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[Original] Para não Dizer que não Falei das Flores, escrita por Linanime

Capítulos: único
Autor: Linanime
Fandom: Original
Gênero: Shoujo (Romântico), Ação, Aventura e Luta, Drama (Tragédia)
Classificação: 14 anos
Resumo: Uma jovem escrava desejava um dia poder ir a floresta onde ficava a casa de seu senhor e ver as flores... Um homem cruel, duas vidas destroçadas e uma menina ingenua!! Para conferir só lendo!!

Espero que gostem!!



Era uma vez, assim começa os contos de fadas. Mas os contos de fadas envolvem magia, príncipes e princesas e o famoso felizes para sempre. Nos contos de fadas não há tristezas e infelicidade que dure por muito tempo. Esse é um conto diferente, não é uma princesa que aparece, mas uma escrava, uma escrava que sonhava ver as flores que ficavam na floresta ao redor da casa de seu senhor. Uma escrava que nasceu e viveu sempre presa naquela casa, tinha somente um desejo: poder ver e sentir as flores.

Ana era uma escrava. Sua pele era alva como a neve, seu lábios eram rosados e seus cabelos eram claros, não loiros, mas de um castanho claro que às vezes pareciam um pouco avermelhados quando ela estava próxima a chama do fogão a lenha. A mãe de Ana era uma escrava comprada pelo dono daquela casa, uma mulher linda com cabelos castanho escuro, olhos castanhos claros e uma pele um pouco queimada do sol. Apesar de seu novo senhor ser casado, ele teve segundas intenções com a beleza da escrava e somente por isso a comprou. Mas ele descobriu logo depois que ela estava grávida, grávida do grande amor de sua vida que fora morto por seu antigo senhor por causa da beleza dela. A mãe de Ana ainda sentia a amargura de ver seu amado morrer por sua causa, sentia muita dor, seu coração morrera junto com ele naquele dia. Choveu durante muito tempo após a morte do pai de Ana, tanto tempo quanto a jovem e bela escrava conseguiu chorar. Quando ela finalmente parou de chorar sua senhora resolveu vende-la para evitar problemas futuros com o marido.

O novo senhor da mãe de Ana ficou indignado com a gravidez da escrava. Ele morava no meio de uma floresta, prendeu-a no porão daquela casa grande com a intenção de que o bebe morresse com as condições do lugar. A escrava chorava durante muito tempo, pedia água, pedia um pouco de comida, mas seu senhor não dava nada queria que a criança morresse o mais rápido possível para que ele realizasse suas fantasias com a escrava. Porém quando ele saía, a esposa com pena da mulher grávida pedia a sua criada já idosa para alimentá-la e matar a sede para que a criança pudesse viver. A dona daquela casa não podia ter filhos e via uma esperança na criança que estava para nascer. Quando o bebê nasce, a dona da casa chama-a de Ana, pois esse era o nome que ela sonhava em dar a filha que não pode ter. A mãe sorri porque o pequeno bebê era parecido com o pai, linda como ele e com os mesmos olhos, olhos mais claros que os dela, olhos que às vezes ficavam verdes.

Ana tinha todo o carinho da mãe e da criada idosa, uma anciã calma e gentil que ajudava a cuidar de Ana. Ana também viu e ouviu durante seu crescimento o sofrimento de sua mãe para fugir do senhor daquela casa. Sua mãe se trancava nos porões imundos daquela casa, cercado por ratos e outros animais nojentos e repugnantes. Ana se lembra de quando criança aquele homem a agarrara dos braços de sua mãe e a jogara em algum lugar por uma janela. Sentiu seu pequeno corpo de oito anos de idade doer muito, sua mãe correra aquele lugar a segurara firme. Seu corpo estava coberto por uma substancia liberada por algumas plantas, fora a primeira e a ultima vez que Ana vira o sol em sua vida. Nunca mais saíra daquela casa. A última lembrança que teve de sua mãe foi aos 10 anos de idade quando ouviu gritos de onde estava, sua mãe implorava por alguma coisa que ela não entendia e depois sua mãe fora enterrada no lugar onde ficavam os escravos mortos. Ana chorou muito, fora consolada por aquela velha criada que sempre a tratou como uma avó. Ana nunca mais viu sua mãe de novo, mas ainda se lembrava da voz dela cantando canções de ninar, a que ela mais gostava falava sobre as flores que se abriam na primavera exalando um doce perfume e mostrando a natureza a sua beleza.

- Como são as flores vovó? Pergunta Ana aquela senhora idosa que estava no fogão cozinhando o jantar.

- As flores criança? As flores são lindas, possuem diversas cores, suas pétalas são mais macias que as roupas de seda da senhora da casa, mas delicada do que a pele dela. Seu perfume é mais doce e suave do que os perfumes da senhora e elas são mais bonitas do que o céu que você viu naquela vez.

- Isso tudo? Pergunta surpresa.

- Sim e muito mais- Se aproxima de Ana e deposita um beijo em sua face- Isso é para você não dizer que não te falei das flores!

Ana tentava imaginar as flores, sentir seu perfume, mas tudo era em vão. Ela nunca vira uma flor na sua vida e por mais que tentasse sua imaginação não alcançava a beleza do real. A velha senhora olha para a jovem moça, Ana possuía dezesseis anos, era linda com seus cabelos caindo em cachos por seus ombros enquanto ela se abaixava para pegar lenha e trazer para colocar no fogo. Ela tinha um corpo de moça, com belas curvas, seu vestido não conseguia esconder. As roupas que as escravas usavam eram sujas, rasgadas, as mangas eram curtas para que seus senhores pudessem observar melhor. Mas Ana era diferente porque aquela senhora fazia questão de costurar os vestidos dela para deixar pouco do corpo da menina a mostra. Todo o seu esforço fora em vão porque já fazia muito tempo que o dono da casa começara a observar Ana. Na tentativa de livrar a filha daquele homem ruim sua mãe o enfrentara naquela vez, Ana era uma criança como ele podia ter pensamentos adultos para com ela. Ele a matara a sangue frio e afirmou que um dia ia fazer com a filha o que não fizera com a mãe. A senhora idosa nunca contou essa parte da história para Ana, lembra-se da mãe pedindo para que ela cuidasse da filha dela porque a mãe não ia conseguir continuar a viver por muito mais tempo. A mãe tem seu ultimo suspiro nos braços daquela senhora e é banhada por grossas lágrimas de uma mulher sofrida com muitas marcas dessa vida.

A anciã não ia deixar acontecer com Ana o que aconteceu com ela. Como escrava seu senhor a humilhou por muito tempo, como o dono daquela casa ele tirou a vida de todas as suas crianças, não queria deixar vestígio de seus atos. Para se livrar dela, dera-a de presente a sua filha como serva no dia em que se casou. Aquela senhora idosa sabia que a jovem que acabara de se casar ia sofrer muito na vida porque o homem com quem se casou era igual ao pai dela. A anciã olha para Ana enquanto ela traz a lenha e tenta não demonstrar que chorava enquanto se recordava da sua dura vida.

A senhora da casa chama Ana, que sobe as escadas com cuidado para ajudar sua senhora a se vestir. As roupas dela eram macias, os perfumes que usava eram tão bons. Ana ficava pensando nas flores, se seriam realmente mais bonitas do que o céu. A senhora observa a escrava e deixa cair algumas lágrimas. Sempre fora humilhada pelo marido. Seu sonho era ser mãe, mas sempre vira seu marido ir dormir com as escravas da casa deixando-a sozinha. Poucas vezes lembra-se de seu marido com ela, nessas poucas vezes engravida. Seu sonho iria se realizar finalmente, mas aquele homem cruel em sua ânsia de vingança a algum tempo atrás tenta matar uma escrava que se recusava a aceitar seus desejos, ela tenta impedir e ele sem piedade a jogo com toda força escada abaixo. Ela rola pelas escadas da entrada do casarão, achava que não ia sobreviver, ele nem pensara no seu herdeiro. Acorda alguns dias depois, descobre que perdera a criança e devido a uma perfuração por um galho nunca mais poderia gerar uma criança novamente. Quando Ana nasceu foi a luz que faltava na vida amarga daquela mulher, ela já tentara fugir daquele homem mas era impossível. Queria que aquela jovem tivesse uma vida feliz, diferente da dela, da senhora idosa e da mãe.

- Ana, faça-me um favor?

- Sim senhora!

- Vá até a sala amanhã, onde fica a janela grande que dá para o penhasco. Quero ver a paisagem e tocar piano, gostaria que me acompanhasse!

Ana afirma com a cabeça e desse para a cozinha. A senhora daquela casa não poderia livrar a escrava de seu marido, mas poderia fazer o melhor para impedir que ele conseguisse o que desejava. Ela passa a noite inteira chorando trancada em seu quarto, chorava por não ter muito que fazer por aquela que tomara como filha, chorava por ter que aceitar o destino que tinha ter que abaixar a cabeça a um homem cruel como sua mãe fizera por toda a vida.

Ana e a anciã vão dormir após o jantar. Os olhos peritos de seu senhor ficavam avaliando Ana sem que ela pudesse perceber. As pessoas que amavam aquela menina apenas observavam em silencio, elas não iriam o deixar completar o que desejava. A senhora idosa canta uma canção de ninar para Ana, aquela das flores.

- As flores são tão belas, minha criança! Belas como não se pode imaginar. Sempre que chega a primavera, elas desabrocham deixando suas pétalas se abrirem como damas a bailar. As flores possuem pétalas macias, pétalas lindas como um pôr do sol, as flores têm um perfume suave que faz todos pensarem na criação. Toda a natureza respeita as flores, quando elas aparecem tudo ficar mais alegre, os pássaros cantam, as árvores ficam mais bonitas, tudo isso ocorre por causa das flores.

- As flores são realmente especiais vovó!

- Para não dizer que não falei das flores, Ana!

Ana adormece feliz. Sonha com sua mãe, com os momentos felizes que passara com ela. Ela sempre fazendo carinho nos seus cabelos enrolados, Amarrando fitinhas coloridas e lhe ensinando tudo o que conhecia do mundo. Amanhece e as escravas vão fazer o café para seus senhores. O dono da casa, o homem cruel, fala para Ana que era para ela subir até seus aposentos a tarde, depois que ela fizesse companhia a senhora da casa. A anciã olha incrédula para ele, para a audácia daquele homem. Ana vai para a sala e abre as grandes janelas, o dia estava lindo, sua senhora admirava o dia e a linda escrava que tinha um sorriso no rosto. A senhora toca algumas melodias tristes. A casa ficava no meio de uma floresta, uma parte da casa ficava próxima a um precipício por onde passava um rio, esse rio dividia a floresta em duas partes. A senhora para de tocar e caminha até as janelas observando os pássaros. Ana a acompanha e fica sentindo a brisa que entrava, a senhora idosa chega e fica somente observando a cena, o dono da casa passara pela porta e resolveu contemplar a bela escrava e sua triste esposa.

- Ouve os pássaros, Ana! Que linda melodia, nenhum pianista seria tão bom quanto os pássaros.

Ana apenas sorri, fecha os olhos e inclina os ouvidos na direção do som para poder ouvir melhor.

- Ana?

Ana olha na direção de sua senhora que estava a sua direita.

- Não pude fazer nada por sua mãe! Não posso fazer muito por você... Diz abraçando a jovem e chorando muito molhando um pouco o vestido de Ana.

- Me perdoe!

Quando seu marido faz menção de se aproximar, a senhora na ultima tentativa de salvar a escrava das mãos dele a empurra pela janela. A jovem escrava vai caindo lentamente até que seu corpo toca a água do rio sento arrastada por ele. Seu marido com muito ódio dela dá-lhe um tapa na face, um tapa dolorido, mas entre lágrimas ela sorri dizendo que aquela jovem não teria o mesmo destino que outras escravas teriam.

- Prefere vê-la morta? Pergunta ele muito sério.

- Não! Prefiro vê-la longe do senhor!

As pessoas que tanto amavam Ana choram, o senhor daquela casa junta seus escravos para procurar o corpo da jovem. As mulheres que amavam a escrava que desejava ver as flores acompanham aquele homem para se certificar de que o corpo seria achado e enterrado, nada mais que isso.

Esse é um conto triste, de uma escrava que queria ver as flores. Mas sendo um conto de fadas seria muito bom que ao invés de cair do precipício Ana pudesse ter visto as flores finalmente. Sentir o perfume das flores e finalmente preencher sua mente com as informações que tanto desejava: saber como eram as flores.

Sua cabeça doía um pouco, seu corpo quase não se movia. Um rapaz observa as chamas da fogueira acesa dançarem a sua frente. Ele possuía lindos olhos azuis, cabelos negros e lisos até os ombros presos em um rabo de cavalo. Usava roupas finamente tecidas, uma camisa de algodão branca, um casaco por cima dom o emblema de sua família, uma calça de algodão preta. Sua capa estava estendida no chão e sua bagagem estava próxima ao tronco em que estava sentado. Ele observa a jovem a sua frente deitada sobre sua capa. Achara essa moça entre as pedras do rio, achava que era apenas um corpo sem vida, mas ficou surpreso ao notar que ainda respirava. Cuidou dela nesses quatro meses e finalmente a moça começava a apresentar sinais de que iria sobreviver. Sua mão se movera indo até a cabeça, então ele percebeu que ela provavelmente sentia dor nessa região.

- Como você é linda!

Cabelos castanhos claro, algumas vezes com um tom avermelhado devido a presença do sol. A pele alva, como se nunca tivesse estado na presença do sol, lábios rosados agora, antes ela estava mais pálida quase sem vida. Suas mãos delicadas pareciam de uma Lady mas as roupas eram de uma escrava.

- Como serão seus olhos!

Ele gostaria muito de poder ver os olhos daquela jovem. Quando a encontrara a roupa estava parcialmente destruída. Ele a tirou da água e a levou para onde se encontravam agora, a alguns metros do rio dentro da floresta. Precisava tirar as roupas molhadas dela, mas não era capaz disso, se pelo menos tivesse trazido uma de suas servas consigo. Mas nem ao menos um servo trouxera nessa viagem. Ele se aproxima da jovem extremamente pálida, deita a sua face sobre a testa da jovem, ela estava tão fria. A cada minuto o vento esfriava mais aquele corpo porque o tecido que o cobria estava molhado. Ele olha para aquela que possuía uma beleza irreal.

- Me desculpe donzela, mas terei que tiras suas vestes para que possa sobreviver! Mas eu prometo, se a senhorita sobreviver eu me caso com você! A senhora é uma dádiva para mim, a farei muito feliz! Eu sempre cumpro minhas promessas!

O jovem tirou as peças vagarosamente. Mas antes de chegar a parte em que veria o corpo de sua futura esposa, fecha os olhos. Esse conhecimento ele desejava ter somente quando eles se casassem se assim ela desejasse. Não ia obrigá-la a isso, mas se ela não recusasse cumpriria sua promessa. Ele coloca sobre ela uma de suas camisas para então colocar sobre ela um vestido, único que possuía. Esse vestido sua mãe pedira para que ele fosse buscar em outra cidade e agora ele estava retornando ao lar.

A moça tenta se levantar e é amparada por braços fortes de um rapaz que devorada a ela os últimos quatro meses. Na sua terra todos estavam preocupados com sua demora, mas ele apenas queria ver essa moça bem. Ela abre os olhos um pouco confusa, nunca sentira aquele cheiro. Lembra-se de ser empurrada e depois não vira mais nada.

- Quem é o senhor?

- Meu nome é Matheu! Diz sorrindo.

A jovem via a face na direção da voz. Uma voz muito bonita. Ele se surpreende ao sentir aquela delicada mão se mover com um pouco de dificuldade e atingir a sua face tocando o contorno de seu sorriso. A jovem era cega, seus olhos eram baços, mas mesmo isso não diminuía sua beleza. Ao perceber que o estranho sorria a moça sentiu que era uma pessoa boa, não iria lhe fazer mal.

- Como é o seu nome, minha donzela! Diz Matheu colocando a jovem sentada e segurando sua mão depositando um beijo.

- Ana!

-Seu nome é lindo, assim como a senhorita!

Ana fica meio sem jeito pelas palavras dele. Seu corpo ainda doía muito, ela perde um pouco o equilíbrio e ia cair, mas Matheu a segura novamente.

- Posso ver como o senhor é?

- Pode. Mas por favor, me chame pelo meu nome!

Matheu sente aquelas frágeis mãos percorrerem cada contorno de seu rosto. Ao terminar a moça dá um sorriso. Ele pergunta o motivo e ela responde que ele era bonito, seu cabelo era grande comparado ao de seu senhor. Matheu fica vermelho com as palavras inocentes de Ana. Eles ainda permanecem naquele local por mais dois meses até Ana se recuperar. Matheu descobre que Ana não nasceu cega, ela enxergava e possuía olhos cor de mel, às vezes seus olhos ficavam verdes. Mas ao redor da casa de seu senhor tinham plantas que produziam uma substancia capaz de destruir partes sensíveis dos olhos, fora com essa substancia que Ana se sujara quando atirada da janela. Ana contava a Matheu que as luzes se apagaram, mas todos estavam acordados ainda. Sua mãe a ensinou como lidar com a falta de visão, mas seu senhor matou a sua mãe por um motivo que ela desconhecia. Matheu imaginava o motivo, pois Ana era uma escrava linda seu senhor provavelmente queria muito ficar com ela e sua mãe tentara impedir. Pobre Ana! Mesmo assim ela conseguia sorrir.

A moça possuía muita aptidão para tocar as coisas e saber do que se tratava. Ana nunca mais viu o céu não porque as janelas da casa ficavam fechadas, mas porque seus olhos eram incapazes de captar informações e assim montar as imagens para que ela pudesse ver com os olhos. Matheu conta para Ana de sua promessa, se ela não quisesse ser sua esposa ele ia aceitar, mas tudo que ele queria era dar um pouco de felicidade a pessoa que ele amava. Ele amava Ana, nunca sentira sentimento igual por nenhuma garota, sabia que não amor de mãe porque era diferente do que devotava a sua mãe, não era amor de irmão, porque seu sentimento por Ana era diferente do que o que devotava a suas primas, então só podia ser o amor que unia duas pessoas. Matheu fica sem jeito ao dizer isso para Ana, mas precisa abrir seu coração para ela, ela precisava saber de seus sentimentos. Ana diz que também gosta de Matheu, ele se tornara especial para ela nesses últimos dias e que se fosse permitido ela queria muito fazê-lo feliz também. Mas primeiro ele deveria pedir permissão a sua senhora e a avó que ela tanto amava. Ele concorda, mas a ultima coisa que desejava era levar Ana de volta para as garras do homem cruel que matara a mãe dela.

Com o findar de dois meses eles se levantam para seguir viajem a terra de Matheu. Com o caminhar Ana sente a grama molhada, os pássaros cantando com mais intensidade e um perfume diferente. Matheu ajuda Ana a subir em seu cavalo, ele segura firme a moça entre seus braços para que ela não pudesse cair. Ele observa-a mover a cabeça procurando por algo através do olfato. Ele então pergunta o que ela estava procurando.

- Em que estação estamos?

- Primavera, Ana! Responde surpreso.

Ana segura à face dele com uma das mãos para então virar a cabeça na direção da voz dele. Matheu sem entender o gesto apenas sente aquelas frágeis mãos segurando levemente sua face tentando aproveitar o momento, pois Ana dificilmente tocava a sua face.

- Por favor, leve-me para ver as flores?

- As flores?

- Sim. Nunca vi as flores! Diz com algumas lágrimas nos olhos.

Sem palavras Matheu segura à mão de Ana em sua cabeça e balança afirmativamente. Ana dá um lindo sorriso e o abraça. Como ela desejava ver as flores, se ela não via. Seus olhos perderam a função original, não passava de um simples enfeite embaçado. Seu corpo percebendo que não havia motivos para gastar energia parara de produzir a substancia que dava cor aos olhos de Ana. Mesmo assim ela falou em ver as flores. Ana era tão diferente das moças que ele conhecia, era meiga, gentil, sincera. Ela conseguia sorrir mesmo em condições desfavoráveis. Se alguém ficasse cego em sua terra provavelmente ia passar a vida amargurado pedindo para morrer.

Chegam próximo ao local onde ficavam as flores. O chão estava coberto por um tapete de diversas flores diferentes, as árvores estavam enfeitadas e os pássaros cantavam em seus ninhos nos galhos das árvores. Um grupo de pessoas se aproxima e um homem pede para que parem. Matheu desse e ajuda Ana a descer do cavalo. Aquele homem reconhece sua escrava, era ela mesma com aqueles olhos baços devido à cegueira. A senhora de Ana e a anciã ficam estáticas, se aquele homem levasse Ana de volta a vida dela seria uma ruína.

- Quem é a mulher que o acompanha? Pergunta convicto.

Ana se esconde nos braços de Matheu, conhecia aquela voz e estava com muito medo desse homem. Matheu abraça Ana e saca a sua espada.

- Minha noiva! Algum problema? Aponta a espada para o homem.

- Essa mulher é minha escrava, a quero de volta.

Matheu abaixa a espada, então esse era o homem cruel, o senhor de Ana. Ele não ia deixar tirá-la dele com facilidade, prometera fazê-la feliz e também levá-la para ver as flores, não ia quebrar sua promessa. Ele afasta o braço mostrando para aquele homem o brasão de sua família. O senhor de Ana toma um susto, não podia ser. Aquele era o príncipe que estava retornando para o castelo depois de uma viajem a uma terra distante.

- Não é ela, meu senhor- diz a anciã- Essa é a noiva dele, a mulher que ele foi buscar longe daqui.

Aquele homem engole aquelas palavras, doía na sua garganta quando desciam, mas não podia fazer nada. Ele não tinha força na terra para enfrentar o príncipe herdeiro e também não poderia afirmar ser aquela a sua escrava uma vez que eles acharam um corpo despedaçado em um ponto do rio. Ele vai embora deixando somente as duas mulheres que tanto amavam Ana. A senhora de Ana abraça-a pedindo perdão novamente, falando que era a única forma de salvá-la. Ana sorri e desculpa-a. A velha senhora também dá um forte abraço de despedida na menina, e concede aquele jovem a mãe da pessoa que mais amava nessa vida.

- Cuide bem dela! Por favor, mostre as flores a Ana!

Matheu balança a cabeça afirmativamente e segue a cavalo para o campo de flores. Ele carrega Ana nos braços e a coloca no meio de um lindo tapete de flores. Ela sente o perfume e sorri.

- Prometo te cobrir de flores enquanto elas existirem!

Ana não precisava dos olhos para poder ver as flores. Apesar de não poder formar imagens com seus olhos inativos ela podia ver. Ela via através de suas mãos que cuidadosamente acariciavam todas as flores a sua volta, via através de seu nariz que sentia o perfume das flores. Ela sorria cada vez mais. As flores eram muito mais do que ouvira, a natureza parecia cantar com as flores. Ela deita-se no campo de flores, levanta-se, corre rodopiando, seus cabelos são balançados bela brisa. Ela cai sorrindo. Matheu se preocupa, mas ela estava bem, estava feliz por finalmente poder ver as flores.

- Para não dizer que não falei das flores! Repetia a senhora idosa por todo o caminho, sabia que Ana teria um destino diferente do dela, que Ana seria feliz.

Matheu segura as mãos de Ana, levanta-a do chão. Ele começa dançar com Ana, ensinando-a. As flores soltam as suas pétalas como se quisessem cobrir o casal e envolvê-los com o que Ana mais desejara na vida. O vento espalha as flores em volta deles e Ana sente-se muito feliz com tudo o que aconteceu naquele dia. Ela ainda fica muito tempo rodando entre as flores, sorrindo, gargalhando. Matheu apenas observa a felicidade da moça, como uma criança que acabara de receber de presente o que mais gostava.

Eles vão embora para o palácio. Matheu prometera fazer Ana feliz e cobri-la de flores enquanto vivesse. O casamento deles foi a coisa mais linda daquela terra, a jovem foi a noiva mais linda que existiu naquela terra. Sentada na carruagem com seu príncipe, Ana sente seu buquê de rosas rosas. Seu vestido era mais macio que o de sua senhora, seu cabelo estava preso e coberto por um fino e delicado véu totalmente bordado em fios de ouro e com detalhes em pérolas. Matheu se aproxima do rosto de Ana e fala baixinho em seu ouvido.

- Eu vou te fazer feliz, Ana!

- Eu acredito em você, Matheu!

Matheu então aproxima seus lábios do de Ana para o primeiro beijo da moça. Muito delicado e gentil ele começou a dar a Ana o que prometera, ela estava realmente feliz por estar com o homem que amava.

Esse era um conto triste de uma moça que sonhava ver as flores. Ela não podia ver com os olhos, mas com o toque de suas mãos ela podia ver todo o mundo. Ela voa com o coração, com o olfato, com o paladar. Não é somente por falta de um sentido que as pessoas devem ser infelizes. Ana não possuía a visão, mas ela mudou a vida de muitos com o toque de suas mãos. Com seu amor ela fez duas mulheres sofridas sorrirem e serem felizes. Não tinham mais receio do homem cruel, eram felizes por Ana estava feliz. Com seu amor mudou a vida de um belo príncipe que achava que nunca ia encontrar uma mulher que amasse, achava que iria se casar por convenção para satisfazer os pais. Todas que conhecera antes de Ana eram muito superficiais e desejavam mais seu reino do que seu coração. Ana agora está com seu amor, seu príncipe e quem sabe agora esse conto não vire um conto de fadas, que se possa dizer que eles foram felizes para sempre, enquanto viverem!


Obrigado a todos que estão lendo!!

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