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[Saint Seiya] Aurora Boreal, escrita por Felipe Poseidon

Fandom: Saint Seiya
Capítulos: Único
Autor: Felipe Poseidon
Gênero: Drama, yaoi
Classificação: 16 anos
Resumo: Hyoga está viajando à terra natal para lamentar a falta da mãe. Natássia está viajando ao Japão pelo bem do pequeno filho. Algo acontece no meio das duas viagens, unindo passado e presente.

Disclaimer: Saint Seiya ou quaisquer personagens ou lugares de sua mitologia não pertencem a mim. Essa fanfic não tem objetivo de lucro algum, trata-se de um texto de fã para fã.

Notas: Awww, fiquei tão feliz de tirar a Nemui! Nesse Coculto, especialmente, ela escreveu dezenas de prompts pra me capturar, haha. Prometo que a do Charmander sai algum dia! Espero que goste dessa aqui. Usei nossos personagens favoritos! Hoho :D


Era um dia cinza no Japão. Chovia uma chuva constante, fina, gelada; não havia vento nem umidade em excesso... apenas chuva cinza. Hyoga, um rapaz alto, alvo, de cabelos loiros e de olhos azuis tinha cores de sobra para se destacar em meio a tanto cinza. Estava no aeroporto esperando o jato da Fundação Graad para embarcar para a Sibéria, acompanhado por Shun, um rapaz mais baixo, de cabelos castanhos e feições delicadas como as de uma pintura renascentista. Tais viagens eram corriqueiras para os dois, que haviam doado suas vidas para o Santuário de Atena. Desde o fim das grandes batalhas que travaram, há 30 anos, precisavam viajar pelo mundo para ajudar a manter a paz e evitar calamidades públicas. O mal, mesmo que não personificado em um deus ou cavaleiro, estava sempre presente em todos os continentes.

No entanto, o propósito das viagens à Sibéria eram, geralmente, outros. Havia, sim, um posto do Santuário naquela região, especialmente desenvolvido para treinar os cavaleiros de gelo e para manter a paz no extremo norte. Todavia, desde que deixara de treinar discípulos, Hyoga só ia para lá com o objetivo de ficar mais próximo à sua mãe, que morrera em um naufrágio naqueles mares. Hyoga nascera em uma pequena vila no meio daquelas geleiras eternas e lá cresceu, primeiramente com a mãe e, depois de sua morte, com seu mestre. Quando jovem, o rapaz nadava até as profundezas para admirar o rosto embalsamado pelo frio de sua mãe, eternamente jovem, eternamente adormecida na cabine daquele navio. Mas eventualmente o navio desceu para os abismos do oceano e, desde então, ficou inacessível.

- Mesmo sem poder vê-la de perto, - disse Hyoga a Shun, dentro do avião – quando vou a Kohoutek sei que estou no lugar onde ela viveu sua breve vida e, principalmente, onde morreu por mim.

O avião decolou. Pouco lembrava-se do rosto da mãe antes de congelar para sempre...

O fogo aceso na lareira empalidecia à presença do frio. Não nevava, mas a noite e o frio eram absurdos. Natássia era uma bela jovem de cabelos loiros e olhos profundos, azuis, melancólicos. Observava seu pequeno filho que já dormia tranquilo na cadeira próxima à lareira. Como explicaria para a criança o que estava por vir no fim da viagem? Como contar para o filho que estavam indo para o outro lado do mundo para encontrar seu pai? Sempre dissera ao menino que o pai havia morrido.

Mitsumasa Kido era um homem cruel, Natássia sabia que não era boa coisa levar Hyoga até ele. Mas seus argumentos eram infalíveis; Hyoga de fato teria muito mais chances de ter uma boa vida no Japão, com o dinheiro e o estudo que o pai poderia lhe dar. Iria de fato sujeitar-se aos caprichos daquele homem mais uma vez, pelo bem de seu filho.

O mar estava agitado, podia sentir o navio balançar. Mas Hyoga descansava, seguro. Natássia desviou os olhos do pequeno filho e, pela pequena janela redonda da cabine, olhou o céu. Negro, infinito e misterioso... Como a vida humana é mesquinha!

E então aconteceu... adorava tal visão. A aurora boreal espalhava-se pelo céu em silêncio, devagar, dando-lhe cor. Aquele espaço negro agora esverdeava-se em riscos maravilhosos, inexplicáveis. Nuvens azuis, vermelhas e amarelas misturavam-se ao espetáculo, como se houvesse uma festa entre os anjos. Devagar, em silêncio... a beleza divina diante dos seus olhos. Estava certa: era um sinal de Deus. Aos poucos abandonou a cabine apertada de madeira, soltando-se das luzes dos lampiões e da beleza do pequeno Hyoga sobre a cama. Adormeceu, segurando o crucifixo de ouro que recebera de seu pai há tantos anos.

Era uma noite muito fria, sem neve e sem nuvens. Hyoga e Shun, sentados no avião, conversavam.

- Eu não tenho lembranças dos meus pais, mas preciso estar próximo a meu irmão de vez em quando. – disse Shun.

- Exatamente... é assim que me sinto com relação à minha mãe. Mesmo depois de tantos anos, quando piso nessas terras posso senti-la perto de mim, e tudo faz mais sentido. Acredito que aprendi a viver sem ela, superei a dependência. Mas ainda preciso me dar a esse luxo de vez em quando.

- Você tem muitas lembranças de quando ela era viva?

- Não, não, infelizmente... Muito poucas mesmo. Lembro-me que ela era muito bonita, sorridente, e que seus olhos eram muito expressivos. Lembro-me de quando ela me deu o crucifixo da nossa família, e de quando embarcamos para o Japão. Mas tudo isso vem do dia em que ela morreu... antes disso, tenho poucas lembranças racionais, só emocionais. Essa sensação de segurança, calidez e tudo mais.

- Entendo... – disse Shun, bocejando.

- A viagem ainda vai durar algumas horas. Vamos dormir? – sugeriu Hyoga, sorrindo.

Shun logo adormeceu em seus braços. Para Hyoga era mais difícil. Era como se Natássia estivesse ali, em meio ao ar congelado do extremo norte da terra. Desviou os olhos e afundou-os à beira da janela. O céu estava calmo, gélido, negro. Nem o Hades era tão negro como o céu do pólo norte. Qual terá sido o objetivo de tudo que passou nessa vida? É certo que salvara a humanidade mais de uma vez, mas... e sua vida, mesmo? Tinha Shun, tinha seus irmãos... mas e daí? Quando morresse, como seria? Já estava nessa terra há quase meio século, sofrera, lutara, amara tanto... e depois?

Foi quando viu um risco verde no céu. Forte, longo e muito brilhante, a aurora boreal aniquilou o negro absoluto com sua cor incandescente. Não tardou para que outros riscos silenciosos acompanhassem o primeiro, nuvens compridas e vivas que desenhavam com todas as cores no céu. Os olhos de Hyoga brilhavam vivos como os da mãe. Era ela... Natássia estava com ele. Sentia seu amor.

Agora a aurora boreal estava em seus pés, ao seu redor, no ar que respirava. Não havia mais avião, cadeiras, nada nem ninguém. Estava dentro de uma nuvem multicolorida, nu, sem nenhuma sensação física além de completude. Era o paraíso? Morte?

Natássia sentia-se elevar, como se não houvesse mais gravidade. Logo estava em meio às cores magnéticas da aurora que observava da janela minutos atrás. Jamais havia sentido tamanha paz. O frio estava ausente, a preocupação sumida. Estava no céu, voava, tocava as cores do céu como se fossem grãos de areia. Ao fundo, envolto em luz, havia um anjo de deus. Como se parecia com Hyoga!

Hyoga, ao virar-se para trás, sentiu uma explosão de felicidade no peito. Podia sentir sua própria alegria espalhando-se pelo corpo e sendo emanada pelas extremidades, pelo rosto, pelos olhos como eletricidade. Ali, do outro lado, estava sua mãe! Não aquela imagem azul, congelada e morta. Era sua mãe viva, corada, com o olhar lindo e profundo que estava tão esquecido nas memórias mais antigas. Parecia uma santa no paraíso, luminosa, envolta por nuvens coloridas.

- Mamãe! – gritou em êxtase.

Natássia, vendo o anjo aproximar-se, confirmou. Era Hyoga! Estava crescido! Tornara-se um rapaz tão bonito!

- Meu filho! Você cresceu!

- Mamãe, eu... – balbuciou o homem, chorando.

Os dois se abraçaram com todo amor que pode haver entre mãe e filho. Era como se, por alguns instantes, tivessem voltado a ser um único indivíduo, como na gestação.

- Mamãe, é... é tão bom vê-la novamente! E viva!

- Você é mesmo Hyoga! Tão crescido! Um homem feito! Como é possível?

- Mamãe, senti tanto a sua falta por todos esses anos! É tão bom poder estar de volta aos seus braços! Que lugar é esse?

- Não sei! Como você cresceu, meu filho!

- Não estamos no paraíso? Não morri para me juntar a você e a todos os que já partiram?

- Oh, meu filho... por um instante também pensei ter morrido, você se parecia tanto com um anjo! Mas estávamos adormecendo juntos na viagem, não se lembra?

- Sim, eu estava viajando... oh... se estivermos sonhando, oro para que jamais acorde. Mamãe, você fez tanta falta por todos esses anos!

- Anos? Você cresceu, não foi? O que aconteceu na sua vida, meu filho?

- Oh... você não sabe?

- Diga-me, o que houve na sua vida?

- Oh, mamãe, muitas coisas... algumas das quais eu me envergonho. Fico feliz de ter a certeza que você não sabe.

- Oh, meu filho... jamais me envergonharia de você. Por que tanta saudade? Eu morri?

- Oh... sim, mamãe, você morreu quando eu era muito criança... nosso barco para o Japão naufragou.

- Oh! Não! – surpreendeu-se a mulher, com as lágrimas vindo aos olhos.

- Não havia lugar no bote salva-vidas para todos. Os tripulantes se preocuparam apenas com suas próprias vidas, então você e eu ficamos para trás. Você implorou que me levassem, já que eu era pequeno, e aceitou sua própria morte de bom grado. – Hyoga chorava com sinderidade, acompanhado pela jovem mãe, chocada.

- Não acredito, Hyoga! E o que aconteceu com você? Oh, meu pobre filho!

- Bem, me levaram para meu pai, no Japão... lá, cresci com meus irmãos e fizemos grandes coisas juntos. Por muitos anos, visitava seu corpo congelado no fundo do mar, mas...

- Oh... e Mitsumasa, ele... ele te deu estudo? Ele cuidou de você?

- Er... s-sim, mamãe... ficou tudo bem. É tão bom estar com você!

Caminhando de mãos dadas, os dois sentiam o calor da vida pulsando em seus corações. Ambos sabiam que aquele momento não ia durar, e se abraçaram demoradamente.

- Eu te amo, meu filho... Eu... não entendo o que está acontecendo, mas me desculpe por não ter estado com você e por não tê-lo visto crescer, protegido e...

- Oh, mamãe! Se não fosse por você, eu não teria tido uma vida, não teria feito tantas coisas... eu te amo tanto! Obrigado, sempre quis poder voltar atrás e mudar tudo! Sempre quis que minha vida tivesse sido diferente, ao seu lado, com seu carinho e, sobretudo, podendo te retribuir todo o seu amor.

- Oh, Hyoga... Não sei o que fez para se arrepender tanto, mas... Tenha certeza de que meu amor sempre esteve com você, e que você não teve culpa de fazer o que foi preciso ser feito. Oh... meu filho... eu te amo tanto! Quero tanto vê-lo crescer!

E choraram juntos, mãe e filho, até que a manhã viesse e o sol os esquentasse. A aurora boreal foi diminuindo, se dissipando, e logo só havia sol, luz e calor.

- Hyoga! – disse Shun, mais de uma vez, sacudindo o companheiro. –Hyoga, acorde!

Hyoga chorava no banco do avião, dormindo, com o sol nascente iluminando seu rosto pálido.

- O que houve? Por que chorava? – perguntou o outro, aflito.

- Oh... – disse Hyoga, abrindo os olhos. Demorou alguns segundos para situar-se. Estivera sonhando... como fora real! – Oh... eu... eu estava...

Mas sua fala foi interrompida por um barulho brusco e um solavanco. O jato enfrentava algum tipo de turbulência.

Natássia despertou com o sol em seu rosto, que entrava certeiro pela janela circular da pequena cabine. Tivera um sonho tão maravilhoso, mas tão triste...

-Hyoga, meu pequeno Hyoga... – disse, enquanto abraçava gentilmente o pequeno menino adormecido.

- Mama! – ele disse, ao despertar. – Por que está chorando, mamãe?

- Hyoga, mamãe precisa que você saiba que... não importa o que aconteça, meu amor por você é o maior do mundo... fique com isto. Pertenceu ao meu pai e vem protegendo nossa família há muitos anos. Não perca jamais a sua fé na paz, na bondade e no amor, certo?

- Mamãe, seu crucifixo... ele é tão lindo! – Respondeu o menino, colocando o presente no pescoço. – Mas para de chorar!

- Certo... por favor, não chore por mim. A última coisa que quero é te fazer sofrer...

- Mamãe, eu te amo! Você nunca me faz sofrer! – Disse a criança, com cara de preocupada.

E então a conversa foi interrompida por um marinheiro que batia à porta com urgência.

- Naufrágio! Todos para o convés, o navio está a fundando! – gritava.

Era chegada a hora...


***


Kohoutek continuava a mesma de anos atrás. As mesmas casas, as mesmas famílias e as mesmas montanhas de gelo eterno. Jacob de Aquário tomava conta da base do Santuário na região e, em gratidão por uma vida de ensinamentos, sempre recebia o lendário cavaleiro Hyoga de Cisne com todas as regalias possíveis. Mas o Cisne era humilde e contentava-se em ficar na pequena casa que pertencera à família de sua mãe.

Naquela noite, e por muitas noites seguintes, o homem esperou junto à janela pela aurora boreal, torcendo para que adormecesse e reencontrasse a bela Natássia brilhando no céu. Mas isso nunca mais aconteceu... Todavia, Hyoga passou seus últimos anos com a certeza de que a mãe estava bem, em paz. Já não incomodava em sua mente a imagem azul do cadáver congelado nas profundezas; agora brilhava a mãe viva, sorridente e de olhos abertos. A voz cálida, o abraço afetuoso e o pulsar forte.

Hyoga viveu feliz por muitos anos ao lado de Shun, Atena, seus amigos e, sem medo, assumiu o orgulho pelos seus feitos. Certo dia, em sua terra natal, o bravo homem fechou os olhos e viu-se envolto em uma aurora boreal novamente.

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