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[Saint Seiya] Sobre Hábitos Antigos e Mortes Casuais, escrita por Madam Spooky

Sobre Hábitos Antigos e Mortes Casuais
Autora: Madam Spooky
Fandom: Saint Seiya
Personagens: Máscara da Morte de Câncer, Afrodite de Peixes em menor escala.
Gêneros: gen
Classificação: 12 anos – só para não correr riscos.
Resumo: Assassinato no Santuário. Máscara da Morte tem uma ou duas coisas a dizer sobre o assunto.
Avisos: Máscara da Morte sendo... Máscara da Morte. Cabeças. Menção da roupa de baixo do Shion. Mais cabeças. ESSA FIC NÃO CONTÉM YAOI!
Notas: História escrita para o Coculto, um amigo oculto de fanfics promovido pela comunidade Saint Seiya Super Fics Journal.
E dessa vez eu tirei a lulucycy!! Fiz uma bela de uma sacanagem com o seu tema. Ele gritava por uma fic de uns vinte capítulos cheios de mistérios e intrigas, mas acabou virando essa coisa estranha de menos de duas mil palavras. Isso em si já conta como mistério? :D


Disclaimer: Nada aqui me pertence. Nem a coleção de esmaltes do Afrodite.
 


Eu estava entre o grupo de expectadores incrédulos observando quando o corpo foi retirado da biblioteca do Grande Mestre.

Mais tarde haveria um sem número de versões dos acontecimentos circulando em volta do Santuário. A minha favorita dizia que Shion tinha saído de seu quarto àquela manhã, usando um roupão de banho e o cabelo ainda jogado sobre o rosto, e caminhado até o famigerado cômodo para checar alguma coisa que ele teria deixado inacabada na noite anterior. Com os olhos semicerrados de sono, atravessara a sala sem prestar atenção nos arredores, pensando apenas em abrir as janelas e deixar a claridade da manhã entrar. Foi assim que ele descobrira o cadáver: tropeçando no meio do torso e caindo em uma posição que deixava bem à vista as estampas de Mickey Mouse em seu samba-canção.

Eu duvidava muito que aquilo fosse verdade – especialmente a parte que tocava o rato da Disney –, mas sentia um prazer quase doente em repassar a cena mentalmente, imaginar a expressão chocada do Mestre ao cair desgraciosa e inesperadamente no chão e de maneira tão pouco digna.

Caso reste alguma dúvida, admito que não haja uma grande parcela de amor sobrando entre Shion e eu. Ele ainda acha que sou um maníaco perigoso e eu ainda acho que ele é um velho caduco no corpo de um garotão.

Mas vamos ao que interessa: a vítima era aquele desgraçado Tatsumi que vivia para seguir Athena em todos os lugares. Ele foi encontrado exatamente no centro da biblioteca, deitado sobre o tapete de couro branco que costumava ficar por baixo de uma das muitas estátuas que se quebraram durante as batalhas e nunca foram substituídas. Seus membros estavam espalhados, fazendo-o parecer uma espécie de paródia do homem vitruviano. Ah, claro, não esqueçamos o detalhe principal: não havia sinal da cabeça.

Ninguém sabia o que ele estava fazendo na Grécia e eu adoraria dizer que Athena ficou histérica, berrando e exigindo que o culpado fosse encontrado sem mais demora, mas isso não aconteceu. Ela se manteve tão calma e composta quanto em qualquer situação envolvendo ataques de deuses. Talvez até mesmo irritada, levando em conta todas as implicações que poderia haver no cadáver decapitado de um empregado de confiança amanhecendo em uma das salas de uso exclusivo do Mestre, sem que ninguém fizesse a menor ideia como ele foi parar lá.

Isso e era possível que ela não gostasse tanto assim do tal Tatsumi. Pelo olhar de alívio nos rostos da maioria dos Cavaleiros de Bronze ao ficarem cientes da identidade da vítima, haveria muito pouca gente para critica-la se esse fosse o caso.

Infelizmente, uma Athena em condições de comandar não me deixava em uma posição muito favorável. Mal tive tempo de abandonar a cena e entrar na minha casa, os carrascos batiam a porta com uma montanha de perguntas e uma opinião já formada. O corpo estava sem cabeça. Culpe o cara que costumava coleciona-las.

Fui levado a uma sala onde também esperavam Saga e Afrodite. O primeiro estava de pé na janela, parecendo muito alto e muito abatido e também conformado em dividir espaço com dois psicopatas conhecidos. Afrodite encarava um espelho de mão como se nunca tivesse visto nada mais interessante na vida. Ali estava um homem que podia dizer nunca se cansar de si mesmo.

O interrogatório não demorou muito e ao final Saga pareceu quase deprimido por ter sido visto por metade dos cavaleiros no Santuário a manhã inteira nas arenas de treinamento. Depois de ser possuído por Ares, tentar matar a deusa e destruir o mundo ele nunca mais foi o mesmo. Pobre Gêmeos; parece sempre tão ansioso em ser punido.

Depois dele foi a vez de Afrodite. Não era segredo que o mesmo ocupava seu tempo fazendo experimentos com plantas e peçonhas mortais. A Casa de Peixes continuava sendo a mais extravagantemente decorada das Doze Casas, mas desde a reconstrução contava com laboratório, dois jardins adicionais, um serpentário e uma sala refrigerada para sementes. Um desperdício de dinheiro, diriam os críticos. A minha opinião, porém, é de que Athena achava que sabia o que estava fazendo; vamos incentivar a loucura por desenvolver rosas venenosas se isso ajudar a conter a loucura por usa-las. Se as experiências eram tão importantes para ele, que fossem feitas em um ambiente controlado.

Fui o último a ser chamado. Para azar dos meus carrascos, eu tinha um álibi inquestionável. Tinha convidado Aldebaran para uma maratona de filmes na minha casa e se havia um cavaleiro em quem todos confiavam, esse era o Cavaleiro de Touro. Não tinha sido a primeira vez que fazíamos isso – chame de camaradagem entre vizinhos – e ele sempre aceitava porque achava que seu gosto em filmes fazia bem para a minha mente psicótica.

Acho que fazia mesmo. Meia dúzia de reprises de Titanic depois, Aldebaran começou a acreditar que aquela breve estadia no inferno tinha sido o bastante para me curar (estou falando do Hades, não dos filmes, embora possa entender a confusão).

Por que eu discordaria se ele fazia tanta questão de me congratular?

Saga, Afrodite e eu nos reencontramos na sala de espera e aguardamos em silêncio até sermos liberados. Gêmeos sorriu fracamente em nossa direção antes de se afastar, ainda parecendo decepcionado por ter sido liberado tão rápido. Quanto a Peixes e a mim, começamos a descer as escadarias em direção a casa dele; o barulho de pétalas esmagadas sob nossos pés sendo o único som até entrarmos no jardim dos fundos.

- Então, quem testemunhou a seu favor? – perguntei ao me sentar.

- Não sei – respondeu Afrodite. – Tem sempre alguém vigiando, mesmo quando não estou percebendo. Chá?

Recusei com um aceno. O chá de ervas de Afrodite tinha um gosto ultrajante, mas ele insistia em servi-lo assim mesmo.

- As ervas têm propriedades regenerativas para cabelo e pele – ele disse como se lesse meus pensamentos, mas não fez menção de se levantar e ir preparar uma xícara para si mesmo.

Por alguns minutos ficamos ali parados, olhando em volta pensativamente e sentindo a brisa de final de outono arranhar nossa pele.

Esperamos.

Sempre detestei o Santuário no inverno. O tempo parecia demorar uma eternidade para passar. Ainda dava para ouvir movimento vindo do templo mais acima e a escadaria brilhava sob o sol de final de tarde, ainda forte o bastante para se refletir nas pétalas das rosas que a cobriam. Por ordem de Athena, o tapete antes de rosas venenosas tinha sido substituído por espécimes comuns. Ela garantiu que a armadilha não era mais necessária, uma vez que não haveria mais deuses mal-intencionados tentando chegar até ela através das Doze Casas.

A deusa ordenava, nós obedecíamos.

- Você não quer dar uma olhada nos meus bichinhos? – Afrodite perguntou de repente e eu percebi um brilho familiar nos olhos dele.

Os bichinhos eram duas cobras africanas raras que ele chamava de Audrey e Debora, em homenagem a suas atrizes favoritas do cinema clássico. Essa era a nova mania do Cavaleiro de Peixes: inserir venenos de cobra em espinhos de rosas. Uma pena que tais venenos, tão mortais para seres humanos comuns, fossem tão pouco eficazes contra cavaleiros.

Levantei-me para segui-lo, sabendo que aquilo não seria tudo. A meio caminho, Afrodite se virou e apontou para o meu lado.

- Minha sala refrigerada fica bem ali, você lembra? Guardo camundongos na prateleira de baixo para alimentar as garotas, por que não vai buscar para mim?

- Por que você mesmo não vai buscar? Odeio aquele ar gelado e você sabe muito bem disso – cruzei os braços e mantive a postura impassível.

Esperava que eles estivessem assistindo.

Afrodite revirou os olhos impacientemente.

- Não gosto de tocar roedores se puder evitar – ele fez um show de exibir suas unhas perfeitamente pintadas em um tom forte de púrpura.

Virei-me na direção apontada com um grunhido. Não era segredo que a única coisa que se esperava ganhar discutindo com Peixes era uma dor de cabeça.

Entrei no quarto indicado e fechei a porta atrás de mim. O ar gelado me causou uma sensação agradável. Olhei em volta, notando as muitas prateleiras e caixas espalhadas por todos os lados. Desorganização não era uma das características do Cavaleiro de Peixes, mas naquele caso era uma questão de sobrevivência.

Afastei algumas caixas enquanto caminhava e não demorei a encontrar os roedores. Pequenos corpos rígidos que mais pareciam brinquedos para gatos. Separei dois deles e continuei procurando; chutando mais caixas para o lado; acidentalmente derrubando embalagens de sementes.

O baú estava jogado em um dos cantos e parecia velho demais para ser de alguma serventia. Senti o sorriso nos lábios antes mesmo que meu cérebro conseguisse antecipar a imagem.

Abri a tampa.

O rosto de Tatsumi me cumprimentou, congelado eternamente em uma maravilhosa expressão de desespero. A seu lado duas outras cabeças igualmente desfiguradas lhe faziam companhia. A primeira pertencera a um velho turista que se perdeu ao visitar as ruínas do templo de Athena; a segunda a uma mulher de procedência desconhecida.

O veneno não era eficaz contra cavaleiros, mas humanos comuns eram diferentes.

Uma rosa em um lugar estratégico e talvez nós tivéssemos sorte. Só acontecia raramente, nem sempre com o tipo certo, mas o tempo de espera tornava a experiência ainda mais gratificante.

Toquei os rostos das duas primeiras vítimas por um momento, imaginando que tipo de vida teriam tido, quanto tempo demoraria até que alguém sentisse falta deles e se seu desaparecimento algum dia chegaria aos ouvidos de Athena. Embora fossem belas adições à nova coleção, sua existência tinha sido tão desconectada da minha que manuseá-las não me causava quase nenhuma euforia.

- Máscara da Morte, por que está demorando tanto?

Era a voz de Afrodite me lembrando de que havia guardas escondidos nas sombras. Seres patéticos que mal conseguiam invocar o cosmos e não veriam nada além do que nós permitiríamos que vissem. Era uma pena que depois da minha pequena piada daquele dia a vigilância ficaria mais rígida por algum tempo.

Que eu fosse enviado de volta para o Hades se não tivesse valido a pena.

- Nós vemos em breve, Tatsumi – despedi-me. – Infelizmente a sua morte vai ter que continuar um mistério. Infelizmente mesmo. Você pode imaginar a cara que eles fariam?

Fechei o baú e voltei a espalhar as caixas vazias estrategicamente em volta dele.

Acho que aquilo acabava com a teoria de que assistir gêneros mais leves de filmes influenciavam a personalidade.

Aldebaran ficaria decepcionado.

FIM

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