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De Repente, Descobri Você § Capítulo 1

Notas Iniciais:
Esta história se passa durante a primeira fase, mais ou menos enquanto elas tentavam reunir os cristais arco-íris. Sailor Moon não pertence a mim, mas eu também não estou ganhando nada com esta produção, não me processem!

Olho Azul Apresenta:
De Repente,
Descobri Você

Capítulo 1 – A Grande Descoberta de Serena

“Eu te encontrar significou
o fim de mim mesma.”
(aiko, Zutto)

  Eu estava na parte de computadores da biblioteca quando o vi passar. É estranho você dizer que viu alguém passar? Pode soar, mas pare para pensar, não há vezes em que mesmo você está distraído e algo o trás de volta à consciência e, nesse momento, você fica mais alerta que nunca? Normalmente, esse algo não faz muito sentido pra mim. Uma conversa mais alta, uma palavra em especial... Mas, naquele momento, fora ele. Era já final de dezembro e seu casaco longo esvoaçou pela janela de vidro da sala.

  Era uma sala fechada onde podíamos usar os computadores para pesquisa, fazer trabalhos... Só que ela dava para um corredor e havia enormes janelas de vidro que nos permitia ver tudo do lado de fora. As portas também possuíam uma janela quadrada de vidro. Quando despertei de meu devaneio, o que vi foi o sobretudo negro balançando a cada passo ligeiro na janela e seu rosto de perfil na porta. Eu estava letárgica após tanto tempo de estudo e ele estava com pressa.

  Levantei-me tão rápido que a amiga que me trouxera à biblioteca me olhou preocupada, talvez por temer que eu estivesse me sentindo mal. Fiz um sinal, enquanto corria, de que estava tudo bem. Mas a verdade era que meu coração batia rápido demais, meu estômago tentava saltar pela minha boca. Eu não estava nada bem, mas tinha certeza de que o vira passar.

  Tuxedo Mask havia passado pela sala de computadores da biblioteca na qual eu estava.

  Durante minha saída dali, pensei no que era mais inconcebível: Serena Tsukino, boba convicta, estudando na biblioteca ou Tuxedo Mask passeando por seus corredores.

  Certo, eu não estava estudando, estava devaneando enquanto Molly terminava o trabalho de história. Meu plano era fingir ser boa menina e assim que ela terminasse, fazer cara de choro e esperar por ajuda. Sair de casa num dia tão frio era já esforço o bastante, né? Eu merecia uma ajuda...! Mas o Tuxedo Mask estava lá! Não era sua capa de sempre, mas apenas um sobretudo preto, não havia chapéu, mas sedosos cabelos negros. Só que era meu Tuxedo Mask ali. Apenas sem seu disfarce.

  Voltando ao mapa de onde eu estava. Ao lado da sala havia um corredor, né? Seguindo-o pela direção em que o vi ir, ele cairia em um segundo corredor com apenas três direções possíveis: os dois banheiros ou a biblioteca propriamente dita. Olhei para os dois lados. E lá estava o sobretudo negro que me havia trazido de volta do mundo da fadinha do sono. Ele ia para o salão principal da biblioteca. Suspirei. Ao menos, não teria que entrar no banheiro masculino.

  Ou vê-lo entrar no feminino...

  Lancei meu corpo a ele com toda a força a fim de agarrar o casaco com minha mão direita e segurá-lo ali. Eu podia ser a Sailor Moon, mas estava longe de poder correr tanto quando já tinha feito demais para alcançá-lo.

  E levei um choque.

- Cabecinha de vento? Está querendo arrancar a minha roupa, é?

  A voz daquele homem saía de seus lábios, mas minha mente demorava para processar seu rosto. Por alguma razão, eu esperava ver o Tuxedo Mask com a sua máscara. Eu o imaginava virando-se para mim e mostrando-me alguma rosa, ou coisa assim. Era óbvio que isso não aconteceria; Tuxedo Mask não estava desfilando fantasiado pela biblioteca e sim com sua identidade secreta, a qual eu descobriria assim que ele se virasse.

  O não óbvio era o homem que agora me encarava estranho.

  Claro, eu devia estar vermelha e ofegante após sair correndo sem nem dar um pré-aviso para meus músculos.

  Por que ele não entrou no banheiro feminino, simplesmente? Até meu Tuxedo Mask ser uma mulher era melhor que o que eu acabara de descobrir...

- Eu realmente estou com pressa, então... - Tuxedo Mask, ou melhor, Darien Chiba disse, aproveitando a minha surpresa, para voltar a andar com os mesmos passos largos de havia pouco.
- Espera!
- A gente se troca xingamentos depois, cabecinha de vento! - gritou-me com um esboço de sorriso malvado.

  Eu assenti ainda parada ali, com a mão estendida que usara para segurar o grosso casaco que voltara a balançar.

- Impossível, - disse, enfim abaixando o braço. Mas Tuxedo Mask havia acabado de me provocar e ido embora me chamando de "cabecinha de vento". - Não pode ser... - Mas era Tuxedo Mask.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Inclinei-me mais um pouco.

  Silêncio.

  Não podia nem respirar. Tinha que ficar bem quieta. Silêncio. Ele estava já saindo, se eu me mexesse um centímetro, minha missão teria falhado. E eu não falharia, não mesmo. Eu conseguiria.

  Quando eu contei às meninas sobre minha descoberta, ainda estava em estado de choque. Tentava negar para mim mesma o que agora não passava do óbvio. Não conseguia mais voltar à época em que o Darien não era o Tuxedo Mask. Em que ele estava longe de sequer se parecer com ele.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

- E de onde você tirou isso? – perguntou a Rei, assim que expliquei o que me deixara naquele estado que “beirava a depressão”, como Lita havia descrito.

  Estávamos no quarto da própria Rei e, mesmo assim, eu não queria ler nenhuma revista. A verdade é que minha intenção inicial era a de ocultar minha descoberta, talvez se eu não pudesse em palavras, poderia me convencer um dia de que o que vira não passara de mentira, ilusão de ótica. Mas não pude me manter assim por muito tempo, elas notaram pela minha expressão de “mosca morta”, nas palavras da Rei, que algo estava errado.

  Exceto que não quiseram acreditar. Digo, elas acreditavam em mim, só não que o Tuxedo Mask fosse o Darien.

- Você, pelo menos, viu alguma coisa nele que te lembrasse o Tuxedo Mask? – perguntou a Ami, que desistira da reunião e já abrira um livro de vocabulário para estudar.
- Foi só ver o sobretudo e eu tive certeza.
- Exceto que o Tuxedo Mask usa uma capa e um smoking. Não um sobretudo. – Rei virou os olhos. – Pra mim, você ainda tá com isso de o Tuxedo Mask declarar ser nosso inimigo...
- Mas não faz sentido, Rei!? – implorei.
- Quando eu te disse que os dois eram parecidos, você respondeu que era delírio. Pois é a minha vez: para de delirar, Serena. Vamos ao que é mais importante e concreto.
- Rei, sua malvada! Até você já disse que eles se parecem! Por que não acredita em mim?
- Por que uma coisa não tem a ver com a outra.
- Lita! – chorei para a mais alta do grupo, - Diz se não tem sentido o que estou dizendo!
- Serena, é só que você não trouxe nada de novo, entende? – Lita me sorriu, sempre conciliadora. - Você só está dizendo que percebeu que o Darien se parece com o Tuxedo Mask. Não discordamos, mas daí a eles serem a mesma pessoa... Pra isso, precisamos de alguma prova.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Sorri, ainda tentando não me mexer. Mas era impossível conter o sorriso.

  Provas. Era o que eu conseguiria. Uma hora, o Darien teria que deixar escapulir alguma coisa. E, mesmo assim, eu ainda continuava a observá-lo desde o meu esconderijo perfeito tomar apenas um cafezinho naquela lanchonete enquanto lia algum livro empoeirado.

  Pensando bem, como as meninas não percebiam que tinha algo errado com aquele sujeito? Quem consegue ficar tanto tempo lendo aqueles livros velhos sem ir parar no hospital em choque anafilático? Só de observá-lo, eu já estava espirrando. Mas continuava ali, sem me mexer. Alguma prova definitiva surgiria algum dia. E eu esfregaria na cara da Rei!

- O que está fazendo aí, cabecinha de vento?

  FLASH! Com o susto que levei, a minha câmera acabou por disparar.

  Como ele me vira ali atrás do arbusto do lado de fora da lanchonete? É o que estou dizendo, esse cara tem superpoderes! Aliás, agora mesmo ele não estava tranquilamente sentado? Olhei de volta para a mesa que eu atentamente observara até então e um casal conversava calmamente no lugar que fora de Darien. Por quanto tempo eu me distraíra em meus pensamentos...? Ai, Serena, você precisa tomar jeito e se concentrar melhor nas suas tarefas. Só assim você superará a inteligência daquela pessoa.

- Só pensando se tô a fim de lanchar ou não... E você?
- Bem, pelo tempo que ficou me olhando, achei que já saberia.

  Sim, somente o grande Tuxedo Mask para ter uma percepção tão aguçada a ponto de me desmascarar.

- Você está agindo muito estranho ultimamente. Não vá me dizer que finalmente não consegue mais resistir ao meu charme? - Com um sorriso cínico, ele ajustou os livros que carregava e começou a andar, deixando-me muda ali.

  Suspirei. Quando ele dissera "finalmente" eu estava certa de que havia percebido que eu sabia, que eu havia descoberto seu segredo. Ou a piada fora apenas para disfarçar? Tuxedo Mask nunca deveria ser subestimado e agora eu tinha certeza disso.

  Liguei minha câmera para apagar a foto acidental e, por um segundo, eu o vi. Tuxedo Mask. A semelhança era imensa demais, voltei a imaginar como as meninas não a percebiam. Com aquela foto como resultado único daquele meu primeiro dia de investigação, eu decidi fazer nova tentativa de convencê-las.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Continuei a anotar cada movimento daquele sujeito. Desta vez, estávamos no salão de jogos e ele conversava com Andrew, a quem eu já tinha pedido uma ficha completa sobre Darien, ambos sempre me fizeram crer que eram melhores amigos, então por que não me aproveitar da vantagem que eu tinha sobre Andrew?

  Lembrei-me das risadas de Rei quando mostrei aquela foto do dia anterior. Talvez aumentada no monitor dela tirasse o efeito sombrio do visor da minha câmera... Fui embora com raiva porque eu dissera ser perda de tempo e nem quisera tentar ver a foto de novo no visor menor. Foi nisso que me encontrei com Andrew e fiz meu interrogatório. Nele, descobri a agenda completa de meu investigado, o que me permitiu saber que hoje neste horário aqui estaria ele para conversar um pouco com o melhor amigo antes de seguir para alguma aula na faculdade.

  Minha estratégia, desta vez, era tomar nota de todos os seus hábitos. Ninguém é mestre do disfarce a ponto de não falhar nunca. Devia haver algum hábito incomum que eu pudesse flagrar ambos fazendo. Não era prova definitiva, mas seria capaz de no mínimo recuperar a confiança de minhas amigas no que eu lhes dizia. Sim, Serena havia amadurecido para o ceticismo do mundo.

  Quando levantei meu rosto para voltar à minha observação, um par de olhos azuis me olhava curioso.

- De novo!? - gritei sem me esforçar para esconder minha raiva. Estava virando seu jogo favorito me assustar daquele jeito?
- Altura, aniversário, cor favorita? Você realmente caiu pelos meus encantos, cabecinha de vento?
- CLARO QUE NÃO! - Levantei-me da minha mesa - um jogo de corrida que ninguém estava usando no momento -, recolhendo minhas coisas de maneira um pouco desastrada, mas o mais rápido que pude. Não adiantava espionar se ele sabia que eu o estava fazendo. - Você realmente é incrível por ter me percebido de tão longe.
- Andrew que me apontou, na verdade.

  Traidor.

- E pediu para eu tratá-la bem já que em mim ele confia, - continuou Darien, presunçosamente, ajeitando o cabelo com a mão.

  No momento em que eu ia esnobá-lo da melhor forma possível, meu comunicador começou a bipar. Deixei minhas coisas no volante do fliper e saí para um canto onde Darien não ouviria.

  Era Lita, e um monstro estava dentro de uma loja de conveniências a cinco minutos ao sul. Eu precisava correr para lá.

  Peguei minhas coisas e só planejava dar uma olhada de cara feia para Darien quando notei que ele não estava mais ali, mas já do lado de fora, ajustando o casaco para ir embora.

  Claro! Ele tinha que ir lutar contra o monstro também. Sorri satisfeita comigo e fui correndo atrás de sua figura, usando meus avançados truques de disfarce a fim de não ser percebida. Minha prova seria conseguida ainda mais rápido que o esperado. Uma gargalhada escapou-me.

  Continuei andando sem fazer barulho pelas ruas do bairro. Darien caminhava decidido virando ora para a direita, ora para a esquerda. Quando ele se transformaria? Como seria essa visão? Meu coração batia forte de tão ansioso. Mas eu comecei a ficar cansada, Darien caminhava rápido demais para minhas pobres pernas; era verdade, eu já o havia visto se exercitando antes...

  Passei a mão na testa, estava tão frio, mas eu já suava. O quão mais ele pretendia andar? Não eram apenas cinco minutos? Olhei para o meu pulso. Fazia mais de vinte! Puxei o comunicador, sem poder parar com medo de nunca mais poder alcançá-lo. Estávamos... Muito longe da loja de conveniência. E as meninas já haviam tentado me contatar algumas milhares de vezes.

  Tuxedo Mask não estava indo enfrentar o monstro? Será que não era nada importante pra ele? Mas Tuxedo Mask sempre sabia de quando estávamos em apuros.

 Não! Eu não havia me enganado. Tuxedo Mask andara pela direção errada, mas eu não estava errada. Ele era o Tuxedo Mask, não havia outra opção ali.

  BUM!

  Eu havia colidido contra algo- digo, alguém.

- Serena? - Darien me encarava com a expressão confusa.
- Olá... - Na verdade, soou mais como um "Oh..a..." de tão esbaforida que eu estava.
- É impressão minha ou você estava me seguindo? - ele franziu a testa, aguardando minha resposta.

  Suspirei um pouco, precisava recuperar o fôlego; sequer conseguia pensar muito na situação embaraçosa em que me encontrava. Só que eu precisava de ar. Muito ar.

- Olha, eu preciso ir pra aula agora... - Seu rosto virou-se para um enorme portão em que o nome de sua universidade estava escrito. - A gente se fala depois.

  E desapareceu antes que o oxigênio voltasse ao meu corpo.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Eu estava de volta ao banco do flíper, mas sem prestar atenção em Darien. Ele sequer havia chegado ainda, pois naquele dia ele tinha aulas a tarde toda, o que significava que não viria ao salão de jogos. Mas eu precisava retraçar todo o dia anterior. O que havia acontecido afinal? Tuxedo nunca aparecera também no campo de batalha. Nem eu, pois na hora em que chegara, já estava tudo resolvido.

  Passei a mão na minha cabeça e fiquei olhando distraída para a tela do menino ao meu lado, outro jogo de corrida, bem mais popular.

  Ao menos, Tuxedo Mask não apareceu, tentava me dizer. Ainda estava certa de que Darien era a sua identidade, então, seria um choque se ele tivesse ido à loja. Só que as meninas não acreditaram naquilo como prova, afinal, não era sempre que Tuxedo Mask ia.

  Então, como provar? Minha pequena investigação sobre a vida do Darien também havia resultado em desastre. O tom com que ele me falara no dia anterior havia me impressionado assim que tive fôlego para registrar tudo. Não havia escárnio nem nada que seria natural a ele. Ele só me franzira a testa. Não houve nem um riso debochado. Nada.

  Cocei a cabeça. De repente, comecei a imaginar em que ele estaria pensando. Teria suspeitado de meus motivos ao segui-lo? Não, não podia ser. Se ele desconfiasse, então, logo perceberia que eu era a Sailor Moon, ou, ao menos, uma de suas amigas.

  Seria um desastre. E Rei bateria em mim.

  Isso significava que eu precisava agir o mais rápido possível ou seria ainda mais difícil achar alguma prova contra ele.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Eu ainda não sabia como havia convencido Rei a participar de seu plano. Será que ela estava começando a acreditar? Não, com certeza, só queria estar de camarote quando eu me desse mal. Só que isso não aconteceria, porque eu faria Darien se transformar bem na nossa frente!

  Redigi cuidadosamente minha mensagem de desafio, para que ele me encontrasse ao pôr-do-sol em um depósito abandonado um pouco longe dos lugares que normalmente frequentávamos. Era necessário que fosse fechado e que a iluminação não fosse tão boa de forma que tudo desse certo. Claro, acima de tudo, que ninguém mais viesse já que eu sabia mais que ninguém o quão importante era aquele segredo.

  Entreguei minha carta a ele em um dia que ele apenas tinha aulas pela manhã. Darien, nesses dias, costumava passar no Andrew e depois fazer uma caminhada. Porém, esta seria cancelada naquela tarde, já que ele não negaria meu desafio, certo?

  Para me certificar, fiquei do lado de fora esperando até que ele saísse, com o papel que rasguei de meu caderno em mãos. Isso! Ele estava indo na mesma direção em que eu havia marcado nosso encontro. De certa forma, não era mentira que era um duelo...

“Darien Chiba,
Precisamos esclarecer algo que vem me incomodando há algum tempo. Encontre-me às cinco de hoje no balcão X-Z-W, no bairro Y.
Serena.”

  Tentei manter tudo muito simples, não havia necessidade de detalhes. Com a percepção aguçada que ele me mostrara possuir nos últimos dias, provavelmente, já sabia bem de minhas intenções. Ademais, prevenia que um terceiro desavisado soubesse.

  Sim, Darien rumava até nosso ponto de encontro. E ia a passos largos. Lá estava eu tendo que segui-lo até outro canto da cidade. Por que não marquei em um lugar mais perto!?

  Ao nos aproximarmos, puxei meu comunicador e chamei por Rei.

- Já está tudo pronto... – disse ela, com tom entediado. Na imagem, eu podia vê-la prestando atenção em suas unhas.
- Não é hora de manicure, Rei!
- Então, apressem-se. Lembre-se de que estou te prestando um favor.
- Aaaai... – gritei frustrada, tentando ir mais rápido e ignorar a dor que sentia em um de meus lados devido ao esforço. Eu já havia perdido Darien de vista.

  Havia chegado ao depósito pronta para jogar fora meu casaco grosso de tanto calor que sentia com o exercício de ir até ali. Comuniquei a Rei que ia agora encarar Tuxedo Mask, que ela ficasse a postos. Levei uma bronca por demorar tanto, já que fazia algum tempo que Darien estava ali, impaciente. Que culpa eu tinha se me perdera? Todas aquelas ruas estranhas pareciam iguais... O fato de ter sido eu a escolher o lugar não diminuía o risco de eu me perder!

  O importante é que ele ainda me esperava. Claro. Não iria deixar um desafio passar assim. Arregacei as mangas do meu casaco e pisei fundo no terreno arenoso daquele depósito. Parecia que eu era alguma gângster pronta para um grande confronto com meu rival número um. Bem, esta última parte era verdade.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

-Darien-

  Eu mexi no bolso de meu sobretudo mais uma vez, vasculhando a procura do bilhete que Serena me entregara havia pouco tempo sem dizer qualquer palavra. Andrew olhara curioso por cima de meus ombros e sorrira. Eu senti minhas bochechas queimarem. Sabia muito bem o que ele vinha me insinuando desde que esse comportamento atípico daquela menina começara.

  Serena havia pedido um relatório completo sobre mim, já estava informada de todos os meus horários e até vinha me seguindo pela cidade. Hoje sequer fora exceção apesar de eu estar me dirigindo ao lugar no qual ela marcara.

  Minhas bochechas voltaram a queimar. Se ela aparecesse agora, poderia dizer que era do vento frio que pegara pelo caminho, mas seria mentira. Levei a mão com sua carta até o estômago, minha barriga não parava de virar e revirar, ansiosa.

  Percebi que a iluminação daquele depósito diminuía. Era um horário bastante propício para a intenção de Serena, mas o local não era nem um pouco adequado. Afastado e até mesmo sombrio. Somente aquela cabeça de vento para marcar qualquer coisa ali. Sorri com o pensamento.

  Então, meu sorriso sumiu ao contemplar o que estava para acontecer. Ainda não fazia ideia de como reagir. Vinha pensando naquela situação inusitada desde a primeira vez em que Andrew me mostrara o que estava havendo, ao me alertar sobre o súbito interesse de Serena em mim. Mesmo assim, era difícil saber o que a moça me representava. Certo era que havia chegado a uma conclusão favorável: eu gostava mais da pessoa que era quando estava com Serena. Talvez... Mas não. Daquela forma tão desleixada, nunca poderia retornar os sentimentos de ninguém.

  O que fazer...?

- Darien! – o chamado de Serena me assustara.

  Considerei como responder. Mas não podia mudar agora meu tratamento usual, por isso, optei pela forma instintiva com que sempre a acabava tratando.

- Sua cabeça-de-vento, está tão atrasada que eu já vou embora. – Ameacei sair dali.
- Nem pensar, não vou te deixar fugir. – Serena estava apontando para mim com algum tipo de decisão tornando firme seu olhar.

  Precisava me controlar. Era tão fofo, mas... Não, a situação era séria e eu provavelmente estava prestes a ferir seus sentimentos.

- Eu apenas achei que não iria mais vir, já que estava me seguindo e de repente sumiu.
- T-t-t-te seg-g-g-guindo? E-e-eu? Não mesmo! – Serena voltou a apontar seu indicador. – Nunca fugiria!

  Senti, no entanto, que ela havia se encolhido como que em respeito a mim. Mas não era nenhuma conquista, ela que era péssima espiã... Sacudi minha cabeça. Admirá-la não faria bem à resolução que eu acabara de tomar, sobre como eu responderia aos sentimentos de Serena.

- Muito bem, Darien. – Serena se aproximou de mim com alguma cautela. – É a hora da verdade!

  Suspirei, em preparação.

  Pensei em lhe enviar algum sinal. Não o faça agora, espere um pouco até que eu pudesse resolver todos os problemas que vinha enfrentando. Até eu saber exatamente quem eu era. Aí sim, eu poderia ser alguém digno de ser amado por você. E de te amar. Uma pena meus poderes de Tuxedo Mask não incluírem o controle da mente.

  Por isso, só haveria um jeito. Curvar-me e desculpar-me.

  Serena me sorriu determinada. E... vitoriosa? Em seguida, ela gritou bem alto.

  Olhei para trás, para o que ela parecia ver e algo estranho avançava rápido em nossa direção. Corri até ela, abaixando-a e protegendo-a com meu corpo enquanto o monstro passava por cima de nós.

  As poucas luzes do sol apenas me deixavam ver que ele tinha os olhos fundos, ou sequer tinha olhos e um cabeço cinzento, encaracolado com a boca enorme distorcida. Suas roupas eram trapos e, com seu passar, um odor podre ficara no ar sobre nós.

- Nossa... – sussurrou Serena, enquanto eu a soltei.
- Não é hora para se maravilhar! – Segurei forte seu pulso e puxei-a até a saída.

  Não sei por que, mas eu já imaginava o que constatei: estava fechada. Olhei ao meu redor como se pudesse me fazer recordar de quando aquilo se fechara, tinha que estar aberto para a entrada de Serena. Talvez com o ataque daquele monstro?

- Vamos tentar a janela! – Apontei para o alto.
- Boa sorte alcançando... – Serena parecia limpar a poeira de seu uniforme, provavelmente, de quando eu a abaixei ao chão.

  Eu estava prestes a reclamar da falta de cooperação quando pensei melhor, realmente não seria normal que um humano fosse tão alto.

  Se eu invocasse os meus poderes como Tuxedo Mask, conseguiria tanto alcançá-la, quanto pular dela, mas não levar Serena para fora dali. Não havia qualquer apoio no meio do caminho e a passagem era apenas larga o bastante para eu me espremer. Não... Não teria como tirá-la sem arriscar que se machucasse.

- É, péssimo plano... – concluí, limpando o suor que começava a surgir em minha testa.

  Olhei de volta para a menina, enquanto tentava nos desviar das investidas daquele monstro que mais parecia uma assombração. Tinha que salvá-la. Tantas vezes tirara Sailor Moon, quem eu nem conhecia, de situações assim, por que agora que a pessoa me importava eu estava sem nem mesmo um plano?

- Temos que abrir a porta, - disse, apesar de já estarmos no lado oposto do depósito.

  Havia alguns latões enferrujados ali que eu considerara juntar para formar uma escada até a janela mais próxima, mas o plano se tornara absurdo demais. Os latões só serviriam mesmo para machucar-nos, de sorte que eu não poderia sequer ignorá-los.

  O monstro voou sobre nós novamente. Mas, desta vez, não bastava desviar, ele começou a puxar meu sobretudo com uma força incompatível com seu tamanho. Comecei a perder o apoio no chão, antes de poder me desvencilhar da roupa, apenas para cair rolando as costas sobre o chão, arranhando a palma da mão em um caco de vidro. Peguei-o e atirei-o contra o monstro.

- Ele passou direto! – gritei espantado.

  E percebi meu maior erro com o golpe, Serena ficara sozinha para trás. Era tarde demais. O monstro já o havia percebido e, em vez de vir contra mim em represália pelo ataque, deu um voo rasante em Serena, segurando uma de suas marias-chiquinhas. Ela gritou agudo.

  Corri até meu sobretudo e enrolei-o para arremessá-lo. O monstro ignorou. Enquanto o casaco passava direto por seu corpo, ele soltou o penteado já desfeito de Serena e pegou em seu pescoço.

- Serena! – berrei, agora tentando me pôr no meio do ataque. Minha cabeça repleta de imagens em que a menina se quebrava com a mesma facilidade que seu prendedor saíra da almôndega em sua cabeça.

  Desta vez, porém, a criatura me percebera ali e investira contra mim, dando golpes com seus pés descalços com unhas bem longas até que minhas costas sofreram um sonoro impacto com a parte. Tudo em que eu pensava era que, ao menos, a atenção se desviara de Serena e ela parecia inteira. Suspirei, sentindo meus olhos molhados.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

-Serena-

  Eu já estava chorando. Darien, aquele idiota! O que havia com ele? Quando pararia de bancar o herói desastrado e se transformaria? E o que havia com a Rei? Ela não precisava pegar tão pesado com aquela ilusão.

  Tentei respirar normalmente, mas a sensação de estrangulamento permanecia. Ademais, eu voltara ao chão de mau jeito e agora meu pé doía.

  Ah! Rei devia estar tentando me dar o troco. Talvez fosse esse o plano desde o início, me dar esse tipo de susto! Por isso, ela caprichara no visual daquela invocação... E caprichara mesmo! Aquele bicho era muito feio, a ponto de eu querer chorar só de pensar no quão feio era.

- Droga, Darien! – gritei, enfurecida com a demora dele em se render.

  Então, percebi que ele estava tentando segurar o monstro com as mãos nuas, enquanto este o empurrava contra a parede. Ele gritou na cara de Darien.

- Não consigo enxergar! Havia algum gás em sua boca! – disse, escapando por um campo e esfregando os olhos.

  Nossa... Rei estava assistindo àquele estrago?

- Serena! – De repente, Darien estava ao meu lado, empurrando-me. – Eu vou pular contigo até uma janela, agarre-se nela e pule para fora.
- Tá doido? Isso é muito alto!
- Eu... acho que consigo te levar até lá.

  Disso eu não duvidava, mas eu já tinha me machucado e estava condenada a ter pesadelos com aquela coisa para o resto da vida. Darien teria que me dar uma prova maior do que ser campeão em salta em altura.

- Mesmo que consiga, eu não poderia ir pra fora!
- Aqui dentro é perigoso demais... – Seus olhos estavam vermelhos, agora que os via de perto. – Vai ter que pular de qualquer jeito. Antes uma perna que um pescoço quebrado.
- É fácil para você dizer! – retruquei, ainda não acreditando naquela ideia.

  Ele realmente queria que eu me quebrasse toda lá fora só para ter mais privacidade para se transformar? Bem, Rei ainda estaria vendo, o que encerraria meus objetivos, e eu não me quebraria realmente já que sou a Sailor Moon, mas... Era frustrante demais chegar àquele ponto e não poder estar ali para o momento do “rá! Eu sabia que era você!”.

- Faça você e procure ajuda, então!
- Nenhum policial poderia enfrentar este monstro, Serena! – Ele me puxara pelo pulso como no início e agora andava agachado pelos latões cheios de ferrugem.
- E quando eu sair, o que você fará?
- Pularei logo depois.
- Então, pula antes!
- Você não alcançaria a janela sozinha.
- Pode deixar, eu me viro.
- Não é o que parece. – Ele puxou a metade de meu cabelo que se soltara em um dos ataques. – E seu pé também. Não a deixaria para trás. Confie em mim, é a única solução.

  Confiar nele!? Na mesma pessoa que queria quebrar as minhas pernas só para não perder nosso duelo?

- Ora, seu idiota! – Eu dei um soco em sua nuca.
- O que foi isso!?
- Por que você não acaba logo com esse monstro? Eu já sei de tudo, Darien. Apenas dê o braço a torcer e acaba com aquilo!

  Ele parecia pronto para retrucar. Então, percebeu o que eu queria dizer com aquelas palavras. E ameaçou nova resposta, apenas para deixar a boca pendendo aberta, sem soltar um som além de ah’s.

- Sim, eu sei. Não importa como. Apenas, acabe com isto. – Cruzei os braços.
- Por isso está tão tranquila!?
- É assim que me responde? – perguntei incrédula. De tantas palavras que eu esperava durante nosso confronto final...
- Porque estamos a ponto de sermos mortos e você não parece nem com medo daquela coisa. Achei que estivesse em choque ou algo assim!

  Realmente, não podia subestimar a percepção de meu adversário. Eu precisava aprender com aquilo, atuar melhor.

- Então, transforme-se logo antes que a gente morra mesmo! – tentei agir como uma histérica, dando gritos entre as palavras.
- Desta vez, você está fingindo.

  Ele me descobrira mais uma vez.

  Enquanto nos enfrentávamos, a assombração de Rei havia nos encontrado e vinha para cima de nós dois com aquele cheiro horrível. Eu não sairia do banho por dois dias depois daquilo... Ela realmente estava querendo me punir por perturbá-la até que a convencesse a fazer aquilo, né?

  O monstro veio bem em cima de mim, ficando cara a cara, olhando-me nos olhos com aqueles furos que estavam no lugar do olho dele. Senti um frio da espinha e não consegui me mexer, mesmo ao sentir seus dedos finos aproximarem-se de minha cabeça. O que ele iria fazer? Mesmo que eu tivesse a consciência de que não seria algo de bom, não conseguia reagir. Reeeeeei!

  Então, senti-me voando. Ao contrário do que pensara de primeira, o monstro não havia me puxado. Darien me carregara no colo para longe.

- Eu não conseguiria passar da janela contigo, Serena... – disse ele, assim que me pôs em segurança no chão, ficando à minha frente como se fosse meu escudo.

  Aquele jeito de herói... Era totalmente o Tuxedo Mask que eu conhecia, eu até me senti vermelha como que em uma reação reflexa.

- Vou te levar até lá em cima, e você se agarra na janela como puder, entendeu? Não tenha medo de cair para cá que eu a segurarei. – Havia tanta confiança em sua voz que não soava o plano doido que era.
- Apenas se transforme logo, Darien... – disse, um pouco vislumbrada com a situação.
- Não vai fazer diferença que roupa estarei usando.

  Suspirei.

- Certo, eu me rendo. – falei, levantando as mãos, - Olha, não vou arriscar quebrar o pescoço nesta brincadeira... Então, não banque o herói. Se você se transformar agora, prometo que o monstro irá embora.

  Foi a vez de Darien me olhar como se houvesse perdido o juízo.

- Fui eu que causei tudo isto. Pra você se revelar. – Aquela revelação sova tola quando eu a dizia daquela forma, com o pé doendo, meu pescoço ainda sentindo-se estrangulado. – Então, assim que você virar o Tuxedo Mask, esse monstro irá embora...
- Então aquela carta e as perguntas ao Andrew e as vezes que me seguiu, foi tudo uma mentira?

  Olhei de volta assustada. Ele sabia de todas as vezes em que o seguira?

- A carta de hoje foi meu desafio aberto a você, Darien. Ela não foi mentira.

  Darien deu um passo para trás. Algo em mim se sentiu vitorioso bem ali. Por outro lado...

- Abaixe-se! – gritei ao notar o monstro vindo em cima dele.

  Era a minha vez de usar minha força para empurrá-lo. Rolamos algumas vezes o chão, até percebermos que a assombração já se recuperara do primeiro movimento e corrigira a direção.

- Aquilo foi um desafio?! – perguntou Darien, ainda se levantando do chão e ainda tentando me proteger.
- Claro! Eu fiquei este tempo todo tentando arranjar provas de que você era o Tuxedo Mask porque ninguém acreditava em mim e você não dava uma única deixa! Um dia teve um ataque e você até o evitou. Agora sei por que: você sabia que eu o estava vigiando. Foi você mesmo quem pediu por extremo assim. Agora acabe com isto e se transforme.

  Darien, já levantado, observou-me por um momento. Então, devolveu-me um olhar tão frio que a sensação suscitada recordava-me daquela ao encarar a assombração de Rei tempos antes.

  E ele me mostrou uma linda rosa vermelha em plena floração. Com isto, ele se transformou em Tuxedo Mask.

Continuará...

Anita, 12/10/2011

Notas da Autora:
Esta fic foi começada em outro contexto, em um momento de tédio e não era para ter sido nada demais, apenas uma história rápida com meu casal favorito. Tempos depois eu a retomei e acabei transformando-a em algo mais longo sem fazer ideia do que faria dali em diante.

Espero que estejam gostando... Fazia algum tempo que eu não escrevia algo longo com meu casal amado e idolatrado e não apenas isso, deve fazer uma eternidade desde que fiz uma fic em primeira pessoa com narradores alternados. Mas foi bom retomar a prática, não sei se minha próxima será assim, mas alternar é bastante divertido. Sei que histórias em primeira pessoa nem sempre são bem vistas, mas eu as acho muito difíceis de escrever e com duas primeiras pessoas dos personagens principais fica ainda pior de manter tudo empolgante. Aliás, eu sou péssima nisso de qualquer jeito, só consigo guardar segredo porque eu esqueço. Pena que enredo não é algo que dê para esquecer...

Agradecimentos especiais à Vane por ser a primeira pessoa a ler isto e meio que não ter me deixado esquecer disto. E claro, muito obrigada você por chegar até aqui. Não se preocupem que logo o próximo capítulo estará aí!

Comentários, sugestões e críticas são bem-vindos, mandem um e-mail para Anita_fiction@yahoo.com e para mais histórias minhas visitem o Olho Azul, HTTP://olhoazul.50webs.com ele tá com endereço novo porque perdi o meu de redirecionamento, infelizmente. Aliás, aos poucos transferirei as fics para um blog para ter certeza de que não perderei contato com vocês, por isso, se essa url também der problema, tentem HTTP://olhoazulfics.blogspot.com que ao menos as fics vocês poderão ler.

Até mais!!!

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