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[Fruits Basket] Cenas de Luar, escrita por Madam Spooky

Capítulos: único
Fandom: Fruits Basket
Autora: Madam Spooky
Gênero: Humor/Romance
Classificação: Livre
Resumo: Tohru Honda / Yuki Sohma. Yuki é intimado a ler o novo livro nada inocente de Shigure. No final, porém, a tarefa desagradável pode se revelar um grande favor.


Presente de Natal para June Briefs



A lua cheia preenchia o céu de verão iluminando a calçada. O jovem casal caminhava conversando sobre tudo e nada, absortos um nos olhos do outro. Eles tinham a mesma idade, mas não havia nenhuma semelhança entre ambos. Ele era esguio, cabelos acinzentados, estranhos à sua idade, emoldurando um rosto tão belo que era difícil não confundi-lo com uma jovem dama. Já ela, parecia apenas uma japonesinha comum, segurando os livros de escola e usando um magnífico uniforme colegial. Seu rosto não era especialmente belo, nem seu corpo especialmente curvilíneo, mas havia um brilho especial em suas maneiras, algo sobre o qual ela parecia inconsciente, mas pela maneira apaixonada como ele a fitava, o jovem rapaz conseguia ver muito bem...

* * *


- Souma-kun...? Você está bem?

Tohru precisou chamar uma terceira vez para que o jovem Souma saísse do choque. Ele deixou que a folha de papel impressa deslizasse de entre os dedos apenas para apanhá-la de volta rapidamente assim que os olhos da garota desviaram perigosamente na direção da mesma. Ele encarou Shigure do outro lado da mesa e, quando seus olhos furiosos encontraram o olhar inocente do Souma mais velho, seu rosto estava tão vermelho que ele mesmo não saberia dizer se de raiva ou embaraço.

- O que significa isso? – a voz de Yuki saiu rouca e quase desapareceu ao final da pergunta. Ele olhou de esgoela para a Tohru confusa a seu lado e balançou a cabeça em negativa. – Não, eu acho melhor falarmos sobre o assunto uma outra hora...

Para Shigure, no entanto, não fazia a menor diferença se a garota ouviria ou não suas explicações. Em outra ocasião, quando estivessem sozinhos, ele planejava faze-la ler o começo de seu novo livro e opinar a respeito. Não entendia por que Yuki estava tão preocupado. Não é como se Tohru tivesse malícia suficiente para cogitar que ele usaria a vida dela em seu mais recente romance sem dizer uma palavra. Além disso, se ela se desse conta, talvez isso ajudasse ambos a pararem de ignorar um ao outro e chegarem a qualquer outro entendimento de uma vez por todas.

- O que quer que eu diga? – ele sorriu amplamente. – É uma das histórias que comecei a escrever como hobbie. Você não gostou? Eu achei que ficou tão realista. Até usei personagens reais e...

- Eu não pareço uma... – ele olhou novamente para a página, como se para se certificar de qual fora a comparação correta. – Jovem dama.

- Você? – Shigure olhou para todos os lados da sala, parecendo tão por fora do assunto quanto a garota que, agora mesmo, limitava-se a observa-los educadamente. – E o que isso tudo tem a ver com você?

Yuki fez menção de saltar sobre a mesa, direto no pescoço de Shigure, mas parou no meio do caminho. Não valia a pena fazer uma cena, ainda mais na frente de Tohru. Ele sorriu tranquilizadoramente para a garota, mas pela expressão no rosto dela, provavelmente só tinha conseguido um esticar de lábios forçado. Seu rosto se contraiu em uma carranca que não combinava com ele ao novamente fitar as folhas de papel a sua frente. Shigure tinha um sorriso presunçoso no rosto, como o de um artista que estivesse esperando uma avaliação de sua obra prima. Era bom que aquilo que ele dissera sobre hobbie fosse verdade. Aquela história só seria publicada por cima de seu cadáver.

- Não vai continuar lendo? – o escritor perguntou naquele seu tom falsamente inocente.

Yuki resmungou qualquer coisa incompreensível antes de responder:

- De jeito nenhum!

- Shigure-san... Souma-kun... – Tohru disse hesitantemente. – Eu não quero me meter, mas se puder ajudar em alguma coisa...

Ela mordeu o lábio inferior e Shigure sorriu maliciosamente. Pela maneira apressada como os olhos dela iam das folhas que Yuki protegia ao rosto dele, podia afirmar com toda certeza que ela estava curiosa.

- Bom, se o Yuki não quer me ajudar, então acho que a senhorita Tohru poderia...

- Nem pense nisso!

O jovem Souma deu um salto, batendo com as palmas na mesa, provocando um pequeno estrondo. Ele olhou para Tohru que parecia conformada em excluir-se da conversa e sentiu-se um pouco culpado ao ver a ponta de decepção que passava por seus olhos castanhos.

- Então você vai continuar lendo? – Shigure sorriu novamente. Quem não o conhecesse bem, o classificaria como grato e feliz. – Lembre-se que estou ansioso pela sua mais sincera opinião.

Yuki descartou a folha de antes, procurando alguma que parecesse mais segura, mas, em se tratando de Shigure Souma, isso seria como procurar uma macieira no centro comercial de Tokyo. Arriscou-se em uma página qualquer na metade do bloco.

* * *


Ele era um idiota completo e sabia disso. Ela estava ali, de pé sobre a horta, a lua iluminando os cabelos castanhos e os olhos brilhando na sua direção. Sua figura frágil estava vulnerável ao frio da noite e, como ele pensara quando a vira assim, às suas palavras. Apenas uma frase seria necessária para que ele tirasse o peso de seus sentimentos escondidos. Acabar-se-iam as noites mal dormidas e as ondas de calor provocadas por toques acidentais. Ele só precisava dizer as palavras. E esperar que ela as rebatesse.

* * *


Shigure recebeu um olhar desconfiado de Yuki. Aquilo parecia mais do que apenas uma história engraçadinha baseada na sua vida, parecia quase uma indireta. Mas, mesmo que ele realmente se sentisse daquela maneira, o outro não tinha como saber, certo?

O escritor sorriu amavelmente, indiferente as suas suspeitas ou, mais provável, fingindo isso. Devolveu-lhe um olhar de expectativa.

- O que espera que eu fale? – o garoto cruzou os braços, fervendo por dentro, mas decidido a entrar no jogo. – Você tem algum tipo de fixação pela lua?

- Não acha que cenários enluarados dão um clima mais romântico à narrativa? – Shigure sorriu para Tohru que continuava por perto, tão silenciosa e imóvel como se fizesse parte da decoração. – O que você acha, Tohru?

- Ah, eu? – Ela abriu os olhos e levou a mão ao peito, surpresa por ser incluída tão repentinamente na conversa.

Yuki sorriu, pensando que ela parecia adorável em sua personalidade desligada e intimamente agradecendo um pouco por isso. Desfez o sorriso quando percebeu os olhos astutos de Shigure em cima dele, limitando-se a esperar a resposta da garota.

- Eu adoro cenários enluarados. E acho que são muito românticos sim! – ela sorriu timidamente. – Não tenho certeza do que o Shigure-san está falando, mas se é uma discussão sobre alguma cena do próximo livro dele, tenho certeza que vai ficar muito bom!

Shigure estufou o peito e Yuki suspirou. Tohru podia confiar um pouco menos em escritores mal intencionados, ainda que ele tenha lhe oferecido um lar por tempo indeterminado. Pelo menos Kyo não estava por perto para presenciar aquilo. Não sabia se podia lidar com as intenções duvidosas de Shigure e um gato estressado ao mesmo tempo.

- Vamos, Yuki – o Souma mais velho pediu, tirando-o de seus pensamentos. – Você ainda nem chegou à parte interessante...

Pela maneira como o escritor piscou, Yuki teve certeza de que não ia querer saber o que aquilo queria dizer.

- Ou eu posso pedir para a Tohru...

- Já estou indo! – Ele ainda daria um jeito de se vingar. Ah, se daria...

* * *


Novamente a lua como testemunha de sua agonia. Ela estava de costas, parada na bancada da cozinha, as mãos sujas de farinha e um sorriso satisfeito no rosto. Qualquer um diria que não era a situação mais convidativa, mas ela sempre parecia tentadora para ele. O rapaz se aproximou, um passo de cada vez, e a envolveu timidamente em seus braços. Surpresa, a jovem colegial girou o rosto, acidentalmente aproximando seus lábios dos dele...

* * *


Muita calma... Respiração funda... Aquilo não queria dizer nada! Não tinha nada a ver com o fato dele ter pensado algumas coisas pouco cavalheirescas quando vira Tohru fazendo o bolo de chocolate que prometera a Momiji na semana anterior. Shigure não tinha como ler seus pensamentos. Era tudo suposição, uma tentativa extremamente bem sucedida de deixá-lo desconcertado. Yuki fechou os olhos um instante e, quando voltou a abri-los, a imagem mental de suas mãos acidentalmente se fechando no pescoço do Souma mais velho tinha desaparecido. Ele sorriu forçadamente e apoiou os braços devagar sobre a mesa, como se mover o corpo rapidamente fosse faze-lo explodir.

- Então... Novamente a lua, não é? Por que não descreveu algumas estrelas para deixar a cena mais... brilhante?

Shigure franziu a testa.

- Não, não, está perfeito do jeito que está.

- Foi você quem pediu minha opinião...

- Vai ficar perfeito – o escritor sorriu, ignorando o sarcasmo de Yuki. – A lua estará lá em todas as cenas, inclusive na mais importante... Por que você não pula direto para o penúltimo capítulo? Eu não acho que haja problema, afinal, o nosso Yuki já tem idade para ler esse tipo de coisa. Oh Oh Oh.

O garoto arregalou os olhos e olhou para Tohru. Quieta no mesmo lugar, ela apenas olhava de um para o outro com um olhar interrogativo. Ele quase podia ouvi-la se perguntando do que eles estavam falando. Instintivamente, cobriu ainda mais as folhas com os braços. Se ela chegasse a ver a descrição dos personagens ia saber exatamente quem eram os personagens reais e, apesar daquilo tudo ser a mais completa ficção, isso não ia salva-los de algum constrangimento.

- Shigure-san, eu acho que está na hora de preparar o jantar...

Tohru começou a dizer, mas o escritor a interrompeu:

- Não se preocupe com isso, Tohru. Falta tão pouco para o Yuki terminar a ler.

Ele cobriu a boca com a mão para evitar rir alto, mas a intenção maldosa estava escrita em seus olhos. Yuki percorreu as páginas com os olhos, pensando quantas coisas preferia estar fazendo naquele momento. Sentia-se incomodamente consciente dos olhos curiosos de Tohru esperando que a estranha conversa terminasse. Pensando bem, ela tinha razão, quanto mais rápido aquilo acabasse e eles passassem para o assunto bem mais importante do jantar melhor. Folheou rapidamente o que restava das páginas e pegou uma folha qualquer entre as últimas. Só precisaria passar os olhos e fingir que estava chocad...

* * *


Os raios lunares atravessavam a janela do aposento enquanto o sentimento casto dos dois jovens se convertia em fogo. Os sons suaves preenchiam o cômodo estreito escapando pelas persianas abertas e perdendo-se na noite...

* * *


- Shigure-san!

Tohru levantou-se, dando um salto ao ver o rosto de Yuki começar a ficar cada vez mais vermelho. Ela olhou para o escritor de maneira implorante, mas ele apenas sorriu largamente, parecendo plenamente satisfeito.

- Pelo visto você chegou à minha parte favorita – disse em meio ao sorriso. – Só não entendo por essa cara de quem acabou de ver um fantasma, esse é o desfecho obvio a qualquer bom romance. Pelo menos os de minha autoria – ele deu risada, se divertindo ao ver a face do Souma mais jovem tornar-se carmesim como se todo o sangue do corpo tivesse, de repente, se concentrado na cabeça.

- Shigure-san, eu acho que ele não está bem mesmo – Tohru começou a virar-se de um lado para o outro, parecendo não decidir-se para onde ir. – Não seria melhor se eu fosse buscar um copo de água?

- Ah, não se preocupe com isso – o escritor acenou com a mão. – Aposto que ele não gostou porque a cena ficou pouco explicita. Mas não é nada que eu não possa consertar mais tarde.

- Souma-kun...

A garota aproximou-se hesitantemente, mas apressou o passo ao perceber que ele parecia imóvel demais. Além disso, o rosto, antes vermelho, agora mesmo parecia mais um tomate gigante. Yuki de súbito respirou fundo, tragando o ar com certa dificuldade, ao mesmo tempo em que fulminava Shigure com um olhar que teria feito Akito parecer pequeno.

- Souma-kun, está com dificuldade de respirar? Você quer...?

- Isso quer dizer que ele não vai poder ler até o final...? – o Souma mais velho tentou parecer decepcionado, mas seus olhos trairam certa preocupação.

Tohru chamou pelo garoto mais uma vez, mas este não teve tempo de responder. Tragou o ar com força em um último esforço de voltar a normalidade antes que desaparecesse em meio a um ruído baixo, semelhante ao saltar da rolha de uma garrafa de champanhe.

- Shigure-san, acho melhor o levarmos para cima.

A garota disse em voz baixa, recolhendo o pequeno rato cinza deitado sobre as roupas abandonadas que a apenas um segundo cobriam o corpo do jovem Yuki Souma.

* * *


Yuki abriu os olhos lentamente. Tinha tido um pesadelo horrível. Ele estava sentado frente à Shigure e Tohru, lendo o último rascunho do Souma escritor. Era uma história cheia de cenas sob a lua, tendo como protagonistas ele e Honda-san, ambos como dois adolescentes apaixonados cujo amor platônico se transformava em... como era mesmo a descrição? Ah, sim, fogo, nas últimas páginas. O garoto sorriu consigo mesmo, contendo a vontade de rir alto, ato que não era de seu feitio. A coisa boa sobre sonhos como aquele é que ele poderia acordar e sentir o conforto e segurança da realidade.

- Ele está sorrindo.

- Não está sufocando?

O jovem Souma abriu os olhos, sobressaltado. Ergueu-se na cama e encarou as duas pessoas a sua frente com os olhos muito abertos. Shigure e Tohru o estavam observando de perto, como se ele fosse algum tipo de animal estranho.

- Ele parece bem – disse o escritor.

- Souma-kun, está se sentindo melhor? – perguntou a garota genuinamente preocupada.

O garoto olhou para ela e para o homem logo atrás.

- Honda-san...

- Sim?

Ele suspirou cansadamente.

- Eu estava há cinco minutos lá embaixo lendo um amontoado de folhas e planejando as formas mais cruéis de matar o Shigure?

- Bom... – a garota olhou dele para Shigure, se perguntando se a pergunta tinha sido feita conscientemente ou era fruto de um delírio. – Havia folhas impressas lá embaixo, mas eu não faço idéia do que você estava pensando.

Yuki deixou-se cair para trás, ignorando o sorriso amarelo do Souma mais velho e cobrindo o rosto com as mãos. Sem sair da posição, ordenou:

- Shigure, você tem cinco segundos para sair daqui antes que eu...

Nem foi preciso que completasse a frase. Ele ouviu um resmungo que entendeu como ‘você poderia tirar algumas idéias do meu novo livro’, mas que preferiu acreditar que foi apenas fruto de sua imaginação. Em seguida o som da porta batendo o fez levantar-se novamente para se ver sozinho com Tohru.

Já era tarde. Yuki olhou pela janela, para a lua que despontava de entre as nuvens e sentiu o súbito impulso de rir novamente. Com um meio sorriso nos lábios, ele olhou para Tohru e percebeu que ela também estava olhando para o céu. Seus olhos tinham um brilho sonhador e, desavisadamente, ele lembrou-se do trecho do rascunho de Shigure.

Seu rosto não era especialmente belo, nem seu corpo especialmente curvilíneo, mas havia um brilho especial em suas maneiras, algo sobre o qual ela parecia inconsciente, mas pela maneira apaixonada como ele a fitava, o jovem rapaz conseguia ver muito bem.

Balançou a cabeça para espantar a lembrança, parando apenas quando sentiu algo afundar na parte oposta da cama. Tohru estava sentada, encarando-o com um sorriso, as mãos sobre o colo e o rosto tranqüilo, esperando que ele falasse primeiro.

- Senhorita Honda, eu estou bem mesmo – ele sorriu para convencê-la. – Só preciso de uma boa noite de sono para esquecer aquela... reunião lá embaixo.

- Oh! Está falando do livro do Shigure-san? – Tohru arrependeu-se da pergunta quando viu o rosto bonito de Yuki se contorcer em desagrado. – Estava tão ruim assim? Não foi isso que eu quis dizer, eu só... – ela tentou concertar desajeitadamente. – O Shigure-san parecia tão feliz em mostrar seu livro novo. Realmente não gostou de nenhuma parte?

Havia um brilho especial em suas maneiras...

- Uma parte.

- Isso é ótimo – Tohru sorriu. – Estou certa de que o Shigure-san ficará muito satisfeito em saber disso!

- Levando em conta que ele estava tentando se divertir as minhas custas.

Yuki cobriu parte do rosto com a mão, olhando para o lado e tentando não parecer irritado novamente. Mais tarde teria uma conversinha com certo escritor e o faria confessar o que exatamente estava tentando fazer – além de tentar faze-lo ter um ataque, claro.

- Souma-kun está enganado! – disse Tohru de uma maneira convicta que ela geralmente usava apenas quando tentava levantar o ânimo de alguém. Yuki a fitou, curioso. – O Shigure-san não é o tipo de pessoa que teria todo aquele trabalho apenas para envergonha-lo. Eu tenho certeza que se ele escreveu aquelas páginas para você, é porque estava tentando dizer alguma coisa.

- Me dizer alguma coisa?

Apenas uma frase seria necessária para que ele tirasse o peso de seus sentimentos escondidos.

A frase assaltou Yuki, fazendo seu coração dar um salto. Ele abriu a boca para dizer alguma coisa, mas outro trecho do rascunho de Shigure lhe veio a lembrança.

Os raios lunares atravessavam a janela do aposento enquanto o sentimento casto dos dois jovens se convertia em fogo.

- Acredite – disse em meio a um suspiro. – Shigure só estava colocando em prática suas idéias pervertidas.

Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes até que começaram a se mexer desconfortavelmente. A noite estava alta e as nuvens tinham desaparecido, deixando a lua completamente a mostra pelo quadrado da janela. Yuki se perguntou com um meio sorriso maldoso se Shigure estaria observando-a e escrevendo alguma coisa nova, com outro Souma como vítima. Não entendia por que ele se dera ao trabalho de fazer uma brincadeira tão trabalhosa, páginas e mais páginas escritas apenas para irrita-lo. Tohru dizia que talvez ele tivesse tentando dizer alguma coisa, mas o único conselho que poderia tirar dali era para algo sobre o que Shigure não tinha nenhuma conhecimento, certo? E, mesmo que tivesse, de que adiantava quando ele mesmo não sabia exatamente o que estava sentindo?

Respirou fundo, o ar agora circulando sem nenhuma dificuldade, e ergueu-se na cama. Tohru estava brincando com os próprios dedos, olhando de esgoela para a porta ocasionalmente, como se esperasse uma deixa para sair dali. Yuki sorriu involuntariamente, saindo da posição quase deitada e sentando-se na beirada do colchão ao lado da garota.

- Souma-kun... – ela começou a protestar, mas o garoto a segurou pela mão, em um pedido silencioso para que não continuasse. Os dois olharam para as mãos entrelaçadas e Tohru abaixou os olhos, tentando disfarçar o embaraço que a situação lhe provocava. – Tem certeza que está bem?

- Pronto para outra – ele sorriu, pensando que esperava nunca mais ter que colocar os olhos em qualquer coisa, salvo notas de compras, escrita por Shigure.

- Você tem certeza?

- Absoluta, Honda-san, você não precisa se preocupar tanto.

- Mas se eu me preocupo é porque gosto muito de voc... – ela praticamente gritou a frase, só percebendo o que tinha dito no último minuto. Levantou-se de um salto e já contornava a cama na direção da saída quando sentiu a mão de Yuki segurar seu pulso, impedindo seu avanço.

O garoto sorriu de maneira terna, como costumavam ser todos os seus sorrisos para ela nos últimos tempos. Tohru lentamente voltou-se para ele e encontrou-o com uma expressão acolhedora e, pelo menos momentaneamente, ausente de dúvidas.

- Eu sei. E eu me sinto igual.

Ele a puxou de volta para perto e, do outro lado da porta, Shigure ainda pode ver o que talvez tivesse sido o avanço de um abraço antes se afastar e deixa-los a sós. Olhou para as folhas impressas entre as mãos e as amassou distraidamente, sorrindo com malícia. Yuki jamais poderia dizer que nunca fizera nada por ele.

FIM

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