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De Repente, Descobri Você § 6 – Algumas Conversas e enfim uma Evidência

Notas Iniciais:
Aqui está o último capítulo da história. Não deixem de ler minha próxima Serena/Darien: Despertar, uma fic romântica inspirada em Battle Royale. Ah, e Sailor Moon não pertence a mim, mas eu também não estou ganhando nada com esta produção, não me processem!

Olho Azul Apresenta:
De Repente,
Descobri Você


Capítulo 6 – Algumas Conversas e enfim uma Evidência

"É só que , sem qualquer razão, o tempo simplesmente passa,
sem que eu consiga fazê-la somente minha.
É só que, sem qualquer razão, o tempo simplesmente passa,
enquanto é apenas você que eu desejo."
(Good Night – Fukuyama Masaharu)

  Como minha febre persistiu, faltei a aula também no dia seguinte, apesar de haver ido nos demais dias, não prestara atenção nem às conversas durante o almoço.

  Sentia-me com medo a cada momento que eu andava na rua até minha casa ou ao templo da Rei para alguma reunião. E se Darien surgisse na minha frente, dizendo que devíamos conversar? Algumas vezes isso quase acontecera na semana seguinte, mas eu fugira antes que ele me visse, ou fingi que não o vira do outro lado da rua, e simulei estar entretida demais com o assunto de minhas amigas, o qual eu sequer queria saber o que fosse.

  Talvez por isso, eu não vinha vendo a Rei junto com o Darien. A impressão que eu tivera inicialmente de que os dois vivam enrolados um no outro podia ser só implicância minha. Bastara eu evitá-lo que nunca mais os vira juntos. Ótimo. Sem realmente ver Darien, minha vida parecia se acalmar. Aquele dia fora o pior, porque eu já estava muito mal. Não tem como a coisa ficar ruim de novo, se eu suportara o pior, nada mais poderia me fazer temer. Exceto a tal conversa com a qual Darien me ameaçara antes de me jogar para dentro do táxi.

  Após pouco mais de duas semanas inteiras daquele dia, eu voltava para casa sozinha pela primeira vez. Molly havia prometido sair com a mãe logo após as aulas e, apesar de ela haver em convidado após a cara de cachorro abandonado que eu lhe fizera, eu ficara de castigo por dormir em aula e por não ter feito o dever de casa.

  Olhei ao redor. Estava tudo tão quieto... Queria passar no Andrew e jogar um pouco, ver o salão de jogos sempre me fazia bem. Mas aquele lugar se tornara proibido. Até eu tomar coragem ou, na melhor das hipóteses, até Darien se esquecer de tudo, eu teria que evitar aquela calçada.

  E ouvi meu comunicador. Normalmente, aquele som é chato para mim. Sempre significava problemas e quem gostava de ter trabalho? Mas, pela primeira vez, ele quase foi bem-vindo naquele dia vazio e solitário.

“Serena,” O rosto de Lita apareceu na tela, melhor, ela já era a Sailor Jupiter, “tem um monstro perto das docas. As meninas já estão vindo, mas eu tô sozinha aqui. Será que você demora a vir?”
- Chego em alguns minutos! – respondi quase feliz.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

-Darien-

  Eu estava saindo da biblioteca, onde fora devolver uns livros para um trabalho da faculdade quando o familiar calafrio envolveu meu corpo. Desta vez, porém, estava tão forte que eu me curvei na rua.

  Um moço de terno parou ao meu lado e uma senhora perguntou-me se eu estava bem. Tremendo como se queimando de febre disse que sim. Recompus-me com o máximo de minhas forças e corri até algum lugar mais tranquilo para que eu pudesse me transformar em Tuxedo Mask.

  Corri até a direção que me chamava. Tudo aquilo só podia significar que Sailor Moon estava em perigo. Não havia qualquer dúvida. Aquele sensor que eu parecia ter dentro de mim disparava apenas para uma daquelas guerreiras de saia. Mesmo uma vez quando chegara lá e vira que Sailor Mars estava na mesma situação, mesmo após me dizer que Serena sabia quem eu era e que eu deveria cumprir com meu papel de namorado da Rei, meu corpo ainda pulou desesperado para resgatar a Sailor Moon apenas.

  Enquanto eu corria, certo de que estava perto de meu destino, juntei minhas emoções. Eu vira Serena após aquele último ataque, mas nunca conseguira falar com ela. Nem mesmo um cumprimento ela me permitira, levando a sério sua disposição em me afastar de sua vida. Agora, seria a primeira vez em que poderíamos interagir.

  Estava nas docas, perto da baía. O cheio de mar era inconfundível, salpicando em meu nariz. Então, eu avistei o cenário. Havia quatro sailors, sem dúvidas, mas duas estavam caídas em um canto, talvez Sailor Jupiter estivesse até inconsciente, enquanto Mercury tentava se levantar sem sucesso. Mais afastada, estava Sailor Mars, também caída ao chão, com a mão sobre o tornozelo. No meio, entre ela e o monstro, estava minha protegida, Sailor Moon, sendo segurada pelo pescoço por duas das quatro mãos peludas da fera.

  Lancei minhas rosas, fazendo o monstro soltá-la com a surpresa, e pulei até o lado de Sailor Moon, que caíra de joelhos chão, com mãos no pescoço, como se checando se ainda estava ali.

- Tudo bem, Sailor Moon? – tentei manter a voz calma. Nosso assunto pessoal devia ficar longe daquele lugar.
- S-sim, - ela cambaleou com as palavras.

  Seus olhos pareciam desfocados, talvez pelo susto ou até pela quase asfixia que sofrera. Mas, no instante seguinte, seu corpo se erigiu tenso e a cabeça fez uma brusca curva para trás.

- Sailor Mars! – gritou para a amiga.
- Eu estou bem, não se preocupe. – Mars sorriu fracamente, mas parecia sincera apesar da óbvia dor em seu tornozelo que a mantinha no chão.

  Sailor Moon sorriu e voltou-se ao monstro, que, recuperado de meu ataque, preparava-se para se jogar em cima de nós dois. Fiz sinal que ficasse parada, esperando-o vir com toda a força. E pulamos no último segundo, aproveitando o peso da criatura, que o jogaria para frente assim que ele freasse do impulso. Com a guarda dele baixa, Sailor Moon aproveitou para usar seu cetro lunar e logo o monstro virara pó.

  Ela quedou-se a observar o local onde o monstro ficava e eu não consegui não olhá-la. Passada a tensão da luta, minhas lembranças de nossa última conversa voltaram vivas, como se eu pudesse ver a cena bem na minha frente.

- Nós vencemos! – gritou Sailor Moon, dando alguns pulos.

  Demorei a notar que ela dizia-o diretamente para mim. Bem, ela também, claramente, não se dera conta disso, pois, no momento seguinte, parou tudo e virou-se para trás sem motivo aparente.

  Foi enquanto estávamos distraídos um com o outro que ouvimos Sailor Mercury gritar:

- Mars, atrás de você!

  Quando olhei de volta para Sailor Mars, quem estava bem na minha frente, o general do Negaversus que víramos durante a batalha no templo Hikawa havia aparecido e feito a sailor perder a consciência com algum golpe.

- Tarde demais, - disse o homem de longos cabelos cinzentos, - E desta vez garantirei que ela não me escape.

  Lembrei-me da última vez, quando ele aparecera e ao apontar para Rei dissera: “Acabo de juntar as peças para uma informação interessantíssima.

- Solta ela! – gritou Sailor Moon, apontando ameaçadoramente na direção do general.
- Ou o quê, Sailor Moon? – Ele abriu um enorme sorriso, enquanto levitava segurando Sailor Mars pela barriga.
- Tiara L-
- Espera! – gritei, pondo a mão na frente de Sailor Moon a tempo. – Isso pode machucar Mars.
- Ele também vai machucá-la, né? – respondeu-me no mesmo tom. – Não acredito que consiga pensar friamente quando ele está pronto para levá-la de novo.

  Não era algo em que eu já não tivesse pensado. Quando o assunto era Sailor Moon, eu agia e só depois me dava conta até de que fizera alguma coisa. Já com as demais, eu não fazia nada além do que fosse necessário para não ficar com peso na consciência. Mas não era algo que eu pudesse explicar.

- Não importa se eu consigo pensar ou não, - respondi no lugar de qualquer outra coisa.
- E por que você quer levar a minha amiga? – perguntou ela diretamente para o general.

  O homem de cabelos compridos riu, genuinamente divertindo-se às nossas custas:

- No dia em que a levei sem nem saber que ela era uma de vocês, eu percebi como a energia desta garota era forte. Talvez, o bastante para materializar o Cristal de Prata para o Negaversus. Ao menos, foi o bastante para vencer nossa segurança e escapar durante um de nossos confrontos, não é?

  Então foi por isso que ele levara Rei? Enquanto ela produzia o demônio que Serena pedira, o Negaversus percebera e a sequestrara?

- Mas eu realmente não fazia ideia que estávamos com uma de vocês... Não até perceber a dinâmica de nosso último confronto. Desta vez, porei uma segurança a altura de Sailor Mars, não se preocupem. – E gargalhou.

  O general começou a levitar mais para o alto e eu sabia que a qualquer momento desaparecia de volta à base do Negaversus. Serena tinha razão, algo deveria ser feito, mas o quê?

  No instante seguinte, uma neblina densa nos envolveu. Fiquei desnorteado não podendo enxergar nada, mas percebi que esse era um ataque que viera do nosso lado.

- Sailor Moon, ataque! – o grito de Sailor Mercury viera fraco, mal escondendo que prendera o inimigo naquela neblina se utilizando de suas últimas forças. – Sailor Mars é forte o bastante para aguentar um erro ou outro. Na piro das hipóteses, ela irá acordar.
- Tiara lunar! – Imediatamente, um flash de luz partiu do meu lado.

  Serena deve ter usado a lembrança de onde vira o general pela última vez, mas não errou a mira.

  Ouvi um gemido do outro lado e a neblina começou a se dissipar. Era a técnica de luta de Sailor Mars que envolvia a neblina com chamas.

  Um baque. Outro ainda mais alto, a ponto de sacudir um pouco o chão. E agora eu podia ver melhor: ambos haviam caído no chão. Mas o general não ficara ali por muito tempo. Ele levantou-se em poucos instantes, jogando-se para prender Mars novamente.

  Joguei minha rosa, arranhando sua mão. Sailor Moon correu até a amiga e pôs o corpo na frente da mesma.

- Deseja ir no lugar da sua amiguinha, Sailor Moon?

  Mars não estava bem. Antes ela já estava com o pé torcido, agora ela ainda estava machucada de receber o impacto da tiara lunar e aparentemente esgotada após o último golpe que lançara. Nada iria acabar bem.

  O cenário mudara e o general agora apontava para Sailor Moon, quem não mostrava qualquer falha em sua resolução de proteger a amiga. O general não se importaria em matá-la se fosse necessário, eu sabia daquilo. E eu também sabia que Serena não mudaria de ideia, era assim que ela prezava as amigas dela. A ponto de não tentar de forma alguma roubar o namorado da outra, ainda que gostasse tanto dele quanto ela me confessara gostar.

- Serena, sua idiota... – disse baixo, fechando meus punhos.

  Meu corpo todo reagia, eu tinha que fazer algo para protegê-la, mas não havia o quê. Minha força não era nada comparada às daquelas meninas. Mesmo se eu jogasse mil rosas, eu apenas me cansaria ou irritaria o inimigo.

  Naquele momento eu não conseguia mais pensar frio como estava fazendo tão bem momentos antes.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

-Serena-

  Em um momento eu estava vendo o tal general de cabelo longo marchando em minha direção. Sua roupa cinzenta havia rasgado em alguns pedaços, mas comparado ao nosso estado, era bastante claro quem estava melhor. De toda forma, minha missão neste momento era proteger Sailor Mars. Estiquei os braços, tentando cobri-la ao máximo com meu corpo.

  E vi o general sorrir com maldade, enquanto levantava uma mão onde uma bola de energia se concentrava:

- Você terá esta chance de sair do meu caminho, Sailor Moon. Eu levo sua amiga e vamos todos bem. Se não, eu arrisco acabar com a minha presa, mas também me livro de outra. Seriam duas a menos, o que deverá satisfazer bastante a Rainha Beryl. Eu só tenho a ganhar para qualquer opção. Já você... Saia logo daqui.
- Não vou. Você não vai machucar a minha amiga! Não vou permitir que a leve de novo bem debaixo do meu nariz.
- Ha! Mas isso ainda vai acontecer também, Sailor Moon. Eu a levarei, só me resta saber se você estará viva para vê-lo.

  A bola de energia crescera mais e ele a lançou.

  Puxei meu cetro lunar, pedindo-o que formasse alguma barreira, qualquer coisa que pudesse proteger a Rei e a mim. No entanto, o meu escudo viera de um lugar diferente.

  De repente, senti cair no meu colo um corpo quente e pesado.

- Tuxedo Mask! – gritei, sacudindo-o ao notar que estava desacordado, enquanto a blusa branca que ele usava por baixo do blazer manchava em uma rosa de sangue.

  Sacudi-o ainda mais, até perceber que o general que se enfurecera e se preparava para novo ataque. Se Darien não acordasse...

- Tuxedo Mask, acorde...

  Levantei os olhos e havia nova bola de energia nas mãos dele. Usei a tiara lunar e ele a repeliu para longe. Usei a cura lunar e não houve nada. Mesmo Rei tentara usar seu golpe, mas saíra fraco demais após a última explosão.

  Lágrimas começaram a sair dos meus olhos. Maldito Tuxedo Mask, sempre pensando direito para agir no momento certo e logo agora decidira desmaiar ali? Agindo que nem um desesperado para proteger-nos? Olhei para Sailor Mars, que estava com o rosto pálido também.

- Tire-o daqui, Sailor Moon. Esse general só quer a mim.
- Não. Se eu sair daqui, o que será de você?- perguntei, sem conseguir não chorar.
- E vai envolver Tuxedo Mask nisto também, sua cabeça de vento? – Mars gritou, me empurrando.
- Ouça sua amiga, Sailor Moon. – O general gargalhou, aproveitando cada momento. – Reproponho: saia da minha frente com esse homem e eu deixo vocês para a próxima.
- Não vou sair daqui. E não te deixarei levar minha amiga. Não depois de Tuxedo Mask se arriscar tanto para salvá-la!
- Sailor Moon... Acho que você... – Mars começou a dizer bem baixo.

  Mas o general a interrompeu, erguendo novamente a bola de energia, esta um tanto menor que a última, mas ainda perigosa. Abracei Tuxedo Mask, que continuava desacordado no meu colo. Queria cobri-lo com meu corpo assim como ele fizera por nós duas, mas eu precisava defender o que era importante para ele: Rei.

  Fechei meus olhos quando a luz forte se aproximou.

- Raio crescente!

  Quando ouvi aquele grito abri os olhos a tempo de ver um brilho alaranjado que empurrou a bola de energia do general para longe de todas.

  Em seguida, alguém pulou em cima de Malashite, chutando-o no chão.

- É a... – tentei dizer, mas as palavras não queriam sair.
- Sailor-v... – Mars disse atrás de mim, soando ainda mais incrédula.

  A sailor usava uma versão abóbora de nosso uniforme e tinha longos cabelos dourados e dançavam agora, enquanto ela apontava ameaçadora para o general do Negaversus.

- Agora sou eu quem te darei um ultimato, Malashite, - falou. – Você tem os próximos segundos para sair daqui. Isto se eu não mudar de ideia.
- Muito bem... – O general sorriu, mas não havia nenhum traço do sadismo de momentos antes. – Admito minha derrota desta vez. – E curvou as costas, em mesura para Sailor-v. – Mas garanto que se arrependerá de ter me dado esta chance, guerreira. – Em seguida sumiu no ar.
- Sailor-v, é você mesma? – perguntei, com a voz falhando com o estado maravilhado em que me encontrado.
- Ainda não chegou a hora de juntarmos nossas forças, Sailor Moon. Mas aguardarei ansiosa por esse dia. – E ela sorriu, pulando para trás, para cima de uns contêineres que nos rodeavam.
- Sailor-v... Parece uma princesa... – disse, ao vê-la sumir.

  E ouvi um som atrás de mim. Rei havia desmaiado de exaustão. Acordada do sonho que tivera, em que tudo saíra bem, deparei-me com o quanto eu era fraca. Ami estava sentada em um canto, sem conseguir se levantar. Lita e Rei, caídas inconscientes. E, bem ali nos meus braços, parecendo bem menos quente que quando ele viera para mim, estava Darien que ameaçava acordar enfim.

  Seus olhos azuis abriram como se ele houvesse levado um choque. E piscaram rapidamente por uns instantes.

- O... que hou...ve? – perguntou, olhando para mim em seguida. – Você es...tá bem, não... é?

  Assenti, segurando o choro:

- A Rei também, ela está salva, Tuxedo Mask! – respondi, segurando a vontade de acariciar seus cabelos negros.
- Fico feliz. – Ele sorriu, as pálpebras piscando lentas. Você conseguiu o que queria... – E fechou os olhos.

  Uma lágrima rolou dos meus olhos. Droga... Quanto tempo ainda ia demorar até eu superar aquele homem?

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Fazia dois dias desde a vez em que enfrentáramos o general de cabelo longo e víramos Sailor-V. Porque foram apenas dois dias, não havia aparecido nenhum novo monstro ainda. Mas fora sorte. A verdade é que a ameaça de levarem Rei mais uma vez continuava em suspenso e tudo o que podíamos fazer para silenciá-la era derrotar o Negaversus. E, guiando-se pelas últimas brigas, éramos fracas demais ainda para um objetivo tão alto.

  Ao sair da escola, caminhei pela conhecida rota até o templo Hikawa, onde as meninas já deviam estar me esperando. Ao menos, desta vez, eu não havia ficado de castigo na escola. Mesmo assim, eu sabia que estava atrasada. Meus passos andavam lentos demais...

  Lembrei-me, não pela primeira vez, da sensação de ter Darien em meus braços. Eu nunca realmente abraçara um homem e, mesmo assim, era algo tão familiar. Devia ser por causa da vez em que eu chorara de medo e ele me abraçara, tentei me dizer.

  Claro que era familiar, eu já havia estado em algo assim e com a mesma pessoa. Todavia, resistia uma parte de mim que insistia em como meu corpo pertencia ao dele; era uma conclusão não apenas estranha, como extremamente embaraçosa. Senti o sangue fazer minhas bochechas queimarem e sacudi o rosto. E eu estava sorrindo. Por quê? Serena, sua boba. O que havia para sorrir? Boba, boba. Eu era uma grande boba ficando assim por causa de um homem tão distante quanto o próprio Tuxedo Mask.

  Enquanto me xingava, lembrei-me de por que ainda por cima eu precisava evitar aquele homem. Eu havia me declarado para ele. Fazia já tempo o bastante para parte de mim se convencer de que não passara de alucinação em razão da febre daquele dia, mas ainda não o suficiente para eu estar completamente convencida.

  Pensando assim, terminei de subir as escadas para dar de cara com Rei e Ami de pé logo na entrada do templo.

- Ué, cheguei antes da Lita? – perguntei, franzindo a testa, sem esconder um sorriso de vitória.
- Ela não virá. Ligou dizendo que estava se sentindo mal.
- Eu ardo em febre e tenho que vir, mas ela pode faltar o quanto quiser. – Cruzei os braços.
- Bem, não vejo nenhum monstro aqui e não me lembro de termos posto uma faca na sua garganta para vir naquele dia também. – Rei pôs o dedo indicador bem perto de meu nariz.
- Mas todas estariam fritas se não fosse por minha excelente performance!
- Metendo-se em alguma enrascada para trazer o Tuxedo Mask, que salvou o dia, - completou Rei, mostrando-me a língua.

  Devolvi o gesto com ainda mais força.

- Meninas! – Ami entrou no meio, separando-nos. – Não foi para brigar com a Serena que você nos chamou, Rei. Foi?

  E em um segundo, Rei arrumou-se em uma pose digna de uma moça de família rica.

- Espera, não é uma reunião? Ou a Rei que agora é a líder? Porque, até onde lembro, o cetro lunar ainda é meu! – Resisti à tentação de dar nova língua.
- Ninguém nunca disse que era reunião, sua cabeça de vento, - retrucou a morena. Rei sempre me chamara assim desde uma vez que ouvira Darien falando o mesmo, mas na situação atual o apelido me machucava.
- Então, pra que estou perdendo meu tempo quando poderia estar jogando videogame? – Pus mas mãos atrás da cabeça e a descansei lá.
- Eu só queria pôr tudo em pratos limpos. – Rei caminhou até uma das construções do templo e sentou-se na madeira. – Esses últimos confrontos e toda a ameaça de me levarem de novo realmente me fez pensar muito. E ontem o Darien ficou até bem tarde conversando comigo sobre tudo. – Ela baixou o olhar e sorriu. – Ele tem sido gentil demais comigo... Já estava na hora consertar minha vida.

  Engoli minha própria saliva. O movimento forçado para aliviar minha tensão fez minha garganta seca doer um pouco. Sobre tudo o quê? Por que eles ficaram “até tarde” juntos? Naturalmente, eu já ficaria bastante curiosa com uma introdução tão vaga. No momento, eu estava era dividida. Entre querer ouvir logo e adiar o momento por medo do que poderia vir dali. Também havia uma terceira parte minha que simplesmente não queria se importar e assistia à cena de uma distância.

- Primeiro, queria pedir desculpas, por isso, preferiria que Lita também estivesse aqui. Eu vim mentindo para todas desde que voltei. – O sorriso continuava igual no seu rosto, mas talvez seus olhos houvessem mudado, pois Rei parecia cada vez menos com ela mesma. E as palavras pararam de sair.

  Ami sentou-se a seu lado de forma também muito pouco natural e segurou sua mão:

- Não se preocupe. Lita e eu já sabemos.

  Ao ouvi-lo, Rei levantou o rosto rapidamente, sem esconder a surpresa.

- Como assim? Do quê? – perguntei antes que a maior interessada falasse qualquer coisa.
- Foi apenas uma cogitação que Lita vinha fazendo, - Ami continuou, olhando ainda para Rei. – Não falamos nada com a Serena, pois não tínhamos certeza e não queríamos magoá-la sem necessidade.
- Quê?

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Eu já estava sem ar, correndo por toda a cidade. Ao mesmo tempo, o vento era refrescante, batendo contra minhas bochechas enquanto eu pedia passagem para as pessoas no caminho. Minha cabeça estava pensando tanto a todo momento que começava a parecer que não havia nada ali mesmo. Uma cabeça de vento? Mas era verdade, meus pensamentos viraram um chiado único, quase a estática de uma televisão sem sintonia.

  Maldita Rei, deste pensamento eu ainda me lembrava. Ainda não conseguia nem acreditar em tudo. Em como eu fora completamente enganada. De como ela sequer estava namorando o Darien.

  Claro, uma mentira assim eu poderia esperar dela, mas por que ele concordara? Mesmo tendo-o perguntado, não obtive resposta. Rei apenas dissera que fora esse o acordo. Mas que agora Darien e ela ficaram por horas conversando até ela criar coragem de falar a verdade para todos e lutar pelo que ela realmente queria.

  Sim, neste momento enquanto eu caçava o que -eu- queria, Rei devia estar conversando com Nicolas e se declarando. Que inveja. Era esperado que tudo fosse correspondido. Do jeito que Nicolas sempre gostara dela, ele sequer se importaria com toda a mentira. Eu até dissera isso, que nem precisava dizer nada a ele. Mas Rei, com seu jeito de menina rica que sempre me chamara atenção, balançou a cabeça e, com um sorriso, disse que aquela era a sua punição e que deveria apresentar-se à palmatória.

  Então que ela me mostrasse as mãos logo. Porque nunca fora justo comigo. Por que eu tinha que ficar pensando em como estava mal por gostar do namorado da minha amiga? Não que eu fosse dizer aquilo. Não a ela, ao menos. Mas havia uma pessoa em quem descontar toda minha ira.

  Eu só precisava encontrá-lo.

  Parei repentinamente, recordando-me de algo. Abri minha pasta e lá estava. O caderninho que me auxiliara quando eu investigara sobre Darien. E, mais que eu anotara durante todo ginásio, estava escrito cada detalhe sobre ele. Hora de fazer uso de minhas investigações para localizar aquele canalha convencido!

  E, perfeito, claro que ele tinha que estar lá. Onde começara a me causar todo aquele inferno.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Entrei no enorme prédio. Eu sempre me sentia um tanto menor quando chegava àquela biblioteca, o que era um bom motivo para me manter longe dela. Olhei para cima assim que me aproximei das escadas. Naquele ponto dava para ver o teto de vidro e o sol de inverno já se preparando para ir. Contei os cinco andares até o topo, todos cercados, mas com vista para baixo. Alguns estudantes estavam ao lado conversando entre si, mas nenhum era Darien.

  Suspirei.

  Estar ali era uma aposta segura já que aquele era o dia da semana em que Darien gostava de fazer pesquisas para a faculdade. Ao mesmo tempo, já estava quase na hora de ele sair e a biblioteca era simplesmente grande demais para eu localizá-lo. Eu também não havia investigado tempo o bastante para marcar no meu caderno os locais favoritos dele.

  Bem, não era sempre que eu tinha uma ideia brilhante, mas às vezes elas também aconteciam para alguém como eu. Caminhei de volta para a entrada, que também acontecia de ser a saída e fiquei de olho nas bibliotecárias. Darien teria passar por ali se ele quisesse levar algum livro. Não havia outra saída.

  Sentei-me em uma mesa próxima e fiquei de olho nas mulheres que no momento registravam livros nos computadores. Meu coração batia tão forte quando ali chegara, mas agora estava alternando entre momentos em que ele parecia esquecer o que eu ali fazia com outros em que a percepção do que poderia acontecer a qualquer segunda me atingia e fazia-o acelerar a toda.

  O número de pessoas na saída começou a aumentar, havia já uma pequena fila em frente às bibliotecárias, mas nenhum era Darien. Então, percebi que já havia anoitecido. Olhei para o enorme relógio na parede da biblioteca. Eram pouco mais de seis da tarde. Eu já vira vários sobretudos esvoaçarem na minha frente, mas nenhum parecia o do Tuxedo Mask, nenhum era o Darien.

  O que era mesmo que eu queria tanto falar com ele? Rei havia me dito com todas as palavras que seu namoro com Darien não passara de uma farsa, que ela o forçara àquilo após descobrir um segredo dele e que o usara para provocar ciúmes em Nicolas, quem nunca faria nada a não ser quando forçado. Ela não me contara porque eu não guardaria segredo e não dissera às outras porque se sentia infantil fazendo um jogo daqueles.

  Rei gostava mesmo de Nicolas então... A pessoa por quem ela percebeu ter sentimentos era ele e não o Darien. E mais: nunca houvera qualquer relacionamento romântico. Eles mal eram amigos, apenas saíam por aí de vez em quando. Na verdade, nos últimos dias mal vinham se vendo.

  E quem se importava? Darien sabia que era um esquema e sabia o que eu sentia. Claro, ainda havia o fio de esperanço que eu só não o deixara conversar comigo, como ele mesmo havia sugerido naquele dia em que me pusera no táxi.

  Continuei olhando. Agora a fila já havia sumido e as bibliotecárias começaram a me olhar desconfiadas. O relógio dizia que já eram quase sete horas da noite e o vidro no teto estava completamente escuro. Devia estar bastante frio lá fora... Como viera para a aula antes de receber a convocação da Rei, achara que voltaria bem cedo ainda, muito antes do horário atual e não trouxera nenhum agasalho mais grosso.

  Levantei-me da cadeira quando ouvi um anúncio de que tudo fecharia em cinco minutos. E saí de lá. Estava ainda mais frio que eu imaginava. As aulas se encerrariam no dia seguinte e logo seria Natal, mas não precisava estar tão frio assim em dezembro. Ou era apenas a minha decepção diminuindo a temperatura ao meu redor?

  Após observar as últimas pessoas saírem do prédio, soprei minhas mãos até senti-las de novo e abaixei a cabeça. Era hora de ir para casa. Darien não viera hoje à biblioteca...

  E minha coragem de conversar a sério com ele apenas ia por água abaixo a cada segundo.

  No caminho para casa, recordei-me de meu sonho. Bem, de todos os que eu andara tendo com Darien. De como eu passara a gostar da sensação de ser gostada a ponto de achar que era disso apenas que eu gostava e não do Darien mesmo. Bem, agora eu não podia ter dúvida já que a sensação que me vinha à boca era amarga demais. Não era por causa dela que eu gostava do Darien; era apesar de tudo.

  Algo molhado bateu em minha bochecha. Olhei para cima e percebi que pequenas bolinhas brancas flutuavam ao meu redor; talvez, assim estivessem fazia tempo. Elas apenas haviam se adensado o bastante para irem direto ao meu rosto. O vento frio que as fazia dançar contra a luz da rua não era mais tão refrescante quanto aquele que me cortara a bochecha no meu caminho até ali.

  Após quase uma eternidade que fizera até o frio virar algum tipo de calor em razão do exercício, eu cheguei à rua da minha casa. A neve continuava, mas tão fraca que eu às vezes não tinha certeza se estaria nevando ou se já virara algum chuvisco. Mas, quem sabe, ela se acumularia no chão durante a noite?

  Cheguei em casa, jantei e tomei um banho tão quente que minha pele ficara vermelha até a hora em que finalmente dormi.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

-Darien-

  Quando acordei no dia seguinte, percebi que estava atrasado para o último dia de aula daquele ano. No dia seguinte, seria feriado e no outro a véspera do Natal. Era quase hora do almoço e eu nem estava com muito ânimo de ir à aula da tarde, por isso, levantei-me, tomei uma ducha e saí para comer no primeiro restaurante fast-food que houvesse no caminho.

  E a cidade estava branca. Bem, por isso estivera tão frio desde a noite anterior, quando eu ficara até anoitecer esperando por Serena na porta da casa dela. Mas agora que eu notava o quão frio ficara de um dia para o outro, não estava com vontade de voltar e pôr algo mais quente. Logo o sol da tarde faria seu trabalho.

  Foi nesse caminho até o restaurante, com as mãos no bolso do casaco e o rosto abaixado para evitar contato direto com o vento, que parei bruscamente e olhei a pessoa à minha frente antes de um encontrão.

- Darien! – gritou a menina que me fizera esperar por horas.

  Rei me avisara que falaria com ela logo depois da aula, que ajeitaria tudo. Então, por onde ela andara? Haveria me notado no caminho e me evitado por raiva do que eu lhe causara? Incerto de em que ponto de nossa relação estávamos, tudo o que eu podia fazer era reagir e cumprimentá-la de volta.

- Não devia estar na faculdade? – perguntou-me, com os olhos maiores que o normal.
- Dormi demais.
- Está indo para lá agora?
- Não, só vou almoçar.

  E, graças à falta de incentivo a uma conversa da minha parte, o assunto acabara e ficamos nos olhando por um momento longo.

- Precisamos conversar, - dissemos ao mesmo tempo para espanto um do outro.

  Suas bochechas, já rosadas do frio, ficaram ainda mais vermelhas. Imaginei se eu também não estaria demonstrando um embaraço tão óbvio.

  Eu a levei ao restaurante ao qual já estava me encaminhando. Andamos tão em silêncio que parecíamos um casal tímido em seu primeiro encontro. No caminho mudei o rumo para uma rua comercial um pouco mais adiante e entramos em algo melhor que fast food, mas não tão mais caro. Por mais que eu quisesse tratá-la bem depois de tudo, não podia espantá-la com excesso de gentilezas.

- Eu vim querendo conversar contigo, mas nunca conseguíamos nos ver, - falei assim que fizemos o pedido à senhora que ali trabalhava.
- Rei me contou já. Que vocês nunca estiveram juntos.

  Assenti lentamente:

- Ela descobriu sobre eu ser Tuxedo Mask logo antes de ser levada naquele dia.  E me proibiu de eu te falar qualquer coisa.
- Eu já ouvi tudo isso, Darien. – Serena afastou o corpo da mesa enquanto a mesma senhora começou a pôr os pratos de nossa refeição. – Mas você podia ter me dito antes. Quando eu te falei tudo...
- É... Eu podia.
- E eu não deixei, né?

  Levantei o olhar de volta para ela. Serena abriu um sorriso, mas seus olhos pareciam desfocados.

- Sabe, ontem eu corri a toda atrás de você assim que soube a verdade. Foi um alívio tão grande, que eu não estava gostando do namorado da minha amiga. Só quando cheguei à biblioteca, só depois de esperar por algum tempo... Ou talvez só depois que já estava nevando no meu caminho de volta que eu percebi que nada mudara. – Seus olhos voltaram-se para mim. – Mas, mesmo assim, eu quero acertar toda esta história. Ou algo assim.
- Eu te amo.
- Posso ainda ser muito imatura a ponto de te perseguir pela cidade só pra provar que você é o Tuxedo Mask. E quantos outras criancices não andei fazendo depois?
- Serena, eu te amo. Não está me ouvindo?

  E minha voz pareceu enfim alcançá-la. Seu rosto ficara bastante vermelho e ela esvaziou o copo de chá gelado em um só gole.

- Por quê? – perguntou-me.
- Essas coisas... Tem como justificar? – perguntei de volta, ajeitando-me em meu lugar.

  Ela me devolveu uma expressão confusa, que ocupou o lugar do embaraço de pouco antes.

- Eu vim pensando nessa situação faz bastante tempo, - disse eu, comendo mais um pouco de minha comida antes que esfriasse. Ou apenas para aliviar a minha tensão. – Até aquele dia em que você me levou para aquela armadilha no depósito, eu nunca havia te considerado de qualquer forma. Você só era parte dos meus dias. Mas a verdade é que pode ser que eu já sentisse algo desde muito antes.
- E você sabia o que eu sentia, sabia da mentira da Rei... Por que não fez nada!?
- Porque era bastante claro que você me odiaria por nos deixar numa situação assim. Naquele dia em que nos encontramos depois da batalha no templo e você disse tudo, comecei a perceber quanta besteira eu fizera. Mas eu fui ainda mais malvado depois, quando já havia sido alertado de que Rei não tinha mais qualquer motivo para sua farsa e não fizera nada. Só que naquela luta contra o general eu entendi um pouco por que eu não podia agir. Sua amizade com a Rei é um vínculo tão forte que, mesmo que fosse mentira dela, você não iria gostar de ouvir isso de mim. Era uma situação que eu piorara, deixara rolar e agora eu não podia resolvê-la sozinho.
- Por isso, você conversou com a Rei, né?
- Fui eu quem a procurei, mas ela mesma já sabia o que era o certo. Só não sei como as coisas ficaram com aquele rapaz...
- Bem, ontem eu falei com ela à noite. Não lembro direito, pois eu tinha acabado de voltar da biblioteca, mas parece que Nicolas e ela estão juntos agora.

  Eu sorri com algum alívio. Uma parte de mim ainda tinha medo de minha decisão de parar com a mentira pudesse ser egoísta a ponto de prejudicar Rei. Ao menos, dera tudo certo.

  Nesse momento, a moça apareceu e retirou nossos pratos, servindo mais chá em nossos copos. O almoço que eu ganhara com ela havia acabado e eu não sabia como resolver o problema que nos havia criado.

- Sabe... Eu tive um sonho no outro dia... – disse Serena em meio ao silêncio.
- Um sonho?
- Estávamos naquela lanchonete e você havia pedido bolo comigo.
- Isso não aconteceu? – perguntei, um pouco perdido.

  Serena sorria com algum divertimento:

- No meu sonho, você gostava de mim... – Seu rosto de ruborizou e ela inspirou fundo para continuar. – Mas não sabia como me dizer isso. E eu apenas observava a situação, mal conseguindo esperar para saber como seria quando tudo estivesse na mesa. Havia também uma parte de mim que gostava daquele suspense...
- Bem, não sei aonde quer chegar... – disse sinceramente. Naquele momento, o suspense havia se invertido.
- É que agora que você disse, eu não sei o que fazer.
- Como assim? Se alguém diz que gosta de você, deve-se responder para aceitar, rejeitar ou pedir um tempo. – Tentei manter um tom neutro na explicação.
- É, mas o que aconteceu aqui foi essa resposta, né? – Serena estava bastante vermelha neste ponto.

  E ela não estava sem razão. Então, percebi que eu também não sabia o que fazer, além de ficar tão ruborizado como ela. Um restaurante não era um bom lugar para declarações de amor, não era como se eu pudesse beijá-la como tanto queria.

- Que tal irmos, então? – ofereci, pegando a conta a conta e já caminhando para o caixa.

  Serena me seguiu, pondo de volta seu casaco e seu cachecol. Eu apenas pus meu sobretudo sem nem me incomodar de fechá-lo. Estávamos de volta à rua comercial e percebi que era a mesma de um tempo antes quando eu andava procurando sacolas da sorte e a encontrara escolhendo máscara para o rosto.

  Ainda era povoado demais.

- Que tal irmos tomar um café, agora? – disse, começando a mostrar o caminho.
- Certo...

  Andamos mais um pouco, sem encontrar uma boa saída daquela rua para qualquer café. Havia muita gente passando por nós, aquele era um momento em que eu definitivamente não queria ficar longe de Serena. Olhei para trás, procurando-a, mas eu errara o lado em que ela estava no momento. Notei-o ao sentir sua mão gelada roçar a minha timidamente.

- Podemos andar assim, né? – perguntou-me, pronta para tirar a mão dali a qualquer momento.

  Sorri de volta. Mas não consegui me segurar mais. No próximo segundo, eu havia usado seu braço para puxá-la para mim e a beijei com muito mais força que eu gostaria. Para minha surpresa, no entanto, demorou apenas um momento para que fosse correspondido. De repente, a multidão passando ao nosso redor nem parecia mais estar ali.

  Usei meu casaco para cobrir seu pequeno corpo e puxá-la ainda mais para perto enquanto minha língua percorria o interior de sua boca tão quente.

- Você me perdoa mesmo, por haver demorado tanto? – perguntei antes mesmo de nossos lábios se separarem o bastante, sentindo os dela roçando os meus a cada movimento.

  Em vez de me responder com palavras, Serena me abraçou bem forte.

  Um vento forte bateu na minha frente e o sobretudo que a cobria voou um pouco para trás. Ouvi-a gargalhar.

- O que foi? – Franzi minha testa, olhando para baixo, para o monte de cabelos se apertando contra meu peito.
- Estava me lembrando daquele dia na biblioteca. Quando vi a capa do Tuxedo Mask passar e, na verdade, era este sobretudo.
- Foi por isso que você começou a me seguir?

  Ela se mexeu um pouco, provavelmente assentindo:

- Genial, não? Fico imaginando como seria se meu desafio no depósito tivesse dado certo, se Rei não houvesse sido sequestrada.
- Desafio, que desafio?
- A você, oras. Pra te fazer revelar quem era. Não se lembra da minha carta? Rei veria e contaria a todas que eu estava certa o tempo todo.

  Não contive as gargalhadas.

- Aquela carta parecia tudo, menos uma carta de desafio, sua cabecinha de vento.
- Ria como queira, mas quem ganhou fui eu. – Então, ela se distraiu novamente, afundando-se em meu peito. Era a melhor sensação do mundo. Depois de beijá-la, claro. - Aliás, acho que agora tenho uma prova melhor que o testemunho daquela mentirosa da Rei.
- Pretende me arrastar até as suas amigas?
- Não preciso. – Do meu peito, veio à superfície um sorriso nem um pouco belo. – Agora posso me transformar na Mrs. Tuxedo Mask. – E me exibiu a rosa que eu guardava comigo, me fazendo perguntar se todo aquele abraço não seria ainda parte de seu plano inicial de revelar minha identidade ao mundo.

  Serena já estava bastante longe quando tentei reagir para recuperar minha rosa. E corria saltitando pelas pessoas, apenas parando ocasionalmente para me dar a língua.

- Pode parando aí, sua cabeça de vento!

  Mas isso apenas a fazia correr mais.

  Até bater com a cabeça em um poste no meio da rua. E começou a chorar, caída de joelhos no chão com a mão direita na testa e a outra ainda segurando minha rosa.

  Foram poucas as coisas que mudaram desde o dia em que eu recebera aquela carta de amor... Melhor, de desafio, como ela gostava de chamar.

- Vamos não chore... Eu te compro quantos bolos quiser lá no café, que tal? – disse, pondo a mão em seu ombro.
- E também vai me deixar comer o que sobrar do seu bolo?

  Não havia planejado comprar o bolo para mim também, mas me lembrei com um sorriso do pedaço que eu deixara para trás naquele semiencontro.

- Já que insiste... – E estendi a mão para que se levantasse.

  Aproveitei para pegar minha rosa de volta, nada de Mrs. Tuxedo Mask; uma Sailor Moon já me dava ataques do coração suficientes por ela mesma.

FIM!

Anita, 21/01/2012

Notas da Autora:

É o fim. Terminou mesmo! Esta fic começou em uma fria tarde em que eu não tinha nada para fazer em uma sala de informática (cenário familiar?) e ficou por um bom tempo não apenas perdida no meu notebook como com o enredo simplesmente sem rumo. Acho que ficou bem visível como de repente o enredo pareceu virar outro. Na verdade, o retorno da Rei era para ter sido a última cena e ela acabou voltando já no segundo, terceiro capítulo. Na verdade mesmo, esta história seria de capítulo único, sem enrolo. Aí, percebi que havia sim uma história a mais que eu queria contar, que não valia a pena deixar morrer lá.

Outro detalhe é que boa parte dela foi desenvolvida em eventos. Primeiro no 25 dias de escrita de dezembro e depois no de janeiro, combinado com o fanficwrimo. Acho que sem eles, esta fic não teria terminado tão rápido. Bem, eu a comecei em novembro de 2010, se não me engano, então um ano e tal não é rápido, mas ela só começou a andar no final de 2011. Conseguir encerrá-la em tão poucos meses foi uma proeza se considerado meu ritmo atual com fics. Devo agradecer a ambos os eventos por isso.

E como estou falando em agradecimentos, devo agradecer a todos que me apoiaram na jornada: Vane, Felipe, Miaka-Ela, Kiryu Kurai, Timbi, Mariana, Laarc... Foi maravilhoso escrever com vocês! *lágrimas*

Talvez pelo formato do ffnet, a história tenha sido a minha a receber mais resenhas até hoje. Mas se vocês não as houvessem escrito, elas não existiriam, né? Muito obrigada por todos os comentários! Foi ótimo me sentir escrevendo junto de todos, sabendo sua opinião a cada cena. É uma sensação maravilhosa. Acho que esse formato deu certo, né? Por isso, creio que seguirei assim.

No Olho Azul, seguirei publicando Despertar e no ffnet começarei a publicá-la para seguir esta. Espero que gostem. É um tantinho diferente, rs. E também bem mais curta, acho que a metade desta. Depois, espero poder enfim mostrar a minha de universo alternativo.

Muito obrigada a todos os que leram até aqui e quem não comentou não fiquem achando que comentário em fic velha não vale, porque vale siiiiim! Aliás, foi um comentário assim que me fez querer dar uma nova chance ao embrião desta fic. Vão em frente, é só dizerem que leram que eu já fico muito grata!

Até a próxima, pessoal!

2 comentários:

  1. aaaaaaaa quase enlouqueci... tava acompanhando pelo ff.net mas do nada sumiu :(
    Ailembrei do olho azul e quando vi que estava completa ^^ comecei a ler... demorou um pouco até acertar a perte mas foi ^^
    Adorei o final, claro que imaginei que o segredo dele fosse outro, pensei que a Rei jap sabia que ele gostava da Usagi e tal... Serena pirando no final foi 10 ^^
    Amei... bem já disse né que amo suas fics :)
    Kissus Ja ne
    Timbi

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    Respostas
    1. Obrigada por ter lido tudo!!! Não entendi o que aconteceu com a ffnet, espero que esteja tudo bem o.O Se for algum problema com a fic, é só avisar. Mas fico feliz que tenha se lembrado do Olho Azul, rs.

      O Darien maltratou muito a Serena, mas ele realmente não fazia ideia, né? Da primeira vez ele crente que ia receber uma declaração e a Serena tinha armado um monstro pra ele, rs.

      Muito obrigada mesmo por ter acompanhado a fic, amanhã ponho a nova no ffnet, espero que goste!

      Beijos e até a próxima!

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