fora um pouco difícil para Shun aceitar tudo que lhe acontecera, mas com o apoio de todos e uma dose extra de carinho ele começou a voltar ao normal. Mesmo assim, ainda havia algumas dúvidas de que ele pudesse voltar a se tornar ruim.

Entre tantos sorrisos de felicidade, havia um pouco de tristeza na face de duas pessoas em especial. Elas estavam no canto de uma pilastra da casa de Áries, quietas e pensativas. Podia-se perceber que apenas os corpos estava presentes. As mentes vagavam por uma época passada; um sentimento ainda invadia os corações daqueles cavaleiros. Nos olhos, uma sombra de tristeza. Lágrimas intrometidas começaram a brotar.

Seiya observava quieto os cavaleiros de Dragão e de Libra verterem lágrimas carregadas de tristeza. Ele não sabia o motivo delas, então só poderia observar. Aos poucos, todos os olhares foram se voltando para os cavaleiros parados. As lágrimas caíam calmamente de suas faces, sem que eles notassem que estavam sendo observados.

—Okko... - suspiraram ao mesmo tempo.

Saori perguntou o motivo daquele sofrimento tão grande, porém nenhum cavaleiro pode responder. Ninguém se animava a chegar perto daqueles dois, mesmo querendo saber como ajuda-los. Dohko percebeu primeiro que estava sendo observado e então deu-se conta de que Shiryu estava próximo a ele, com um expressão melancólica. Sabia o motivo daquela tristeza. Talvez pudessem fazer alguma coisa pela pessoa que não saía de suas mentes.

Dohko caminhou vagarosamente até seus companheiros, pôs-se de joelhos perante Saori e pediu humildemente que ela trouxesse de volta um guerreiro. Não era um de seus cavaleiros, mas era realmente importante para ele. Shiryu, percebendo o que se passava com seu mestre, toma a mesma atitude, suplicando para que Saori trouxesse Okko assim como fizera com os outros.

Finalmente a alegria estava completa no Santuário, pois os únicos tristes finalmente puderam voltar a experimentar a felicidade.

—Okko, meu amigo, estou feliz de poder revê-lo! - falou Shiryu contente.

Uma brisa soprou, fazendo com que os cabelos dos guerreiros voassem. Okko estava feliz por rever seu mestre e amigo. Aprendera na luta contra Shiryu valores que jamais iria esquecer; aprendera muito sobre seu mestre e como ele apenas queria ajudá-lo durante aquele tempo. Contudo, ele não o percebera antes. Estava tão focado em si que não ouvia as palavras do mestre e do amigo, e isso lhe custou caro, muito caro. Foram anos longe daqueles que realmente lhe importavam, aqueles que ele poderia considerar sua segunda família. O reencontro durara pouco e ele fechara os olhos imaginando que nunca mais os veria.

—Shiryu, estou feliz por rever você também, mas... - fez uma pausa Okko.

—Mas o quê, Okko? - perguntou um surpreso cavaleiro de Dragão.

—Preciso deixá-los novamente. Preciso ir a um lugar em especial, mas voltarei para treinarmos juntos – apontou o dedo indicador com a mão esticada. – Não perderei para você novamente, Shiryu! – disse, despedindo-se e partindo em seguida.

Okko precisava relembrar todos os eventos que se passaram na sua vida; precisava consertar alguns erros que cometera para então ficar em paz com seus companheiros. Passou por todas as vilas onde estivera, tentou ajudar as pessoas que ferira, tentou reverter o mal que causara na época em que pensava em si e somente em si, chamando seus atos de treinamento. Lembrou-se de ter lutado com vários animais e pessoas, mas um evento não saía de sua mente.

Ele lutara contra um homem forte. A batalha fora cansativa; o rapaz se esquivava bem e tinha um soco muito forte. No auge da luta, Okko fora acertado com um soco na barriga. Estava caído de joelhos e com a mão no local. O rapaz vinha rapidamente em sua direção. Ele desviara rapidamente, conseguindo ficar de pé e indo para a direita. Okko sorrira vitorioso, usando suas Garras de Tigre. O oponente caíra no chão e ele saíra satisfeito com o cesto de frutas e verduras que o homem carregava. Aquele seria seu jantar, e ganho com pouco esforço.

—Nem foi tão duro! Queria um entretenimento melhor! - falara irônico.

Ele então percebera à sua frente uma criança, que deveria ter no máximo quatro anos de idade. Era pequena, com a face pálida e rosada, os cabelos curtos e avermelhados, os olhos azulados e tristes, e estava completamente em pânico. O corpo maltratado, possivelmente pela má alimentação, tão magro, tão frágil. Estava à sua frente. Não percebera que ele era forte?

—Irmão? - sussurrara a criança, correndo em direção ao oponente de Okko.

Okko partira, deixando aquela criança para trás.

Mas agora aqueles olhos não saíam de sua mente. Possivelmente aquele homem ficara debilitado. Ele precisava compensá-lo pelo mal que lhe fizera, pagar pelo erro passado de alguma forma.

Chegou ao local onde lutara com o homem e tentou descobrir o paradeiro dele. Todas as faces ficavam tristes quando ele perguntava sobre a pessoa. Todos tentavam mudar de assunto e saíam rapidamente. Uma senhora idosa lhe contou a verdade: poucas horas depois de Okko deixar o local da luta, aquela pessoa viera a óbito.

Os olhos ficaram completamente arregalados, o pavor estava estampado em sua face. Ele não tivera intenção de matá-lo, mas mesmo assim o fizera.

—E o irmão dele? O que aconteceu àquela criança? - perguntou o triste guerreiro.

—Aquela criança anda pedindo esmolas na rua. Quando consegue um prato de comida para se alimentar, é o seu dia de sorte! - falou a mulher, continuando seu caminho.

Um vento forte soprou, balançando os cabelos de Okko e trazendo consigo um grito desesperado de uma criança em perigo. Okko correu rapidamente. Chegando ao local, viu um homem segurando uma criança pela camisa. Parecia sufocar o pequeno com a maneira como o segurava. Okko viu os cabelos vermelhos mal cuidados, a face magra devido à falta de alimentos, aqueles mesmos olhos azulados e tristes.

O guerreiro segurou a mão do homem com tanta força que o obrigou a solta a criança. O homem tentou acertá-lo com um soco e disse que ia vender aquele garoto para pagar a dívida que ele fizera, comendo algumas frutas do pomar que tinha. Okko abaixou-se, deixando o soco passar. Então levantou-se, acertando com um murro o tórax do homem, que voou alto e caiu no chão. Agora estava inconsciente; entretanto, continuava vivo.

—Você está bem, pequeno? - perguntou o guerreiro.

—Sim - falou o garoto, tentando afastar-se temeroso.

—Desculpe-me, não tinha intenção de matar seu irmão! – Okko falou com pesar.

—Se tivesse então, ele não teria vivido nem mais um segundo, não é? Homem estúpido, idiota! Por que você tirou uma pessoa preciosa de mim? Por que você me tirou a única pessoa preciosa para mim? Por quê?! - gritou o menino, batendo no peito de Okko com todas as forças mas sem causar qualquer dano. — Por sua culpa eu não tenho mais nada! – gritou, com as lágrimas caindo-lhe da face.

Levou um tempo até que conseguisse parar de chorar e aceitasse os braços que tentavam envolvê-lo. Okko prometeu que iria cuidar daquela pequena criança para protegê-la de todo o mal, treiná-la para ser forte e enfrentar os desafios da vida.

Eles partiram do local. A criança não tinha nada que pudesse levar; somente a roupa do corpo. Okko desejava voltar ao Santuário para treinar com seu mestre e seu amigo.

Eles pararam em um rio. Okko falou que aquele menino precisava de um banho, já que estava fedendo muito. O garoto correu e se escondeu entre as árvores e arbustos, não se deixando apanhar pelo guerreiro.

—Ora, não é mais uma criança para correr assim e fugir da água! Quantos anos você tem afinal, cinco? – Okko falou impaciente.

—Não, tenho nove anos! Quando você passou aqui eu tinha cinco, ou eram quatro? - falou o menino, denunciando seu esconderijo.

Okko segurou a criança pela camisa e começou a caminhar em direção ao rio, dizendo que ela precisava de um banho. O menino se debatia, tentando sair das mãos do guerreiro, dizendo que não ia tomar banho, que não queria, entre outras malcriações de criança.

Okko jogou a criança na água e pulou junto para evitar que ela fugisse ou se afogasse.

—Agora que já está na água, tire as roupas! - ordenou o moreno.

—Não! - falou a criança com birra.

—Tem que lavá-las! - falou Okko impaciente.

—Não! - falou a criança, tentando afastar-se de Okko.

—Não seja infantil! - falou Okko, tentando agarrar o menino.

Foi então que a criança manifestou-se pedindo para que ele se virasse, porque na verdade não era um menino e sim uma menina; por isso não queria tomar banho com ele. Okko entendeu os motivos daquela criança e pediu para que ela não revelasse que na verdade era uma garota, pois ficaria mais fácil para ela viver por enquanto como um garoto.

—Foi a mesma coisa que meu irmão me falou - disse a menina enquanto comia algo que lhe fora entregue pelo guerreiro.

—Como é seu nome? - perguntou Okko.

—Pequena. O seu é cabelo espetado? - perguntou a criança.

—Não, é Okko - disse ele.

—Não, é cabelo espetado! – ela disse sorrindo.

Dessa forma eles foram se conhecendo e caminhando para chegar até os amigos de Okko.

—Quando eu era pequeno eu vi meus pais serem mortos na minha frente, assim como eu acabei fazendo com seu irmão, Pequena. Eu não pude fazer nada, então decidi ter aquela atitude que você conheceu. Eu queria ser forte, queria ser o melhor de todos, nunca abaixar a cabeça para ninguém. Eu não queria ser respeitado; queria ser temido por todos. Não escutava meu mestre, os conselhos que ele me dava. Fizeram-me muita falta; arrependo-me de não os ter seguido. Se o tivesse feito, se tivesse sido um pouco mais calmo, seu irmão estaria vivo! - Ele falou essas palavras com um pesar tão grande na voz, que era evidente que estava arrependido.

—Não pude fazer nada por meus pais, e não pude fazer muito por você até o momento. Sabe, Pequena, eu treinava nos Cinco Picos Antigos, para me tornar cavaleiro de Dragão. Meu amigo Shiryu se tornou em meu lugar porque eu não era obediente, não queria treinar como meu mestre falava, eu não queria aquela maneira “errada” de treino. Queria ser bom rápido, pelos meus próprios meios - falou, tentando conter a emoção que começava a aflorar.

—Tentei da minha forma errada de pensar. Então fui expulso por meu mestre, que queria apenas meu bem. Treinei e acabei ferindo muitas pessoas na intenção de ficar mais forte e derrotar o Shiryu por prazer. Acho que a sede de poder me tomava a tal ponto que me cegava. Coloquei a culpa em todos, nunca a culpa era minha. Mas após minha luta com meu amigo eu percebi o quanto eu estava errado! Arrependido, estou tentando remediar o que fiz, mas sei que não mereço o perdão de ninguém, muito menos o seu, Pequena! - ele disse entre lágrimas, e a menina apenas o abraçou como uma mãe embala o filho que chora.

Okko treinou muito com seu mestre e amigo. Pequena apenas observava, enquanto pensava nas palavras que o moreno lhe falara enquanto viajavam. Ele realmente abrira o coração para ela. Ele se tornou a única pessoa especial para ela, aquela que ela faria de tudo para ver feliz novamente, sem a sombra da tristeza de um passado ruim que ficava sempre em seus olhos.

****************************************************

Um inimigo estava começando a aterrorizar a Terra. Ninguém sabia quem era, e alguns temiam ser a revolta do Olimpo contra eles. Saori pediu para que todos ficassem a postos, para uma possível guerra. Dezenas de pessoas eram encontradas sem vida a cada momento. Não sabiam o que estava acontecendo, mas sabiam que a força vital deles estava sendo sugada.

—Pequena, peço-lhe que segure o Okko. Não deixe que ele se envolva nessa batalha. Ele pode não retornar para você - falou Dohko, enquanto a criança apenas olhava para ele assustada.

Okko estava ouvindo e saiu de seu lugar. Disse ao seu mestre que ele não era mais o antigo jovem que fazia as coisas com imprudência, e que ele poderia ajudar. Mas Dohko pediu que ele não fosse e o aconselhou novamente, com carinho, a permanecer treinando. Essa ainda não era a hora de ele lutar por Athena.

Okko ficou furioso e começou a quebrar algumas pedras na cachoeira dos Cinco Picos Antigos. Destruiu árvores e deu murros no chão, tamanha a raiva que sentia.

—Quem ele pensa que é para proibir-me de lutar? Só porque eu aceitei voltar a ser pupilo dele, não significa que ele manda em mim! - disse com raiva, causando um grande estrago no solo e saindo em seguida.

Pequena recordou o que Okko lhe dissera em frente à fagueira:

“Não queria aceitar a forma de treinamento de meu mestre. Ficar lutando contra árvores não fazia sentido; socá-las e me machucar, isso não era meu estilo. Desci dos Cinco Picos Antigos e lutei com alguns garotos. Como eles eram fracos, eu pensava. Mesmo me implorando para não machucá-los, eu bati. Então subi novamente, comendo os doces que havia ganhado. Aquela era a maneira de treinamento, era a minha maneira de tornar-me melhor.”

Olhava ao redor vendo a destruição feita sem motivos, as árvores caídas. O chão estava com um buraco e pedaços de terra foram arremessados longe, cobrindo o canteiro de flores que a menina levara tanto tempo para fazer.

Ela caminhou até as flores tristemente. Sabia que Okko ainda era impaciente e não ouvia ninguém. Isso a magoava a ponto de regar a terra com suas lágrimas, enquanto as pequenas mãos trabalhavam para tentar retirar a terra que possivelmente estava matando as plantinhas que ali viviam.

A menina recordou entre lágrimas:

“Subi até onde Shiryu treinava. Achava-o um bobo fazendo aquilo, mas ele era paciente e obediente, totalmente diferente de mim. Culpava-o por ser dessa maneira, porque era como eu desejava ser. Voltei aos Cinco Picos para lutar com ele, arrasá-lo e tomar a armadura de Dragão que era minha por direito, assim eu pensava. Foi então que entendi tudo que meu mestre tanto tentou me ensinar. Pequena, eu quero realmente mudar. Não serei mais daquela forma, imprudente e impaciente. Vou ser um homem melhor!”

—Mentiroso, mentiroso, mentiroso! - gritou a menina, vendo o estrago feito em seu canteiro. Todas as flores estavam mortas, todo seu esforço estava destruído, todo o seu coração fora dilacerado.

Okko partiu para encontrar algum inimigo para lutar e esfriar a cabeça. Não vira as lágrimas de sua menina, não vira seu sofrimento e não encontrara ninguém em quem pudesse descontar sua ira.

Volta para casa, encontrando Shiryu na porta e Dohko a esperá-lo. Ele não queria ouvi-los e disse que iria partir daquele lugar. Chamou a menina que o acompanhava, mas ela não veio. Shunrei disse que a pequenina seguira Okko após ele falar grosseiramente com o cavaleiro de Libra, e ainda não retornara.

O moreno por um momento assustou-se. A menina provavelmente vira seu ataque de fúria e poderia estar ferida na floresta, já que ele agira sem pensar. Correu rapidamente, acompanhado de seu mestre e amigo. Procuraram em meio às árvores caídas, na cachoeira e não a encontraram.

Okko socou as pedras em fúria contra si mesmo. Foi então que uma fita passou carregada pelo vento. A mesma fita branca de que ela gostara durante a viagem e que sempre trazia presa ao cabelo. Seguiu a direção da fita e encontrou junto ao canteiro o corpo da menina sem sentidos, e um cavaleiro de armadura negra sugando sua força de vida.

—Shun?! – surpreendeu-se Shiryu.

Sim, Shun estava novamente fora de si, alimentando algo ruim dentro dele com a energia vital das pessoas. Tragava o pequeno cosmo de alguns que treinavam para se tornarem melhores, e isso acabava tirando a vida no processo.

Okko não pensou novamente e correu para atingir o oponente, que desviou facilmente e correu para outra região, mais baixa que aquela. Dohko ficou com a menina e pediu a Shiryu para correr e tentar deter Okko, ou seu amigo seria morto pelo Shun sombrio. Não queria pronunciar o nome correto.

—Okko, pare! - gritou Shiryu, segurando-o pelas costas enquanto o inimigo fugia.

—Ele quase matou Pequena, não o perdoarei! – Okko disse, tentando soltar-se.

—Okko, você não pode contra ele! Agora que sabemos quem é o inimigo, poderemos lutar de forma mais eficiente. Por enquanto devemos cuidar da menina - falou Dohko, com a criança nos braços.

Eles voltaram para casa e deixaram a menina com Shunrei enquanto reuniam todos os cavaleiros no Santuário para contar-lhes o que acontecera. Ikki dizia ser impossível o que eles relatavam. Shun estivera com ele todo aquele tempo e não fizera nada.

Shun iria ficar detido e vigiado por vários cavaleiros para mais tarede então darem uma sentença definitiva.

—Deixe-me cuidar da menina ao menos. Sei que não fui eu quem fez esse estrago, mas quero alimentá-la com minha própria energia - falou Shun tristemente.

—Maldito, ainda quer terminar o serviço com minha menina?! – indignou-se Okko, segurando o cavaleiro pela gola da camisa.

—Okko, pare! Deixe-o cuidar dela, ainda não temos certeza se foi realmente Andrômeda quem fez aquilo - falou Dohko.

Okko sai indignado enquanto a menina era trazida até o Santuário. Ela estava começando a melhorar.

Foi então que ele apareceu novamente, o Shun negro. Okko correu atrás dele para se vingar pela menina. Mesmo com Dohko pedindo para que ele não enfrentasse aquele homem, mesmo com Shiryu gritando, ele não ouviu e partiu.

A menina, agora completamente acordada, perguntou onde estava Okko e eles disseram que ele tinha corrido até o homem sombrio. Todos tiveram a certeza de que não era Shun pois no momento ele mesmo estava com a menina, enquanto Shiryu assistia seu amigo ser acertado pelo inimigo sombrio.

Pequena correu, na tentativa de fazer com que Okko a ouvisse e parasse de lutar. Mas o que encontrou foi um homem sem forças, quase morto e caindo ao chão. Ela gritou quando percebeu o ferimento grave que Okko sofrera. Mas talvez os cavaleiros pudessem curá-lo como fizeram com ela.

—Desculpe-me, Pequena – ele disse, já sem forças.

O corpo dele estava começando a parar completamente. Suas células estava morrendo, ele estava morrendo enquanto seu sangue o deixava, originando uma imensa marca vermelha à sua volta.

Shiryu e os demais cavaleiros enfrentaram o oponente de Okko. Não foi uma Cólera do Dragão que ele recebeu. Foi algo pior que cólera, porque o sentimento de Shiryu e Dohko era mais forte que isso e não havia palavras para explicá-lo. O homem voou alto e se desintegrou, tamanho o poder dos golpes que lhes foram dados. Mas nada disso traria Okko de volta.

—Por favor, Okko, não morra, não me deixe sozinha. Por favor, abra os olhos, mexas as mãos, brigue comigo, mas não se vá! - chorou Pequena, segurando o corpo praticamente sem vida do guerreiro.

Sua audição ainda estava funcionando e ele pode ouvir os apelos da menina, mas sabia que chegara a sua hora novamente. Se ele tivesse ouvido os conselhos de seu mestre e o pedido de seu amigo, ele não estaria naquela situação, deixando entre lágrimas a pessoa mais importante de sua vida, quebrando sua promessa de protegê-la e cuidar dela.

—Desculp...

A frase parou antes do fim. O moreno dera seu último suspiro, deixando uma garotinha inconsolável para trás.

Pequena chorou durante meses, anos, ela nem se lembrava mais. Ficara sob os cuidados do cavaleiro de Libra, mas ela nunca mais fora a mesma. Tentara carregar o corpo de Okko sozinha, tentara cavar um buraco com as próprias unhas, brigara quando o chamaram de imprudente. Sofria tanto, que os cavaleiros calaram-se ante a sua dor e a ajudaram a sepultar a pessoa que era importante para ela.

Desde aquele dia ela passou a ficar sentada diante da cachoeira, olhando para o céu e observando o que se passava. Um dia queria ser uma amazona, se tornar a guerreira que Okko não pudera ser. Porém, por enquanto a única coisa que podia fazer era sofrer. Somente o tempo poderia curar aquela ferida que estava em seu peito. Sentira seu coração partir naquele dia, e o pior fora não poder pedir perdão por ter duvidado dele quando tentou salvar suas flores.

Um vento soprou, levando a fitinha branca que ficara de recordação. A fita parou perto de uma flor, uma flor estranha com as pétalas arrepiadas, não ajeitadas uniformemente.

—Okko... - suspirou a menina entre lágrimas.

Pegou a pequena flor e a assoprou, fazendo com as que pétalas partissem para outros lugares, levando embora o sofrimento e tristeza que sentia. Quem sabe isso lhe trouxesse um pouco de esperança e felicidade.

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