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De Repente, Descobri Você § 2 – Onde Está Rei?

Notas Iniciais:
Esta história se passa durante a primeira fase, mais ou menos enquanto elas tentavam reunir os cristais arco-íris. Sailor Moon não pertence a mim, mas eu também não estou ganhando nada com esta produção, não me processem!

Olho Azul Apresenta:
De Repente,
Descobri Você


Capítulo 2 – Onde Está Rei?

“Você com certeza está rindo
de como eu estou, não é?
Seu demônio gentil,
que me deixa perdida.”
(YUI – HELLO)

 

  Mesmo após Darien se transformar, o monstro não desapareceu. Eu não entendia por quê. O combinado com Rei era usar seus dons como sacerdotisa e Sailor Mars para criar aquela assombração que nos atacaria até que Darien se visse sem escolha além de se transformar na minha frente. E, após muito mais tempo que eu imaginara, ele o fizera enfim. Dera-se por vencido em meu desafio. Mas o monstro ainda estava ali, atacando-nos com toda a força.

- Por quê? – perguntei mais uma vez, vendo-o lutar com muita dificuldade.

  Aproveitei que ele estava distraído e puxei meu comunicador para chamar por Rei. Ela não podia estar longe, talvez tivesse ido ao banheiro?

  Bem, se fosse assim, era bom que não me viesse com a história de que só porque não viu o Darien ter sumido e o Tuxedo Mask aparecido não era prova conclusiva de que fossem a mesma pessoa. Não depois de todo aquele esforço! E qual era a daquela assombração, hein? Estava real demais!

  O comunicador continuou a chamar. Tentei mais vezes. Então, percebi que, entre os sons da luta de Tuxedo Mask, eu podia ouvir o comunicador de Rei chamando, não longe dali.

  Mas, se ela estava assim, tão perto que eu podia ouvir o toque de chamada, por que a assombração ainda estava ali?

- Rei! – gritei, correndo na direção de onde o toque vinha.
- Serena, não saia de perto! – Tuxedo Mask retrucou, mas não conseguiu me seguir.

  E havia uma das paredes do depósito à minha frente. Droga. Para eu sair dali, apenas virando Sailor Moon, ou arriscaria me machucar seriamente ao pular pela pequena janela. Não podia me entregar daquela forma, seria empatar com Darien após conseguir começar ganhando!

  Mas e se Rei tivesse perdido o controle daquele monstro? Bem, aquilo parecia bem ser o caso... O som do comunicador dela me fez lembrar algo importante.

  Eu podia chamar as meninas para acalmarem aquela assombração! Será que Rei brigaria comigo? Não fazia ideia do que aconteceria se destruíssemos aquele bicho, mas a julgar pelo estado de Tuxedo Mask, parecia bem óbvio o que lhe aconteceria.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

- Como assim sua amiga sumiu!? – perguntou Tuxedo Mask assim que as meninas nos abriram a porta do depósito.

  Havíamos dado a volta por todo o lugar com Ami e Lita transformadas e nada da Rei em lugar algum.

- Era para ela estar aqui! – apontei o lugar onde encontramos seu comunicador.
- Aquele monstro... Talvez não fosse uma invocação dela, - sugeriu Sailor Mercury.
- Eu também não acho que um humano normal seria capaz disso. – Tuxedo Mask cruzou os braços, pensativo.

  Os três tiveram problemas para vencer a assombração, mas eu conseguira evitar ter que me transformar. Exceto que...

- Onde está a Rei? – Senti meus olhos encherem de água.
- Não se preocupe, nós a encontraremos. – Sailor Jupiter bateu em minhas costas tentando me apoiar sem que minha identidade fosse estragada na frente de Tuxedo Mask.

  Eu me sentia tão mal com tudo aquilo que nem tive vontade de contar vitória naquele momento.

  No fundo, a culpa do sumiço de minha amiga pesava em meu peito. E se eu não tivesse nos levado a um lugar tão distante? E se eu tivesse me transformado logo que percebi que aquela assombração não era normal? Eu havia agido tão errada em tudo aquilo que tudo virara motivo para me culpar.

  Olhei para Darien, ainda transformado, mas ele não me lançou qualquer olhar além do necessário desde que virara Tuxedo Mask. Não precisava entrar tanto no papel quando eu queria tanto perguntar a ele... Se ele também achava que minha cabeça de vento havia dado causa àquilo.

- Tux-
- Até mais, guerreiras. – Ele deu um pulo para longe. – Desejo boa sorte para procurarem a moça desaparecida, - disse-nos antes de sair correndo em direção à cidade, já pintada pelos últimos raios do pôr do sol.

  Caí sem forças no chão. Minha vitória naquele desafio havia sido custosa demais... Rei, se aquilo era uma piada por ter estado enganada sobre o Darien não ser o Tuxedo Mask, não tinha graça alguma!

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  No dia seguinte, acordei dolorida em minha cama. Mal me lembrava de haver ido para casa, apenas que comera talvez o dobro ou o triplo de minha quantidade habitual de forma que agora minha barriga pesava. Ademais, eu tivera pesadelos durante toda a noite, pesadelos que pareceram bastante reais... Não que eu ainda me lembrasse do conteúdo, apenas ficara a sensação de pavor aliada à morosidade decorrente de uma noite mal dormida.

- Serena! – Era já a quarta ou quinta vez que minha mãe vinha me chamar.
- Já estou indo... – respondi de pé, mas sem me mexer como prometido.

  Ela fechou a porta virando os olhos.

- Ainda não temos nenhuma notícia, - disse Lua, assim que me virei assustada para ela. Sabia que ela ficara toda a cidade durante a noite em busca de Rei.
- Como assim? Como alguém some dessa forma?! – perguntei, descontando minha frustração em meu uniforme.
- Acho que essa resposta é bem simples, Serena. Alguém a levou.
- Eu sabia! – Pus meu laço com o broche que me permitia me transformar em Sailor Moon. – Foi Tuxedo Mask!
- Do que está falando?
- Ele levou Rei para ter certeza de que ela não contaria a ninguém sobre sua identidade secreta, – proclamei, com os punhos cerrados.
- Não diga besteiras, Serena... – Lua balançava a cabeça. – Ele estava preso com você e aquele monstro o tempo todo. Foi, provavelmente, feito do Negaversus.
- E pra quê? A Rei não estava vestida de Sailor Mars nem nada assim. Foi Tuxedo Mask! Talvez ele tenha um cúmplice ou algo assim.
- SE-RE-NA! – Minha mãe abriu a porta e seus olhos estavam em chamas. – Pare de sonhar acordada e vá logo para a escola!

  Decidi acatar as ordens, mas confrontaria Darien assim que o visse. Ao menos, eu ainda tinha os resultados de minhas investigações anteriores e saberia exatamente onde esse confronto poderia ocorrer.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

-Darien-

  Decidi faltar às aulas daquele dia para investigar mais essa alegação de Serena de que Rei havia sumido. Era justo a amiga dela que eu mais conhecia e era uma boa menina que ajudava como sacerdotisa no templo de seu avô. Assim, fora o primeiro lugar aonde decidira ir.

  O senhor de idade, calvo e bastante baixo estava com um rapaz que era quase seu oposto: bastante alto de cabelos bagunçados no rosto. Os dois pareciam insones, conversando em tom lamentoso.

- Com licença... – Aproximei-me de ambos. – Eu gostaria de falar com a senhorita Rei Hino.

  Eles me olharam como se eu estivesse perguntando sobre um fantasma. E o senhor começou a chorar de um jeito expressivo que me recordava de Serena.

- Algum problema? – perguntei ao moço.

  Ele, por sua vez, passou a me encarar como se eu fosse o culpado de tudo e saiu correndo berrando, desajeitado em seu uniforme do templo.

- Onde está a Rei? – insisti com seu avô.
- Ela não está mais neste mundo! – disse o senhor, junto a palavras ininteligíveis.
- Como assim? – tentei demonstrar o máximo de surpresa.
- Eu não sei, eu não sei!

  Enquanto o avô continuava a resmungar, afastei-me lentamente. Passei as mãos pelos cabelos como se aquilo pudesse me estabilizar. Claro, o avô de Rei estava exagerando sobre ela não estar mais naquele mundo, mas...

  Continuei a andar pela cidade. Caminhei até a escola de Rei e, fingindo ser o auxiliar de seu avô no templo, liguei de um orelhão para lá. Ela não havia ido para a aula, mas ninguém sabia por quê. Como ela comparecera no dia anterior, imaginavam que fosse apenas algum resfriado.

  Eu havia ido a alguns lugares com Rei antes, porque ela queria me mostro isto ou aquilo. Talvez, por ausência de destino, experimentei visitá-los. Um parque, um café, um local de exposições. Então, cheguei ao depósito, aonde fora no dia anterior certo de que receberia uma declaração de amor.

  Não queria pensar naquilo. Havia coisas mais importantes que as tolices que Serena conseguia fazer, arrastando todos.

- Uma gata? – com surpresa, exclamei em voz alta.

  Era negra com um sinal parecido com uma lua crescente e ela caminhava por ali, mexendo nos pedaços de pedra no chão. Aquela gata não era da Serena? Tinha certeza de já havê-las visto juntas... Eram sempre muito próximas e até pareciam estar conversando por vezes.

  Aproximei-me:

- Está perdida? – perguntei, agachando.

  Ela deu um pulo para trás e olhou ao redor. Sim, estava sozinha ali, sem quem a protegesse.

- Não se preocupe, eu conheço sua dona. Ela te esqueceu aqui ontem? – Franzi minha testa imaginando por que outro motivo a gata estaria perambulando por um lugar tão longe dos habituais de Serena.

  Ela miou calmamente.

- Eu tenho que ver algumas coisas por aqui. Pode ficar paradinha até eu voltar? – Olhei duvidoso para o animal. – Não, né? – Considerei por um momento.

  Serena e eu provavelmente não estávamos no melhor dos relacionamentos, muito por culpa dela mesma, mas deixar sua gata ali abandonada não funcionaria para meu caso, com certeza.

- Que tal se eu te levar comigo?

  A gata me olhou, pronta para sair correndo, mas eu tive um bom reflexo e a segurei pelas patas traseiras.

- Desculpa, mas eu meio que não tenho nada para abonar qualquer falta com sua dona no momento. Você vem comigo...

  Senti que ela suspirou, mas ficou calma em meu colo. Eu nunca tivera bichos de estimação, então, não sabia como segurar um gato. Ademais, sempre a vira seguindo Serena, mas tinha certeza de que a perderia assim que a soltasse. Por isso, silenciosamente, caminhei pedindo desculpas pelo meu mau jeito.

- Ao menos, você é mais dócil que a Serena, né? – disse, divertido, lembrando-me de como ela me confrontara no dia anterior, - Espero não ser acusado de sequestro.

  No mesmo momento em que meus olhos avistaram algo incomum, ela começou a se debater em meus braços.

- Isto é... – Abaixei-me, com cuidado para não perder a gata.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Esperei de braços cruzados o próximo lugar onde eu poderia entender um pouco melhor que acontecera a Rei no dia anterior, enquanto Serena e eu estávamos trancados naquele depósito. Ainda faltava algum tempo até os alunos da escola saírem, então, voltei meus olhos para os pedaços de papel em minhas mãos.

  Havia retornado ao templo, onde o rapaz de cabelos longos me recebera. Ele parecia um pouco mais estável, mas não tentara minha sorte. Apenas mostrara aqueles papéis e perguntara o que poderiam significar. Eram encantamentos, mas ele não pudera me dar detalhes, já que não era sua função ali. O avô de Rei não estava, havia ido resolver um problema. Com alguma insistência, ele me revelara que o mais velho fora à polícia, saber notícias da neta.

  Olhei para a gata a meu lado. Ela havia se submetido a seu destino de ser devolvida e apenas ficara parada ali na frente da escola ginasial, porém, talvez tão pensativa como eu mesmo.

  Era estranho. Por que os inimigos levariam Rei e não eu? Aquela pergunta não saía de minha cabeça. Eu havia me transformado bem na frente de um de seus enviados, e me ignoraram. Caso houvessem tentado qualquer coisa, não haveria muito a se fazer, seria uma vitória garantida.

  Teria aquela menina alguma serventia? Talvez por ser sacerdotisa? Talvez por conseguir criar aqueles monstros? Pensar assim apenas fazia aumentar minha preocupação. E minha culpa. Eu estava bem ali e não pudera fazer nada.

  A gata miou ao meu lado.

  Senti um choque em minha canela que me fez a vista escurecer por um breve momento.

- Você veio me levar, então!? – Era Serena, obviamente. Uma Serena muito mais nervosa que eu poderia prever.

  Não era eu quem deveria estar bravo com ela depois do teatro de ontem?

- Te levar para onde? – perguntei, ainda sentindo minha canela.
- Lua! – ela gritou, apontando para a gata sentada a meu lado. Eu devia ter adivinhado esse nome... – O que fez com ela!? – Serena a abraçou efusivamente.
- Nada, só a encontrei por aí.
- Não! Você também ia sequestrar minha gata! Mas ela não sabe de nada, Darien! Digo, até tentei contar pra ela antes, mas Lua não acreditou.
- Tentou contar... para a gata? Tentou contar o quê, afinal? – Levei a mão à cabeça.
- Sobre você. Eu não vou contar, deixe-a ir! – Serena apontou para mim, como se estivesse me imputando algum crime ou coisa similar. Podia até ouvir Sailor Moon gritando que me puniria em nome da lua.
- Não estou prendendo ela, realmente...
- E quanto a mim? O que pretende fazer comigo? – Seus olhos estavam ainda maiores. Quase lacrimejando. – Eu... Não pode soltar a Rei? Ela não deve saber de nada!
- Serena, não sei do que está falando.
- Não vai me surpreender! Já o vi aqui e estou pronta para outro pontapé!
- Ela assumiu algum tipo de pose de briga.

  Após uma noite mal dormida, aquele era provavelmente o ponto alto de meu dia. Tive que segurar o riso, enquanto tentava compreender aquela conversa.

- Eu não estou com a Rei. Na verdade, estava no depósito investigando sobre ela e encontrei algo que talvez você possa me explicar melhor.

  Serena entortou a cabeça para um lado, tal qual um cachorrinho que não compreendia alguma ordem.

  Mostrei os pedaços de papel que encontrara no chão e ela pareceu ficar sem ar.

- São dela, né? – perguntei.
- Você a pegou mesmo!
- Não!

  Mas ela já estava se afastando, com as mãos na boca enquanto os braços sufocavam Lua contra seu tórax. Tentei alcançá-la, mas aquilo só a fez correr, deixando sua pasta do colégio caída no meio do caminho.

  Recolhi o objeto, olhando para ele. Era apenas uma pasta normal de ginasial, uma bolsa preta com o emblema de sua escola. Todavia, certamente, ela teria que voltar, todas as suas coisas deviam estar ali dentro. Aguardei por um tempo e notei que ou ela não percebera que a deixara cair ou ainda tinha na cabeça que o cara malvado da história era eu.

  A esta hora, no dia anterior, eu estava caminhando até um pouco feliz por estar prestes a receber uma declaração dela. No momento, havia uma pessoa desaparecida, e Serena me odiava com alguma razão.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

-Serena-

  Eu não sabia o que fazer. Ficara com tanto medo de Darien que perdera minha pasta da escola. Mas acho que o pior era como eu ainda conseguia sentir meus membros tremerem.

- Lua, você está bem? – perguntei, lembrando-me que a segurara o tempo todo.
- Claro que não! – Arranhou-me o rosto.
- Por que fez isso!? Não vê que te salvei a vida?
- Daquele rapaz que só queria ajudar, Serena? Não viu o quanto ele estava preocupado?
- Lua! – Pensei em dizer minhas razões muito bem fundadas para temê-lo, mas então percebi que fora exatamente isso que pusera Rei naquela história. – Ele está com a Rei, tenho certeza.
- E por que ele a procuraria, se já sabe onde ela está? Serena, Rei foi levada pelo Negaversus, o que aquele rapaz teria a ver? A menos que esteja me dizendo que ele é um de nossos inimigos.

  Pus a mão na parede, tentando regularizar minha respiração.

- Por que vocês nunca acreditam em mim? – perguntei, sentindo meus olhos encherem de lágrimas, - Nada disso teria acontecido se acreditassem.
- O que nos leva a uma pergunta pertinente, Serena. O que Rei e você faziam em um lugar tão afastado?

  Eu a olhei. Não podia dizer... De jeito nenhum. Meus olhos não aguentaram mais e, caindo ao chão, comecei a chorar inconsolável só em pensar que fora eu quem causara aquilo à Rei e quase o mesmo à Lua. E as outras? Levantei num repente. Precisava chamá-las e mantê-las perto de mim!

- Serena! – Lua pulou em mim, gravando suas unhas na minha cabeça e forçando que a olhasse nos olhos.
- Eu vou explicar tudo. A todas. Juntas. Vocês entenderão o perigo que é Darien Chiba!
- Sinceramente, não aguento mais essa história... – Lua começou a andar em frente. – Primeiro, ele é o Tuxedo Mask; agora, parece ser a raiz de todos os males do mundo.
- Você... fala.
- Miau? – Lua voltou-se para algo atrás de mim. Todos os seus pelos pareciam eretos.

  Senti minhas pernas perderem as forças. Aquela voz vinda bem de perto do meu ouvido direito... Um perfume invadiu meu nariz, deixando-me tonta. Eu precisava correr, mas não conseguia reagir.

- Esta gata estava falando – repetiu Darien, passando à minha frente e apontando para uma Lua petrificada.

  Normalmente, eu o chamaria de louco e sairia correndo com ela para o mais longe possível. Hoje, a cena apenas fizera com que minhas lágrimas voltassem. Enquanto eu chorava ali no meio da rua, pensava em como eu era uma fraca, que deveria ter sido eu a ser levada, já que Rei era tão mais útil a todas as demais e saberia muito bem o que fazer em uma situação assim.

  E continuei a chorar. Queria Rei, queria nunca ter percebido quem era Tuxedo Mask, queria voltar no tempo...

  Até que algo quente me envolveu, como se pudesse me apoiar com suas forças agora que as minhas me falhavam.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

-Darien-

  Voltei minha cabeça para o lado de fora da pequena loja, onde Lua parecia esperar calmamente. O calor do pequeno corpo da menina ainda estava vivo em meus braços, brigando em minha mente sobre a que eu deveria dar mais atenção: a quão forte meu coração batera quando a vira desabar no choro ou àquela estranha gata.

  Serena me jurara que a voz que ouvira fora fruto de minha imaginação, mas as duas estavam conversando de maneira bastante coerente... Não podia ter imaginado tanto assim. E, pensando bem, não era a primeira vez que eu pegava um comportamento desses. Decidi, contudo, deixar como estava, posto que não ganharia nada insistindo daquela forma quando tudo já estava contra mim.

- Eu é que deveria estar bravo aqui, - disse, observando-a devorar um sundae como se estivéssemos no meio de agosto. – Toda a suposta armação de ontem só para me fazer revelar minha identidade? Serena, eu realmente achei que você fosse morrer. Aquele monstro da Rei quase quebrou seu pescoço na minha frente, não é?
- Bem... Isso não estava no script... – falou-me, abaixando a cabeça até quase pô-la no que restava do sorvete. – A ideia era apenas assustar e não me machucar. Não sei o que houve, mas as men-, digo, aquelas Sailors disseram que não era da Rei, né? Que era um monstro...

  Meneei a cabeça. Era um plano inconsequente, mas que talvez tivesse sido bom se Rei não houvesse sumido em plena execução.

- Aqueles papéis... Você realmente os encontrou lá?
- Sim. – Pus os mesmos na mesa para que ela os pudesse examinar. – Perguntei no templo onde Rei mora, e o rapaz disse que poderiam mesmo ser de lá.
- Parecem sim os dela. – Os olhos de Serena estavam cintilantes. – E você não a levou, né?
- Já disse que não. – Comecei a me irritar com a insistência até notar que era apenas algum fio de esperança de que a amiga ainda estivesse a seu alcance. – Estou olhando em todos os lugares atrás de pistas.

  Observei Serena franzir a testa, com os olhos fixos naqueles papéis anotados com letras chinesas as quais ela nem conhecesse todas.

- Foi tudo minha culpa... – A conversa voltara ao ponto inicial. As lágrimas haviam secado em seu rosto, mas já ameaçavam voltar ao redor de seus olhos. Com o sobrecenho carregado, Serena fungou bem alto.

  Se ela chorasse de novo bem ali, eu... não teria muito o que fazer a não ser...

- Temos que pensar em planos. – disse eu, o mais rápido possível. Frase vazia, apenas para preencher aquele silêncio.
- Você tá com a minha pasta, né?

  Minha cabeça demorou a processar o que ela estava perguntando. A pasta que eu fora devolver quando achei ouvi-la conversando com sua gata. Eu já havia me esquecido dela a ponto de não saber se a deixara na rua quando largara tudo para abraçar Serena momentos antes. Olhei para minhas coisas, em um canto perto da parede, e suspirei aliviado.

- Está aqui. – E devolvi o objeto.
- Você a abriu?
- Por que faria isso? – perguntei sinceramente, mas começando a me arrepender de nem havê-lo considerado. Espera. Por que eu ia querer saber o que aquela garota carregava?
- Que bom. – No entanto, ela mesma o fez na minha frente.

  Do lado de fora, senti Lua se agitar.

  Serena prosseguiu a revirar suas coisas. Estaria conferindo? É, qualquer um faria isso, eu me disse. Principalmente, quando ela pensava que eu fosse um sequestrador até pouco tempo antes.

  Então, ela parou e começou a tirar algo do interior da pasta. Fazia-o bem lentamente, como se ainda estivesse pensando no que fazer. Ela queria me mostrar alguma coisa? Seria alguma pista sobre onde Rei estaria? Mas Serena parecia tão confusa até havia pouco, como poderia saber de algo novo? Balancei minha cabeça e aí percebi que a gata estava agora grudada no vidro, olhando ameaçadoramente para a dona. De uma forma que me fez engolir seco.

- Umm, sua gata está bem?

  Serena olhou distraída para a mesma.

  Não podia ser impressão minha, aquela gata parecia estar fazendo mímicas. De negativa. Não. Pegue? Não pegar o quê? Olhei curioso para a bolsa. Seriam truques da minha mente? Mas Serena também parecia responder.

  Pigarreei tentando ganhar a atenção dela novamente.

- Você ia me mostrar algo? – provoquei, olhando de esguelha para a gata.
- Ah, sim, sim. – E seus olhos voltaram-se mais uma vez para a pasta.

  Fiquei atento, tentando imaginar o que seria. Conhecendo Serena, podia ser algo bobo. E a gata era só imaginação. A gata que continuava a se debater... Espera. A gata sumira!

  Olhei de novo para Serena e Lua estava bem ali na minha frente, com o corpo todo grudado no rosto da dona. Serena gritava, tentando retirá-la e quanto mais o fazia, com mais força a gata parecia se agarrar.

- O quê-?

  Percebi duas garçonetes se aproximarem, uma indicando a um rapaz também uniformizado a gata. Ele inspirava fundo.

  Mas Serena fora mais rápida, levantando-se da mesa:

- Eu preciso ir! – gritou, segurando agora a gata pelo pescoço de forma dolorosa, - A Lua, ela... Está com fome!
- Espere, eu vou contigo. – Puxei minha carteira do bolso de meu casaco, jogado perto de minhas coisas.
- Não! Tenho que ir direito pra casa! Tchau!

  E ela sumiu.

  Não podia ser impressão minha o que aquela gata acabara de fazer. Propositadamente.

  Desculpei-me profundamente com todos do lugar e reuni os papéis de Rei para guardar em minha bolsa. Foi quando notei que algo havia caído da pasta de Serena em meio à sua pressa de sair.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

-Serena-

  Droga! Droga, droga, droga! Dro-ga!

  Todo o conteúdo da minha pasta estava revirado sobre minha cama, mas meu cetro não estava ali. Não, não... Não podia ser!

  Voltei meu olhar para Lua, que estava sobre uma cadeira de meu quarto, olhando-me com olhar de quem já tinha minha sentença.

- Ainda não acredito que você não só quase revelou sua identidade, como ainda perdeu seu cetro.
- Ele só pode estar com Darien! – disse sorrindo, em minha defesa. Sentia-me decifrando o grande mistério de um filme.
- E desde quando isso é bom? Não faz nem duas horas e você estava chorando de medo dele. Tem mais, aquele rapaz não é do seu nível de inteligência. O que fará se ele descobrir, Serena?
- Mas, Lua... Eu já ia contar de toda forma.
- Se eu não conhecesse melhor sua cabeça, acharia que tinha feito de propósito, para me contrariar.
- Perder meu cetro lunar de propósito? Por que faria isso?

  Lua levou uma pata à testa, balançando a cabeça:

- O importante agora é entrar em contato com ele e tentar reavê-lo. Você tem o endereço da casa do Darien?
- Ah, a coisa mais fácil é eu topar com ele pela rua, pra que me dar ao trabalho de procurá-lo? – Sentei na cama, sobre as folhas da escola. – Agora eu me sinto mais relaxada. É certo que o está com ele, né? Onde mais o teria deixado!

  Nesse mesmo momento, algo me atacou, quase me derrubando para o chão do outro lado. Garras afiadas estavam na frente de meu rosto.

- Lua!
- Se você não se levantar e for agora pegar o cetro, dê adeus ao seu rostinho, Serena.
- Assim eu não vou poder me casar! – gritei com lágrimas nos olhos. Mas Lua nunca foi a gata mais compreensiva...

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  A lanchonete disse não saber onde Darien estaria, mas uma das garçonetes que presenciara o ataque de Lua, quando esta tentara me impedir de revelar minha identidade, disse-me haver visto sim um objeto rosa com ele.

- Viu? Darien tá com ele, tudo deve ficar bem, - disse à gata, assim que saí de lá.
- Repito, Serena, não entendo como pode estar tranquila agora, após até achar que ele havia sequestrado a Rei.
- Bem, foi tudo um mal entendido. A verdade é que ele é uma ótima pessoa! Agora, posso ir pra casa? Isso tudo me deu fome...
- Não! E você acabou de devorar um sorvete, como pode estar com fome?
- Foi só um sorvete, né? E já é quase hora da janta.
- Sim, daqui a umas... Três horas! Andando, Serena! – Lua mostrou as unhas afiadas em uma das patas.

  Suspirei.

  Ao menos, eu ainda tinha as anotações dos horários dele. Posso não ter qualquer prova de que ele era o Tuxedo Mask, mas encontrar Darien com tudo o que pesquisara não podia ser tão difícil assim...

  Sorri vitoriosa para Lua, mostrando-lhe meu caderninho.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Após explicar tudo a ele, Darien ficou me olhando de um jeito estranho. Olhei para Lua, que estava sentada do meu lado no salão de jogos a que eu sempre ia, e ergui os ombros. Havia feito tudo o que podia sem revelar minha identidade. Contudo, não obtivera resposta ainda.

- Vamos, você tem que ter visto a minha caneta rosa! Ela é beeeeem grandona, - fiz mímica com as mãos, sem lembrar exatamente o tamanho do cetro, - e rosa. Com uma lua dourada no topo, sabe?
- Sua caneta? – respondeu Darien, enfim.
- É! Grande e rosa! – repeti, com um sorriso.
- Hmm... – Darien olhou para o chão não pela primeira vez desde que o encontrara ali.

  Senti Lua ficar impaciente na minha perna. Suas unhas arranhavam a minha canela, deslizando para a batata-da-perna. O que eu podia fazer? Torturá-lo até que se lembrasse?

- Darien, não tenho o dia todo. Você recuperou a caneta que deixei cair ou não?

  Comecei a imaginar o que da minha descrição poderia estar atrapalhando que ele identificasse sobre o que estaria falando. A menos que ele não a houvesse encontrado. Por outro lado, as pessoas da lanchonete o viram pegar meu cetro. Tinha que ser ele! Que outro objeto rosa teria caído da minha bolsa? Darien não teria nada assim né? Ri-me imaginando o que poderia ser.

- Eu estava pensando no dia de hoje... – falou lentamente, surpreendendo-me.
- Em quê? – perguntei sinceramente curiosa.
- Em como você chegou a chorar de medo de mim.
- Faz sentido, né? Eu vi ontem o que você pode fazer.

  Darien estalou a língua; seus olhos pareciam até embaçados de tanto que ele parecia estar me ignorando ali.

- Mesmo assim... Algo não estava fazendo sentido na minha cabeça por muito tempo.
- Huh? AI! – gritei ao senti as unhas da Lua cravarem minha pele. – Lua, isso dói muito! – Briguei, mas ela apenas me devolveu um olhar ameaçador.

  Quando me levantei para olhar Darien de novo algo havia mudado.

- O que houve? – perguntei em reação.
- Por que não sai comigo?
- Quê?
- Eu te devolvo a caneta se sair comigo em um encontro neste domingo.

  Senti meus ouvidos zunirem. Minhas pernas tremeram um pouco. Eu estava imaginando coisas? Mas Darien continuava a sorrir, me olhando intensamente. Tão diferente daquele olhar perdido de pouco antes... Ele havia mesmo me pedido algo assim? Para ter um encontro com ele?

  E, mais que nem ter certeza do que ouvira. Mesmo após ele me repetir, eu não conseguia nem pensar no que deveria responder. No lugar do zunido, começou um tique-taque como de uma bomba prestes a explodir. E se ela explodisse? E se eu perdesse o tempo para dar a resposta?

Continuará...

Anita, 23/12/2011

Notas da Autora:

  Ooooh! Um encontro entre os dois? A Serena vai aceitar isso mesmo? Mas já tava na hora de alguma coisa acontecer, né? Ela deve aceitar sim, nem que eu a obrigue!

  Por outro lado, adorei fazer uma interação entre o Darien e a Lua. Na minha última fic, O Que restou, bem em quase todas as minhas fics a Lua quase não aparece e esta nem vai ser tanta exceção, por isso o Darien e a Lua normalmente não se encontram. Foi bem gostoso falar sobre eles pra variar um pouco. Mas é... confesso não ser uma pessoa de gatos então estou sempre insegura sobre o que escrever. Aí, a Lua some das histórias!

  Aliás, falando em O Que Restou, e até acrescentando a fic anterior, Como Se Lavado de Meu Peito, eu não ando tenho muita chance de usar as meninas. Gosto muito delas, mas quando o foco é um romance entre o Darien e a Serena, fica meio difícil pô-las no meio, sempre fica parecendo cena gratuita. Assim, não esperem muito com elas, mas acho que elas conseguem aparecer razoavelmente nesta fic se comparado com O Que Restou. Por outro lado, não há bem uma história paralela como a Rei ganhou em Como Se Lavado. Ela até merecia, rs. Não adianta, ela é a estrela das amigas da Serena. Adoro as outras, mas quando penso em personagem inspiradora, depois da Serena é a Rei pra mim :( Eu até tentei a Lita em O que Restou e no final, ela ficou apagadinha lá no fundo.

Aliás, sobre as músicas a cada capítulo, desta vez usei uma que é trilha de Paradise Kiss, é uma música mais divertida que a última porque... acho que este capítulo divertido se você não for a Serena. Ainda mais com os milhões de mal entendidos que ocorrem com ela! O que estão achando da seleção de músicas? Procurem na net caso queiram ouvir!

Agradecimentos a Kurai Kiryu, Felipe e Miaka_ELA por comentarem a fic, espero que continuem gostando!!

Comentários, sugestões e críticas são bem-vindos, mandem um e-mail para Anita_fiction@yahoo.com e para mais histórias minhas visitem o Olho Azul, HTTP://olhoazul.50webs.com, se essa url também der problema, tentem HTTP://olhoazulfics.blogspot.com, que ao menos as fics vocês poderão ler.

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