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[Yu Yu Hakusho] Receita Para o Desastre, escrita por Madam Spooky

Capítulos: único
Fandom: Yu Yu Hakusho
Autora: Madam Spooky
Gênero: Humor
Classificação: Livre
Resumo: Nem tudo que se escuta é o que parece (Yusuke Urameshi, Kurama e Botan.).

Resposta ao décimo sétimo desafio do Mundo dos Fics que consistiu em escrever um fanfic a partir de uma idéia clichê.



- Você tem certeza que é esse o botão que eu tenho que apertar para ligar essa coisa?

Yusuke deu um salto para trás quando as luzes do DVD se acenderam. Olhou para Kurama com ar de riso, passando a mão pela nuca como sempre fazia quando estava se desculpando por alguma coisa. O ruivo riu e assentiu, dando permissão para que ele ficasse à vontade.

Sentada na cama, Botan suspirou alto e irritadamente. Foi a vez de Kurama enviar a ela um sorriso de desculpa. Eles tinham planejado uma tarde juntos, sozinhos, aproveitando que os pais dele estariam fora até tarde e o irmão ainda demoraria um dia mais no acampamento do colégio. Eles veriam filmes e conversariam sobre o que andaram fazendo aquela semana inteira em que não tinham se visto. Iam fazer tudo isso... Se Yusuke não tivesse chegado com seus melhores olhos de cachorro abandonado, com o DVD de um torneio de vale-tudo na mão, implorando por um aparelho emprestado. Pensou se seria prudente deixar o amigo sozinho ali e sair para dar uma volta com a guia espiritual. Nada o agradaria mais do que isso, mas havia um grande problema: tinha enchido o quarto com mudas de rosas recém-plantadas que trouxera de sua última visita ao Makai e Yusuke Urameshi sozinho com todas aquelas plantas era uma receita para o desastre. Isso sem mencionar seu aparelho de DVD praticamente novo que ele parecia fazer a menor idéia de como operar.

- Kurama – Botan levantou-se e caminhou até ele. – Em que parte do seu plano de passarmos a tarde juntos entrava o Yusuke?

A voz dela soou em um tom que ele conhecia como perigoso. Era bom conseguir desculpar-se pelo pequeno inconveniente e rápido. Kurama deu uma rápida olhada na direção de um Yusuke muito absorto na tela da TV e puxou a garota para o lado.

- Eu não tive culpa, ele apareceu de repente... – sorriu ingenuamente.

- Não podia tê-lo mandado embora? Ele ia sobreviver um dia sem ver... essa coisa que ele está assistindo – resmungou Botan, cruzando os braços. Imediatamente descruzou-os e colocou as mãos sobre os ombros do ruivo, pedindo em um tom de voz suave que ela sabia sempre conseguir um “sim” dele: – Não podemos sair?

- E deixar Yusuke com as... – Kurama apontou os vasos espalhados pelo chão em um canto do quarto com a cabeça. – Eu acho que não é uma boa idéia.

- O que poderia acontecer em algumas horas?

- Desastre? Tragédia? Armagedom?

Botan virou de costas, irritada.

- Não podia ter deixado essas plantas em outro lugar? – insistiu uma última vez.

- Botan, eu já expliquei que as quero bem diante da minha vista. Alguém pode se machucar se as encontrar... – ele a abraçou por trás e depositou um beijo sobre seus cabelos. – Eu vou buscar alguma coisa para comer no supermercado aqui perto. Isso vai distrair Yusuke e talvez nós possamos ficar sozinhos por algum tempo... O que você acha?

- Eu acho - ela virou-se e o encarou, se mostrando ainda mais irritada - que teremos que esquecer essa tarde.

Kurama abriu a boca para responder, mas Yusuke gritou, ainda com os olhos fixos na televisão:

- Vocês querem falar mais baixo? Não estou ouvindo os sons dos ossos se quebrando!

A garota bateu o pé com força no chão.

- O que foi que eu disse? Você ainda me paga por essa, Kurama!

Ela cruzou os braços novamente e voltou a sentar-se na cama, olhando para a televisão sem realmente fixar a atenção.

O ruivo deixou escapar um suspiro cansado. Pelo menos ela não tinha ido embora. Seguiria o plano de ir até o mercado e comprar algumas coisas, quando voltasse certamente Botan estaria mais calma e ele poderia provar para ela como a tarde ainda estava apenas começando. Sorriu consigo mesmo e saiu sem insistir no assunto.
* * *


Meia hora depois, Kurama estava andando de volta para casa. Carregava meia dúzia de refrigerantes em uma mão – uma bebida que seguramente não deixaria Yusuke ainda mais animado do que já estava – e um pacote cheio de pães, bolos e outras guloseimas na outra. Tinha demorado um pouco mais do que pretendia, uma vez que a fila do supermercado estava bem maior do que tinha imaginado. Esperava que a essa altura Botan ainda estivesse esperando por ele e que não continuasse tão zangada quanto parecera antes.

Entrou em casa depressa, indo imediatamente deixar as compras na cozinha. A casa estava silenciosa, o que queria dizer que pelo menos o amigo e a namorada não estavam se matando. De qualquer maneira era melhor não arriscar. Guardou tudo rapidamente e correu para as escadas, subindo de dois em dois degraus até que chegou à porta do quarto. Colocou uma mão na maçaneta, mas estancou ao ouvir a voz de Yusuke:

- Botan, isso está me machucando!

- Azar o seu! Kurama vai chegar a qualquer momento, então eu quero acabar com isso rápido e arrumar tudo antes dele voltar.

- Então essa é a sua única preocupação? – Yusuke soou ofendido. – E como fica meu material? Você acha que isso aqui é facilmente substituível?

- Dane-se o seu material! Eu estou pensando na minha conveniência. Não é como se destruir isso ai fosse lá uma grande perda. Se o Kurama descobre sobre o que você fez...

-...eu vou ser morto e enterrado antes que possa começar a pedir desculpas. A culpa é toda sua, mas eu duvido muito que ele acreditasse que sua adorável Botan quem começou com essa brincadeira idiota!

Kurama afastou-se da porta de um salto, os olhos arregalados e a boca aberta em uma expressão de incredulidade.

- Brincadeira idiota? – Botan gritou. – Você parecia estar achando tudo muito agradável uma vez que estava o tempo todo com aquele seu sorriso estúpido!

- Era o meu sorriso intimidador, mas pelo visto não tem jeito de fazer você parar quieta um minuto. Ai, minhas costas, será que dá para se afastar só um pouquinho? – implorou Yusuke. – Eu estou começando a ficar desconfortável.

- Não posso, é humanamente impossível me deslocar ainda mais nessa posição. Se ao menos você se soltasse um pouco...

- Já disse que não consigo! – ele respirou fundo. – Uma boa seria se eu pudesse alcançar um telefone e chamar Kuwabara... Ele resolveria essa situação em um instante.

- Ou talvez Hiei...

- Hiei contaria a Kurama!

- Mas ele tem mais experiência nesse tipo de coisa...

Ok... Em que espécie de mundo paralelo ele tinha caído? Kurama olhou para a porta do quarto e depois em volta, como se estivesse procurando pelas câmeras escondidas ou algo parecido. Tudo bem que Botan tinha dito que se vingaria, mas ela não tinha querido dizer aquilo realmente, não? Se ela estivesse pensando em traí-lo, não faria no quarto dele, com o cara viciado em vale-tudo que não sabia a diferença entre um DVD e uma caixa de sapatos, certo? Oh, raios, no que estava pensando? Yusuke era seu amigo. Nem ele nem muito menos Botan jamais faria algo parecido com o que ele estava imaginando. Maldita mente pervertida!

- Para, Botan, já disse que isso dói! – Yusuke gritou, desviando a atenção do ruivo ainda parado com a mão sobre a maçaneta.

- Frouxo!

- Por que não tenta se colocar no meu lugar? Se não fosse pouco toda essa loucura, você está prestes a fazer um dano permanente na coisa mais importante da minha vida! Vai ter que me indenizar se não voltar a funcionar.

- Eu mereço mesmo... Quer parar de falar no estúpido material? Se quiser ficar livre de mim então eu acho que você devia ficar paradinho enquanto eu termino com isso. Francamente... Muita gente fala sobre você ser um desastre, mas a esse ponto...

- A culpa foi toda sua! Tudo teria corrido perfeitamente bem se você não tivesse agarrado para começo de conversa! Garota maluca... – Yusuke grunhiu. – Se quer mesmo que eu saia daqui é melhor ir tentando ser mais suave. Cara... Isso nunca tinha acontecido comigo antes.

- É o que todos dizem.

Kurama colou o ouvido à porta. Parte dele queria quebrar a superfície de madeira de uma vez e pular direto no pescoço de Yusuke, mas uma parte bem maior estava com medo do que iria encontrar. Devia ter desconfiado de todas as vezes que Botan mostrou preocupação por Yusuke e mais ainda de como ele parecia estar sempre pensando no bem estar dela. Aquilo era o que amigos faziam? Bom, era o que ele achava até então. E pensar que sempre pensara que não havia nada no mundo que pudesse tirar o amigo da frente da TV durante uma luta...

- Eu estou falando sério! – novamente a voz alta e ofendida de Yusuke. - Agora por que não para de tirar com a minha cara e dá um jeito de se desenroscar. Talvez se você se mexesse um pouco mais para baixo...

- Assim?

- Está funcionando?

- Eu não sei, não estou vendo reação alguma.

Novamente, o ruivo afastou-se da porta. Aquilo era demais para a cabeça dele, precisava de uma dose de whisky. Não... De preferência uma garrafa inteira. Respirou fundo e já ia dar um passo para trás quando ouviu o grito de Yusuke:

- O que pensa que está fazendo?

- Vamos se isso aqui é tão sensível quanto dizem que é.

- Botan!

Um grande estrondo soou de dentro do quarto como se um meteoro tivesse acabado de atingir a cama de Kurama. O ruivo carranqueou. Eles o estavam traindo em seu próprio quarto! Podiam ao menos ter a decência de manter sua cama intacta. Aquilo era mais do que podia suportar. Enchendo-se de coragem, chutou a porta de madeira abrindo-a de um golpe só e entrou, o rosto impassível, mas um brilho furioso nos olhos.

Assim que o viu, Yusuke deu um sorriso amarelo.

- Oops... Oi, Kurama, já de volta?

Botan apenas suspirou em uma mescla de surpresa e alívio.

- Socorro?

Kurama olhou para os dois amigos, erguidos a meio caminho do teto por um emaranhado de galhos verdes saindo de um dos vasos que tinha deixado no quarto. Um pouco mais abaixo, o DVD que Yusuke trouxera estava quase caindo de cima de um ramo mais fino da planta. Uma onda de alívio, seguido de um sorriso bobo, tomou conta do rosto do ruivo. Nunca estivera tão grato por um pequeno desastre.
* * *


- Você tinha razão – disse Botan. – Yusuke sozinho no seu quarto era mesmo uma combinação desastrosa.

Kurama sorriu sem encarar a garota. Ainda estava no mínimo envergonhado pelas coisas que pensara todo o tempo em que estivera ouvindo atrás da porta. Aquela provavelmente tinha sido a coisa menos cavalheiresca que tinha feita em toda sua vida como Shuuichi Minamino, mas o ensinara a não ser tão desconfiado no final das contas. No futuro confiaria mais em Yusuke. A não ser que houvesse alguma de suas plantas a menos de um quilômetro de distância.

- Nada disso teria acontecido se a Botan não tivesse pego o meu material – disse Yusuke, erguendo o DVD na direção dos amigos.

- Essa coisa estava me dando nos nervos – disse a garota. – Não sei como isso pode ser ‘a coisa mais importante da sua vida’. Faça-me o favor... – ela riu maliciosamente. – Acho que vou repetir essas suas palavras da próxima vez que encontrar com a Keiko.

Yusuke ficou branco como papel e os dois passaram alguns minutos mais discutindo, cada um jogando para o outro a culpa pelo incidente. Kurama, por sua vez, estava muito absorto nos próprios pensamentos. Conseguira deter o crescimento da planta e arrumar o quarto de maneira mais ou menos civilizada. Só precisava de uma boa desculpa quando sua mãe visse o estado em que ficou sua cama. Da próxima vez daria um jeito de deixar as mudas sensíveis ao toque longe de casa.

- Então – Botan sussurrou perto do ouvido dele. – Você acha que é tarde demais para a gente fazer alguma coisa?

- Eu só preciso tirar aquela planta do quarto antes que ela cause mais algum desastre – disse Kurama.

- Vai demorar?

O ruivo sorriu e abriu a boca para responder quando percebeu que Yusuke não estava mais a vista. Olhou para trás, para a porta que levava as escadas, bem a tempo de ouvir o som de alguma coisa se quebrando lá em cima.

- Pensando bem, eu acho que posso fazer isso mais tarde.

FIM

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