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De Repente, Descobri Você § 4 – Relacionamentos

Notas Iniciais:
Esta história se passa durante a primeira fase, mais ou menos enquanto elas tentavam reunir os cristais arco-íris. Sailor Moon não pertence a mim, mas eu também não estou ganhando nada com esta produção, não me processem!

Olho Azul Apresenta:
De Repente,
Descobri Você
Capítulo 4 – Relacionamentos

“Um primeiro amor que quebra e murcha
Com certeza aquela garota deve ser
A namorada que você escolheu, né?”
(Smile Bijin - S/mileage)

-Darien-

  Minha cabeça ficara dolorida por toda a manhã. Eu só conseguira levantar e tomar um banho quando já era quase meio-dia. Ainda não sabia o que faria para o almoço. Por sorte, minha recuperação era mais rápida que a de uma pessoa comum. Os noticiários daquela manhã estavam cheios de relatos de familiares das vítimas do ataque ao trem.

  Ouvi meu telefone tocar assim que fechei o chuveiro. A secretária eletrônica atendeu, era Andrew perguntando onde eu estava e por que faltara aula. Lidaria mais tarde com ele.
  Saindo do banheiro, corri o olho por todo meu apartamento. Não havia sinais de que Serena me trouxera até ali, mas eu me lembrava claramente de seu cheiro, enquanto me emprestava apoio. Não podia ter sido um delírio. O que significava que... Eu já havia dito tudo. Que eu já sabia sobre sua identidade.

  Não era meu plano, revelar assim. Queria prepará-la. E, de preferência, eu a queria um pouco mais satisfeita comigo depois de eu haver usado seu cetro lunar para forçá-la a um encontro.

  Depois de seu comportamento nada usual naquela lanchonete, acrescentado à gata estranha que eu encontrara no lugar onde Rei desaparecera, o cetro deixado para trás fizera tudo se conectar. Claro! Por isso Serena sabia que eu era o Tuxedo Mask com tanta certeza. Havia me visto vezes o bastante em ambas as formas para poder tirar a diferença e ver que não havia nada.

  Pensando bem, comecei a lembrar-me do comportamento de Sailor Moon... Comparado a como Serena normalmente reagia com Darien Chiba...  Pobrezinha, deve ter tido um nó na cabeça.

  Eu realmente precisava conversar com ela. Olhei para o relógio em meu pulso. Mal era meio do dia. E hoje tinha aula. Bufei ansioso. Por que não fizera logo isso no dia anterior quando ficamos por tanto tempo juntos? Então, pensei em outro assunto não muito relacionado: aquela revelação em nada ajudava a situação de Rei.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Decidi que se queria mesmo encontrar a Serena, o melhor seria ficar perto do Andrew. Considerara esperá-la na porta da escola, mas não fazia muitos dias que fizera o mesmo; as chances eram de eu ser considerado um delinquente ou qualquer coisa do tipo por lá. No Andrew, eu estaria no meu ambiente e sabia muito bem todas as entradas e saídas do lugar.

  Entrei no salão de jogos e me dirigi a um canto. Fazia tempo que notara que aquele era algum tipo de ponto cego para quem chegava. Serena só conseguiria fugir quando eu a avistasse. Isto presumindo que era o que ela queria. Pensando bem, eu não fazia ideia de em que pé estávamos.

  Um rapaz veio me perguntar se eu estava esperando Andrew, que naquele dia ele ficaria na faculdade por mais algumas horas. Balancei a mão, indicando que tudo bem, que não precisava de nada. O ideal era ninguém ficar olhando para aquele canto, de forma a chamar atenção para ali.

  Olhei para meu relógio. Pouco mais depois das três. Enquanto fazia hora em meu apartamento, eu listava todos os tópicos possíveis. Não era como: eu realmente sei que você é a Sailor Moon fosse um assunto muito longo. Mas não queria que fosse só aquilo. Ademais, havia sim a questão da Rei.

  Pensei nas Sailors que vinham acompanhando Sailor Moon. Era claro que faltava uma delas. Rei. Sailor Mars. Concluindo isso, ficava fácil imaginar que alguém forte a levara, ou não teria conseguido sem uma luta. E o lugar de onde Rei desaparecera não tinha sinal algum de qualquer confronto. O que as Sailors estariam achando disso?

  Isso, não podia deixar de focar nosso assunto naquele estranho desaparecimento.

  Bem quando eu parava para imaginar por que aquele esforço todo para que Serena pensasse bem de mim, a porta do salão de jogos se abriu, e eu perdi o ar.

- Seja bem-vinda, - gritaram os funcionários daquele turno.

  Senti-me como se estivesse engasgado com algo e aquilo não saía de minha garganta, deixando-me sem voz. Eu me dizia que era rude olhar tão insistentemente para alguém e, ao mesmo tempo, não era como se meus músculos contraídos conseguissem obedecer qualquer comando.

- Oh, olá, Darien! – disse Rei, sentando-se no banco a meu lado, - Justo a pessoa com quem eu queria falar. – E sorriu-me alegremente.
- O que faz aqui? – Era uma pergunta muito estranha. Meu coração batia forte depois de um tempo sem dar sinal de vida.

  Olhando bem, seu corpo parecia pálido e muito mais magro que de costume. Os olhos tinham duas grandes bolsas negras embaixo. Os lábios estavam ressecados, apesar de ela haver passado um batom cor de boca por cima, talvez para tentar hidratar o local.

- A gente poderia ir para outro lugar? – Ela continuava sorrindo, olhando-me como se minha expressão não fosse a de quem via um fantasma.
- Cl-claro.

  Ela se levantou:

- Que bom. Vamos logo antes de as meninas chegarem... – E enlaçou o braço no meu, apressando meu passo incerto.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

-Serena-

  Eu ainda não conseguia acreditar no que estava vendo. De alguma forma meu coração sentiu-se afundar. Sabe quando você se sente no seu dia de sorte porque todos os seus problemas parecem haver sumido como em um passe de mágica? Aí vem algo tão pior que você nem consegue acreditar que ainda está vivendo a mesma vida?

  Bem, eu nem posso dizer que algo muito pior houvesse ocorrido. E acho que essa percepção era a mais dolorosa. Sentir-se no fundo do poço, mas não ter o direito de se sentir como tal. De toda forma, o que me pusera naquela posição ocorreu alguns dias após o retorno da Rei.

  Como ela retornara? Bem, logo após eu sair com Darien daquela cena do trem em que o Negaversus havia atacado, um dos generais inimigos apareceu com o corpo desfalecido da Rei. Com muito custo, as meninas conseguiram acordar Rei, que rompeu o que a prendia e ajudou a enfrentar o general. Essa foi a história que eu soube.

  Já a havia visto antes. Levara um susto na ocasião, porque Rei estava realmente abatida. E como me sentira culpada... Algo ainda me apertava por dentro, dizendo que havia sim como eu ter evitado tudo. Não era Rei, ela não me culpara em momento algum em que conversamos. E me desculpara por levá-la até aquele depósito também, que não havia nada para eu fazer lá.

  Não perguntei sobre Darien ou Tuxedo Mask. No entanto, Rei vinha me dando a entender que sua opinião não se alterara. Ainda se tratava de uma peça que a minha cabeça estava a pregar em mim mesma. E permaneci quieta sempre que o assunto voltava. No momento, o menos importante era provar qualquer coisa a quem fosse.

  Até então, eu estava extremamente feliz só em ter Rei de volta conosco. Ela estava fraca, mas saudável. Logo ficaria nova em folha.

  Quanto a Darien provavelmente haver descoberto minha identidade como ele dera a entender naquele dia... Bem, essa não era uma questão que me preocupasse. Eu sequer o encontrara após tudo aquilo. Nem fora por falta de procurar. Começava até a desconfiar que ele estivesse me evitando, apesar de não ter muita certeza do por quê.

  À noite, até sonhara que o encontrara na rua e, enquanto Darien fugia, eu saí correndo atrás dele até alcançá-lo. Aí, ele confessara que muito havia acontecido e, por isso, não se sentia confortável em me olhar. Na minha mente, eu entendera aquilo como se fosse uma declaração de amor. Que ele passara a se sentir consciente demais de minha presença.

  Após ouvir sua explicação para me evitar e entender assim, decidira fingir não haver entendido nada e implicar um pouco com ele, cobrando o nosso encontro. E eu ficara ao lado dele no próximo encontro, sentindo-me envergonhada por saber que ele gostava de mim, mas sem ter certeza de como dizê-lo, pôr as cartas na mesa. E meu coração batia tão forte, só de pensar que alguém pudesse nutrir sentimentos assim por mim, alguém por quem eu não me incomodava de tentar também corresponder.

  E foi justo hoje, logo após um sonho daqueles que me fazia corar só em recordar tantas sensações diferentes que eu os vi. Rei e Darien entrarem no salão de jogos juntos. De braços enlaçados. Eu não precisava de nenhuma palavra a mais para saber o que aquilo significava, claro.

  Darien não havia percebido sentimento algum por mim. Provavelmente, sequer viera a me evitar pelas ruas. Ele estivera era muito ocupado com sua nova namorada.

  E eu não tinha razão alguma para me sentir como se meu mundo houvesse desmoronado.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Era já o dia seguinte. E eu mal me lembrava do que havia feito após Rei e Darien nos anunciar que estavam namorando. Eles já tinham saído antes, então, eu não deveria ter ficado tão assim, pensando bem. Mas sair não queria dizer namorar, né? Agora, porém, era um namoro oficial.

  Grande diferença.

  Deixei minha cabeça afundar até que meu queixo batesse no meu tórax e voltasse.

- Algum problema, Serena? – perguntou Lita, franzindo a testa, - Você anda meio estranha desde ontem.
- Ela está com inveja, em vez de ficar feliz que a amiga conseguiu um namorado bonitão, - respondeu a Rei em meu lugar, sentada em sua cama.

  Olhei para o lugar do quarto dela em que eu costumava encontrar mangas para passar o tempo durante nossas reuniões no templo, mas não me sentia realmente a fim de fazer nada.

- Inveja é algo muito feio, viu? – Rei balançou o dedo na minha cara, como se me chamando de volta à superfície.
- Quem é que está com inveja!? Desde quando eu me importo com o que aquele nojento convencido faz ou deixa de fazer? – Cruzei os braços, virando a cara para o lado.
- Meninas, não viemos aqui discutir isso... – Lua nos interrompeu, pulando na nossa frente. – Rei, tem certeza de que não se lembra de nada?

  Rei suspirou e fez sinal negativo com a cabeça bem lentamente. Era visível que ela se esforçara.

- Seria muito bom sabermos alguma pista sobre o esconderijo do Negaversus... – disse Ami.
- Bem, o importante é que temos nossa ranger vermelha de volta e saudável! – Lita pôs a mão na cabeça de Rei. – Aliás, saudável e com um namorado bonitão, né? Quando é que vai nos contar os detalhes?
- Não há muito o que dizer. Depois do que aconteceu, acho que percebemos o quanto nos importávamos um com o outro e vocês sabem, he he. – Rei falou com um sorriso travesso.
- Então, é por isso que o vi procurando você naquele depósito, - comentou Lua.
- Ah é? O Darien foi até o depósito? – perguntou Rei. Então, um sorriso idiota surgiu-lhe nos lábios. – Ah, o amor! Nunca achei que alguém gostaria tanto assim de mim!
- Eu nunca entendi direito o que houve lá... Digo, a história da Rei fez mais sentido que a da Serena. – comentou Lita, levando a mão ao queixo.
- E algo que essa cabeça de vento faz tem sentido? Até o computador da Ami explodiria tentando calcular isso! – Rei deu um tapa nas costas da Lita.

  Senti-me aliviada. Realmente, a coisa Darien estava ali, mas Tuxedo Mask surgiu e o mandou embora sem me mandar ficou bastante mal contada. Até aquele dia, as meninas não quiseram saber muito porque o problema era Rei ter desaparecido... O ideal era nunca mais tocar no assunto de toda forma.

  No fundo, uma parte de mim queria era gritar que Darien devia era estar se sentindo culpado também por Rei haver sumido. Sim, era daí que vinha aquele amor súbito.

- Mas quem se declarou pra quem primeiro? – insistiu Lita.
- Ah... – Rei escondeu o rosto. – Na verdade, foi ele... – E começou a rir baixo.

  Eu me levantei.

- Serena, a reunião ainda não acabou, - brigou Lua, pulando no meu caminho.
- Tô de saco cheio já... – respondi, continuando a sair.
- A gente chama se a Ami encontrar alguma coisa, deixa ela. – Lita fez sinal para eu ir.
- Tá certo, só não saia da área do templo! – falou a Lua, mas eu já estava fechando a porta do quarto.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Ao sair da casa principal, fui até um canto mais isolado. Eu conseguia ver as escadas da entrada e Nicolas varrendo os arredores, mas ficava tão no canto que ninguém devia poder me ver. Não que fosse um lugar escondido. Apenas calmo.

  Inspirei o ar para sentir o cheiro que as plantas ao arredor exalavam.

  E chutei a madeira de uma das partes do templo. Queria mesmo era chutar a canela daquele sujeito. Como ele ousava me enganar daquela forma, fazendo-me crer que gostava de mim e aí, no dia seguinte, aparecendo-me com uma namorada! Tinha que ser muito mau caráter mesmo para enganar o coração puro de uma ginasial.

  Sem saber o que mais fazer, sentei-me no mesmo lugar cuja madeira acabara de sentar. Queria bater minha cabeça ali também. Não era para eu estar com tanta raiva. Mesmo no sonho, eu não realmente sentia nada demais por ele. Fora apenas algum tipo de animação. Né, não é sempre que alguém parece gostar de mim. E nunca alguém como ele. Por mais raiva que eu pudesse ter do Darien, ele era alto, inteligente, parecia ter dinheiro, era supereducado quando precisava e... era o Tuxedo Mask!

  Isso! Era por isso que eu me sentia tão mal. Eu sempre competira com a Rei pela atenção do Tuxedo Mask. Não era à toa que eu ficaria me sentindo na fossa quando ela o conquistara bem debaixo do meu nariz. Exceto que eu não podia ficar brava, pois Rei não sabia nada daquilo. Ela se juntara ao Darien por ver nele a verdade, enquanto eu só passei a aceitá-lo quando vi com meus próprios olhos quem ele era.

  Pensando assim... Rei realmente merecia muito mais ficar com o Darien. E eu nem gostava dele. Né?

  Aquilo tudo me deixou com dor de cabeça.

  Voltei-me para o Nicolas, que agora varria um lugar mais próximo. Devia ser bom trabalhar em um templo. E o avô da Rei era muito legal também. É... aquele ritmo da vassoura empurrando as folhas caídas me fazia relaxar mais.

  Não tinha certeza de quando a sensação começara, mas foi tão persistente aquela coisa de você sentir que alguém estava do seu lado te olhando que eu virei distraída para ver o que a causava. Minha mente estava meio adormecida com o vaivém da vassoura, por isso, absorveu tudo muito mais lento do que deveria. Olhos azuis. Um sorriso abrindo. Lábios... Perto. Perto demais!

  Meu corpo pulou para trás quando meus reflexos voltaram.

- Darien! – gritei em tons mais agudos que o normal.

  O sorriso que ele abrira quando eu o notara virou uma gargalhada:

- Olá reação lenta. Digo, cabecinha de vento. – Ele se sentou ao meu lado no piso de madeira. – Um lugar agradável que você achou aqui.
- Como me achou?
- Não é que eu estivesse procurando, só vi uma mecha loira se sacudindo com o vento e fui ver se era o rabo de algum porquinho.
- Babaca. – Cruzei os braços.
- Mas, nossa... Eu não queria chegar tão perto, mas começou a virar um jogo de quanto eu conseguiria me aproximar até você perceber. – E gargalhou de novo.
- É um prazer lhe servir de alívio cômico. – Bufei.

  Ele gargalhou mais forte.

- O que faz aqui, além de ser um pervertido?
- A Rei marcou comigo. Ela não está? – Ele olhava ao redor.

  Droga, não pode conversar nem um minuto sem pensar na outra, é? Meu assunto não é interessante o bastante agora que a encontrou? Fala sério, era a primeira vez que nos víamos direito desde que minha identidade fora descoberta, fique mais um pouco para pormos isso a limpo!

- Tá no quarto, - disse em vez.
- Acho que cheguei cedo mesmo. – Ele olhou para o relógio no pulso. – Como você está?

  Ah, a namoradinha tá ocupada e você vai passar tempo comigo, é?

- Normal.
- Eu sei que estou te devendo uma longa conversa... Poderíamos marcar de ir a algum café ou algo assim?
- Acho que a Rei não vai gostar nada.
- Está tudo bem. Você poderia amanhã?
- E o que vai dizer à sua namorada, hein?

  Algo na expressão dele beirou a irritação. Eu estava exagerando, provavelmente. Afinal, eu dificilmente poderia ser considerada um caso em potencial para alguém como Darien, assim, tudo o que eu vinha respondendo devia lhe soar simplesmente desagradável.

- Rei não se importaria. Mas não é como se eu pudesse explicar qualquer negócio contigo, né?
- É, seria a sua identidade que estaria em jogo, - concluí. – Bem, eu posso amanhã depois da aula, - respondi, enfim.

  Darien sorriu. Não havia nenhuma presunção desta vez, o que me fez lembrar um pouco do meu sonho.

- Perfeito, - disse, levantando-se. – Eu te espero na saída da escola e vamos direto de lá.
- Já vai?
- Bem, a Rei pediu para esperá-la na entrada, é melhor eu ficar por lá.
- Ah. – E o observei caminhar, passando por Nicolas e sumindo de meu campo de visão.

  O próprio Nicolas parou de varrer, parecendo seguir Darien com os olhos. Foi quando ouvi Rei cumprimentar o namorado. O casal apareceu, já com os braços enlaçados enquanto Rei inclinava-se com alguma ênfase para perto de Darien. Agora ela o apresentava a Nicolas que os cumprimentava desanimado.

  A expressão de Nicolas, que sempre adorara Rei sem reservas, parecia demais com a que eu própria talvez fizera no dia anterior, excluindo minha óbvia surpresa.

  Droga...

  Levantei-me e chutei mais uma vez a madeira, antes de ir embora dali enquanto os três conversavam entretidos.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

-Darien-

  Escolhemos uma mesa de canto no café e nos sentamos, enquanto a garçonete nos dava a instrução de como pedir. Decidimos pelo cake set, sendo que eu pedi café e Serena um chocolate quente.

  Desde que nos encontramos na frente da escola dela, Serena vinha se mantido em algo perto do total silêncio. Ainda estaria tão chocada assim com meu relacionamento com a Rei? Tentei ler sua expressão enquanto ela observava o movimento atrás do balcão. A loja estava bem cheia devido ao frio que vinha fazendo, como típico que era naquela época; assim, as moças que atendiam pareciam deslizar a cada momento pelo lugar para atender a todos de maneira satisfatória.

  Como normal desses ambientes, muitos eram jovens universitários querendo um momento tranquilo para estudar com suas anotações ou mesmo computadores portáteis. E havia o grupo de amigas que acabara de sair do colégio e procurava um lugar para se socializarem entre si. Algumas senhoras, donas de casa sentavam-se em duplas ou trios. Por fim, havia os casais. Não importava quando os via, minha mente chamava qualquer desses casais de namorados automaticamente, apesar de eu ter bem na minha mesa uma exceção àquilo.

  Enquanto eu pensava assim, a garçonete retornou com nossos pedidos. Agradeci e tomei um gole de meu café, que entrou pela minha garganta sendo muito bem-vindo no frio que fazia do lado de fora. Esperar na frente de um colégio uma menina que sempre tinha que ficar depois da aula por algum castigo ou coisa assim parecia fazer a sensação térmica ser mais cruel que o normal. Aqueci minhas mãos na xícara assim que a pus na mesa, e me voltei para Serena.

  Seu olhar estava fixo em mim. Tanto que senti meu rosto queimando, apesar de ele ainda estar gelado do frio.

- Algum problema? – perguntei, voltando a olhar para o meu café, enquanto minhas mãos na xícara a balançavam um pouco para formar pequenas ondas.
- Bem, você me chamou para conversar. Não era para já estarmos começando? – Serena já estava comendo o bolo, deixando o chocolate quente para um lado da mesa.
- Ah... Ah. Sim. Temos que conversar.

  Tanto tempo que ela ficara em silêncio me fizera esquecer do dia anterior. Daquela forma ríspida com que ela voltara a falar comigo. Fora tão fácil me acostumar com o passo à frente que nosso relacionamento dera desde que o mal entendi sobre Rei fora esclarecido, minha mente não queria se adaptar àquele retrocesso.

  O fato de ela não conseguir apontar o dedo exatamente para sua causa contava em muito para isso, claro.

- Darien, que há? Dá pra ir rápido? – Percebi que ela já havia terminado o bolo.
- Quer mais um bolo? Ou prefere outro set? – perguntei, antes de mais nada.
- Quero terminar logo com isto.
- Ah.
- Bê, cê, dê... Eu sei o alfabeto. Só não sei mais o que estou fazendo aqui. – Ela apoiou as mãos na mesa.

No mesmo momento, pus uma das minhas em cima da dela e segurei forte, sem pensar muito:

- Espera. Não vá. Sinto muito.
- Eu só estava me ajeitando. – Serena virou o rosto, enquanto tirava a mão rapidamente de baixo da minha. Ela mentira.
- Caso esteja se perguntando, o cetro lunar meio que entregou tudo. – Optei por ir direto ao assunto, antes que da próxima vez ela se fosse mesmo. – Por isso decidi que deveríamos ficar mias próximos. Mas eu não queria que houvesse sobre você qualquer pressão de se dar bem comigo, ou medo de eu acabar revelando seu segredo quando você me tratasse mal. Pensando bem, agora que vejo, você não tem medo nenhum, né?
- Isso foi uma ameaça? – Ela ergueu uma sobrancelha, olhando-me com Sr desafiador.
- Não... Não. – corrigi-me rapidamente. E tomei mais um gole do café.
- E quando pretendia me dizer que sabia?
- Eu não sei... – respondi sinceramente, levando meu primeiro pedaço de bolo à boca. Tomei outro gole para fazer aquele açucara sumir.

  Ouvi-a suspirar. Em seguida, Serena pôs a xícara já vazia na mesa. Meu tempo estava no fim e o que eu conseguira com aquilo além de um longo momento embaraçoso?

- A Rei sabe? – perguntou-me. – Que você sabe de mim.
- Não, - respondi sinceramente.
- E por quanto tempo você pretende manter esse segredo da sua namorada?
- Não irei contar, prometo.

  Ela me respondeu como se não acreditasse.

- E mais uma coisa, - disse apressado, com medo de que no próximo segundo ela saísse juntando suas coisas. – Ainda estou te devendo uma. Acho que depois daquele dia, até diria que estou te devendo duas. Você realmente me salvou. Obrigado.
- As meninas chegaram um segundo depois, de toda forma. – Sua bochecha ficou vermelha, por mais que ela tentasse desviar o olhar do meu para que eu não percebesse sua falta de jeito.
- Quero saber como posso compensar por tudo, Serena. – Estendi minha mão para um aperto. – Gostaria muito que fôssemos bons parceiros de agora em diante.

  Serena ficou olhando para a minha mão e mordendo o lábio inferior como se ali estivesse alguma cobra venenosa pronta para lhe dar o bote.

- Eu preciso ir. – Ela recolheu seu casaco, bolsa e cachecol. – A minha mãe falou que precisava que eu comprasse sal. Para a janta. Ou não jantaríamos. E já está ficando tarde. Eu não poderia ficar sem janta, né? Dê lembranças minha à Rei. E pare de levar outras garotas para cafés, a Rei ia ficar muito brava, né? Tchau.

  E ela sumiu da minha vista, antes de qualquer coisa.

  Olhei para o bolo quase inteiro na minha mesa. Peguei o papel com a conta e me dirigi ao caixa para pagar.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

-Serena-

  Estávamos em um confronto contra um monstro que atacara a área comercial da cidade. E o resultado não poderia ser pior para mim. Eu parecia estar servindo de bode expiatório de todos os ataques. Mesmo quando eu fugia, acabava errando a direção e indo justo para o meio de tudo. Aquele meu jeito atrapalhou em muito as meninas, principalmente se pensarmos que aquela era a primeira luta desde o retorno da Rei que nem estava na sua melhor forma. Mas, pensando bem, eu é que parecia a desnutrida do grupo.

  Aquele meu eu desajeitado não estava perto do meu normal. Por mais que eu já tivesse entrado no caminho das outras, eu podia muito melhor que aquilo que estava demonstrando no momento. Na verdade, eu estava tão mal por ali que todas ficariam melhor se eu não tivesse ido lutar daquela vez. Isto foi o que Rei me gritou. Só que, no instante seguinte, antes que eu conseguisse sumir da vista de todos, o ataque do inimigo veio na potência máxima em nossa direção.

  Foi quando Tuxedo Mask surgiu e me carregou para longe do perigo. Ele me salvou como sempre fizera antes, com um estilo que invejaria qualquer artista. O que era engraçado, nunca havia considerado Darien uma pessoa com estilo, como sempre achara de Tuxedo Mask. Seria algum poder que ele adquiria com aquele smoking? Eu tava precisando de um daqueles, então.

  Após este pensamento, eu o empurrei para longe de meu corpo. Fui tão brusca que aquilo me fizera perder o equilíbrio e ir de bumbum no chão. Tuxedo Mask ainda me ofereceu a mão para me ajudar a levantar, mas eu virei o rosto:

- É melhor voltar pra lá e ver se a sua namorada está bem.
- Ela não ficaria com ciúmes disso.
- Sei, ela não sabe e etc, mas ainda é sua namorada. Vá lá! – Apontei na direção do monstro e cruzei meus braços.
- E você vai ficar bem? – Percebi a máscara por cima de seus olhos se levantar, ele devia estar franzindo a testa.

  Seus olhos deviam estar olhando direto para uma das queimaduras feitas pelo monstro mais cedo. Mas não ardia nem nada, eu estava fora de mim demais para sentir qualquer machucado.

- Pode deixar, já estou indo embora. Sailor Mars tem razão, eu só atrapalho ficando aqui. Já tinha notado isso por mim mesma... – Fui diminuindo minha voz enquanto falava e talvez ele sequer houvesse ouvido a última frase.  Aquilo valia mais para mim mesma, de toda forma.

  Sentia-me como se estivesse juntando meus cacos quando decidi me levantar daquele chão. Desci do prédio para onde fora levada e cancelei minha transformação, passando a caminhar lentamente para casa.

  Bem, eu tinha razão para ficar brava com ele, apesar de ele ter acabado de me salvar.

  De fato, dois dias atrás eu fora grossa demais durante o café. Em pensar que era ele quem estava pagando e ficara subentendido que eu poderia ter pedido quantos bolos quisesse. E todos pareciam tão bonitos! E o meu estava delicioso também. Eu, que achava que não teria vontade de comer enquanto olhava para o namorado de minha amiga à minha frente, engolira a fatia em segundos.

  E eu também já não havia sido uma flor quando conversáramos no templo. Era incrível que ele ainda tentasse falar comigo depois de tantas patadas que vinha lhe dando graças à minha dificuldade em aceitar seu relacionamento com a Rei.

  Por outro lado, ele precisava ter salvado justo a mim quando nós duas estávamos para receber o mesmo impacto? Daquele prédio podíamos ver que Rei ficara bem, mas Darien não podia ter calculado isso naquele momento. Era escolher uma. E ele me escolhera. Aquela que não era a namorada dele. Não havia nem a desculpa de ele não saber quem a Sailor Mars realmente era. Se as palavras dele foram dúbias durante nosso café, hoje sua reação às minhas palavras deixara claro que ele tinha conhecimento de quem a Rei era.

  Pensar assim aumentava minha raiva dele. Ou ele continuava a agir como se me considerasse alguém especial, até mais que a própria namorada; ou, o mais provável: ele sabia que eu era a que tinha menos chance de desviar ali. Não era nem um cálculo, pois fora tudo rápido demais, Darien simplesmente sabia que eu era o elo fraco. Conhecimento comum.

  E eu o odiava ainda mais por isso. Ainda que fosse apenas uma conclusão minha sem qualquer comprovação.

  Não... Minha raiva vinha porque em vez de ele deixar para lá o que quer que vínhamos tendo, a verdade era que Darien parecia estar alimentando cada vez mais. Conscientemente, ou não, ele estava começando a me fazer sofrer.

  Mas aquela dor que eu começava a sentir, a ponto de parecer que havia um bolo na minha garganta que não queria nem subir nem descer, aquela dor era apenas da queimadura.

  Agora que o calor da batalha se fora e minha casa já até estava no meu campo de visão, eu percebia que além dos machucados de sempre, havia um círculo vermelho-amarelado no meio da batata da minha perna. Que doía muito. Lágrimas subiram aos meus olhos e usei minhas últimas energias para abrir a porta de casa e gritar pela minha mãe.

Continuará...

Anita, 03/01/2012

Notas da Autora:

Sem notas demais aqui. Sobre o retorno da Rei, eu acabei adiantando já que a história tava muito chata daquela forma. A Rei conseguiu dar foi uma bela turbinada nela! E isso só deixou a Serena mais confusa com o que ela quer realmente. Exceto que agora é tarde demais para decidir, né? No que vai dar, hein, Serena? Perdeu de vez o Darien?

Aiai, cansei... Hoje tá um dia meio cansado, não acham? Até seu computador parece mais lento que o normal e você nem liga, aquele tipo de dia.

A música que escolhi de trilha do capítulo é Smile Bijin, do S/mileage. Eu tinha me prometido não pôr Hello!Project porque tava desconfiada de que ia acabar em Yowamushi no Momusu e tá aí, um Hello!Project, a música nem é boa realmente, não ouçam. -_-

Agradecimentos a Timbi, Kurai Kiryu, Felipe e Miaka_ELA, poxa é sempre tão bom saber que tem alguém lendo... Você também não deixe de comentar, tá??? Tem tanta forma agora com este formato blog que tô dando ao Olho Azul, mas se ainda preferirem meu e-mail é Anita_fiction@yahoo.com, como quase sempre foi :D

Até o próximo capítulo. Querem spoiler? Ihhh, hmmm... o nome é “Para os Dois”, satisfeitos? :D Mais um spoilerzinho: ele será o penúltimo, não o percam!!!!!!!! 

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