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[Saint Seiya] Culpa, escrita por Felipe Poseidon

Fandom: Saint Seiya
Capítulos: Único
Autor: Felipe Poseidon
Gênero: Drama, yaoi
Classificação: 16 anos
Resumo: Cenas de sexo e violência . Universo alternativo; Hyoga e Shun crescem juntos no orfanato e desenvolvem algo maior que amizade.


Disclaimer: Saint Seiya pertence à Toei Animation e à editora Shueisha. O texto aqui contido não visa lucro de alguma forma, configura-se apenas como uma narrativa de fã para fã aproveitando personagens da mitologia da série original.

Notas do autor: Dréia! Espero que goste! Especialmente depois da linda fic que você me deu de presente no último amigo secreto, espero mesmo não te decepcionar. Acabei mudando algumas coisas do seu pedido, porque prefiro escrever fics one-shot. Por esse motivo, diminuí a importância do Ikki e o tornei um personagem mais plano... mas acho que mantive a ideia que você queria, de ele ser um vilão dos piores. Espero que o ritmo urgente do texto não te incomode, mas achei que combinou com o tom da história. Boa leitura, espero pelos seus comentários! :D

Culpa


História escrita para o Coculto, um Amigo Oculto de fanfics promovido pela comunidade Saint Seiya Superfics Journal.


Por Poseidon

Para Andréia Kennen




Estava sentado à beira da praia, deixando o vento passar pelos cabelos castanhos. Sentia um vazio estranho; não chegava a ser incômodo, mas era melancólico. Os momentos que seguem acontecimentos muito ruins são um tanto anestésicos. Shun estivera em transe por muitas horas, e somente nesse momento, longe do que presenciara e afastado do que fizera, pôde começar a refletir sobre os fatos.

Parecia ter ocorrido há mais tempo, mas começara na noite anterior. Ainda podia sentir as mãos geladas percorrendo seu corpo; o sentimento vívido de urgência e do medo do proibido. Agora, aquele sentimento tão grande e tão alegre não passava de cinzas.

Hyoga chegara ao orfanato há oito anos. Perdera a mãe em um naufrágio, e, sem mais nenhum parente vivo, fora enviado para morar no local. Não falava japonês muito bem, e assustava os outros garotos pelos seus cabelos loiros de russo. Shun já estava por lá, e a aproximação dos garotos não foi tão imediata; ambos eram meninos traumatizados, que evitavam interação. Com o tempo, essa característica os uniu, e acabaram por conversar e desenvolver amizade. Na verdade, Hyoga foi a única pessoa com a qual Shun teve uma amizade profunda na vida.

O irmão mais velho de Shun matara os pais a tesouradas, em uma noite de inverno, quando eles tinham apenas onze e treze anos. Ikki nunca explicou claramente seus motivos, por mais que Shun, a polícia e a justiça tentassem extrair alguma coisa dele. A “tragédia dos Amamiya” ocupou os jornais por meses, pouca gente não se deixou levar pela curiosidade de saber mais sobre a desgraça daquela família perfeita. A infância de Shun foi um inferno tão grande que ele guardava poucas lembranças da vida em família, e constante era o sentimento de sufoco; repórteres e curiosos o procuraram por muito tempo para que falasse de coisas que não entendia na época. Os padres do orfanato tentavam protegê-lo do assédio e do ódio da comunidade, que julgava que o irmão de um assassino também merecia punição. Pouco a pouco, esses fatores fizeram-no criar uma couraça psicológica, de forma que não se deixava envolver por nada nem ninguém.

Hyoga e Shun, Shun e Hyoga. Sempre juntos, desde crianças, reconstruíram mutuamente suas emoções estraçalhadas. Quando tinham dez anos, já parecia haver entre eles uma amizade saudável. Os padres do orfanato tentavam fazê-los se misturar com os outros garotos, mas eles acabavam se excluindo, em suas conversas intermináveis. Era surpreendente para ambos como eles eram parecidos; suas angústias infantis, ininteligíveis para a maioria dos moradores daquele lugar, eram tão compatíveis! A amizade era inevitável, e a dependência de um pelo outro veio suavemente como consequência da similaridade dos sentimentos.

Houve várias noites em que Shun acordou e, silenciosamente, caminhou até o leito onde Hyoga repousava para observá-lo. Sentia alegria apenas em lembrar que havia alguém no mundo com quem contar; aquilo matava sua sede infantil de dependência, reconstruía o chão que sua mente em desenvolvimento necessitava e que fora estraçalhado pelos acontecimentos de anos antes.

Em muitas dessas noites, Hyoga não estava dormindo. Os dois tinham insônia: para eles, fechar os olhos era uma experiência dolorosa que trazia flashes de memória indecifráveis, sentimentos angustiantes, crescentes, incômodos. A única escolha era abrir os olhos e esperar.

-Não consegue dormir? – dizia Hyoga aos sussurros, os olhos claros brilhando nitidamente na escuridão.

-Não. E você? – respondia Shun, envergonhado por ter sido pego observando o amigo.

-Também não... Quer deitar aqui?

-Ok.

Então se deitavam lado a lado, e passavam a noite conversando, tentando decifrar os sentimentos ruins que consumiam seus pensamentos.

Hyoga tinha em mente a nítida imagem da mãe decidindo que ficaria no navio, e implorando para que uma das mulheres do bote salva-vidas o levasse embora. Sabia que ela chorava quando entrou na cabine com o intuito culposo de morrer congelada naquelas águas frias, enquanto o barquinho se afastava. Gritos, perda, culpa. Conseguia definir melhor a origem de seu trauma que Shun, cujas lembranças eram turvas e imprecisas. Este se lembrava de muito pouco da noite em que seus pais morreram, talvez porque isso ocorrera quando era muito novo. Sabia, no entanto, que estava frio então, e que fora colocado para dormir pelo irmão mais velho. Depois disso, lembrava-se apenas de estar de pé, ao lado de Ikki, vendo a própria casa queimar com os cadáveres dos pais lá dentro. Seu corpo doía, estava cansado e com muito medo. Em seguida, vieram a polícia, os repórteres e o caos. As próximas memórias localizavam-se já no orfanato, quando estava sendo acalmado pelos tutores e recebendo instruções para não ser abordado por pessoas indesejadas.

Quando ficou mais velho, Shun passou a poder visitar o irmão. Encarava tais visitas periódicas como dever rotineiro. O caos da mídia havia passado, e, afinal, aquele homem era sua única família. O ambiente da prisão era opressivo, ir até lá não era prazeroso de forma alguma, mas necessário. Nunca pôde sentir raiva por ele... tinha ciência de que Ikki causara todos os problemas contra os quais lutava até hoje, mas, ainda assim, nutria por ele algum tipo de piedade, de carinho. Talvez amor fraterno fosse isso...

Em sua presença, no entanto, perdia o fôlego. Não era raiva nem medo; era algo que nunca pôde expressar, nem mesmo a Hyoga. O fato é que hesitava sob os olhos negros e frios.

Do outro lado do vidro blindado havia um guarda de pé, com o rosto fechado, uma arma nas mãos. Era um ambiente realmente austero e opressivo... A despeito do que fizera no passado, Ikki comportava-se muito bem no confinamento e mostrava-se preocupado com o bem-estar do caçula.

- Olá. – dizia, sem expressão, pelo telefone que o conectava ao exterior.

-Oi, irmão! – Respondia Shun, colocando a mão no vidro como de costume. Tinha o gesto prontamente respondido pelo outro, de forma que as duas mãos se encostavam simultaneamente na grossa camada transparente. Não era possível nem sentir o calor um do outro.

Um observador externo não poderia descrevê-los como irmãos, tamanha diferença física. Shun era baixo e magro, cabelos compridos e feições delicadas. Não que parecesse doente, mas era frágil e pálido. Ikki, por sua vez, era alto, robusto, tinha os músculos bem-trabalhados e a pele morena. Havia algo em comum no cenho dos dois, porém. Possivelmente não se tratava de semelhança física, mas sentimental.

-Consegui um emprego, Ikki! Vou começar amanhã! – contou Shun, certo dia. – É um hotel de um grupo novo que está se instalando na cidade. Serei carregador de bagagens, mas a empresa promete possibilidades de crescimento profissional. – Shun vomitava novidades fazendo pequenas pausas para que o irmão comentasse, mas ele não o fazia. Em conseqüência, o mais novo continuava falando e falando. Era o procedimento padrão de suas conversas.

-Fico feliz, Shun! – Quando Ikki falava algo, proferia poucas palavras; Shun lia neles o impronunciável: “Me desculpe por ter acabado com sua vida, irmão”. TINHA que ler isso naqueles gestos, para suportar a situação.

Shun procurou trabalho em muitos lugares depois de completar catorze anos. Começou em alguns deles, mas, em todas as ocasiões, chegou o dia em que descobriram o escândalo que seu sobrenome carregava. Não fossem os padres da congregação, o rapaz certamente estaria passando fome, mesmo já tendo condições hipotéticas de se sustentar.

Não fossem os padres da congregação, Shun não teria Hyoga.

Seu relacionamento mudou um pouco, com a chegada da adolescência. Continuavam sendo confidentes, claro, mas, superadas as angústias infantis, os conflitos eram outros. Já interagiam com os outros garotos, mas não encontravam neles amizade; eram por demais infantis a seus olhos. Eles preocupavam-se com bens materiais e garotas, ao passo que Shun e Hyoga preferiam debates filosóficos e estudar juntos. Ainda não compreendiam isso, ainda lutavam contra isso, mas, na verdade, preferiam um ao outro às outras opções. Se bastavam.

Com apoio financeiro do orfanato e com a renda que recebiam trabalhando, Shun, Hyoga e outros garotos da mesma idade que não foram adotados acabaram alugando um apartamento para dividir os gastos. Estavam muito velhos para permanecerem com as crianças órfãs, mas fizeram a transição sem grandes problemas.

Na nova moradia, Shun e
Hyoga dividiam um quarto. Eram os melhores amigos do grupo, era natural que ficassem juntos. Assim, obtiveram mais liberdade que nos quartos lotados do orfanato, e passou a ser frequente que Shun descesse da cama de cima do beliche para deitar-se com Hyoga. Quase todos os dias, por muito tempo, os dois acabavam dormindo no mesmo leito, em meio à conversa.

Com o tempo, a troca de experiências emocionais e as mãos dadas não foram mais suficientes. Os dois garotos esperavam o dia todo para que chegasse a hora de dormir, para que pudessem ficar juntos, o mais perto possível. Recolhiam-se cedo para que ficassem sozinhos em seu santuário, onde podiam fazer o que quisessem sem que ninguém os repreendesse. Sabiam que o que estavam fazendo era errado, que os padres da congregação os puniriam como haviam feito antes, mas não conseguiam viver sem aquelas doces noites em que se excluíam do mundo exterior e tinham somente um ao outro.

Certa vez, sem que ninguém soubesse, abraçaram-se e deixaram que seus corações batessem em uníssono. Não pronunciaram uma palavra enquanto mudavam de posição. As mãos gélidas, o medo recíproco de que um deles achasse a situação repugnante, o suor frio misturado ao desejo que lhes crescia por toda pele.

Seus rostos logo se encostaram, lábios com lábios, e o calor trocado os impediu de dormir; nessa noite, a insônia não foi por más lembranças, mas por causa da excitação velada. Ambos sentiram os volumes por debaixo das calças aumentarem e esquentarem, e estabeleceram um ritmo lento de fricção. A atração era muita, explosiva e palpável. Shun nunca sentira nada assim... a proximidade de Hyoga não era suficiente, estar por debaixo de seu corpo, entrelaçado em seus braços e pernas já não satisfazia. Precisava que suas peles se fundissem, que se tornassem apenas um. Embora não entendesse o que estava acontecendo, sabia com total certeza o que sentia: precisava daquele corpo dominando o seu. Beijaram-se. O tamanho do pecado que cometiam já não importava.

-Shun, eu... – suspirou Hyoga, calando-se com o gesto do outro.

-Não fala nada... não pensa em nada... – disse Shun, com urgência.

O loiro, que estava por cima, tirou a camisa e permitiu que o amigo apalpasse seu peito gélido, seu pescoço úmido, os mamilos endurecidos pelo nervosismo. Como se demandasse o passo seguinte, ajoelhou-se na cama e puxou a mão de Shun rumo ao zíper de sua calça. O ato foi prontamente respondido, com Shun abrindo as calças jeans de Hyoga vagarosamente.

Trocavam olhares de ternura: aquilo estava para acontecer e, agora que acontecia, o medo e o desespero que sempre estivera em seus corações começava a diminuir. Tinham um ao outro, possuíam-se, consumavam-se e consumiam-se. Não precisariam de mais nada na vida.

Shun ajoelhou-se, sentindo o sexo do amigo por sobre a cueca; beijaram-se novamente, as línguas entrelaçadas, os braços puxando os corpos um em direção ao outro com força. Já não suportavam permanecer distantes alguns centímetros sequer.

Então Hyoga desabotoou a camisa que Shun estava vestindo, tirou suas calças e o abraçou. Sentir os peitos se encostando, o abraço desnudo, os músculos e as mãos explorando cada parte do seu tronco era indescritível; Nesse momento, Shun teve certeza de que amava aquele homem. Agora entendia por que nunca sentira atração por mulheres, por que sempre fora tão diferente dos colegas de orfanato, que descreviam peripécias sexuais com orgulho. A ele, tais peripécias não interessavam. Para ele, só havia aquele homem que o abraçava. Sempre fora assim, sempre soubera disso...

Segurou o volume sob a cueca de Hyoga com a mão. Suavemente, tirou a última peça de roupa que o amigo vestia e admirou seu pênis. Feliz em dar-lhe prazer, abaixou-se e tocou o membro com os lábios e a língua, enquanto o amigo gemia baixo. Como uma criança zelosa, abocanhou-o com suavidade e sentiu seu sabor. O gosto de Hyoga era agridoce, misto de ternura e voracidade, e lhe fazia querer sorver, engolir, sugar com a fome que a excitação lhe proporcionava naquele momento. Ambos gemiam de prazer, os peitos cheios de felicidade e paixão.

O loiro, então, enlouquecido pelo estímulo do outro, pegou-o pelos braços e forçou-o por entre o quarto até a parede, imobilizando-o de costas. Beijava sua nuca e apalpava suas nádegas, pleno de prazer, sem saber o que se passava na cabeça do parceiro.

Shun deixou-se levar por Hyoga, satisfeito por estar sendo comandado. No entanto, ao fechar os olhos, veio-lhe um frio no fundo do coração.

Já sentira aquilo antes: pânico, horror, dor física e sentimental. Como uma tempestade que chega sem aviso, o sentimento bom de estar com Hyoga converteu-se em pavor indescritível. Era o flash de memória definitivo; a lembrança-chave que sempre buscara, a semente de todo seu desespero.

Estava dormindo quando Ikki aproximou-se e o acordou.

-Tá dormindo, Shun? – perguntou.

-Tava... – respondeu o pequeno menino, esfregando os olhos de sono.

-Então vem cá. – disse o mais velho, abraçando-o.

- O que você tem, nii-san?

-Eu te amo, Shun. – respondeu. Em seguida, deu-lhe um beijo nos lábios, e segurou o pequeno corpo que tentava afastá-lo.

-Não, Ikki! Pára! – disse Shun, intrigado.

Ikki não ouviu. Colocou as mãos por debaixo da pequena camisa de pijama listrada e apalpou o corpo do irmãozinho. Deu-se uma breve luta corpo-a-corpo, a qual Ikki venceu rapidamente por ser mais forte. Imobilizou o pequeno irmão e, tirando-o da cama, colocou-o contra a parede. Assim, abaixou as calças e o violou, com a fúria da excitação doentia que o consumia.

Shun, horrorizado de dor, não parava de gritar, cada vez mais alto. Sem demora, o Sr. Amamiya veio correndo ao quarto e, apavorado, viu o filho mais velho estuprando o caçula, esmagando-o contra a parede tamanha violência das estocadas.

-Ikki! – gritou, correndo em direção aos dois e puxando o mais velho com fúria. – Ikki! O que é isso? – e continuou gritando, atirando-se em direção ao menino, no chão, para espancá-lo.

Ikki, mais veloz que o pai, correu para fora do quarto. Shun, caído ao chão, nu e dolorido, as pernas sujas de sangue, viu o pai correr atrás do irmão. A partir daí, só ouviu gritos: Ikki utilizando-se de todo léxico ofensivo que possuía, enquanto primeiro o pai e depois a mãe gritavam de horror até que suas vozes fossem silenciadas. Ele os matara no banheiro, como soubera depois, a tesouradas.

-Hyoga! – falou Shun, ao abrir os olhos. – Pare...

O loiro, sem violência, desobedeceu ao apelo do amigo e continuou o ritmo. Aos poucos, forçou-se para dentro dele.

Shun, por sua vez, converteu toda a excitação e a felicidade que sentira antes em pânico, como se reavivasse o momento em que foi estuprado. Estava vivenciando novamente a lembrança que enterrara profundamente no subconsciente, sofrendo a mesma dor daquele dia em que perdeu a família. A cabeça do pênis de Hyoga penetrando-o, a força de Ikki violando-o: o mesmo sentimento, a mesma vontade de fugir, a mesma reação violenta de revolta e negação da psique infantil estraçalhada.

Virou-se com força, desfazendo a imobilização estabelecida por Hyoga. Não tinha nada em mente agora, exceto os olhos frios de Ikki querendo devorá-lo. Os olhos frios que ainda o observavam até hoje, por entre o vidro da sala de visitas da prisão.

Não podia deixar-se devorar, precisava relutar, expulsar o violador com violência. Já não via Hyoga no quarto, já não sentia amor por ninguém. Tudo que tinha era ódio, rancor e medo. E lá estava Ikki. O culpado, o crápula, o estuprador e assassino.

Pegou a cadeira ao lado da cama e, antes que o pai chegasse, antes que seus gritos acordassem a família, defendeu-se por si só: jogou a cadeira no irmão, com toda força que tinha. Ikki, caído, não falou nada. Os olhos fechados, já inconsciente pela batida. Estava lá, humilhado. Como devia ser: envergonhado pela atrocidade que fez e do mau que criou.

-Você não vai matá-los! – gritou Shun.

Com a mesma cadeira, espancou Ikki no chão. Fez com que os pés descessem-lhe sobre os olhos e o estômago, perfurando a pele como ele o havia perfurado. O sangue espirrou fluído, os dois olhos esmagados, o crânio fazendo barulho de rachadura. Sua força era descomunal, estava se vingando por toda uma vida de sofrimento.

Repetiu o movimento inúmeras vezes, batendo a cadeira ao longo do corpo inerte do irmão demoníaco, até que o sangue se espalhasse pelo quarto e o rosto de Ikki ficasse desfigurado. Não permitiria que nenhum som jamais saísse daquela boca, que nenhum movimento fosse realizado por aqueles braços fortes. Matou Ikki como ele matara seus pais, sem remorso e com frieza no olhar.

Exausto, olhou ao redor.

Havia sangue pelas paredes, manchando o carpete e o beliche. Não se lembrava de ter um beliche no quarto... havia saído com a mãe em busca de uma cama de solteiro para o quarto novo, quando se mudaram para aquela casa, e não escolhera um beliche. Tampouco Ikki o abordara num beliche, era sua cama, com suas cobertas. E cadê os pais?

Abriu a porta do quarto para chamá-los, para contar que evitara o pior e pedir ajuda para limpar aquela bagunça. O que viu foram os colegas de república, os meninos do orfanato, vendo televisão na sala. Sua concentração foi quebrada quando visualizaram um Shun nu, ensanguentado e com olhar de horror.

Ele havia matado o mais belo dos pássaros.


***


Estava na praia, o vento levando seus cabelos para trás. Talvez as pessoas estivessem certas: quem é da mesma família que um criminoso acaba se tornando um. Já ouvia o barulho das sirenes da polícia.

Poucas coisas se passavam em sua mente... nada se passava em sua mente. Sabia que a culpa era de Ikki, e que sua própria culpa estava por vir. Mas não vinha. Não sentia nada que pudesse chamar de ruim. Não chegou a olhar para o cadáver de Hyoga, o que vira era Ikki destroçado. Uma pessoa normal estaria sofrendo? Uma pessoa normal teria feito o que fez?

Não podia medir o que lhe trouxe mais satisfação: a paixão ou a vingança. Talvez, tudo que teve com Hyoga tinha sido apenas um simulacro de felicidade. Precisava, antes, destruir o irmão.

Mas não o fez.

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