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Tenshi no Tatakai, Não Há Apenas Um § 20 - Yoroshiku

Notas Iniciais:

Pra comemorar a reformatação dos dezenoe capítulos, decidi liberar o vigésimo. Sim, ele foi escrito há literalmente anos, mas como esta história entrou em um hiato forçado para revisão do roteiro o que eu ainda não consegui fazer direito, os demais capítulos ficaram presos comigo.

Bem, este lançamento agora não quer dizer que a história tenha sido completamente ressuscitada, mas interpretem como um pequeno sinal de vida. :D

Mandem comentários, dependendo deles, quem sabe! Agradecimentos a todos os que vieram me cobrando, é tão bom saber que as pessoas ainda lembram que esta história existe. Realmente me deixa emocionada. T_T (Nota escrita em 08/03/2012)

Agora, vamos lá!


Olho Azul Apresenta:
Tenshi no Tatakai,
Não Há Apenas Um

Capítulo 20 - Yoroshiku

  Quando Chavakiah terminara de contar a história, Beatrice quase perguntou de não havia como voltarem a fita e passá-la um pouco mais devagar. Fora quase como um relatório anexado a um pedido de desculpas por haverem entregue um produto defeituoso a forma como Chavakiah lhe informara de que Fahel recebera punição pela falta gravíssima de trazer uma alma como o fizera com Eyuku.

"Como seu atual anjo da guarda, digo que cumprirei todas as funções e a protegerei de todos os males. Permita-me guiá-la a partir de agora, Filha de meu Senhor," concluiu, como se lesse um manual de instruções. Frio. Direto ao assunto. Aquele não era Fahel.

  Dois dias haviam se passado desde que vira Eyuku e o anjo dourado, graças à ajuda de Fahel, e desde então este desaparecera. Por mais que tenha ficado preocupada e gritado por notícias, aquelas não eram as que gostaria de ouvir.

-E agora? - perguntou, sentando-se em sua cama sem terminar de vestir o próprio uniforme da escola.
"Há uma nova missão a ser cumprida referente às chacinas que vêm ocorrendo."
-Não foi o que eu quis dizer! Quando Fahel voltará?
"Não acontecerá mais. Como já disse, peço muitas desculpas pela falha daquele anjo. A partir de hoje eu mesmo a guiarei de maneira mais apropriada através de seu duro caminho."
-Chega! Como assim ele não virá? Nunca mais nem poderei falar com ele? Não precisa ser meu anjo da guarda, apenas aparecer de vez em quando está bom... - Iria chorar? Não conseguia... Tudo estava sendo tão repentino que só pensava em como poderia ter evitado aquilo. Realmente fora tanto egoísmo querer ver Eyuku pela última vez? Ajudá-lo a não ir para o inferno? Por mais que pensasse, aquela fora a coisa certa. Sabia que tinha agido bem ajudando-o. Então, Fahel também o fizera, né? Por que ser "demitido"?
"Beatrice, nos falaremos ao fim de suas aulas. Deve ir imediatamente ao endereço da última chacina. Até lá."
-Fahel ficava direto comigo... - Cruzou os braços. Não suportava aquela meia-lua que não estava nem aí para ela.

  Todavia, Chavakiah desapareceu sem dar resposta. Só o outro caía em suas manhas, né? Deitou a cabeça na cama, fazendo com que os longos cachos dourados caíssem no chão do outro lado. Sem Fahel, nada daquilo parecia real... Não queria entrar em uma cena de crime sem seu anjo da guarda. Onde ele estaria? Triste ou feliz por se ver livre dela? O que estaria fazendo?

-Beatrice! - Batidas nervosas na porta a acordaram do devaneio. - Vai se atrasar, entendeu?
-Já tô indo, Shin... Ei! Hoje é seu último dia, né? - Vestiu um sorriso como se estivesse se enfeitando com roupas caras. Tudo descartável.
-Como assim? - ele ainda estava atrás da porta quando a menina a abriu, já com a maleta, pronto para ir para a escola.
-Papai chega hoje, então amanhã eu me livro de você!

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  A loira ainda não acreditava que fora seguida. Mesmo sem olhar para trás sentia-se incomodada com aquele olhar constante nas suas costas. Cerrou bem forte o punho e estava pronta para gritar quando o mesmo a interrompeu:

-Trix-chan, isto aqui dá medo... - Hanato cruzou os braços como se para fingir que suas tremidas eram de frio. - Por que você quer tanto vir? Você sabe, pessoas foram mortas neste mesmo lugar.
-Por que não vai embora então? - Beatrice seguiu pelo caminho que Chavakiah lhe indicava na cabeça até chegar ao fundo daquele prédio ainda em construção.

  Não que o amigo não tivesse razão. Era um local antes freqüentado por um grupo de marginais; volta e meia ocorriam festas ali com drogas liberadas até que na última duas pessoas morreram de fora estranha. As festas pararam, mas menos de uma semana depois, o grupo que ficava ali direto vendendo tóxico foi vítima da chacina mais recente; incluindo alguns compradores e um acompanhante. No total foram dezessete.

-Acha que tem alguma alma penada aqui?
-Hanato, pensa antes de falar.
-Quando eu era mais novo eu os via muito.
-Hum? - Bia enfim chegara aonde Chavakiah a queria. Pôde ver a faixa amarela e preta da polícia começando a ficar empoeirada. Por que o anjo a queria em um lugar assim? Pegou a máquina que trouxera consigo e começou a tirar as fotos que o anjo lhe pedira.
"Sua missão é examiná-las bem, assim poderemos descobrir o culpado," dissera. Mesmo que a menina lhe perguntasse por que não tentaram algo assim antes, era ignorada.
-Ai, acha que aquilo ali é? Olha, consegue enxergar aquele moço? - Hanato insistentemente balançou seu ombro, até que Bia decidiu olhar na direção que apontava.

  Estava certo, podia ver duas pessoas, na verdade. Um jovem entre vinte e trinta anos e mais um senhor de roupa bege, mais velho que o outro. Hanato foi o primeiro a caminhar até ambos, parecendo feliz por não ser o único a vê-los.

-Oláaa! Também tá fazendo turismo?! - perguntou para o mais jovem, que pareceu ignorá-lo. Era impressão de Beatrice ou seus olhos sem cor a olhavam fixamente? - Ooooi, tô falando contigo. Peraaaí! Pode parando neste segundo. Esta menina aqui. - Pegou o braço da loira, puxando-a para si. - Não é sua, então chega desse olhar estranho pra ela.
-Hanato, pára com isso... Sinto muito. Vocês são seguranças?

  O mais jovem continuava a encará-la de tal forma que Hanato pediu que os dois fossem logo embora dali. Beatrice despediu-se dos dois, curvando-se uma vez para cada um e pedindo desculpas por incomodá-los. Então, voltou ao local real dos assassinatos, começando a se sentir mal sob tal olhar silencioso. Mas o outro também a intrigava bastante, parado ali, apenas prestando atenção no que o rapaz fazia.

  Hanato pegou a máquina dela e continuou com as fotos, dizendo que da forma como ela estava fazendo, demorariam anos. Beatrice riu-se:

-Não sabia que era tão medroso, Hanato. Os dois só parecem curiosos com a gente, - disse, olhando por cima do ombro do rapaz para ter uma idéia das fotos.
-Dois? Acho que é você quem tá vendo fantasma... Só vejo um cara de vinte e poucos ali. Ou você tá vendo outros dois? Ai ai ai, já tô todo arrepiado.
-Vai ver preciso de óculos! Tem razão, só tem um ali, he he! - Beatrice levou a mão à cabeça fazendo-se de boba.
-Aaah, você fez isso tudo pra implicar comigo, né? Não acredito! - Hanato virou-se e tirou uma foto flagra da moça, assustando-a com o flash.
-Pára com isso!
-Ah é? Esse é seu ponto fraco, coisinha mal-assombrada? - Tirou mais fotos, correndo atrás dela por todo o local.
"Beatrice, olhe melhor as pessoas de mais cedo," interrompeu Chavakiah, fazendo-a parar no meio do caminho, de olho principalmente no mais velho, quem já sabia ser algum espírito.
"Alguma coisa está acontecendo com o que está vivo?É aquilo o que chamam de encosto?" perguntou secretamente, enquanto com uma das mãos puxava de novo a câmera de Hanato.
"Você já encontrou com esse tipo de anjo antes de acordo com os relatórios que recebi."
"Um anjo?"
"Não desperdice a sorte que tivemos de encontrá-lo."

  Sabia que a partir dali seria por conta dela. Chavakiah sempre se reservava apenas a dar as instruções, se bemq eu naquele haviam sido bastante precisas. Estaria de bom humor? Ou sem paciência para esperar a cabecinha da jovem pegar? Aproximou-se de novo dos dois e os cumprimentou, enquanto Hanato recusava-se hegar mais perto depois de ouvir da própria que podia haver um espírito ali.

-O senhor precisa de algo? - perguntou ao rapaz.
-Não podem fazer mais silêncio? - respondeu, enfim, virando um pouco a cabeça.
-Já estamos terminando. Só fiquei imaginando se algum de vocês iria querer alguma coisa.
-Não há nada que possam fazer.
-Você conhece este senhor ao seu lado? - arriscou indagar, apontando para o espírito de olhar perdido.
-É meu irmão mais velho. Ele morreu há alguns anos. Isso te assusta?
-Oh, então pode mesmo vê-lo?
-Quer pra você? Não agüento mais ele aqui. Desde aquele dia fica me seguindo.
-De quando ele morreu?
-Não! Três dias atrás, à noite...
-Quando aconteceu o último ataque do assassino em série?
-Sim.
-Talvez ele esteja preocupado contigo.
-Quer que eu o siga.
-Pra onde? Não deveria fazer o que seu irmão pede?
-Não quero sair daqui. Não depois que eu a vi sendo levada por aqueles bichos. Não te interessa, caia fora menina, o que quer que você e seu amigo sejam.
-O que quer? O que seríamos? - Beatrice levantou as sobrancelhas.
-Bem, vocês não me dveriam se fossem qualquer coisa, né? Eu morri naquele dia e vi todos os meus amigos e minha garota serem levados. Alguns foram comidos por aquelas coisinhas, pouco a pouco. Não saio daqui!
-Você está morto? - A loira deu um passo atrás e olhou para Hanato, que lhe dera as costas no mesmo momento para mostrar sua insatisfação.
-Oh, você realmente está com medo de mim?
-Espera, onde está o coveiro?
-Quê?
-Tem que ter um anjo para te convencer a sair daqui pro outro mundo. O coveiro.
-Aqueles bichinhos? Como eu evitei a luz, eles não me viram. Vou fugir enquanto posso, nunca me pegaram, não vai ser agora.

  Beatrice olhou para o mais velho. Este parecia estar com o olhar ainda mais vago, como se quisesse chorar, mas não o pudesse. Aproximou-se dele e segurou suas mãos. Queria muito consolá-lo; como o fazer? Quase conseguia sentir seu calor, então soube que aquele seria o guia espiritual do outro. Voltou-se para o jovem mais uma vez:

-Acha que seu irmão deixaria que isso te acontecesse? Sou filha única, mas recentemente meu pai casou-se de novo e foi em uma lua de mel deixando o meu irmão postiço tomando conta de mim. Ele é chato com tudo, mas realmente cuida da casa... O Shin se preocupa tanto comigo que acho que nesta situação eu confiaria nele sim. Então, por que você que por tantos anos foi irmão mais novo dele não faz o mesmo?

  O jovem virou-se para o irmão e ajoelhou-se. Antes que qualquer palavra saísse de sua boca, as duas almas desapareceram; Beatrice ainda pôde ver um sorriso de agradecimento no rosto do mais velho enquanto sumiam com o ar.

"Eles ficarão bem?" perguntou a Chavakiah, querendo secretamente que Fahel lhe respondesse.
"Ele terá seu julgamento. O que aprendeu com o encontro de hoje?"
"Que o Hanato consegue ver fantasmas. Isso me assustou!" Virou-se para o outro que ainda parecia querer ignorá-la. Teria visto os espíritos indo embora?
"Bem, se foi isso mesmo, então temos muito a percorrer ainda."
-Quê!? Como assim!? - gritou, mas não houve resposta, Chavakiah fora ao próximo protegida, deixando-a novamente perguntando-se sobre como Fahel estaria sem ter que perder a cabeça com suas respostas erradas. Teria aborrecido ele tanto a ponto de não voltar mais após aquele pedido de ver Eyuku? Mesmo afastado, Fahel sempre voltara antes para perto de si.

  Quando percebeu, Hanato estava segurando forte sua mão, puxando-a:

-Vamos embora deste lugar deprimente. - Começou a andar em direção à saída, sem largar.
-Está bem.
-Então, pára de chorar...

  Levou a outra mão ao rosto e realmente estava molhado em lágrimas. Sentia muita saudade do Fahel, né? Pensando bem, o que ele lhe diria como lição do dia? Não era incrível Hanato ter visto o cara?

  Fechou os olhos e lembrou-se da primeira Mensageira que vira, uma mulher vestida de doméstica ao lado da mãe do Padre Julius. "Ela fica com as almas por um pequeno tempo, com aquelas que não quiseram seguir... Ela fica esperando que o façam por um ou dois dias," dissera Fahel então. Se o irmão mais velho era o coveiro... Por isso, não podia se comunicar com o mais novo! Coveiros não falam. Então como eles acalmariam espíritos como aquele? No caso, o irmão apenas confiou porque era seu irmão mais velho, independente da interferência de Beatrice. Coveiros então deviam ser espíritos próximos dos que morreram? Só que coveiros são anjos, né?

  Sacudiu a cabeça, confusa. Estava generalizando. Aquela devia ser uma exceção! Um ou dois dias! Essa era a exceção, Aquele rapaz morrera havia três dias... Um coveiro ficaria por um ou dois dias, segundo Fahel. Talvez, o irmão não fosse um coveiro e sim outro anjo. O coveiro poderia ter desistido de levá-lo, então, o irmão voltou ao mundo material para ajudá-lo, como se fosse um coveiro. Seria essa a resposta? Havia algo quente dentro de si; a certeza de que mesmo não estando inteiramente certa, estava perto. Só que não era graças às ajudas do Chatovaquiah! Como seria bom perguntar tudo direto ao Fahel, suas conversas eram sempre tão boas... Todavia, uma coisa sim concluiu: não estava sozinha. Mesmo sem Fahel, ainda haviam pessoas ao seu redor.

  Olhou de volta para Hanato, andando quieto um passo à frente e devolveu o aperto na mão. Sentiu-se uma menina mimada por ganhar apoio sempre que precisava daquele rapaz, mas realmente não gostaria que aquilo mudasse.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  A casa era tão comum quanto qualquer outra da vizinhança, com exceção de sua ligação com uma construção subterrânea antiga, o melhor lugar apara que os enviados do Mestre se estabelecessem. A mulher olhou para seu altar e sorriu satisfeita. Fazia pouco menos de duas semanas que chegara ao Japão, mas o mestre trabalhava rápido e tudo estava quase pronto. Olhou de volta para seu mordomo, Guilford estava com ela desde criança e servia fielmente a seu Mestre desde então.

-Conseguiu o que te pedi? - perguntou-lhe, caminhando até a saída da construção de outra era do Japão. De fato, a casa perfeita para a filial mais importate de sua seita. Talvez, até a sede.
-Sim, o mercado negro japonês é mais incrível que o Canadense. Dizem ser um objeto amaldiçoado, mas por conta do boato conseguimos por um preço ótimo, minha senhora.
-Não há bom preço para nosso Mestre, Guilford. O importante é ter o objeto. Ponha-o no altar, é o que o Mestre me está mandando.
-Sim, senhora.
-E o ritual?
-Reunimos três famílias importantes, como nosso Mestre pediu. Dois saíram da seita desmantelada recentemente. A senhora acredita mesmo que foram os anjos quem o fizeram?
-É o que o Mestre me fala. O Céu rompeu com as regras do divino equilíbrio e por isso a antiga mansão está plena de energia astral. Eu a queria tanto... Mas não posso nem chegar perto que passo mal! - Ajeitou seus longos cabelos lisos, eram tão negros que quase a ocultavam naquela escuridão apenas iluminada a velas também negras. Precisava da fumaça para atrair os maus-espíritos, crentes que na verdade encontrariam alimento para seus corpos astrais secos de energia. O Mestre se encarregaria de pô-los todos no próximo objeto a atingir a Filha de Deus.

  A mulher olhou para a porta de saída e gargalhou. Era ótimo, enfim, estar sendo útil. Como esperara pelo momento em que os primeiros enviados falhariam... Secretamente, pedira ao Mestre que falhassem para que ela tivesse a honra de conquistar o corpo divino da enviada do Céu. Um corpo frágil de longos cabelos dourados dos quais o Mestre não sentiria falta se os pegasse para si e os acrescentasse à sua infinita coleção de perucas.

  Guilford a seguiu até o térreo e logo foi fazer seu chá, tinha certeza de que sua patroa estaria faminta após a glória de ter em mãos o objeto conforme descrito pelo Mestre. Era ótimo ser útil a ela como fora a seus pais, ainda presos à grande mansão da família. Se tivessem sorte, o casal não precisaria ficar lá por muito tempo; o Mestre os libertaria.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Beatrice passara todas as fotos tiradas durante a tarde para o computador ainda imaginando o que fazer com elas, pois Chavakiah nem comentara nada. Decidiu investigá-las, mas por mais que as encarassem, ainda lhe pareciam ser fotos de um lugar onde acontecera um assassinato. Sombrias, mas nada além de fotos.

  Mais uma vez perguntara-se como aquilo seria com Fahel. O que deveria ver nelas? Passou a brincar com as mesmas, acrescentando-lhes efeitos fantasmagóricos, mexendo com o contraste... Ainda eram fotos. Como os artistas dos filmes conseguiam ver fantasmas ali? Seria isso o que ela deveria ver? O cara de antes já não bastava? Uma alma que se encaminhou sem um coveiro devia ser algo incrível, certo?

  Aquelas missões nem sempre faziam sentido, mas dessa vez era exagero. Tivera que ir a um local onde ocorrera um crime horrível, aturar Hanato perturbando-lhe o tempo todo, dar uma de maluca vendo duas pessoas onde nem uma havia, o que por sorte o outro não descobrira... Para que o fazia? Não se lembrava de qualquer passagem na Bíblia em que Jesus não sabia o que estava fazendo! Bem, devia haver algumas, mas nenhuma era daquela forma tão sem sentido.

  "Seria tão mais fácil ter apóstolos e ficar contando historinhas pra eles..." Riu-se. Fahel sem dúvidas já a teria repreendido por um comentário desses. O que lhe diria? "Já houve um assim, ature o seu trabalho!" Não, ela não conseguia uma frase boa o bastante para sair da boca daquele anjo. Pelo menos, não havia mais sonhado.

  De repente, ocorreu-lhe um estalo. Fahel fora punido por culpa dela de alguma forma e demitido do trabalho. E o outro anjo? Chavakiah nunca nem comentara sua presença. Tinha uma pergunta importantíssima que deixara para fazer se Fahel voltasse, mas talvez devesse contentar-se com o atual anjo da guarda: aquele anjo era sua mãe? Por conta do comentário de Eyuku dizendo temer sua mãe, Beatrice começara a acreditar que sim, mas não fazia sentido que sua mãe fosse um anjo, certo?

  Se bem que nunca soubera como anjos nasciam... Eles também morreriam?

  Voltou a olhar para as fotos. Tivera a impressão de ver algo atrás de um bloco de cimento, mas dando zoom não conseguia confirmar o que realmente era. Talvez um pedaço de roupa? Não que houvesse visto algum, mas, pensando bem, estava mais atenta às duas figuras estranhas que à sua missão.

  Enviou as que ela mesma tirara de Hanato para o e-mail do garoto, como resposto ao outro que ele lhe enviara pedindo as de sua "Trix-chan", mas aquelas ela guardaria para si, pelo menos uma ou duas que ficaram boas. Ao terminar foi tomar banho, sentindo o fim do dia se aproximar a cada ação. Em breve, seu pai chegaria da lua de mel; enfim, poderia despedir-se do rei não-coroado e voltar à sua vida tranqüila sem Shin Kandatsu. Não que não sentiria saudades, mas aquele garoto já lhe dera nos nervos demais por ora. E sempre poderia encontrá-lo na escola.

  Voltou ao seu quarto, vestiu-se o melhor que pôde e desceu apressada, já conseguindo ouvir a voz alegre de seu pai, provavelmente com o espírito renovado após a lua de mel. Mai estava linda com uma roupa que devia ter comprado no Havaí. Percebeu também que seu cabelo estava com luzes, fazendo o azul parecer estar um tom mais claro e em vez dos saltos de semrpe usava uma sandália rasteira. Tudo nela atraía um ar bem tropical. Seu pai mesmo ainda era o mesmo, apenas mais alegre e parecendo bastante mais jovem. "Eles realmente estavam precisando de uma viagem dessas," concluiu Beatrice, correndo para abraçar o pai.

-De fato, uma menininha... - Shin comentou, ajudando a mãe com as bolsas de mão, enquanto o restante já fora levado por Nana até o quarto principal.
-Acho que essa energia da Bia é um de seus pontos mais positivos, - disse Mai, rindo-se.
-Como os dois estiveram? - Saidaku soltou-se do abraço de Beatrice e agora mirava Shin, como se o avaliasse.
-Eu já disse, foi tudo bem. Vocês se preocuparam à toa ligando toda hora. - O rapaz gargalhou e começou a seguir a mãe até a sala onde o jantar esperava a família.
-Podem ir me contando tudo sobre o Havaí! - Bia abraçou o pai de novo.
-Claro, querida, mas antes o Shin queria dizer algo a todos.

  O jovem aguardou até que todos estivessem sentados e prosseguiu em tom solene:

-Percebi durantes estes dias em que vivi nesta casa que é um ótimo ambiente, sem contar que muito perto de minha escola. Por isso, decidi aceitar o convite do Saidaku-san e de minha mãe de tornar minha estada permanente.
-É sério!? - Mai e Bia gritaram ao mesmo tempo, ainda que a última não tenha feito uma expressão tão feliz quanto a daquela.
-Shin conversou comigo quando liguei para informar que chegáramos ao Japão. Perguntou se não seria incômodo e tudo; claro que foi um sacrifício segurar-me até o jantar para que toda a família soubesse junta!
-Mas pra sempre? - A loira forçou um sorriso, como se satisfeita estivesse.
-Até ele se casar! Né, filhinho? - Mai olhou para o rapaz que sorriu um pouco envergonhado.
-Não que seria ruim se todos morassem na mesma casa, mas entendo que esse costume já está ultrapassado demais... - lamentou Saidaku, - Eu queria mesmo que Bia e Shin sempre estivesssem perto de nós.
-Sempre? Ele? - Bia olhou para a sopa que Nana lhe serviu e se repente percebeu que não havia fome alguma vinda de seu estômago, apenas mil imagens de como Shin tornaria sua vida um inferno. Só podia estar de brincadeira com ela!
-Pois é, cachinhos dourados. É tão lindo ter uma irmã fofa assim que não resisti. Tenho que te proteger de tudo, né? E é oq ue faria a partir de agora. Yoroshiku onegai shimasu!

  Era impressão de Beatrice ou ele parecia estar fazendo aquilo de propósito?

Continuará...

Anita 27/01/2008

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